PIXO: Pixação e Graffiti como forma de expressão marginalizada

Sumário

Picho ou Pixo?

Pixação feita no centro de Belo Horizonte, Minas Gerais, com assinatura do GOMA, um dos maiores pixadores de BH, em resposta as prisões e repressões à pixadores supostamente envolvidos com a pichação na igrejinha da pampulha, em 2017. O pixo denuncia a parcialidade do estado que não puniu nenhuma pessoa pelo maior crime ambiental e social da história brasileira, que foi o desastre do rompimento da barragem em Mariana, de responsabilidade da Samarco, como os próprios pixadores denunciaram.

Artistas

Bolinho - Belo Horizonte, Minas Gerais

Maria Raquel Bolinho é criadora do personagem Bolinho. Suas mais de 600 obras estão espalhadas pelas cidades de Belo Horizonte, Itabira e São Paulo. A artista, formada em Letras pela UFMG, estudou Artes Visuais na Escola de Design da UEMG e vem espalhando suas intervenções de Graffiti desde 2009. O personagem "Bolinho" foi resultado da paixão da artista pelo doce, e aparece em muros de BH interpretando memes e assuntos do momento com suas simpáticas feições humanas.

Goma - Belo Horizonte, Minas Gerais

Goma (nascido João Marcelo Capelão) é o mais notório e prolífico pixador de Belo Horizonte. É artista desde os seus 13 anos de idade e, de lá para cá, construiu seu nome através da pixação e do grapixo, sendo referência para novos nomes e fortalecendo o estilo arredondado e espaçado da tipografia marcante de Belo Horizonte. Em 2019, Goma foi homenageado na Câmara dos Deputados de BH, em sessão que celebrava a semana do Hip Hop e sua importância para a cultura local.

Comum - Belo Horizonte, Minas Gerais

Comum é artista plástico de Belo Horizonte e, desde 2004, dialoga intensamente com a cena da arte de rua na capital. Seu trabalho se utiliza de técnicas intrínsecas à arte urbana, como o stencil e o grapixo, para fazer crônicas visuais da cidade e seus personagens. Sua arte costuma ser marcadamente política, como é o caso dos seus trabalhos sobre artistas de rua em conflito com a lei e suas paisagens urbanas que resgatam imagens marginalizadas da cidade.

Criola - Belo Horizonte, Minas Gerais

A grafiteira Tainá Lima, mais conhecida como Criola, explora cores e elementos da cultura brasileira e africana em seus grafites. Além disso, faz da arte urbana a sua luta política para fortalecer as mulheres negras

As pixações e expressões de rua chamaram a atenção da mineira ainda quando criança. Criola é considerada a porta-voz da nova safra feminina de artistas visuais que utilizam o graffiti como instrumento de afirmação e empoderamento negro

Grafite e Pixação:

Expressões distintas de arte urbana.

O grafite e a pixação são duas formas distintas de arte urbana que têm em comum a sua expressão em espaços públicos. Enquanto o grafite busca ser uma forma de embelezar e trazer cor às cidades, a pixação é vista como uma forma de protesto e de resistência.

O grafite é geralmente realizado com autorização e tem como objetivo trazer cor e vida para as paredes cinzentas das cidades

O grafiteiro utiliza tintas e outros materiais para criar imagens e mensagens que possam ser apreciadas pelo público. Além disso, muitos grafiteiros utilizam o espaço público como uma forma de expressar suas opiniões e ideias.

Já a pixação, por sua vez, é uma forma de protesto que tem como objetivo chamar a atenção para as desigualdades sociais e a marginalização de determinados grupos

A pixação é muitas vezes realizada sem

autorização, utilizando tintas em spray e outras formas de marcação, e é considerada uma forma de vandalismo pela maioria das pessoas.

Apesar das diferenças entre grafite e pixação, ambas as formas de arte urbana compartilham um compromisso com a expressão livre e a busca pela liberdade de expressão. Ambas as práticas também enfrentam desafios semelhantes, incluindo a repressão policial e a falta de apoio das autoridades locais.

Em resumo, enquanto o grafite busca embelezar e trazer vida às cidades, a pixação é uma forma de protesto e resistência contra as desigualdades sociais. Embora sejam diferentes em sua abordagem e propósito, ambas as formas de arte urbana têm o potencial de inspirar e provocar o pensamento crítico em relação ao mundo ao nosso redor

Criola

Bolinho

Goma Comum

Thiago Mazza

Mural "Retomada" do artista Robinho Santana ressignifica a imagem do negro em posição inferior ou criminosa. O objetivo da obra é passar a mensagem de que a educação é uma arma pra revolução. "Um jovem que estuda é um perigo para o sistema porque ele pode chegar onde ele quiser – e isso tem tudo a ver com a minha história de conseguir conquistar posições mesmo quando elas não me eram mostradas" diz Robinho.

Foto: Robinho Santana/Divulgação

Artistas

Os Gêmeos - São Paulo, SP

Os Gêmeos Otávio Pandolfo e Gustavo Pandolfo são grafiteiros brasileiros conhecidos por seu estilo vibrante. Com base em São Paulo, eles criam obras coloridas e icônicas. Misturam influências do grafite, cultura pop e folclore brasileiro, resultando em trabalhos surrealistas que transmitem mensagens sociais, políticas e culturais. Os Gêmeos têm papel fundamental na popularização do grafite como arte legítima e marcam presença no cenário global da arte urbana.

Cripta Djan - São Paulo, SP

Cripta Djan é um pixador renomado, conhecido por sua arte urbana ousada e impactante. Suas intervenções em espaços públicos elevam o pixo como forma de expressão poderosa. Com estilo único, combina abstração, e letras estilizadas marcantes para transmitir mensagens sociais e políticas. Desafia convenções e estimula reflexões sobre questões contemporâneas. Referência inspiradora para artistas urbanos.

Robinho Santana - Diadema, SP

Robinho Santana nasceu em Diadema, São Paulo. É um artista visual, pesquisador e músico experimental, com formação acadêmica em Design e Fotografia. Em sua arte, ele busca trazer à tona a vida e a cultura de seu povo de maneira plural e digna, além de representar de forma autêntica a mulher e o homem negros periféricos. Através de sua arte gráfica, Robinho Santana estimula reflexões e promove a valorização e o reconhecimento da diversidade cultural

#DI# - Osasco, SP

#DI# foi um dos mais lendários pixadores de São Paulo. Edmilson Marcena de Oliveira, seu nome verdadeiro, deixou sua marca na cidade desde o final dos anos 80 até 1997, quando faleceu tragicamente aos 22 anos em uma briga em Osasco. Seus pixos continuam visíveis pela cidade até hoje, e sua influência é inegável. #DI# é reconhecido como o pixador mais prolífico de São Paulo, tendo deixado um legado duradouro na cena do pixo.

O Grafite:

Da marginalização à valorização como arte urbana.

O grafite é uma arte urbana que vem sendo cada vez mais reconhecida e valorizada nos últimos anos. Originária das ruas de Nova York, na década de 1960, essa forma de expressão surgiu como uma maneira dos jovens negros e latinos que viviam em bairros pobres da cidade se expressarem. No entanto, inicialmente, o grafite era visto como uma forma de vandalismo e muitos artistas foram perseguidos e presos por pintarem em locais públicos sem autorização. Com o tempo, entretanto, o grafite passou a ser considerado como uma forma legítima de arte, capaz de transmitir mensagens poderosas e transformar a paisagem urbana.

O grafite se utiliza das paredes, muros, fachadas e outros espaços urbanos como tela, e os artistas utilizam tintas spray, marcadores e outros materiais para criar imagens e letras que expressam suas ideias, emoções e visões

de mundo. É uma forma de arte que pode ser utilizada para protestar contra problemas sociais, como a desigualdade, a violência urbana e o racismo, ou para celebrar a diversidade cultural, a criatividade e a beleza das paisagens urbanas.

Por ser uma arte efêmera, o grafite está sujeito às intempéries do tempo e à ação dos agentes urbanos, como a poluição e a limpeza das paredes. Por isso, muitos artistas trabalham com a ideia de que seu trabalho não será eterno, mas deixará uma marca na paisagem urbana e na memória coletiva. Atualmente, o grafite é visto como uma forma legítima de arte e muitos grafiteiros são contratados para pintar murais em espaços públicos, como prédios, viadutos e túneis. Além disso, o grafite tem sido valorizado no mercado da arte contemporânea, com a venda de obras em galerias e leilões.

Os Gêmeos

Cripta Djan

NEGRO M.I.A.

Robinho Santana

"Love is Love", time de graffiteiros da 1UP faz arco-íris em metrô de Berlim, na Alemanha, como apoio aos direitos das pessoas LGBTQIAP+.

Artistas

Jean-Michel Basquiat - Nova York, Estados Unidos

Jean-Michel Basquiat, foi um renomado artista urbano e pintor contemporâneo. Nascido no Brooklyn, Nova York, em 1960, Basquiat começou sua carreira como grafiteiro nas ruas de Manhattan, assinando suas obras com o pseudônimo "SAMO". Seu estilo artístico único rapidamente chamou a atenção do mundo da arte. Com sua habilidade em combinar elementos, palavras e símbolos, Basquiat criou uma linguagem visual que abordava questões sociais, raciais e políticas

Banksy - Bristol, Reino Unido

Banksy é um enigmático artista de rua britânico, cuja verdadeira identidade permanece desconhecida. Sua arte, caracterizada por mensagens sociais e políticas impactantes, tem sido uma voz provocadora e crítica na cultura contemporânea. Com um estilo distintivo que combina elementos do estêncil e do graffiti, Banksy utiliza o anonimato como uma forma de escapar das restrições tradicionais da arte.

TRACY 16 - Nova York, Estados Unidos

Michael Tracy, nascido em 1958 é um grafiteiro americano. Ele foi pioneiro na forma de arte conhecida como Wildstyle. Tracy 168 veio a ser conhecido como um dos grafiteiros e artistas de rua mais influentes de todos os tempos, com variações da escrita WildStyle espalhadas pelo mundo. Ele é reconhecido por ter sido uma figura seminal no desenvolvimento da arte de rua.

Belal Khaled - Beirute, Líbano

Autodidata e desde os 14 anos, Belal Khaled usa a arte do grafite para defender a causa da Palestina e seus desenhos nas paredes clamam pela liberdade de seu povo. Seus murais, utilizando a técnica de combinação de caligrafia, tipografia e grafite, estão presentes em países como Palestina, Egito, Turquia e outros. Para Khaled, suas obras não precisam de galerias, museus ou curadores, ocupam ruas e espaços públicos em benefício da cultura

Picho ou Pixo?

O picho e o pixo são duas formas de manifestação artística urbana que muitas vezes são confundidas, mas apresentam algumas diferenças importantes.

O picho consiste em escrever ou desenhar símbolos, letras ou figuras em paredes, muros, postes, calçadas e outros elementos urbanos utilizando tinta spray, canetas ou marcadores. É considerado uma forma de vandalismo, pois muitas vezes os pichadores escrevem ou desenham em locais públicos sem autorização ou permissão do proprietário do imóvel, o que pode gerar danos e prejuízos.

Já o pixo, por sua vez, é uma manifestação artística que surgiu nas periferias de São Paulo na década de 1980 e tem como objetivo principal a ocupação do espaço urbano através de grandes letras estilizadas, geralmente acompanhadas de figuras geométricas, que são pintadas com rolo e tinta látex em prédios, viadutos e outros espaços públicos. Diferentemente do picho, o pixo é uma forma de arte que busca transmitir uma

mensagem social e política, muitas vezes relacionada à luta por direitos e igualdade.

Além disso, o pixo tem um forte caráter coletivo e é praticado por grupos que se organizam em torno dessa atividade, enquanto o picho é geralmente realizado de forma individual.

Embora ambas as formas de manifestação sejam ilegais e consideradas vandalismo, o pixo é frequentemente valorizado como uma forma de arte urbana e é reconhecido por sua importância cultural e social em alguns contextos. No entanto, é importante ressaltar que o pixo também pode gerar danos e prejuízos, especialmente quando é realizado em locais inadequados ou sem autorização.

Em resumo, enquanto o picho é uma forma de vandalismo que consiste em escrever ou desenhar em espaços públicos sem permissão, o pixo é uma forma de arte urbana que busca ocupar o espaço público de forma coletiva e transmitir uma mensagem social e política.

Jean-Michel Basquiat

Banksy

TRACY 168

Belal Khaled

X A R I P I X O . Maio de 2023

Arte de Rua

16H

Expediente

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Pesquisa

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Diagramação

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Redação

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Pesquisa

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Revista PIXO Vol. 1 | Num. 1

Belo Horizonte, Junho de 2023