Travessia Brasil África, um encontro precioso: a arte e a cultura africana desvelando conhecimento e

Um encontro precioso: a Arte e a Cultura africana desvelando conhecimento e construindo saberes

Elenice Nogueira Santos

Travessia Brasil África, um encontro precioso: a arte e a cultura africana desvelando conhecimento e construindo saberes

RESUMO Este livro traz um relato superficial sobre a história da arte e cultura do continente africano antes da chegada dos europeus como colonizadores. O intuito é desvelar o continente africano além das questões escravistas que permeiam o Ensino Básico, suscitar a aplicação da Lei 10.639/2003, desmistificando o povo negro como submisso e subalterno, levantando os feitos deste povo no decorrer da história tais como: a criatividade artística e tecnológica e religiosidade. Relacionar as manifestações culturais nordestinas ao povo de cor, valorizando então o conjunto de conhecimentos relativos aos africanos e afrobrasileiros. Por fim utilizar este artigo como fundamentação de um projeto pedagógico cultural com o mesmo nome que tem por objetivo levar ao estudante os conhecimentos expostos neste.

PALAVRAS-CHAVE: arte e cultura africana; preconceito étnicoracial; Lei 10.639/2003. .

Introdução O tipo de preconceito étnico-racial, o racismo, tem sido percebido em quase todos os setores e em quase todas as instituições. Nas instituições de ensino não é diferente, infelizmente. Em pesquisa realizada em 2009 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) apontou que mais de 94% de estudantes e funcionários de escolas declararam este tipo de crime como constante. Sabemos que não existe uma única forma em que o racismo se manifesta, às vezes direta e outras vezes veladas e para

alguns

dos

manifestante

muitas

vezes

despretensiosa.

A

escola

tem

sido

um

ambiente

de

conhecimento e aprendizagem mais adequados por causa da socialização dos seus integrantes. Partindo da premissa de que o preconceito com a cor da pele e outros tipos se aprende, e que este é concebido sem exame crítico, formado sem conhecimento, afim preencher esta função irracional específica de quem

pratica, instruindo para que se possa alcançar o saber, foi elaborado o projeto pedagógico “Travessia Brasil África, Um Encontro Precioso: a arte e a cultura africana desvelando conhecimento e construindo saberes”. O projeto foi realizado na Escola de Educação Básica, e teve como culminância a realização de uma oficina para a confecção da boneca de retalhos de pano denominada Abayomi.

Este artigo traz um relato não aprofundando da história da arte e da cultura africana, o qual foi a fundamentação do projeto supracitado.

O tema africanidade sempre foi tratado na escola de forma muito rasa. Quando o muito do que se sabe sobre a arte e a cultura africana de forma positiva

e

importante

se

relaciona

ao

Egito

embranquecido. Sem levar em conta que a formação daquele Estado foi constituída por negros guerreiros, colonizados

e

colonizadores,

de

tecnologias

e

técnicas engenhosas tanto para a arquitetura quanto para as artes e acima de tudo para as questões

religiosas que abarca todo o conhecimento do continente africano com uma interligação prática.

O motivo especial para a realização deste trabalho é o desejo de tornar o estudante protagonista de sua história no reconhecimento e valorização do seu Eu e o seu próximo e deslumbrador da transformação do mundo, sem qualquer tipo de preconceito ou discriminação étnico racial. Desta forma me inspiro na professora Marina de Mello e Souza que assevera: Ao

mudarmos

aproximamos

desses

a

maneira

temas

e

como

percebemos

nos a

importância dos africanos a afrodescendentes para a nossa formação, assim como o valor das sociedades africanas, que têm muito a contribuir para a história da humanidade como um todo, estaremos caminhando para o fortalecimento da autoestima de todos os afrobrasileiros e dos brasileiros em geral. (SOUZA, 2008, p.140)

A ÁFRICA

A África é o 3º continente mais populoso do mundo, segundo o historiador foi na África onde surgiram os primeiros seres humanos e por esta razão é chamado de “berço da humanidade”, e donde saíram os primeiros imigrantes para povoar o mundo.

Além disso, a África foi local onde a humanidade

começou a se organizar como sociedade, a instituição familiar tem seus primeiro registro em solo africano.

Sempre nas aulas de história da arte da África, quanto tratamos a riqueza cultural do continente apresentamos o norte do continente o Egito como entrada estadia principal. Porém em todos os pontos do continente a riqueza cultural, social e politica podem ser observadas.

O que é levado para as salas de aula sobre o povo africano: a sua arte, cultura e religião, principalmente a ultima são apresentadas sempre de forma pejorativa. Este continente foi apresentado endemoniado1. Um dos motivos que apresenta para a justificativa da escravidão daquele povo. Mas e antes

1

Os cultos africanos não tinha relação com o cristianismo que era a religião predominante da Europa, desta forma o que não se enquadrava com as premissas cristãs se comportava para a Igreja Crista este modo era diabólico; cujos pensamentos são demoníacos de modo diabólico e suas adorações estavam voltadas aos demônios. É importante por tanto ter conhecimentos sobre quais interesses estavam em “jogo” para que este endemoniamento fosse proposto, ou seja, saber os favorecimentos do interesses mercadológicos.

dos europeus, como era a África? O continente africano possui uma historia fértil em muito rica.

A África na antiguidade é apresentada pela professora Marina de Mello e Souza (2015) como um lugar de guerreiros e conquistadores expansivos. A autora cita o reino Kusch, onde é conhecida a Nubia, do ano 2000 a.C como um reino muito influente e poderoso. Os kuchitas dominaram o poderoso Egito com a sua perspicácia e técnicas por isto deixaram sua forte influência na arte e a arquitetura africana.

Com suas tecnologias, o povo kuchita construíram as pirâmides Zigurate de Ur, no Iraque. No século XXI a.C., influenciando a cultural em outros locais mais afastado como no caso do Iran ainda no passado e Paquistão.

O sul do continente possuíram grandes nações que no passado os seus reinos chegaram a superar o próprio Egito. Além dos quesitos cultura e religioso tem-se a arte, a técnica e tecnologia e a política. A arte no local onde hoje é a Etiópia, pode-se apreciar

inúmeras igrejas: Lalibela, construídas na rocha escavadas sendo esculpidas em bloco único como se fossem esculturas (FIGURA 1). As igrejas tem uma forma artística peculiar assim também como são o conjunto arquitetônico com as pirâmides de Gizé.

As igrejas de Lalibela ao ser observado por uma vista superior pode se nota-se a cruz grega, uma marca do relacionamento desse povo com outras civilizações uma vez que a cruz é um dos símbolos mais antigos e usados por muitas religiões cristãs, este símbolo também é visualizado do lado externo nas janelas superior do edifício.

Figura 1 Bieta Giorgis ou S. Jorge, Lalibela. Fonte:?

A tecnologia africana se espalhou pelo mundo árabe em cima de camelos ou em pequenas embarcações de forma bastante organizada, pelos beduínos ou por berberes. As rotas de comércio do continente africano a partir da região do Sudão no século IX d. C, nos reinos de Gana, Mali e Songai com a Europa e o Oriente através do deserto do Saara ou pelo oceano, intercambiavam intensamente

a tecnologia e conhecimento, especialmente das monções dos ventos que facilitavam a navegação, configurando a África como a terra do ouro.

As culturas religiosas africanas se espalharam pelo mundo juntamente com as mercadorias, o negro era uma mercadoria, especialmente pelo Brasil segundo Costa e Silva as maiores foram a banto e a ioruba. A cidade de Ifé teria sido a cidade sagrada, o centro real e religioso ioruba que deu origem a Nigéria. Existe um consenso entre os historiadores e africanistas sobre este fato.

A organização social africana sempre envolta a um núcleo. As aldeias africanas, tanto para Mello como para Costa e Silva, era um núcleo comandado por um chefe de uma família, por tanto o principal organização era a familiar, com o mando regido por quem teria chegado primeiro ao lugar em que se habitava, por suas habilidades, pela ancianalidade, ou seja,

Idade

avançada;

derivado

de

ancião

e

ancestralidade do detentor do conhecimento. Isto é, o

respeito e o bom relacionamento entre os dois mundos: o visível e o não visível, por entenderem que a vida é uma conexão entre os mundos o sagrado e o carnal. Ou seja, a religiosidade do povo africano sempre esteve muito presente e interligadas em todas as relações.

Tanto povo Banto

a

dinastia

ioruba

quanto

a

do

desenvolveram muitas tecnológicas e

artes: as estatuárias e técnicas de forjamento de metais; a organização da comunidade (especialmente como os quilombos) e visões do mundo foram empreendimentos bastante específicos dos povos bantos. Estes povos eram proficientes na construção de carpintaria, na escultura em madeira marfim, e na tecelagem de algodão de qualidade excelente. As técnicas utilizadas pela dinastia ioruba são tão ricas e de tamanha maestria na arte escultórica que o classicismo de Ifé que dependendo do ponto de vista, supera na riqueza de detalhes as clássicas gregas e romanas. Os africanos dominavam o tratamento de outros metais como o cobre e o bronze.

Igbo-Ukwu,

um

reino

poderoso

que

se

desenvolveu séculos IX e X, onde hoje é a Nigéria. A sua riqueza desde daquela época se apresenta na tecnologia que desenvolvera para trabalhar o cobre o bronze A cidade de Igbo-Ukwu tem um importante sitio arqueológico com objetos muito bem elaborados o que prova a habilidade artística deste povo. A Cabeça de bronze da Ifé (FIGURA 2) exposta no Museu Britânico e a (FIGURA 3) uma máscara de cobre com a face bem detalhada, pertence à cultura ioruba encontrada no sitio de Igbo-Ukwu.

O tratamento

conferido aos metais pelos africanos era uma tecnologia que se distinguia de outras partes do mundo: era a maneira peculiar de forjar os metais.

Segundo Marina de Mello e Souza (2015), a fundição do ferro na África deu origem ao complexo agrícola, com a metalurgia de foices, enxadas e outras ferramentas de trabalho na agricultura.

O povo Attie tem nas suas obras de arte (FIGURA 4) uma marca muito forte do poder concedida a figura da mulher. A imagem simboliza um elemento de comunicação com o sagrado, com a ancestralidade. Marina de Mello e Souza (2012) assevera que para o povo africano daquela época “toda a vida na terra estava ligada ao além, dimensões que só especialistas, ritos e objetos sacralizados podiam atingir”. A imagem retrata ainda a beleza da figura fermina na visão indentitária deste povo. As marcas como as escarificações no corpo o e a fisionomia guerreira, se relacionaria com o cuidado com a “estética feminina” o penteado do cabelo de forma bem elaborada e o zelo com a identificação com o sagrado por este povo.

Figura 2 Ifé Head Bronze com chumbo, 1300.

Fonte: Museu Britânico

Figura 3 Máscara de cobre de Obalufon, Ifé, c.1300.

Figura 4 Deusa Attie. Grupo étnico Attie, Costa do Marfim séc.

XIX.

Quando se fala no povo africano com um conhecimento sem aprofundamento, distinguem-se em dois povos os iorubas e os bantos. Muitas vezes considerando apenas as linguagens. Porém, os povos africanos segundo o Costa e Silva ser banto ou ioruba vai além e muito além da língua, eram várias

derivadas de tronco linguístico assim como a cultura latina, era também de religiosidade, politica, de sociedade e de comportamento de forma geral.

A ORALIDADE O

continente

africano

é

enormemente

diversificado, SOUZA, assegura que tanto na cultura quanto nos povos. A pesquisadora apresenta os impérios africanos destacando o império Mali. Souza apresenta o império do Mali como muito glamouroso que ficou conhecido pela oralidade dos griots. Toda a arte e tecnologias africanas, desde a fundição do ferro e de outros metais, a fiação do algodão e as tinturas, a confecção de joalheiras auríferas foi ensinado pelo ensino pratico, pela observação e pela execução através da oralidade.

Figura 5Griots de Sambala, rei de Medina (fulas, Mali), 1890

Os griots apresentados por Marcel Griaule (1898-1956) citado por Para Marina de Mello e Souza (2013) é um tipo especifico de transmissor de conhecimento através da oralidade que transmite a história oficial. Ainda para a Professora Marina de Mello e Souza, a compartimentações que se tem no mundo ocidental tais como a sociedade, politica, religião e arte, no universo africano todas estão interligados. As questões judiciais resolução de pendencias e religiosidades estão segundo a autora citada é sob o judice dos mais velhos, sempre

conjugados. Aos griots era dedicado o conhecimento de plantas, tradições da cultura e os ensinamentos da arte e de justiça.

Na travessia África Brasil o que os negros traziam consigo era a roupa em seu corpo, a cultura como vivência e a palavra como instrumento para perpetuar as suas historias e com elas encontra acalanto para todos inclusive para as crianças.

A história da Abayomi por Lena Martins, aludi ao fato de que as crianças africanas que não estavam acostumadas com a situação degradante em que seus pais e parentes passavam no interior dos navios, ficavam irrequietas e que muitas vezes era motivo delas serem lançadas ao mar. As mulheres africanas acostumadas com a oralidade contavam historias para as crianças com intuito de acalentá-las. Como ilustração

das

histórias

essas

mulheres

confeccionavam bonecas por nós e tranças feitas das tiras de tecido rasgando as roupas dos seus corpos entregando as crianças como amuleto de proteção. O

fato das bonecas não terem uma fisionomia definida permitiu entender que esta boneca simbolizava todas as áfricas trazidas para o Brasil.

A utilização das bonecas desde a antiguidade na África, segundo Brochado (2008) “eram e ainda são, extensamente usados, servindo a diversas funções, como em processos divinatórios, na cura de doenças, em cerimônias religiosas (e.g. em processos de iniciação, no culto dos mortos...); e finalmente como

entretenimento”.

(BROCHADO,.

Pg.

146)

Acredito que estas informações tenham sido o motivo fundamentador do trabalho de Lena Martins na construção da historia e justificação simbólica para a confecção da boneca Abayomi. A boneca tornou-se um símbolo de resistência da cultura negra e um orgulho pela criatividade e afetividade daquelas

mulheres

guerreiras

e

mães.

Figura 6 Bonecas Abayomi

Através da oralidade dos povos africanos, a África esteve sempre presente no imaginário dos seus descendentes, trazendo sempre consigo a referencia de África mãe, do povo aguerrido, das conquistas de seus antecedentes e da força de seus ancestrais.

Muitas das histórias contadas pelo povo africano não foi registrada em livros dado muitas vezes por que a algumas culturas não tinha como costume a escrita e valorizava a oralidade. E na maioria das vezes a

cultura letrada eurocentrista não considerava tais acontecimentos dignos de serem registrados.

Para Alberto Costa e Silva, a escravidão foi o acontecimento mais violento e mais importante da humanidade

e

fizeram

parte

do

processo

da

construção da América e de todo o mundo. Marina de Mello e Souza e Alberto Costa e Silva abordam as questões de escravidão dos povos africanos ainda antes da chegada dos europeus e que estas teriam acontecido da mesma maneira tanto na África como em outra civilização. Na América e Europa a partir do século XVI, foi um processo nefasto por se tratar especialmente do povo negro e da escravidão por causa da cor da pele. É especialmente através do estudo de Costa e Silva, que além do povo escravizado e escravo outra África passa a ser reconhecida pela história, arte e cultura dos povos.

Somente após a Lei 10639/2003 outras Áfricas como sugere o autor foram descobertas e segundo a lei devem ser desveladas para os estudantes.

Os motivos pelos quais as informações sobre a cultura e a arte o povo africano antes da invasão dos europeus não ser conhecida se dá para Marcel Griaule

(1948)

pela

ausência

de

interesses

etnológicos que favoreceu a incompreensão das culturas negras por brancos e vice versa. No entanto para

Munanga

(2008)

se

da

por

motivo

do

preconceito, de ignorância e pela ideologia na justificativa usada como pretexto para a colonização.

O autor ressalva que uma das justificativas para o europeu é de que a África não tinha história nem cultura e que estes povos deveriam ser civilizados para poder elevar ao nível dos homens. Esta justificativa se manteve ou se mantem suplantando a arte e a cultura africana e por ela que se tem um ensino sempre centrado na cultura europeia.

A arte e cultura africana foram suplantadas pela cultura eurocêntrica. Os teóricos: Souza, Costa e Silva e Munanga apontam que o ofuscamento têm como

motivo

os

preconceitos

e

perspectivas

ocidentais que entendem que existem sociedades

mais ou menos desenvolvidas. As áfricas e suas riquezas têm milhares de perspectivas de abordagem para lidar na escola e deve ser integrado a historia da humanidade. Na perspectiva da arte os autores indicam uma abordagem não como mais uma coisa, mas articular o conhecimento aos acontecimentos ocorridos naquele continente.

Abordar conteúdos que trazem para a sala de aula a história da cultura afro-brasileira é fazer cumprir nossos grandes objetivos como educadores: levar à reflexão sobre a discriminação racial, valorizar a diversidade étnica, gerar debate, estimular valores e comportamentos

de

respeito,

solidariedade

e

tolerância. E é também a oportunidade de levantar a bandeira de combate ao racismo e às discriminações que atingem em particular a população negra, afrobrasileira ou afrodescendente (SOUZA, 2008, p. 7).

Para Marina Souza, a autora supracitada, os problemas encontrados no ensino da arte e cultura africana na escola básica, especialmente estão no

preconceito e no fato de associarmos o negro ao passado escravista que a maioria de nós quer mais riscar da história. Mais do que isso a autora assegura que no momento em que o Brasil escravista se livra dessa questão com a abolição, o intuito do país era fazer parte de um mundo evolucionista tais como EUA e Europa. Estar associado aos negros africanos ditos primitivos e atrasado não podia ser conformado com a identidade brasileira que pretendia se afastar da herança africana utilizando no inicio do século XX a expressão de uma nação mestiça.

Nação mestiça teria sido incutida no imaginário brasileiro de forma mais ideológica do que biológica segundo Munanga (2008). Para o autor é o mito da democracia racial que matem o racismo consciente ou inconsciente marcando a educação. A lei 10639 vem a oferecer as transformações necessárias para a mudança. Para o autor seria uma sutileza ideológica de matenimento do racismo. (...) a mestiçagem, como articulada no pensamento brasileiro entre o fim do

século XIX e meados deste século, seja na sua forma biológica (miscigenação), seja na sua forma cultural (sincretismo cultural) desembocaria numa sociedade inicial e unicultural. Uma tal sociedade seria construída segundo o modelo hegemônico racial e cultural branco, ao qual deveriam ser assimiladas todas as outras raças e suas perspectivas produções culturais.

(MUNANGA, 1997, p. 151)

Segundo as observações do autor, o negro tem uma imagem muito depreciada. E isto pode ser percebido no cotidiano dos estudantes participantes deste trabalho. Na escola, quando uma pessoa é chamada de negro alguns entende por forma desvirtuada,

difamatória

e

até

desqualificada,

enquanto para o nome moreno é carinhoso e bonito torna a mesma pessoa honrada e integra.

O estado de Pernambuco, Paraíba e Alagoas do passado e do presente tem vívidas as matrizes de sua cultura e arte significante: na dança, na agricultura e na culinária deixada de herança para seu povo pelos seus antecedentes. O cultivo da cana-deaçúcar, primeira grande atividade agrícola produtiva e

rentável do Nordeste brasileiro, na época do Brasil colonial, teve como a força de trabalho a mão-de-obra escrava. A atividade canavieira segue com poucas inovações ou mudanças depois da “descolonização”.

O plantio e o beneficiamento da cana-deaçúcar é base da produção de etanol e de açúcar, sendo a cana-de-açúcar, também o principal produto agrícola da região da Zona da Mata de nordestina ainda na atualidade, embora com a crise econômica tenha

desempregado

uma

grande

parte

dos

trabalhadores do setor a partir de 2004. Por causa das questões econômicas muitas famílias da região da Zona Da Mata em busca de melhorias deslocaram para a Região Agreste de Pernambuco a qual oferece vagas de trabalho por conter o polo de confecção2.

2

O polo de confecção emprega mais de 100 mil pessoas, concentrado em dez municípios, Pernambuco e Paraíba. É o segundo maior da área têxtil do País. Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe são responsáveis por 75% do polo, nos anos de 2006 a 2013 a cidade de Toritama foi responsável por 14% da produção do jeans do Brasil, segundo o SEBRAE-PE.

Em um rápido percurso pela história do Nordeste é possível compreender o dimensionamento da Região Zona da Mata. A história dar conta de que esta região abrigou o Quilombo dos Palmares, grandes e centenárias usinas de moagem de canas.

Por estes motivos é possível também entender o motivo da região ter grande parte da sua população de

afrodescendentes.

manifestadas

a

Por

cultura

de

esta

população

tradição

é

também

centenária, a principal delas relacionadas diretamente ao corte da cana e a cultura afro, como é o caso da dança do cavalo marinho e do maracatu.

O

Maracatu

Rural,

tradição

do

interior

de

Pernambuco, é uma manifestação cultural popular. É composta por dança, música, poesia e está associada ao ciclo canavieiro da Zona da Mata. O Maracatu Rural é

um dos patrimônios imateriais do Brasil. A dança retrata o cortejo cerimônias afro coroação dos reis e rainhas da Nação negra, com a rainha do passo, o calunga

e

outros

personagens.

A

utilização

predominante de instrumentos de percussão de

origem africana. Os ritmos são misturas das tradições africanas “nordestanolizados”. O maracatu antes de sua

representação

artística

tem

a

sua

representatividade religiosa.

O cavalo marinho é uma dança bastante misturada por religiões, desde o xangô e jurema ao caboclo indígena e reisado cristão. Esta dança narra pela oralidade é um folguedo com encenações, coreografias

cheias

de

personagens

simbólicos. Pelas quais os participantes segundo Manoelzinho Salustiano (2018), avoca diferentes papéis, por intervenção da troca de roupa ou de máscara feitas de cartonagem, papel cola e couro de bode.

Considerações Finais A oficina pedagogia é um suporte para uma aprendizagem significativa especialmente em um trabalho que parte da necessidade de colocar luz nas ideias preconceituosas e dissimuladas aprendidas pelo

estudante,

que

se

apresenta

de

forma

mecanizada sem o conhecimento aprofundado da causa e sem criticidade.

Em algumas observações dos diálogos dos estudantes do Ensino Básico, quando entre amigos tem um negro bem quisto, existe uma luta pra provar que o amigo ou a amiga é da cor morena e não da malfadada

cor

preta.

A

questão

da

nação

miscigenada seria uma forma de compor o imaginário da população brasileira para que esta venha a se aceitar sem o pejorativíssimo. Entendo, porém, com isso um modo de conformação por não aceitar a negritude, uma vez que o negro passa a ser moreno por ter um preto se envolvido com o branco sento então

embranquecido

ganhando

qualidade.

O

preconceito está incutido nestas manifestações. O que não deveria ser concebido em nenhum lugar especialmente no Nordeste, pela sua própria história antiga e remanescente.

Ao

observamos

melhor

esta

questão

percebemos que o branqueamento tem o intuito

demasiado em extinguir com qualquer relação de valor

ao

negro.

Enquanto

toda

a

forma

de

desmerecimento é observada a uma pessoa negra quando se entende puramente negra, dependendo da situação somente pelo fato da mesma pessoa ser observada por outro não sendo “totalmente negra” ela passa a ser quase impoluta.

Os materiais didáticos que utilizo na escola ainda não estão adequados por completo por este motivo

utilizo

das

estratégias

como

palestras,

contação de historias, debates e oficinas de materiais diversos ao que os programas da rede fornecem, para estimular os estudantes a reconhecer o papel do negro

na

construção

da

sociedade

brasileira,

colocando o negro como protagonista.

Existe uma dificuldade muito grande em colocar em pauta os assuntos referentes à África no que se refere a sua grandiosidade, por já ter incutido nas mentes de professores e da população em geral as desgraças do povo negro, a vida de subserviência,

de humilhação e de insignificância sendo este povo submisso e passivo. Embora tenhamos a Lei 10639 de

2003

em

que

se

obrigam

os

devidos

esclarecimentos sobre a cultura afro-brasileira e africana, ressaltando a importância dessa cultura, na construção do Estado Brasileiro, não somente pela mão-de-obra escrava, mas pela contribuição social, cultural e artística, para as quais a maioria dos professores ainda não foi preparada para desenvolver em sala de aula.

Entendo esta prática se dá pela falta de sensibilidade, de altruísmo em que a misantropia não permite

a

visão

de

mundo

transformado

e

especialmente pela falta da formação adequada dos profissionais da educação em adequar o ensino a Lei. Por mais que se tenha uma Lei específica em que se obriga o ensino desse conteúdo, a falta de formação faz

com

os

professores

desinteressados,

insistentemente usem este fragmento da história escravista como base para tudo que se relaciona o ensino e a convivência na escola. Considero que esta

passividade contribui e estimula as atitudes de parcialidades e de intolerância concorrendo assim com uma comunidade escolar igualitária.

Ao atentar-me para as ações de interação social e cultural no espaço escolar e no seu entorno, atentei-me também para as seus desdobramentos possíveis. Percebi os problemas que as atitudes preconceituosas estavam causando desestímulos em alguns estudantes. Sou investigadora por natureza.

Esta afirmação pode estar ligada a questões pessoais e profissionais, ou é uma mistura das duas coisas, uma vez que não consigo mais distinguir em que momento deixa de ser professora e passo a ser uma pessoa “normal”.

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