Abrindo trilhas: educação e tecnologia.

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ABRINDO

TRILHAS

EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA

WALDIMIR PIRRÓ E LONGO, UMA VIDA A SERVIÇO DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA, PELO PROGRESSO DO BRASIL


Universidade Federal Fluminense REITOR

Antonio Claudio Lucas da Nóbrega VICE-REITOR

Fabio Barboza Passos

Eduff - Editora da Universidade Federal Fluminense CONSELHO EDITORIAL

Renato Franco [Diretor] Ana Paula Mendes de Miranda Celso José da Costa Gladys Viviana Gelado Johannes Kretschmer Leonardo Marques Luciano Dias Losekann Luiz Mors Cabral Marco Antônio Roxo da Silva Marco Moriconi Marco Otávio Bezerra Ronaldo Gismondi Silvia Patuzzi Vágner Camilo Alves


PAULO CÉSAR GOMES

ABRINDO

TRILHAS

EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA

WALDIMIR PIRRÓ E LONGO, UMA VIDA A SERVIÇO DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA, PELO PROGRESSO DO BRASIL


© 2020 Paulo César Gomes É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da editora. Série Memória UFF, v. 1 Abrindo trilhas: educação e tecnologia | Waldimir Pirró e Longo, uma vida a serviço da ciência e da tecnologia, pelo progresso do Brasil EQUIPE DE REALIZAÇÃO

Editor responsável: Renato Franco Coordenador de produção: Ricardo Borges Revisão: Tatiane Braga Normalização: Camilla Almeida Capa, projeto gráfico e diagramação: Natália Brunnet

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação - CIP A163 Abrindo trilhas : educação e tecnologia. Waldimir Pirró e Longo, uma vida a serviço da ciência e da tecnologia pelo progresso do Brasil / organização: Paulo César Gomes. – Niterói : Eduff, 2020. – 184 p. : il. ; 21 cm. – (Série Memórias, v. 1) ISBN 978-65-5831-027-3 BISAC BIO015000 BIOGRAPHY & AUTOBIOGRAPHY / Science & Technology 1. Longo, Waldimir Pirró e. 2. Biografia - Educação. I. Gomes, Paulo César. II. Título. III. Série. CDD 923.7 Ficha catalográfica elaborada por Márcia Cristina dos Santos (CRB7-4700)

Direitos desta edição cedidos à Eduff - Editora da Universidade Federal Fluminense Rua Miguel de Frias, 9, anexo/sobreloja Icaraí - Niterói - RJ CEP 24220-008 - Brasil Tel.: +55 21 2629-5287 www.eduff.uff.br - faleconosco@eduff.uff.br Impresso no Brasil, 2020. Foi feito o depósito legal.


Sumário

Prefácio

Antonio Claudio Lucas da Nóbrega

Reitor da Universidade Federal Fluminense

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Os primeiros passos

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Uma vida a serviço da ciência, da tecnologia e da inovação

15

Visões e posicionamento sobre a educação e o desenvolvimento da ciência e da tecnologia

33

O professor Longo sob a perspectiva de seus amigos e parceiros profissionais

95

Uma lição de vida: depoimento do professor Waldimir Pirró e Longo

127

Honrarias

145

Participação em Conselhos

147

Principais publicações

149

Cronologia

165

Lista de siglas e abreviações

169

Encarte de fotos

173



Prefácio

Há homens que lutam um dia e são bons; há outros que lutam um ano e são melhores; há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida. Estes são imprescindíveis. Bertolt Brecht

A Universidade Federal Fluminense (UFF) tem a marca indelével das ideias em ação do professor Waldimir Pirró e Longo. Somos hoje a universidade federal com o maior número de estudantes, contribuindo para formar milhares de profissionais em todas as áreas do conhecimento, e continuamos a exercer com destaque nosso papel dialógico com a sociedade por meio das ações de extensão. Além desse perfil histórico de compromisso com a graduação e o impacto social, não há dúvidas, como vários relatos neste livro ratificam, de que a passagem do Longo como Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFF, a convite do reitor Raymundo Romeo, foi determinante para que consolidássemos também nosso papel como instituição de pesquisa. Hoje, apresentamos também uma posição de destaque entre as 20 maiores universidades brasileiras em produção científica. Longo não somente tinha ideias inovadoras, mas também grande capacidade de concretizá-las. Provocou mudanças na estrutura organizacional, elevando o prestígio da pesquisa na UFF, e criou mecanismos disruptivos na gestão da alocação


de recursos financeiros institucionais através de editais competitivos internos. Mas Longo também deixou marcas profundas nas centenas ou milhares de estudantes que tiveram o privilégio de participar de suas aulas e palestras, as quais traziam informações instigantes, referências internacionais e análises sofisticadas sobre o mundo da ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Todas sempre apresentadas com carisma e entusiasmo. A influência do Longo nos destinos institucionais da UFF tem também outra via. Durante nossa convivência, pude testemunhar seu brilhantismo e disponibilidade. Estive pela primeira vez com ele no seu gabinete na pró-reitoria, no início da sua gestão, em 1991. Na ocasião, buscava informações sobre trâmites administrativos e possível apoio ao doutorado sanduíche que viria a realizar na Universidade do Texas, nos Estados Unidos. Acabei recebendo um valioso tutorial personalizado sobre como aproveitar minha experiência no exterior para construir minha carreira acadêmica e para contribuir com a instituição. Durante os anos seguintes, fui conhecendo a trajetória, as múltiplas conexões, os trabalhos e o prestígio do Longo na comunidade de CT&I. Assumi, em 2009, a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPP), a convite do reitor Roberto Salles. De início, apresentei um plano estratégico audacioso, mas viável, que incluía a criação de uma agência de inovação e a mudança do nome da pró-reitoria, que passaria a chamar-se Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (PROPPI). Primeiro ato, convidei Longo para participar como referência e palestrante do primeiro encontro de planejamento, que envolvia todos os servidores da PROPPI. Alguns deles mostravam grande admiração e carinho por Longo, com quem haviam trabalhado quase 20 anos antes. Auxiliado pelo Hugo Túlio, Longo motivou, ensinou e brilhou. No decorrer dos anos seguintes, aprendi muito com Longo, não apenas em suas palestras e encontros coletivos, mas também em nossas conversas. Não foram muitas ‒ infelizmente ‒,

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mas todas foram marcantes. Longo tinha uma perspectiva ampla, e ao mesmo tempo profunda, dos assuntos de que tratava. Ele apresentava questões complexas de forma tão clara que as fazia parecer simples. Pude deliciar-me com nossas discussões sobre o “hiato de gestão” na política nacional de inovação e sobre as diferenças entre esforço, resultado e impacto em gestão de CT&I. Na verdade, nossos encontros foram muito mais aulas particulares do professor Longo do que exatamente discussões. A marca do Longo perdurou na forma dos editais da PROPPI, que ampliamos e diversificamos naqueles anos de expansão do financiamento das universidades federais. E a marca do Longo perdura agora, quando relançamos editais de apoio à pesquisa, mesmo no contexto de grave decréscimo de investimento em CT&I. Se, como diz Brecht, os homens que lutam toda a vida são imprescindíveis, aqueles que lutam toda a vida e realizam transformando, esses deixam legados. Somos honrados de carregar na UFF parte do legado do professor Waldimir Pirró e Longo. Antonio Claudio Lucas da Nóbrega Reitor da Universidade Federal Fluminense

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Os primeiros passos

Ninguém poderia imaginar que o filho dos imigrantes italianos João Longo, técnico em eletricidade, e Angelina Pirró Longo, professora primária, chegaria tão longe. Nascido na capital do estado de São Paulo, Waldimir Pirró e Longo foi alfabetizado em casa por sua vizinha e futura madrinha, a professora Celeste, conhecida como Santinha, mãe de um grande amigo de Longo chamado Clodoaldo Hugo Vasconcellos Castellani. Nesse período, em razão de problemas de saúde de seu pai, ele morou por um ano com sua tia Jandira. Longo só passou a frequentar a escola com oito anos de idade, após prestar um exame de seleção para entrar no segundo ano do ensino primário, em um concurso muito concorrido e que disponibilizava apenas dez vagas. Foi no Instituto de Educação Caetano de Campos que ele começou formalmente seus estudos. E foi, também, naquele casarão amarelo da Praça da República que permaneceu até completar o curso ginasial com um desempenho notável. Na época, o Instituto de Educação era considerado uma das melhores escolas de São Paulo. A instituição oferecia aos alunos uma estrutura impecável, com biblioteca, sala de teatro e ginásio de esportes. Esse primeiro momento da vida do pequeno Longo marcaria sua trajetória, pois ele sempre estaria ligado ao setor público, não apenas durante a educação escolar, mas em toda sua vida profissional. Assim que completou 15 anos, quando já havia terminado o ensino fundamental, Longo resolveu ingressar no Exército Brasileiro. Seu tio Rubens, que fizera o curso do Centro de Preparação


de Oficiais da Reserva (CPOR), foi um grande incentivador da decisão. Os pais de Longo, de início, não souberam da decisão. Quando tomaram conhecimento, não ficaram satisfeitos com a opção do filho. Nesse momento, ele já expressava o desejo de atingir o oficialato. Em 1950, sem frequentar nenhum curso preparatório, ele fez o exame de seleção para a Escola Preparatória de Cadetes de São Paulo. A aprovação, publicada na imprensa, surpreendeu a todos. Longo atribui esse resultado, que viria a ser decisivo para seu futuro profissional, à excelente formação que recebeu no Instituto de Educação. Segundo seu entendimento, o Exército forneceu-lhe as ferramentas para que crescesse como cidadão. Ao avaliar sua trajetória, Longo costuma afirmar, com agradecimento, que o civismo, a disciplina, a valorização da lealdade, o aprimoramento físico, o trabalho em equipe, a capacidade decisória, o desenvolvimento profissional e a ascensão social foram os principais ganhos obtidos em sua formação militar. Do mesmo modo, ele nunca teve dúvida de que, se necessário, faria novamente a escolha por ingressar no Exército na juventude. Sua experiência como militar foi crucial em sua vida e influenciou, em grande medida, os passos que viria a trilhar nos anos seguintes. Uma das características fundamentais de Longo em sua vida pública foi a capacidade de liderança. As pessoas que conviveram com ele em diferentes momentos de sua trajetória são unânimes ao afirmar que Longo é um líder nato. Esse talento começou a emergir quando, em 1952, no seu terceiro ano na Escola Preparatória, seus colegas o elegeram presidente da Sociedade Recreativa e Literária (SRL), órgão que representava os alunos. Longo afirma que, nesse período, seu rendimento caiu, já que, como presidente da SRL, estava responsável por diversas atividades estudantis. Editava uma revista, organizava bailes e incentivava atividades esportivas.

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Nesse mesmo ano, entrou para a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), junto com cerca de 500 outros jovens. Foi um período em que os cursos da AMAN estavam compactados e, portanto, duravam dois anos. Isso acontecia porque o Exército necessitava deixar seus quadros preparados em razão da Guerra da Coreia (1950-1953). Assim, ao completar 21 anos, Longo foi declarado Aspirante a Oficial. No último ano da Academia, casou-se com Maria Isabel Junqueira Longo. O casal teve dois filhos: Paulo Junqueira Longo e Marilia Longo Painter. Quando concluiu o primeiro período escolar, tendo um desempenho de alto nível, escolheu ingressar na Arma de Engenharia.1 Em seguida, no ano de 1955, obedecendo a uma normativa do marechal Henrique Teixeira Lott, Longo foi designado para servir como oficial da Arma de Engenharia no 2º Batalhão Ferroviário, conhecido como Batalhão Mauá, localizado no município de Mafra, em Santa Catarina. Esse Batalhão, em conjunto com outros três batalhões do Exército, tinha sido incumbido da missão de construir a ligação ferroviária entre São Paulo e o interior do Rio Grande do Sul, o chamado Tronco Principal Sul (TPS). O 2º Batalhão ficou responsável pela construção de aproximadamente 300 quilômetros de estrada de ferro, conectando Mafra a Lages, em um terreno bastante irregular. Longo foi nomeado chefe da 1ª Residência da 2ª Companhia, sediada no km 172 da ferrovia, em Campina da Serra. Ele deveria coordenar as obras de 30 quilômetros de estrada. Em 1957, foram abertas vagas para o Instituto Militar de Engenharia (IME),2 no Rio de Janeiro. Como a entrada no IME fundamentava-se na classificação do aluno na AMAN, Longo foi admitido e conquistou o direito de frequentar o terceiro ano do curso básico da instituição, já como oficial. No IME, Longo optou por cursar Engenharia Industrial e Metalúrgica. 1 2

Além de Engenharia, as outras Armas são Artilharia, Cavalaria, Infantaria e Intendência. O IME era denominado Escola Técnica do Exército. Sua origem remonta à Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, a mais antiga escola de Engenharia do país.

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Ele atribui essa escolha à influência de seu pai, que fora técnico em eletricidade e, por essa razão, viajava muito a serviço da Light pelo interior de São Paulo para visitar indústrias. Durante as férias, Longo acompanhava o pai nessas viagens, e o observava calibrar os instrumentos que mediam a quantidade de energia gasta tanto em fábricas de palitos de fósforo como em siderúrgicas. Desde essa época, ele ficou com as imagens das atividades metalúrgicas na cabeça. No ano de 1959, quando ocorreu sua formatura, ele foi o aluno com a melhor classificação entre todos os graduandos. Assim, recebeu seu diploma diretamente das mãos do presidente da República, Juscelino Kubitschek. Na mesma ocasião, foi condecorado pelo marechal Lott com a medalha Marechal Hermes. Essas distinções deixaram Longo muito surpreso, e sua família muito orgulhosa. Já como engenheiro metalúrgico, Longo foi trabalhar no Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), localizado no município de Barueri, onde permaneceu por quatro anos. Entrou na equipe responsável pelo funcionamento do Arsenal, tendo exercido diversas funções na área de Engenharia, tais como as chefias da Oficina de Canhões e do Setor de Tratamentos Térmicos, além de ter participado da Comissão de Fabricação do Canhão 106-SR como responsável pela nacionalização dos materiais metálicos nele empregados.

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