Magia com palavras 5ºc aep aeo 2014 15

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Magia com palavras

Num pinhal com muita vegetação diversa, situado atrás de uma casa antiga, grande e bonita, coexistiam muitas espécies de animais, durante todo o ano. O dono da quinta cuidava, com muito carinho, de tudo o que o rodeava: o burrico que o ajudava na agricultura, o cão que protegia o gato malhado, as galinhas, os coelhos, os porcos e toda a bicharada que lá habitava. Com ele, vivia a sua mulher, Gertrudes, uma velhota muito simpática e trabalhadora. Os dois cuidavam da terra e eram felizes com os seus animais. Os filhos homens, o José e o António ajudavam ao fim de semana, porque também trabalhavam como operários numa fábrica das redondezas. O mais velho chegou, numa sexta-feira à noite e, disse: - Mãe, pai, amanhã vamos todos ali ao pinhal buscar uns ramos de azevinho para enfeitar a nossa casa e musgo para fazermos um presépio. O Natal está a chegar e os pequenitos da nossa irmã Manuela vão ficar muito felizes quando chegarem. - Concordo, José, eles vivem num apartamento pequenino lá na capital. Aqui, com este espaço, vai ser uma festa e uma alegria para todos – respondeu o António. No sábado, logo pela manhã, foram os quatro, acompanhados do burro Mefistófoles, que puxava a carroça para trazer as coisas. Chegados ao pinhal começaram a ouvir uns sons estranhos:“Tlimliemlemliemliemliemliemliem” Eram os barulhos bizarros que se escutavam. - Io io io io io io! Ai a minha vida! – resmungava Mefistófoles na sua linguagem de burro. - A tua vida vai melhorar e muito, sou eu que te vou dar sangue novo e mais anos de vida! - Quem és tu que assim falas? Não te consigo ver! – respondeu o burro assustado.


- Sou o Troligabiruperlepepé, tenho quatrocentos anos, quatro séculos! Sou duende e venho da Floresta Mágica da Azia. Trouxe comigo a minha neta Gabitrelimpimpim, a fadinha gulosa dos presentes. Apanhado o musgo, cortado o azevinho e tudo o que ia enfeitar a casa, prepararam-se para regressar com a carroça cheia. - Anda Mefistófoles, já não podes com as pernas, despacha-te que queremos fazer o presépio e a árvore, os garotos estão quase a chegar – disse o José. - Deste-lhe o suplemento vitamínico na ração, ó António? - Ai, bolas! Esqueci-me. Estou tão velho quanto ele – lamentou-se o António. - Velho?! Velho é o teu pai e a tua mãe, já têm quase noventa anos – resmungou o Mefistófoles, zurrando. O Natal passou cheio de alegria, comida deliciosa que a todos fez engordar e, muitas prendas. Mefistófoles é que não parava de pensar no encontro mágico que tinha tido. Até julgava que tinha delirado com tanto açúcar nos restos de Natal que lhe davam. Mas não! Chegou 2015 e o burro, cada vez mais velho, mas também mais sábio, foi “tirar a prova dos nove”, ou seja, ver se o duende existia mesmo. E não é que o Troligabiruperlepepé e a neta Gabitrelimpimpim ainda estavam no pinhal à espera dele para lhe conceder um último desejo?! - Então regressaste? Queres mesmo a tua reforma, não é verdade? Já tens sessenta e muitos anos e quase quarenta de serviço...bem que o mereces. - Há muito tempo que penso nisso, – respondeu o burro - gostava de acabar os meus dias num lugar divertido, “sem fazer nenhum”, mas que ao mesmo tempo trouxesse muita alegria a quem lá fosse. Até já pensei no local... a velhinha Feira de Março, com mais de quinhentos e setenta anos, era o ideal para mim. - Que bom avô, que bom! Assim também posso lá ficar a dar algodão doce aos meninos! – exclamou a Gabitrelimpimpim. - Algodão doce? Estás maluca? Não te lembras por que viemos embora da Floresta da Azia? Queres continuar com os dentes podres e com essa barriga gorda de tantos doces e batatas fritas que comias? - Ai, não, não, não! Aqui já comecei a ficar outra vez muito bonita e elegante. Só temos comido coisas saudáveis - concordou a fada. A primavera estava a chegar e com ela a Feira de Março, por isso os três seguiram para o recinto onde iria decorrer mais uma edição. Finalmente seriam felizes. Mefistófoles faria as delícias dos mais pequenitos no carrocel, a Gabitrelimpimpim venderia gelados de frutas sem açúcar, tacinhas de gelatina e, no dia de aniversário de cada criança oferecer-lhe-ia um doce ao gosto de cada um. O duende Troligabiruperlepepé faria magia para os meninos que só queriam fazer asneiras e que faziam birras: transformava-os em minhocas verdes, viscosas, voadoras, vacinadas, vampirescas e nojentas por uma hora.

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE OLIVEIRINHA | 2014/2015 AEP 5ºC - ILUSTRAÇÃO DE RAFAEL E ANA 5.ºC


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