TEXTOS DO LIVRO CHICO DAS QUANTAS (ORIGINAIS SEM REVISÃO)

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Cap. 01 UM BOM NOME PARA PREFEITO

Chico das Quantas resolveu ser candidato de sua cidade, uma cidadezinha acanhada num pé de serra de um sertão qualquer, que era chamada de Quantas. Chico era um cidadão pacato, respeitado, trabalhador e benquisto pelos moradores. Grande comerciante do ramo de insumos agrícola e máquinas forrageiras e tratores de pequeno porte para a lavoura. Era um homem de vida simples, cheio de idéias e boas intenções. Mesmo com algumas posses gostava de ajudar os que mais necessitavam. Isso fazia de gosto. Fazia isso de coração sem segundas intenções. Contudo, começou a gostar de política, começou a fazer parte dos pleitos como cabo eleitoral de alguns políticos da região. Certa vez Chico das Quantas estava num barzinho bebendo uma cerveja na sua tranqüilidade, quando se aproximou um velho amigo, o Piterman, (Piterman não era um nome e sim um sobrenome de procedência russa e israelita, embora no inglês significasse “homem de pedra”). Piterman era um agricultor da região, mesquinho, nunca ajudava ninguém. Apenas em tempos de eleição ganhava dinheiro dos políticos e fazia uma média com os eleitores. Era compadre de Chico das Quantas. - Bons dia cumpade Chico. Falou Piterman com alegria. - Bons dia Piter, respondeu Chico das Quantas com seu largo sorriso costumeiro. - Eu vim da Cooperativa agora. Sabe que a gente tava reunido e deliberando sobre o nome do cumpade... Falou Piterman encarando o amigo. - Uê, sobre o quê vocês deliberaram com o meu nome, compadre? Comentou Chico das Quantas mostrando interesse no assunto. - A gente tava falando que precisamos de um representante político...


- Mas, temos o doutor Ciberlano, o Tauzinho, Zezé das Cacimbas, Josimelo de Antoin, Felisário do Córrego... Todos são representantes do nosso município. Acrescentou Chico das Quantas. - Meu cumpade, a coisa num é bem assim. Esse povo num mora mais nem aqui. Só vem uma vez na semana para a sessão na Câmara Municipal. Todos moram na cidade grande. Rebateu Piterman, mostrando indignação. - Pois, qual foi o resultado da deliberação envolvendo meu nome? Indagou Chico das Quantas um tanto quanto curioso. - Pois bem cumpade, a gente quer lançar seu nome a prefeito de nosso município... - Ôxi, Né melhor para vereador não, compadre? Comentou Chico das Quantas. - Não cumpade, vereador será eu. Quero representar os agricultores e o cumpade representará o município todo. Já conversei com o pessoal. Todos gostaram da idéia. Falou Piterman com certo orgulho. - Eita, compadre, agora vocês esticaram por demais a corda. Falou Chico das Quantas meneando negativamente a cabeça. - Ué, que nada cumpade, a gente já até traçou os planos... - Não! Eu não tenho bagagem para tal cargo eletivo. Pensei que fossem me indicar candidato a vereador. Sou muito conhecido, mas não tenho bala na agulha para disputar uma eleição para gestor maior do município, entende... Argumentou Chico das Quantas enquanto bebia um copo da cerveja. - Homi de Deus, a coisa é séria. A gente já vem conversando com o povo da cidade por debaixo dos panos. Todo mundo quer o cumpade para ser o próximo prefeito. É coisa certa sua vitória. Contra argumentou Piterman.


- Vou pensar no assunto e dentro de dois dias dou uma resposta. Vamos beber e conversar sobre outras coisas. Falou Chico das Quantas. Embora se interessasse pelo assunto da política não queria deixar à vista tal interesse. - O cumpade é que sabe. Comentou Piterman dando de ombros. Os dois conversaram sobre diversos assuntos. Falavam sobre a seca, o gado, ovinos, caprinos e suínos, assim passaram boa parte do tempo naquela prosa. Depois da conversa e de algumas cervejas, os dois compadres se despediram, cada um seguiu seu rumo. Chico das Quantas morava no f im da Rua Principal, enquanto Piterman montado em seu cavalo baio descia rumo à zona rural daquele povoado, que fora emancipado há oito anos.


Cap. 02 DECISÃO TOMADA

Os dois dias se passaram rápidos, Chico das Quantas havia pensado muito no passo que daria. Ser prefeito de seu município seria uma coisa excelente para seu currículo. Depois, quem sabe se candidatar a Deputado Estadual ou Federal. Seria muito bom para ele e a família. Assim poderia ajudar mais pessoas, mudar o aspecto geográfico daquele lugarejo, pois, apesar dos políticos da região muita coisa não era feita. O prefeito era amigo dele de infância e assim que foi eleito o primeiro prefeito da cidade, com menos de um mês foi morar na cidade grande e despachava apenas quatro vezes por mês, ou seja, uma vez por semana. Os vereadores, esses também só apareciam na Câmara Municipal quando havia sessão, uma vez por semana também. Todos moravam na cidade grande e não tinham muito compromisso com o município, apenas em época de eleição, aí todos davam o ar da graça. Aquilo teria que mudar, pensava Chico das Quantas, enquanto se vestia e iria ter uma conversa com o pessoal da Cooperativa a pedido do compadre Piterman, que era o porta-voz do grupo de agricultores do município e que queria ser vereador com os votos dos cooperados e com os votos pedidos pelo compadre Chico das Quantas, que era um homem benquisto e muito popular naquele lugar. Chico das Quantas chegou à sede da Cooperativa e encontrou o compadre Piterman à porta. - Bons dia compadre! Exclamou Chico das Quantas estendendo a mão para cumprimentar o compadre. - Bons dia compadre! Respondeu Piterman com um sorriso largo e foi logo perguntando a decisão do compadre Chico das Quantas sobre o assunto tratado na conversa de dois dias atrás. - Decidi aceitar a proposta do compadre. Respondeu com ar de seriedade.


- Vamos entrar compadre! Falou Piterman dando passagem a Chico das Quantas. - Obrigado compadre! Agradeceu Chico das Quantas pela gentileza do amigo. Quando os dois entraram no salão de reuniões havia umas cinqüenta pessoas no local. Todas sentadas conversando animadamente. Quando notaram a presença dos dois no salão, saudaram-nos quase em uníssono com um “Bons dia” e depois ficaram em silêncio. Apenas Piterman se aproximou da mesa, onde a diretoria da Cooperativa tinha assento e passou a convidar os membros da diretoria e o convidado, seu amigo e compadre Chico das Quantas para fazer parte da mesa. Tudo estava dentro dos conformes, de posse de um microfone Piterman começou a falar para os presentes: - Bons dia amigos! Convidei vocês e ao mesmo tempo convidei o compadre Chico para discutirmos sobre as próximas eleições para os cargos de prefeito e vereador do nosso município. Como a maioria de vocês sabe e aprovou o meu nome para disputar uma cadeira na Câmara Municipal para representar os agricultores. Agora apresento a vocês o meu compadre, Chico das Quantas, homem digno, honesto, sério, generoso e há muito tempo é um benfeitor de nossa região. Será candidato a prefeito do município. Pois, como todos vocês o conhecem e sabem de suas virtudes, coloco o nome dele para apreciação de todos vocês. Aqueles que concordam com o nome dele para disputar a prefeitura levantem a mão direita... Parecia combinado. Todos os presentes levantaram a mão direita e em seguida aplaudiram. Piterman de novo com a posse da palavra salientou em alto e bom som:


- Vocês acabam de escolher o homem certo para o cargo de prefeito. Homem honrado e que desde moço sempre trabalhou arduamente e tem o nosso apreço. É com vosmicê a palavra, cumpade! Houve um instante de silêncio, o compadre Chico das Quantas olhou para a assistência e pigarreou um tanto nervoso, pois a coisa era mesmo para valer e começou a falar: - Meus caros amigos, como vocês sabem, desde que me tornei adulto, tenho participado da política da região. Nunca me envolvi com intenção de ser candidato a alguma coisa. Mas, o tempo vai passando e como vocês, eu também sinto a necessidade de haver mudança, o ciclo político ser interrompido, sim, para dar vez às pessoas que se interessem pelo bem-estar do nosso lugar. Aqui é um lugar bom de viver, mas precisa de muita coisa. Por exemplo, escola com segundo grau, posto de saúde, que só tem no município vizinho, uma sede da Caixa Econômica, do Banco do Brasil, pois os pensionistas e aposentados tem que ir para outro município para receber o dinheiro. Isso tudo, sem contar com a questão da falta de açude, pois quando é seca vivemos com água de carros-pipa. Precisamos fortaleza a nossa agricultura, que sofre por falta de água. Quem tem recursos cava poço profundo, quem não tem como a maioria se remedia com os amigos. Precisamos ter políticos que morem no município e que conversem com o povo para saber de suas necessidades. Chico das Quantas foi interrompido por gritos de muito bem e vários aplausos, até ensaiado Áquila tudo. Chico continuou: - Eu na prefeitura e o compadre Piterman na Câmara Municipal será muito bom para todos, será bom para o município. Pois, iremos trabalhar para o desenvolvimento de nossa terra. Pois, fomos nascidos e criados aqui e não queremos largar nosso torrão e deixar a mercê da sorte. Todos que estavam no recinto ficaram de pé e aplaudiram o Chico das Quantas, que ali mesmo, naquele exato momento se sentiu eleito, se as eleições fossem naquele dia seria eleito com certeza. Arrematou o discurso de forma eloqüente:


- Meus amigos! Teremos dias de luta e trabalho para atingirmos nossos ideais. Só preciso do apoio de todos vocês e de suas famílias. Comecem a conversar com os parentes e amigos contando dos nossos projetos. Chegaremos lá! Eu ganhando todos vocês ganharão também! Tenham certeza! Obrigado a todos e vamos à luta! Novamente muitos aplausos e vivas foram dirigidos ao Chico das Quantas, que abraça os demais componentes da mesa e acenava para a assistência, que parecia depositar toda a esperança na pessoa dele. Foram vários minutos de euforia coletiva. Após cessarem os aplausos, o anfitrião do evento Piterman pegou o compadre Chico pelo braço e o levou a uma sala onde funcionava a presidência da Cooperativa Agrícola e foi ter uma conversa em particular com seu compadre e depois de abrir uma cerveja, que estava numa geladeira da sala, serviu dois copos e entregou um copo ao seu compadre e começou a falar: - Cumpade, você viu o entusiasmo dessa gente?! Ela quer mesmo mudar a nossa política. Quer nós no poder para assim poder ajudar essa gente toda. Concorda? - Compadre, eu realmente fiquei muito convencido de que serei prefeito e o compadre vereador. Falou e bebeu um gole de cerveja. - Pois é! Agora cumpade vamos ao que interessa. Falou Piterman bebendo a cerveja do copo de um só gole. Continuou: - O cumpade sabe, eu sou um homem de poucas posses, como serei o candidato que puxará seus votos a prefeito precisarei de suporte... Comentou Piterman pondo mais cerveja no copo dele e do compadre Chico das Quantas. - Que tipo de suporte compadre? Perguntou Chico bebendo mais um gole de cerveja. - Recursos financeiros. Temos que conquistar o maior número de votos possíveis. O prefeito que aí está, vai querer eleger seu sucessor, e pelo que sabemos não é você, meu cumpade. Sentenciou Piterman.


- Poderei falar com ele, quem sabe sabendo que tenho o apoio da Cooperativa faça a indicação... Comentou Chico. - Homi, cumpade, o prefeito é raposa velha e vai querer mandar em você quando lhe eleger. Você será prefeito só de nome, mas quem vai dá às ordens será ele e o grupo político dele, o Deputado Estadual, o Deputado Federal, o Senador, só o pessoal dele vai mandar na prefeitura... - Mas, por qual partido eu irei disputar, não sou filiado a nenhum partido? Perguntou Chico das Quantas, bebendo o resto da cerveja que havia no copo. - Eu já falei com o presidente do nosso partido, PPP do qual eu sou o secretário geral do diretório municipal. Já filiamos o número de candidatos suficiente para disputar as vagas na Câmara Municipal e o nosso candidato a prefeito é o cumpade. Tudo carta marcada, não se avexe não. Você será eleito, pode comprar o terno novo. Exclamou Piterman sorvendo a cerveja e pegando outra garrafa na geladeira da sala da presidência da Cooperativa. - De quanto vamos precisar para fazer nossa campanha? Perguntou Chico das Quantas, um tanto receoso do que poderia vir em seguida. - Cumpade... Os homi tão com dinheiro muito, tanto o prefeito como os vereadores está a oito anos no poder. Mamando nas tetas do município. Mas, tem uma coisa, o povo não quer mais eles não, cumpade! Emenda Piterman com euforia. - Será? Fala um tanto desconfiado Chico das Quantas e em seguida, bebe um copo de cerveja acompanhado por Piterman. - Converse com o povo nas ruas, ouça o que eles dizem. Não falam em outra coisa a não ser mudar. Tirar essa corja do poder. - Eh, eu já ouvi alguns comentários a respeito. Completou Chico das Quantas entornando mais um copo de cerveja.


- Então, cumpade! Vamos fazer nosso acerto. Começando vou filiar o cumpade agora no nosso partido. Falando isso, retirou da gaveta da mesa um bloco de papel com timbre do partido. Eram três vias, pois o papel carbono entre as folhas do bloco, entregando e pediu para o cumpade Chico das Quantas preencher e depois assinar. - São três vias compadre? Pergunta Chico de posse das folhas de papel timbrado com a logomarca do partido. - Sim, cumpade. São três vias, pois uma é para o partido, outra para o T.R.E, e a outra é para o cumpade. Falando e bebendo mais um copo de cerveja. - Ok, compadre. Vamos lá! Começando a preencher as folhas. Depois de verificar tudo direitinho, assinou. Taí compadre preenchido e assinado. - Agora sim! O cumpade é do partido e será indicado na convenção para disputar o cargo de prefeito. Vamos lá para o salão nos despedir do povo. Saindo com Chico das Quantas da sala da presidência da Cooperativa e indo ao salão de reuniões. No salão onde houvera a reunião solene, estavam todos bebendo e comendo. Havia uma espécie de Buffet no lugar da mesa onde fora assento dos companheiros que dirigiram a reunião. De posse das folhas de filiação partidária preenchidas, Piterman pediu um instante de silêncio e falou: - Meus amigos, o cumpade acabou de se filiar ao nosso partido e eis aqui a prova. Falou e ergueu as folhas preenchidas e rigorosamente assinadas. Nisso os presentes vieram ao encontro de Chico das Quantas e o cumprimentaram e deram tapinhas nas costas e o chamavam de nosso prefeito.


Chico das Quantas se sentiu o prefeito daquele povo mesmo antes das eleições. Pôxa daria a notícia em casa a sua esposa dona Matilde das Quantas e seus dois filhos Frank e Marilyn, que seria prefeito em breve. Estava sonhando acordado, quando Piterman o chamou: - Ei cumpade, terei que sair agora. Irei resolver um problema de casa. Amanhã irei à sua casa para acertarmos os detalhes da grande campanha que logo iniciaremos. Falando e estirando a mão para Chico das Quantas. - Certo amigo. Mas, eu também estou de saída. E aproveitando para se despedir do povo, que depois da euforia dos cumprimentos já estavam comendo e bebendo. Os dois compadres saíram e cada um tomou rumo diferente. Chico das Quantas entrou no carro, um “pick-up jeep” e Piterman montou seu cavalo embora tivesse um carro, mas, se acostumou a andar a cavalo e até gostava quando a viagem era de curta distância, é claro!


Cap. 03 CHICO DAS QUANTAS SE SENTINDO ELEITO

Chico das Quantas desceu pela Rua Principal da sede do município, chegando ao final da rua, estacionou em frente sua casa. Uma casa modesta para um homem de posses. Mas, ele gostava da simplicidade até ser convidado a ser candidato a prefeito da cidade que nascera. Na sua c abeça mil pensamentos passavam em segundos. Desceu do carro, atravessou o jardim e entrou em casa. Dona Matilde estava sentada no sofá lendo um livro de receitas. Ela gostava de surpreender o marido com seus pratos. Geralmente, ela mesma gostava de cozinhar embora tivesse uma cozinheira. Como não havia muita coisa a fazer, já que quase não aparecia no comércio do marido, gastava o tempo lendo e preparando pratos diferentes para a família. Dona Matilde era uma mulher de uns trinta e oito anos, pele clara, olhos castanhos claros, cabelos ruivos compridos. Corpo de curvas definidas. Era uma bela mulher e com uma educação esmerada. - Oi, querido! Falou dona Matilde, com um sorriso angelical. - Oi, querida! Falou Chico das Quantas indo até a mulher e beijandolhe a testa. - Como foi sua manhã, querido? - Foi ótima! Mostrando alegria. - Que bom! O que houve mesmo? Quis saber dona Matilde, curiosa pela alegria do marido. - Minha Primeira-Dama, cumprimente seu futuro prefeito... Fazendo pose de quem já está ocupando a cadeira de gestor maior do município. - O quê? Eu ouvi bem... Querido que história é essa?


- Querida estive na reunião da Cooperativa e fui escolhido pelo pessoal a ser candidato a prefeito, o que acha? - Querido, quem pôs essa idéia na sua cabeça? Hein? - Foi o compadre Piterman, ele é o secretário geral do partido e também é secretário da Cooperativa. Explicou Chico das Quantas. - Querido e o presidente da Cooperativa vai lhe apoiar? Ele estava lá na reunião? Perguntou intrigada dona Matilde. - Ué! Qual o problema se ele estava ou não, se vai me apoiar ou não? - Eita! Querido eu não confio muito no compadre Piterman. Ele é cheio de conversa fiada. Não sei, isso não está me cheirando muito bem! - Porque você sempre fica cismada com o compadre Piterman. A gente o conhece desde muito tempo. Se o presidente da Cooperativa não me apoiar o pessoal de lá e o povo estarão comigo. Vamos ganhar a prefeitura e você querida será a Primeira Dama aqui das Quantas. Sorria querida! Falava entusiasmado Chico abraçando fortemente a esposa. Dona Matilde nunca simpatizou com o compadre Piterman. Ele era um de um tipo que não passava confiança. Isso era a impressão que Dona Matilde tinha dele e esse sentimento era espontâneo. Mas, como o marido estava tão seguro de si, em relação à vitória na eleição que não quis desencorajá-lo. Os filhos do casal estavam no colégio no município vizinho, que havia colégio com segundo grau, pois no Município de Quantas o colégio municipal só ensinava até a quarta série do primeiro grau. Aquilo era um atraso. Chico das Quantas se retirou para o seu quarto para tomar um banho e trocar de roupa, depois iria almoçar com Dona Matilde, e assim foi feito.


Depois do almoço Chico foi saiu e caminhado pela Rua Principal foi até seu comércio para acompanhar a movimentação e está ciente dos acontecimentos, atender aos fornecedores, conversar com os empregados, enfim, resolver os problemas do dia-a-dia. Quando chegou a noite, Chico se trancou no escritório de casa e foi fazer um esboço da pré-campanha eleitoral. No papel tudo parecia ser muito fácil, não havia nenhum obstáculo que impedisse sua trajetória rumo ao Paço Municipal. Sorria intimamente. Lembrou que na manhã seguinte Piterman iria a casa do cumpade Chico das Quantas tratar dos assuntos políticos pré-campanha, campanha de ambos. Juntos traçariam os planos para ações na campanha, ainda fariam uma panorâmica do orçamento preliminar, uma planilha de gastos que aconteceriam no decorrer do ano da eleição. Ainda faltava um ano para as eleições municipais. O atual prefeito já estava indicando um sobrinho dele para sucessor, o Dr. Herácles, um moço afeiçoado, que estudara na cidade grande. Era o atual Secretário de Obras do Município. Quanto ao vice, ainda não havia sido indicado, mas a qualquer momento seria conhecido, pois os conchavos políticos começavam com dois anos após o pleito. O vice seria alguém do grupo dele para continuar mandando. Como sempre, ficaria tudo em casa, como dizem por aí. Antes de ir dormir Chico das Quantas conversou com os filhos e a esposa, depois foi dormir.


Cap. 04 ESBOÇO DE CAMPANHA

Manhã ensolarada, depois do café Chico das Quantas foi até a Rua Principal onde ficava o seu comércio. Sempre amável com seus empregados, Fornecedores e clientes. Era sempre cumprimentado pelas pessoas sempre que andava pelas ruas da sede do município. O trajeto de casa para o comércio sempre fazia a pé. Aproveitava para conversar com alguns amigos e beber umas cervejas quando fazia muito calor. Chico das Quantas saia do comércio para voltar a sua casa, quando se deparou com Piterman à calçada em frente a entrada de seu comércio. Piterman foi logo falando: - Bons dia cumpade! Sorridente. - Bons dia compadre! Respondeu Chico apertando a mão estirada por Piterman. Os dois compadres saíram de frente o comércio e foram caminhando pela Rua Principal, enquanto conversavam animadamente até chegarem ao portão do que dava acesso ao jardim da casa de Chico das Quantas. Dona Matilde estava no meio do jardim colhendo flores frescas para colocar no jarro da sala, quando avistou o marido acompanhado pelo compadre Piterman. Não gostava muito do sujeito, mas por educação e consideração ao marido sempre fora gentil e os cumprimentou. - Bom dia senhores! Falou seu “Bom dia” diferente do “Bons dia” falado pelos moradores da região. Ela nunca se acostumara a falar como os moradores de Quantas, pois nascera na cidade grande e “Bons Dia” era errado, não havia concordância... Chico das Quantas retribuiu o bom dia com um beijo no rosto de Dona Matilde. O compadre Piterman retribui o Bom dia falando:


- Bons dia cumade Matilde e tocou a aba do chapéu de massa com a ponta do dedo como forma de cumprimento. Dona Matilde ficou no jardim sentindo o cheiro bom, exalado pelas flores que impregnavam a atmosfera do lugar. Os dois compadres seguiram para o interior da casa. Chico convidou o compadre Piterman para entrar no seu escritório da casa. Quando estavam acomodados no escritório, Chico foi ao frigobar e retirou duas latas de cerveja. Entregou uma ao compadre Piterman, que abrindo a lata de cerveja deu um gole demorado e depois falou: - E aí cumpade, pensou bem sobre a campanha? - Chico das Quantas abriu uma gaveta da mesa de trabalho e retirou umas folhas de papel com rabiscos feito a lápis e entregando a Piterman falou: - Aí estão os esboços da pré e da campanha. Isso eu fiz baseado na realidade do nosso município. Piterman de posse dos papeis depositou a lata de cerveja sobre a mesa e ficou observando os escritos com atenção e em silêncio por instantes. Depois falou: - Muito bem cumpade! É mais ou menos por aí! Sorvendo a cerveja da lata com um gole longo. - Essa é a parte inicial. Compadre, agora vamos para a fase principal, que é o organograma financeiro e planilha de gastos, que é essencial para o desenrolar da campanha. Isso é o fator determinante que vai dizer se encaro ou não essa joça. Pois, jamais quero jogar fora o que construí com muito trabalho e suor. Tive que me esforçar e economizar muito para ter o que tenho. Falou e bebeu um gole da cerveja em lata. Claro meu cumpade! Você num tem que jogar fora nada. Vamos vê até aonde a gente vai poder gastar. Falta um ano para o pleito. A gente tem que ir devagar com o andor. Um agrado ali, outro agrado acolá! Uma ajuda


para a reforma da igreja, uns arremates em leilões, uma ajuda pra quermesse, ajuda para o natal das crianças. Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia da Criança, Dia da Festa do Município, por aí vai! Eu organizo os eventos com o pessoal, convido o cumpade, antes, eu já digo que o cumpade é quem está dando a ajuda já para irmos conquistando o eleitorado. Explanou Piterman. - Quer dizer que eu entro com os recursos para financiar os eventos e o compadre é quem será o coordenador de tudo, é isso? Perguntou Chico das Quantas. - Isso, meu cumpade! Vou ser o coordenador da sua e da minha campanha. Pode ficar sossegado cumpade, eu preparo tudo. No caso dos eventos sociais minha esposa e a cumade Matilde podem organizar com as senhoras da sede e dos distritos. Eu e você cumpade ficaremos com a parte da política. Argumentou Piterman. - Entendi! Então já iremos começar pelo Natal, que por sinal já está próximo. Depois o Ano Novo e por aí vai! Falou Chico das Quantas. - Agora o cumpade falou bonito! A gente chega primeiro. Vamos criar Clube de Mães, Clube de Jovens, oferecerem cursos pela Cooperativa. Vamos fazer e acontecer. Mostrar para esses políticos da região que sem mandato mesmo, a gente faz mais pelo povo do que eles em oito anos. Depois eu e o cumpade iremos colher os frutos, quero dizer, os votos! Piterman falou eufórico. - Compadre você pensa em tudo, hein! Emendou Chico das Quantas. Os dois compadres brindaram o momento com as duas latas de cerveja, como se fossem taças de champagne. Aquele anteprojeto de campanha seria um sucesso, isso é, conforme estava no papel e nas deliberações dos dois compadres. Na prática talvez não fosse tão perfeito tudo aquilo projetado. Pois em política pode acontecer de tudo. Como por exemplo: a covardia, as adversidades, as tocaias, os golpes, as traições, as infidelidades dos partidários, tudo poderia acontecer nos últimos momentos de uma campanha.


Os dois terminaram a reunião no escritório da casa de Chico das Quantas e o almoço já estava posto à mesa. Dona Matilde já mandara a governanta avisar ao marido. Logo em seguida os dois compadres estavam à mesa e se servindo da comida feita por Dona Matilde, que fazia questão de criar seus pratos, quase que nunca repetindo o mesmo cardápio. Na cabeceira da mesa estava Chico das Quantas, Matilde sua esposa à sua direita, ao lado delas os filhos, do lado esquerdo estava Piterman. Depois de renderem graças, começaram a fazer as refeições. Nesse momento o silêncio impera, pois, como dizia os antigos, que a hora das refeições era sagrada e aquilo virara tradição no lugar. Após o almoço Chico das Quantas foi acompanhar o compadre Piterman até o portão do jardim que dava acesso à Rua Principal da sede do município. Despediu-se do compadre e voltou para dentro de casa. Chico das Quantas entrou para o escritório e ficou a pensar em tudo o quanto estava acontecendo. Se fosse realmente como estava planejado, sua campanha eleitoral seria vitoriosa. Ele seria prefeito sim. Também pensava nos gastos... Seria um gasto razoável imaginava. Por outro lado os eventos não seriam tão caro, pois isso ele sempre fez. Patrocinava vários eventos no município. Daria certo com certeza, pensou. Porém, os eventos se multiplicariam no período de campanha, pensou nessa possibilidade e estremeceu... Mas, não tinha como voltar atrás, era homem de palavra e já dissera ao pessoal na solenidade da Cooperativa que seria candidato a prefeito e pronto, seria mesmo! Chico das Quantas passou o resto do dia no escritório pensando e repensando na campanha. Bolando planos, estratégias, tudo o quanto poderia para não dá um passo errado. Não poderia perder a eleição. Queria mesmo ser prefeito e mostrar que poderia fazer pelo município muita coisa boa, coisas essenciais para a população do município e da região. Estava decidido seria prefeito para afastar de vez as cobras criadas da política do lugar. Embora sendo amigo do prefeito desde a infância, o prefeito havia se corrompido e só fazia alguma coisa boa para o seu grupo, uma minoria de babões que o cercavam. Isso iria mudar! Chico das Quantas agora havia criado em sua cabeça adversários políticos imaginários. Começou a ver o


grupo do atual prefeito de seu município como um grupo de corruptos. Esse grupo político deveria ser banido da região. Esquecera que ele mesmo ajudara a eleger aquele grupo de políticos corruptos, que ele falara tão bem para os eleitores. Agora ele tinha um lado, o lado dos bons, das pessoas comprometidas com o bem-estar da sociedade Quantascense. Ele, o compadre Piterman e o pessoal da Cooperativa e suas famílias eram pessoas dignas e com o compromisso de fazer o bem a toda à população do município. Pensou e deliberou consigo mesmo e chegou ao resultado final, que teria que ser prefeito. Começaria a trabalhar por debaixo dos panos, em surdina, conversando com as pessoas e explicando suas intenções salvadoras. Farias as coisas, participaria dos eventos e acontecimentos e começaria a dá opiniões e ir propagando seu projeto de maneira, que o prefeito e seu grupo não desconfiassem dos seus intentos. Ele e o compadre Piterman, que depois de eleito o faria presidente da Câmara Municipal para poder ter maioria e ter suporte no Legislativo Municipal. Seria assim, quando prefeito. Pensou com seus botões!


Cap. 05 UMA CONVERSA ANTES DA VIAGEM

O tempo foi passando e tudo seguindo seu curso natural. As festas de fim de ano chegaram. Piterman e alguns de seus cabos-eleitorais sempre levando demandas para Chico das Quantas resolver a questão financeira. De dez eventos, Chico das Quantas era convidado para uns três eventos, a alegação era, que não poderia se expor muito para o grupo do prefeito não desconfiar de tanta bondade em período eleitoral. Piterman sabia muito bem conduzir todo o processo. Chico das Quantas muitas vezes o interpelava sobre o andamento das coisas. Piterman sempre bem disposto e com mil argumentos se saía bem. Mas, Dona Matilde sempre atenta ao desenrolar dos acontecimentos. O “reveillion” chegara e Chico das Quantas a pedido de Dona Matilde e dos filhos fora passar uns dias no Arquipélago de Marajó, conhecer Soure, um paraíso de ilha no Norte do Brasil, lugar turístico muito procurado por turistas estrangeiros e pelos brasileiros, que gostam de fazer turismo interno. Antes de viajar com a família, Chico das Quantas conversou com Piterman um dia antes de viajar. Os dois compadres se encontraram na Rua Principal no bar de preferência, o Bar do Toin, que era freqüentado mais pelo povão, apesar de ter uma área reservada para assuntos privados. Era um lugar com uma mesa e apenas duas cadeiras e ficava afastado do salão principal do bar. Os dois compadres adentraram o recinto sob os olhares dos costumeiros freqüentadores do recinto. Acenaram para o garçom do Toin e foram sentar à mesa reservada, que àquela hora estava vazia. Minutos depois o garçom se aproximou dos dois compadres trazendo uma cerveja e dois copos. Chico das Quantas pediu uma porção de queijo em cubos, com azeite e orégano, enquanto Piterman pediu uma porção de azeitonas verdes.


A conversa foi sobre a pré-campanha e sobre os próximos eventos. Piterman tirou do bolso da camisa um papel, que entregou ao Chico das Quantas. No papel havia anotações de eventos e valores. Chico de posse do papel observou, ficou pensativo e finalmente falou: - Cumpade, você não acha que está muito salgado não? Cinqüenta mil? Perguntou ao compadre Piterman, enquanto sorvia a cerveja do copo. - Meu cumpade, o negócio é esse mesmo. A gente vai ter que fazer isso. O povo já está empolgado e se dermos para trás, ficaremos desmoralizados, o cumpade é quem sabe. Falou e virou o copo de cerveja na boca. O garçom se aproximara mais uma vez, agora com os tiras-gosto e os colocou sobre a mesa e tentou dá uma espiada no papel que estava na mão de Chico das Quantas, que notou e conseguiu virar o papel ao contrário impedindo que o garçom bisbilhoteiro pudesse ver. A conversa era reservada e os dois compadres pareciam não chegar a um acordo. Chico das Quantas achava tudo muito fora da realidade, com gastos exorbitantes e às vezes até desnecessários. Piterman tentava justificar todos os gastos e gesticulava muito. Na terceira cerveja Chico das Quantas começou a ceder, estava concordando com tudo. Piterman viu que conseguira desdobrar o compadre e ficou feliz. Chico das Quantas sacou do talão de cheques, preencheu uma folha, assinou e entregou ao compadre Piterman, que encheu os olhos com um brilho de felicidade. Piterman bebeu mais copo de cerveja e disse: - Cumpade, você é meu herói! Depositando o copo vazia sobre a mesa e com uma mão apertando o ombro do cumpade Chico das Quantas, encarando ele, fala: - Vamos fazer uma revolução nesta joça! Eu e você cumpade, pode crer! - Assim espero compadre! Exclamou Chico das Quantas.


Os dois ficaram no reservado até terminarem a terceira cerveja. Depois de degustarem o tira-gosto, Chico das Quantas e Piterman se levantaram. Antes de sair Chico pagou a conta, como sempre fazia. Na Rua Principal quando estavam andando, viram o prefeito Leander do outro lado da rua conversando com um pequeno grupo de pessoas. Chico das Quantas e Piterman apressaram o passo e foram ficar distante do lugar onde estava o prefeito. Não queriam conversa com aquele tipo de gente. Agora, os compadres eram um tipo de oposição silenciosa. Uma oposição branca, sutil. Pois, Piterman havia alertado ao compadre Chico das Quantas, que fariam um início de campanha sem causar muito alarido e com muita cautela para não serem esmagados pelo grupo do prefeito Leander. Por isso, Piterman não queria ser visto andando com seu compadre Chico das Quantas pelo grupo do prefeito. Depois dos dois compadres andarem alguns minutos pela Rua Principal da sede do município eles pararam em frente à casa de Chico das Quantas e ambos se despediram. Chico das Quantas cruzou o jardim e entrando em casa foi preparar as malas para a viagem do dia seguinte. Piterman descera para pegar o cavalo que deixara no lugar de sempre e depois fora para casa. O dia passou sem novidades, apenas Chico das Quantas estava com a cabeça trabalhando a todo o vapor. Quando a noite desceu sobre a região, a família de Chico das Quantas estava reunida falando sobre a viagem do dia seguinte. Dona Matilde havia feito compras para a viagem. Os filhos, dois adolescentes estavam empolgados e preparavam suas mochilas. Chico das Quantas saiu da sala e foi ao escritório da casa. Fez algumas anotações e depois foi ver o noticiário na TV da sala de estar. Dona Matilde foi para o quarto de o casal verificar se estava tudo em ordem e se nada faltava para a viagem, uma semana de férias na Ilha de Soure no Arquipélago do Marajó, um paraíso no Rio Amazonas em terras do Estado do Pará.


Cap. 06 FÉRIAS EM SOURE NO MARAJÓ

Na manhã da viagem acordaram cedo. O carro, uma van que os levaria à Metrópole, já estava estacionado em frente ao portão do jardim da casa de Chico das Quantas, que conversava com o motorista quando chegaram dona Matilde e os filhos. A governanta ficara parada na porta da casa a acenar para os que iriam viajar. Depois de quatro horas de viagem, finalmente chegaram ao aeroporto. Ainda tiveram que esperar uns quarenta minutos para realizarem o “check-in” e depois embarcarem. Todos estavam bastante animados. Apenas Chico das Quantas estava um pouco apreensivo. Pensava na campanha e no que aconteceria depois da convenção partidária... Chico das Quantas e sua família no período de férias gostava de viajar pelos lugares turísticos do estado. Já haviam conhecido a Bica do Ipú, a Cachoeira do Boi Morto (em Ubajara), a Estátua de Padre Cícero (em Juazeiro do Norte), o Açude do Orós (em Orós, terra do cantor Raimundo Fagner), a Praia do Futuro (em Fortaleza), os Engenhos de Missão Velha, O Boqueirão e o Rio Salgado (em Lavras da Mangabeira), as Falecias e Dunas da Praia de Morro Branco (em Beberibe), a Pedra Furada em Jericoacoara, a Praia de Canoa Quebrada, a Estátua de São Francisco do Canindé, entre outros atrativos do Ceará... Na sala de embarque a família de Chico das Quantas ficou na fila para o portão de acesso a aeronave. Minutos depois estavam a bordo e folheando uma revista de turismo... Enquanto isso no Município Das Quantas Piterman fazia política a seu modo. Havia muito conchavo por debaixo dos panos, que Chico das Quantas nem desconfiava por confiar em seu compadre Piterman, que sempre tivera os atos reprovados por dona Matilde. Ele não inspirava confiança mesmo. Apenas Chico das Quantas o aturava e chegava a confiar


plenamente nele. Pois, até a presente data, nada o desabonara em relação a Chico e que estava interessado em elegê-lo prefeito do Município. Por isso, não tinha nada com que se preocupar. Piterman cuidaria da campanha para ele. Enquanto isso, em uma semana Piterman fez acordos escusos, visitou políticos, que poucos dias atrás os chamara de corruptos perante algumas pessoas na reunião da Cooperativa. Nos eventos falava muito sobre sua pessoa e apenas em pequenos distritos falava o nome de Chico das Quantas de maneira que as pessoas não sabiam realmente se Chico das Quantas seria ou não candidato mesmo. Pois, da maneira que Piterman falava a respeito de Chico das Quantas não passava muita segurança. Chico das Quantas e sua família estavam de férias em Soure no Arquipélago de Marajó, desfrutando das belezas naturais do lugar. Como a Praia do Pesqueiro. Atrativos como os grupos folclóricos apresentando a Dança do Carimbó, o Lundum. Além da Luta Marajoara, Corrida de Búfalos e Desfile de Carroças. Enquanto isso acontecimentos políticos ganhavam novos rumos. O presidente da Cooperativa não fora à reunião de apresentação de Chico das Quantas porque era do grupo do prefeito atual. Piterman, porém, tinha carta branca para usar a Cooperativa para suas reuniões. Algo estranho acontecia na política da região. O presidente da Cooperativa era o Kléssiu, homem de cinqüenta anos de idade, pele morena, cabelos pretos curtos, olhos castanhos escuros, estatura alta, ar de camponês. Era um político nato, sabia conduzir o Legislativo Municipal, hora do lado do prefeito, outra hora contra. Sabia muito bem equilibrar o andamento político entre o Legislativo e Executivo Municipal. Os populares falavam que ele tinha jogo de cintura. Chico das Quantas era um homem de bem e de posses. Contudo, ele era ingênuo na política, não tinha malícia dos políticos de carreira. Acreditava nas palavras das pessoas como se isso valesse alguma coisa nesses tempos. Era um cidadão de boa índole e fora induzido e seduzido para entrar na política como candidato, por pessoas inescrupulosas...


Chico das Quantas e a família desfrutavam do paraíso do Marajó, na Ilha de Soure, município que é conhecido como a capital do Marajó por ser uma cidade estratégica e bela por natureza, onde existem atrativos, os mais variados possíveis. A Praia do Pesqueiro, lugar natural, onde ainda se pode sentir a natureza em sua primitiva forma. O rio Paracauary com seus encantos e seus guarás colorindo suas margens. O Trapiche ancoradouro, onde atraca os navios e barcos, que ali passam. As corridas de búfalos, as corridas de carroças, suas danças regionais e suas músicas alegres e melodiosas e contagiosas executadas por seus cantores e compositores. Tudo isso foi apreciado por Chico das Quantas e sua família. Antes de terminar as férias Chico das Quantas falou para a família que se um dia tivesse que se mudar do lugar onde morava, seria para uma ilha, ali mesmo no Marajó, pois ficara encantado com tudo que havia naquele arquipélago na Região Norte do Brasil. Chico das Quantas quando chegava à noite, ia passear com a família pelas ruas largas e arborizadas de Soure. Sempre nos fins de semana ia ao Trapiche nas proximidades da Secretaria de Cultura do Município assistir os grupos folclóricos se apresentar, como o Grupo Aruãs que exibia suas danças do Carimbo, Lundum e a Dança do Peru com seus ritmos alucinantes. Algumas vezes, o cantor e compositor Paulo Cassiano davam uma canja, a Luana cantora de seresta sempre afinada soltava sua voz e alegrava a platéia de nativos, visitantes e turistas, que ali se faziam presentes. Depois que voltava para o hotel, Chico das Quantas ficava fazendo planos para a campanha eleitoral de prefeito do Município das Quantas. Dona Matilde sempre conversava e dava seu apoio moral. Tudo estava bem, longe dos interesseiros, como Piterman e outros que vivem de fazer negócio na política. As férias chegaram ao fim, a família de Chico das Quantas estava eufórica para voltar para casa e ao mesmo tempo um tanto triste por deixar aquele lugar maravilhoso, diante desse impasse Chico das Quantas e dona Matilde se comprometeram em voltar à Soure na próxima temporada de


férias. Assim ficariam mais aliviados e poderiam viajar para casa com a certeza de que um dia voltariam ao Marajó.


Cap. 07 CHICO DAS QUANTAS RETORNA À CAMPANHA

Depois de voltar das férias na Ilha de Soure, cidade conhecida como a Capital do Marajó, Chico das Quantas preferiu descansar em casa um pouco e fazer um planejamento para incrementar a campanha. Logo o tempo passaria e ele teria que está com tudo pronto para a luta eleitoral e sair bem naquela empreitada. Chico das Quantas ligou para Piterman na manhã seguinte, após ter chegado de viagem. Queria saber como estavam às coisas. Se o partido já havia marcado alguma reunião antes da convenção... - Alô! Respondeu Piterman ao atender a ligação de Chico das Quantas. - Oi compadre! Falou Chico. - Oi cumpade, como foi de viagem? Indagou Piterman. - Foi tudo bem! Como estão às coisas por aqui compadre? - Cumpade, tudo tranqüilo, fiz os eventos e seu nome sempre bem aceito. Comentou Piterman. - O grupo do prefeito não desconfia que nós estejamos em campanha? - Que nada cumpade! Os Homi nem desconfiam. Falando Piterman com os cacoetes de linguagem da região. - É estranho esse pessoal não desconfiar. Alguém deve ter falado mesmo sem querer das nossas pretensões políticas. O que acha compadre? - Acho que não!


- Quando teremos uma reunião com a direção do partido e os précandidatos? Indagou Chico das Quantas. - Amanhã às vinte horas haverá reunião do partido na sede da Cooperativa. - Mas, por que não na sede do diretório, compadre? Questionou Chico das Quantas. - Cumpade, lá é muito pequeno num cabe todo mundo. Por isso! Argumentou Piterman. - Certo. Então, amanhã às vinte horas estarei lá! A gente pode se encontrar antes no Bar do Toin, umas quinze horas, pode ser? Quis saber Chico das Quantas. - Pode sim, cumpade! Até amanhã então! Falou Piterman desligando o telefone.


Cap. 08 CHICO DAS QUANTAS E O PREFEITO

O dia passou sem novidades. Apenas nos autos-falantes das ruas da sede e no dial dos rádios, estavam transmitindo mensagens da prefeitura local, onde falava que o prefeito estaria inaugurando isso e aquilo e que o tocador de obras era o doutor Herácles, sobrinho do prefeito, que estava caindo nas graças do povo do município por ser um jovem letrado e que em pouco tempo no cargo comissionado à frente da Secretaria de Obras, já teria feito muita coisa em pouquíssimo tempo. Na verdade ninguém conhecia bem o jovem doutor sobrinho do prefeito. Todos conheciam muito seus pais. Porém, o jovem doutor raras vezes fora visto no município e de uma hora para outra ele surge do nada já dando entrevistas, inaugurando obras ao lado do tio, conversando com as pessoas, freqüentando os eventos sociais ao lado de sua jovem esposa, Sra. Régine, nome francês, que significa “rainha”. Uma jovem de vinte e seis anos de idade, pele clara, estatura mediana, cabelos ruivos, olhos verde-esmeralda, de corpo bem talhado, com ar de nobreza. Com certeza não era da região interiorana. Pois bem! O tempo passou e tudo se transformou em menos de três meses para a eleição municipal. Chico das Quantas recebeu uma ligação do gabinete do prefeito e sua esposa levou a ele o telefone sem fio e Chico perguntou a ela de quem se tratava. Ela disse que era o prefeito e entregou o aparelho telefônico ao esposo. Chico aproximou o telefone do ouvido e falou: - Pois não... - Diga aí, conterrâneo... Era assim que o prefeito tratava as pessoas do lugar.


- Prefeito, como vai? Em que posso ser útil? Perguntou Chico das Quantas meio atrapalhado. - Homi de Deus! Quero conversar com o conterrâneo. Teria como vir aqui no gabinete agora? Falou o prefeito. - A-agora? Falou atordoado. - Sim homi, preciso conversar com o conterrâneo. Coisa boa e rápida! Tô esperando aqui. Chegue e diga a recepcionista que tô no seu aguardo. Falou e desligou... Chico das Quantas pensou por uns segundos. Depois foi ao quarto e vestiu o terno que havia comprado em Belém na volta da viagem a Ilha de Soure e caminhou rumo a Prefeitura. No pátio do prédio da Prefeitura havia poucos carros, apenas o do prefeito e mais uns dois carros de secretários municipais. Parecia que era feriado no município. Chico das Quantas chegou à recepção e pediu para ser anunciado ao Chefe do Executivo Municipal. A recepcionista conhecida de Chico das Quantas sorriu e pelo interfone comunicou a presença do Sr. Chico das Quantas. Em seguida a recepcionista levantou de seu posto e conduziu Chico das Quantas à sala onde funcionava o gabinete do prefeito. A secretária do prefeito e o chefe de gabinete não estavam. Apenas o Chefe do Executivo Municipal. Bem, o prefeito fora batizado com o nome de Leander, não sabia se o escrevente errara a grafia do seu nome quando fora registrado no cartório, ou se era um nome grego, que significava “o amante de Hera na Mitologia Grega”. Isso ele não sabia. Era um homem corpulento, bonachão, pele morena clara, um tanto queimada pelo sol, olhos grandes verde-azulados, cabelos curtos lisos. Tinha uns cinqüenta e seis anos, aparentava um pouco mais pelo tipo desleixado que era. Ainda mantinha o aspecto de roceiro, falava alto e com poucos modos de educação. Mas era querido pelos moradores de início na vida pública. Depois passara a ser criticado pela falta de ação no Município do qual era o gestor. Leander fora indicado prefeito pelo seu compadre Deputado Manuel da Baixa, que o colocou na primeira disputa eleitoral, logo que o Distrito


das Quantas fora emancipado, passando a ser Município e caiu nas graças do povo. Fora eleito com a maioria absoluta dos votos válidos. Apenas o prefeito estava sentado à sua mesa com os pés sobre a mesma, como quem estivesse na sala da própria casa, muito a vontade sem nenhuma postura de gestor municipal. Mas, como Chico das Quantas conhecia já conhecia seu comportamento desde a juventude não ignorou o que viu. - Bons dia conterrâneo! Falou o prefeito comum largo sorriso. - Bons dia prefeito! Respondeu Chico das Quantas. - Senta conterrâneo! Falou e apontou para a cadeira. - Obrigado! Depois de acomodado Chico das Quantas pergunta ao prefeito. - Em que posso ser útil ao amigo? - Estava pensando em convidar o conterrâneo para ser o próximo Secretário de Obras do Município. O conterrâneo tem todas as prerrogativas para o cargo. Argumentou o prefeito, acendendo um cigarro de palha, que nunca largara desde os tempos de roça, quando era moço. - Meu prefeito, eu não posso aceitar... - Por que quer ser mais que isso... Ser Prefeito? É isso? Fulminou o prefeito cravando os olhos em Chico das Quantas. - Como é? Não estou entendo o prefeito... Argumentou Chico das Quantas apavorado. - Estou sabendo dos seus planos. Comprou até um terno novo, seria para a sua posse? Bem que o conterrâneo poderia ter me procurado, pois, eu como conheço bem o conterrâneo poderia ter indicado seu nome. Porém, o conterrâneo quer medir forças, pois vamos medir forças conterrâneo


nosso assunto está encerrado! A partir de hoje somos adversários políticos. Dê minhas lembranças e meus respeitos à dona Matilde. Bem que ela poderia ser a presidente da Câmara e o conterrâneo um secretário. Pass e bem! Enquanto falava levantou e abriu à porta indicando a saída para Chico das Quantas, que ficou mudo e automaticamente se dirigiu a saída da Prefeitura. Chico saiu atordoado do prédio da Prefeitura Municipal de Quantas. Pôs as mãos nos bolsos da calça do terno novo e desceu pela Rua Principal sem rumo certo. Contudo foi parar no Bar do Toin, não era muito de beber àquela hora, mas estava desolado e com mil pensamentos povoando sua cabeça.


Cap. 09 CHICO DAS QUANTAS E O SOBRINHO DO PREFEITO NO BAR

Chegou ao Bar do Toin e foi para a mesa habitual, que ficava no local reservado e pediu ao garçom uma dose de uísque ao invés da costumeira cerveja. Pediu ao garçom uma porção de maminha bem passada. Ainda era cedo e teria que ficar ali até as quinze horas para conversar com Piterman antes do horário da reunião do partido, que estava marcada para as vinte horas. Depois de beber a primeira dose acenou para o garçom pedindo mais dose. Chico das Quantas estava visivelmente perturbado, o garçom que o conhecia notara que ele não estava no seu senso normal. Pouco tempo depois de o garçom levar a segunda dose, o doutor sobrinho do prefeito, o secretário tocador de obras, como estava conhecido no município, entrou no recinto e foi efusivamente cumprimentado pelos costumeiros fregueses do bar, o que chamou a atenção de Chico das Quantas. O doutor sobrinho do prefeito foi logo cercado por um grupo de pessoas, que apertavam sua mão com euforia. Mas, ele não demorou muito e antes de sair avistou Chico das Quantas e acenou para ele. Chico das Quantas se limitou esboçar um sorriso amarelo e em levantar a mão e corresponder o gesto do doutor sobrinho do prefeito. Com a saída do doutor sobrinho do prefeito os fregueses retornaram às suas mesas e tudo voltou ao normal. Chico das Quantas não se sentia a vontade e muito menos confiante na sua vitória ao Paço Municipal. Estava apático e contemplativo, bebeu um gole da dose do uísque, comeu um pedaço da maminha que pedira para tira-gosto.


O tempo estava sendo cruel para Chico das Quantas, que queria conversar com Piterman e ficar a par do que realmente estava acontecendo na política do município. Pois, se afastara apenas uma semana e tudo mudara em tão curto espaço de tempo. Antes das quinze horas Piterman surgiu no bar, se dirigiu até o reservado onde estava seu compadre e foi falando: - Boas tarde cumpade! Falou Piterman olhando para o relógio de pulso. - Boas tarde compadre! Chegou uma hora antes do combinado. Adivinhou que eu estava aqui? Falou Chico das Quantas. - Pois é, cumpade! Eu vim à rua comprar um veneno para pulgas, cotó pegou essas pragas e a mulher faz tempo que pede. Aí, quando ia saindo da farmácia esbarrei com Toin do bar. Ele me disse que o cumpade tava aqui desde cedo... O que houve cumpade, você não é homi de beber antes do meio dia, quanto mais uísque... - Senta aí homem temos que conversar muito. Falou Chico das Quantos chamando o garçom. - Vai beber o quê compadre? Perguntou Chico das Quantos ao compadre Piterman. - Vou de cerveja mesmo, cumpade, tá um calor grande. Argumentou Piterman. Chico das Quantas pediu ao garçom uma cerveja para o compadre Piterman. Quando o garçom se afastou os dois começaram a conversa. Chico das Quantas foi direto ao assunto dos acontecimentos da manhã. - Compadre, sabe quem me telefonou? - Não cumpade! Quem? - O nosso amigo prefeito...


- Eita cumpade, o que ele queria? - Queria conversar comigo pessoalmente no gabinete dele. - Quando será a conversa? - Já houve compadre. Hoje antes de vir para cá. - E o que ele queria meu cumpade de Deus? - Queria me oferecer um cargo de secretário do município... - O cumpade aceitou? - Não, claro! - Fez bem cumpade! - Ele já sabe dos nossos planos. Como isso vazou compadre? Tem alguma idéia? - Não sei e não tenho idéia cumpade... Isso não é nada bom. Pode comprometer nosso sucesso na campanha. - Podem ter sido as pessoas onde o compadre realizou os eventos, que falaram sem maldade. Um dia menos dia isso teria que acontecer. Explicou Chico das Quantas. - Isso mesmo cumpade. Mas, agora não importa mais. Vamos a reunião do partido e tudo será resolvido com a marcação da data da Convenção do Partido e a homologação dos nomes do candidato a prefeito, vice-prefeito e vereadores... - Compadre você não quer ser meu vice-prefeito na chapa majoritária? - Não cumpade. Eu não estou preparado para tanto. Quero ser vereador apenas. Argumentou Piterman.


- Compadre e o presidente do partido não vai coligar o partido com o do prefeito não? Se isso acontecer não serei candidato a nada, hein? Pensou nisso compadre? - O presidente do nosso partido já foi taxativo. Disse que o partido teria candidato a prefeito e não faria coligação. - Ainda bem! Isso me deixa aliviado. Suspirou Chico das Quantas. - Então, vamos lá cumpade. Tenho que ir deixar o veneno em casa e mais tarde ir à reunião. Aliás, nós dois cumpade temos que ir. Falou Piterman. - Vamos sim, estou desde cedo na rua. Os dois se levantaram, Chico das Quantas pagou a conta como sempre e saiu acompanhado por Piterman. Os dois tomaram rumos diferentes. Chico das Quantas desceu a Rua Principal em direção de casa e o cumpade Piterman fora para o lado oposto pegar seu cavalo e ir para sua casa também.


Cap. 10 PITERMAN ARMANDO O BOTE

As dezenove e cinqüenta Chico das Quantos está estacionando o carro na garagem do prédio da Cooperativa, quando vê algumas pessoas chegando a cavalo e outros chegando em seus veículos auto motores. Ao descer do seu automóvel Chico das Quantas se aproxima de um pequeno grupo de pessoas à entrada da Cooperativa e cumprimenta as pessoas: - Boas noite senhores! - Boas noite! Responderam. Chico das Quantas avistou o compadre Piterman e se aproximou dele estendendo a mão para cumprimentá-lo. - Boas noite compadre! - Boas noite cumpade! Vamos logo, já vai começar a reunião. Ao entrar no salão da reunião Chico das Quantas ficou perplexo diante de tanta gente. Havia o triplo das pessoas da primeira reunião. Chico foi convidado para sentar à mesa da direção do partido, que estava sendo dirigido pelo vice-presidente do partido, o Herbson, um homem de quarenta anos de idade, pele morena clara, um tanto robusto, altura mediana e que no momento representava o presidente da Cooperativa. Estranho era o presidente da Cooperativa não está e nem o presidente do partido. Mas, Chico das Quantas não se importou com aquilo. Quando o vice-presidente abriu os trabalhos da reunião pediu para o secretário geral do partido ler a ata da reunião anterior. Piterman era o secretário e leu a ata e depois passou a palavra para o presidente da mesa, que depois de deliberar sobre assuntos pertinentes ao partido e depois sobre a Convenção. Leu a relação dos pré-candidatos a vereador e depois comunicou a decisão do partido sobre a chapa majoritária. Onde o nome do


cargo de prefeito era o nome de Chico das Quantas, o vice-prefeito era o filiado Nelzinho do distrito Gruta, um homem sem expressão política e que apenas estava de vice para cumprir a legislação eleitoral, pois nem se quer era conhecido politicamente na região. Todos os nomes foram aprovados sem nenhuma contestação. A marca da Convenção fora marcado para quinze dias a contar daquela data daquela noite. Depois dos agradecimentos o vice-presidente do partido e Piterman, secretário geral chamou Chico das Quantas para a sala da presidência da Cooperativa para uma conversa reservada com ele, Chico e o vicepresidente. Os três estavam sentados na sala da presidência. Piterman começou a falar: - Cumpade, eu conversei muito para convencer a diretoria executiva do diretório municipal do partido aceitar o nome do cumpade para disputar a prefeitura. O nosso presidente foi contra, mas, eu e o vice aqui, mais o tesoureiro fomos maioria e ganhamos. O presidente ainda tentou coligar o partido para dá apoio ao prefeito atual e nós fomos contra. - Verdade! Exclamou Herbson vice-presidente do partido. - Agradeço a dedicação dos senhores. Estou contente pelo vosso empenho. Estou aqui para dar minha contribuição para o partido. Falou Chico das Quantas. - Então cumpade! Vamos ter que começar a pensar numa maneira de ganharmos essa eleição. Falou Piterman. - Com certeza! Exclamou Chico das Quantas ganhando novamente a euforia do primeiro dia em que estivera ali. O vice-presidente do partido estava atento ouvindo a fala de Chico das Quantas e de Piterman, quando falou:


- Camarada Chico, quanto o amigo pensa em investir na sua campanha a prefeitura? Já pensou nisso? Perguntou o vice-presidente. - Uns cem mil reais... Respondeu Chico das Quantas. O vice-presidente olhou para o secretário geral do partido, Piterman e meneou negativamente a cabeça... Piterman ficou pasmo e resolveu intervir no assunto. - Como é cumpade! Você tá de brincadeira com a gente... Cem mil não dá nem pro primeiro showmício, o cumpade tá variando? Argumentou Piterman, quase gritando. - Calma compadre! Eu falei isso por falar. Mas, diga aí o valor aproximadamente para eu me situar. - Dois milhões de reais é o necessário para o cumpade ganhar a eleição. Falou Piterman indo até a geladeira da sala da presidência da Cooperativa e retirando uma cerveja e três copos, pondo sobre a mesa e os enchendo e levando o copo a boca bebeu de uma só vez. Encheu novamente o copo e o bebeu de novo. - Um milhão! Um milhão de reais? Isso é muito dinheiro e eu não vou gastar um dinheiro que é fruto do meu trabalho. Eleição é loteria se ganha ou se perde... - Eu te disse Piterman, que seu compadre não era o candidato certo, mas você insistiu e agora? Vamos reunir todo mundo e dizer que nosso candidato desistiu, não é homem de compromisso... Argumentou o vicepresidente do partido. - Ei, calma lá! Sou homem de compromisso sim... Levantou a voz Chico das Quantas. - Calma senhores! Não podemos entrar em conflito. Interveio Piterman, continuando.


- Meu cumpade, você quer ou não ser prefeito. Um milhão você sendo prefeito ganha em duas obras. Sabe aquela estrada que nunca foi feita e aquela ponte? Pois é, o dinheiro veio só que nunca fizeram as obras. Entendeu cumpade? Explanou Piterman. - Tá vendo Chico como é fácil recuperar seu dinheiro. Arrematou o vice-presidente do partido. - Vou querer um tempo, pois tenho que falar com minha esposa, o passo que pretendo dá é muito grande, tem que ser bem pensado. Falou Chico da Quantas. - Tudo bem, cumpade! A gente espera uma semana, pois a Convenção tá marcada e depois de homologar o nome do cumpade ficaria feio desistir. Argumentou Piterman. - Então, boas noite senhores. Chico falou e se retirou. Chico passou pelo salão cabisbaixo, mas também ninguém o notara estavam entretidos com os comes e bebes habitual nesse tipo de reunião. Aproveitou para sumir daquele lugar. Chico das Quantas chegou a sua casa, dona Matilde o esperava sentada na poltrona da sala, enquanto via TV. - Boa noite querido! Falou dona Matilde. - Oh! Boas noite querida. Onde estão os meninos? - Nos quartos deles, já é um pouco tarde. Como foi a reunião? - Chico se aproximou de dona Matilde e lhe deu o beijo habitual e sentou ao seu lado. Suspirou e comentou. - Matilde, eu fiquei de dá a resposta de confirmação de minha candidatura. Estou querendo uma solução...


- Querido, o que houve? Você estava tão empolgado. Saiba que ainda estou filiada no partido da situação. Convidaram-me para ser candidata para o legislativo. O convite foi da Primeira Dama! Mas, o que houve mesmo com você querido? Perguntou dona Matilde. - Terei que gastar um milhão de reais para ganhar a eleição. Foi o que disseram na reunião. - O quê? Quem estava nessa reunião? Perguntou espantada dona Matilde. - Na reunião reservada apenas eu, compadre Piterman e o vicepresidente do partido, aquele senhor, o Herbson. - Querido, eu já disse que não confio nesse seu compadre. Eu não quero me intrometer nos seus assuntos. Mas, sinto que existe algo por trás disso tudo. Quando se trata de uma questão que envolve essa quantia de dinheiro é preciso que eu participe e dê minha opinião. Pois, agora envolve o futuro de nossa família. Não faça nada que vá nos prejudicar. Vivemos tão bem até agora. Mas, o que você decidir querido eu terei que apoiar mesmo a contragosto. Falou dona Matilde e deu grande suspiro. - Obrigado querida! Sei que você sempre quis o melhor para nossa família. Prometo que irei pensar em tudo, milímetro por milímetro. Vou tomar um banho e esperar você no quarto. Falou Chico dando outro beijo na esposa. - Olhe querido, eu disse que falaria com você a respeito da candidatura. Inclusive já entreguei todos os documentos ao partido. Eu iria fazer uma surpresa a você querido. Argumentou dona Matilde. - Vá em frente! Posso desistir se for para gastar o que é nosso! Exclamou Chico das Quantas, falando alto na porta do banheiro.


Cap. 11 CONVENÇÃO ARRUMADINHA

Os dias se passaram, o candidato do prefeito ganhava a simpatia do povo, o candidato da oposição, que estava apagado, ganhara fôlego, o candidato da terceira via era Chico das Quantas, que Piterman começara a divulgar mesmo à revelia. Na pesquisa popular o primeiro colocado era o sobrinho do prefeito, o segundo era o candidato da oposição do prefeito na Câmara Municipal e o terceiro, por haver apenas três candidatos na disputa era Chico das Quantas. Que antes mesmo da pesquisa popular teria aceitado o desafio de ser candidato mesmo, com algumas ressalvas, não gastaria um milhão e sim poderia gastar uns quinhentos mil, o partido teria que ir atrás de algum padrinho político para bancar o resto. Os partidários comandados por Piterman concordaram com ele. Ainda faltava um dia para a convenção do partido de Chico das Quantas. No dia anterior fora a Convenção do partido do prefeito, onde fora confirmado seu sobrinho para a disputa da cadeira de gestor maior do município. Naquele dia estava acontecendo a Convenção do partido do candidato da Oposição ao prefeito na Câmara Municipal. A sede do município estava em alvoroço, gente indo e vindo, ora à Prefeitura, hora à Câmara Municipal. Chico foi ao e reuniu os empregados no pátio interno e falou de sua pretensão ao cargo de prefeito, onde recebeu o apoio de todos os que o ouviam. Não prometeu nenhum aumento de salário, não prometeu nada do que não pudesse cumprir. Depois de agradecer a presença de todos se despediu e o expediente voltou ao normal. No município não havia um ginásio coberto, apenas o local da construção. Chico das Quantas imagina como poderia ser essa desfeita. Um município com nove mil habitantes não ter um ginásio coberto. Mas, a Convenção seria feita no Clube Social da Cidade, ou seja, Quantas Society


Clube, um tipo de clube com palco e salão, uma piscina, dois banheiros sendo um para atender Homens e outro para Mulheres, cada um tinha cinco latrinas. Havia um barzinho e uma churrasqueira, um “playground”, um campo de futebol society e uma quadra de futebol de salão. Chico das Quantas estava em casa, dera folga aos empregados e distribuiu com eles camisetas com seu rosto impresso. Sua esposa e os filhos já estavam usando as camisetas de campanha. Chico estava eufórico e também estava de calça jeans índigo blue e com a camiseta com seu rosto impresso. Os partidários do candidato Chico das Quantas chegaram ao local da Convenção cedo. Colocaram faixas exaltando o nome de Chico das Quantas, como por exemplo: “CHICO DAS QUANTAS, NOSSO PREFEITO!” ou ainda: “ESTAMOS COM CHICO DAS QUANTAS PARA PREFEITO!”, tudo bem à vista. Chico das Quantas chegou ao local da Convenção acompanhado da família. Pôs o carro no estacionamento e ao descer foi cercado pelo pessoal da Rádio local, querendo uma palavra dele para os ouvintes. Chico não se fez de rogado, respondeu as perguntas e acrescentou: “Quero ser prefeito para moralizar a administração deste município. Pois, muita sujeira vem acontecendo há uns oito anos. Precisamos de sangue novo na política”. Essa declaração de Chico das Quantas foi ouvida em toda à sede do município pelo sistema de alto-falantes. O prefeito atual ouvira tal declaração e ficou possesso. O candidato da oposição na Câmara Municipal não gostou nenhum pouco do que ouvira. Chico das Quantas não sabia realmente onde estava metido. O Clube, local da Convenção do partido estava abarrotado de gente, gente que votaria nos candidatos e gente que não votaria naqueles candidatos. Sempre foi assim e sempre será. Tem gente que vai porque gosta de folia e comer e beber de graça. Nesse dia o presidente do partido estava presente. Mas, apenas abriu a Convenção e logo em seguida se saiu à francesa e no mínimo deveria ter ido se encontrar com o prefeito e seu sobrinho candidato. Piterman e o vice-presidente do partido fizeram os


discursos e depois facultaram a palavra. Chico das Quantas e seu candidato a vice-prefeito discursaram e também os candidatos a vereador. Depois dos discursos das assinaturas da Ata da Convenção, os membros e convidados desceram do palco para dar lugar a um Conjunto Musical (Banda) que alegraria o final da convenção. Depois da festa da convenção partidária, Chico das Quantas pediu para dona Matilde ir dirigindo o carro e levar os filhos para casa, pois ele ainda teria que discutir alguns detalhes de campanha com Piterman. Pois, a campanha começara pra valer a partir daquele momento. Dona Matilde pegou as chaves do carro da mão do marido e se despediu dando-lhe um beijo no rosto, que foi correspondido. O carro se afastou rumo à Rua Principal e Chico das Quantas entrou no carro de Piterman, que em certas ocasiões dispensava o cavalo. Foram conversar no município vizinho, onde não poderiam ser vistos pelos adversários políticos. Piterman havia combinado com o Deputado do município vizinho para conversar com Chico das Quantas sobre um apoio financeiro para a campanha deles. O Deputado convidado era rival do Deputado apoiado pelo prefeito do município de Chico das Quantas e Piterman.


Cap. 12 UM DEPUTADO NA JOGADA

Depois de uma hora de carro finalmente chegaram ao Município de Solo Verde e foram até ao pequeno restaurante da beira da estrada, quase ninguém do município ia por lá, os viajantes sempre paravam lá para as refeições. Àquela hora o restaurante estava quase vazio, uns dois fregueses estavam a uma mesa bebendo e comendo alguma coisa. Além dos dois fregueses havia um cidadão bem trajado, que estava na última mesa do estabelecimento. Piterman avisou a Chico das Quantas que era o deputado convidado, que já os esperava. Tratou se se aproximar do deputado e falou. - Boas tarde, deputado! - Boa tarde meu caro Piterman! Exclamou o deputado. - Este é o nosso candidato a prefeito de Quantas. Chico das Quantas, doutor! Piterman falou apresentando o cumpade ao deputado. - Prazer meu futuro prefeito. Falou o deputado apertando a mão de Chico das Quantas. - O prazer é meu, deputado! Respondeu Chico das Quantas apertando a mão do deputado. - Vamos sentar! Exclamou o deputado sentando primeiro, seguido por Chico das Quantas e Piterman. - Bem, deputado, o seguinte é esse. Nosso candidato, meu cumpade Chico dispõe de quinhentos mil para bancar a campanha, mas foi estimada em um milhão de reais. Nós não podemos pedir apoio do deputado do grupo do prefeito porque não há a mínima condição de sermos atendidos. Então, mediante as circunstâncias recorremos a vossa excelência. Falou Piterman.


- Bem! Quanto de quanto senhores estão precisando, não os quinhentos que falta, mas, digam um valor para eu vê o que posso fazer. Disse o Deputado. - Uns duzentos mil! Duzentos mil redondos. Aí a gente alavanca a campanha com certeza! Exclamou Piterman. - O que acha meu correligionário Chico? Perguntou o Deputado olhando para Chico das Quantas. - Creio que a gente com setecentos mil reais dá para ganha a eleição, o povo anda cansado daquele grupo dominando há oito anos, Deputado. Falou Chico das Quantas olhando para Piterman e para o Deputado ao mesmo tempo. - Vou repassar essa quantia. Mas, os senhores terão que ir à cidade grande, pois, teremos que retirar em dois cheques de cem mil cada. Sendo um na data de amanhã e o outro com data do dia seguinte. Porque é melhor assim. Para não dá muito na vista. Um cheque no nome do Piterman e outro em seu nome Chico, tudo bem? Perguntou o Deputado. - Tudo bem! Estamos juntos nessa empreitada. Respondeu Chico das Quantas. O assunto encerrou e tudo foi feito como o que fora acordado. Chico das Quantas e Piterman. Chico fora retirar o dinheiro primeiro. No outro dia Piterman faria o mesmo. Chico das Quantas de posse do dinheiro começou a fazer planos. No Dia seguinte esperou Piterman, que não deu o ar da graça e nem se quer ao menos fez uma ligação. O dia passou, a noite chegou e nada de notícias de Piterman. Chico das Quantas foi à sala e dona Matilde estava vendo TV na sala e perguntou ao esposo. - Tudo bem, querido?


- Mais ou menos. Estava esperando notícias do compadre Piterman. Falou Chico. - Conte-me como está a campanha, querido. Estou percebendo que você anda preocupado. Argumentou dona Matilde batendo com a mão no sofá indicando que o esposo sentasse perto dela. Chico das Quantas obedeceu ao convite da esposa e sentou ao lado dela. - Conte-me o motivo da preocupação, querido. Afagando a mão do esposo. - Ah! Minha querida, eu fiz um tipo de acordo com o compadre Piterman e um deputado amigo dele, que é opositor do grupo do prefeito. Explicou Chico. - Que tipo de acordo meu querido? Perguntou dona Matilde com voz branda. Chico das Quantas contou tudo o que acontecera para a esposa, que suspirou e respirou fundo e falou. - Compadre Piterman, compadre Piterman, eu sempre lhe falei, que esse seu compadre não é de boa índole. Você confia muito nele e ele aproveita sua generosidade. Não quero me meter nos seus assuntos, mas, fique de olhos bem abertos com ele. Desabafou dona Matilde. - Você tem razão. Essa história de me lançar candidato a prefeito, não tempo o apoio total da Cooperativa é um tanto complicado. Ponderou Chico. - Querido seria melhor você não gastar muito. As pesquisas ainda apontam o sobrinho do prefeito na liderança. O segundo colocado é o candidato da Oposição na Câmara. Você não acha que o Piterman está mancomunado com o prefeito para usarem você. Você pode ser candidato somente para minar os votos do segundo colocado, que por sinal está quase


empatando com o sobrinho do prefeito. Já pensou sobre isso? Explanou dona Matilde. - Não querida, isso não! Você pode até não gostar do compadre Piterman, mas até o momento ele nunca fez algo para me prejudicar. Somos amigos! Falou Chico. - Querido em política não há amizade, fique de atento e de olho nas ações do seu compadre. Sentenciou dona Matilde. - Certo querida! Irei vigiar o compadre. Fique tranqüila. Dando um beijo em dona Matilde foi novamente para o escritório. A noite fora normal e na manhã seguinte Chico das Quantas foi visitar uns comerciantes amigos. Sentir o clima eleitoral já que em trinta dias seria o dia da votação. Nas visitas sentiu que havia realmente um sentimento de mudança entre os comerciantes, que como ele pagava muitos impostos e taxas. Ganhou um pouco de ânimo. Mas, estava intrigado com a falta de seu compade Piterman.


Cap. 13 PITERMAN EM JOGO DUPLO

Naquela mesma noite Piterman se encontrara com o prefeito e seu sobrinho num município vizinho. Foram vistos num restaurante bebendo e conversando. O garçom se aproxima da mesa onde estava o prefeito, seu sobrinho e Piterman. Ele põe uma travessa com carne assada e umas batatas fritas. O prefeito é o primeiro a retirar um pedaço de carne, depois Piterman o acompanha. O sobrinho do prefeito prefere beber uma dose de uísque. O prefeito pergunta a Piterman. - Aí, correligionário, como está a campanha do seu compadre Chico? Pergunta enquanto mastiga a carne. - Não tá como ele queria, né prefeito! O coitado pegou corda, se iludiu e vai gastar e ainda vai tirar os votos do candidato da oposição que seria apoiado pela Cooperativa, como sido combinado. Mas, depois que conversamos o presidente da Cooperativa e eu fechamos com seu sobrinho. Comentou Piterman bebendo um copo de cerveja e tirando o gosto com um pedaço de carne assada. - Quer dizer que o homem tem dez por cento dos votos e esses votos somados aos votos da oposição me derrotariam? Falou o sobrinho do prefeito candidato a prefeito. - Isso! Isso mesmo! Exclamou Piterman. - Então, seu compadre tirando dez ou quinze por cento dos votos derrotará o candidato da oposição e meu sobrinho será eleito. Ainda faremos você vereador e futuro presidente da Câmara Municipal. Tá tudo nos conformes. Falou o prefeito. - Por isso, pensamos na terceira via para disputar a eleição e não polarizar a campanha. Pois, tem muita gente desaprovando sua administração prefeito. Falou Piterman.


- Claro! Ninguém agrada a todo mundo e foi por isso mesmo, que lancei meu sobrinho, pois é sangue novo e a juventude da cidade se identifica muito com ele, principalmente as donzelas, ah, ah, ah! Falou e riu o prefeito. - Sobre nosso acordo prefeito. Hoje é dia de honrar o acertado, comentou Piterman. - Claro! Sou homem de palavra e de honrar meus compromissos. Falou e abriu a pasta de couro e retirou um envelope tipo saco de cor amarela e entregou a Piterman. Aí tem cinqüenta mil. Na véspera da eleição mande sua esposa ir à Secretaria de Ação Social falar com minha esposa, ainda haverá um bônus. - Pronto homem! Agora sua eleição está garantida. Falou o sobrinho do prefeito comendo umas batatas fritas. - Agradeço muito. Vou continuar assessorando nosso amigo e vê no que vai dá. Argumentou Piterman bebendo um copo de cerveja. O prefeito chamou o garçom e pagou a conta, em seguida se despediu de Piterman, que se levantou apertou as mãos dos companheiros de mesa e se despediu deles. Voltando a sentar e pedir mais uma cerveja ao garçom que ainda estava recolhendo os copos sobre a mesa. A noite estava começando a esfriar, dentro do bar o clima era um tanto abafado, o vento que soprava era dos ventiladores do teto. Vez por outra, um eleitor pedinte se aproximava de Piterman e tentava ganhar algum trocado para beber um aperitivo, com a promessa de que Piterman era seu candidato. Contudo, Piterman sempre se saia driblando os pedidos dos eleitores alegando que não tinhas posses e quem tinha dinheiro era o sobrinho do prefeito, candidato e o seu compadre Chico das Quantas, que fossem na casa deles, que com certeza eles ajudariam. Ele só poderia ajudar o povo depois de eleito. Essa conversa de Piterman com os eleitores pedintes sempre acontecia. Ele sempre se esquivava do povo, mas quando estava na presença do seu compadre Chico das Quantas dava uma de bom Samaritano e dava uma ajuda mínima a quem lhe pedisse alguma coisa. Quando estava sozinho não queria nem conversa com o povo. Era um tipo mesquinho e calculista, não queria saber dos problemas de ninguém, apenas os problemas dele interessavam e teriam que ser resolvidos.


Piterman era um politiqueiro nato, gostava de levar vantagem e não se preocupava com quem ele iria atrapalhar e mesmo sendo compadre de Chico das Quantas resolveu escolher o próprio para o sacrifício. Piterman se achava um articulador político, capaz de fazer várias alianças e no final se sair bem. Nunca quis ganhar uma eleição à própria custa, sempre estava nos ombros de alguém. Chico das Quantas o conhecia desde a infância, sempre via a esperteza do amigo, porém jamais sonharia que seu compadre fosse capaz de se aproveitar dele, de sua bondade e generosidade. Mas, começou a perceber que seu compadre estava sendo desleal e fazendo jogo duplo com ele para tirar proveito da situação. Dona Matilde esposa de Chico das Quantas já havia alertado o marido sobre o seu compadre. Chico das Quantas por ser um homem ingênuo politicamente teve que ser esperto depois de constatar que o seu compadre era um mau-caráter e por isso, ele teria que dá o troco nele começando por se aliar ao Leander e ao Herácles o candidato da situação. Isso seria inevitável e Chico das Quantas só queria um deslize do seu compadre Piterman para poder afastá-lo de sua vida e não comprometer seu nome nas trapalhadas de Piterman. A noite continuava calma, como sempre, salvo uns fogos em pequenos comícios de candidatos em alguns distritos do município. Chico das Quantas chegara a sua casa, um pouco apático. Preocupado com o paradeiro de Piterman. Onde ele teria se enfiado. Pensou Chico já dentro do o escritório de casa. À noite em casa fora como sempre, conversara um pouco com dona Matilde. Depois voltava ao escritório e ficava a meditar e a planejar estratégias de final de campanha, após algum tempo fora se deitar. Relampejava por trás da serra e era um anúncio de muita chuva que se aproximava pela região.


Cap. 14 UM DIA DE SURPRESA E COMPROVAÇÃO

Amanheceu chovendo e foi motivo de alegria para o povo do município. Chico das Quantas levantou da cama cobrindo com o lençol os ombros de dona Matilde, pois o clima era de frio. Chico tomou um banho, vestiu-se e saiu de casa com uma capa para tempo chuvoso. Desceu pela Rua Principal e logo chegou ao seu comércio. Foi direto ao escritório e conversou com sua secretária e seu gerente, assinou alguns papéis e ao meio-dia saiu para ir ao Bar do Toin. Sua intenção era comer alguma coisa e encontrar Piterman. O Bar estava cheio nesse dia, pois a chuva havia quase obrigado as pessoas se abrigarem no interior do bar. Uns entraram para tomar um conhaque e aproveitando ficaram conversando com os amigos. Chico das Quantas atravessou o salão e olhou para o local reservado, que por sinal havia pessoas ocupando a mesa de sua preferência. Chico não encontrou o compadre Piterman e resolveu dar meia volta e sair dali e procurar outro local com menos pessoas. Caminhou por um quarteirão e entrou noutro bar, que servia refeições. Poucas pessoas estavam dentro, a maioria das mesas estavam desocupadas. Chico foi para uma mesa que ficava ao lado direito do balcão. O garçom veio e mostrou o cardápio. Depois de alguns segundos, Chico das Quantas pediu arroz, carne de porco assada, feijão e batata doce. Nada de macarrão e nem farofa. O garçom se afastou e foi comunicar o pedido ao cozinheiro. Minutos depois Chico das Quantas estava se servindo, aproveitou a ocasião do clima e pediu uma dose de conhaque para abrir o apetite. Chico das Quantas estava pensativo, alheio ao que se passava ao seu redor, que nem, percebeu a presença de Piterman, que estava parado ao lado da mesa. Piterman pigarreou. Chico das Quantas levantou a cabeça e deu de cara com seu compadre Piterman todo de roupa nova e com ar de satisfação estampado no rosto. Parecia ter ganhado numa loteria da vida. Piterman em pé a olhá-lo, falou:

vazia.

- Bons dia cumpade! - Bons dia, sumido! Emendou Chico das Quantas indicando a cadeira


- Obrigado cumpade! Como estão as coisas? Indagou Piterman. - Estão como o compadre deixou da última vez que conversamos. Você pegou o dinheiro... Os cem mil? Inquiriu Chico da Quantas. - Peguei sim cumpade. Mas, tive que resolver uns problemas particulares, por isso, eu não procurei o cumpade ontem. Mas, eu fui lá ao Bar do Toin para encontrar o amigo e não vi o cumpade e tinha muita gente lá. Aí resolvi vir beber alguma coisa aqui e quando tem que acontecer é assim, acontece! Exclamou Piteman. - Certo compadre. Mas, seria para o compadre me entregar o dinheiro. Foi assim o combinado, não foi mesmo compadre! Comentou Chico das Quantas. - Foi sim. Mas, o cumpade não teria que me dá o dinheiro para minha campanha? Argüiu Piterman chamando o garçom. - Claro! Mas, o valor eu decidiria, o Deputado repassou a quantia que eu solicitei. Eu vou repassar trinta mil para você meu compadre. Falou Chico das Quantas. - Cumpade nada feito! Eu já depositei setenta mil na minha conta e estou com trinta para o cumpade. Pois, o cumpade tem quinhentos mil, eu consegui com o Deputado mais duzentos mil para a nossa campanha... - Porque você compadre fala nossa campanha? Fiquei de ajudar o cumpade, porém, isso não quer dizer que somos sócios com partes iguais. Eu dei ao compadre a quantia de cinqüenta mil antes de viajar, agora o compadre abocanha setenta mil sem me comunicar previamente, por que isso? Será que o compadre está sendo honesto comigo? Desabafou Chico das Quantas, um tanto afobado. - Calma aí cumpade! Não é bem assim! Tá me chamando de desonesto? Eu lhe convidei para ser candidato do partido, mesmo o partido não querendo. Fiz de tudo para que lhe aceitassem para disputar o maior cargo político do município e o cumpade me chama de desonesto? Não é por aí, não! Comentou Piterman com tom ameaçador. - Olha compadre! Não sei se é desonestidade ou sujeira. O negócio é que você me colocou nesse jogo para tirar vantagem. Ganhar dinheiro e ganhar com meus votos. Pois, todo aquele pessoal da Cooperativa está com o sobrinho do prefeito, só você e o vice-presidente da Cooperativa estão


comigo, o resto dos votos são dos meus amigos, empregados e familiares. Alguns comerciantes e outras pessoas que pensam em mudanças. Por isso, estou em terceiro lugar. O candidato da oposição precisa que eu dispute a eleição para tirar voto do sobrinho do prefeito e assim ele ficar em primeiro e se eleger. Aí, você compadre seria vereador com a minha ajuda e eu perderia a eleição. Tão fácil de desvendar tudo isso! Desabafou Chico das Quantas, com ar de tristeza. - Não! Cumpade! De onde tirou essas coisas? Eu estou dia e noite trabalhando para ver meu cumpade eleito. Pode acreditar! Falou e se levantou e deixou um envelope pardo, tipo saco, sobre a mesa e saiu sem se despedir do cumpade. Chico das Quantas havia deixado Piterman nervoso. Estava realmente desconfiando de alguma trapalhada de seu compadre. Chico abriu o envelope e viu os trinta mil em três maços de dez mil, em notas de cem. Pediu mais uma dose de conhaque, bebeu de um só gole, pagou a conta e saiu. Não se despediu do compadre como sempre fazia. Na Rua Principal Chico das Quantas foi direto para casa. Depois de atravessar o jardim encontrou dona Matilde arrumada e de saída. - Oi querida onde está indo? Perguntou, beijando dona Matilde como sempre o fazia. - A casa da Primeira Dama, querido. Tenho que falar com ela sobre a sua campanha e dizer que não serei candidata. Vou pedir o cancelamento da candidatura ao partido. Falou dona Matilde. - Espere! Não faça isso! Assuma sua candidatura. Falta um mês e tudo pode acontecer. Entre preciso lhe falar o que houve. Depois querida você vai lá e confirma sua candidatura. Assinou a ata da convenção? Perguntou Chico a esposa. - Sim querido! Assinei depois da convenção. A secretária do partido veio aqui e pediu para eu assinar. Inclusive minha candidatura já foi deferida. Comentou dona Matilde entrando em casa. Chico das Quantas comentou o que se passara entre ele e Piterman e que sentia um cheiro de traição no ar. Falou tudo desde o primeiro dia. Dona Matilde como sempre desconfiara de Piterman não ficou muito alarmada. Porém, aconselhou ao esposo que agisse com cautela. Se visse que não teria chance alguma para vencer a eleição poderia desistir e ao


invés de gastar o dinheiro de uma vida de trabalho, investisse na campanha dela, que já tinha a simpatia de muitas pessoas do município por ajudar as pessoas sempre que podia. Chico das Quantas olhou para a mulher e via nela uma mulher de decisão e conhecedora da política. Segurou a mão dela e pôs o envelope que Piterman havia deixado para ele. - Tome! Isso é só a primeira ajuda para sua campanha, querida! Agora vá lá e confirme sua candidatura e diga a Primeira Dama que gostaria de ser a presidente da Câmara Municipal. Sobre a minha campanha, apenas diga que haverá surpresas agradáveis para todos. Falou e beijou novamente a esposa e se levantando acompanhou dona Matilde até a porta de saída. - Obrigada querido! Guarde a ajuda no escritório, quando eu voltar pego com você! Disse dona Matilde devolvendo o envelope, beijando o esposo e dando um adeuszinho se despediu! Chico das Quantas entrou no seu escritório de casa e foi escrever um discurso para ler no momento oportuno e esclarecer muitas coisas que aconteciam na política de seu município.


Cap. 15 CONVERSA ENTRE DAMAS Dona Matilde atravessou o jardim e chegou a Rua Principal, que estava repleta de pessoas que a cumprimentavam. Dona Matilde caminhou alguns minutos e chegou à Secretaria de Ação Social do Município e pediu para a recepcionista avisar a Primeira Dama que ela havia chegado. A recepcionista interfonou para a sala da Primeira Dama comunicando a presença de dona Matilde. Instantes depois a recepcionista pediu para dona Matilde entrar. A Primeira Dama era uma mulher se chamava Carla aparentava uns quarenta e dois anos. Tinha a pele branca, cabelos lisos, não muito longos, louros acobreados, olhos castanhos claros, um tanto robusta. Deveria ter sido muito bonita na adolescência, pois ainda trazia em si traços de beleza. Era Secretária da Ação Social do Município estava sempre bem vestida. Dona Matilde a cumprimentou e sentou-se na poltrona em frente à mesa da Primeira Dama. - Mulher, eu estava louca para te vê! Exclamou a Primeira Dama com um largo sorriso. Afagando a mão de dona Matilde. - Mulher, eu pensei muito sobre eu ser candidata ao legislativo da cidade. Comentou dona Matilde. - Pois era isso que eu queria te falar. Conversei com meu marido e fiz a cabeça dele. Depois da sua vitória, ele vai indicar você para ser a presidente da Câmara. Ele topou na hora. Mas, quanto ao seu esposo, vai continuar com a campanha a prefeito? Perguntou a Primeira Dama. - Mulher, eu conversei com ele e expliquei que desistiria da campanha. Ele foi contra! Inclusive ele disse que eu poderia ser candidata pela situação. Coisas boas iriam acontecer para nós todos! Ele me falou assim. - Como assim? Ele vai continuar com a candidatura? Inquiriu a Primeira Dama.


- Pelo que sei, é que o compadre dele, o Piterman está usando ele para chegar à Câmara Municipal. Mas, parece que meu esposo fará algo para impedir que Piterman continue usando ele. Explanou dona Matilde. - Mulher, esse Piterman nunca foi boa “bisca”, ele está realmente traindo a campanha do seu marido. Ele está recebendo dinheiro do meu marido para encorajar o seu marido a continuar candidato. Aí, o seu marido atrapalha a vitória do sobrinho do meu marido, perde a eleição, o Piterman ganha, e aí, nem nós e nem vocês. Entendeu? Questionou a Primeira Dama. - Bem que eu desconfiava! Bem que eu avisei ao meu esposo. Esse Piterman é um traidor. Olhe lá se ele não está mancomunado com o candidato da Oposição, hein! Argumentou dona Matilde. Falarei para meu esposo que ele está sendo traído e que será melhor desistir da campanha e trabalhar para o sobrinho de vosso marido. Aquele Piterman nunca me enganou e há muito tempo eu ando desconfiando dele. Sempre foi um aproveitador, passou um tempo fora de nosso município, quando voltou foi com dinheiro. Sabe-se lá a procedência do dinheiro que ele ganhou... - Pois é! Mas, o importante é que você amiga será eleita. Meu marido pediu para eu te entregar essa ajuda para sua campanha caso você confirmasse. Tem uns duzentos mil para você ser eleita. Depois, o prefeito, sobrinho do meu marido vai chamar a base e a oposição para convers ar e aí, indicará seu nome para presidir a Câmara Municipal. Ainda vai indicar seu marido para a Secretaria de Obras. Nós sabemos que vocês são pessoas de boa índole e que irão fazer muito pelo Município. Com certeza se o seu marido desistir e aderir a nossa campanha, tudo será melhor. Argumentou a Primeira Dama. - Fico feliz que pense assim amiga! Conversarei novamente com meu esposo para saber o que ele está preparando para dá o troco ao Piterman. Falou dona Matilde. - Com certeza! Aquele sujeitinho tem que levar a pior uma vez. Passa a perna em todo mundo. Mas, ele não perde por esperar, nada como um dia atrás do outro com uma noite no meio, amiga! Exclamou Carla olhando para dona Matilde e caindo numa risada. Dona Matilde também riu daquela antiga máxima repetida pela Primeira Dama. Pois, além dela falar ainda fez uma careta de desprezo em relação ao Piterman. Isso foi muito engraçado.


Depois de rirem a vontade as duas amigas retomaram suas posturas. Dona Matilde pegando o envelope com a ajuda oferecida pelo prefeito Leander e entregue pelas mãos de Carla, a Primeira Dama do Município de Quantas se despedindo com beijinhos nos dois lados do rosto saiu da Secretaria de Ação Social e foi direto para casa.


Cap. 16 UMA DAMA NO COMANDO Já passava das dezesseis horas quando dona Matilde chegou a sua casa. Chico das Quantas estava no escritório de casa preparando a investida que daria para mostrar ao Piterman, que não se pode mexer com a boa fé das pessoas de bem. Ficara indignado com a atitude de Piterman em se apropriar de um dinheiro que não fora doado para ele. No mínimo teria que entregar a ele e assim, Chico das Quantas depois repassar uma quantia para Piterman. Como seu compadre Piterman se antecipou e retirou o dinheiro e ficou com a maior parte, as coisas mudaram e Chico das Quantas ficou apreensivo e pensando num modo de sair daquela história sem prejuízos e ainda por cima dá uma lição em Piterman para nunca mais ele posar de espertalhão em cima de pessoas de bem. Dona Matilde passava pelo jardim e colhia flores para pôr no jarro e enfeitar a casa. Ela era muito cuidadosa com a casa e a família. Depois de arrumar as flores nos jarros da sala foi até a porta do escritório e bateu antes de entrar como era de costume. Ela abriu a porta e viu que seu marido estava rabiscando algumas coisas numa folha de papel. - Entre... Falou Chico das Quantas. - Oi querido! Falou dona Matilde ainda à porta. - Oi querida! Eu estava preparando umas coisas aqui. Como foi sua conversa com a Primeira Dama? - Excelente! Você está falando com a futura Presidente da Câmara Municipal de Das Quantas e eu estou falando com o futuro Secretário de Obras. Está bom assim ou quer melhoras? Falou dona Matilde com ar engraçado. - Não! É sério? Indagou Chico das Quantas abraçando a mulher. - Sim. É sério querido. Mas, depende de seu posicionamento político. O prefeito espera um posicionamento seu. Se você vai continuar com a campanha ou vai desistir e assim apoiar o sobrinho dele. Mas, segundo a Carla, seu marido não impôs nada. Está deixando você livre para escolher. Falou dona Matilde.


- Eu sei! Porém, eu tenho boas notícias para você. Eu irei repassar a você o dinheiro que o deputado amigo do Piterman me repassou para a minha campanha. Assim ajuda você realizar uns eventos e fazer nosso povo vê que você é capaz de representá-lo. Comentou entusiasmado Chico das Quantas. - Certo um querido! Olha aqui, a Primeira Dama repassou duzentos mil que o esposo dela havia guardado para mim, caso eu confirmasse a candidatura. - Então, querida, mesmo assim vou repassar o que recebi. Não podemos correr o risco de perder essa eleição. Duzentos, mais trinta, mais cem... Trezentos e trinta para garantir a vitória. Agora é só começar marcar as reuniões nos distritos. Converse com as lideranças para podermos dá aquela ajuda de custo que é necessário para elas trabalharem. Contratarei uma equipe boa de marketing para você e uma equipe de ativistas. Iremos inundar a cidade com sua propaganda. Falou animado Chico das Quantas. - Obrigada querido! Vou marcar com as senhoras da cidade. Iremos dá um café da manhã para umas cinqüenta donas de comércio. Um jantar para cinqüenta donas de casa. Vamos organizar uma gincana com os jovens da cidade e no final um festival de música e arte para conhecermos os talentos de nossa juventude. Argumentou dona Matilde animadíssima. - Isso! Chame nossos filhos e peça para ele se engajar na campanha. Irei tomar umas providências. Amanhã irei conversar com o prefeito. Ele terá uma grande surpresa. Falou Chico das Quantas esboçando um grande sorriso. - Ok! Querido! Irei conversar com nossos filhos. Deu um beijo no esposo e saiu do escritório de casa indo trocar de roupa e depois conversar com os filhos. Chico das Quantas ficou mais um pouco no escritório. Estava cheio de idéias que poderiam dá novos rumos a política do Município. A noite chegou sem mais surpresas. Chico das Quantas e dona Matilde e os filhos conversaram por muitas horas sobre a campanha dela e o desfecho da campanha de seu marido. Pediu o engajamento dos filhos junto aos seus amigos de escola e adolescentes do município. Seria um trabalho de visitas, mensagens, encontros, torneios de futebol, competições de voleibol, futsal, mexer com a juventude e levar as propostas de dona Matilde para o conhecimento de todos os jovens e adultos da pequena


cidade das Quantas. Depois de conversarem e acertarem os detalhes da ação da campanha em sua reta final, todos foram para seus quartos dormirem, pois o amanhã seria um novo dia de luta.


Cap. 17 UM ACORDO NA CASA DO PRFEITO Amanheceu nublado, fazia um clima ameno. Chico das Quantas pegou o carro e foi dirigindo até a residência do prefeito, que ficava um pouco afastada do centro da Sede uns três quilômetros. Uma casa grande com um jardim bem cuidado por um jardineiro, o mais velho jardineiro da região. Na entrada da casa havia um guarda municipal. Nenhum assessor, nenhum secretário estava por lá. Apenas o carro do Prefeito e o da Primeira Dama estava na grande garagem a uma pequena distância da casa. Chico das Quantas se aproximou e cumprimentou o guarda municipal. - Bons dia amigo! - Bons dia doutô! Respondeu o guarda. - O Prefeito está? Indagou Chico das Quantas. - Sim senhor! Vou avisar que o doutô está aqui. Um momento! O guarda municipal foi até a porta da casa e falou que Chico das Quantas estava querendo falar com o Prefeito. Da porta mesmo o guarda municipal com um gesto de mão pediu para Chico das Quantas entrar na casa. Pois bem! Chico das Quantas entrou na casa e o Prefeito estava sentado numa poltrona confortável de couro de bode, com os pés sobre uma mesa de centro. Quando viu Chico das Quantas sorriu e gritou surpreso, como se não visse Chico há muito tempo. - Conterrâneo! Meu conterrâneo! Levantando-se da poltrona de couro e indo apertar a mão de Chico das Quantas, que falou. - Bons dia, seu prefeito! Desta vez sou eu que quero falar com o amigo. - Vamos tomar café! Ô menina traz um café com tapioca aqui para o conterrâneo! Gritou para a moça agregada da casa grande. - Obrigado meu amigo! Falou Chico sentando ao lado do prefeito que já havia sentado à mesa.


- Conte as novidades, conterrâneo o que o traz a minha humilde casa? Salientou o prefeito com ar irônico. - Meu amigo! Minha esposa está querendo ser vereadora. Eu querendo ser prefeito. Ela do partido do amigo, situação. Eu pela terceira via. Argumentou Chico das Quantas. - Conterrâneo! Conterrâneo! Estão lhe usando. Eu sei de tudo. Tudo armação para me prejudicar e deixar você, conterrâneo quebrado. Sem dinheiro, querem rapar todo o seu dinheiro. Depois, nem você ganha, nem eu. A oposição ganha e vai perseguir seus negócios e os meus. Por isso, que lhe ofereci o cargo de Secretário de Obras. Daqui a oito anos será você o prefeito ou sua esposa a prefeita. Entendeu? Perguntou o prefeito. - Claro prefeito! Mas, porque o Piterman insistiu tanto para eu ser candidato? - Meu caro conterrâneo, a princípio, o Piterman foi instruído por mim para lhe convencer a ser candidato. Eu pensava que com sua candidatura seria melhor para o meu sobrinho. Só que o segundo colocado é o candidato da Oposição e como isso, o conterrâneo dividiria os votos e meu sobrinho seria eleito com a maioria. Mas, o Piterman acertou comigo e disse que os sócios da Cooperativa e suas famílias votariam em você conterrâneo, porém, ele fez outro acordo com o candidato da Oposição e iria ferrar a nós dois. Descobri que ele é muito ambicioso e não tem escrúpulos. Trai até a própria mãe. Eu dei a corda toda para ele e esperei para vê até onde ele iria. Entendeu a engenhoca, conterrâneo? Explanou o prefeito. - Entendi prefeito! Inclusive minha esposa me alertou sobre o compadre Piterman e eu comecei a duvidar da conversa dele desde o dia em que ele me levou para receber uma ajuda do deputado do município vizinho e ficou com setenta mil da minha ajuda sem ao menos pedir. Explicou Chico das Quantas bebendo um pouco de café e comendo um pedaço de tapioca. - E aí, conterrâneo? Vai ser o nosso futuro Secretário de Obras? Perguntou o prefeito. - Sim! Mas, com algumas condições! Exclamou Chico das Quantas. - Quais as condições conterrâneo? Inquiriu o prefeito.


- Primeira, minha esposa sendo eleita será indicada realmente para presidência da Câmara Municipal com votos fechados. Segunda, eu ter autonomia para comandar a Secretaria de Obras. Pois quero transformar esse Município durante a gestão de seu sobrinho e por fim, quero que me ajude a minar os votos do compadre Piterman. Assim ele aprenderá a lição e nunca mais vai querer passar a perna nas pessoas de bem. Estamos certos? Argumentou Chico das Quantas. - Estamos sim, conterrâneo! Eu sempre gostei desse seu jeito: “pei, bufu!” Você diz à queima-roupa! Meu sobrinho está chegando, vamos logo acertar na presença dele. Comentou o prefeito. - Melhor assim. Falou Chico das Quantas. Não demorou muito e o moço Herácles adentrou a sala da casa do prefeito. Estava sozinho e foi logo cumprimentando os presentes e tomou assento entre o prefeito e Chico das Quantas. - Bom dia! Falou o sobrinho do prefeito. - Bons dia! Responderam os presentes. - Ô menina! Traz mais café e tapioca para cá! Gritou o prefeito com o jeito bonachão que lhe era peculiar. - Bem, esse é meu amigo Chico, você já sabe a história dele. Foi convidado a ser candidato a prefeito para minar os votos do candidato da Oposição. Como nós havíamos combinado com o Piterman. Só que o Piterman e o presidente da Cooperativa estavam combinados também em minar nossos votos. O Piterman fingiria apoiar o conterrâneo Chico e o presidente da Cooperativa fingiria apoiar você meu sobrinho. Contudo, por baixo dos panos eles estão apoiando o candidato da Oposição. Piterman quer ser presidente da Câmara Municipal, o presidente da Cooperativa quer ser Secretário de Obras. Queriam enganar todo mundo e ainda mais elegerem o deputado deles e assim comandar a política da região. Mas, não contavam com as pessoas de bem deste Município, no caso o meu amigo conterrâneo Chico das Quantas, um homem digno, trabalhador, independente e sério. Explanou o prefeito. - Está vendo aí Chico, como o seu compadre é um traidor. Ele usa de tudo para alcançar seus objetivos. Estava lhe enganando desde o começo. Quando a gente percebeu que ele jogava dos três lados, meu tio falou que lhe convidaria para ser o futuro Secretário de Obras. Inclusive lhe


procurou. Você é que não aceitou, pois estava muito eufórico com a suposta campanha. Então, nos reunimos com a Primeira Dama e pedimos para ela conversar com sua esposa e convencê-la a aceitar ser candidata a vereador e ainda ser a presidente da Câmara Municipal. Ela de início não queria por que você poderia não aceitar. Mas, ainda pedimos para ela conversar com você. Não falamos a respeito da sujeira do Piterman para não causar confusão. Como ela aceitou depois que você deu o aval. Nós demos uma pequena ajuda de custo para ela começar a campanha. Entendeu agora Chico. Falou o sobrinho do prefeito. - E tem mais, como sua campanha cresceu e percebemos que você não seria eleito. Porém, minaria os nossos votos favorecendo ao candidato da Oposição. Se não fosse isso, deixaríamos você disputar as eleições e depois ainda lhe daríamos o cargo de Secretário. Pois daqui a oito anos é melhor você prefeito conterrâneo, porque conhecemos sua boa índole e jamais entregaríamos a prefeitura nas mãos daquele vagabundo da marca do Piterman. Sobre o nosso acordo está fechado. Sobre a presidência da Câmara, a Secretaria de Obras para você e minar os votos do Piterman. Você concorda sobrinho? - Claro! O senhor, meu tio, assim como os meus pais conhecem você Chico melhor que eu e sempre falam muito bem da sua pessoa. Temos um acordo sim. Eu sendo eleito a prefeito, você Chico será meu Secretário de Obras e indicarei e recomendarei o nome de dona Matilde sua esposa à presidência da Câmara Municipal. Estamos fechados! Falou o sobrinho do prefeito bebendo o café com tapioca. - Bem, só tenho a agradecer aos senhores. Irei conversar com minha esposa sobre nosso acordo. Mas, só anunciarei a minha desistência da campanha faltando dez dias para a eleição. Irei a emissora de rádio e farei tipo um pronunciamento público. Pois, quero desmascarar o meu compadre com muita classe. Falou Chico das Quantas tentando se levantar da cadeira para ir embora. Foi contido pela mão do prefeito que o segurou. Falando. - Calma conterrâneo! Temos bônus para dona Matilde e para você. Pois, irão muito contribuir com nossa campanha e com o bem-estar do município. Não queremos esses “sindicalistas” no poder para enganar o nosso povo. Argumentou o Prefeito Leander. Chico das Quantas continuou sentado enquanto o prefeito se levantou e foi até o quarto e retirou de um cofre uma quantia em dinheiro, pôs num envelope e de volta à sala entregou ao conterrâneo Chico das Quantas e falou.


- Conterrâneo o maço maior é de dona Matilde e o menor é para o amigo segurar mais um pouco a sua campanha até o dia do seu pronunciamento de desistência. Certo assim? - Está certíssimo meu amigo. Tudo dará certo! Falou Chico das Quantas e desta vez levantou e se retirou da casa do prefeito levando o envelope com o dinheiro.


Cap. 18 UMA COMEMORAÇÃO A DOIS, ANTECIPADA.

Chico das Quantas desceu pela Rua Principal e foi ao seu comércio, entrando no escritório da loja fez seu trabalho, conversou com o gerente, viu a agenda com sua secretária e depois saiu com destino a sua casa. Dona Matilde estava conversando com três senhoras da sociedade local, quando Chico das Quantas entrou em casa. Cumprimentou as senhoras e em seguida beijou o rosto de dona Matilde e falou. - Querida estarei no escritório quando você terminar sua reunião. Senhoras com suas licenças. Falou Chico das Quantas se dirigindo ao escritório da casa. Chico das Quantas acomodado em sua poltrona por trás da mesa de trabalho abriu a gaveta e retirou o dinheiro que havia guardado. Havia duzentos e trinta mil. Abriu o envelope que recebera do prefeito e retirou os maços de notas. O maior maço de notas como advertiu o prefeito era de dona Matilde para ajudar na campanha, o menor maço era dele. De posse do dinheiro ele contou as cédulas do maço maior e constatou que havia duzentos mil. No maço menor, cinqüenta mil. Juntou com o que tirara da gaveta e resultou na soma de quatrocentos e oitenta mil. Pronto, a vitória de dona Matilde já estava garantida. Agora era só cair dentro da campanha e visitar as pessoas nos distritos dia e noite até o dia “D”, como era chamado o Dia da Eleição. Chico das Quantas foi até ao frigobar do escritório e pegou uma cerveja. Bebeu um gole e ficou remexendo uns papeis e fazendo anotações, enquanto esperava dona Matilde. Não demorou muito e a figura de dona Matilde surgiu na porta do escritório e foi se aproximando da mesa de trabalho de Chico das Quantas, que pegou uma garrafa de um vinho especial e encheu uma taça oferecendo a dona Matilde, que recebeu a taça de vinho com um sorriso amável e comentou: - O que vamos comemorar querido?


- A sua vitória no pleito que se aproxima, querida! Respondeu Chico das Quantas encostando a lata de cerveja na taça de vinho que dona Matilde segurava. - Você acha que ganharei mesmo? Inquiriu dona Matilde. - Com certeza! Você é carismática, generosa, tem a confiança da mulher do prefeito e ainda tem a simpatia e o respeito do povo de nosso município. Dará certo! Exclamou Chico das Quantas dando um gole na cerveja. - Deus te ouça! Exclamou dona Matilde, enquanto sorvia o vinho. - Veja, já temos quatrocentos e oitenta mil para a campanha. Falou Chico das Quantas mostrando os maços de notas de dinheiro sobre a mesa. - Nossa! Querido! É muito dinheiro para uma campanha a vereador, você não acha? Falou espantada dona Matilde. - Querida isso é para garantir sua vitória e minar os votos daquele safado do Piterman. Falou Chico das Quantas com o tom da voz elevado. - Calma querido! Ele terá o que merece. Deus é justo! Eu sempre falei para você não confiar muito nele. Comentou dona Matilde sorvendo mais um pouco de vinho da taça. - Tem razão querida! Vamos nos concentrar na campanha. Eu conversei com o prefeito, nosso amigo Leander e vi que ele sabe realmente jogar na política. Ele sabe das minhas intenções em relação à política. Sabe que eu quero o melhor para esse nosso povo. O melhor para o nosso município. Se deixar nas mãos dos outros, tipo Piterman e o candidato da Oposição, nosso município continuará no atraso e na corrupção. Ele mesmo como prefeito tem feito à metade do que era para ser feito. Mas, sendo primeiro prefeito ainda fez alguma coisa. Pode ser que o sobrinho dele faça mais em oito anos. Quando chegar a minha vez, poderei fazer muito mais. Concorda querida? Indagou Chico das Quantas, bebendo mais um gole de cerveja. - Creio que é isso mesmo! Algo tem que ser feito sim! Espero que o sobrinho do Leander faça o que está prometendo. Assim, como futura presidente da Câmara Municipal, eu possa trabalhar em conjunto com o Executivo. Argumentou dona Matilde terminando de beber o vinho que havia na taça.


Chico das Quantas conversou com a esposa sobre a estratégia de campanha dela e de como faria para anunciar sua desistência da candidatura ao Executivo Municipal. Conversaram um bom tempo e anotaram alguns pontos. Fizeram contas e mais contas na tentativa de obterem uma visão geral do que transcorreria durante a campanha. Elaboraram planilhas de gastos e até fizeram uma projeção de votos que dona Matilde poderia obter. Depois da conversa e dos planos, dona Matilde foi para seu quarto e deixou o esposo no seu escritório a meditar sobre a campanha de sua esposa. Tudo indicava que dona Matilde seria a candidata mais votada do município das Quantas, desde quando houvera eleições pela primeira vez para vereador. Dona Matilde era uma mulher elegante, bonita, bem prendada, de boas maneiras, inteligente, sabia se expressar bem e se formara em Administração na Universidade da Cidade Grande. Tinha vários cursos de extensão em Gestão Pública e finanças. Era uma mulher preparada e muito querida pelos moradores da região. Sempre tratava as pessoas sem distinção e com respeito. Ajudava em quase toda ocasiões, quando a procuravam. Sempre esteve acompanhando os serviços sociais e participando várias vezes, como voluntária quando era requisitada, até mesmo quando não era requisitada ia de vontade própria. Por isso, ela tinha o respeito e o carinho das pessoas. Sempre alegre, nunca se soube que dona Matilde algum dia estivesse de cara feia ou triste. Era uma excelente esposa e mãe. Tinha seu atelier de desenhos arquitetos e só trabalhava sob encomenda. Sempre a convidaram para fazer parte da administração, mas ela apenas se limitava em dá algumas dicas sobre o Código de Postura do Município para não deixar de contribuir para o melhor aspecto do lugar. Era assim dona Matilde, pessoa boa e com muitas virtudes, com certeza ela eleita e sendo presidente da Câmara Municipal, todos iriam ganhar principalmente o próprio município. Por isso, seu esposo Chico das Quantas não a desencorajou e ainda deu total apoio a sua decisão de concorrer nas eleições no cargo de vereador. Ele futuramente poderia ser o candidato do prefeito que ele ajudasse a eleger. Era isso, pensou Chico das Quantas enquanto rabiscava mais planos. O dia seguiu tranqüilo. No final da tarde Chico das Quantas resolveu ir ao Bar do Toin para tentar encontrar seu compadre Piterman e ver o que ele tinha a dizer. Pois, da última vez que esteve com ele havia saído sem se despedir. Foi deselegante de sua parte, pensou. Mas, ficara muito chateado com o que Piterman fizera. Contudo, queria encontrar Piterman e ver até onde iria o jogo dele.


Cap. 19 FAZENDO DE CONTA QUE ACREDITA

Chico das Quantas chegou ao Bar do Toin e ao encostar-se ao balcão, olhou para o reservado e viu Piterman sentado à mesa acenando com um movimento de mão para ele ir sentar com ele. Chico atravessou o salão principal do bar e foi sentar à mesa do reservado onde estava seu compadre Piterman. Que foi logo falando: - Boas tarde cumpade! - Boas tarde! Respondeu Chico das Quantas tomando assento à mesa. - Eita, cumpade! Onde se meteu que não o vi mais? - Resolvendo problemas compadre. Queria lhe pedir desculpas por ter saído sem me despedir do compadre naquele dia. Argumentou Chico. - Cumpade sabe que nem reparei! Falou Piterman. - Como está sua campanha meu compadre? Inquiriu Chico das Quantas. Acenando para o garçom trazer um copo para acompanhar seu compadre Piterman que já estava bebendo uma cerveja. Piterman baixou os olhos e olhando para o copo de cerveja sobre a mesa falou: - Cumpade, meu cumpade! Eu tô é para desistir dessa joça. O povo pede demais da conta! São óculos, é remédio, é tijolo, é telha, é emprego, é isso é aquilo. Tudo tem um preço! Ninguém quer saber de projeto, ninguém quer saber se vai continuar a mesma coisa. Por isso, quando eu ganhar, quero que o povo se exploda! Povo “escrôto” esse daqui. Não vejo a hora de tudo isso passar, eu ganhar e dá banana, ô! Para esse povo miserável! Desabafou Piterman gesticulando com o braço como se realmente estivesse dando banana para alguém.


Chico das Quantas ouviu o desabafo de Piterman mesmo sabendo que ele não dava nada para os eleitores e quando dava era com o dinheiro dos outros. Chico das Quantas bebeu um copo de cerveja e comentou: - Sabe compadre, eu também estou pensando em desistir da campanha. Estou vendo que o povo pede demais de um candidato, que nunca esteve no poder. O povo pensa que por ser candidato é obrigado a dar o que eles querem. Eu estou entrando na política para fazer algo de bom para todos de nosso município. Se eu ajudar a cada um que me pede não chegarei a lugar nenhum. É como o compadre mesmo disse, que o político se elege e depois vira as costas para o povo. Faz isso com muita razão, pois, se já comprou a eleição porque vai se preocupar com a qualidade de vida dos outros? Por isso, acho melhor eu desistir de ser prefeito, compadre. Falou Chico das Quantas bebendo o resto da cerveja e pedindo mais uma ao garçom que passava ao lado da mesa do reservado. Piterman bebeu o restante da cerveja do copo e olhando para o compadre Chico das Quantas falou: - Não meu cumpade! Mais de jeito nenhum! Você não pode largar a campanha na reta final. Seria uma grande desfeita para o nosso eleitorado. Já pensou no que irão dizer? Já tô é vendo o povo falando que meu cumpade não é de nada. É “um calça frouxa”, barriga branca, a mulher não deixou ser candidato, porque ela mesma quer ser prefeita... Isso é o que dirão cumpade! Argumentou Piterman enchendo o copo com a cerveja que acabara de chegar à mesa. Chico das Quantas observou as palavras do seu compadre Piterman e também bebeu o gole da cerveja gelada. Olhou para seu compadre Piterman e falou: - Você acha que irão mesmo falar isso, compadre? - Se vão? Ora, meu cumpade, você conhece essa praga de gente deste lugar. Só tem invejoso, desonesto, pidão, gente ordinária! Só querem sugar os políticos. Deveriam sugar era o prefeito, nosso conterrâneo Leander. Esse sim, não fez nada e o sobrinho ainda está em primeiro lugar nas pesquisas. Ôxente! Esse povo merece é peia. Merece o prefeito que tem! A culpa é nossa cumpade. Fomos nós que ajudamos o Leander se eleger quando o município foi emancipado. Agora é a nossa vez de derrubar essa cambada de corruptos que colocamos na Prefeitura. Falou pelos cotovelos e enraivecido. Tomou mais um gole de cerveja e acrescentou:


- Iria desistir, mas agora irei é pra cima deles! Exclamou Piterman enchendo o copo de cerveja descontrolado, transbordando o líquido do copo. - Calma compadre! Vai com calma, as coisas quando têm que acontecer, simplesmente acontecem. Continue a campanha com cautela, falta pouco. Vamos vê no que vai dá! Comentou Chico das Quantas. - Por falar em cautela... Dona Matilde é candidata também, como o cumpade pensa em me ajudar, se a esposa é candidata? Indagou Piterman com malícia. - Meu compadre nesse mundo tem espaço para todos. Ela decidiu ser candidata e eu tenho mesmo que apoiar. Falou Chico das Quantas com naturalidade. - Por isso, é que o cumpade não ajudou mais com dinheiro, ta investindo na esposa. Tudo bem! Mas, vamos fazer o maior número de vereadores. Isso eu tenho certeza! Exclamou Piterman bebendo um copo de cerveja. Chico das Quantas analisando o comportamento de seu compadre e não deixando transparecer o real motivo de sua desistência da campanha para prefeito. Decidiu entrar no jogo de seu compadre Piterman. Disse: - Compadre nós iremos vencer essa eleição. Faremos o maior número de vereadores. Mas, você compadre tem que ajudar o povo. Mesmo que depois mude o sistema. Temos que tirar o grupo do prefeito Leander do poder, concorda? - Mas, é claro! Temos que cuidar de nossas campanhas. Falta pouco tempo. Mas, preciso de mais dinheiro cumpade. Teria como me conseguir uns trinta mil cumpade, só falta isso para eu chegar o final da campanha vivo. Comentou Piterman sorvendo a cerveja do copo. - Meu compadre eu estou esperando um repasse de umas máquinas que vendi para a prefeitura do município vizinho, até o final da semana receberei e conversaremos sobre isso. Mas, não espere muito, porque tenho que ajudar a Matilde, pois ela anda muito empolgada com a campanha dela e com a minha. Vamos fazer um grande time na administração do Município. Falou Chico das Quantas dando esperanças ao seu compadre Piterman.


- Obrigado cumpade! Você é um amigo e tanto. Chegando ao poder eu saberei recompensar o cumpade. Argumentou Piterman pedindo mais uma cerveja ao notar que seu copo estava vazio. O tempo passou e já era noite quando Chico das Quantas e Piterman saíram do Bar do Toin. Depois de se despedirem cada um tomou seu rumo. A Rua Principal estava movimentada. Muitas pessoas conversavam e andavam sem muita pressa. Chico das Quantas desceu rua a baixo. Abriu o portão, atravessou o jardim que àquela hora estava iluminado por lâmpadas em postes de decoração réplicas do século passado.


Cap. 20 TUDO ACONTECENDO RÁPIDO

Ao chegar à sala da casa viu dona Matilde com algumas senhoras, não eram as mesmas que encontrara na primeira vez. Todas conversavam animadamente saboreando suco e salgados feitos por dona Matilde, que sempre gostara de criar pratos e petiscos dos mais variados. Chico das Quantas cumprimentou as senhoras, que devolveram o cumprimento. Ele foi até dona Matilde e como sempre, deu-lhe um beijo no rosto. Disse: - Que senhoras elegantes! Não quero atrapalhar a conversa das senhoras, pois vi que estava muito animada. Querida, senhoras dêem-me licença. Qualquer coisa eu estarei no escritório, querida. Se referindo à dona Matilde, que respondeu: - Ok, querido! Soltando um beijinho de longe para o esposo. Chico das Quantas retribuiu o gesto de dona Matilde e se retirou da sala indo para seu escritório de casa. Ao entrar no escritório foi para sua mesa de trabalho. Juntou alguns papeis com anotações e começou a digitar tudo em seu computador. Na sala de estar, dona Matilde conversava com as senhoras. Ela falava de seus planos como vereadora e presidente da Câmara Municipal. Pediu opinião das senhoras no que poderia ser feito na área social para atender os menos favorecidos. Traçava planos e programas, anotando tudo num caderno. Pensava em indicar o nome de uma das senhoras presentes a ser a Secretária-adjunta da Ação Social, pois, a Secretaria teria como titular a Primeira Dama do Município. A conversa se estendeu por várias horas. Até que a reunião foi encerrada. As senhoras se despediram e dona Matilde foi conversar com o esposo no escritório de casa. A semana passou muito rápida. A efervescência política estava no auge. Muitas reuniões, comícios nos distritos, eventos por todos os lados e todos os dias. Dona Matilde e Chico das Quantas sempre prestigiando os eventos com suas presenças e patrocínio. Piterman sempre perguntando ao seu compadre Chico das Quantas se ele já havia recebido o dinheiro da venda das máquinas, pois, queria


incrementar a campanha e não tinha de onde tirar dinheiro. Porém, Chico das Quantas sabia que tudo aquilo era conversa fiada. Sabia que Piterman estava filando de um de outro lado. Só pensava nele, o resto que se explodisse. Por isso, Chico das Quantas agia de maneira à banho-maria, nem dizia que sim e nem dizia que não. Deixava Piterman amarrado e na dependência de uma ajuda na reta final da campanha. As pesquisas davam empate técnico entre o sobrinho do prefeito e o candidato da Oposição e Chico das Quantas era o terceiro. Ainda havia uns dois candidatos sem expressão política e sem o carisma da população. Piterman não aparecia entre os eleitos ao cargo de vereador, mas dona Matilde já disparava em primeiro lugar e a cada dia a preferência por seu nome crescia. O prefeito estava satisfeito com o andar da campanha de seu sobrinho, que seria seu sucessor. Os aliados de Piterman não gozavam muito da simpatia do eleitorado local. Isso era o que deixava Chico das Quantas em terceiro lugar, pois muitos admiravam e respeitavam Chico das Quantas, mas não entendiam como ele poderia se aliar politicamente a um aproveitador nato, um homem sem nenhum escrúpulo, capaz de vender a própria mãe para se dá bem. Quando Chico das Quantas tinha oportunidade sempre explicava o motivo pelo qual estava politicamente ligado ao seu compadre Piterman e pedia paciência, que logo, logo tudo mudaria de rumo. Era apenas uma questão de tempo e de estratégia. Pois, Chico das Quantas não seria usado por Piterman para este crescer politicamente. Tudo teria seu tempo, no momento exato Chico das Quantas faria uma revelação aos seus eleitores. Faltava muito pouco para isso acontecer ele dizia. O Município das Quantas estava agitado, muito barulho nas ruas, carros-volantes rasgavam o som com as propagandas dos candidatos. Cartazes colados em paredes, postes, em abrigos de ônibus, gente indo e vindo das casas dos candidatos, dos comitês políticos, da Prefeitura, da Ação Social. Era inauguração de banco de praça, de degrau de ponte, até inauguração de um pedaço da calçada da Prefeitura fora inaugurado. Os eventos como aniversários, casamentos civis, registro de nascimento, bodas de prata, de ouro, até de diamante eram comemorados, tudo com o patrocínio dos candidatos. Até os torneios de futebol de campo se intensificaram. As feijoadas, buchadas e as paneladas estavam em alta. Bolas, uniformes, chuteiras, redes para traves, enfim, eram brindes que não acabavam mais. Tinha gente que arrancava os dentes para ganhar uma dentadura nova, outros quebravam os óculos velhos para ganharem outros novinhos. Gente que nunca dirigiu tirava carteira de habilitação nova nas “comissões itinerantes” pela região. Ainda havia gente que queria botijão


de gás, bicicleta nova, chinelos, chapéus, bonés, camisetas. Ainda havia o eleitor que queria o colírio, mas se não tivesse se contentaria com o frasco vazio. Essas coisas aconteciam e acontecem de verdade. A política se transformou num ato de barganha, o famoso “toma lá, dá cá!” A maioria das pessoas não se interessava pelas melhorias que o município poderia ganhar. Não queriam nada para o coletivo, e sim, para seus interesses particulares, o que resultou no político ser eleito e depois mandar o povo às favas. Como diria o personagem de Chico Anysio, Deputado Justo Veríssimo: “Castor, eu quero é que o povo se exploda!” Nada mais justo e veríssimo que o político se vingar de um povo ignorante, aproveitador. Existem políticos que metem a mão no bolso do erário, existe sim, mas, o eleitor mete a mão no bolso do político é sem pena. O chamado “voto consciente”, tão apregoado pelos partidos de esquerda antes de chegarem ao poder era uma bandeira forte. Ora, os políticos que eram de esquerda não faziam parte da elite política para chegarem ao poder pregavam pelos quatro cantos do país, que o voto teria que ser consciente, não trocar e nem vender o voto. Isso só valia até antes de se chegar ao poder, depois para se manter no poder teria que jogar o jogo de todos. Era isso mesmo! Não seria diferente no Município das Quantas, onde os mais espertos estavam de plantão sempre na tentativa de se manterem no poder ou manter seus grupos na cabeça da administração do bem público. Como Leander e seu grupo, ou os que queriam tomar o poder, não para mudar a coisa para melhor, e sim, para desfrutarem do poder e encher seus cofres. Chico das Quantas e dona Matilde iriam entrar na política para mais a frente fazerem o melhor para o povo sofrido daquela região. Tinham boa vontade e por isso, aceitaram o desafio. Ainda teriam oito anos pela frente para depois alcançarem o topo da pirâmide do poder do município, aí sim, fariam o melhor para deixarem seus nomes gravados na história e estátuas na praça, além de um bom legado para a prole.


Cap. 21 REVOLUÇÃO FATAL

Era manhã de sábado véspera da eleição do Município das Quantas, quando o sistema de alto falante e ao mesmo tempo carros volantes circulavam pelos distritos do município levando a mensagem do candidato Chico das Quantas para todos os eleitores e moradores das Quantas. A mensagem estava sendo veiculada na única emissora de rádio e no serviço de alto-falantes espalhados pelos postes das ruas da Sede do Município das Quantas e ao microfone o candidato Chico das Quantas falava em alto e bom som o motivo de sua desistência. A Sede e os distritos do município pararam para ouvir as palavras do candidato Chico das Quantas, que eram as seguintes: “Meus conterrâneos”, familiares, parentes e amigos, enfim, todos os moradores de nosso amado município Das Quantas venho aqui expor minha decisão de renunciar de minha candidatura a prefeito de nossa cidadezinha, tão querida e muitas vezes tão esquecida pelas autoridades. Mas, estou saindo da disputa, não por covardia, medo ou outra coisa que possam imaginar. Demorei muito para tomar essa decisão, por isso, depois de muito refletir sobre tal decisão, foi o motivo da demora. Tive que ponderar até o último momento. Contudo, continuarei ajudando como sempre ajudei as pessoas, eu e minha esposa Matilde, que não desistiu da campanha e está firme na caminhada ruma à Câmara Municipal. Depois de conviver esses meses com gente de todo tipo, fui fazendo uma análise e vendo como existem pessoas que não têm nenhum senso moral para ser representante de um povo, quanto mais do nosso bom e pacato povo das Quantas. Eu sou consciente que não ganharia o pleito de amanhã, pois existe uma luta desleal em termos quantitativos. Apesar de algumas falhas do nosso prefeito atual, nosso conterrâneo, nosso amigo Leander existe uma vontade de trazer benefícios para todos. Pois, mesmo com algumas falhas, fez o que pode para melhorar nosso município. Hoje temos um candidato para suceder Leander, seu sobrinho, que em pouco tempo como secretário de obras, realizou um bom trabalho e tem tudo para ser um bom prefeito. Eu e minha esposa recomendamos para prefeito o jovem Dr. Herácles ele será um bom prefeito para todo Município das Quantas. Nele nós confiamos e indicamos! Agradeço a todos que me receberam em suas casas, quando estive até ontem em campanha.


Continuarei sendo o mesmo amigo de todos e no que eu puder prestar algum auxílio com certeza prestarei e estarei pronto para servir a nossa comunidade. Obrigado a todos pela paciência de ter ouvido minhas palavras. Até amanhã votando em Dr. Herácles para prefeito das Quantas! Terminando o discurso Chico das Quantas agradeceu aos ouvintes e ao pessoal da imprensa local que retransmitia sua fala para todo o município e região através do serviço de alto falante e da emissora de rádio A Voz de Quantas, que chegava aos municípios vizinhos. O Município Das Quantas inteiro estava parado, o povo compenetrado ao ouvir cada palavra pronunciada pelo ex-candidato Chico das Quantas. Ao fim do discurso de desistência da campanha o povo que o ouvia atentamente, aplaudiu sua decisão. A única pessoa que estava indignada e furiosa era Piterman, que àquelas horas já estava no Bar do Toin bebendo sua habitual cerveja, comentava entre dentes: - Patife! Esse meu cumpade é um merda! Como pode me trair... Vou tomar satisfações com ele, ah, se vou! Entornando o copo de cerveja de um só gole. O garçom que estava próximo a mesa de Piterman falou para que todos ouvissem: - Esse doutor Chico é mesmo um homem sensato! Ele está certo não se deve envolver com más companhias. Ia votar nele, agora votarei na esposa dele, minha vereadora doutora Matilde! Falou e se retirou de perto da mesa de Piterman, que emendou: - Vota nela! Vote em mim não, seu lascado! O garçom não ouviu as palavras de Piterman e mesmo que tivesse ouvido nada mudaria sua opinião, seu voto era da esposa de Chico das Quantas, a doutora Matilde como era conhecida. Chico das Quantas saiu da emissora e foi ao Bar do Toin que estava repleto. Quando adentrou ao recinto foi ovacionado pelos presentes, com gritos de muito bem! Viva ao Dr. Chico! Parabéns doutor! Vamos votar na sua esposa! Conte com a gente! O senhor é um homem de bem, mas estava misturado com a “mundiça!” O senhor fez muito bem desistir, tinha muita gente querendo ruim querendo se aproveitar do senhor! Chico das Quantas sempre sorridente foi passando entre as pessoas e apertando a mão de cada um até chegar ao reservado e onde seu compadre


Piterman estava à mesa bebendo sua cerveja com a cara de poucos amigos. Chico das Quantas não se alterou e de longe acenou para o garçom trazer uma cerveja e um copo, depois sentou à mesa onde Piterman estava e permanecia calado, olhando para baixo. Chico das Quantas começou o diálogo: - O que foi compadre o gato comeu sua língua? - Não! O cumpade comeu meu fígado. Traindo seu cumpade, que estava tentando lhe eleger prefeito. Falou bebendo mais um copo de cerveja. - Eita! Assim é a vida meu compadre. Eu não ganharia a eleição e você sabe muito bem. Por isso, antes do estrago maior, melhor assisti o jogo de camarote! Exclamou Chico das Quantas bebendo um gole da cerveja que o garçom havia colocado sobre a mesa. - Eu pensei que se o cumpade desistisse, fosse apoiar o candidato da Oposição. - Mas, como? Se nem você apóia ele! Não é mesmo? Inquiriu Chico das Quantas encarando Piterman. - Que conversa é essa cumpade? Piterman falou um tanto oscilante. - Diga você! Eu não sei de nada, apenas escuto rumores. - Que rumores? Seja mais direto meu cumpade! Quando Chico das Quantas ia responder ao seu compadre Peterman. Ouviram-se aplausos, era o prefeito Leander e seu sobrinho que chegavam ao Bar do Toin. As pessoas que estavam ali aplaudiam e davam tapinhas nas costas tanto do prefeito como do seu sobrinho candidato. Chico das Quantas se levantou e acenou para o prefeito, quando olhou para a mesa não viu o cumpade Piterman. Mas, pode vê ele se afastando de mansinho por entre as pessoas, como se não quisesse ser visto pelo prefeito e seu sobrinho ali em público ou na presença de Chico das Quantas, talvez com medo de ser desmascarado, por isso, saiu sorrateiramente sem ao menos avisar ao seu compadre. Piterman era mesmo um mau-caráter, cheio de artimanhas e isso, fazia com que ele fosse um ser desprezível por muitos. O prefeito Leander e seu sobrinho Dr. Herácles se aproximaram de Chico das Quantas e o prefeito Leander falou:


- Esse é um homem sensato! Meu conterrâneo, você é o nosso herói! E se virando para os presentes acrescentou: - Bebida para todos, hoje é por minha conta! Falou e apertou a mão de Chico das Quantas, que retribuiu o gesto com um sorriso amigável. Dr. Herácles que pegou uma garrafa de cerveja das mãos do garçom que ia passando ao lado, abriu com o dente a tampa e bebendo um gole da cerveja no gargalo. Limpou a boca com a costa da mão e falou: - Chico você é um homem digno de um dia comandar os destinos dessa cidade, se eu não fosse o candidato com certeza votaria em você! Falou e brindou com Chico e Leander aquele encontro. falou:

O prefeito Leander sentou juntamente com Chico e seu sobrinho e

- Meu caro conterrâneo Chico hoje você fez um pronunciamento digno de Getúlio Vargas, ainda bem que não deu um tiro no peito. Mas, deu tiros em muita gente da Oposição. Hoje saí a última pesquisa e aposto com qualquer um, que meu sobrinho Herácles está com 80% (oitenta por cento) das intenções de voto. Isso porque você conterrâneo contribuiu. Estamos muitos, mais é muito orgulhoso de você. Falou o prefeito Leander bebendo um copo de cerveja. - Meu secretário de obras! Falou Dr. Herácles apertando a mão de Chico das Quantas e bebendo a cerveja no gargalo da garrafa. Naquele instante chegara dona Matilde acompanhada pela Primeira Dama Carla e todos os olhares foram para elas, que mais pareciam dois “cowboys” por estarem vestidas de jeans, botas e camisas mangas longas, só faltava-lhes os chapéus! Eram mulheres bonitas e pela primeira vez entravam em um bar, freqüentado mais por homens. Porém, em campanha e quanto mais na reta final, tudo vale, até um sacrifício de se expor um pouco mais. Os fregueses do bar foram apertar as mãos das duas belezas que estavam no recinto, com todo o respeito, é claro, pois elas nunca deram cabimento para homem nenhum mexer ou tentar assediá-las. Eram queridas pela população pela educação e generosidade. Por isso, tudo estava bem naquele lugar. Depois dos cumprimentos e apertos de mãos, dona Matilde e a Primeira Dama foram sentar à mesa onde seus maridos estavam bebendo com o Dr. Herácles. O garçom foi


chamado e fizeram o pedido de um bom vinho para celebrar aquele momento de conciliação política e apoio amplo. O prefeito Leander perguntou a Chico pelo Piterman falando assim: - Ué! Cadê o conterrâneo Piterman, eu jurava que vira ele aqui nesta mesa com você conterrâneo. - Realmente ele estava bebendo comigo. No instante em que me levantei e olhei para vocês chegando, foi o tempo que ele encontrou para escapulir devagarzinho. Ainda deixou a conta para eu pagar. Eita compadre sem futuro esse meu! Exclamou Chico das Quantas beijando o rosto de dona Matilde e bebendo um copo de cerveja.


Cap. 22 DIA “D” DIA DA VITÓRIA E UMA REFLEXÃO

Era domingo, dia da eleição municipal, o relógio da sala da casa de Chico das Quantas marcava cinco horas da manhã, o galo fogoso no chiqueiro no terreno do quintal, cantava e assim acordava a vizinhança. Chico das Quantas acordou igual com dona Matilde. Uma irradiadora fazia a alvorada musical com uma música do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, que interpretava um clássico, Asa Branca, o locutor sempre intercalando a programação musical, avisava que os eleitores não esquecessem seus títulos de leitor, caso não o encontrassem, levassem a carteira de identidade para o local da votação, e ainda informava os locais de votação na Sede e nos Distritos do Município e que votar era um dever cívico e depois deixava a música tocar. Não falava em nenhum nome de candidatos, não era permitido ao serviço de alto-falante naquele dia. Pois, não seria legal influenciar o eleitorado na escolha dos candidatos, era crime eleitoral, conhecido como boca-de-urna. O pessoal do T.R.E já havia chegado um dia antes no Município e instalado as urnas de votação. A cédula todas em branco e lacrado assim como as urnas também estava em perfeita ordem. Os paus-de-arara iam chegando aos poucos, os jipes, carroças e cavalos conduziam os eleitores, uns para a Sede outros para os Distritos. Tudo na maior tranqüilidade, só o pessoal da Oposição (os esquerdistas), os mais afoitos provocavam os eleitores da situação (os direitistas) vez por outra. Coisa de comunista como dizia os cidadãos conservadores do lugar. Isso acontecia porque os simpatizantes da esquerda eram bagunceiros, ou tinham essa fama. Mas, como em toda classe social existe gente de todos os tipos, tanto na esquerda havia bons políticos, como na direita. A questão não é grupo, partido político ou mesmo ideologia, o que está em jogo é o caráter individual do ser humano. Muitas vezes, os incautos e mais jovens eram seduzidos por uma doutrinação ideológica, onde existia mais utopia que realidade dos fatores que compõem uma sociedade. Não existe igualdade na prática. Apenas teoricamente! Como por exemplo: Todos são iguais perante a Lei... Está lá no Artigo Primeiro da Constituição. Só que na prática a coisa é diferente, basta viver e ver. Pois, existem as várias maneiras de se interpretar uma Lei. Basta assistir um julgamento.


A questão política era muito mais profunda que uma simples eleição municipal. Tudo é ligado às decisões políticas, sejam elas boas ou más. Tudo é afetado por essas decisões e o mais fraco é quem paga a conta. Ao invés das pessoas se preocuparem com educação de qualidade, saúde de qualidade e uma economia de sustentabilidade, uma economia forte de um país, as pessoas e muitos políticos se preocupam em ganhar alguma coisa momentaneamente. Troca o voto por um punhado de dinheiro, uma bebida ou um prato de comida, aquilo tudo que ele ganhou em dia, ele não terá durante quatro, oito anos. Vale salientar a máxima: “Trocar um dia de comida por quatro anos de fome!” O povo não é consciente, muito mais ainda sem consciência é a maioria dos políticos. Tanto a maioria dos eleitores, quanto a maioria dos políticos estão interessados em seus projetos pessoais. Por isso, existe um quadro social defasado e desigual. No Município Das Quantas não era diferente do resto do mundo. A política foi totalmente desfigurada, deixou de ser uma ciência para realizar o bem-estar social para ser um balcão de negócios, às vezes, negócios espúrios. Contudo, era dia de eleição e logo mais de encerrada a votação os vencedores seriam proclamados e aí o destino do Município das Quantas teria ou não um futuro melhor. Chico das Quantas depois do banho foi tomar o café da manhã com dona Matilde, os filhos ainda dormiam, pois fizeram campanha de porta a porta até tarde da noite para a mãe e para o Dr. Herácles candidato a prefeito Das Quantas. Depois do café Chico das Quantas e sua esposa, a candidata ao cargo de vereador do Município das Quantas foram se arrumar para sair de casa e irem ao local de votação, pois Chico das quantas e dona Matilde votavam na mesma seção, portanto, no mesmo local de votação, o pequeno Grupo Escolar Das Quantas, que ficava na Sede do Município. Saíram de casa munidos de título de eleitor e carteira de identidade para não haver nenhum problema na hora da votação. As seções abriam às sete horas e meia e encerravam às dezessete horas em ponto. Tudo bem organizado para não haver beneficiamento a esse ou aquele. Tudo tranqüilo até a presente hora.


Cap. 23 VOTANDO E CIRCULANDO PELAS SEÇÕES

As ruas da Sede do Município Das Quantas estavam cheias de eleitores, muitos vinham de distritos que não tinham seções eleitorais e com isso ficavam vagando ou em rodas de conversas. Uns iam às casas de conhecidos ou parentes para beberem um pouco de aguardente, pois os bares estavam fechados devido à Lei Seca que era imposta no dia da eleição. Muitos eram os cabos-eleitorais que chegavam com seus picapes transportando os eleitores, que iriam votar em seus padrinhos políticos. Há época era assim que funcionava, sem exército ou polícia para intimidar os políticos ou até mesmo os líderes políticos que faziam a “boca-de-urna” descaradamente, sem nenhuma preocupação. Foi assim e ainda é nos dias de hoje, a diferença é que o exército e a polícia militar ficam de prontidão próximo aos lugares de votação inibindo assim a presença dos que fazem a velha prática de boca-de-urna, induzindo o eleitor a votar no candidato de sua preferência. Há políticos que até compram o voto antecipadamente, sendo o valor mínimo de cinqüenta reais o voto, dependendo das circunstâncias pode valer muito dinheiro, muito mesmo. Isso virou uma prática na política brasileira. As ruas estavam abarrotadas, muitas pessoas indo e vindo. Os lugares de votação estavam sendo abertos para o início do exercício cívico do voto dos cidadãos. Tudo pronto para o dia tão esperado pelos políticos que disputavam as eleições do lugar. Chico das Quantas e Dona Matilde já estava a caminho do Grupo Escolar, local onde votariam, quando avistaram o prefeito Leander que descia do carro e se dirigia ao Grupo Escolar, pois o mesmo também votava ali. Ao se aproximarem se cumprimentaram cordialmente. - Bons dias Prefeito!


- Bons dias, conterrâneo! Bons dias, nossa futura presidenta da Câmara Municipal! Falou Leander tocando a aba do chapéu com a ponta do dedo em reverência a Dona Matilde. Que o cumprimentou com um largo sorriso. O casal deu passagem para o prefeito Leander adentrar o local de votação, que já estava lotado. Havia seis seções eleitorais nas dependências do Grupo Escolar e nas demais localidades geralmente havia entre duas a cinco seções onde aproximadamente doze mil eleitores Das Quantas votariam naquele dia. Os eleitores ao avistarem o prefeito Leander, Chico das Quantas e Dona Matilde acenavam e batiam palmas. Minutos depois chegavam ao local o Dr. Herácles, o futuro prefeito de Das Quantas e sua esposa Sra. Régine. Ambos estavam alegres e por onde passavam eram aplaudidos e recebidos com largos sorrisos pelos eleitores do município. No Clube da cidade e na Sede do Sindicato Rural também havia seções de votação. Piterman votava na Sede do Sindicato juntamente com alguns poucos correligionários. Porém Piterman decidiu votar no período da tarde, pois iria para a Sede do Município para observar a movimentação e tentar conquistar alguns votos junto aos eleitores dos adversários. Piterman foi para as proximidades do Grupo Escolar onde estava o prefeito Leander, seu Sobrinho, o candidato a prefeito Dr. Herácles, sua esposa, Chico das Quantas e Dona Matilde candidata a uma vaga na Câmara Municipal. Piterman andava como se estivesse calculando cada passo que desse. Ao avistar Piterman Chico das Quantas comentou em voz baixa para os amigos. - Olha quem chegou ao recinto... O compadre... Nem completou a frase e ouviu a voz de Piterman às suas costas num tom amigável. - Bons dias senhores e senhoras! - Bons dias! Responderam os homens enquanto suas esposas fitavam Piterman de soslaio.


Piterman cumprimentou os presentes e continuou caminhando dando tapinhas nos ombros de uns eleitores e de seus conhecidos. Depois saiu do Grupo Escolar e se dirigiu para a Rua Central da Sede do Município. As seções foram abertas para a votação e os eleitores iam chegando e formando fila para poderem exercer seu dever cívico. Eram oito horas da manhã daquele domingo ensolarado e a Sede do Município das Quantas já estava lotada de pessoas que iam votar e aproveitar para visitar os parentes que ali moravam na sede. Os candidatos tinham prioridade em votar por primeiro, pois sempre circulam pelo maior número de locais onde existem seções eleitorais. O prefeito Leander como era a autoridade máxima do município votou por primeiro acompanhado pela primeira dama, depois seu sobrinho, o candidato a prefeito, Dr. Herácles e sua esposa, depois foi a vez de dona Matilde. Chico das Quantas ficou na fila, pois como não era mais candidato esperou três pessoas que estavam à sua frente na fila votarem e logo em seguida votou e foi acompanhar dona Matilde nas visitas dos locais de votação para marcar presença e aproveitar e pedir votos aos conhecidos e desconhecidos, pois poderiam pedir votos ao encontrar as pessoas na rua ou mesmo próximas aos locais das seções sem entregarem santinhos ou qualquer tipo de material que caracterizasse a prática de boca de urna. Bastava conversar um pouco ou mesmo acenar com o polegar em sinal de positivo. A Sede do Município estava muito animada, muitos vaqueiros, fazendeiros, comerciantes, empresários de todos as matizes, além das pessoas comuns daquelas bandas. Todos engajados em um só propósito, eleger o novo prefeito da cidadela e os membros da Câmara Municipal. Como não havia contagem eletrônica, o resultado só sairia no outro dia, no final do dia é que então se saberia os nomes dos eleitos. Aí, uns iriam rir, pular de alegria e festejar a vitória enquanto outros ficariam desolados e não iriam às festas dos vencedores, quem sabe um daqueles descarados poderia ir até dá os parabéns aos vencedores e tentar uma aproximação visando ganhar algum cargo de confiança depois de ter mal dito os seus adversários políticos. Política é a arte de engolir sapos... Alguém dissera uma vez. Depois que se encerrasse o horário de votação todos iriam para casa e todas as urnas de todas as seções e zonas eleitorais do município seriam levadas para o quartel (Trio de Guerra) na sede do município para ficar


sobre a proteção do Exército Brasileiro e as seis horas da manhã seguinte seguiriam para o Ginásio Coberto do Clube da Cidade e lá seriam organizadas juntas eleitorais para a apuração e contagem dos votos. As cédulas eleitorais seriam contadas manualmente e isso levava um dia inteiro num município com doze mil eleitores, como era Das Quantas. O Juiz da Comarca acompanhado pelo Juiz do Tribunal Regional Eleitoral, Secção das Quantas, os servidores do órgão, o Comandante da polícia local e o General de Infantaria responsável pelo Tiro de Guerra do Exército Brasileiro sediado no município acompanhavam o recolhimento das urnas eleitorais. Os partidos por sua vez nomearam seus fiscais que também acompanhavam de perto todo o processo de recolhimento e proteção das urnas. Era assim o procedimento legal para não haver nenhum tipo de fraude eleitoral. Encerrado o período de votação pontualmente às dezessete horas, todos iam os bares, pois já estavam liberados para vender bebidas alcoólicas encerrando o período da Lei Seca quando é dia de eleição. O prefeito Leander convidou seu sobrinho Dr. Herácles e sua esposa Régine, Chico das Quantas e sua esposa Matilde para um jantar em sua casa da fazenda para uma pré-comemoração e uma possível conversa sobre o a nomeação de Chico das Quantas para Secretário de Obras do Município e sobre o apoio a Dona Matilde para a presidência da Câmara Municipal e outros assuntos para o próximo mandato. Enquanto isso Piterman estava no Bar do Toin bebendo a cerveja costumeira com alguns correligionários. Chico das Quantas e Dona Matilde foram para casa descansar um pouco e depois irem ao jantar na casa da fazenda do prefeito Leander. ... No jantar foram discutidos os novos rumos da administração do Dr. Heráclito, que com certeza já podia se sentir prefeito de Das Quantas, pois o apoio de Chico das Quantas e Dona Matilde foi fundamental para garantir sua vitória nas eleições daquele domingo. Depois do jantar Chico das Quantas e Dona Matilde voltaram para casa e foram dormir. Pois cedo estariam na junta eleitoral para acompanhar a apuração dos votos.


Cap. 24 APURAÇÃO SEM INCIDENTES E A VITÓRIA.

O dia amanhece no Município Das Quantas, os soldados do Exército Brasileiro e policiais militares, além dos servidores do Tribunal Regional Eleitora, Secção Das Quantas já estavam finalizando os trabalhos de instalação das mesas apuradoras das juntas eleitorais e separando os boletins que logo seriam usados e suas cópias seriam fixadas no mural das dependências da sede do Tribunal Regional Eleitoral da localidade. Chico das Quantas e Dona Matilde acordaram cedo. Após o café da manhã foram se arrumar para ir ao local de apuração dos votos e acompanhar com seus partidários todo o processo. As ruas da Sede do Município Das Quantas estavam recebendo os eleitores, que muitos no dia da apuração eram liberados de suas tarefas diárias e teriam um dia de folga. Mas, apenas os agregados dos políticos, como servidores públicos ou alguns lavradores e vaqueiros, quanto ao pessoal que trabalhava no comércio e na indústria não eram dispensados da lida. O comércio já estava de portas abertas, os bares, lanchonetes e restaurantes também recebiam seus primeiros fregueses. O Bar do Toin que estivera aberto até tarde na noite passada, já estava de portas abertas recebendo seus fregueses costumais. Apenas Piterman não havia chegado ainda ao recinto. Talvez estivesse de ressaca do porre da noite passada. Ninguém sabia a verdadeira causa de sua ausência, pois em todos os pleitos eleitorais ele amanhecia no bar. Porém, possivelmente como era um dos candidatos à Câmara Municipal não queria se expor sem ter a certeza da vitória. Quem sabe já deveria está na junta eleitoral para não perder nenhum detalhe da apuração dos votos, afinal ele fazia parte de todo aquele processo eleitoral. Chico das Quantas e Dona Matilde saíram de casa caminhando em direção à junta eleitoral. Chegaram a Rua Principal da sede e foram até a lanchonete da Rose, uma eleitora fiel de dona Matilde. Ao entrarem cumprimentaram a proprietária e os fregueses que lanchavam àquela hora.


Rose se aproximou e cumprimentando o casal falou com entusiasmo: - Se depender do meu voto a senhora já está eleita! Falou abrindo um largo sorriso de alegria. - Agradeço de coração amiga pelo voto de confiança. Respondeu Dona Matilde apertando a mão de Rose. Chico das Quantas puxou uma cadeira que estava sob a mesa e Matilde foi sentar-se. Enquanto Rose se aproximou e perguntou o que o casal deseja para lanchar. Chico das Quantas e Dona Matilde pediram suco de laranja e esfirra de carne. Depois do lanche saíram da lanchonete da Rose e se dirigiram para a junta eleitoral. Chegaram à junta eleitoral e os trabalhos de apuração de votos já estavam iniciando. As mesas apuradoras já estavam formadas e os fiscais de cada partido estavam posicionados próximos as mesas para fiscalizarem cada voto retirado das urnas de lona com cor marrom. Todos os candidatos que concorreram às eleições municipais de Das Quantas no dia anterior, estavam todos na Junta Eleitoral passeando entre as mesas apuradoras. O tempo foi passando, a apuração continuava ininterruptamente, os mesários e fiscais que saiam para lanchar ou almoçar eram imediatamente substituídos por outros e assim davam prosseguimento aos trabalhos de apuração e contagem dos votos. Tudo transcorreu sem nenhum incidente grave, uma reclamação ali, outra acolá, mas nada de muito grave. Questões corriqueiras eram sanadas com a presença dos advogados dos partidos envolvidos no processo eleitoral. Às dezenove horas depois das urnas serem apuradas e os votos contabilizados, os boletins preenchidos manualmente eram fixados em murais da parede da sede do Tribunal Regional Eleitoral da Comarca, que ficava na Sede do Município de Das Quantas e os interessados faziam filas para verem os resultados dos votos apurados e no outro dia a imp rensa divulgaria os nomes dos eleitos. Mas, muitos dos candidatos se


antecipavam e mesmo antes de sair o resultado oficial já comemoravam a vitória. Dona Matilde e Chico das Quantas preferiram aguardar o resultado oficial que sairia no outro dia. Mesmo certa da vitória Dona Matilde se resignou em deixar a comemoração para o resultado oficial. A noite passou como de costume, Chico das Quantas deixara Matilde em casa e foi para o Bar do Toin beber umas cervejas e se conversar sobre a eleição e as apurações. Entrando no bar Chico das Quantas foi para o lugar de costume, o reservado onde já se encontravam lá o Dr. Herácles e o seu tio Prefeito Leander, que bebiam uísque e ao notarem a presença de Chico das Quantas o convidaram a se sentar à mesa com eles. Dr. Heracles o candidato quase eleito, pois foi o mais votado para ser o prefeito de Das Quantas e só estava esperando a confirmação oficial pelo Tribunal Eleitoral e assim no dia primeiro de janeiro do ano próximo assumir a Prefeitura de Das Quantas foi quem se levantou e gentilmente ofereceu uma cadeira ao correligionário para conversarem sobre as eleições. - Boa noite, meu caro Chico. Falou Dr. Herácles - Boas noites Dr. Herácles. Boas noites Leander. Respondeu Chico das Quantas tomando assento à mesa. - Como está Dona Matilde nossa futura presidente da Câmara Municipal? Perguntou Leander esticando a mão para Chico das Quantas. - Ela está muito entusiasmada e ainda não quis comemorar a vitória porque está esperando o anunciado oficial. - Amanhã todos ficarão sabendo o resultado oficial e logo em seguida iremos nos reunir na casa da fazenda com os eleitos e assim podermos escolher os futuros secretários e a orientar os vereadores da base que irá ser formada a votarem na Dona Matilde para presidir a Câmara Municipal para os dois anos vindouros. - Certo. Estamos ansiosos para conhecermos os novos eleitos, pois eles conduzirão os destinos de nosso querido município. O Garçom se aproximou com a cerveja habitual de Chico das Quantas e pôs sobre a mesa e se afastou deixando os amigos à vontade para colocarem os assuntos em dia.


A conversa estava boa quando surgiu a figura de Piterman adentrou no recinto. As pessoas olhavam Piterman de soslaio, não sentiam muito apreço por ele. Mas, o respeitavam como ser humano, pois as pessoas das Quantas eram de boa índole. Piterman olhou para o lado do reservado, local onde sempre bebia com seu compadre Chico das Quantas, antes de tentar usar o cumpadre como trampolim para alcançar seus objetivos políticos. Agora havia perdido a confiança do amigo e estava percebendo que também havia perdido a eleição para vereador e seu candidato a prefeito também perdera, pois estava explícita sua derrota. Os amigos que bebiam e conversavam no reservado do Bar do Toin não deram muita atenção a presença de Piterman no ambiente e continuaram a conversar. Piterman sentindo a falta de atenção se dirigiu ao balcão do bar e pediu uma cerveja, sendo atendido por Toni, que colocou a cerveja, o copo e se afastou para encaminhar os pedidos que os garçons levavam até ele. Piterman bebericou a cerveja do copo e acendeu um cigarro, parecia está cansado, um pouco abatido e preocupado. Bebeu a cerveja em pouco tempo e pediu uma cerveja em lata, pagou e saiu apressado sem ao menos olhar para os lados. Depois da conversa com o prefeito Leander e Dr. Herácles, Chico das Quantas se despediu e foi para casa. Ao sair do bar caminhou uma quadra e sob a marquise de seu comércio estava Piterman bebericando a cerveja na latinha e ao ver o compadre se aproximando se pôs à sua frente e o interceptou dizendo: - Boas noites meu cumpade! - Boas noites Piterman, o que houve, por que não se juntou a nós no reservado? Interpelou Chico das Quantas. - Não me sento à mesa dos escarnecedores... Falou com ar de zombaria. - Agora eu sou um escarnecedor? Você acha mesmo isso? Então, boas noites. Dê licença tenho que ir para casa. Amanhã será um excelente e novo dia.


- Novo dia sim, mas excelente apenas para você e sua nova turma, sua esposa com certeza já está eleita, seu prefeito ganhou... Para mim só restou a derrota. Por isso, esperei o cumpade para pedir ao prefeito eleito, que me indique para ser secretário... - Meu compadre, eu creio que mesmo eu pedindo isso ele não concordaria, pois ele tem compromissos acordados com seus correligionários, o compadre entende disso melhor do que eu. - Pelo menos tente... Falou Piterman virando a latinha e bebendo o resto da cerveja que havia e se afastou de Chico das Quantas, que desejou uma boa noite ao compadre Piterman e continuou seu trajeto. Chegou a sua residência e depois do banho foi dormir. No dia seguinte as pessoas estavam todas apreensivas com rádios portáteis e de olho nos noticiários locais para saber quem havia sido eleito e quem havia perdido as eleições municipais. O Bar do Toin estava repleto e a TV estava ligada, os rádios também e o jornal impresso da região ainda não havia chegado aos leitores. Era cedo ainda e logo mais todos ficaria sabendo a lista dos eleitos e seus respectivos suplentes, como também a lista dos derrotados. Chico das Quantas e Dona Matilde depois do café da manhã reuniram foram para a casa da fazenda do prefeito Leander e lá aguardariam o resultado oficial do Tribunal Eleitoral. No caminho Chico das Quantas passou na banca de revista e comprou o jornal da região, pois já passava das nove horas. Dona Matilde folheou o jornal e foi direto à página onde havia o resultado das eleições municipais. Para sua surpresa seu nome era o primeiro da lista dos eleitos, sendo a candidata mais votada do Município e como era de se esperar o Dr. Herácles fora eleito prefeito com a maioria absoluta dos votos. Chico das Quantas pediu para sua esposa Matilde verificar se seu compadre Piterman fora eleito. Dona Matilde procurou na relação e encontrou o nome de Piterman como quinto suplente e com uma inexpressível votação. Finalmente chegaram à casa da fazenda do prefeito Leander e encontraram os candidatos eleitos para a Câmara Municipal das Quantas e o Dr. Herácles o mais votado para prefeito do Município, que foi logo apertando a mão de Chico das Quantas e dando um abraço efusivo em Dona Matilde e falando entre sorrisos:


- Vereadora Matilde, a mais votada da região. Nossa presidente da Câmara Municipal das Quantas. - Obrigada, Prefeito! Estamos juntos para desenvolver nosso querido Município. Disse dona Matilde indo apertar a mão de Leander e de sua esposa. Mesa redonda, prefeito Leander à cabeceira e ao seu lado o eleito e já eleito prefeito Dr. Herácles e os demais eleitos para compor a Câmara Municipal, além de alguns convidados. A TV ligada esperava o noticiário entrar no ar e aí serem consolidadas as vitórias. Mesmo antes da anunciação do Tribunal Eleitoral, o prefeito Leander abriu a reunião da mesa redonda e começou a escrever alguns nomes para indicações das Secretarias Municipais enquanto passava a palavra para o Dr. Herácles, que de antemão indicou o nome de Dona Matilde para a presidência da Câmara Municipal nos primeiros dois anos do mandato. Todos concordaram, pois a conheciam e sabiam de sua reputação como uma pessoa séria e honesta, como assim era seu esposo. Finalmente começou o noticiário na TV Regional e o apresentador chamou o repórter diretamente da sede do Tribunal Eleitoral e este leu a relação oficial dos eleitos no Município Das Quantas e foram confirmados os componentes da Câmara Municipal e o nome do candidato eleito a prefeito do Município. Dr. Herácles foi eleito prefeito com mais da metade dos votos válidos e Dona Matilde foi a mais votada para a Câmara Municipal com a maioria dos votos e os outros candidatos à Câmara, que eram da base do prefeito Leander foram eleitos também. Todos estavam eufóricos e aos gritos de vitória quando o atual prefeito Leander pediu silêncio e mandou servir bebidas para os presentes e anunciou os nomes dos futuros secretários municipais. O nome de Chico das Quantas foi indicado para Secretário Municipal de Obras e Transportes (Infraestrutura) como havia sido acordado antes da eleição. Depois conversaram sobre a festa da vitória, que seria realizada logo após o dia da diplomação dos eleitos. Chico das Quantas chamou Leander para um canto da sala e perguntou-lhe se havia condição de nomear Piterman para algum cargo, tipo subsecretário. Mas, Leander foi categórico em dizer que jamais indicaria o nome de Piterman para algum cargo.


Depois da reunião Chico das Quantas, Dona Matilde, Dr. Herácles, a futura Primeira-Dama Régine, Leander e a Primeira-Dama Carla saíram para a Sede do Município para uma comemoração antecipada. Ao chegarem a Rua Principal da Sede do Município das Quantas viram Piterman numa esquina da Rua conversando com um desconhecido. Porém, não deram muita importância e seguiram para o Bar do Toin, que era o mais sofisticado da região. Ao entrarem no recinto foram para o reservado e fizeram os seus pedidos. As pessoas iam cumprimentá-los pela vitória nas urnas. A oposição não compareceu aos lugares públicos, alguns poucos que foram eleitos ao Paço Municipal apreciam e iam conversar com seus correligionários. Até mesmo iam cumprimentar os seus adversários que foram eleitos também. Piterman não apareceu no bar como era de costume. Foi visto numa esquina de rua conversando com um estranho. Mas tudo bem, Piterman era cheio de esquisitices. Conhecia muita gente da região e até de fora. O tempo passou e depois da comemoração todos voltaram para seus afazeres. Leander e a Primeira Dama Carla foram para casa. Dr. Herácles e a futura Primeira-Dama Régine saíram para o comércio da Rua Principal e Chico das Quantas foi ao seu comércio ver como estavam as coisas, dona Matilde voltou para casa. O Dr. Heracles depois de fazer umas compras com Régine foi à Secretaria de Obras dá uma olhada nos projetos e Régine se despediu dele e foi para casa. Eram dezessete horas quando Dr. Herácles saiu da Secretaria e resolveu ir andando pelas ruas da sede a fim de cumprimentar as pessoas que o elegeram prefeito. Sua residência ficava a dois quilômetros de distância do Centro da Sede do Município e ele preferiu caminhar até lá. Depois de cumprimentar vários correligionários foi em direção a sua residência, já passava de dezoitos horas e trintas minutos e antes de chegar a casa teria que andar uns trezentos metros numa vereda no meio da caatinga que servia de atalho para cortar caminho até a entrada onde morava. Quando caminhava sob a luz da Lua notou um vulto se escondendo por trás de um pé carnaúba e sentiu seu sexto sentido se aguçar e de repente


entrou na vegetação seca e foi se aproximando da carnaúba pelo lado oposto e com muito cuidado para não fazer barulho. Seu terno escuro que vestiu naquele dia lhe proporcionava uma camuflagem quase natural e a o vulto da pessoa que ele vira se escondendo atrás da carnaúba não daria para enxergá-lo no escuro, somente poderia ser visto na vereda, pois havia a claridade do luar. Quando estava a cinco metros de distância viu o vulto se mover e algo brilhante em sua mão refletiu quando o braço daquele vulto se estendia para a frente em direção a vereda. Dr. Herácles se armou com um pedaço de estaca de sabiá que repousava próximo aos seus pés e foi se aproximando em silêncio do vulto. De repente o vulto se mexeu para o lado de onde Dr. Herácles estava, mas não houve tempo suficiente para o vulto esboçar alguma reação, pois o Dr. Herácles desferiu um golpe certeiro no braço que estava adiantado a sua frente. Ele ouviu um gemido e um disparo de arma de fogo. Não pensou duas vezes, desferiu outro golpe com o pedaço de estaca na altura do ombro do vulto que soltou um gemido e caiu no meio da vereda tentando se erguer. Porém, Dr. Herácles desferiu o terceiro golpe no joelho daquele vulto miserável, que dessa vez foi ao solo e apenas se contorcia de dores. Dr. Herácles viu no chão o brilho da arma que havia tirado com uma paulada. Apanhou e constatou que era uma pistola. Naquele instante chegaram os moradores e trabalhadores da terra do Dr. Herácles e traziam lanternas e espingardas. O Dr. Herácles contou o que houve. Os homens seguraram o vulto e o puxaram para o claro e não o reconheceram. Era um homem de olhar frio e sem brilho, nunca o viram pela região. Conduziram o indivíduo até o alpendre da casa de um dos moradores do Dr. Herácles e o amarraram enquanto chamavam a autoridade policial na sede. A notícia se espalhou em poucos minutos, chegaram ao local o prefeito Leander, Chico das Quantas e o delegado com mais dois policiais. Chico das Quantas reconheceu o indivíduo e disse ao Dr. Herácles que era o homem desconhecido que ele viu conversando com Piterman numa esquina quando iam ao Bar do Toin comemorar a vitória da eleição. O indivíduo foi interrogado ali mesmo na presença de todos e com ele foi encontrado uma quantia de dinheiro. O indivíduo revelou que era pistoleiro e que fora contratado para matar o prefeito eleito e seu contratante era um sujeito que ele conhecera numa cidade distante dali. Disse que ele havia pago uma parte adiantada e a outra parte seria paga depois do fato consumado. O nome do mandante não sabia, mas o


intermediário tinha o nome de Piterman e que havia levado uma parte do dinheiro. Aquilo foi o bastante para o delegado de polícia prender o indivíduo, que já era um velho conhecido das polícias e um pistoleiro procurado. Seria enviado para o presídio, pois havia vários mandados de prisão para ele. O segundo a ser preso e interrogado pela cumplicidade do atentado seria Piterman e depois o mandante.


Cap. 24 O TRISTE FIM DE PITERMAN.

A polícia se dirigiu à casa de Piterman, também foram Chico das Quantas, Leander e Dr. Herácles. Ao chegarem na casa de Piterman a polícia o intimou a abrir a porta, pois ele estava sendo preso pelo envolvimento da tentativa de homicídio contra a pessoa do Dr. Herácles. Não houve resposta por parte de Piterman. Passado alguns minutos o delegado mandou arrombar a porta da casa e prender Piterman. A porta da casa de Piterman foi arrombada e o interior da casa estava escuro. Quando acenderam a luz não havia nenhum móvel na casa. Tudo vazio como se ele estivesse se mudado da casa. Dr. Herácles acompanhou um policial pelo lado de fora da casa, Chico das Quantas foi com o delegado procurar alguém nos cômodos. Para surpresa geral, num dos quartos da casa o corpo de Piterman foi encontrado pendurado com uma corda no pescoço. Todos se entreolharam e ficaram sem entender. Quem poderia ter mandado o Piterman contratar um pistoleiro para assassinar o Dr. Herácles, o prefeito eleito recentemente? Por que Piterman teria se suicidado? Dia feliz noite triste e incertezas ficaram no ar.

FIM


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