Editorial J – Número 19 - Maio/Junho de 2015

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Fotos: Juliana Baratojo (3º sem.)

novo capitólio história

Guardião do audiovisual CINEMATECA, INAUGURADA EM MARÇO NO PRÉDIO DE UM ANTIGO CINEMA DE CALÇADA, FOI CONCEBIDA PARA PRESERVAR A PRODUÇÃO DE FILMES E VÍDEOS DO ESTADO P O R Rodrigo Oliveira (2º sem.)

A

pesar do encantamento que a sala de exibição e a arquitetura da Cinemateca Capitólio causam no público desde sua inauguração, no dia 27 de março, o espaço tem como principal objetivo a preservação, o armazenamento e a difusão da memória audiovisual do Rio Grande do Sul. A curiosidade foi tanta que, no primeiro fim de semana de funcionamento da sala de projeção, as sessões tiveram lotação esgotada e, em cada uma, cerca de cem pessoas ficaram sem ingresso. Entretanto, mais do que este agito, o que se impõe no espaço é a sua nova vocação de cuidar de parte importante do patrimônio cultural do Estado. O antigo Cine-Theatro Capitólio, inaugurado em 1928 e fechado em 1994, teve uma segunda vida a partir de 2004, quando começaram as obras necessárias para a instalação da cinemateca do Rio Grande do Sul. O resultado foi um ambiente capaz de unir os nostálgicos apaixonados por cinema e o público cansado das salas com programação

essencialmente comercial. Com pouco tempo de funcionamento, o local já está abrigando exibições, exposições e eventos. A cinemateca começa com um acervo organizado de aproximadamente 6 mil títulos em diferentes bitolas e formatos: 35 mm, 16 mm, 8 mm, VHS, DVD e HD. Além de filmes, são armazenados cartazes, folhetos, fotografias, roteiros, catálogos, revistas e livros. Toda a elaboração relativa à produção audiovisual gaúcha, incluindo documentação, são de interesse da instituição. Em função disso, no futuro, o espaço do arquivo pode ser ampliado para outros locais. O acervo começou a ser formado pela Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal da Cultura (SMC), órgão responsável pela administração da cinemateca, cujo titular atual é Marcus Mello. Parte do material provém do Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural (Fumproarte), que financia filmes, além de outros projetos. Em contrapartida, os realizadores depositam uma cópia na SMC. Conforme Mello, essa prática preservou uma parcela significativa da produção gaúcha recente.

Além do material cedido, o Capitólio recebe manifestações de instituições e pessoas interessadas em colaborar. Nestes casos, é feita uma triagem para avaliar se o material a ser doado é relevante. A direção do Instituto Estadual de Cinema (Iecine) já contatou a coordenação para comunicar que deseja contribuir com diversas cópias de filmes. Mello enfatizou que a vocação do Capitólio é ser um espaço de guarda e cuidado da produção gaúcha. Assim, produtores e diretores permanecem com os direitos autorais e, inclusive, autorizam a exibição e definem se o ingresso será cobrado. Quando o filme entra em domínio público, a cinemateca tem autonomia para exibi-lo sem autorização prévia. Os direitos autorais duram 70 anos a partir de 1º de janeiro do ano seguinte ao falecimento do detentor. Não são apenas filmes que compõem o acervo. Muitas vezes, um simples material de divulgação, que é reproduzido em grande escala, pode ser a última lembrança de uma obra no futuro. A primeira doação feita para o Capitólio depois da reabertura é um exemplo. O crítico de cinema e colunista do Jornal do

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Comércio Hélio Nascimento cedeu o folheto original do filme Torres (1927), de José Picoral. Nascimento relata que o filme teria sido o primeiro a retratar o trabalho humano em alto mar, antes mesmo de Drifters (1929), do escocês John Grierson, considerado por pesquisadores o pioneiro no tema. O também crítico e historiador Paulo Emílio Sales Gomes, falecido em 1977, ficou impressionado com a produção e levou a única cópia para a Cinemateca Brasileira com o fim de reproduzi-la. No dia 28 de janeiro de 1957, um incêndio destruiu cerca de um terço dos filmes da Cinemateca Brasileira (em torno de 2 mil latas), incluindo o documentário de Picoral. Além disso, o negativo do filme, que estava na Alemanha, foi supostamente destruído em um bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Mello destacou que a compreensão da necessidade do cuidado com o patrimônio audiovisual é uma construção lenta e política. A Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA) auxilia a conscientização de realizadores, da sociedade e do poder público. É importante que a preservação comece logo


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