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MÓDULO 11 A

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MÓDULO 10 A

MÓDULO 10 A

W SEGUNDO REINADO Política no Segundo Reinado

O Segundo Reinado, que representou o apogeu do regime monárquico brasileiro, teve início em 1840, com a antecipação da maioridade de Dom Pedro II. Deu-se continuidade à centralização política e administrativa promovida em 1837, “pacificando-se” o país através da repressão às revoltas geradas no período anterior, assim como aos novos movimentos que colocariam em risco a ordem monárquica. Nesse sentido, conservadores e liberais, os dois partidos então existentes, integraram o governo e se revesaram no poder durante o período de “conciliação”, de forma a não ameaçar a ordem imperial oligárquica brasileira.

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O partido conservador era formado pela união de proprietários rurais, burocratas e comerciantes, já do partido liberal, faziam parte proprietários rurais menos tradicionais e profissionais liberais da classe média. Os dois partidos representavam as classes dominantes, defendiam a monarquia e a manutenção da mão de obra escrava.

Para as classes dominantes, a antecipação da maioridade de D. Pedro II, representava a garantia da manutenção de seus privilégios políticos e econômicos e a força necessária para conter as inúmeras rebeliões que estavam ocorrendo.

Por isso, estas não apresentavam divergências ideológicas, justificando uma frase muito comum na época, citada por Oliveira Vianna: “Nada mais parecido com um conservador do que um liberal no poder, e nada mais parecido com um liberal do que um conservador no poder”.

O primeiro ministério do Segundo Reinado era composto por liberais, que apoiaram o golpe da Maioridade. Funcionou de 1840 a 1841 e ficou conhecido como “Ministério dos Irmãos”, sendo formado pelos irmãos Cavalcanti, Coutinho e Andrada. O gabinete ministerial sofria oposição da Câmara, formada, na sua maioria por conservadores. Diante dessa situação, a Câmara de Deputados foi dissolvida e foram marcadas novas eleições.

Treinamento Pas

Para garantir um grande número de deputados liberais, os membros do partido, usando de violência, fraudaram as eleições e garantiram a maioria parlamentar. Tal episódio é conhecido como “eleições do cacete”. Os conservadores reagiram e exigiram que o imperador dissolvesse a Câmara que havia sido eleita. D. Pedro II demitiu o ministério liberal, nomeou um ministério conservador e marcou novas eleições - também marcadas por fraudes. A vitória dos conservadores e o avanço de medidas centralizadoras provocaram uma reação dos liberais, em São Paulo e Minas Gerais - a chamada Revolta Liberal de 1842. Em 1844 o imperador demitiu o gabinete conservador e nomeou um gabinete liberal, cuja principal decisão foi a criação da tarifa Alves Branco (1844), que extinguiu as taxas preferenciais aos produtos ingleses. No ano de 1847, foi criado o cargo de presidente do Conselho de Ministros, implantando o parlamentarismo no Brasil.

O sistema parlamentarista no Brasil funcionava sob a tutela do poder executivo. Realizada a eleição, D. Pedro II nomeava um líder político do partido vencedor para o cargo de primeiro-ministro. Esse líder formava o gabinete ministerial, que deveria conseguir a aprovação da maioria na Câmara. Caso não fosse aprovado, cabia a D. Pedro II, demitir o gabinete ou dissolver a câmara para convocar novas eleições. Dessa forma, continuava existindo uma forte subordinação do gabinete ministerial ao imperador, devido ao poder moderador, caracterizando um “parlamentarismo às avessas”.

W Revolução Praieira

Em 1848, mesmo ano em que ocorria a Primavera dos Povos na Europa, dava-se início em Pernambuco, à Revolta da Praia ou Revolução Praieira, a última manifestação de rebeldia ao governo imperial.

Descontentes por terem perdido o controle da província para os conservadores, os liberais, liderados por Pedro Ivo e Borges Fonseca, iniciaram um movimento, que propunha melhorias nas relações de trabalho, nacionalização do comércio, até então dominado pelos portugueses, melhor distribuição de terras, voto livre e universal, liberdade de imprensa, extinção do poder moderador e garantia dos direitos individuais do cidadão. Seus planos foram divulgados num documento que ficou conhecido como Manifesto do Mundo

A revolta não durou um ano, quando as forças do império puseram fim ao ciclo de revoluções, terminando de vez com a Praieira.

Os partidos políticos

Os dois grandes partidos imperiais – o Conservador e o Liberal – completaram sua formação em fins da década de 1830, como agremiações políticas opostas. Mas havia mesmo diferenças ideológicas ou sociais entre eles? Não passariam no fundo de grupos quase idênticos, separados apenas por rivalidades pessoais?

Se havia uma certa diferenciação ideológica entre os dois partidos, cabe perguntar a que se devia. Ao analisar a composição dos ministérios imperiais, José Murilo de Carvalho chega a algumas conclusões significativas. A seu ver, nas décadas de 1840 e 1850, sobretudo, o Partido Conservador representava uma coalizão de proprietários rurais e burocratas do governo a que se juntou um setor de grandes comerciantes preocupados com as agitações urbanas. O Partido Liberal reunia, principalmente, proprietários rurais e profissionais liberais.

Uma distinção importante dizia respeito às bases regionais dos dois partidos. Enquanto os conservadores extraíam sua maior força da Bahia e Pernambuco, os liberais eram mais fortes em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A união entre burocratas, com destaque para os magistrados, e os grandes proprietários rurais fluminenses representou o coração da política centralizadora sustentada pelos conservadores.

A concepção de um império estável e unificado, originária da burocracia governamental, foi assumida pelos donos de terras fluminenses, estritamente vinculados à Corte pela geografia e por seus negócios. O setor de proprietários rurais da Bahia e Pernambuco, pertencente ao Partido Conservador, tinha vivido e ainda estava vivendo a experiência das lutas pela autonomia regional com conteúdo popular. Essa seria sua razão básica para apoiar a ideia de um governo central, dotado de grande autoridade.

Por sua vez, em uma primeira fase, as propostas liberais de descentralização partiam de áreas como São Paulo e Rio Grande do Sul, onde havia uma tradição de autonomia na classe dominante. O liberalismo, no caso de Minas, provinha tanto de proprietários rurais como da população urbana das velhas cidades geradas pela mineração.

Por outro lado, a introdução de propostas, como a ampliação da representação política e a ênfase no papel da opinião pública, teria resultado na presença de profissionais liberais urbanos no Partido Liberal. Essa presença só se tornou significativa a partir da década de 1860, com o desenvolvimento das cidades e o aumento do número de pessoas com educação superior.

Lembremos por último que, por volta de 1870, principalmente em São Paulo, as transformações socioeconômicas haviam gerado uma classe baseada na produção cafeeira, e essa classe assumiu com toda a consequência um dos aspectos principais da descentralização: a defesa da autonomia provincial.

Ao mesmo tempo, entre grupos de base social diversa, como essa burguesia cafeeira e a classe média urbana, surgia uma convicção nova. Ela consistia na descrença de que reformas descentralizadoras ou de ampliação da representação política pudessem ocorrer nos quadros da monarquia.

Política externa no Segundo Reinado

A política externa brasileira, durante o Segundo Reinado, foi marcada por uma série de conflitos na região do Rio da Prata, responsáveis pela Guerra do Paraguai e por atritos diplomáticos com a Inglaterra, gerando a chamada Questão Christie.

W A Questão Christie

A influência da Inglaterra no Brasil está presente desde antes do processo de independência. Com a assinatura dos tratados de 1810, a Inglaterra ganha privilégios econômicos no território brasileiro, e com a independência, em 1822, a mesma impõe como forma de reconhecimento da autonomia, a renovação dos tratados de 1810. Ademais, o Brasil era dependente financeiramente da Grã-Bretanha. Durante o Segundo Reinado, a relação entre Brasil e Inglaterra conheceu sucessivos atritos que culminaram com o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países. As hostilidades entre ambos começou em 1844, com a aprovação da tarifa Alves Branco, que acabou com as vantagens comerciais que os ingleses tinham no Brasil.

A resposta do governo britânico foi a aprovação do Bill Aberdeen (1845), decreto que proibia o tráfico negreiro e outorgava o direito, aos ingleses, de aprisionar qualquer navio negreiro. Respondendo às pressões inglesas, no ano de 1850, foi promulgada a Lei Euzébio de Queirós, que extinguia, definitivamente, o tráfico negreiro no Brasil. No ano de 1861, o navio inglês Prince of Walles afundou nas costas do Rio Grande do Sul e sua carga foi pilhada. O embaixador inglês no Brasil, William Christie, exigiu uma indenização ao governo imperial. No ano de 1862, marinheiros britânicos embriagados foram presos no Rio de Janeiro e o embaixador Christie exigiu a demissão dos policiais e desculpas oficiais do governo brasileiro à Inglaterra.

O Brasil recusou-se a aceitar as exigências de Christi e alguns navios brasileiros foram aprisionados pela Inglaterra e o governo pagou a indenização referente ao roubo da carga do navio inglês naufragado. Em 1863, sob a mediação de Leopoldo I, rei de Bélgica, ficou estabelecido que a Inglaterra deveria se desculpar ao governo brasileiro pelo ocorrido com os marinheiros, na cidade do Rio de Janeiro. Diante da negativa do Governo inglês, D. Pedro I resolveu romper relações diplomáticas com a Inglaterra.

As relações diplomáticas entre os dois países só foram reatadas em 1865, quando, por meio do embaixador Edward Thornton, ocorreu a apresentação de desculpas oficiais a D. Pedro II.

W A Questão Platina

O Brasil tinha interesses econômicos e políticos na região platina (área fronteiriça entre Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai), porque pretendia o controle sobre o rio da Prata, que era o único meio de se chegar ao Mato Grosso, pois na época quase não havia estradas. Pretendia também evitar ataques uruguaios às fazendas gaúchas e impedir a união entre Argentina e Uruguai. Após a formação do Uruguai, foram organizados dois partidos políticos no país: o Blanco, liderado por Manuel Oribe, aliado dos argentinos; e o Colorado, liderado por Frutuoso Rivera, apoiado pelo Brasil.

Cerco de Montevidéu na luta contra Oribe Principais batalhas na luta contra Rosas

A aliança entre Manuel Oribe, então presidente do Uruguai, com o governo argentino de Juan Manuel Rosas, trouxe à tona a ideia de restauração do antigo vice-reinado do Prata. Procurando garantir a livre navegação no rio da Prata, D. Pedro II envia uma tropa militar sob o comando de Caxias. Essa recebe o apoio das tropas militares de Rivera que, juntas, depuseram Manuel Oribe do poder, em 1851.

Como Rosas apoiava os Blancos, o governo imperial organizou uma expedição e invadiu a Argentina. Os brasileiros venceram, na batalha de Monte Caseros, depuseram Rosas e, em seu lugar, colocaram o general Urquiza, auxiliar do Brasil na campanha contra Oribe. Na década de 50, os fazendeiros gaúchos brasileiros continuaram a se desentender com os Blancos uruguaios, acusando-os de invadir suas fazendas. O império brasileiro resolveu declarar guerra ao Uruguai, aliando-se, novamente, ao partido Colorado. Sentindo-se ameaçado, o Uruguai de Aguirre pediu ajuda ao Paraguai, de Solano López, formando uma aliança militar.

O Brasil invadiu o Uruguai e garantiu a vitória de Venâncio Flores sobre Aguirre. Paraguai declara guerra ao Brasil, invadindo o Mato Grosso. Pouco tempo depois, declarou guerra à Argentina, invadindo Corrientes. Era o início de uma longa guerra.

W Guerra do Paraguai

O Paraguai se constituiu em uma exceção na América Latina, durante o século XIX, em virtude de seu desenvolvimento econômico autônomo. Durante os governos de José Francia (1811/1840) e Carlos López (1840/1862), houve um relativo progresso econômico, com construção das estradas de ferro, sistema telegráfico eficiente, surgimento das indústrias siderúrgicas, fábricas de armas e a erradicação do analfabetismo, distribuição de terras aos camponeses e combate às oligarquias.

As atividades econômicas essenciais eram controladas pelo Estado e a balança comercial apresentava saldos favoráveis, garantindo a estabilidade da moeda, criando as condições para um desenvolvimento autossustentável, sem recorrer ao capital estrangeiro.

Solano Lópes, presidente do Paraguai a partir de 1862, inicia uma política expansionista, procurando ampliar o território paraguaio. O objetivo dessa política era conseguir acesso ao oceano Atlântico, para garantir a continuidade do desenvolvimento econômico da nação. A expansão territorial do Paraguai deu-se com a anexação de regiões da Argentina, do Uruguai e do Brasil. Ademais, a Inglaterra não via com bons olhos o desenvolvimento autônomo do Paraguai, achando necessário destruir esse modelo econômico, uma vez que tinha o interesse em manter os países latino-americanos como fornecedores de matéria-prima e consumidores dos seus produtos industrializados.

No ano de 1864, o governo paraguaio aprisionou o navio brasileiro Marquês de Olinda e invadiu o Mato Grosso, levando o Brasil a declarar guerra ao Paraguai.

Em 1865, a Inglaterra, com empréstimos financeiros e vendas de armas, estimulou a criação da Tríplice Aliança, uma união das forças brasileiras, argentinas e uruguaias contra o Paraguai.

Para o Brasil, a guerra começou após o episódio envolvendo o aprisionamento do navio brasileiro pelos paraguaios, que agiram dessa forma como uma reação à invasão brasileira ao Uruguai e a derrota do presidente Aguirre (apoiado por López).

A Guerra do Paraguai durou cinco anos, de 1865 a 1870, sendo, de certa forma, uma luta desigual, pois eram três países lutando contra um. No entanto, no primeiro ano de guerra, o Paraguai levou algumas vantagens em relação aos armamentos, vantagens essas que não conseguiram durar por muito tempo, pois seus inimigos, em especial o Brasil, ampliaram muito o seu armamento devido às compras do exterior. (Inglaterra e França).

As principais batalhas foram: a Batalha de Riachuelo e a Batalha de Tuiuti, nas quais as forças paraguaias foram derrotadas. Após a nomeação de Caxias no comando das tropas brasileiras (no lugar do general Osório), houve sucessivas vitórias nas batalhas de Humaitá, Itororó, Avaí, Lomas Valentinas e Angostura. Solano López foi morto em 1870, na batalha de Cerro Corá.

Em torno de dois grandes rios, Uruguai e Paraguai, quatro nações dividiam fronteiras: Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai. Nesse terreno, quatro contendores aplicavam-se bem em desempenhar o complicado jogo das fronteiras. Em questão, estavam, além do acesso à livre navegação da bacia platina, a hegemonia na região e os diferentes processos por que passavam os Estados nacionais envolvidos.

Embora a tríplice aliança tenha derrotado o Paraguai, pode-se afirmar que os verdadeiros vitoriosos foram a Inglaterra e a França, pois teriam muitos créditos a receber devido aos empréstimos e à venda de armas, além do que, Brasil, Argentina, Uruguai e especialmente o Paraguai passaram a enfrentar sérios problemas financeiros decorrentes dos gastos com a guerra.

Economia no Segundo Reinado

Durante o Segundo Reinado, houve uma diversificação das atividades econômicas, muito embora o modelo econômico estivesse voltado para atender as necessidades do mercado externo.

O cacau e a borracha ganharam destaque na produção agrícola. O surto da borracha (Pará e Amazonas) levou o Brasil a dominar 90% do comércio mundial.

O café foi introduzido no Brasil, por volta de 1727, por Francisco de Mello Palheta, que o trouxe da Guiana Francesa. Nesse período, o café já era apreciado na Europa, considerado um artigo de luxo. O sucesso alcançado pelo produto em Londres atingiu locais de encontro conhecidos como coffee-house

O início da produção cafeeira no Brasil ocorreu no atual estado do Rio de Janeiro. A princípio, o cultivo era feito em chácaras ou quintais, logo, porém, o café avançou para tornar-se, em meados do século XIX, o principal produto de exportação do país. A dinâmica da produção obedeceu aos padrões já existentes na economia: latifúndio, monocultura e escravismo.

As condições climáticas eram favoráveis para o desenvolvimento da cultura na região do Rio de Janeiro e, os recursos e equipamentos da atividade mineradora foram aproveitados na produção cafeeira.

Os altos custos dos transportes fizeram com que os cafeicultores fluminenses e mais tarde os paulistas, despertassem para a necessidade de construir estradas pavimentadas e seguras. A princípio, isso ocorreu através de empréstimos ingleses, e mais tarde com os próprios recursos da cafeicultura. As ferrovias tornaram-se o símbolo do progresso no Brasil.

A rápida expansão do café contribuiu para a solução da crise econômica, instaurada na economia brasileira desde o governo de D. Pedro I. Por outro lado, a excessiva con- centração da renda, nas mãos dos barões do café, dificultou o pleno desenvolvimento de outros setores produtivos de bens de consumo.

O historiador Bóris Fausto observou que “1850 não assinalou no Brasil apenas uma metade de século. Foi o ano de várias medidas que tentavam mudar a fisionomia do país, encaminhando-o para o que então se considerava modernidade.” De fato, nesse ano foram aprovadas as leis: Eusébio de Queirós e a Lei de Terras.

Oficialmente, as pressões de Londres contra o tráfico negreiro voltaram-se para o Brasil em 1810. Naquele ano, D. João comprometeu-se com o governo inglês a abolir a escravidão nas colônias portuguesas. Entretanto, apesar da dependência econômica e política em relação à Inglaterra, a política de compromisso entre o Brasil e os grandes proprietários de terras impediu uma solução imediata para a questão escravocrata, ou seja, para a substituição do trabalho escravo pelo trabalho assalariado.

A crise do escravismo brasileiro está relacionada a uma série de fatores, entre os quais, além das pressões inglesas está a expansão da atividade cafeeira, trazendo a necessidade de ampliar a força de trabalho. Com a extinção do tráfico negreiro, os fazendeiros de café tiveram que encontrar uma solução para suprir a falta de mão de obra. Essa solução foi a importação de imigrantes europeus. O pioneiro em recrutar imigrantes europeus foi um grande fazendeiro da região de Limeira, em São Paulo, o senador Nicolau de Campos Vergueiro, que trouxe para a sua fazenda famílias da Suíça e da Alemanha, iniciando o chamado sistema de parceria. O fazendeiro custeava o transporte dos imigrantes europeus até suas fazendas e estes, por sua vez, pagariam aos fazendeiros com trabalho. O trabalho consistia no cultivo do café e gêneros de subsistência, entregando ao fazendeiro boa parte da produção (dois terços). O regime de parceria não obteve sucesso, em razão dos elevados juros cobrados sobre as dívidas assumidas pelos colonos para trabalharem no Brasil, maus-tratos recebidos e o baixo preço pago pelo café cultivado. Diante do fracasso do sistema e das revoltas de colonos, outras formas de estímulo à vinda de imigrantes foram adotados. A imigração subvencionada substituiu o sistema de parcerias. Nela, o Estado pagava os custos da viagem do imigrante europeu e regulamentava as relações entre os fazendeiros e os colonos.

Os grandes “exportadores” de imigrantes foram à Itália e à Alemanha, países que passavam por guerras, em virtude do processo de unificação política.

A Lei das Terras, criada também em 1850, determinava que as terras públicas só poderiam tornar-se privadas mediante a compra. Isso significou o fim das doações pelo governo, praticadas desde a distribuição das sesmarias. A terra transformou-se em mercadoria. Na prática, a lei garantiu à aristocracia as glebas que ocupavam, impedindo que os posseiros mais pobres estrangeiros e nacionais obtivessem a propriedade onde plantavam.

Na década de 1840, com a perspectiva do fim do tráfico negreiro, o governo brasileiro começou a interessar-se por fontes alternativas de mão de obra, encorajando a imigração de “trabalhadores pobres, moços e robustos” e tentando fixá-los nas fazendas de café. Se os imigrantes tivessem de comprar terras e os preços fossem mantidos em alta, eles seriam obrigados a trabalhar alguns anos antes de poderem comprar seu próprio lote. A Lei de Terras foi aprovada em 18 de setembro de 1850, duas semanas após a aprovação da lei contra o tráfico de escravos.

A consolidação do trabalho livre e assalariado fortaleceu o mercado interno brasileiro e criou condições para o desenvolvimento industrial. Com a extinção do tráfico negreiro e a entrada maciça de imigrantes europeus, abriu-se a possibilidade do desenvolvimento da chamada economia familiar: pequenas propriedades, voltadas para o abastecimento do mercado interno. O que contribuiu para o desenvolvimento industrial brasileiro, favorecido também pela promulgação, em 1844 da tarifa Alves Branco, que aumentou as taxas alfandegárias sobre os artigos importados. O fim do tráfico negreiro, mencionado anteriormente, foi um fator que também favoreceu o florescimento industrial, pois os capitais destinados ao comércio de escravos passaram a ser empregados em outros empreendimentos e, com a vinda dos imigrantes e da consolidação do trabalho assalariado, houve uma ampliação do mercado consumidor.

O maior destaque industrial do período foi, sem dúvida nenhuma, Irineu Evangelista de Souza, o barão de Mauá. Ele dirigiu inúmeros empreendimentos, tais como bancos, companhias de gás, companhias de navegação, estradas de ferro, fundição, fábrica de velas. No campo das comunicações, trabalhou na instalação de um cabo submarino ligando o Brasil à Europa.

O surto industrial e a chamada “Era Mauá”, entraram em crise a partir de 1860, com a tarifa Silva Ferraz, que substituiu a tarifa Alves Branco. Houve uma redução nas taxas de importação e a concorrência inglesa foi fatal para os empreendimentos de Mauá.

O progresso industrial, a importação de máquinas, as estradas de ferro, o setor bancário não foram suficientes para renovar, profundamente, as estruturas econômicas do período. Entretanto, foi significativa a ampliação do mercado interno brasileiro, que se sustentava na produção rural e no crescimento urbano do setor de serviços, do comércio e da indústria.

A expansão do café, o crescimento das cidades e a industrialização desenvolveram-se principalmente no Sudeste, que se tornou o principal centro econômico do país.

Exerc Cios De Fixa O

01. (Fuvest SP) Observe as imagens das duas charges de Angelo Agostini publicadas no periódico Vida Fluminense. Ambas oferecem representações sobre a Guerra do Paraguai, que causaram forte impacto na opinião pública. A imagem I retrata Solano López como o “Nero do século XIX”; a imagem II figura um soldado brasileiro que retorna dos campos de batalha.

Iii

I. O Poder Legislativo, responsável pela elaboração de leis, compunha-se do Senado e da Câmara dos Deputados, que se reuniam na Assembleia Geral. Como pré-requisito, o candidato precisava ser brasileiro nato, católico, e possuir renda mínima de quatrocentos mil réis por ano. Para o senado exigia-se a renda de oitocentos mil réis.

II. Pela Constituição do país, em 1824, cabia ao imperador exercer o Poder Moderador, que centralizava na sua figura praticamente todas as decisões. Desta forma, as demais instâncias de poder – o Legislativo, o Executivo e o Judiciário – acabavam também por depender das inclinações do Imperador, uma vez que lhe cabia a última palavra nas resoluções do governo.

III. Com a reforma constitucional de 1881, foi abolida a renda mínima anual, como pré-requisito, para candidaturas no Senado e na Câmara dos Deputados.

IV. Esse arranjo ampliava a possibilidade da representação popular da sociedade como um todo, no âmbito do poder central, mesmo que esses cargos eletivos fossem pleiteados pelos membros com renda elevada e com mandato vitalício para Senadores.

Assinale a alternativa correta: a) II e III b) II e IV c) I e II

Sobre as imagens, é correto afirmar, respectivamente: a) Atribui um caráter redentor ao chefe da tropa paraguaia; fixa o assombro do soldado brasileiro ao constatar a persistência da opressão escravista. b) Denuncia os efeitos da guerra entre a população brasileira; ilustra a manutenção da violência entre a população cativa. c) Reconhece os méritos militares do general López; denota a incongruência entre o recrutamento de negros libertos e a manutenção da escravidão. d) Personifica o culpado pelo morticínio do povo paraguaio; estimula o debate sobre o fim do trabalho escravo no Brasil. e) Fixa atributos de barbárie ao ditador Solano López; sublinha a incompatibilidade entre o Exército e o exercício da cidadania.

02. (unB DF) A respeito do Período Regencial e do Segundo Reinado, julgue os itens:

E-C-C-C

01. A descentralização política foi característica marcante do conservadorismo que predominou durante o Período Regencial.

02. Durante o Segundo Reinado o Poder Moderador atuou em sintonia com os interesses dos partidos políticos constituídos, garantindo assim a estabilidade política.

03. O fator determinante para a expansão da lavoura cafeeira no Brasil foi o aumento do consumo do produto na Europa e nos Estados Unidos.

04. A partir de 1830 foi inaugurado no Brasil o ideal romântico, cujo ápice foi atingido na literatura por José de Alencar, com as publicações de Iracema e O Guarani.

03. (uFT TO) No ano de 1840, coroava-se D. Pedro II, imperador do Brasil.

Tinha início o Segundo Reinado, assentado no sistema parlamentarista, na economia agroexportadora e na mão de obra escrava. Todavia, o parlamentarismo – forma de governo que se caracteriza pela independência dos poderes, com ligeira superioridade do poder legislativo, exercido pelo Parlamento – apresentava algumas distorções no caso brasileiro: d) I e IV

04. (unB DF) Da miscigenação entre povos indígenas, europeus, africanos e asiáticos é feito o Brasil. Decisiva, pois, a participação dos imigrantes na composição étnica, social e cultural do país. Os dados mostrados a seguir oferecem algumas indicações numéricas acerca da movimentação desses imigrantes.

Mais de 50 milhões de europeus – população da Itália hoje – deixaram o continente entre 1830 e 1930. Grande parte teve como destino a América do Norte mas 22% desse total foram para a América Latina, dos quais 38% eram italianos, 28% espanhóis, 11% portugueses e 3% franceses e alemães.

Dos que foram para a América Latina, 46% foram para a Argentina, 33% para o Brasil, 14% para Cuba, e o restante dividiu-se entre Uruguai, México e Chile.

História da vida privada no Brasil. S. Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 220–1 (com adaptações)

Considerando essas informações, julgue os itens seguintes.

01. Entre os fatores determinantes da grande emigração europeia de fins do século XIX, pode-se apontar o avanço da industrialização em um quadro de concentração da terra nas mãos de poucos proprietários. Boa parte do excedente de mão de obra liberado não podia ser absorvido por países de industrialização tardia, como Itália e Alemanha.

02. A emigração europeia, ao mesmo tempo em que desafogava seus países de potencial crise social, gerada pelo desemprego e pela miséria, harmonizava-se com os interesses de mão de obra de países novos, como os EUA, o Brasil e a Argentina.

03. No Brasil, todo o processo que envolvia os trabalhadores europeus que emigravam – contratação, transporte, recepção no país e encaminhamento para os locais onde iriam trabalhar – foi feito pelo Estado, o que garantiu tratamento correto e justo dos imigrantes que nada pagavam por isso.

04. Menos de 2 milhões dos imigrantes europeus que vieram para a América Latina no período de 1830 a 1930 não eram italianos, espanhóis, portugueses, franceses nem alemães.

W Rep Blica Das Oligarquias

Desde o final do período colonial, o domínio oligárquico vinha se articulando através da elite agrária brasileira, embora de forma indireta, como durante a monarquia. Nesse período, a centralização política impedia que os latifundiários se inserissem de forma plena na política.

A tensão tornou-se incontornável a partir da expansão das lavouras de café, nova fonte de riqueza do País, rumo ao oeste Paulista, e da formação de uma aristocracia cafeeira, que começou a questionar a política imperial, o que contribuiu para o advento da república.

Os governos deste período foram: Campos Sales (1898-1902), Rodrigues Alves (1902-1906), Afonso Pena (1906-1909), Nilo Peçanha (1909-1910) e Hermes da Fonseca (1910-1914). Foi a partir de Campos Sales que as oligarquias passaram a exercer o poder de forma direta, principalmente através do seu setor em ascensão, ou seja, dos grandes cafeicultores. No entanto, nesse mesmo período, também começou a crise do café, com a queda constante dos preços do produto no mercado internacional. Dessa forma, boa parte da história econômica do período pode ser sintetizada na intervenção do Estado para valorizar o café, transferindo recursos aos cafeicultores.

O ano de 1922, em especial, aglutinou uma sucessão de eventos que mudaram de forma significativa o panorama político e cultural brasileiro. A Semana de Arte Moderna, a criação do Partido Comunista Brasileiro, o movimento tenentista, a criação do Centro Dom Vital, uma associação brasileira de católicos leigos, a comemoração do centenário da Independência e a própria sucessão presidencial de 1922 foram indicadores importantes dos novos ventos que sopravam colocando em questão os padrões culturais e políticos da Primeira República.

Do ponto de vista econômico, a década de vinte foi marcada por altos e baixos. Se nos primeiros anos o declínio dos preços internacionais do café gerou efeitos graves sobre o conjunto da economia brasileira, como a alta da inflação e uma crise fiscal sem precedentes, por outro também se verificou uma significativa expansão do setor cafeeiro e das atividades a ele vinculadas. Passados os primeiros momentos de dificuldades, o país conheceu um processo de crescimento expressivo que se manteve até a Grande Depressão em 1929. A diversificação da agricultura, maior desenvolvimento das atividades industriais, a expansão de empresas já existentes e o surgimento de novos estabelecimentos ligados à indústria de base foram importantes sinais do processo de complexificação pelo qual passava a economia brasileira. Junto com essas mudanças observadas no quadro econômico, processava-se a ampliação dos setores urbanos com o crescimento das camadas médias da classe. As oligarquias eram constituídas por grandes proprietários de terra e que exerciam o monopólio do poder local. Esse período da história republicana é caracterizado pela defesa dos interesses desses grupos, particularmente da oligarquia cafeeira.

Os grupos oligárquicos vão garantir a dominação política no país, por meio do coronelismo, do voto do cabresto, da política dos governadores e da política de valorização do café.

A política dos governadores

Um acordo entre os governadores dos Estados e o governo central foi firmado, de forma que os primeiros manifestavam pleno apoio ao presidente, concordaram com sua política. Em troca, o governo federal só reconheceria a vitória de deputados e senadores que representassem esses governadores. Dessa forma, o governador controlaria o poder estadual e o presidente da República não teria oposição no Congresso Nacional. O instrumento utilizado para impedir a posse dos deputados da oposição foi a Comissão Verificadora de Poderes: caso um deputado da oposição fosse eleito para o Congresso, uma comissão – constituída por membros da Câmara dos Deputados – acusando fraude eleitoral, não entregava o diploma. O candidato da oposição sofria a chamada “degola”. No entanto, para manutenção de seu domínio político, no plano estadual, sob o apoio do governo central, as oligarquias estaduais usavam das fraudes eleitorais. A política dos governadores foi iniciada na presidência de Campos Sales, e foi responsável pela implantação da chamada política do café com leite.

A política do café com leite

A política do café com leite foi o revezamento, no executivo federal, entre as oligarquias paulistas e mineiras. O número de deputados federais era proporcional à população dos Estados. Dessa forma, os estados mais populosos –São Paulo e Minas Gerais – tinham maior número de representantes no Congresso.

Coronelismo e voto de cabresto

O sistema político da República Velha estava assentado nas fraudes eleitorais, visto que o voto não era secreto. O exercício de fraude eleitoral ficava a cargo dos “coronéis”, grandes latifundiários que controlavam o poder político local (os municípios). Exercendo um clientelismo político (troca de favores) o grande proprietário controlava toda a população (curral eleitoral), por meio do voto de cabresto.

Assim, o poder oligárquico era exercido em nível municipal pelo coronel, e nível estadual pelo governador, por meio da política do café com leite, o presidente controlava o nível federal.

A política de valorização do café

Durante a segunda metade do século XIX, até a década de 1930, no século XX, o café foi o principal produto de exportação brasileiro. As divisas provenientes de sua exportação contribuíram para o início do processo de industrialização, a partir de 1870.

Por volta de 1895, a economia cafeeira passou a mostrar sinais de crise. As causas dessa crise estavam no excesso de produção mundial. A oferta, sendo maior que a procura, acarreta uma queda nos preços, prejudicando os fazendeiros de café.

Procurando combater a crise, a burguesia cafeeira − que possuía o controle do aparelho estatal − criou mecanismos econômicos de valorização do café. Em 1906, na cidade de Taubaté, os cafeicultores criaram o Convênio de Taubaté − plano de intervenção do estado na cafeicultura, com o objetivo de promover a elevação dos preços do produto. Os governadores dos estados produtores de café (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) garantiam a compra de toda a produção cafeeira com o intuito de criar estoques reguladores. O governo provocaria uma falta do produto, favorecendo a alta dos preços e, em seguida, vendia o produto.

Os resultados dessa política de valorização do café foram prejudiciais para a economia do País, pois para comprar toda a produção de café, os governos estaduais recorriam a empréstimos no exterior, que seriam arcados por toda a população. Além disso, caso a demanda internacional não fosse suficiente, os estoques excedentes deveriam ser queimados, causando prejuízos para o governo que já havia pago pelo produto.

Outro mecanismo da valorização do café, foi a política cambial de desvalorização do dinheiro brasileiro em relação à moeda estrangeira. Para quem dependia da exportação, no caso a burguesia cafeeira, uma política semelhante atendia seus interesses. Na hora da conversão da moeda estrangeira em moeda brasileira, não havia perdas, porém, quando se tratava de importações, visto que se importavam quase tudo no Brasil, principalmente produtos manufaturados, essa política tornava os produtos estrangeiros muito mais caros.

A política de valorização do café, de forma geral, provocou o que chamou-se de “socialização das perdas”. Os lucros ficariam com a burguesia cafeeira e as perdas seriam socializadas com a nação inteira.

Sociedade, cultura e economia na República

As novas valorizações do café

Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Brasil, cuja economia estava voltada para o mercado externo, sofreu imediatamente suas consequências. Não só porque, a partir de 1917, participou diretamente do conflito, mas sobretudo porque a guerra desorganizou o mercado internacional, trazendo novas dificuldades para a exportação do café, que outra vez teve o seu preço em declínio.

Essa nova situação determinou a segunda valorização do café, entre 1917 e 1920, embora menor do que a primeira, decidida no Convênio de Taubaté (1906). A crise cafeeira foi resolvida em 1918, com a geada e o fim da guerra, quando então a economia internacional retomou o seu ritmo.

A principal consequência da Primeira Guerra foi, entretanto, a alteração nas condições do comércio cafeeiro, em virtude da formação de grandes organizações financeiras que passaram a atuar, cada qual em seu setor, praticamente sem concorrência. O grupo Lazard Brothers Co. Ltda, de Londres, que apoiou a segunda valorização, estabeleceu um domínio financeiro quase completo sobre a economia cafeeira do Brasil.

Em resposta à nova situação, criou-se em São Paulo o Instituto do Café, destinado a controlar o comércio exportador do produto, regulando as entregas ao mercado e mantendo o equilíbrio entre a oferta e a procura. Como o Brasil era responsável pelo fornecimento de cerca de 60% do consumo mundial, o Instituto do Café tinha em mãos todos os recursos de que necessitava, não só para manter o preço, como também para forçar altas artificiais. O instituto, que tinha como objetivo regular o escoamento do café, transformou-se num estocador cada vez maior do produto. Essa situação artificial não poderia ser mantida indefinidamente, pois a capacidade de estocagem estava diretamente ligada ao apoio financeiro que se obtinha no exterior. Em 1929, como veremos adiante, a crise geral do capitalismo tornou insustentável o esquema.

O processo de industrialização

Entre 1886 e 1894, a industrialização ganhou impulso, embora a sua origem fosse anterior a 1880. Contudo, o surgimento e o desenvolvimento das indústrias estiveram intimamente relacionados ao desempenho da economia primário-exportadora. Isso até a crise de 1929, quando então a economia agroexportadora foi superada pela industrialização, que passou a ocupar o centro vital da economia.

Esta não ocorreu em todo o país simultaneamente e com a mesma intensidade. O seu polo dinâmico situava-se no Sudeste, particularmente em São Paulo, onde se localizava a mais poderosa economia exportadora: a cafeicultura. Por essa razão, foi ali que a industrialização desenvolveu-se mais rapidamente. O processo de industrialização acompanhou o ritmo do setor exportador – não apenas cafeeiro. Em momentos de expansão, os investimentos industriais aumentavam, e se contraíam em momentos de retração do mercado internacional.

Até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Estado não adotou nenhuma política de estímulo à industrialização. No entanto, ela era estimulada direta ou indiretamente quando o governo aumentava as tarifas alfandegárias e, sem o pretender, acabava protegendo as indústrias da concorrência estrangeira, ou quando desvalorizava a moeda nacional desestimulando as importações, ou então quando adotava as duas medidas ao mesmo tempo.

O primeiro passo no sentido da industrialização começou a acontecer no final da década de 1870, quando então a abolição da escravatura encontrava-se na ordem do dia e a solução da imigração começou a ser considerada como alternativa. Na opinião de alguns estudiosos, os industriais saíram da fileira dos cafeicultores. Estudos mais recentes, entretanto, mostraram que a burguesia industrial era constituída principalmente, embora não exclusivamente, pelos imigrantes. É o caso de Francisco Matarazzo, um de seus representantes típicos.

Os efeitos da Primeira Guerra

O primeiro efeito da guerra foi a drástica redução dos investimentos industriais. A produção começou a declinar em 1917 e o seu crescimento tornou-se negativo no ano seguinte, pela falta de matérias-primas, máquinas e equipamentos importados. A guerra, entretanto, evidenciou os limites e as inconveniências de um país destituído de um parque industrial compatível. Por esse motivo, o governo começou a adotar consciente e deliberadamente um incentivo para o desenvolvimento industrial, a fim de promover a sua diversificação. E essa atitude do governo manteve-se ao longo dos anos 20.

A crise de 29

No final dos anos 20, a economia capitalista internacional deparou-se com uma profunda crise de depressão: a crise de 29. Essa crise eclodiu nos Estados Unidos e teve importantes repercussões internacionais, atingindo, inclusive, o Brasil, quando então a economia cafeeira se desorganizou.

Nos anos que se seguiram à crise, com o apoio governamental, a industrialização se intensificou e obedeceu ao objetivo de substituir as importações. Porém, o processo de industrialização só se completaria na década de 1950, com a implantação da indústria pesada − o importante setor em que se concentram máquinas que fabricam máquinas para outras indústrias.

O movimento operário no Brasil

W O trabalhador operário

O estabelecimento do trabalho livre e o início do desenvolvimento industrial foram os motivos básicos do crescimento do trabalhador urbano. O contexto político lhe era desfavorável, pois a ordem estabelecida não reconhecia nenhum direito em relação ao seu trabalho. Os deputados e senadores, indiferentes aos problemas sociais, negaram projetos assistenciais e de proteção aos operários feitos por seus representantes.

W Organização operária

No processo de formação do operariado brasileiro, foi significativo o papel dos imigrantes italianos e espanhóis (chamados de artífices), responsáveis pela difusão do anarquismo, trazendo de seus países de origem a experiência sindical.

Os trabalhadores imigrantes formavam clubes, círculos, uniões e associações com o objetivo de conscientizar e unir os operários. O governo, sentindo-se ameaçado, decretou a lei Adolfo Gordo, em 1904, que previa a expulsão do operário estrangeiro envolvido nesses movimentos.

Apesar disso, desde o ano de 1891, foram realizadas greves, que, mesmo não tendo proporções ameaçadoras, foram duramente reprimidas.

W Os anarquistas

Por meio da organização de sindicatos, os anarquistas visavam obter o controle do mercado de trabalho. Se todos os membros de uma dada categoria profissional estivessem associados a um sindicato, os patrões não teriam alternativa senão procurar o sindicato da categoria para negociar a contratação de trabalhadores e tudo o que lhes dissesse respeito. Esse era o objetivo perseguido pelos anarquistas.

Mas os anarquistas eram avessos à centralização. Para eles, cada categoria organizada em sindicato deveria lutar no âmbito das empresas para concretizar suas reivindicações. Nada de generalizar a luta com a criação de órgãos centrais, que imporiam a cada sindicato filiado uma rígida linha de conduta. Os sindicatos deveriam desfrutar completa autonomia para que os associados pudessem decidir livremente conforme os seus interesses.

Essa situação, embaraçosa para os anarquistas – que eram contra a centralização e não davam muita importância ao Estado –, colocou uma nova ordem de problema para as quais os anarquistas não estavam preparados. Para complicar, os acontecimentos internacionais do começo do século XX estavam trazendo, por sua vez, novos desafios.

A Revolução Russa de 1917 e a Crise de 29 preocuparam a burguesia de todo o mundo. Um após outro, os países começaram a mudar de atitude em relação ao mundo do trabalho.

A burguesia tomou consciência de um fato muito simples: a exploração indiscriminada dos trabalhadores poderia levá-los, por meio de uma reação organizada, a destruir o Capitalismo.

A primeira ideia foi “racionalizar” o trabalho. Mas isso não significava abolir a exploração do trabalhador. Queria dizer, simplesmente, explorar de maneira eficiente, obedecendo a certos limites, evitando, por exemplo, que os trabalhadores fossem atirados à mais negra miséria e se tornassem sensíveis aos apelos do Comunismo.

Para amenizar “a miséria e as privações” dos trabalhadores, já havia sido criada, logo depois da Primeira Guerra Mundial, a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A legislação trabalhista – O Brasil não ficou fora dessa tendência mundial. Em 1918, a Câmara dos Deputados criou a Comissão de Legislação Social, encarregada de redigir leis específicas de “proteção” aos trabalhadores. Entre essas leis, incluíam-se as de acidente de trabalho e de férias remuneradas.

Dessa forma os anarquistas caíam em um dilema, porque, por um lado, ser contra as concessões do Estado era o mesmo que se afastar dos trabalhadores, ao passo que aceitar e defender uma legislação trabalhista era o mesmo que admitir o Estado como um interlocutor válido e, com isso, deixar de ser anarquista.

W Os comunistas

Fundado em 1922, o Partido Comunista do Brasil apareceu como produto imediato da vitoriosa Revolução Bolchevique na Rússia. Como tal, era favorável à transformação da luta econômica em luta política, defendia a centralização e, em vez da extinção do Estado, tinha como meta a tomada do Estado e a instalação da “ditadura do proletariado”. Ou seja, os comunistas defendiam tudo aquilo que os anarquistas condenavam. Eles não viam problema algum em aceitar uma legislação trabalhista e, inclusive, em lutar para que o Estado adotasse uma.

O Tenentismo

W Origens da crise dos anos 20

Na década de 1920 teve início uma grave crise política eclodia no Brasil. A sua origem situava-se na crescente insatisfação do Exército e das camadas médias urbanas, ao mesmo tempo em que surgiam tensões no seio da própria camada dominante.

Os militares que haviam se afastado da vida política depois do governo Floriano reapareceram na campanha presidencial de 1909. Nessa campanha, a cúpula militar aliou-se à oligarquia gaúcha.

W A Reação Republicana

A crise política reapareceu, entretanto, em 1922, nas eleições para a sucessão de Epitácio Pessoa, quando Minas e São Paulo resolveram a questão indicando Artur Bernardes (mineiro) para a presidência e já acertando a candidatura de Washington Luís (paulista) como sucessor de Bernardes.

Contra esse arranjo político, uniram-se os seguintes estados: Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro − nessa ordem em termos de importância eleitoral. Formava-se assim a Reação Republicana, que apresentou Nilo Peçanha como candidato e opositor de Bernardes, o candidato do “café com leite”. Novamente, o Exército inclinou-se para a oposição, contra a oligarquia dominante. As disputas acirradas criaram um clima de grande tensão, agravada pela publicação, no jornal Correio da Manhã, de uma carta, falsamente atribuída a Artur Bernardes, ofensiva aos militares.

Todavia, as eleições foram vencidas por Artur Bernardes. Finalmente, as frustrações longamente acumuladas eclodiram: no dia 5 de julho de 1922, jovens oficiais do forte de Copacabana se rebelaram, com apoio das guarnições do Distrito Federal, Rio de Janeiro e Mato Grosso. O objetivo era impedir a posse de Artur Bernardes. Embora a rebelião tenha fracassado, os jovens militares resolveram abandonar o forte e marchar pela praia de Copacabana para enfrentar as forças legalistas. Desse episódio, conhecido como os 18 do Forte, sobreviveram apenas os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes. Iniciou-se aí o longo episódio de rebelião a que se chamou Tenentismo.

W As revoltas tenentistas

O descontentamento contra a oligarquia dominante atingiu o auge com as revoltas tenentistas, que tiveram dois focos principais: o Rio Grande do Sul (1923) e São Paulo (1924). No Rio Grande do Sul, a revolta tenentista teve o imediato apoio da dissidência oligárquica da Aliança Libertadora e dirigiu-se para Santa Catarina e Paraná. Em São Paulo, a revolta foi desencadeada sob a chefia do general Isidoro Dias Lopes, que, não podendo suportar as pressões das tropas legalistas, dirigiu-se para o Sul, encontrando-se com as tropas gaúchas, lideradas por Luís Carlos Prestes e Mário Fagundes Varela.

A união das duas tropas rebeldes levou à organização do movimento. Os principais nomes do levante foram: Juarez Távora, Miguel Costa, Siqueira Campos, Cordeiro de Farias e Luís Carlos Prestes. Este último, mais tarde, desligou-se do movimento para ingressar no Partido Comunista do Brasil, tornando-se o seu chefe principal.

Formou-se assim, em 1925, a Coluna Prestes, que durante dois anos percorreu cerca de 25 000 km, obtendo várias vitórias contra as forças legalistas. Inutilmente procurou sublevar as populações do interior contra Bernardes e a oligarquia dominante. Com o fim do mandato de Artur Bernardes, em 1927, a Coluna entrou na Bolívia e, finalmente, se dissolveu.

W O programa de ação dos tenentes

Além da deposição do presidente Artur Bernardes, os tenentes reivindicavam o voto secreto, eleições honestas, castigo para os políticos corruptos e liberdade para os oficiais presos em 1922. Acreditavam que esse programa teria apoio da população do sertão.

O percurso da Coluna Prestes, originalmente chamada de Coluna Miguel Costa-Prestes, durou 25 meses, enfrentando as tropas federais e os jagunços dos coronéis. A população que os tenentes pensavam defender reagia ora com indiferença ora com hostilidade.

Ideologicamente, os tenentes eram conservadores, não propunham mudanças significativas para a estrutura social brasileira. Defendiam um reformismo social ingênuo misturado com muita centralização política e nacionalismo.

W Tendências da arte no século XX

O início da Primeira Guerra Mundial abriu um longo ciclo de crises para o capitalismo. Embora a crise não estivesse sendo percebida pela maioria da população, no plano da arte, ela já era anunciada. De fato, a plena consciência da crise só ocorreria em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York.

No plano da arte, a crise do capitalismo correspondeu à vigorosa crítica ao Impressionismo, o que resultou numa mudança radical da tendência artística. Representado por pintores franceses como Renoir, Monet e Manet, foi a culminância de uma evolução artística iniciada no Renascimento (século XV). Pinturas e desenhos em três dimensões (altura, largura e profundidade), tão comuns entre nós, foram estabelecidos pelos artistas do Renascimento. Esse espaço pictórico renascentista persistiu até o século XIX.

A nova arte, pós-impressionista, como o Cubismo, Construtivismo, Futurismo, Expressionismo, Dadaísmo e Surrealismo, foi a mais radical das transformações artísticas, pois representou uma ruptura com a tradição renascentista.

W Situação no Brasil

No Brasil, o rompimento com a estética tradicional deu-se em 1922, com a Semana de Arte Moderna - o Modernismo. O movimento modernista correspondeu às profundas transformações por que passava a sociedade brasileira, na qual a tradicional oligarquia agrária era ainda dominante, apesar do surto industrial e urbano que, aos poucos, colocava em xeque esse domínio. Nesse quadro, o movimento representou o mais radical esforço de atualização da linguagem, procurando dar conta da nova realidade que se estava implantando. Foi precisamente esse contexto que sensibilizou a nova elite intelectual em formação para as revoluções estéticas que estavam ocorrendo na Europa. Os novos ideais estéticos que o Modernismo pôs em circulação em 1922 foram introduzidos no Brasil no período imediatamente anterior à Primeira Guerra. Os contatos entre intelectuais e artistas brasileiros e europeus intensificaram-se nesse período.

W Preparação do movimento

Apesar da incorporação de valores estéticos que iniciaram sua vigência na Europa pós-impressionista, de modo algum o modernismo brasileiro pode ser reduzido à mera cópia do modelo europeu.

E isso, precisamente, porque o movimento de 1922 não foi apenas uma revolução estética, mas sobretudo uma importante mudança de atitude mental. Nesse sentido, tomar o partido da nova estética tinha, em verdade, um significado político, pois era voltar-se contra a arte tradicional – representada pelo Parnasianismo e pelo Simbolismo –, que estava comprometida com a ordem social em via de superação e que a nova concepção artística veio combater.

É curioso notar que as várias correntes de vanguarda em que se desdobrou a reação anti-impressionista não eram conhecidas, cada qual em sua peculiaridade. O que se chamou de Futurismo, nesse período, tinha um sentido desestabilizador da arte bem-comportada e acadêmica, e não um conjunto coerente de princípios estéticos. Em nome do Futurismo, rejeitou-se toda regra a que estava submetido o fazer artístico, de modo que a sua importância histórica reside, precisamente, na denúncia das convenções artísticas alheias à realidade.

W Modernismo e tendências ideológicas

Em seguida ao lançamento da Semana de Arte Moderna, apareceram revistas críticas que procuraram dar ao movimento uma feição teórica. Assim, em maio de 1922, surgiu a revista Klaxon, mensário de arte moderna, e em setembro de 1924 saiu a revista Estética. Todavia, ambas tiveram vida curta: Klaxon conseguiu publicar nove números e Estética apenas três.

Na Estética, a oposição era entre a arte engajada e a arte pela arte. À medida que as implicações estéticas do Modernismo foram se explicitando, o campo de debate foi se ampliando, e as reflexões estéticas conduziram os modernistas a posições ideológicas que, em seguida, os dividiram em tendências contraditórias. Da “redescoberta” do Brasil surgiram o primitivismo de Oswald de Andrade (Revista de Antropofagia, 1928), mas também o nacionalismo verde-amarelo (1926) de Cassiano Ricardo e o Grupo Anta (1927), neoindianista, de Plínio Salgado. Ao mesmo tempo, formou-se um grupo em torno da revista Festa (1927), reunindo os “espiritualistas”, como Tasso da Silveira, que retomaram a tradição simbolista. Assim, mesmo tendo as mesmas origens no que diz respeito ao movimento artístico, o Modernismo não chegou propriamente a se definir ideologicamente. No geral, persistiu a hesitação, com exceção do Grupo Anta de Plínio Salgado, que aderiu explicitamente ao fascismo.

Exerc Cios De Fixa O

01. (unB DF) Acerca do quadro político brasileiro na República Velha, em particular do período iniciado com o governo de Prudente de Morais, julgue os itens que se seguem. C-C-E-C

01. Promulgada em 1891, a primeira Constituição republicana do Brasil, com nítida influência do modelo norte-americano, instituiu um federalismo que, na prática, se mostrou bastante desigual, dividindo politicamente os estados em grupos de primeira e de segunda classe.

02. A política dos estados (ou dos governadores) acabou por conferir indiscutível primazia política aos dois estados economicamente mais poderosos da Federação – São Paulo e Minas Gerais.

03. A política do café com leite, predominante até 1930, não sofreu maiores abalos ao longo de sua existência. As crises, geralmente superficiais, eram abafadas sem muito desgaste e não se refletiam nas eleições presidenciais.

04. Durante essa fase da história do Brasil, foi visível o esforço do Rio Grande do Sul em assumir o comando político do país, o que efetivamente conseguiu por meio de ruptura institucional – a Revolução de 1930.

03. (uFu MG) Observe o trecho abaixo:

O plano geral da cidade, de relevo acidentado e repontado de áreas pantanosas, constituía obstáculo permanente à edificação de prédios e residências que, desde pelo menos 1882, não acompanhavam a demanda sempre crescente dos habitantes. A insalubridade da capital, foco endêmico de varíola, tuberculose, febre tifoide, lepra, escarlatina e sobretudo da terrível febre amarela, já era tristemente lendária nos tempos áureos do Segundo Reinado, sendo o Rio de Janeiro cantado por um poeta alemão como “a terra da morte diária/Túmulo insaciável do estrangeiro.

SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão. São Paulo: Brasiliense, 1995. p. 52. No excerto, é relatado o triste cenário do Rio de Janeiro nos anos iniciais da Primeira República, agravado pela crise sanitária que assolou a cidade e também por outros aspectos da vida social, entre eles, a economia. Com base nesse contexto, é correto dizer que a crise econômica derivou da a) política de desenvolvimento focada na formação da indústria de base, desprestigiando a indústria de bens de consumo. b) política monetária, que propiciou o aumento de moeda no mercado e a facilidade na criação de sociedades anônimas. c) queda drástica da produção cafeeira, que diminuiu o fluxo das exportações e impulsionou o desemprego nos campos. d) política protecionista do governo federal, que visava investir no capital nacional, o qual ainda era incipiente e incapaz de fomentar a industrialização.

Fonte: AMARAL, Tarsila do. A Gare. 1925. Disponível em: http://artesplasticasbrasileiras.arteblog.com.br/r16325/ Imagens/Acesso em: 09/12/2013.

Tarsila do Amaral foi uma das principais artistas plásticas do movimento modernista brasileiro. Como pode-se observar na pintura acima, a cidade de São Paulo teve importância no desenvolvimento do setor industrial brasileiro devido à a) estagnação dos índices demográficos. b) fragilização das oligarquias cafeeiras. c) queda do comércio de mercadorias. d) diminuição das migrações internas. e) ampliação do transporte ferroviário.

Produzida no contexto da implantação da ordem republicana no Brasil, essa imagem a) caracteriza representação cívica inspirada na Revolução Francesa, adequada ao projeto democrático estabelecido pelos republicanos brasileiros. b) faz uso alegórico de um tema clássico para expressar o repúdio à exclusão da participação feminina nas instituições políticas do Império. c) é uma alegoria da liberdade, da pátria e da nação, que contrasta com os limites da cidadania na nova ordem brasileira. d) emprega símbolo católico como estratégia para obter a adesão da Igreja e diminuir a animosidade dos movimentos messiânicos. e) é expressão artística do projeto positivista de divulgar uma concepção da sociedade brasileira sintonizada com os ideais de eugenia.

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