A redação no vestibular Unicamp – O que e como se avalia

A redação no Vestibular Unicamp

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Universidade Estadual de Campinas Reitor Marcelo Knobel Coordenadora Geral da Universidade Teresa Dib Zambon Atvars

Conselho Editorial Presidente Márcia Abreu Ana Carolina de Moura Delfim Maciel – Euclides de Mesquita Neto Márcio Barreto – Marcos Stefani Maria Inês Petrucci Rosa – Osvaldo Novais de Oliveira Jr. Rodrigo Lanna Franco da Silveira – Vera Nisaka Solferini

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Márcia Mendonça Cynthia A. B. Neves organizadoras

A redação no Vestibular Unicamp:

O que e como se avalia

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ficha catalográfica elaborada pelo sistema de bibliotecas da unicamp diretoria de tratamento da informação

Bibliotecária: Maria Lúcia Nery Dutra de Castro – CRB-8a / 1724 R245

A redação no Vestibular Unicamp: O que e como se avalia; organização: Márcia Mendonça e Cynthia Agra de Brito Neves. – Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2019.

1. Exame vestibular – Redação. 2. Leitura. 3. Escrita. 4. Análise do discurso.

I. Mendonça, Márcia. II. Neves, Cynthia Agra de Brito. III. Título. cdd - 378.1662

- 418.4 - 302.2244 - 401,41

isbn 978-85-268-1492-9 Copyright © by Comvest Copyright © 2019 by Editora da Unicamp

Direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19.2.1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, dos detentores dos direitos.

Printed in Brazil.

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A leitura é o lado de dentro da escrita, assim como a escrita é o lado de fora da leitura.

João Anzanello Carrascoza

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SIGLAS

C

–

Construção composicional

CeC –

Convenções da escrita e coesão

EE

–

Equipe Elaboradora

F1

–

Primeira fase do Vestibular Unicamp

F2

–

Segunda fase do Vestibular Unicamp

G – Gênero

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GR –

Grupo de Referência

I

–

Interlocução / interlocutor(es)

Lt

–

Leitura do(s) texto(s) da prova

Pt

–

Proposta temática

S

–

Situação de produção

T

–

Tipologia(s) textual(is)

VI

–

Vestibular Indígena

VU –

Vestibular Unicamp

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SUMÁRIO

apresentação.......................................................................................... 11 José Alves de Freitas Neto

1. nova grade de avaliação da redação do vestibular unicamp: entendendo os porquês e os comos...................... 17

Márcia Mendonça e Cynthia A. B. Neves

2. proposta temática: o nosso cartão de visitas................ 37

Cynthia A. B. Neves

3. gêneros do discurso e interlocução: situando a produção escrita........................................................ 57

Marcela Fossey

4. leitura: a nossa porta de entrada........................................ 85

Patrícia Aquino

5. como dizer o que se tem a dizer: convenções da

escrita e coesão..................................................................................111 Márcia Mendonça

posfácio – mudanças e permanências: três décadas da prova de redação da unicamp...............................................137 Luciana Quitzau

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referências bibliográficas.......................................................... 159 anexos....................................................................................................... 165 as autoras.............................................................................................. 179

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APRESENTAÇÃO José Alves de Freitas Neto Coordenador Executivo da Comvest Departamento de História/IFCH

Uma das interfaces mais nítidas entre uma universidade e a educação básica é a realização de seu vestibular. É o momento em que as experiências escolares anteriores dos candidatos e as expectativas da instituição dialogam, e muitas referências passam a ser interpretadas por professores, estudantes e familiares. Para evitar estranhamentos e, sobretudo, construir uma trajetória de confiança, cabe à universidade ser extremamente clara e transparente quanto a seus critérios de construção das provas de seleção para o ensino superior.

A Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) é a responsável pela realização dos exames da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e, em diversas ações e publicações, dedica-se a tornar efetiva sua política de transparência. Assim, para dar a conhecer o processo de elaboração, execução e correção da prova de redação, as autoras desta obra mapeiam seus aspectos centrais, os quais permitem refletir sobre os princípios que norteiam a leitura 11

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e a escrita e fornecem subsídios para compreender o processo de elaboração, execução e correção da prova de redação.

A identidade do Vestibular Unicamp é, em grande parte, conferida por sua prova de redação. Leitura e escrita, devidamente articuladas a partir dos gêneros de discurso propostos, são exigências que acompanharão os estudantes em toda a sua vida pessoal, acadêmica e social. As mediações para compreender informações e se posicionar diante de tantos acontecimentos e experiências requerem práticas refinadas e um contínuo aprendizado em torno do ato de ler e escrever.

As dinâmicas do mundo contemporâneo, as alterações e os impactos vivenciados na trajetória escolar, bem como as que surgem num mundo referenciado pelo uso pleno de tecnologias, instigam a pensar sobre a importância da leitura e da escrita como um exercício de formação para a cidadania. Numa época em que muitos afirmam que as pessoas leem pouco ou que os estudantes não têm o domínio necessário para produzir textos, as reflexões desta obra sobre a prova de redação da Unicamp sugerem evitar o senso comum e pensar leitura e escrita como resultado de experiências sociais e históricas. Nesse sentido, debater as premissas da prova de redação é uma necessidade, e a Comvest quer estar alinhada com as produções acadêmicas da área de produção textual e, em especial, em diálogo com as comunidades escolares.

Ao longo dos anos, a prova de redação do Vestibular Unicamp tornou-se referência por seu caráter acadêmico, por suas proposições teóricas e pelas perspectivas inovadoras para pensar a produção textual. Buscar outras ancoragens é o reconhecimento da dinâmica da prova, dos conhecimentos acumulados e, sobretudo, do desejo de evitar a estagnação.

A estrutura deste livro é bastante clara. A adoção de uma nova grade de correção – apresentada pelas professoras Márcia Mendonça, coordenadora acadêmica da Comvest, e Cynthia Agra 12

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apresentação

de Brito Neves, ambas do Departamento de Linguística Aplicada da Unicamp – é o resultado de um amplo processo de análise de dados, resultados de provas anteriores e da incorporação de referenciais teórico-acadêmicos que permitem ampliar os instrumentos de classificação dos candidatos. Ao tornar pública a grade, com suas fundamentações, a Unicamp espera fornecer subsídios para o ensino de produção textual e, consequentemente, para o trabalho de todos os interessados no assunto, assim como, de certa forma, desmistificar os lugares-comuns que povoam o imaginário de estudantes e professores interessados nesse processo seletivo.

Ao explicitar os critérios de correção da redação, as autoras demonstram que alcançar um bom desempenho no vestibular não é algo aleatório, que dependa de sorte. Há um efetivo trabalho que pode ser apreendido em suas proposições teóricas e no ato de ensinar e avaliar nelas baseado, tal como explicam as organizadoras do livro no primeiro capítulo.

O segundo e o terceiro capítulo – sobre a proposta temática e os gêneros do discurso, respectivamente – explicitam uma das características mais notáveis do Vestibular Unicamp, que, há quase uma década, optou por diversificar sua prova de redação e abdicou do modelo dissertativo, predominante em outros processos seletivos.

A relação entre a proposta temática, os gêneros e a interlocução conferida em cada caso reforçam a importância da leitura. O tema do quarto capítulo é a própria noção de leitura, seus diferentes níveis, as concepções teóricas e práticas nas reelaborações que os estudantes são estimulados a explorar em sua produção escrita.

Destaco nesse capítulo, em particular, as considerações a respeito das experiências escolares nas salas de aula e de como as exigências do vestibular podem levar a compreensões mais amplas sobre os significados de leitura.

O quinto capítulo aborda as convenções da escrita e a coesão na prova de redação. A defesa de um projeto de escrita, reconhecendo13

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-se práticas e referenciações específicas, é um manifesto da linguagem “como ato de recriação da realidade” e de produção de sentidos. A escrita é acompanhada de valores, reconfigurações e informações que circulam e se alteram por diferentes caminhos.

Tal reflexão articula-se à proposta temática, ao gênero, à situação de produção e à interlocução, materializando-se na compreensão do que se pretende com a nova grade da prova de redação da Unicamp.

Por fim, como as boas mudanças só acontecem quando se conhece a história, somos brindados por um posfácio que relata o caráter dinâmico do Vestibular Unicamp e, particularmente, da prova de redação. Dessa forma, explicitam-se as escolhas, as opções teóricas e a incorporação de novas concepções. Uma das vantagens de uma universidade, como a Unicamp, de preservar o seu próprio sistema de ingresso – da concepção da prova à convocação para as matrículas – é poder articular os saberes acadêmicos em discussão e produção nas unidades de ensino e pesquisa com as práticas escolares da educação básica.

Nesse sentido, o vestibular é mais do que um processo seletivo, é a grande mensagem que a Unicamp envia para seus potenciais estudantes e, mais amplamente, para toda a sociedade. Como universidade pública, a Unicamp preza pela defesa constitucional de sua autonomia, da liberdade de pensamento e pesquisa, da pluralidade de saberes e experiências, pela democratização do acesso e dos conhecimentos científicos, culturais e tecnológicos, pela construção de valores e princípios republicanos e, sobretudo, pela defesa irrestrita dos direitos humanos.

Ao lidar com temas que influenciam processos educacionais relacionados à escrita, a obra busca, além da transparência quanto aos critérios que orientam a prova de redação, referendar os princípios e valores desta universidade pública. Tem, assim, a expectativa de que professores e estudantes se beneficiem dos textos de várias formas. A mais simples e utilitária seria que ela reverberasse na 14

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apresentação

aprovação de candidatos. Mas este livro terá cumprido plenamente a sua função se estimular outras reflexões e práticas de leitura e escrita em diferentes escolas e contextos. Leitura e escrita são muito importantes para serem enquadradas exclusivamente em um dia de exame. Elas são verdadeiros instrumentos que conferem às pessoas a capacidade de se ressignificarem e darem outros sentidos para suas ações.

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Capítulo 1 NOVA GRADE DE AVALIAÇÃO DA REDAÇÃO DO VESTIBULAR UNICAMP: ENTENDENDO OS PORQUÊS E OS COMOS Márcia Mendonça Cynthia A. B. Neves

Por que publicar a nossa grade de avaliação da redação?

Transparência e formação Uma prova nunca é só uma prova. Uma prova de vestibular nunca é só uma prova de vestibular. Elaborar e aplicar uma prova de vestibular exige pensar, inicialmente, nos sentidos da avaliação realizada, que deve se assentar no papel da instituição universitária – de contribuição à sociedade e de formação cidadã – e num certo perfil de candidato a ser selecionado. Dessa forma, as provas de vestibular de universidades públicas são instrumentos das políticas públicas de acesso ao ensino superior. No contexto brasileiro, elas ainda assumem ampla visibilidade perante a comunidade interessada em ingressar nessas instituições – escolas, famílias, redes de ensino –, uma vez que são a porta de entrada ou, pelo 17

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menos, um dos principais caminhos de acesso às universidades. As provas do Vestibular Unicamp (VU), especificamente, alinham-se a outras formas de acesso, sendo algumas delas já consolidadas na universidade e outras mais recentes.1 A universidade é uma das agências que pode – e deve – contribuir diretamente para a Educação Básica, em termos de formação docente e de criação de políticas públicas de avaliação.

No que diz respeito ao vestibular, além do diálogo já existente com as escolas, é possível também sinalizar formas de avaliar, nos limites de um exame de larga escala, conteúdos, objetos de ensino e habilidades considerados relevantes para os concluintes do Ensino Médio. Defendemos a autonomia das escolas, dentro da regulação educacional brasileira, para selecionar os objetos de ensino e as metodologias considerados compatíveis com seus projetos político-pedagógicos e com a formação dos estudantes brasileiros. Defendemos ainda que a escola é a instituição que deve catalisar as inovações no ensino que se revelam necessárias, com o apoio do Estado e de outras agências formadoras – a universidade incluída. É no reconhecimento desse protagonismo da escola que o diálogo aqui ensaiado se dá em múltiplas direções: a universidade avalia o que é trabalhado na escola; a escola pode se valer da experiência do vestibular nas suas reflexões pedagógicas, inclusive sobre o ensino de leitura e escrita; a universidade toma Além de oferecer bonificação para alunos de escolas públicas pelo Programa de Ação Afirmativa para Inclusão Social (Paais) desde 2004 e de manter o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (Profis) desde 2011, a universidade implementou, em 2018, diversas novas políticas públicas de acesso ao ensino superior, visando à inclusão social e ao acolhimento de alunos que representem a diversidade sociocultural na comunidade acadêmica.

Assim, foram implementados as cotas étnico-raciais, o edital Enem, o edital Olimpíadas Científicas e o Vestibular Indígena (VI), valendo já para o vestibular de 2019. Para mais informações, consultar o site da Comvest: <https://www.comvest.unicamp.br/formas-de-ingresso/>.

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nova grade de avaliação da redação do vestibular unicamp

contato com o desempenho acadêmico dos estudantes no exame, o que indica os modos como os conhecimentos escolares estão sendo apropriados.

Dar a conhecer os mecanismos das provas do vestibular da Unicamp, especialmente os critérios utilizados para avaliar os candidatos, tal como este livro faz quanto à prova de redação, concretiza, ademais, o princípio da transparência no serviço público e busca dialogar com os professores/pesquisadores de língua portuguesa, a fim de “interagir com os sistemas de Ensino Fundamental e Médio e contribuir para o aprimoramento da Educação Básica”.2 Explicitar os critérios usados nessa prova pode auxiliar professores e candidatos nos estudos e desencorajar certos setores educacionais e alguns docentes a se valerem da acirrada disputa por uma vaga na universidade e prometerem bons resultados aos candidatos com base em dicas e macetes, muitas vezes, supondo critérios de avaliação inexistentes ou supondo um manejo equivocado de critérios gerais para avaliar a produção escrita. Consideramos que um bom resultado na produção escrita depende, essencialmente, de habilidades incorporadas ao longo da escolarização, num trabalho integrado com os eixos da leitura e da reflexão sobre a língua/linguagem, com a mediação adequada por parte dos professores, interlocução indispensável para promover o aprimoramento do texto escrito. Por essa razão, este não é um livro de dicas, mas pretende ser uma obra de formação.

Outra iniciativa da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) para oferecer à comunidade externa informações sobre o vestibular é a disponibilização das provas de cada exame (desde 1987), das provas comentadas, das expectativas da Banca Elaboradora, dos relatórios estatísticos de cada vestibular, com índices de acerto por questão, médias etc. no site da Comvest.

Edital do Vestibular Unicamp 2020, p. 2 (Unicamp, 2019).

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Além desses documentos, a Comvest oferece eventos anuais de formação docente, tais como: o Encontro com professores do Ensino Médio (com oficinas de todas as disciplinas), a Oficina: A redação no Vestibular Unicamp, que completou 15 anos em 2018, e o Treinamento prévio à seleção dos corretores de redação do VU. Por último, existe a publicação anual da coletânea Vestibular Unicamp – Redações (ano), por esta editora, comumente referida como “o livrinho de redação”, no qual se reúnem redações de destaque da última edição do vestibular. A figura a seguir reúne tais iniciativas:

Eventos de formação

Disponibilização

Encontro com Professores do Ensino Médio

Provas dos vestibulares

Oficina: A redação no vestibular

A magia da mudança – Vestibular Unicamp: Língua e literatura (1987) Vestibular Unicamp: Redação. Como é o exame, questões resolvidas, provas comentadas (1993)

Provas comentadas

Expectativas da Banca Elaboradora Treinamento prévio à seleção dos corretores de redação

Publicações

de documentos

[cadernos temáticos com dados estatísticos dos vestibulares] (1994 a 2011) Coletânea Vestibular Unicamp - Redações [ano] (desde 1999) 15 anos de Vestibular Unicamp (coleção comemorativa de todas as disciplinas) (2001) Anuários do vestibular (desde 2012)

Relatórios estatísticos

Vestibular Unicamp: 30 anos (2016) A redação no Vestibular Unicamp: O que e como se avalia

Quadro 1 – Ações da Comvest voltadas à comunidade externa.

Este livro se soma a tais iniciativas e se justifica, mais fortemente, pela formulação de uma nova grade de avaliação da redação. Cabe dizer que a nova grade manteve os princípios teóricos essenciais que balizavam a redação nos anos anteriores, tais como:

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