Clássicos em HQ

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Quadrinista

Luciano Irrthum O ano era 1994, os fanzines borbulhavam pelo país e eu fazia parte do núcleo de quadrinhos da Fuma. Tinha acabado de ganhar um livro de presente do meu avô, de um autor até então desconhecido para mim. Fiquei muito impressionado com seus contos e poemas. O nome dele era Edgar Allan Poe. Enquanto Poe começava a fazer parte das minhas leituras, comecei a fazer parte do mundo dos fanzines. Fiz amizade com muitos “zineiros”, entre eles o Peter Baiestorf, da Canibal Produções. Trocamos várias cartas, eu em Belo Horizonte, ele em Palmitos, no interior de Santa Catarina, e conversamos sobre vários autores... A “corja impura”, como carinhosamente chamávamos os que gozavam da nossa mais alta estima: Augusto dos Anjos, Baudelaire, Bukowski, Kafka, Crumb e, como não poderia faltar, Poe... Logo surgiu a ideia de fazermos uma HQ com o poema “O corvo”. Naqueles tempos “antigos”, pré-advento do e-mail, trocamos outro monte de cartas, até sair um “zine” em xerox com dezesseis páginas, formato meio-ofício, na coleção Clássicos Canibal. Acabamos ganhando o Prêmio Nova – Melhor HQ de 1995. Passaram-se quinze anos. Paralelamente ao redemoinho de acontecimentos desses anos velozes, continuei desenhando HQ. Em 2008, o pessoal da Graffiti 76% Quadrinhos lançou, dentro de seu projeto editorial de álbuns autorais, minha história “A comadre do Zé”. Foi minha primeira HQ mais longa, uma grande experiência para mim. Quando esse álbum foi parar na Peirópolis, surgindo daí o convite para fazer novamente “O corvo”, eu estava preparado: há anos sonhava em refazer essa adaptação na íntegra. Ainda assim, foram muitos dias e muitas noites na prancheta, com direito a estranhos fenômenos protagonizados pelo computador nos últimos minutos do segundo tempo. Quando tudo terminou, tive uma sensação engraçada: pareceu-me que o corvo estava ali, bem em cima do computador, olhando para mim...

Luciano Irrthum (1972) Nasceu em João Monlevade, Minas Gerais. Formado em design gráfico pela Fundação Mineira de Arte Aleijadinho (Fuma), escola superior de comunicação visual que hoje integra a Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), vive hoje em Belo Horizonte, onde trabalha como ilustrador, quadrinista e artista plástico. Publica seus quadrinhos e desenhos em revistas independentes como a Solar, a Quantum e a Graffiti 76% Quadrinhos. Em 2009, publicou HQs na edição da revista Peiote, dedicada ao gênero fantástico, e no fanzine ecológico Celacanto, de Portugal. Participou de várias exposições coletivas no Brasil e no exterior. É autor do álbum A comadre do Zé, da Graffiti (2008).

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