REBOCO CAÍDO 61

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Metal pesado Mostrar o que as pessoas não entendem Andar sobre pregos Engatinhar sobre giletes Já não sabem o que inventar Essa é a maldita evolução Em um mundo de consumo Em um planeta ambição Esquecem e não lembram O que ficou Não conseguem mais pensar ou ao menos perceber

São como vermes Parasitas alados Seres bizarros Ébrios de poder São bestiais Mas nós também Rendendo graças Mas nós não Pólvora e fumaça Pelas ruas do fim Fogo e enxofre Assim Assim - Fabio da Silva Barbosa -

Como apoiar a caminhada: A verdade estabelecida Assassina maldita Torturadora assídua A dominar A morte andando de patins Sobre cadáveres A libido a gozar Seres da noite E do dia também Perversos corrompidos a nos domar Depravados perversos São vocês Matam nosso corpo e a mente também

Existem várias formas de apoiar um zine e manter a coisa funcionando. Contando que o zine é um difusor de ideias, divulgar e abrir espaço para ele é difundir estas ideias. Não sendo um veículo com fins lucrativos, manter a iniciativa funcionando é sempre um desafio. Mesmo sendo uma forma de comunicação barata, é preciso reproduzir, colar, grampear, enviar pelo correio, envelope e por aí vai. Então as contribuições voluntárias e demais formas de apoio financeiro tornam-se fundamentais quando o editor vive no aperto. O Reboco Caído sobrevive há mais de dez anos graças a essa galera que valoriza de verdade o trabalho e está sempre disposta a ajudar. Quer chegar junto? Entre em contato e saiba como. Vamos ampliar nosso raio de ação .

CAVIDADE - Resenha de agner nyhyhwhw Alexandre Mendes era um inconformado. Esse inconformismo já pode ser sentido de cara no contundente texto "MÍNIMO" que abre o livro Cavidade: "Lambe logo o meu chão, Meu escravo; desgraçado Deixa tudo bem limpinho, porque eu pago seu salário" Aqui temos bem nítida a crítica sobre as relações trabalhistas costumeiras: é a escravidão moderna, a escravidão assalariada. Esse tema é um dos mais presentes na obra de Alexandre, retratado de forma visceral ou com inspirado sarcasmo em textos como "AO PATRÃO, COM CARINHO" , "SALÁRIO", "A FICÇÃO IMITA A REALIDADE", "COLISÃO DE MENTES" ou "BRÊIQUI DE RULLIS". "As instruções do seu patrão: . Senta aqui e escuta meu sermão do dia. . Sorria sempre para as tarefas de adulto que lhe obrigamos a executar. . Conforme-se com o salário de criança que nós lhe pagamos." [BRÊIQUI DE RULLIS] A escravidão histórica colonial também é tema de textos como "ACASO". Alexandre mostra que a escravidão continua, os escravos modernos seguem apanhando, seja do patrão, seja da polícia, seja da máquina produtiva que não pode parar, seja da indiferença.

Para pedidos e contatos com o zine Reboco Caído: Caixa postal: 21 819 o.com.br Porto Alegre- R fsb1975@yaho S cep.: 90050-970 editoramerdanamao@gmail.com

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"lá jazia o defunto -Era só um vagabundo! rabecão já vai chegar" [UM CARA]

O cotidiano da periferia, ou daquelas pessoas marginalizadas e sabotadas pelos detentores do poder, são assuntos frequentes, como em "COCÔTIDIANO", cujo título já diz tudo, ou em "NO LIMITE", "TROPA DE ELITE", "PERDI O SONO", "CÁLICE", "BAR DA ESQUINA", "A QUEDA", "MEIA HORA", entre outros. "lá falta concreto esgoto e dente" [SEU MANEL] "Estamos com medo. Espero que encontrem logo o corpo." [TIVE MEDO ESSA NOITE] Em "O CRIME ESTÁ VENCENDO?", evidencia que a divisão da sociedade em vencedores e perdedores é uma grande falácia. Até mesmo a situação da polícia, soldados e demais guardiões da pátria e da ordem é vista com crítica, mas também com humanidade, reconhecendo a perversa e famigerada estratégia de dominação, de dividir e conquistar, colocando sabotado contra sabotado. "Anteontem era zagueiro Ontem, era mau sujeito E hoje, apenas estatística" [CONDECORAÇÃO DE HONRA] "A polícia é mau paga e às vezes desconta suas frustrações na gente. Tudo que eles querem é ouvir "sim, senhor" e "não, senhor"." [RECOMENDAÇÕES DE UM MACACO VELHO] As temáticas na obra de Alexandre são grandes, passando por relações familiares, que nem sempre são exemplares ou amorosas, como a conturbada relação entre pai e filho


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vista em DI PEDRA e PAPAI; "Não sobrou nada, caro estranho, nada, nada pra você" [DI PEDRA] e as relações com a natureza e o mundo animal, retratadas sempre com empatia. "(Adeus, breve nos veremos!)" [UMA VIDA (QUASE) SEM VIDA] "Homens por cima Animais por baixo Mas não tentem provocá-los dentro de seu próprio espaço" [ANIMAL PLANET] Fruto de uma visão de mundo ampliada de alguém que foi camelô, cobrador de ônibus, professor de história, entre outras funções, além de vivenciar a realidade de comunidades periféricas. Alguém que, não apenas estudava o mundo, mas o observava de perto, em sua múltiplas facetas, com respeito e humildade. E, apesar do olhar crítico, conseguia interagir com uma contagiante simpatia e bom humor, características também marcantes em sua obra.

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sa sociedade é retratado com admirável empatia e criatividade, como em "GLÓRIA", "BELO BELA VISTA" ou "TERRA". O inconformismo reverbera como uma revolta criativa e construtiva.

crença em contos verdade mau contada outrora é escuro abismo, e o fim da linha revela o nada." [GG ALLIN]

"Ergueu a mão esquerda para o alto, tentando alcançar as estrelas, no ápice do esforço físico. "Eu sou a natureza!"-Gritou." [TERRA]

"Pra que o pra quê de tudo isso? Não sei… Quando eu comecei a tentar entender, já era desse jeito…" [?]

As reflexões se estendem sobre os sentidos da vida e da morte, conflitos existenciais, o ser e o não ser, a verdade e o vazio. Reflexões estas que podem não apenas desconstruir o saber absoluto, como também a própria linguagem formal ou até a poética convencional. Temos assim "LINDO'', um subversivo poema cíclico de 11 páginas. Temos também "IRMÃOS METRALHA", em que a crítica social vem junto à subversão das famigeradas conjugações verbais, tão entubadas nos alunos por anos e anos no ensino convencional das escolas. "A REVOLTA DAS PALAVRAS'' é outro exemplo de subversão linguística. A contundência, tanto da ideia, como do linguajar poético, pode ser sentida em "SEU MANEL".

"Entrou no coletivo; deu um arroto e pulou a roleta: Levou um esporro do cobrador. Puxou 50 pratas do bolso e pagou a passagem, dizendo ao funcionário que ficasse com o troco. - Hoje, vamos quebrar a rotina!" [BRÊIQUI DE RULLIS]

"O sábio que soube demais geme e chora tentando voltar atrás descobrindo que a verdade aprisiona … dentro da sua verdade que os outros sábios chamam de nada" [SEM AÇÚCAR]

"Assinval despejara todos os seus herdeiros sobre o bife do bundão da mesa dez." [O TROCO DA GORJETA]

"universo paralelo FAÇA-SE PRESENTE" [FÉ]

O mundo, as pessoas, a natureza, e as interrelações disso tudo em nossa confu-

"Vê como é o destino? Um dia é otimismo

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medíocres que possam atrofiar a mente de vocês. Não creiam em uma pessoa, somente porque ela diz e faz algo durante anos que possa parecer bom. Não creiam cegamente em tudo que lhe ensinam. Não tenham medo de desafiar as eternas verdades do mundo.” -----------------------Alexandre Mendes

"eu sei quem é você então, por favor, me ajude e me diga, afinal de contas: quem sou eu?" [??] Estas reflexões são tão fortes na obra de Alexandre que ele até criou o filósofo Nihildamus. Obra que, afinal, era também tão vasta como seu coração. "(A minha cara é bem feia, mas o meu coração é do tamanho de um planeta!)" [AH!] Este livro traz poesia e prosa, mas Alexandre também fez ilustrações, quadrinhos, zines, e colaborações em projetos diversos, material que ainda há de render outras coletâneas. Alexandre foi um artista que nos deixou antes do que deveria ser, mas seu legado permanecerá. CAVIDADE: OBRA PÓSTUMA DO ALEXANDRE MENDES Disponível pela Editora Merda na Mão 25 reais na mão e 35 reais via correio. *email para pedidos e contatos: editoramerdanamao@gmail.com “Não assistam novelas e outros programas

MERDA NA MÃO * publicando os impublicáveis *


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“Tem de ser incômodo, senão acaba virando papel de parede” Nas andanças por este mundão, esbarramos com as pessoas mais interessantes (Claro que as desinteressantes também estão por aí – Nem precisa lembrar). Entre os contatos feitos através da Editora Merda na Mão, está Laura Laco. Pra quem acha que a cultura do submundo está morta e que tudo está perdido, eis uma representante da nova geração que nos faz retomar as esperanças. Como ela mesma se define em sua autobio “Laura Laco é estudante de Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande, FURG, edita fanzines, faz HQ’s e ilustrações durante a noite, no seu quarto, enquanto escuta música. É vegetariana, adora os bichos e as plantas. Tem 21 anos e mora em uma cidade cercada por água, chamada Rio Grande, no Estado do Rio Grande do Sul, localizada no fundo do quintal do país.” Como foi o primeiro contato com o mundo das ilustrações e como você se tornou uma ilustradora? Na verdade, até agora fico na dúvida se me tornei. É difícil pensar sobre o primeiro contato porque, sinceramente, não consigo estabelecer um limite, uma data, um momento... Mas o desenho é meu melhor amigo de muitos tempos. Durante muito tempo fomos só nós dois. Os desenhos e ilustrações ficavam rolando pela casa (e ainda ficam), mas foi em 2020 que criei o instagram @020papel. Era pra ser anônimo, mas foi tomando outros rumos. Como você traduziria em palavras o ato de dar forma aos pensamentos em uma folha de papel? Acho que é algo semelhante a um canal... A gente vai derramando aquela ideia que tá na cabeça martelando. Quais suas principais influências? Daqui da minha cidade, um grande artista que não tem o reconhecimento que merece, Fabiano da Costa. Ele que me apresentou os trabalhos do Crumb, que me influenciou e influencia muito. Também e muito o Lourenço Mutarelli e escritores do realismo fantástico, como o colombiano Gabriel García Marquéz, e histórias de terror, como as do Edgar Allan Poe. Arte de combate, entretenimento ou arte pela arte?

- FSB -

De combate, com certeza, mais do que necessário! Tem de ser incômodo, senão acaba virando papel de parede. E um pouco de entretenimento às vezes, porque é preciso (mas nunca só isto) Em que acreditar? No colocar-se no lugar do outro. Acho que tem faltado muito. Um motivo para continuar: Os animais! Temos muito o que aprender com eles ainda. A mensagem : Talvez uma frase que ouvi recentemente, mas que foi dita há muito tempo por Sócrates (ou não) e ainda faz muito sentido: “Quem não pensa, é pensado pelos outros”. Projetos que estão por vir: Vai ser lançada, pela Editora Merda na Mão, uma HQ que estou produzindo. Meu primeiro trabalho mais extenso. A Editora está fazendo um trabalho muito bonito publicando os impublicáveis, tudo apoiado na coletividade, na luta. Está bonito de ver! Respeito muito. Também alguns trabalhos estão para sair no Zine DISCOS IV, do meu amigo Henry Jaepelt, que inclusive me disparou para o universo dos Fanzines. Dele também participo do próximo CATZINE. Também uma ilustração em um projeto com Alexandre Chakal, da banda Thrashera, e com uma ilustração também em um trabalho zineiro com a Mara, fanzineira lá de Ilha Comprida. Uma participação na Coluna Fanzineiros em Ação também. Palavras finais: Fico feliz pelo convite de vocês para fazer a capa do Reboco Caído 61 e pela entrevista. Um zine de soco no estômago, no melhor dos sentidos, do sentido necessário. Queria dizer também que estou sempre aberta a parcerias e a trocas de zines e cartas! Fico muito feliz mesmo. Penso que faz falta essas trocas de amizade, de carinho que os zines trazem. Fazem com que a gente se sinta mais humano no meio disso tudo. Acredito que o Paulo Freire tenha sido certeiro quando disse que somos seres inconclusos... precisamos dos outros. Estamos sempre aprendendo. lauralaco0104@gmail.com




Neste número: Entrevista com

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lauralaco0104 @gmail.com


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