Formação continuada e politização docente

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nas secretarias das escolas, há um desencorajamento no preenchimento do quesito cor/raça, como se isto fosse apenas um detalhe, que não faz a menor diferença. Quando defendemos uma postura afrobetizadora é nessa esfera em que atuamos, também. Afrobetização extrapola o que entendemos hoje, inicialmente, por primeiros períodos destinados à aquisição da linguagem escrita. Ressignifica a função da escola como instituição que pode manter a discriminação racial, ou combatê-la, mas jamais se mantém neutra. Práticas afrobetizadoras não se limitam aos primeiros anos do ensino fundamental, nem limitam os conhecimentos às primeiras letras. A proposta é transversalizar todas as disciplinas num mesmo eixo, corresponsabilizando todas as áreas de conhecimento com vistas a alcançar outro paradigma, que é o da diversidade étnica, com foco na afrodescendência. Uma prática afrobetizadora propõe buscar elementos no berço da humanidade, no continente africano e na diáspora africana, para elencar conteúdos e desse cenário pinçar possibilidades curriculares transversalizadas. Desse modo, torna-se imprescindível estabelecer princípios antes de se pensar em objetivos, organizar conteúdos, atividades e estratégias didáticas. Para Lopes (2006, p. 27): Não é fundamentalmente na escolha dos temas que se pode escorregar pela via do preconceito, mas, sobretudo, na abordagem, na escolha de materiais, no cuidado com a construção dos argumentos, no grau de conhecimento sobre o assunto ensinado, na resistência. Às situações cotidianas em que o preconceito se expressa, tanto na sala de aula como nos outros espaços e momentos escolares. Trabalhar o mais coletivamente possível, buscar pares na escola que queiram enfrentar o desafio de revisitar e reaprender a História, a cultura, a literatura brasileira sob a perspectiva da população negra como sujeito, pode ser uma maneira competente e facilitadora na construção de conteúdos e metodologias mais adequados às diferentes faixas de idades e níveis de ensino.

Assim, ao considerar o currículo, escola e questões étnico-raciais como portadores de relações que envolvem conteúdos complexos de uma construção histórica de longa duração, é preciso ter “persistência”. Atributo de uma pedagogia que se pretenda democrática, emancipadora e transformadora (LOPES, 2006). Tais relações estão imbuídas de valores repletos de concepções de mundo muitas vezes racistas e de sujeitos sociais que possuem práticas preconceituosas e discriminatórias. Por isso, “a escola e os educadores precisam se 125


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