E agora, Watson, como reconstruir o drama daquela madrugada? Um buraco tão estreito, era evidente que apenas Brunton caberia nele. O mordomo achou um saco de moedas, passou-o para cima. A moça, sua cúmplice, ficou à margem da tumba… Que sentimentos passaram por sua cabeça? Qual seria o fogo ardente da vingança, que explodiu na alma daquela mulher apaixonada, abandonada pelo amante? Que instante de lucidez diabólica não deve ter-se apossado da mulher, vendo o homem que havia destruído seus sonhos assim à sua mercê, embaixo da pedra? Seria ela apenas culpada por silenciar sobre um acidente, na hora em que a pedra escapou… ou foi a sua mão que a empurrou, lacrando o túmulo sobre o homem que tanto mal lhe fizera? Fosse o que fosse, Watson, quase posso ver aquela figura de mulher agarrando-se ao tesouro, voando pelas escadas e ouvindo ecoar os gritos apavorados do homem sepultado pela enorme pedra… Acredito que foi esse o mistério de seu rosto pálido, seus nervos arrebentados, no dia seguinte ao desaparecimento do mordomo. O que ela fez com a caixa? O que ela conteria? Creio que era o metal velho que os empregados pescaram da lagoa, depois que a criada desapareceu do quarto. Ela jogou tudo aquilo na água, sepultando o último rastro do seu crime. Eu estava perdido em meus devaneios, naquela tarde, quando Musgrave se aproximou.
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