O homem ficou pálido, Holmes, mas não perdeu a pose. Arranquei de suas mãos os papéis que consultava e me espantei em ver que eram apenas uma cópia das perguntas e respostas de um velho juramento familiar, batizado de ritual Musgrave. É uma cerimônia especial, que cada Musgrave, quando chega à maioridade, tem de repetir diante dos membros da casa. Aquilo sempre me pareceu um amontoado de frases sem sentido; quando muito, poderia interessar a um arqueólogo, mas nada para atrair a atenção de um simples mordomo. – Você pode explicar esse ritual depois, Reginald – falei. – Conte mais sobre o mordomo. – Então, Brunton me surpreendeu com um pedido. “Sr. Musgrave”, ele falou, com a voz cheia de emoção, “eu imploro, não posso sofrer essa desonra. Sempre fui fiel à sua família e não conseguiria suportar a vergonha de uma demissão. Por favor, dê-me um mês. Depois disso, posso dizer que saí por minha própria vontade.” “O ato de bisbilhotice que o senhor cometeu hoje não merece muita consideração”, respondi, “mas, em memória de meu falecido pai, que gostava tanto de sua pessoa, vou reconsiderar. Dou-lhe uma semana para arrumar outra ocupação.” Brunton ainda tentou discutir, mas percebeu que era inútil e conformou-se com o prazo. Nos dois dias seguintes, o mordomo foi impecável como sempre. No terceiro dia, porém, ele não apareceu para receber
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