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— E morto mexe desde quando? Larguem de preguiça e tomem conta direito! Usem suas flechinhas pra matar as varejeiras: não quero comida minha com bicho! Bahira aproveitou-se da discussão e, vendo que o fogo embaixo dele estava bem aceso, roubou-o e fugiu. Quando o Urubu se deu conta do ocorrido, saiu em perseguição do almoço, ele e sua gente. Entrou Bahira num oco de pau, o Urubu entrou atrás. Saiu Bahira do outro lado, saiu o Urubu atrás. Na saída, um tabocal cerrado cruzava o caminho. Bahira venceu-o, mas o Urubu não conseguiu atravessar e ficou pra trás, praguejando. O pajé correu, correu até chegar às margens do braço de um rio, largo feito o mar. Espiou na outra margem e viu sua tribo, que esperava a chegada do fogo novo. E agora? Que fazer pra atravessar, pela água, com coisa que se apaga nela? Chamou a Cobra-surradeira e pediu: — Comadre, faça-me a gentileza de cruzar o rio com esse fogo em seu quengo, sim? — Pois não, compadre. Ajeite ele no meu lombo. A cobra, apesar da fama de andar rapidinho, só alcançou até a metade do rio. Ali mesmo morreu queimada. Bahira arranjou uma vara comprida no mato e puxou o fogo de volta. Tentou a travessia com parentes da surradeira, mas todas tiveram destino igual: viraram torresmo! Nisso, veio passando um Pitu. O pajé pensou: — Esse há de atravessar o fogo. Repetiu-se o pedido e o pronto aceite. O Pitu, porém, findou-se igual às cobras: morreu queimado, todo vermelho. E é assim até hoje: quando o fogo queima a casca do camarão, ela fica vermelhinha igual pimenta! O pajé recuperou o fogo, de novo, com a vara. Os Kawahiwas, na margem oposta, já estavam nervosos, achando que a travessia ia gorar. Passou um Guaiá, andando de lado, e Bahira repetiu o pedido. Impressionante a boa vontade dos bichos – todos diziam sim ao pedido do pajé! Lamentavelmente, com o compadre caranguejo não foi diferente: no meio do rio, morreu tostado. Então foi a vez da Saracura, da Uratinga, da Garça, da Upeca, da Piaçoca, da Ariramba, do Jacuaçu e outras tantas aves de água doce. E todas, apesar da cortesia, se acabaram chamuscadas, antes de completarem o percurso. Estava Bahira em ponto de desistir, quando apareceu o Sapo Cururu. Os pulos do Cururu quase completaram a missão. Perto de atingir a outra margem, o pobre acabou desmaiando com aquele fogaréu no costado. Os Kawahiwas, repetindo o uso da vara aprendido de seu pajé, salvaram o fogo e o sapo, levando os dois pra aldeia. Bahira, vendo que tudo acabara bem, pensou de que jeito ele próprio atravessaria o rio. Nem precisou esquentar muito a cabeça. Sendo um pajé poderoso, mandou o rio se estreitar e ele obedeceu. Bahira deu um pulo e, pronto! Logo achou-se do outro lado. Foi assim que os Kawahiwas arranjaram fogo e se fartaram de assados. E o valente Cururu virou um pajé respeitado.

Vicente Mendonça/ID/BR

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Flávia Savary. Lendas da Amazônia... e é assim até hoje. São Paulo: Salesiana, 2006. p. 12-15. Não escreva no livro.

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