Maurice Merleau-Ponty (1908-
Ponty traduzidas para o português:
1961) nasceu em Rochefort-sur-
• M. Merleau-Ponty, O olho e o es-
-Mer, na França. Formou-se na
pírito. Tradução: P. Neves e M. Er-
Escola Normal Superior de Paris,
mantina G. G. Pereira. São Paulo:
foi professor de liceu, serviu no
Cosacnaify, 2004.
exército francês durante a Segunda
• M. Merleau-Ponty, Fenomenolo-
Guerra Mundial. Em 1949, tornou-
gia da percepção. Tradução: C.
se professor na Sorbonne e, em
A. Ribeiro de Moura. São Paulo:
1952, ingressou no Colégio de Fran-
Martins Fontes, 1999.
ça, a instituição mais prestigiada do
Sobre Merleau-Ponty, vale con-
universo acadêmico daquele país.
sultar:
Merleau-Ponty iniciou sua carreira filosófica
• Marliena Chauí, Experiência do pensamento.
sob influência da fenomenologia de Edmund Hus-
Ensaios sobre a obra de Merleau-Ponty. São
serl (1859-1938), mas criou uma versão própria
Paulo: Martins Fontes, 2002.
dela ao sublinhar a importância da percepção.
Como apresentação da obra do filósofo, veja,
Suas obras são decisivas para a compreensão da
também de M. Chauí, seu artigo publicado na
trajetória da filosofia na França ao longo do século
Revista Cult (número 123) “Merleau-Ponty: a
XX. Merleau-Ponty foi muito próximo de grandes
obra fecunda”, disponível em: http://revistacult.
figuras do universo científico e cultural de sua
uol.com.br/home/2010/03/merleau-ponty-a-
geração. Atuou com Jean-Paul Sartre na revista
-obra-fecunda.
Temps modernes entre 1945 e 1952 (tendo porém
Confira também o capítulo redigido por Luiz
rompido com ele adiante, por divergências políti-
Damon Moutinho, “Merleau-Ponty: entre o corpo
cas). Era muito próximo de Jacques Lacan (1901-
e a alma”, na Antologia dos textos filosóficos (org.
1981) e de Claude Lévi-Strauss (1908-2009).
Jairo Marçal, Curitiba: SEED-PR, 2009, pp. 490-515.
Aos olhos de Merleau-Ponty, Descartes não poderia compreender-se a si mesmo sem falar, e falar implica pelo menos duas coisas: 1. retomar as palavras legadas por outros para construir um discurso próprio, uma fala própria; 2. dirigir-se a outrem como destina-tário desse discurso, dessa fala. Do ponto de vista de Merleau-Ponty, Descartes pode pretender estar isolado do mundo, mas ele ainda fala a alguém, e o faz com palavras “que recebe de fora”. Essa dupla referência ao outro é parte essencial do discurso cartesiano – como, aliás, de todo discurso. Por isso, é apenas em aparência que a reflexão radical sobre si deixa o filósofo
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absolutamente só. Ao pôr em dúvida a existência de tudo e de todos por meio de um pensamento que fala, isto é, mediante um discurso, o filósofo “arrasta os outros” consigo mesmo para a sua solidão. Assim, o fato de que o pensamento depende do discurso impede a possibilidade de uma reflexão em que o eu esteja completamente isolado dos demais. Para conseguir retirar-se numa solidão absoluta, rompendo todo possível vínculo com outrem, o filósofo precisaria não fazer nada e, principalmente, permanecer calado e, pior, deveria (se isso fosse possível) deixar de ter pensamentos. No fundo, a solidão experimentada pelo eu na reflexão filosófica constitui mais um modo de relação ou coexistência
eu e o outro
Eis duas das obras mais importantes de Merleau
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Merleau-Ponty
6/30/17 10:52 AM