PROPOSTA DE ATIVIDADE COMPLEMENTAR Com base no trabalho desenvolvido no capítulo, encaminhar uma discussão a respeito da utilidade ou da inutilidade da Filosofia no contexto dos conhecimentos e das práticas a que estamos habituados. Como subsídio para essa discussão, propõe-se o texto a seguir, que pode ser fornecido aos estudantes ou lido em voz alta. A Filosofia é inútil ou útil? Marilena Chaui A Filosofia não é ciência: é uma reflexão sobre os fundamentos da ciência, isto é, sobre procedimentos e conceitos científicos. Não é religião: é uma reflexão sobre os fundamentos da religião, isto é, sobre as causas, origens e formas das crenças religiosas. Não é arte: é uma reflexão sobre os fundamentos da arte, isto é, sobre os conteúdos, as formas, as significações das obras de arte e do trabalho artístico. Não é Sociologia nem Psicologia, mas a interpretação e avaliação crítica dos conceitos e métodos da Sociologia e da Psicologia. Não é Política, mas interpretação, compreensão e reflexão sobre a origem, a natureza e as formas do Poder e suas mudanças. Não é História, mas reflexão sobre
o sentido dos acontecimentos enquanto inseridos no tempo e compreensão do que seja o próprio o tempo. [...] Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da Cultura e da História for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na Política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa Sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil; então, podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes. CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2005. p. 23-24.
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS BORNHEIM, G. Introdução ao filosofar. São Paulo: Globo, 2009. LIMA VAZ, H. C. Antropologia filosófica. 2 v. São Paulo: Loyola, 1992. LIMA VAZ, H. C. Consciência e História. In: História. São Paulo: Loyola, 2001. p. 219-230.
. Ontologia e
Capítulo 4 Filosofias e modos de convencer OBJETIVO Apresentar, de maneira ampla e inclusiva, alguns métodos filosóficos, incluídos aqui sob certo caráter intelectualista, ou seja, de uma busca de clareza compreensiva (racional) das experiências e de suas expressões.
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS Dividem-se os possíveis métodos filosóficos, de modo bastante geral, em dois grupos: o método discursivo e o método intuitivo. No método discursivo, apresentam-se elementos da lógica tradicional dedutiva, com o silogismo categórico, hipotético e dialético, embora o procedimento dialético seja aqui destacado do quadro dedutivo e apresentado em formas mais amplas ou mesmo independentes do funcionamento do silogismo (ainda que tais formas possam ser reduzidas à forma silogística). Por sua vez, o método intuitivo é apresentado em contraponto com o método discursivo, no sentido de que a ênfase dada pelo método intuitivo é a da “descoberta” ou da análise do que aparece como evidente, ao passo que a ênfase discursiva é posta na “construção” de resultados. Também se procura evitar uma oposição rígida entre os dois métodos, sobretudo porque os elementos apresentados neste capítulo não chegam aos debates clássicos ou contemporâneos em torno da natureza da Lógica. Antes, trata-se aqui de atrair a atenção dos estudantes para dados tradicionais e, eventualmente, conduzi-los a questões filosóficas sobre a Lógica. A esse respeito, aliás, este capítulo não pretende apresentar a Lógica como simples método ou instrumento da atividade filosófica. Os colegas professores são convidados a insistir que, embora os elementos 428
Filosofia e filosofias – existência e sentidos
da lógica tradicional apresentados no capítulo sejam empregados metodologicamente por boa parte dos filósofos, a Lógica, principalmente a partir do século XIX, adquiriu um caráter de reflexão filosófica propriamente dita, articulando-se diretamente com questões epistemológicas e metafísicas, por exemplo. Não é por acaso que no século XX constituiu-se uma disciplina chamada Filosofia da Lógica. No nível do Ensino Médio (e, portanto, também em um livro didático), parece difícil e talvez antipedagógico entrar no tratamento de questões filosóficas sobre a Lógica, dado o nível de abstração exigido por elas. Mas os colegas professores podem ficar atentos à possibilidade de abordar algumas dessas questões, caso o contexto de cada turma o permita. Para tanto, sugere-se a leitura do livro de Susan Haack (2002), e do estudo de Franklin Leopoldo e Silva (1993). Um brilhante exemplo de trabalho filosófico que rompe a distinção entre “discurso” e “intuição”, unindo abordagens que muitas vezes parecem incompatíveis, é o conjunto de ensaios do filósofo Bento Prado Júnior (2004), organizados no volume Erro, ilusão e loucura. Por outro lado, caso os professores identifiquem dificuldades por parte dos estudantes em termos de leitura e interpretação de enunciados, sugere-se que o estudo do método discursivo seja iniciado pelas falácias, pois elas têm a vantagem de despertar a curiosidade e de conter elementos, digamos, mais “palpáveis” e menos “abstratos”. Com base nas falácias, os professores podem recorrer a elementos formais da exposição sobre os silogismos e construir com os estudantes um aprendizado mais adaptado às possibilidades e dificuldades de cada turma.