Filosofia autentica

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Reproduç ão/National Gallery, londres, ingl aterr a

escolha dos meios para alcançá-lo justamente porque os seres humanos nem sempre dão a devida atenção às paixões e às disposições que desenvolvem em si mesmos. Nesse contexto, a educação ou a formação na arte de visar ao meio-termo apresenta-se como a solução para tal descompasso.

Ticiano (1490-1576), Alegoria do tempo governado pela Prudência, 1565, pintura.

E X ER C Í C I O

A

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1. Por que, segundo Aristóteles, o termo prática

só pode ser usado para referir-se a seres humanos? 2. Usando o termo hábito, explique o que é uma

virtude e um vício de acordo com o pensamento de Aristóteles. 3. Com base no exemplo das reações causadas pela

presença de uma ameaça e a emoção de medo, analise as possíveis reações causadas pela presença de algo positivo e a emoção da alegria. 4. Em relação à virtude moral, o meio-termo é arit-

mético? Explique. 5. Qual o sentido da virtude da prudência? 6. Comente as representações da prudência de

Martino di Bartolomeo e de Ticiano, tomando por base as contribuições filosóficas e artísticas medievais.

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Filosofia e filosofias – existência e sentidos

2 Ética e razão Diante do pensamento aristotélico sobre a virtude moral, não é difícil sentir-se tocado(a) por ele e perceber como ele exprime de maneira adequada muitos aspectos experimentados no dia a dia. Provavelmente você já deve ter ouvido frases como estas: “Falta ética no nosso mundo...” ou “Ah, como seria bom se houvesse mais valores éticos...”. É como se as pessoas sentissem uma decepção, lamentando a perda de bons modelos e desejando uma solução que as resgate da vida atual. Essa percepção intensifica-se diante de casos extremos, como quando se observa que no Senado ou no Congresso Nacional, assim como nas Assembleias Legislativas dos Estados, há “comitês de ética”: aparentemente isso é bom, mas, se pensarmos que os representantes do povo deveriam ser os primeiros a saber o que é uma ação ética, então ficamos surpresos ao constatar que eles precisam de comitês para avaliar se o que fazem é ético ou não. Experimenta-se um desconforto ou mesmo uma indignação quando se percebe que os representantes do povo não conhecem Ética e precisam de especialistas para orientá-los. Ainda, quando falam em nome da Ética ou da Moral, muitos representantes políticos apenas defendem suas visões pessoais (formadas por suas crenças religiosas, sua atividade partidária, sindical etc.) e mostram-se incapazes de dialogar racionalmente com quem tem opiniões diferentes, a fim de identificar elementos comuns na busca universal do bem. Segundo uma leitura aristotélica, todos buscam o bem, que tem a felicidade como uma de suas faces; contudo, muitos se perdem na escolha dos meios para alcançar o bem ou a felicidade, apegando-se à crença de que suas ideias particulares são as melhores para todos. A experiência de desconforto ou indignação não é algo vivido apenas em nossos dias. Hoje, de fato, com um mundo sempre mais plural e conflituoso, tal experiência é vivida com força. Mas, talvez ela tenha existido desde que a Humanidade despontou em meio à Natureza. Considerando que a ética aristotélica parte do princípio de que é possível saber socialmente o que é melhor para todos (o bem) e observando como esse mesmo “melhor” (o bem) pode ser interpretado de maneiras muito diferentes, alguns filósofos modernos identificaram a necessidade de rever a ética aristotélica. Utilizando termos cotidianos, pode-se dizer que


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