Filosofia autentica

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a harmonia e todas as outras entidades matemáticas. Desse ponto de vista, a análise do ponto, da linha, da unidade etc. mostra que eles não são apenas os desenhos de pontos, linhas, unidades, pois remetem à Forma de Ponto, à Forma de Linha, à Forma de Unidade etc. A Matemática permite, então, que o educando veja com outro olhar o mundo das imagens e das coisas sensíveis (mundo da confiança e da opinião) e perceba que o mundo físico é formado por regras inteligíveis cujo melhor exemplo é o modo de ser das entidades matemáticas (mundo da inteligência e do conhecimento); (3) uma vez percebida a estrutura matemática das coisas e feita a transição para o mundo inteligível, é possível levar o educando a entender a existência das próprias Formas. Continua-se no campo da inteligência e do conhecimento, e não mais da crença e da opinião; (4) por fim, é possível conduzir o educando a captar a Forma do Bem, a mais universal e básica de todas as Formas, presente em todas elas e doadora de sentido a tudo o que existe. Trata-se da Forma reguladora máxima, pois é a mais elevada (só se chega a ela pela compreensão das outras), e, ao mesmo tempo, mínima, porque é o elemento fundamental presente em absolutamente tudo o que existe. Compreendê-la é o ato mais pleno de consciência e de conhecimento, grau mais perfeito da atividade da inteligência. Esses passos se mostram como um contraste de luzes e sombras, de realidade invisível ou discreta e MUNDO DA CAVERNA

aparência das coisas. A realidade sensível é “sombra” da realidade inteligível e só revela sua identidade quando contrastada com a dimensão inteligível. As entidades matemáticas são sombra das Formas e só podem ser bem compreendidas quando contrastadas com elas. As Formas, por sua vez, são mais bem compreendidas quando contrastadas com a Forma do Bem. Dizendo de “trás para a frente”, a Forma do Bem ilumina a compreensão das Formas, que iluminam a compreensão das entidades matemáticas, que iluminam a compreensão das coisas sensíveis, que, por sua vez, iluminam a compreensão das aparências. O contraponto realizado nas duas direções (subindo do sensível até o Bem e descendo dele até o sensível) recebeu o nome de dialética: método que reproduz um diálogo ou um contraponto de posições, confrontando-as até chegar a um acordo ou a um desacordo. Se lembrarmos que o motor de toda essa educação é o amor, poderemos dizer que Platão propôs uma concepção de educação como dialética do amor. No livro VII da obra A República, Platão mostra, por meio de uma alegoria, como se dá a educação dialética do amor. Trata-se da Alegoria da Caverna . Uma alegoria é uma explicação por metáforas. Esse procedimento é estratégico para Platão, pois ele sabe que, naturalmente, as pessoas compreendem melhor por imagens. A caverna em que vivem os seres humanos (caverna da crença nas aparências) pode ser o ponto de partida da libertação que faz sair da própria caverna (chegar às Formas). A alegoria é apresentada na forma de um diálogo entre o filósofo Sócrates ( p. 157) e o seu interlocutor Glauco. MUNDO EXTERNO Sol Seres naturais Sombras (refletidas na água)

Fogo Objetos (coisas fabricadas) Sombras (refletidas na parede) Atitude de crença (confiança, opinião)

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Filosofia e filosofias – existência e sentidos

Atitude de conhecimento (inteligência, saber)


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