360 portugues unico

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PRIMEIRA LEITURA

Pausa. In: A vaca e o hipogrifo, de Mario Quintana, Alfaguara, Rio de Janeiro. © by Elena Quintana

Luis Humberto/Coleção Abril/Latinstock

Stechetti: pseudônimo do escritor italiano Olindo Guerrini (1845-1916), autor da frase “lo sonno un poeta o sonno un imbecile?” (Eu sou um poeta ou sou um imbecil?).

LEITURA

Mario Quintana (1906-1994) Poeta suI-rio-grandense, buscou sempre uma poesia simples e despojada. Publicou mais de uma dezena de livros, entre os quais se destacam: A rua dos cataventos (1940), Espelho mágico (1948), O aprendiz de feiticeiro (1950), Caderno H (1973), Apontamentos de história sobrenatural (1976), A vaca e o hipogrifo (1977), Esconderijos do tempo (1980).

Literatura e realidade: representação e invenção

A leitura constitui o ponto de partida e o ponto de chegada dos estudos literários. Os textos, apresentados ao longo dos capítulos, pontuam e exemplificam os tópicos de desenvolvimento do tema ou as particularidades da escola literária em questão.

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LEITURA Observe as paisagens brasileiras pintadas no início do Romantismo no Brasil.

Ferdinand Krumholz. 1848. Óleo sobre tela, 128,5 × 98 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Dom Quixote e Sancho Pança: personagens da novela Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, escritor espanhol do século XVI. Os dois personagens representam os dois lados da alma e do comportamento de todo ser humano: Dom Quixote é o símbolo do idealismo, do sonho, da imaginação, do espírito de aventura; Sancho Pança, do realismo, do espírito prático, dos interesses imediatos.

Pausa Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura de minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa. Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas? Com algum ciclista tombado? Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo? E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará. E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois — Dom Quixote ou Sancho? — vive uma vida mais intensa e portanto mais verdadeira... E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida. Esse enigma, eu o passo a ti, pobre leitor. E agora? Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti: “Io sonno un poeta o sonno un imbecile?” Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia... A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele. E daí? — Mas o melhor — pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança —, o melhor é repor depressa os óculos no nariz.

Manuel José de Araújo Porto-Alegre (1806-1879) Um dos iniciadores do Romantismo brasileiro, era pintor, arquiteto, poeta e jornalista. Nicolas-Antoine Taunay. 1811. Óleo sobre tela, 44,5 × 36,5 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Esta seção traz a leitura e o estudo de um texto representativo do tema ou da escola literária a ser focalizada, servindo de gatilho para a apreensão das principais características do estilo a ser estudado.

PRIMEIRA LEITURA

Manuel de Araújo Porto-Alegre. 1833. Óleo sobre tela, 65 × 81,2 cm. Coleção particular

Literatura e realidade: representação e invenção

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Grande cascata da Tijuca (1833), de Araújo Porto-Alegre. Félix Taunay. 1843. Óleo sobre tela, 134 × 195 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

capítulo

André Ducci

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LITERATURA

Félix-Émile Taunay (1795-1881) Pintor e poeta francês, veio para o Brasil com seu pai, membro da Missão Artística Francesa. Foi professor e diretor da Academia Imperial de Belas Artes. Era pai do escritor Alfredo d’Escragnolle Taunay, autor do romance Inocência.

Mata reduzida a carvão (1843), de Félix-Émile Taunay.

A poesia romântica

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GRAMÁTICA EXPOSIÇÃO TEÓRICA Metáfora

A exposição teórica sistematiza, em linguagem clara e objetiva, os conceitos essenciais e outros aspectos importantes do assunto desenvolvido no capítulo.

NikoNomad/Shutterstock.com

Blackpixel/Shutterstock.com

Reveja estas duas imagens e considere algumas características de cada uma delas.

Características da Estação Espacial • É moderna; • Move-se no espaço; • É colossal, impressionante; • “Conecta” o homem a uma aspiração (o Universo).

Características da catedral gótica • É antiga; • É fixa no chão; • É colossal, impressionante; • “Conecta” o homem a uma aspiração (Deus).

RESUMINDO O QUE VOCÊ ESTUDOU Verbo — palavra que exprime um fato (geralmente, uma ação, estado ou fenômeno) e que, por meio de flexões (variações de forma), pode localizar esse fato no tempo.

Estudo do verbo (1ª. parte) 1. Flexões do verbo

Pessoa 1ª. 2ª.

Número singular plural

3ª.

Modo

A

verbo “ser”

B

Observe que, nessa estrutura, estão explícitos os dois elementos mentalmente comparados. Veja este exemplo: • A Estação Espacial é a nossa catedral do futuro. A

verbo “ser”

B

O outro mecanismo, que origina metáforas mais elaboradas, consiste em não usar o verbo “ser”, deixando implícita, na própria palavra (ou expressão) metafórica, a referência a um dos elementos comparados. Veja estes dois exemplos: • A garotinha passava horas mergulhada em seus sonhos infantis. • “Os homens não melhoraram, e matam-se como percevejos. Os percevejos heroicos renascem. Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.”

Voz

indicativo subjuntivo

ativa passiva

futuro

Tempo

imperativo

reflexiva

Tempos simples e exemplos (verbo “cantar”)

Agora releia este trecho do texto “Catedrais em busca do desconhecido”:

“Essa catedral flutuante está sendo construída por 16 países [...].” O autor, percebendo certos pontos em comum entre as características de uma catedral e as da Estação Espacial, estabelece entre ambas uma comparação mental. É claro que a Estação Espacial não é, na realidade, uma “catedral”, mas os pontos de semelhança entre elas possibilitaram que o autor empregasse essa palavra para se referir à Estação Espacial. Ele criou, assim, uma metáfora. Existem dois mecanismos linguísticos que possibilitam a criação de metáforas. Um deles, que ocorre nas metáforas mais usuais, pode ser assim esquematizado:

Modo

presente pretérito

2. Modos verbais e seus tempos simples

características comuns à catedral e à Estação Espacial

O QUE DIZEM OS LINGUISTAS Temos metáfora toda vez que, indo além da simples apresentação de propriedades comuns, pensamos uma realidade nos termos de outra. O exercício de pensar uma realidade em termos do que ela não é nos leva sempre a alguma descoberta, por isso mesmo a metáfora é uma poderosa fonte de novos conhecimentos e novos comportamentos. Pensar uma realidade em termos de outras proporciona também um prazer estético.

(Carlos Drummond de Andrade) Figuras de linguagem

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Ao final de cada seção teórica, são apresentadas fichas que resumem esquematicamente o essencial do capítulo.

Presente — Eu canto, tu cantas, ele canta etc. Pretérito perfeito — Eu cantei, tu cantaste, ele cantou etc. Pretérito imperfeito — Eu cantava, tu cantavas, ele cantava etc. Pretérito mais-que-perfeito — Eu cantara, tu cantaras, ele cantara etc. Futuro do presente — Eu cantarei, tu cantarás, ele cantará etc. Futuro do pretérito — Eu cantaria, tu cantarias, ele cantaria etc.

Subjuntivo

Presente — Que eu cante, que tu cantes, que ele cante etc. Pretérito imperfeito — Se eu cantasse, se tu cantasses, se ele cantasse etc. Futuro — Quando eu cantar, quando tu cantares, quando ele cantar etc.

Imperativo

Afirmativo — Canta (tu), cante (você), cantemos (nós) etc. Negativo — Não cantes (tu), não cante (você), não cantemos (nós) etc.

3. Formação do imperativo • Imperativo afirmativo • tu e vós — vêm do presente do indicativo, sem o s final. • você, nós, vocês — vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo.

RESUMINDO O QUE VOCÊ ESTUDOU

ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica: brincando com a gramática. São Paulo: Contexto, 2004. p. 109.

Indicativo

Ex.: fala (tu), fale (você), falemos (nós), falai (vós), falem (vocês) • Imperativo negativo — Suas cinco formas são as mesmas do presente do subjuntivo. Ex.: não fales (tu), não fale (você), não falemos (nós), não faleis (vós), não falem (vocês)

Atividades

Escreva no caderno

1. O trecho de texto a seguir faz referência a uma possível chegada dos espanhóis ao Brasil, em janeiro de 1500. A praia estava deserta. Não havia ninguém ao longo da enseada e nem nas matas que a cercavam. A areia, porém, se encontrava repleta de pegadas, num claro sinal de que a terra era habitada. Tal evidência não impediu que os marujos recém-desembarcados gravassem seus nomes e o de seus navios nas árvores e nas rochas costeiras e, a seguir, imprimissem o dia, o mês e o ano de seu desembarque, tomando conta daquele território em nome da Coroa de Castela. Era 26 de janeiro de 1500 [...]. BUENO, Eduardo. Náufragos, traficantes e degredados. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998. p. 11.

Imagine que você seja um dos marujos referidos no texto e, fazendo todas as adaptações necessárias, reescreva-o como se você estivesse vendo e vivendo neste momento os fatos relatados.

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CAPÍTULO 9

LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO EXPOSIÇÃO TEÓRICA Em nosso trabalho sobre como se produz um texto jornalístico, começaremos pela notícia, que consiste em informar sobre um acontecimento, considerado importante ou interessante para um determinado público. O ineditismo, a atualidade e a veracidade são aspectos fundamentais da notícia. Trata-se, portanto, de um gênero de relato que abrange uma variedade grande de leitores. Por isso, a notícia precisa ser clara, objetiva, sucinta e o mais esclarecedora possível, sem apresentar, portanto, o posicionamento de quem enuncia os fatos. As informações que aparecem na notícia sempre destacam os aspectos principais de um fato em relação aos de interesse secundário, que, inclusive, podem ser suprimidos, no caso de faltar espaço na página. O repórter vive em busca de uma história, da qual destaca elementos que considera importantes para sua composição: os agentes, as vítimas (quem, com quem), as ações (o quê), os complementos (como, quando, onde, por quê). Assim, ele imprime uma ordem à história, suprimindo grande parte da sequência temporal, para torná-la simples, interessante.

O lide A palavra lide, que significa cabeça, abertura do texto da notícia ou da reportagem, é proveniente do inglês lead — guiar, encabeçar, conduzir, induzir. O lide apresenta sucintamente o assunto ou destaca o fato essencial, o clímax da história. Sua forma de apresentação pode variar, mas é regra na imprensa que os principais aspectos de um fato estejam logo no início do texto. O lide integral (lide + sublide), mais comum no Brasil, está concentrado geralmente nos dois primeiros parágrafos e responde às perguntas básicas 3 Q (o quê, quem, quando) + C (como) + PQ (por quê).

O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS Embora seja a síntese da notícia e da reportagem, não existe um modelo para a redação do lide. Ele pede que se responda às questões principais em torno do acontecimento (o quê, quem, quando, como, onde, por quê — não necessariamente nessa ordem). O texto do lide dependerá sobretudo da própria argúcia do jornalista para descobrir, no conjunto de sua apuração, aquilo que é o ponto mais forte, atual e de mais amplo interesse em relação à realidade que está vivendo. MANUAL da redação da Folha de S.Paulo. São Paulo: Publifolha, 2015. p. 28-29.

A notícia e outros gêneros A notícia, principalmente pelo lide, pode ser o ponto de partida de outros gêneros jornalísticos, como a reportagem. Esta vai além do que a notícia informou, buscando as raízes e os desdobramentos do fato. Enquanto as notícias dos jornais (televisivos, impressos e on-line) lidam com o imediatismo dos acontecimentos cotidianos, a reportagem caracteriza-se pelo aprofundamento e análise dos temas; por isso, é mais comum em revistas de publicação periódica, mas ocasionalmente pode ser veiculada também na TV e na internet. Para relatar um fato, o jornalista precisa apurar o máximo de informações possível, nunca deve omitir informações e deve contar o que aconteceu da maneira mais neutra possível, sem ser tendencioso.

O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS O sublide (sub-lead ), diferentemente do lide, é uma invenção brasileira, que corresponde ao parágrafo seguinte ao lide, no qual se agrupam os fatos que têm importância inferior à do lide. É o “jeitinho brasileiro’’ no modelo da pirâmide, que funciona como pescoço: dá sustentação à cabeça, faz sua conexão com o tronco e hospeda informações menores.

PRIMEIRA LEITURA

JORGE, Thais de Mendonça. Manual do foca: guia de sobrevivência para jornalistas. São Paulo: Contexto, 2015. p. 134.

Notícia

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A exposição teórica fornece subsídios para o desenvolvimento das capacidades de leitura e expressão oral e escrita tanto dos gêneros textuais quanto das tradicionais sequências tipológicas – descrição, narração, dissertação –, fundamentais para o exercício da cidadania.

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Esta seção apresenta um texto que destaca ou exemplifica ora o gênero, ora a estrutura ou o tema a ser desenvolvido no capítulo.

capítulo

Dissertar e narrar: assumindo um ponto de vista

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PRIMEIRA LEITURA Leia o ensaio a seguir.

A esperança como dever 1 Não leia. Pare. Olhe. Ali, adiante. Mais à frente. Um carro voando. Um foguete a 150 por hora. Chispando, zunindo. Soltando faísca. Um brilho no rastro azul. Zás. Pura adrenalina. Verniz derrapando. Borracha queimando, lambendo o asfalto. A cena voa. Corações galopam. 2 Um carro passa a mais de 100 km. Suponha. Imagine. Dois observadores emudecem, assombrados. Ali adiante, a 200 metros de onde estão os observadores, há um buraco no meio da estrada. O Alex Pereira Barbosa, mais conhecido como MV Bill, Rio de Janeiro, 2009. primeiro observador acredita que ainda haja tempo para desviar e que o motorista possa evitar o acidente, reduzindo a velocidade e contornando o buraco. Intui a salvação. Aposta nisso. O outro pensa o contrário: o motorista não percebeu o que vai encontrar pela frente; o acidente é inevitável. Ambos se agitam. Gritam. Mal expressam suas avaliações. 3 Em poucos segundos, o carro se arrebenta no buraco que o engole. Digamos que o acidente aconteça. Suponhamos que isso tenha acontecido. Isso quer dizer que o segundo observador estava certo? A existência do acidente dá razão a quem o previra? O fato de que o carro tenha caído no buraco desautoriza aquele que formulou a hipótese de que não haveria acidente? O acidente justifica a desqualificação do primeiro observador como equivocado? Pode-se dizer que, julgando-se as previsões a partir da realidade já configurada do acidente, a hipótese de que ele não aconteceria estava errada? Não expressaria nada mais que um otimismo ingênuo? Em outras palavras, o futuro é um tribunal infalível sobre as verdades das previsões a seu respeito? O futuro, quando se torna presente, é o árbitro irrefutável das profecias? 4 A melhor resposta seria: não necessariamente. Depende. Quando a situação observada ainda permite a intervenção de um fator incontrolável e imprevisível (como a ação humana, no caso do acidente), cuja participação tem o poder de alterar em um ou outro sentido o destino do processo observado, as duas previsões são igualmente legítimas, plausíveis, razoáveis ou racionais. Ou seja, nenhuma hipótese pode ser excluída; tanto a hipótese otimista quanto a pessimista são realistas, isto é, são corretas, enquanto hipóteses — ainda que o fato de serem corretas não prognóstico: predição, garanta que suas previsões venham a ser confirmadas. Aliás, isso não poderia presságio; mesmo ocorrer, pois o acontecimento futuro necessariamente excluiria uma conjectura: suposição, das profecias, já que elas são contraditórias entre si. hipótese. 5 Dizendo de outro modo: quando o carro passou, os dois observadores estavam certos em seus prognósticos, mesmo que depois uma das previsões seja frustrada pela realidade. No primeiro momento, os dois futuros eram possíveis. Um dos observadores resolveu apostar no motorista, em sua atenção e perícia; o outro decidiu optar pela hipótese de que a atenção e a destreza despertariam tarde demais. Quando a liberdade humana e a habilidade de empregá-la constituem fatores decisivos, nenhuma previsão, por mais plausível que seja, pode ser absoluta e excluir profecias rivais. Quando a liberdade é uma variável significativa, em uma equação, nenhum futuro pode ser excluído. Afinal, a liberdade é o outro lado da imprevisibilidade, da indeterminação, e portanto da incerteza. Por isso, nas coisas humanas, onde está presente a liberdade, a ação, a criatividade, não há certeza. Mudanças são sempre possíveis. [...]

TASSO MARCELO/AGÊNCIA ESTADO/Estadão Conteúdo

A NOTÍCIA

Reproduzir página 825 parte 3

Dissertar e narrar: assumindo um ponto de vista

825

1/9/17 5:17 PM


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