Reset - David Murray

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“A verdade simples é esta: eu precisava deste livro exatamente agora! Existem verdades neste volume — entendimentos pastorais e conselhos que curam — que falam de maneira muito pessoal e terna. Ocasionalmente, o ponto de Murray é tão claro — claro demais — a ponto de parecer que recebi um tapa na cara. Mas sempre, sempre, o ponto é me conduzir a Cristo e ao abraço do evangelho. No melhor sentido possível, isto é remédio para a alma, e sou grato ao autor por escrevê-lo. Realmente parece que ele o escreveu para mim.” Derek W. H. Thomas, Pastor titular da First Presbyterian Church, Columbia, South Carolina; Professor de teologia sistemática e pastoral, Reformed Theological Seminary – Atlanta “Este livro é muito atual. Para começar, depois que você o tiver lido, dormirá melhor. Então, você será levado ao encontro da teologia essencial e os detalhes de todas as coisas ligadas à nossa vida estressada, em que David oferece sabedoria em cada página. Este livro é perfeito para grupos de homens.” Ed Welch, conselheiro; membro do corpo docente da Christian Counseling and Educational Foundation “Por tempo demais, quer consciente quer subconscientemente, nós cristãos temos comprado a mentira platônica de que o espírito é importante, mas não o corpo. O resultado é que temos negligenciado, talvez até mesmo usado mal o nosso corpo. Não é de admirar que lutemos com problemas de alimento, de sono e de saúde — tanto física quanto mentalmente. Em Reset, David Murray nos faz


retornar a uma antropologia bíblica, dando-nos bases bíblicas e teológicas com as quais podemos reorganizar nossa vida como pessoas inteiras — de corpo e espírito — para a glória de Deus, para o nosso bem-estar, e para o serviço ao próximo.” Juan R. Sanchez, Pastor titular da High Pointe Baptist Church, Austin, Texas; “De um vasto reservatório de experiências pessoais, pesquisas sociais autenticadoras e sabedoria teológica para todo o tempo, David Murray faz brilhar uma luz esclarecedora sobre os obscuros perigos do esgotamento pastoral. Ele oferece também direção prática, sobre como o jugo suave de aprendizado com Jesus torna possível a vida marcada pela graça, a qual conduz à integridade pessoal e vocacional. Recomendo muito esta abordagem necessária.” Tom Nelson, autor de Work Matters; Pastor titular da Christ Community Church, Overland Park, Kansas; Presidente do Made to Flourish “Homens, este livro cheio de sabedoria é como um treinador pessoal para a sua vida diária. Aquele que o escreve entende o que significa ser homem, com os cuidados e sonhos de um homem. Ele se preocupa profundamente com o corpo e a alma masculina que Deus deu a você. Você foi criado com grande propósito. David Murray quer ajudá-lo a aprender como avaliar de maneira prática a sua vida, a recuperar o seu propósito, e a viver com propósito!” Zack Eswine, Pastor titular da Riverside Church, Webster Groves, Missouri; autor de O Pastor Imperfeito (Editora Fiel)


“Reset é um livro cheio de surpresas. Enquanto as estatísticas e os sociólogos brigam por espaço ao lado de Charlie e a fantástica fábrica de chocolate e um haggis de kilt, tudo é colocado dentro de robusta antropologia bíblica e da psicologia pastoral bem fundamentada. Tudo isso é permeado com fino toque de humor escocês autodepreciativo. Dr. Murray é como Jeremias no rigor e amor com o qual procura ‘arrancar e derrubar… construir e plantar’. Mas é também como Jesus ao empregar a graça desconstrutora e reconstrutora do evangelho. Eis um livro repleto de sabedoria espiritual prática – e uma leitura essencial.” Sinclair B. Ferguson, Professor de Teologia Sistemática, Redeemer Seminary, Dallas, Texas “Em Reset, David Murray tira nossos dedos do aperto mortal que sofremos pela idolatria ao ativismo. Confesso ser viciado em trabalho, assim este livro chegou na hora certa para mim. Implementei rapidamente as estratégias delineadas no livro, e experimentei resultados imediatos em termos de alívio, descanso e paz. Este livro é implacavelmente honesto, refrescantemente conciso e eminentemente prático, e pode literalmente salvar o seu casamento, o seu ministério e a sua saúde. Eu me vejo visitando novamente o Reset toda vez que preciso me lembrar da graça de ambos: trabalho e descanso.” Jemar Tisby, cofundador e presidente da Reformed African American Network “Você tem em mãos o que possivelmente será o livro mais culturalmente relevante para pastores que eu tenha lido. Contida neste livro está a resposta à epidemia entre pastores e homens cristãos que se esforçam muito, que estão em colapso


físico, emocional e espiritual, devido ao ritmo veloz exigido pela cultura moderna. Murray expõe um plano totalmente bíblico, imensamente prático, para qualquer homem cristão que queira de volta a sua vida que foi capturada pela escravidão de sua agenda. O belo testemunho pessoal de Murray da própria necessidade de descanso vale pelo livro todo. Este livro será leitura obrigatória para todo pastor que conheço.” Brian Croft, Pastor titular da Auburndale Baptist Church, Louisville, Kentucky; fundador do Practical Shepherding; docente senior no Church Revitalization Center, The Southern Baptist Theological Seminary



M981r

Murray, David P. Reset : vivendo no ritmo da graça em uma cultura estressada / David Murray ; [tradução: Elizabeth Gomes]. – São José dos Campos, SP: Fiel, 2018. Tradução de: Reset : living a grace-paced life in a burnout culture. Inclui referências bibliográficas. ISBN 9788581325736 (impresso) 9788581325743 (e-book) 1. Homens cristãos – Vida religiosa. 2. Burnout (Psicologia) – Aspectos religiosos – Cristianismo. I. Título. CDD: 248.842

Catalogação na publicação: Mariana C. de Melo Pedrosa – CRB07/6477 RESET: Vivendo no ritmo da graça em uma cultura estressada traduzido do original em inglês: Reset: Living a Grace-Paced Life in a Burnout Culture Copyright © 2017 by David Philip Murray

Publicado originalmente por Crossway 1300 Crescent Street Wheaton, Illinois 60187 Copyright © 2018 Editora Fiel Primeira edição em português: 2018 Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária

Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Diretor: James Richard Denham III Editor: Tiago J. Santos Filho Tradução: Elizabeth Gomes Revisão: Marilene Paschoal e Voleide Alves Gonçálves Diagramação: Rubner Durais Capa: Rubner Durais ISBN: 9788581325736 (impresso) 9788581325743 (e-book) Caixa Postal 1601 CEP: 12230-971 São José dos Campos, SP PABX: (12) 3919-9999 www.editorafiel.com.br


Aos pastores, presbíteros e diáconos da Grand Rapids Free Reformed Church. Vocês me ensinaram, por palavra e exemplo, o que significa ser um homem de Deus.



SUMÁRIO Introdução.................................................................................11 Oficina de reparos 1: Verificação da Realidade.....................21 Oficina de reparos 2: Revisão..................................................41 Oficina de reparos 3: Descanso...............................................61 Oficina de reparos 4: Recriação...............................................83 Oficina de reparos 5: Relaxar............................................... 101 Oficina de reparos 6: Repensar............................................ 121 Oficina de reparos 7: Reduzir............................................... 141 Oficina de reparos 8: Reabastecer........................................ 161 Oficina de reparos 9: Relacionamentos............................... 179 Oficina de reparos 10: Ressurreição.................................... 199 Agradecimentos .................................................................... 219



INTRODUÇÃO

Foi um dos momentos mais humilhantes de minha vida. Eu acabara de passar por uma bem-sucedida temporada de inverno nas corridas do colégio e estava começando o treino para as corridas da primavera. O treinador começou com uma série de corridas de oitocentos metros, com o objetivo de dividir os corredores de meia e de longa distância em primeiro e segundo times. Eu não treinara antes porque estava acostumado a corridas muito mais longas em condições muito piores. Sabia que teria de correr um pouco mais depressa na distância mais curta; assim, zarpei ao som do tiro. Quando estava no meio da primeira volta, me achava uns bons cinquenta metros adiante de todos os demais. “Isso é muito fácil”, pensei. Não tinha os sinais usuais de corrida em campo para me ajudar a cronometrar minha velocidade, mas numa corrida tão curta em uma temperatura tão agradável da primavera, o que poderia dar errado? No final da primeira volta, meus pulmões começavam a arrebentar e minha liderança por cinquenta metros passou a ser de vinte e cinco. Logo, um corredor me ultrapassou e, em seguida, outro e mais outro, até que um dos corredores piores da minha turma passou por mim com um sorriso de deboche. No marco de seiscentos metros, resolvi ficar “machucado” e caí desmontado ao lado da pista.


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Do modo mais difícil, aprendi que manter o passo certo na corrida é uma das habilidades mais importantes para os atletas de corrida. Se formos devagar demais, fracassamos, sem jamais vencer ou cumprir todo o nosso potencial. Se formos depressa demais, fracassamos ao nos ferir ou perdendo a força antes de chegar à linha de chegada. Encontrar o ritmo perfeito, o doce ponto entre devagar demais e depressa demais, é essencial para o sucesso e a longevidade como atleta — e como cristão.

ACELERAR E DESACELERAR Em anos recentes, numerosos líderes cristãos têm conclamado cristãos letárgicos e de coração dobre a acelerar o seu ritmo, a dedicar mais de seu tempo, talentos, dinheiro e esforços para servir o Senhor na igreja local e no trabalho evangelístico, em casa e no exterior. Dou boas-vindas a essa mensagem “radical” de “não desperdice a sua vida”, de acelere o passo, e me alegro por seu impacto positivo sobre milhares de cristãos, especialmente entre as gerações mais jovens. Há outros, porém, muitos deles cristãos fiéis e zelosos, especialmente aqueles com mais de trinta e cinco anos de idade, que precisam ouvir uma mensagem diferente: “Desacelere o passo ou você nunca vai terminar a corrida”. Como advertiu Brady Boyd em seu livro Addicted to Busy: “Afinal, todo problema que vejo em cada pessoa que conheço é um mexer-se rápido demais por tempo demais em demasiados aspectos da vida”.1 Não estou propondo que ponhamos os pés para cima e saiamos da vida e do serviço cristão. Não. Estou falando de 1  Brady Boyd, Addicted to Busy: Recovery for the Rushed Soul (Colorado Springs: Cook, 2014), 44.


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ajustar com cuidado as mudanças na vida ao envelhecermos, quando as responsabilidades aumentam, as famílias crescem, os problemas se multiplicam, os níveis de energia diminuem, e surgem complicações na saúde. É o que os corredores de sucesso fazem ao manter o ritmo certo. São sensíveis a mudanças significativas em si e às condições da corrida, configurando novamente o ritmo para evitar se machucar ou cansar demais, garantindo um final feliz e bem-sucedido. Descobri que essa habilidade de manter o ritmo está em falta entre homens cristãos, sendo que o resultado é que muitos — especialmente aqueles mais dedicados a servir a Cristo em suas famílias, no seu lugar de trabalho e na sua igreja local — estão desmoronando ou murchando antes da corrida terminar. Mas isso não é um problema apenas de cristãos; é também um problema cultural. Nos Estados Unidos, perdem-se uns duzentos e vinte e cinco milhões de dias de trabalho a cada ano devido ao estresse; são quase um milhão de pessoas que faltam ao trabalho a cada dia.2 E, os dados a respeito de pastores são especialmente preocupantes, com altos índices de estresse, depressão e esgotamento, os quais levam a corpos quebrados, mentes detonadas, corações despedaçados, casamentos falidos, igrejas quebradas. (O esgotamento é responsável por vinte por cento de todas as demissões de pastores.3) Isto não nos surpreende, visto que as pesquisas revelam que os pastores relegam exercício físico, nutrição e sono 2  Richard Swenson, Margin: Restoring Emotional, Physical, Financial, and Time Reserves to Overloaded Lives (Colorado Springs: NavPress, 2004), 43-44. 3  Lisa Cannon-Green, “Why 734 Pastors Quit (and How Their Churches Could Have Kept Them)”, Christianity Today, January 12, 2016, http://www.christianitytoday.com/gleanings/2016/january/why-734-pastors-quit-how-churches-could-havekept-them.html.


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a uma prioridade muito inferior à de outros trabalhadores.4 Já estive nessa condição e fiz isso — sofrendo as consequências. Através de experiências pessoais dolorosas, e também por aconselhar muitas outras pessoas desde então, aprendi que Deus graciosamente tem provido várias maneiras para reajustar vidas quebradas e esgotadas, e para nos ajudar a viver orientados pela graça dentro de uma cultura de esgotamento. Embora dois esgotamentos não sejam idênticos, ao aconselhar inúmeros cristãos que passam por isso, tenho notado que a maioria tem em comum uma coisa — existe “deficit da graça”. Não é que estes cristãos não creiam na graça. De modo nenhum. Todos eles estão bem fundamentados nas “doutrinas da graça”, e muitos deles são pastores que pregam a graça poderosamente cada semana. Os “cinco solas” e os “cinco pontos” são para eles alimento e bebida teológica, mas possuem uma desconexão entre a graça teológica e sua vida diária, resultando em cinco deficit da graça.

CINCO DEFICIT DA GRAÇA Primeiro, o poder motivador da graça está em falta. Como ilustração, tomemos cinco pessoas que imprimem Bíblias na mesma linha de montagem. O Sr. Dólar pergunta: “Como consigo ganhar mais dinheiro?” O Sr. Ambicioso pergunta: “Como vou conseguir uma promoção?” O Sr. Agradador pergunta: “Como posso deixar meu chefe mais feliz?” E, o Sr. Egoísta pergunta: “Como posso obter satisfação pessoal em meu trabalho?” Todos eles parecem se sentir chateados. Então, encontramos com o Sr. Graça, que pergunta: “Em vista da 4  Gary Harbaugh, Pastor as Person: Maintaining Personal Integrity in the Choices and Challenges of Ministry (Minneapolis: Augsburg Fortress, 1984), 47.


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graça maravilhosa de Deus em Cristo para mim, como poderei servir melhor a Deus e ao próximo aqui, no meu trabalho?” Do lado de fora, parece que todos os cinco estão fazendo o mesmo trabalho, mas por dentro, são completamente diferentes. Os primeiros quatro estão lutando, estressados, ansiosos, temerosos e exaustos. O Sr. Graça, porém, está tão energizado por gratidão, pela graça, que o seu trabalho o satisfaz e estimula em vez de esgotá-lo. Onde a graça não estiver abastecendo uma pessoa de dentro para fora, essa pessoa se queima de dentro para fora. Também está ausente o poder moderador da graça. Ao lado do Sr. Graça, o Sr. Perfeccionista se orgulha de seu desempenho sem defeitos. Caso ele cometa um erro no trabalho, ele repreende e castiga a si mesmo. Leva esse perfeccionismo legalista ao relacionamento com Deus e com o próximo, resultando em constantemente decepcionar-se consigo mesmo, com os outros, e até mesmo com Deus. O trabalho do Sr. Graça tem a mesma alta qualidade que o trabalho do Sr. Perfeccionista, mas a graça modera suas expectativas. Aos pés da cruz, ele aprendeu que não é perfeito e jamais o será. Aceita que tanto seu trabalho quanto os seus relacionamentos são falhos. Em vez de se atormentar com essas imperfeições, calmamente as leva ao Deus perfeito, sabendo que, por sua graça, Deus perdoa suas falhas e, em amor, aceita-o como perfeito em Cristo. Para obter aprovação humana ou divina, ele não precisa servir, sacrificar-se, ou sofrer, porque Cristo já serviu, sacrificou-se, e sofreu em favor dele. Sem a graça motivadora, apenas descansamos em Cristo, e não agimos. Sem a graça moderadora, corremos sem parar — até nos esgotarmos em tudo. Precisamos da pri-


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meira graça para nos aquecer ao fogo quando estivermos perigosamente frios; precisamos da segunda para nos refrescar quando estivermos perigosamente quentes. A primeira nos tira da cama; a segunda nos põe para dormir na hora certa. A primeira reconhece as exigências justas de Cristo sobre nós; a segunda recebe a plena provisão de Cristo para nós. A primeira diz: “Apresentem o corpo em sacrifício vivo”; a segunda diz: “O seu corpo é o templo do Espírito Santo”. A primeira vence a resistência de nossa “carne”; a segunda respeita as limitações da nossa humanidade. A primeira nos faz aumentar a velocidade; a segunda nos força a ir mais devagar. A primeira diz: “Filho meu, dá-me as tuas mãos”; a segunda diz: “Filho meu, dá-me o teu coração”. O poder multiplicador da graça também é raro em vidas esgotadas. Na linha de montagem, alguns obreiros cristãos são impulsionados por alvos de produção. Se estiverem aquém de sua quota diária de Bíblias, vão para casa deprimidos, porque “cada Bíblia que deixamos de imprimir e empacotar é uma alma não alcançada”. Como tudo depende do seu suor e músculos, eles trabalham horas extras e quase não têm tempo para oração pessoal. Porém, o Sr. Graça, trabalha no horário normal, e ainda tem tempo e paz para orar pedindo a bênção de Deus sobre cada Bíblia que passa por suas mãos. Trabalha muito, mas depende da graça de Deus para multiplicar o seu trabalho. Reconhece que, enquanto uma pessoa planta a outra rega, e Deus dá o crescimento. Vai para casa feliz, sabendo ter feito o que pôde, e ao deixar a fábrica às cinco da tarde, ele ora, pedindo que Deus multiplique sua obra muito além do que os músculos ou as horas poderiam fazer.


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O poder da graça que alivia tem faltado frequentemente quando uma pessoa se esgota. O Sr. Controlador, por exemplo, pensa que tudo depende dele. Ele se envolve em cada passo do processo produtivo, constantemente irritando os outros trabalhadores com o seu microgerenciamento. Fica furioso com qualquer quebra na produção, gritando com as pessoas e até mesmo com as máquinas quando emperram. Ele diz crer na “graça soberana”, mas ele é o soberano e a graça fica limitada à salvação pessoal. Em contraste, o Sr. Graça reconhece que Deus é soberano mesmo nos pequenos detalhes da vida, e abre mão do controle, entregando tudo nas mãos de Deus. Trabalha com esmero, mas humildemente se submete aos empecilhos e problemas, aceitando-os como testes de sua confiança no controle de Deus. Em meio aos desafios e atrasos, muitas vezes pode ser ouvido sussurrando a si mesmo: “Solte. Abra mão, abra mão”. Algo que também falta em muitos esgotamentos é o poder receptor da graça. Diferente do Sr. Graça, a maioria de seus chefes e colegas de trabalho recusa aceitar alguns dos melhores dons de Deus. Não recebem a graça de um descanso (Sabbath) semanal do domingo, a graça do sono suficiente, a graça do exercício físico, a graça de estar com a família e amigos, ou a graça da comunhão cristã. Todos estes são dons que o nosso amado Pai celestial proveu para nos dar refrigério e renovar as suas criaturas. Em vez de recebê-los humildemente, a maioria recusa-os e rejeita-os, pensando que essas graças são para os fracos. Sim, é mais bem-aventurado dar do que receber. Mas se nós não estivermos também recebendo, o nosso doar acaba ressecando. Enquanto existirem esses cinco deficit de graça na vida dos cristãos, o quintal de desmanche vai continuar enchendo-


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-se de crentes quebrados e esgotados. Mas ao conectar a graça de Deus cada vez mais à nossa vida diária — desenvolvendo essas cinco graças — aprendemos a viver a vida no ritmo da graça dentro de uma cultura de esgotamento. É isto que este livro o treinará a desenvolver.

SÓ NA MEIA IDADE? Este não é um livro só para homens de meia idade. Toda vítima de esgotamento lhe dirá que os padrões insalubres de vida e trabalho aprendidos na juventude causaram a sua derrocada mais tarde na vida. Se existe algum grupo em perigo hoje em dia, é a geração millennial (dos 18 a 33 anos de idade), cujos níveis de estresse estão acima da média nacional, conforme relato da Associação Americana de Psicologia. Trinta e nove por cento dos millennials dizem que seu estresse tem aumentado no ano que passou, e cinquenta e dois por cento disseram que as pressões quanto ao trabalho, dinheiro e relacionamentos os têm mantido acordados à noite no mês passado, sendo clinicamente deprimido um em cada cinco, com necessidade de medicação.5 Como a prevenção é sempre melhor do que a cura, espero que este livro ajude também a homens mais jovens a aprenderem a renovar o corpo e a alma a fim de viverem vidas pautadas pela graça em vez de fazerem parte das estatísticas.

SOMENTE HOMENS? Por que escrever só para homens? As mulheres também não correm demais, se deprimem e se esgotam? É claro que sim; 5  Sharon Jayson, “The State of Stress in America”, USA Today, February 7, 2013, http://www.usatoday.com/story/news/nation/2013/02/06/stress-psychology-millennials-depression/1878295/.


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mas frequentemente, elas o fazem de modo diferente dos homens, e por razões diferentes; algumas das soluções também são diferentes. Por este motivo é que minha esposa, Shona, está juntando-se a mim para escrever comigo uma sequência deste livro, um Reset para mulheres, se você quiser chamar assim. Como minha esposa há vinte e cinco anos, mãe de cinco filhos (entre dois e vinte anos de idade), médica de família há quinze anos, que sofreu de depressão no passado, e tem aconselhado a muitas mulheres através de muitos anos, Shona trará uma perspectiva feminina especial aos problemas que as mulheres enfrentam nesta área e às soluções que podem ajudar as mulheres cristãs a viverem no ritmo da graça dentro de uma cultura de estressada. Então, as mulheres deverão deixar este livro de lado para esperar sair a versão feminina? Não! Se você quer entender melhor o seu marido e ajudá-lo a viver uma vida pautada pela graça, continue lendo e corra junto com ele, enquanto se exercitam juntos na pista, a qual Deus o chamou para correr e na velocidade que o fará chegar à linha de chegada.

SOMENTE PASTORES? Quando Justin Taylor, da Crossway, originalmente me procurou pedindo que eu escrevesse este livro, tinha em mente um livro especialmente para pastores e outros líderes no ministério cristão. Porém, entre os e-mails, telefonemas e as visitas ao escritório que recebi de pastores estressados e esgotados no decorrer dos anos, tive também a presença de muitos homens cristãos com chamados não ministeriais que lutavam com desafios semelhantes e responderam bem a conselhos semelhantes. Por esta razão, resolvemos que o livro seria dirigido


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a homens cristãos em geral, mas com foco especial nos líderes de ministério cristão. Acreditamos ser este o melhor modo de ajudar o maior número de homens, pastores e não pastores, a descobrirem como reajustar suas vidas e gozar o equilíbrio saudável de motivação e moderação da graça exemplificado pelo apóstolo: Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. (Hb 12.1-2)


OFICINA DE REPAROS 1

VERIFICAÇÃO DA REALIDADE

“Você está com múltiplos coágulos de sangue nos dois pulmões.” Poucas horas antes, eu estava lendo e descansando numa poltrona em casa quando senti um aperto repentino no pescoço, uma pressão crescente que se espalhava pelo peito e braços. Era doído, mas não insuportável. Eu estava quente, sem fôlego, desorientado. Embora os sintomas durassem apenas uns dez minutos, a minha esposa, Shona (a experiente médica da família), insistiu que precisava de mais investigação. Mas quando chegamos ao pronto socorro, eu me sentia quase normal de novo, e gastei uns dez minutos tentando persuadi-la que deveríamos simplesmente ir para casa e não perder algumas horas e centenas de dólares com uma visita sem sentido ao pronto socorro. Felizmente Shona insistiu e eu concordei em entrar, sendo meu comentário final: “Estou fazendo isso por você, não por mim!” (Pobre mulher!) Ainda que os resultados do exame de coração fossem normais e o médico tivesse noventa e cinco por cento de certeza de que tudo estava em ordem, ele disse que era melhor verificar as enzimas do sangue, no hospital do centro da ci-


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dade, só para ter certeza que não houve ataque cardíaco… Enquanto eu protelava, Shona decidiu: “Sim, nós vamos lá”. No hospital, por acaso mencionei ao médico ter sentido dor no músculo da panturrilha desde domingo pela manhã, e que eu descartara como “um provavelmente repuxão do músculo ao fazer tae kwon do”. O médico fez uma pausa, voltou-se para mim, estreitou os olhos e perguntou: “Você tem viajado recentemente?” Eu disse ter dirigido o carro ao Canadá, na sexta-feira passada, voltando para Grand Rapids na segunda-feira pela manhã. O médico pareceu preocupado e resolveu testar meu sangue, só para descartar uma trombose venosa profunda (TVP) na minha perna. Uma hora mais tarde (logo depois da meia-noite), os resultados voltaram, positivos. Pela primeira vez, os alarmes começaram a soar na minha mente. Em seguida, mandaram-me fazer uma tomografia computadorizada. Trinta minutos depois, ouvi as palavras que mudariam minha vida (e eventualmente acabariam com ela): “Parece que você tem múltiplos coágulos sanguíneos nos dois pulmões [embolia pulmonar], provavelmente resultado de um coágulo na perna”. Disseram que eu deitasse na cama e ficasse o mais quieto possível para que outros coágulos não se soltassem da perna e bloqueassem meu pulmão. Deram-me uma dose alta de heparina, via oral e intravenosa, para estabilizar os trombos e começar a afinar meu sangue. Nas próximas trinta e seis horas fiquei profundamente abalado. Todas as piadinhas sobre coágulos sanguíneos que eu ouvira no passado resolveram inundar a minha mente, provavelmente em parte provocadas pelas palavras com que o médico encerrou a consulta: “Não se mexa na cama; você tem


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uma condição que ameaça sua vida”. Sem que eu pudesse dormir, seguiu-se uma confusão de exames, exames e mais exames que se seguiram durante todo o dia seguinte, com resultados flutuantes: aumentando minhas esperanças, para em seguida me desapontar e causar mais preocupação.

É BOM SER AFLIGIDO? Em um dos raros momentos de privacidade, que consegui agarrar na tempestade que foi a primeira noite no hospital, peguei um livro devocional diário ao lado da minha cama e abri na data do dia, para ali encontrar meditações sobre os seguintes versos: Em meio à tribulação, invoquei o SENHOR, e o SENHOR me ouviu e me deu folga. (Sl 118.5) Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos. (Sl 119.71)

Estes dois temas — gratidão a Deus por graciosamente me libertar e um desejo de aprender com esse trauma— ficaram comigo nos próximos dias. A principal lição foi dolorosamente clara: “Deus tem me caçado”. Esse foi o meu entendimento imediato e instintivo do motivo pelo qual o Senhor havia mandado esses coágulos de sangue na minha perna e meus pulmões. Três semanas e duas complicações mais tarde, eu estava cada vez mais convencido que Deus estivera atrás de mim por muitos meses, com flecha amorosa atrás de mais flechas amorosas, até me colocar no pó. Até um ano antes disso, eu vivera uma vida mais ou menos saudável e vigorosa. Com quase dois metros de altura e


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pesando oitenta e cinco quilos, eu estava no lado leve da média. Mas o trabalho e o ministério haviam eliminado qualquer exercício regular diário, e isso por alguns anos. Nos últimos nove meses, minha ficha médica aumentou consideravelmente com mais dois problemas de saúde, um dos quais culminou em grande (e muito dolorosa) cirurgia três meses antes. Tive também um quase acidente assustador quando voltava de viagem e meu carro derrapou no gelo negro, saiu da estrada e acabou em um aterro. Essas providências me fizeram parar? Não por muito tempo. Por isso é que foram necessários os coágulos. E a mensagem de Deus, através do meu sangue, foi: “Pare!” Minha vida e meu ministério tinham acelerado cada vez mais por vários anos. Eram todas coisas boas: ministrava palestras, pregava sermões, aconselhava, falava em conferências, escrevia livros, estava criando quatro filhos (agora cinco), e assim por diante. Mas foi às custas de tranquilidade e descanso — descanso físico, emocional, mental, social e espiritual. Eu não negligenciara os meios da graça — devocionais pessoais, culto doméstico, frequência à igreja eram continuados e rotineiros — mas eram rotineiros demais, com pouca ou nenhuma alegria. A vida se tornara uma confusão inquieta e ocupada de obrigações e oportunidades ministeriais. As graças do sono, exercícios, paz, relaxamento, boa dieta, amizades, meditação e comunhão com Deus foram todas sacrificadas em favor de atividades mais “produtivas”. Houvera pouco ou nenhum tempo para “aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Sl 46.10). Mas agora, na quietude forçada, eu ouvia um Deus amoroso e cuidadoso, dizer: “Dá-me, filho meu, o teu coração” (Pv 23.26). Não os seus sermões, não as suas palestras, não seus


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blogs, não seus livros, não as suas reuniões, mas o seu coração. Dá-me você! Você mesmo! Eu não estive totalmente surdo aos apelos e intervenções anteriores de Deus. Eu tinha ouvido, e tinha intenção de responder completamente. Meu plano havia sido passar os meses de março e abril totalmente abarrotados de compromissos, para então usar umas quatro semanas no meu calendário para melhorar minhas condições físicas, voltar a padrões mais saudáveis de dormir, conseguir mais tempo para descansar, me aproximar mais de Deus, e renovar algumas amizades que estavam se apagando. Era o meu plano. Estava prestes a dar certo. Eu acabara uma longa série de palestras e havia me acomodado à poltrona para dar início ao planejado avivamento de minha alma. Trinta minutos mais tarde, eu estava no hospital. O Planejador havia tirado da mesa o meu plano.

ESGOTAMENTOS E COLAPSOS Por que eu deveria escrever isso tudo? Por que não aprender as lições em particular? Creio que Deus me deu estas experiências não somente para me ensinar, mas também para ajudar outras pessoas que se esgotaram ou estão prestes a se esgotar. Visto que comecei a falar a este respeito a tantos homens cristãos em diversas conferências, encontrei incontáveis outros que haviam sofrido esgotamentos ou colapsos de uma ou outra espécie — alguns eram físicos como o meu, mas outros eram esgotamentos mentais ou relacionais, enquanto ainda outros eram distúrbios emocionais ou lapsos morais. Alguns daqueles homens ainda não estavam em colapso, mas estavam preocupados com os enormes sinais de advertência em suas vidas, queren-


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do fazer alguma coisa para prevenir o desastre prestes a acontecer. Um pastor confidenciou: “Meu ministério havia se tornado uma casca sem coração, uma questão de deveres infindos, sem a mínima alegria. Todo domingo eu falava coisas verdadeiras ao povo de Deus, boas coisas. Mas não eram mais coisas que eu vivia pessoalmente. Só faziam parte de meu trabalho”. Quaisquer que fossem as diferenças, qualquer que fosse a pessoa, quaisquer que fossem os problemas, qualquer que fosse o estágio de estresse ou esgotamento, todos notavam que viviam num ritmo veloz demais e precisavam reconfigurar a própria vida. Eles queriam que fosse mais bem refletida a graça do evangelho em seu ritmo de vida. Desejavam maior alegria no serviço do evangelho. Isso me estimulou a começar a desenvolver um programa informal que agora chamo de Processo de Resetar. Eu o tenho usado com inúmeros homens, e agora, através deste livro, desejo ajudá-lo a redefinir a sua vida para que você possa evitar colisões ou recuperar-se delas, estabelecendo padrões e ritmos que o auxiliem a viver uma vida no ritmo da graça e levá-lo até a linha de chegada com sucesso e alegria. Isto não é fácil para a maioria de nós. Somos homens independentes, autossuficientes, que acham difícil admitir fraquezas, procurar ajuda, e mudar o vício tão fortemente arraigado em nós de trabalhar demais, de nos ocuparmos demais, produzirmos em demasia. Para pastores e líderes de ministério é especialmente difícil; visto que muito de nosso trabalho é invisível e intangível, podemos ser tentados a nos esforçar acima do que podemos nas tarefas visíveis, a fim de provar que estamos ativos e somos fortes. Mas é difícil tam-


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bém porque nosso trabalho é mais obviamente um trabalho evangelístico. Como nos afastarmos disso? Como diminuir a velocidade? Como descansar quando há almas para serem salvas, sendo este um trabalho inerentemente tão bom e tão (perigosamente) prazeroso? Já estive lá e, de certa forma, ainda estou lá. Ainda é uma luta diária continuar em um passo seguro. Mudar padrões de pensamento, crenças e ações da vida inteira pode ser extremamente difícil. Mas vale a pena lutar por uma vida cadenciada pela graça, não só porque viveremos mais tempo (assim, serviremos por mais tempo), como também com mais alegria, frutos e “repletos de graça”. Portanto, quero persuadi-lo a viver uma vida melhor e mais útil; quero também persuadir você quanto a seriedade da sua situação. O resto deste capítulo deverá desafiá-lo a avaliar a sua vida, a ter uma visão sóbria, não somente do que é externo, mas do que acontece internamente — em seu coração e mente. Isso não será apenas o egocentrismo de olhar o próprio umbigo. “Cuidar de si mesmo é o primeiro passo para cuidar dos outros, por amar o próximo como a si mesmo”,1 diz J. R. Briggs. Não é egoísmo repor a energia e renovar a vitalidade para melhor servir a Deus e ao próximo. Como disse um de meus amigos: “Primeiro coloque a máscara de oxigênio em você para então poder ajudar os outros”. Então, vamos entrar na Oficina de Reparos 1, completar a lista de verificação abaixo, e recomendo que a utilize para uma verificação da realidade antes que a realidade o derrube, tal como fez comigo. 1  J. R. Briggs, Fail: Finding Hope and Grace in the Midst of Ministry Failure (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2014), edition Kindle, locs. 2082–2090.


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AVERIGUAÇÃO DA REALIDADE O que devemos verificar? Nossos carros têm luzes de advertência que podemos averiguar no manual do proprietário. O que são essas “luzes de advertência” para os homens? Quais são os sinais de perigo de que nosso ritmo atual pode terminar prematuramente a corrida? Temos aqui uma lista de verificação, separada por categorias. A categoria física teve mais marcas para mim; para você pode ser na parte emocional, mental ou outra categoria. Deus projetou cada um de nós de maneira diferente, e sabe quais “luzes de advertência” vão chamar mais a nossa atenção. Alguns de nós não conseguem (ou não querem) ver os sinais de advertência, mesmo quando ficam piscando vermelho e azul bem na frente dos nossos olhos, por isso sugiro que peça a sua esposa ou a um amigo para fazer a verificação com você para lhe dar uma visão mais objetiva. Sinais Físicos de Alerta • Você sofre com problemas de saúde, um após outro. Setenta e sete por cento dos norte-americanos experimenta regularmente sintomas físicos causados por estresse, incluindo dor de cabeça, dores no estômago, dor nas juntas, dor nas costas, úlceras, falta de fôlego, problemas de pele, intestino irritável, tremores, dor no peito, ou palpitações.2 • Você se sente exausto e letárgico o tempo todo. Falta energia ou força para praticar esportes ou brincar com os filhos. 2  “Stress Statistics”, Statistic Brain website, October 19, 2015, http:// www.statisticbrain.com /stress -statistics/.


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• Você encontra dificuldade para dormir, acorda frequentemente, ou acorda cedo e não consegue voltar a dormir. Talvez você se identifique com o pesadelo de meu amigo Paul: “Veio então a insônia. Insônia de matar. Acontece cada noite. Então, mais uma noite. Comecei a ficar em pânico. O que estava acontecendo comigo? Procurei meu médico. Ele me deu a receita de um remédio para dormir de alta dosagem. Funcionou como uma metralhadora dentro de um tanque de guerra”. • Você segue o exemplo do empresário que admitiu: “Utilizei a minha falta de sono para justificar dormir até mais tarde, e isso só aumentava o ciclo de noites mal dormidas”. • Você é como o pastor que confessou: “Meu sono exagerado era simplesmente uma fuga”. • Você está engordando por falta de exercícios ou por comer alimentos não nutritivos, ou ingere álcool ou café demais. Sinais Mentais de Alerta • É difícil a concentração; é fácil a distração. • Você pensa obsessivamente em certas dificuldades na sua vida. Jim descreveu deste jeito: “Até as mínimas coisas me pesavam como um fardo muito grande. Eu tentava tirar os problemas da mente, mas era como se o cérebro estivesse emperrado. Os pensamentos ficavam se repetindo constantemente. Nada de novo foi acrescentado ao processo, nenhuma nova solução, nada de informações novas. Era o mesmo ciclo se repetindo”. Outro homem descreve como: “Eu tentava matar moscas mentais”.


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• Você esquece de coisas que antes costumava lembrar com facilidade: encontros marcados, aniversários, aniversário de casamento, compromissos, números de telefone, nomes, prazos de entregas, etc. • Você vê sua atenção atraída por assuntos negativos, e está desenvolvendo um espírito hipercrítico e cínico. • Seu cérebro parece frito. Sinais Emocionais de Alerta • Você sente tristeza, quem sabe, está tão triste que tem crises de choro ou acha que está prestes a cair em prantos. • Faz muito tempo que não dá uma boa risada nem faz outro rir. Em vez disso, sente dormência emocional. • Você se sente pessimista e sem esperanças quanto ao casamento, filhos, igreja, emprego, país, etc. • As preocupações invadem as horas em que está acordado e a ansiedade vai para a cama com você a cada noite. • Tão logo você acorda e pensa no dia à frente, o coração começa a palpitar forte, e o estômago fica revirado pelas decisões que terá de fazer e pelas expectativas de pessoas que pensa ter de suprir. • Você acha difícil se alegrar com a alegria de outros, e muitas vezes força-se a fingir. • Às vezes, você sente tanta falta de esperança e valor que pensa que seria melhor não existir. Sinais Relacionais de Alerta • Seu casamento não é o que era. Você não tem prazer com sua esposa como antigamente.


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• Seu impulso sexual é irregular, e muitas vezes você se sente cansado demais para fazer sexo além do tipo superficial e, principalmente, egoísta. • Você fica irritado e responde mal à esposa e filhos. Eles o enxergam como irado, impaciente, frustrado e crítico (pergunte a eles!). • Você passa pouco tempo com os filhos, e qualquer tempo que passa é constantemente interrompido pelo uso do celular ou envenenado por pensar em todas as outras coisas que você poderia estar fazendo. Um amigo crente admitiu que certa vez, começou a chorar incontrolavelmente: “Minha esposa assustada perguntou o que estava errado. Eu estava olhando meu sogro brincar com os meus filhos e disse a ela: ‘Queria ter prazer neles como ele tem’. Os meus próprios filhos tinham se tornado fonte de irritação. Eu invejava meu sogro. Eu não conseguia ter prazer nos meus próprios filhos. Eu não tinha prazer em nada”. • Você evita as ocasiões sociais, negligencia relacionamentos importantes, e se afasta das amizades, mesmo com pessoas que estima profundamente. • Frequentemente você perde a paciência e entra em conflito com diversas pessoas. Um empresário me disse que embora fosse raro ele sofrer por trabalhar demais, “ao olhar para trás em minha vida, as vezes em que lutei com longos períodos de depressão mais frequentemente tiveram em comum, na verdade, eu estar lutando com um relacionamento. Uma vez foi com meu irmão, duas vezes foram relacionamentos românticos, duas vezes foram brigas com minha esposa”.


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Sinais Vocacionais de Alerta • Você trabalha mais de cinquenta horas por semana, embora não com muita eficiência, produtividade ou satisfação. Como diz Greg McKeown: “Temos a experiência nada realizadora de conseguir um milímetro de progresso em um milhão de direções”.3 • O seu trabalho recai regularmente para as noites e os finais de semana, ou qualquer dia que você chama de seu “fim de semana”. • Tem pouco prazer no seu trabalho; na verdade você tem pavor dele e está tão chateado que pensaria em fazer qualquer coisa em vez de continuar no seu emprego atual. “Eu estava confuso”, escreveu um pastor, “e logo a minha confusão virou amargura contra Deus. ‘O que o Senhor quer de mim? Eu trabalho o tempo todo. Não tenho hobbies ou passatempos, nada de tempo de descanso, nada de alegria, nada de vida’. Comecei a odiar o meu ministério”. • Você está ficando para trás, sentindo-se vencido pelos problemas, e começa a se esquivar, cortar caminho e rebaixar os seus padrões. • A procrastinação e indecisão dominam, enquanto você passa de uma coisa para outra sem realização em nada. Quando toma decisões, frequentemente elas estão erradas. • A motivação e o ímpeto foram substituídos por fuga, passividade e apatia enquanto você se arrasta pelo dia. • Você encontra dificuldade de dizer não e se sente como a árvore predileta de todo o pica-pau, ou 3  Greg McKeown, Essentialism: The Disciplined Pursuit of Less (New York: The Crown Publishing Group, 2014), 7.


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seja, você fica irritado quando todos procuram sua ajuda para cada mínima necessidade. Um pastor admitiu para mim que chegou a ponto de detestar que tantas pessoas precisassem dele. Só queria um emprego comum, cujas responsabilidades pudesse deixar na empresa depois das oito horas de trabalho. • Você se sente culpado e ansioso quando não está trabalhando e se considera preguiçoso ou fraco quando tem uma folga. Sinais Morais de Alerta • Você vê conteúdos sedutores pela Internet ou pornografia. • Você assiste filme de linguagem e imagens que jamais teria tolerado. • As suas despesas e seu imposto de renda tem algumas meias verdades neles. • Você cultiva relacionamentos próximos com mulheres que não são a sua esposa (ou pensa nisso). • Você encobre ou dá tonalidades diferentes à verdade nas conversas, exagerando ou editando conforme acha conveniente. • Você se automedica (e a sua consciência) gastando demais, bebendo demais, ou comendo demais. Sinais Espirituais de Alerta • As devocionais pessoais diminuíram de tamanho e aumentaram em distrações, com pouco tempo ou incapacidade de meditar ou refletir.


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• Você verifica seus e-mails e as mídias sociais antes de seu encontro com Deus a cada dia. • Você não tem mais aquela conversa com Deus que costumava ter. • Você falta ao culto com sua igreja. • Escutar sermões lhe dá sono. Um empresário esgotado me escreveu: “Uma de minhas grandes preocupações é que não tenho sido ‘comovido’ por um sermão há anos, apesar de escutar alguns excelentes sermões.” • Você não tem prazer na comunhão com outros cristãos nem em servir a igreja de Deus. • Você acredita em todas as verdades da Bíblia, mas não para si mesmo. Sinais Pastorais de Alerta • Você está entediado pelos pequenos detalhes do ministério, e se acha superior para servir os idosos, os enfermos, e os que desperdiçam o seu tempo. • Depois do culto, não fica por perto para ter comunhão com as pessoas ou para ministrar a elas. • Você está mais interessado na popularidade do seu próprio nome do que em tornar conhecido o nome de Deus. • Você encontra dificuldades para confessar o pecado ou para admitir sua fraqueza a Deus e aos outros a quem você deveria prestar contas. • Você se baseia somente em conhecimentos e experiências do passado, mas não do presente. Como disse Aaron Armstrong: “Podemos depender de informações acumuladas em nossa mente por anos de


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leituras, e não notar que algo está errado — que nossos tanques metafóricos estão ficando baixos — até pararmos no meio do trânsito”.4 • Você baseia a sua aceitação por Deus em seu trabalho esforçado, seu sucesso ou sua fidelidade. Esta história dolorida é a experiência de muitos pastores: “Quando me senti fracassado como marido, pai, pastor, cristão, até mesmo como ser humano, tudo que conseguia fazer era trabalhar mais, me esforçar mais. Afinal de contas, não há tempo para perder quando existe tanto chão para recuperar. Eu tornava impossível descansar. Isso me fazia um marido, pai, pastor, cristão e ser humano pior. E isso me deixava com maior sentimento de culpa”. O que você deve fazer com estas perguntas é uma averiguação da realidade, descobrir onde você realmente se encontra, como você está realmente, e quem você é realmente. O próximo passo será analisar essa lista para avaliar a seriedade desses sinais de alerta. Você faz isso usando três medidas: Quantos? Provavelmente todo mundo pode marcar “sim” para alguns desses itens. É a vida para as criaturas caídas em um mundo caído. Mas se tiver cinco ou mais desses sinais de alerta em seu painel, isso deve chamar a sua atenção. 4  Aaron Armstrong, “I’ve been running on empty — and what I’m doing to change that,” Blogging Theologically, December 30, 2015, http//www.bloggingtheologically. com/2015/12/30/running-on-empty/.


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Quão fundo? Quanto essas questões são sérias? Avalie a intensidade de cada um dos itens marcados com um “sim” com a nota de um a cinco, sendo que cinco é a nota mais grave. Quanto tempo? Por quanto tempo isso tem acontecido? Quanto mais um sintoma tem continuado — especialmente se este tempo foi por um mês ou mais — maior perigo representa. Então, agora você tem a sua lista de verificação e a analisou. Tem um número preocupante de “sim” em problemas bastante sérios e que têm acontecido por tempo suficiente para causar alarme.

E AGORA, O QUE FAZER? Primeiro, você tem de reconhecer o perigo em que está e as potenciais consequências de não desacelerar. Como disse um dos homens a quem aconselhei: “Uma das lições mais importantes que aprendi é que, se eu não desacelerar, Deus vai me fazer andar mais devagar. Geralmente é mais dolorido quando Deus faz isso!” Segundo, seja grato por Deus ter alertado você quanto ao perigo antes que fosse tarde demais. O pastor de alma cansada, Josh Harris, se demitiu da igreja para voltar ao seminário depois de numerosas crises pessoais e eclesiásticas. Ele escreveu: “Eu conseguia fazer o ministério forçado, mas sabia que isso não seria o melhor para minha alma, minha família, ou para a igreja. Eu precisava mais do que um ano sabático — precisava de ferramentas novas e de redefinir a


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minha vida significativamente. Tempo para parar de falar e começar a escutar. Tempo de reaprender como permanecer em Jesus. Tempo de desaprender uma ocupação por profissionalismo”. Ele se demitiu com gratidão, conforme explica: “Se o jeito que você está vivendo não for saudável — se não estiver expandindo a sua alma e aprofundando o seu amor a Deus e ao próximo, seres humanos como você — então uma crise que o desperte à necessidade de mudança é uma coisa boa. É algo que vem de Deus. Esta foi a minha experiência”.5 A boa nova é que existe um caminho de volta, um modo de resetar sua vida, de colocar todas essas dimensões de volta à pista, e começar a desfrutar a vida no ritmo da graça. É sobre isso que este livro trata. Deixe que eu dê um breve resumo do que você pode esperar nos capítulos seguintes, para encorajá-lo a prosseguir. Você já passou pela Oficina de Reparos 1 — “Verificação da Realidade”. No próximo capítulo, você será apresentado à Oficina de Reparos 2, “Revisão”, a fim de ver como você chegou até aqui e o que causou essas diversas questões. É importante compreender as causas, para que você evite repetir os mesmos erros no futuro, em sua corrida pessoal. Então, passaremos por mais oito oficinas de reparos, para fazer uma reconfiguração passo a passo de sua vida. Algumas dessas oficinas serão mais relevantes e aplicáveis a sua vida que outras. Mas vale a pena ler sobre cada uma, para evitar perder algo essencial. Isso o ajudará também a ajudar outros. Estes capítulos são caracterizados por: 5  Josh Harris, “The 40-Year-Old Seminarian”, Christianity Today, December 4, 2015, http//www.christianitytoday.com/le/2015/fall/40-year-old-seminarian.html.


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Praticidade A maioria dos homens é focada em soluções; é o que quero dar neste livro. Vou manter a teoria ao mínimo, oferecendo apenas o suficiente para ajudá-lo a entender os passos práticos que terá de dar. Simpatia Contei a minha própria história (e vou contar mais) em parte para mostrar que não escrevo de um salão de exibições de carros novos. Escrevo como alguém que se acidentou, bateu, se queimou, e acabou na oficina de desmanche. Eu entendo e me identifico com você, tal como têm a mesma empatia os outros homens cujas histórias aparecem nestas páginas.6 Eu entendo como é difícil restaurar nossa vida depois de anos de práticas e ritmos insalubres. Não escrevo como uma história de sucesso, mas como um relato de um colega nas lutas. Esperança Qualquer que seja o lugar em que você se encontra, a sua vida pode ser reestruturada e você encontrará um ritmo de vida mais sustentável, cheio de alegria, para que aprecie e termine bem sua corrida. Alegria Embora você tenha passado ou esteja passando por diversos tipos de sofrimento, e apesar de certas partes do processo de reparos serem inicialmente dolorosas, o alvo final é a restauração da alegria. Por esta razão, a última oficina de 6  Nomes foram mudados para proteger a privacidade.


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reparos é chamada de “Ressurreição”. Isso não é somente uma doutrina para o final da vida; pela graça de Deus, ela pode também se tornar experiência da vida cotidiana. Podemos conhecer o poder diário da ressurreição de Cristo que nos faz subir das profundezas do pecado, do estresse, da ansiedade, do esgotamento, da depressão, de brigas e de deslizes na fé, renovando nossa vida.

DUAS PERGUNTAS Depois de meu acidente quase fatal, duas perguntas me incomodavam: “Onde está Deus em tudo isso?” e “O que Deus está fazendo?” Eu fazia a obra de Deus, estava me sacrificando pelo Reino, eu me gastava e deixava que me desgastassem por amor a Cristo, e isso me levou à emergência do hospital e quase a um caixão. Onde está Deus e o que ele está fazendo? Inicialmente, as melhores respostas que eu tinha a estas duas perguntas eram: “Eu não sei” e “Eu não entendo”. Então, no meio de minhas indagações, lembrei que houve um sofredor ainda maior (e muito mais piedoso que eu) que perguntou as mesmas coisas ao olhar a estrada cheia de pedras da sua vida ( Jó 23.1-9). “Onde está Deus? O que ele está fazendo?” Felizmente, Jó obteve melhores respostas do que eu pude obter. Deus Sabe Onde Estou “Ele sabe o meu caminho” ( Jó 23.10a). Embora não saibamos onde Deus está e talvez nem onde nós estamos, Deus sabe exatamente onde estamos, a nossa direção e o nosso destino. Como uma criança em longa viagem de carro, não precisamos saber onde estamos, desde que o nosso Pai saiba.


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Deus Sabe o que Faz “Prove-me, e sairei como o ouro” (23.10b - ARC). Ele não está apenas nos provando, mas nos tornando melhores. Com a sua mão no termostato e os seus olhos na temperatura, ele sabe exatamente qual o calor necessário para a fornalha e quanto tempo temos de permanecer nela para tornar nosso ouro mais puro e brilhante. Deus sabe onde nos encontramos e ele sabe o que faz! O produto final é ouro, especialmente o ouro de um relacionamento mais próximo a Deus e de maior utilidade ao próximo. Agarre-se a essas respostas sem preço, enquanto dirigimos o carro para a segunda oficina de reparos!


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