

Mulheres que caminham juntas
Internacionais
(CIP) (Câmara Brasileira
Brasil)
:
E d i t o r a F i e l , 2 0 2 5
O u t r o s a u t o r e s : A n a P a u l a N u n e s A r a u j o , C l a u d i a
L o t t i , L u c i a n a S b o r o w s k i , N á t a l i e C a m p o s , P r i s c a
M e n d o n ç a , R e n a t a G a n d o l f o
I S B N 9 7 8 - 6 5 - 5 7 2 3 - 3 8 9 - 4
1 . Di s c i p u l a d o 2 . M u l h e r e s - A s p e c t o s r e l i g i o s o s -
C r i s t i a n i s m o I . C a s t i l l o , A n a M á r c i a . I I . A r a u j o , A n a
P a u l a N u n e s . I I I . L o t t i , C l a u d i a . I V . S b o r o w s k i ,
L u c i a n a V C a m p o s , N á t a l i e V I M e n d o n ç a , P r i s c a
V I I G a n d o l f o , R e n a t a V I I I L e m e s , G i s e l e
I X . M a d u r e i r a , J o n a s . X . O l i v e i r a , L a i s e .
2 4 - 2 4 2 2 2 8 C D D - 2 7 0 0 8 2
Índices para catálogo sistemático:
1 . M u l h e r e s : A s p e c t o s r e l i g i o s o s : C r i s t i a n i s m o
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E l i e t e M a r q u e s d a S i l va - B i b l i o t e c á r i a - C R B - 8 / 9 3 8 0
Mulheres que caminham juntas
Os textos das referências bíblicas foram extraídos da Versão Almeida Revista e Atualizada, 2ª ed. (Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indicação específica.
Copyright © 2024 Editora Fiel
Primeira edição em português: 2024
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária
Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
Diretor Executivo: Tiago J. Santos Filho
Editor-chefe: Vinicius Musselman Pimentel
Editor: Renata do Espírito Santo T. Cavalcanti
Coordenação Editorial: Gisele Lemes
Adaptação e revisão: Shirley Lima
Diagramação: Rubner Durais
Capa: Rubner Durais
ISBN brochura: 978-65-5723-389-4
ISBN e-book: 978-65-5723-386-3
Caixa Postal 1601
CEP: 12230-971
São José dos Campos, SP PABX: (12) 3919-9999 www.editorafiel.com.br
SUMÁRIO
Prefácio: Buscando o equilíbrio 7
Pastor Jonas Madureira
Introdução: Capacitadas por Cristo 13
Renata Cavalcanti
PARTE 1
ONDE NOS PERDEMOS E COMO ENCONTRAR A SAÍDA?
1. Desconectadas: alegria incompleta 19
Ana Paula Araujo
2. O resgate do propósito divino de Tito 2 começa pela própria devoção 41
Renata Gandolfo
PARTE 2
ATENDENDO AO CHAMADO NA PRÁTICA
3. A mulher cristã está preparada para servir? 57
Claudia Lotti
4. A mulher cristã está preparada para ensinar? 87
Prisca Mendonça
5. A mulher cristã está preparada para aconselhar? 107
Luciana Sborowski
6. Discipulado: amando e abraçando sua igreja local 131
Nátalie Campos
7. Redimindo as novas mídias e tecnologias para o serviço e a edificação das mulheres 149
Naná Castillo
Posfácio: Caminhando junto com Cristo 169
Laise Oliveira
Um pouco sobre as colaboradoras 177
BUSCANDO O EQUILÍBRIO
Pr. Jonas Madureira 1
Afinal, qual é o papel da mulher na igreja local?
Essa questão tem ocupado cada vez mais espaço nas atuais discussões eclesiásticas. Trata-se de uma questão legítima e da máxima importância, mas que, infelizmente, se tornou um prato cheio para quem gosta das azáfamas da lacrosfera evangélica. Dadas as circunstâncias, torna-se cada vez mais crucial voltar-se para as Escrituras, pois saber o que elas dizem vale mais do que lacrações baratas, que, no fim das contas, são apenas arroubos narcisistas. O problema é que, dependendo da leitura que se faz das Escrituras, alguns intérpretes tendem a diminuir a grandeza bíblica das mulheres, enquanto outros tendem a hiperelevá-las acima da grandeza bíblica reconhecida.
Em algumas tradições eclesiásticas, as mulheres ainda são consideradas segundo uma visão reducionista que deturpa o ensino bíblico sobre submissão. Em vez de reconhecer a
1 Jonas Madureira (PhD, Universidade de São Paulo, com estágio na Universidade de Colônia, Alemanha) é professor de Filosofia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, bem como de Apologética e Teologia Sistemática no Seminário Martin Bucer. Serve como pastor na Igreja Batista da Palavra (São Paulo, SP) e é autor de O Custo do Discipulado e Meditações na Terra Santa, ambos publicados pela Editora Fiel.
submissão como um gesto voluntário de serviço, honra e amor dentro do plano divino — seja para o casamento, seja para a comunidade de fé —, muitos líderes da igreja a interpretam como sinônimo de inferioridade e passividade. Essa exegese grotesca da submissão normaliza o pecado da diminuição da grandeza bíblica da mulher, negligenciando o impacto significativo que ela pode ter na igreja local (At 18.24-26).
Ou seja, diminuir a grandeza bíblica da mulher não é apenas ignorar o testemunho bíblico; é privar a igreja dos dons e talentos dados por Deus para a edificação do corpo de Cristo. Essa diminuição se manifesta de diferentes maneiras, desde a exclusão das mulheres de ministérios legítimos até a falta de discipulado que reconheça suas habilidades e as equipe para o serviço cristão. Em muitas igrejas, as mulheres são diminuídas a papéis estereotipados que não refletem a diversidade e a profundidade dos chamados dados por Deus a elas.
Por outro lado, os movimentos culturais que apelam para um tipo de empoderamento feminino na esfera pública e profissional têm, de certo modo, pautado a igreja. Em sua revolta justa contra a diminuição do papel da mulher na igreja, algumas lideranças têm adotado uma hiperelevação do feminino que tem extrapolado a grandeza bíblica da mulher.
Essa reação compreensível à diminuição do feminino na igreja tem levado igrejas a uma postura meramente reativa, a ponto de colocar mulheres como protagonistas de uma narrativa que entra em conflito com os princípios bíblicos. Essa tendência pode ser vista especialmente na pressão por ordenação feminina e na equiparação de todos os papéis na igreja, sem levar em consideração as distinções ordenadas por Deus. Movimentos que ignoram ou “atualizam” textos bíblicos como
1 Timóteo 2.12 ou 1 Coríntios 14.34-35 tendem a promover uma ideia de igualdade funcional que, embora pareça justa aos olhos do mundo, compromete a autoridade das Escrituras. Além disso, a hiperelevação do feminino muitas vezes transforma a igreja local em um palanque para discursos de autoafirmação e autopromoção. A liderança da igreja, nesse contexto, deixa de ser vista como um chamado ao serviço sacrificial e passa a ser um “direito”. Esse tipo de abordagem desvirtua a vocação ministerial, que é sempre marcada pela renúncia do eu e pela submissão à Palavra de Deus.
Diante dessas duas leituras equivocadas e extremas — diminuição e hiperelevação —, é necessário recuperar o equilíbrio bíblico que reconhece tanto a igualdade de valor entre homens e mulheres diante de Deus quanto a distinção de seus papéis na criação e na igreja local. A narrativa da criação em Gênesis 1 e 2 oferece um fundamento crucial para essa reflexão. Homem e mulher foram criados à imagem de Deus, igualmente portadores de dignidade e valor. Ambos receberam o mandato cultural de sujeitar a terra e multiplicar-se, o que demonstra a parceria no propósito divino. No entanto, o texto também enfatiza a complementaridade dos gêneros, refletida nos papéis distintos que Deus designou para o homem e a mulher.
Essa complementaridade é reafirmada no Novo Testamento, especialmente nos ensinos de Paulo sobre a vida da igreja. Textos como Efésios 5.22-33 e 1 Timóteo 2.11-15 não devem ser vistos como retrógrados ou opressores, mas como expressões da ordem divina que refletem a relação entre Cristo e sua igreja. Em contrapartida, a busca pelo equilíbrio bíblico possibilita considerar que as mulheres têm uma
ampla gama de ministérios. Elas são chamadas a discipular outras mulheres (Tito 2.3-5), a orar e profetizar em contextos biblicamente adequados (1 Coríntios 11.5), a servir como auxiliadoras indispensáveis na obra do Senhor (Romanos 16). Ao mesmo tempo, o ensino bíblico reserva o ofício de presbítero e a responsabilidade de liderança espiritual sobre a congregação a homens piedosos, em consonância com a ordem criacional e o modelo redentivo de Cristo e sua noiva.
A aplicação desse equilíbrio bíblico na vida da igreja exige uma postura pastoral sensível e intencional. Em primeiro lugar, é essencial que líderes e pastores sejam claros no ensino sobre o papel das mulheres, fundamentando suas posições nas Escrituras, e não em preferências culturais ou tradições humanas. Além disso, as igrejas devem criar oportunidades para que as mulheres sejam discipuladas, equipadas e encorajadas a servir. Isso inclui desenvolver ministérios específicos que as auxiliem a crescer na fé e no uso de seus dons. Por exemplo, mulheres podem desempenhar papéis importantes na educação cristã, no aconselhamento, na evangelização e na hospitalidade, além de outras áreas que edifiquem o corpo de Cristo. Outro ponto importante é combater tanto a diminuição quanto a hiperelevação por meio de uma cultura de respeito mútuo. As mulheres devem ser valorizadas, não como concorrentes dos homens, mas como vocacionadas por Deus para cumprir com os homens a missão da igreja. Ao mesmo tempo, devem ser desafiadas a abraçar com humildade os papéis que Deus lhes confiou, em submissão ao Senhor e ao ensino das Escrituras. A discussão sobre o papel da mulher na igreja local exige um retorno às Escrituras, longe das influências polarizadas da cultura contemporânea. Nosso
compromisso deve ser com a verdade revelada por Deus, que valoriza homens e mulheres igualmente, enquanto distingue seus papéis de forma sábia e amorosa.
Este livro foi escrito por mulheres de grandeza bíblica, grandeza, acima de tudo, testemunhada por suas igrejas locais. Que ele sirva, então, como um convite à reflexão e à ação! Que pastores e líderes sejam desafiados a repensar suas práticas e a promover a grandeza bíblica da mulher! Que as mulheres floresçam em nossas igrejas locais e sejam plenamente engajadas na obra do Senhor, para a glória de Deus e a edificação da noiva!
CAPACITADAS POR CRISTO
Renata Cavalcanti
Eu não me canso de ver nas redes sociais aquelas postagens superengraçadas de mulheres buscando ser “plenas”, fazendo mil coisas ao mesmo tempo (tentando ser perfeita mãe, esposa, dona de casa, que treina, se alimenta bem, dorme 8 horas por dia...), só para concluir, ao final do vídeo, que a plenitude está bem longe da realidade. Apesar de me sentir instantaneamente cansada só de assistir ao post, eu me identifico com essas mulheres. E por isso acho tanta graça nesse tipo de postagem. Assim como elas, eu também busco equilibrar todos os pratos da vida com as duas mãos que Deus me deu. E, claro, para longe de conseguir o ato heroico de dar conta de tudo, sinto também que não é isso que me trará uma vida plena e que satisfaz. De fato, fomos criadas para a plenitude, mas definitivamente não é cumprindo uma lista de “tarefas” que o nosso coração irá sossegar e se sentir pleno. Quando pensamos no contexto eclesiástico, um ritmo similar parece acontecer. Eu não sei você, mas tenho observado dois tipos de mulheres em nossas igrejas: aquela que é otimista, superativa e quer fazer parte de tudo que é ministério (mesmo quando não tem tempo para isso e
acaba negligenciando tarefas e pessoas mais importantes), e a pessimista, aquela que nunca se acha preparada para nada. Claro, existem aquelas mulheres equilibradas, que fazem tudo a seu tempo conforme suas possibilidades, mas eu não me identifico com essas, infelizmente. Para falar a verdade, minha luta é com o perfeccionismo que culmina no pessimismo e, para dar crédito a quem de direito, cito o sábio pastor Allen Porto, em seu livro Produtividade Redimida1, para explicar o meu ponto:
“Quando pensamos em projetos ou tarefas, é possível identificar duas posturas fundamentais, representadas por dois tipos de pessoas: as otimistas e as pessimistas. [...] O fato é que otimistas e pessimistas podem oferecer reações diametralmente opostas a um mesmo projeto, mas eles têm a mesma base. [...] Ambos estão centrados em si mesmos. [...] E colocar a si mesmo como o centro do mundo nada mais é que... orgulho.”
O tão temido orgulho. É aí, minhas irmãs, que se encontra um grande problema quando o assunto é serviço. Ao sondarmos o coração, percebemos que, na verdade, estamos lutando com o nosso ego inflado. Fazendo muito ou pouco, queremos ser vistas ou queremos nos esconder para que ninguém veja as nossas falhas. Roubamos a glória de Deus, porque o alvo do nosso coração está errado. Estamos olhando para o nosso próprio umbigo em vez de olharmos para aquele que nos fez e que nos ensina, em sua Palavra, a vivermos para a sua glória. E não paramos para pensar que é exatamente
1 Allen Porto. Produtividade Redimida. (São José dos Campos: Editora Fiel, 2024), p. 58-60.
quando saímos de nós mesmas e buscamos a glória de Deus, que seremos bem-sucedidas e alcançaremos equilíbrio em nossas vidas. Com o alvo redefinido em Cristo, estamos prontas para servir como convém aos santos.
Prontas? Mas por onde eu começo?
Se você não sabe por onde começar, escolheu o livro certo. As queridas autoras, que labutaram na escrita deste projeto, irão ajudá-la na tarefa de sondar seu coração. Nosso objetivo é encorajá-la para toda boa obra que o Senhor lhe confiar. Nosso desejo é fazê-la refletir sobre a importância não só de servir com seus dons, mas também de servir com o coração devidamente ancorado e descansado na Palavra de Deus. Mas até descansar é difícil para nós, mulheres, não é?
Na luta da carne contra o Espírito, percebemos nossa inadequação para a obra. Não nos sentimos aptas para o serviço. E é justamente por não sermos verdadeiramente capacitadas por nós mesmas, que devemos correr para a Escritura em busca de ajuda, porque ela é “útil para o ensino, a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16). Com orientação bíblica e o alvo certo redefinido, o próprio Cristo nos dará tudo de que precisamos para servirmos ao próximo com excelência e amor. Então, mãos à obra!
Capítulo 1
DESCONECTADAS:
ALEGRIA INCOMPLETA
Ana Paula Araujo
CONEXÃO COM E SEM FIO
Você se lembra de quando o celular servia para ligarmos uns para os outros? Eu me lembro bem! Servia para fazer chamadas e, com sorte, jogar o famoso jogo da cobrinha.1 Quando esse aparelho de comunicação sem fio chegou, era uma ferramenta para nos conectar a conhecidos distantes. Sim, houve um tempo em que o telefone esteve a serviço da nossa comunicação, e não o contrário — nossa comunicação a serviço do celular. Hoje, no entanto, preciso que você se lembre de algo: não me ligue!2 Só o faça em casos de urgência, caso eu não responda no WhatsApp a tempo, combinado? De preferência, envie logo uma mensagem detalhada, com tudo o que você precisa tratar. Eu vou ler e responder assim que puder.3
1 Por favor, se você não sabe do que estou falando, procure por “jogo da cobrinha Nokia” no Google e desfrute a experiência de fazer esse animal peçonhento em pixels crescer comendo algo que não sabemos se era uma fruta, um rato ou uma pedra.
2 E bater à porta sem avisar antes? Alguém ainda faz isso? Eu nem sei mais se estou pronta para tal coisa.
3 Será que chegará o dia em que não seremos mais capazes de responder a nada na hora, ao vivo?
E, por favor, não espere que estejamos on-line ao mesmo tempo. Quem está pedindo isso é a mesma Ana Paula que, anos atrás, passava horas conversando com as amigas, “pendurada ao telefone”, durante o ensino fundamental e médio.4
Quando cheguei ao mundo, o telefone já era popular nos lares dos brasileiros. Estou falando do telefone fixo, claro, aquele que era ligado a vários cabos para funcionar, e a parte que usávamos para ouvir e falar também era presa ao restante do aparelho por um cabo espiral, que a gente enrolava nos dedos enquanto conversava com a pessoa do outro lado da linha. Naquela época, além das cartas, que ainda escrevíamos, o telefone fixo era a única forma acessível5 de falar com pessoas distantes, quando não era possível falar de viva voz, face a face, cara a cara. Depois disso, ou no meio disso, veio a internet residencial a cabo, com suas muitas “salas de bate-papo”, que nos conectavam a pessoas mais distantes ainda.
Se no telefone, fixo ou celular, nossa conexão era predominantemente com pessoas conhecidas — amigos, familiares e colegas —, para quem ligávamos por ter o número decorado,6 com a internet, as salas de bate-papo e todas as suas “evoluções”,7 até as chamarmos atualmente de redes sociais, abrimos as portas para conversar com desconhecidos do mundo inteiro. Parecia uma grande evolução na comunicação, não é? Ao menos, foi nisso que acreditamos.
4 Eu sei que esse parágrafo pareceu bem antipático, mas a minha intenção foi mostrar a você como mudamos rapidamente com a influência das novas tecnologias de comunicação.
5 Acessível no sentido de ser popular nos lares brasileiros. Mas fazer uma ligação telefônica tinha um custo alto para o bolso da maioria de nós.
6 Coisa que, hoje em dia, ninguém mais sabe.
7 Lembra? mIRC, ICQ, Msn, Skype, Fotolog (e derivados), Orkut, Twitter, Facebook, Instagram, TikTok... e você pode continuar a lista se estiver lendo este capítulo depois de 2024.
Enquanto escrevo este capítulo, lembro-me claramente de quando comecei a acessar a internet em casa, no final dos anos 1990. Não me refiro ao som característico que o computador com uma CPU gigantesca fazia para se conectar, ou ao fato de só acessarmos a rede de madrugada e nos fins de semana, por ser mais barato e para não ocupar a linha telefônica. A cena que tenho em mente é mais humana que isso: refere-se aos finais de semana em que meus amigos brincavam “no pátio do prédio”8 e gritavam para eu descer, para participar. Ignorando os gritos e as risadas que entravam pela janela, eu deixava de ir ao seu encontro para me “conectar” com outras pessoas totalmente desconhecidas pelo Brasil e o mundo afora.9
E foi assim que acreditei que a comunicação pela internet estava me conectando com as pessoas, quando, na verdade, o que acontecia é que eu também estava me desconectando, cada vez mais, daquelas que estavam ao meu redor. Foi assim com você também. E tem sido assim desde então. Até mesmo as conversas olho no olho estão acontecendo na companhia do celular sempre à mão, sempre à mesa, para onde nossos olhos e nossa atenção se desviam da pessoa à nossa frente — e vice-versa.
(DES)CONECTADAS
O mundo já sente os efeitos do avanço tecnológico na comunicação. Estudos e pesquisas apontam para a mesma conclusão: as pessoas estão se sentindo cada vez mais sozinhas.10 Não é
8 O jogo sempre era “queimada”!
9 Ah! Como eu queria voltar no tempo e aproveitar mais meus fins de semana para correr de um lado para o outro e jogar bola com força em meus amigos e chamar isso de “diversão”.
10 “O isolamento social descreve a ausência de contatos e relações sociais, medido pela quantidade de interações sociais. Já a solidão envolve a qualidade dos relacionamentos e o sentimento subjetivo de estar sozinho, decorrendo da discrepância dos níveis desejados e percebidos nas relações interpessoais” (definição do Dr. Mauricio Wajngarten, no portal Medscape).
meu objetivo ser exaustiva sobre as pesquisas do tema neste breve capítulo. Quero apenas pincelar um quadro de como o mundo está confirmando agora o que já sabíamos, porque Deus nos revelou em sua Palavra: não fomos criadas para a solidão e, consequentemente, não seremos felizes com ela. O aumento da solidão tem causas e consequências bem definidas. Em julho de 2024, o jornal The Lancet11 criou um comitê para estudar a solidão e constatou que “uma meta-análise de dados de 113 países mostra que a solidão é um problema global”.12 Especialistas13 alertam que o sentimento de solidão, que tem crescido em todo o mundo, está associado a maior risco de desenvolvimento de várias doenças, como as de natureza cardiovascular, demência, depressão e ansiedade.
“Os adolescentes e jovens adultos, para quem a socialização é parte fundamental do desenvolvimento, podem ser particularmente vulneráveis, com consequências potenciais em longo prazo para o bem-estar físico e mental.”14
Apenas para deixar claro, não estou negando os benefícios da internet. No último capítulo deste livro, nossa querida Naná Castilllo apresenta alguns bons princípios e ferramentas para o uso das redes sociais com sabedoria. A internet em geral e as redes sociais em particular nos aproximam das pessoas que amamos e daquelas que estão
11 Um jornal científico mundialmente conhecido.
12 “Loneliness as a health issue”, The Lancet, 8 jul. 2023. Disponível em: https://www.thelancet. com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(23)01411-3/fulltext?rss=yes#articleInformation. Acesso em: ago. 2024.
13 “Social relationships and mortality risk: a meta-analytic review”. Disponível em: https:// journals.plos.org/plosmedicine/article?id=10.1371/journal.pmed.1000316.
14 “Loneliness as a health issue”, The Lancet, 8 jul. 2023. Disponível em: https://www.thelancet. com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(23)01411-3/fulltext?rss=yes#articleInformation. Acesso em: ago. 2024.
distantes. Quanta alegria é, por exemplo, fazer uma ligação de vídeo para um familiar ou para amigos que moram em outras cidades e em outros países! Como é bom poder enviar fotos do meu bebê rapidamente para meus pais, que moram longe, em vez de precisar revelar e enviar pelos correios! Igualmente, a oportunidade de encontrar amigos e colegas de infância pelas redes sociais e acompanhar seus trabalhos, viagens e refeições15 é ótima.
A pandemia também mostrou como Deus pode usar as tecnologias digitais para o bem. No período de isolamento, as redes sociais ajudaram as pessoas a não se sentirem tão sozinhas. O mundo inteiro estava conectado. Mediante o bom uso de redes sociais, como, por exemplo, o YouTube, muitos olhos foram abertos para o evangelho. Diversos cursos teológicos on-line surgiram. Portanto, poderíamos enumerar diversos benefícios das redes sociais, inclusive no que se refere à edificação do povo de Deus.
O problema é que nosso coração é inclinado a extremos. A pandemia reforçou para todos que a internet pode ser usada em nossa comunicação, interações e trabalhos. E o período pós-pandemia revelou que essa era a desculpa que muitos esperavam para permanecer isolados em sua zona de conforto, não se esforçando para romper a superficialidade das relações. Um exemplo disso foi o mau uso das redes sociais quando o isolamento obrigatório chegou ao fim, momento em que muitos se aproveitaram da comodidade de “assistir” a cultos e pregações no sofá de casa para se esquivar da responsabilidade de participarem da igreja local. Essas
15 Quem não gosta de postar foto de um belo prato de comida, não é?
pessoas preferiram o isolamento e a superficialidade dos relacionamentos digitais ao pertencimento e à prestação de contas da comunidade cristã real.
O editorial do The Lancet afirma que “[o] uso de redes sociais, com as promessas de aproximar as pessoas, tem sido associado a um aumento da sensação de desconexão social”.16
O sentimento de solidão, que muitos acreditavam estar relacionado apenas ao isolamento social causado pela pandemia, na verdade tem causas muito mais complexas. Um dos fatores nessa equação tem a ver com o maior uso das redes sociais.17
O que, a princípio, objetivava facilitar a comunicação entre indivíduos que se encontravam geograficamente distantes tornou-se o meio primário de comunicação, até mesmo entre pessoas na mesma casa!
Assim, começamos a utilizar os meios de comunicação digital como substitutos da comunicação olho no olho, acreditando que isso nos bastaria. Convencemo-nos de que:
• uma bela mensagem de texto no WhatsApp pode substituir um abraço em datas comemorativas ou o chorar com os que choram em datas que são lembradas com lágrimas;
• visualizar alguns stories de uma irmã em Cristo é suficiente para conhecê-la bem. Pior: chegamos ao ponto de esquecer aquelas que não compartilham suas vidas nas redes sociais;
16 Tradução BBC News Brasil em Londres. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cd145rv214ko.
17 Veja, por exemplo, a pesquisa da professora e especialista em Estudos Culturais Sheila Liming em seu livro Hanging out: the radical power of killing time (Brooklyn, NY: Melville House, 2003).
• a nossa “presença” on-line é, de fato, presença;
• o ambiente digital é tão impessoal que podemos despersonalizar o outro e a nós mesmas. Isso faz com que tratemos as pessoas e falemos com elas de maneiras que jamais adotaríamos em um encontro presencial;
• quando precisamos de ajuda, podemos buscar e encontrar essa ajuda na internet,18 enviando mensagens ou indagações a desconhecidos em “caixinhas de perguntas”, em vez de procurarmos as pessoas que Deus colocou soberanamente ao nosso redor, como familiares, amigos, pastores e irmãos na igreja local.
• é possível ser igreja on-line.
• podemos chamar de “culto” o ato de assistir a pregações no YouTube.
• podemos chamar de “comunhão” o comentário de uma postagem na rede social.
• podemos chamar a troca de algumas mensagens de áudio de “aconselhar uns aos outros”.
A verdade é que, quanto mais nos conectamos, mais nos afastamos. Tornamo-nos espectadores da vida alheia.
E espectadores não se envolvem, não se conectam em nível pessoal. Não era esse, porém, o resultado que esperávamos; iludimo-nos crendo que as redes sociais nos permitiriam
18 Segundo informes das empresas Meta e Gallup sobre a prevalência do sentimento de isolamento social e solidão, as mídias sociais foram usadas tanto quanto chamadas telefônicas para interagir com outras pessoas em busca de ajuda ou apoio no Brasil, Indonésia e México. Disponível em: https://www.prnewswire.com/news-releases/meta-gallup-report-finds-majorities-of-people-across-seven-countries-feel-emotionally-connected-to-one-another-301658418.html.
maior aproximação das outras pessoas, mas, na prática, só estamos sentindo a distância aumentar. Mas, apesar de tudo isso, as redes sociais não são as vilãs dos nossos relacionamentos. A verdade é que esse problema começou muito antes da internet, muito antes de eu vir ao mundo. E não estou falando apenas das cartas, embora também cheguemos a elas mais adiante. Fomos desconectadas umas das outras há muito mais tempo, precisamente na porta de saída do Jardim do Éden.
ERROR 403: 19 “ACCESS DENIED. YOU DON’T HAVE PERMISSION TO ACCESS IT!
Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim (Gn 3.8).
No Éden, Adão e Eva desfrutavam o privilégio diário da presença do Senhor Deus. Apenas tente imaginar o nível de intimidade desse relacionamento com o Pai. A Bíblia diz que ele andava no jardim na viração do dia. Que bela imagem podemos ter dessa comunhão: Deus andando e se comunicando com seus filhos. Deus os ouvindo ali, de viva voz, sem barreiras, sem ruídos. Uma alegria completa! Fomos criados conforme a imagem e a semelhança de um Deus relacional que nos fez para nos relacionar com ele! E
19 Erro de conexão. O erro 403 Forbidden significa que o servidor entendeu a sua solicitação, mas se recusa a autorizá-la. Em geral, isso acontece porque você não tem as permissões necessárias para acessar aquela página ou após a falha de algum arquivo no carregamento do site https://www.hostinger.com.br/tutoriais/o-que-significa-erro-403.
relacionamento envolve comunicação. Veja: ter um relacionamento com aquele que o criou é uma necessidade real de todo ser humano. Por sermos imagem e semelhança de um Deus trino, também fomos criados por Deus para, a partir do relacionamento com ele, termos relacionamentos harmoniosos uns com os outros e com o restante da criação. “Porque Pai, Filho e Espírito se amam em perfeita harmonia eternamente, sua imagem deveria refletir essa harmonia.”20
Originalmente, a criação era marcada pela harmonia no relacionamento entre o homem e o Criador e, consequentemente, entre os seres humanos criados (Gn 1; 2).21 No mundo sem pecado, o homem tinha permissão para acessar a presença do Deus Santo, até que um dia, por desobediência, essa permissão foi negada (cf. Gn 3), pois o homem e a mulher escolheram desobedecer ao Senhor e o pecado entrou no mundo, conforme relatado em Gênesis 3.6-13. Com Adão, todos nós caímos e fomos desconectados do nosso relacionamento harmonioso com Deus para o qual fomos criados (cf. Rm 5.12, 18a, 19a).22
O Pai, que antes andava com o homem na viração do dia e se comunicava diretamente com ele e o ouvia, agora encobre o seu rosto do homem e não lhe dá mais ouvidos (Is 59.1-2). Passamos a ter um terrível problema de comunicação com nosso Deus, e comunicação e relacionamento são indissociáveis. O pecado impôs uma barreira intransponível à nossa comunicação com o Deus santo. A conexão foi rompida.
20 Ana Paula Nunes, Unidas contra a rivalidade feminina (São José dos Campos, SP: Fiel, 2024), p. 52.
21 Para uma análise da ruptura da harmonia original e a necessidade de reconciliação a partir uma perspectiva de estudos bíblicos, veja Diego dy Carlos Araújo, Reconciliação (São Paulo: Edições Vida Nova, no prelo).
22 Em Adão, o ser humano é descrito como “inimigo de Deus” (e.g., Cl 1.21; Rm 5.10a).
Nesse contexto, a ruptura em nosso relacionamento com Deus provocou a ruptura dos relacionamentos horizontais entre os seres humanos criados. Em vez de dar ouvido à ordem do Criador, a mulher escolheu ouvir a serpente, coisa criada, e tomou, sozinha, a decisão de desobedecer. O homem, por sua vez, aceitou o fruto oferecido por sua ajudadora. Imediatamente após pecarem, eles se esconderam daquele que antes andava tão perto deles. E, quando Deus os chamou para a prestação de contas, ambos reagiram transferindo responsabilidades e acusando o próprio Deus.
A harmonia dos relacionamentos foi quebrada em Gênesis. O restante das Escrituras descreve o agravamento e as consequências dos relacionamentos corrompidos pelo pecado.23
Mas a Bíblia não é sobre isso, mas, sim, sobre como o próprio Deus age graciosamente para restaurar esse relacionamento com o homem.24 Lembre-se: relacionamento envolve comunicação. E não se esqueça: nós somos imagem e semelhança desse Deus, e a comunicação foi um atributo que ele nos deu.
DEUS SE COMUNICA; EU ME COMUNICO
Quem, então, resolve o problema que causamos em nossa comunicação e em nosso relacionamento com Deus? O próprio Deus. O próprio Deus se dá a conhecer. E ele faz isso usando palavras e conceitos que a nossa mente criada é capaz de entender.
23 Ana Paula Nunes, Unidas contra a rivalidade feminina (São José dos Campos, SP: Fiel, 2024), p. 55.
24 Cf. 2Coríntios 5.18-21; Romanos 5.1-11; Colossenses 1.15-23; Efésios 2.1-10. Veja Araújo, Reconciliação (São Paulo: Edições Vida Nova, no prelo).
Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? (Rm 11.33,34, grifo meu)
Incompreensível, mas passível de ser conhecido, pois ele mesmo se revelou! Em sua grandeza, Deus escolheu se revelar de modo que tenhamos um conhecimento real sobre ele, ainda que seja um conhecimento limitado. Deus fala a língua dos homens para assegurar que sua mensagem seja compreensível a seres finitos. Deus acomoda sua linguagem à nossa realidade. E tudo o que é necessário para a salvação está revelado e registrado nas Escrituras, a Palavra de Deus.
Perceba que o objetivo da comunicação de Deus com o homem pós-Queda é reconciliá-lo consigo mesmo, restabelecendo um relacionamento pessoal com pecadores arrependidos.
O Deus Santo, Santo, Santo provê os meios para a restauração do relacionamento com pecadores inimigos e rebeldes (Cl 1.2023; Rm 5.1-11). No Antigo Testamento, sua presença no meio do povo era mediada pelo Tabernáculo: “E me farão um santuário, para que eu possa habitar no meio deles” (Êx 25.8, grifo meu).
Porém, mediante a reconciliação que ele realizou em Cristo, seu povo agora é transformado no próprio templo do Deus santo, para sua habitação por meio do Espírito (Ef 2.19-22).
Você entende que esse deveria ser também o nosso objetivo? Crescer no relacionamento com Deus e com o próximo para, assim, amar mais a Deus e o próximo, como nos é ordenado em Mateus 22.34-40. Relacionamento pessoal! Nesse grande templo vivo de Deus, que somos nós, a sua igreja,
somente há crescimento mediante as conexões interpessoais dos cristãos, que, em Cristo, efetuam “o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor” (Ef 4.16b). E tudo isso no contexto da mutualidade e da comunhão da igreja local (cf. Ef 4.1-16).
Comunhão pressupõe comunicação. Foi isso que Deus fez ao tomar a iniciativa de se comunicar com a humanidade, quando ia ao jardim na viração do dia. Não existe comunhão com Deus quando a comunhão interpessoal está ausente (1Jo 1.6-7). Porém, estamos testemunhando as redes sociais nos tornarem apenas espectadores e influenciadores. Sem troca, sem pessoalidade, sem comunhão.
Deus, o Todo-Poderoso, quis habitar no meio de seu povo, e ele mesmo proveu os meios necessários para isso. E todos nós, pequenos, finitos e pecadores, fomos escolhidos por ele para integrar esse povo, mas nos consideramos grandes demais para fazer o mínimo esforço de nos conectar com Deus e com o povo de Deus em comunhão na igreja local. E, como você bem sabe, quando há um problema de conexão, a primeira solução, aparentemente, é reiniciar o computador e o roteador. Voltaremos a isso mais adiante. Por ora, conforme o combinado, falemos das cartas.
CONEXÃO OLHO NO OLHO
Deus comunica e, porque somos sua imagem e semelhança, nós também nos comunicamos. E essa comunicação se dá dentro dos limites de nossa época, cultura e nível tecnológico. É muito importante reconhecermos a soberania de Deus sobre a época em que vivemos (At 17.22-28). Deus escolheu que você e eu estivéssemos vivas agora, em uma era
tecnologicamente digital. Deus nos chamou soberanamente para sermos sal e luz em uma cultura que produz e consome comunicação digital. E, apesar de não termos instruções bíblicas específicas sobre como viver em uma era de mídias digitais e dancinhas de TikTok, Deus nos deixou excelentes orientações de como viver como crentes na era em que vivemos. Mas a comunicação digital é algo recente; nem sempre foi assim (para horror e choque da chamada geração Z!).
Em sua soberania, Deus escolheu que boa parte de sua Palavra nos fosse transmitida por meio de cartas, escritas pelos apóstolos a diferentes destinatários. Deus escolheu que eles vivessem em uma época de cartas, e a forma que lidavam com elas não é diferente de como devemos lidar com os meios de comunicação mais avançados, passando por telefone, fax, bip, internet e o que mais venha por aí.
Os apóstolos usavam positivamente as cartas. Elas funcionavam como uma forma de transmitir a autoridade apostólica na impossibilidade de o apóstolo visitar a igreja. Mas o registro do intenso desejo de estarem conectados pessoalmente, com a antecipação de encontros futuros, está presente em várias dessas cartas: “Embora tenha muitas coisas para vos escrever, não o quis fazer com papel e tinta; pois espero ir ter convosco e conversaremos de viva voz, para que a nossa alegria seja completa” (2Jo 12); “Muitas coisas tinha que te escrever; todavia, não quis fazê-lo com tinta e pena, pois espero ver-te brevemente, e então conversaremos de viva voz (3Jo 1.13,14).
Essa era uma forma típica e amigável de encerrar as cartas na época, expressando o desejo de estar presente, mas o segmento textual “para que a nossa alegria seja completa” é
bem mais do que uma expressão tradicional. Essa é a alegria de ver seus leitores andando na verdade: “Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade” (3Jo 4). Ao estarem juntos “de viva voz”, João espera garantir que eles continuem andando na verdade. O desejo de estar junto é genuíno, e essas cartas cumpriam seu propósito na impossibilidade da presença física.
Deus escolheu deixar registradas em sua Palavra as diversas vezes que Paulo, por exemplo, é claro em suas cartas sobre o desejo de estar pessoalmente com aqueles a quem escreve (e.g., Rm 1.9-15; 1Co 16.5-9; 2Co 13.1-3; Fp 1.8; 1Ts 2.17-20; Fm 22). Por causa das limitações impostas pela prisão, ele escrevia cartas. Porém, escrevendo a Filemom, Paulo expressa o desejo de estar com ele pessoalmente: “eu te escrevo, sabendo que farás mais do que estou pedindo. E, ao mesmo tempo, prepara-me também pousada, pois espero que, por vossas orações, vos serei restituído” (Fm 1.21,22, grifos meus).
À igreja dos tessalonicenses, Paulo, Silvano e Timóteo declaram que foram impedidos por Satanás de ir pessoalmente até eles:
Ora, nós, irmãos, orfanados, por breve tempo, de vossa presença, não, porém, do coração, com tanto mais empenho diligenciamos, com grande desejo, ir ver-vos pessoalmente. Por isso, quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas); contudo, Satanás nos barrou o caminho. Pois quem é a nossa esperança, ou alegria, ou coroa em que exultamos, na presença de nosso Senhor Jesus em sua vinda? Não sois vós? Sim, vós sois
realmente a nossa glória e a nossa alegria! (1Ts 2.17-20, grifos meus)
Aos romanos, Paulo revela seu intenso desejo de estar na companhia pessoal deles e declara que, em suas orações, pede ao Senhor que possa visitá-los:
Em todas as minhas orações, suplicando que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de visitar-vos. Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom espiritual, para que sejais confirmados, isto é, para que, em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos por intermédio da fé mútua, vossa e minha. Porque não quero, irmãos, que ignoreis que, muitas vezes, me propus ir ter convosco (no que tenho sido, até agora, impedido), para conseguir igualmente entre vós algum fruto, como também entre os outros gentios. (Rm 1.10-13, grifos meus)
Esses são apenas alguns exemplos, mas o suficiente para mostrar que as cartas eram bênçãos em sua função de substituir o “pessoalmente” sempre que necessário. Repito: sempre que necessário, e apenas quando o “pessoalmente” era uma impossibilidade momentânea. Deveríamos encarar as novas tecnologias de comunicação com a mesma atitude, ou seja, uma grande bênção para viabilizar nossa comunicação quando necessário. Não obstante, o que vemos é a substituição do “pessoalmente”, independentemente de necessidades reais.
A comunicação via cartas impõe grandes limitações à efetividade da comunicação e à manutenção de relacionamentos.
Para citar apenas um exemplo, as cartas são unilaterais, permitindo apenas uma direção da informação, sem troca mútua — ainda que haja resposta posterior. Nesse sentido, cartas também são impessoais. Por outro lado, as redes sociais, igualmente, têm sua efetividade limitada: elas podem transmitir conteúdo, mas com grande perda no encorajamento mútuo.
EDIFICAÇÃO E ENCORAJAMENTO MÚTUO ACONTECEM PESSOALMENTE
Porque muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom espiritual, para que sejais confirmados, isto é, para que, em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos por intermédio da fé mútua, vossa e minha. (Rm 1.11,12, grifos meus)
Nessa passagem, Paulo revela seu antigo desejo de visitar os romanos. Ele deixa claro que, embora aquela carta possa preparar o caminho para sua chegada, é somente na companhia dos santos que ele poderá repartir algum dom espiritual para confirmar (ou “fortalecer”) a igreja.
O apóstolo, na verdade, reconhece que a edificação e o encorajamento mútuo acontecem pessoalmente. Exortação acontece com mutualidade, pessoalmente, no dia a dia, olho no olho, de viva voz. O princípio de edificação da igreja e encorajamento bíblico é mútuo, realizado no contexto “uns
aos outros”: “Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como também estais fazendo” (1Ts 5.11).25
Na direção contrária, muitos cristãos se aproveitam das redes sociais para criticar, julgar e exortar sem amor outros cristãos. Alguns até justificam esse tipo de atitude invocando o exemplo de Paulo. Mas eles parecem esquecer um princípio paulino importante para a manutenção da unidade da igreja e que promove sua edificação: “seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4.15, grifo meu). Se, por um lado, amor sem verdade produz complacência pecaminosa, verdade sem amor resulta em legalismo e divisão. É extremamente importante ver que as exortações que Paulo fazia por meio de suas cartas se alicerçavam em sua autoridade apostólica, e que ele, de forma consistente, mudava o tom de suas exortações quando escrevia para igrejas que ele mesmo não havia fundado e apenas quando alguém da própria comunidade clamava por sua intervenção (como no caso do pedido por Epafras para a igreja em Colossos, cf. Cl 1.7-8; 4.12-13). Curiosamente, e com razão, Paulo exorta somente as igrejas que ele mesmo havia plantado a imitá-lo, dizendo: “Sede meus imitadores” (e.g., 1Co 11.1; Fp 3.17; cf. 1Ts 1.6).
Veja: Paulo não tinha como parte de seu “ministério” “interferir” nas outras igrejas. Nem tomava para si a incumbência de se tornar “polícia da ortodoxia” de todos à sua volta — embora, caso o fizesse, não seria sem verdade e amor. Porém, não é exatamente isso que nós vemos os cristãos
25 As dezenas de mandamentos do tipo “uns aos outros” (da palavra grega allēlōn) no Novo Testamento revelam a natureza comunitária da igreja, sem a qual a vida cristã é impraticável (e.g., Mc 9.50; Rm 15.7; Gl 5.13; 6.2; Ef 4.32; 1Ts 5.11; Hb 10.24; Tg 5.16).
fazendo nas redes sociais,26 mesmo sem ostentar nenhuma
autoridade para fazer tais exortações?
Sabemos que o coração pastoral de Paulo é revelado em sua prática de orar incessantemente por sua audiência, demonstrando preocupação sincera pelo bem-estar espiritual dela. E quanto a nós? Será que vemos o mesmo coração pastoral nos pernósticos das redes sociais? Acaso lidamos com verdade e amor, visando à edificação da igreja, em relação àqueles que nos instigam e ofendem publicamente ou que simplesmente pensam diferente? E se você responder a eles com igual exortação, será que eles escutam? Há, de fato, uma troca ou alguma edificação nisso?
A instrução e o aconselhar envolvem mutualidade, oração, louvor e presença, além de comunhão: “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração” (Cl 3.16).
As cartas foram usadas positivamente por Deus no meio de seu povo. É certo que as redes sociais também podem ser usadas nesse sentido, desde que o façamos com sabedoria,27 entendendo suas limitações. É importante que não a utilizemos como substitutas de nossa comunhão pessoal na igreja local, pois essa é uma tentação real, oferecida por uma tecnologia que mima você, personaliza seus gostos, oferece de bandeja apenas aquilo que você deseja e molda a forma de se relacionar com as pessoas fora dali.
26 Principalmente no X, o antigo Twitter.
27 No último capítulo deste livro, apresentam-se algumas formas de fazer isso.
ALGORITMO, ME CONECTE COM QUEM
PENSA COMO EU
Os algoritmos das redes sociais estão cada vez mais eficientes em nos conectar com pessoas cujos interesses são os mesmos que os nossos. Arrisco-me até mesmo a afirmar que estão muito próximos da perfeição. Enquanto escrevo este capítulo, realizei alguns testes em redes sociais, sendo bem literal em minhas postagens. Por exemplo: “Algoritmo, me conecte com mães que…”. E fiquei bastante impressionada com os resultados.
Mas eu nem precisaria ser tão direta. Os algoritmos decifram o que você quer ver, no momento em que está vendo, apenas analisando seu comportamento em relação ao conteúdo. Pelo tempo que você gasta em determinado conteúdo, ele já lhe apresenta outros similares. E, se você perder o interesse, ele muda rapidamente. E, assim, você fica girando nessa roda por horas a fio, jogando para cima o que não lhe interessa e gastando seu tempo com aquilo que você mesma escolhe.
No ambiente virtual em que você passa boa parte do dia, está constantemente escolhendo com quem deseja se conectar. Nas redes sociais, você decide quem seguir ou deixar de seguir, quem pode seguir você e quem não deve mais ver o que você compartilha. Define a velocidade na qual quer ouvir alguém falar, quem deseja silenciar ou até mesmo bloquear da sua “vida”. Escolhe o que quer mostrar ou esconder sobre si mesmo, o que deseja apagar e o que prefere fixar.
Na igreja local isso não acontece, não é? Lá, você não escolhe quem entra e quem sai, não escolhe deixar de ouvir as pessoas que pensam diferente de você. Lá, você não pode fazer acepção de pessoas. Você não escolhe as pessoas que fazem parte do corpo com você; é Deus quem escolhe!
Deus escolhe, uma a uma, as pessoas que se sentam ao seu lado na igreja para unir as próprias vozes à sua voz em louvor. Some isso ao fato de os relacionamentos neste mundo caído serem extremamente difíceis, requererem esforço e intencionalidade e, então, você terá a receita perfeita para relacionamentos na vida real cada vez mais superficiais — isso quando eles existem.
O fato é que, mesmo dentro da igreja, somos pecadores lidando com pecadores, e estamos nos deixando moldar pelos algoritmos que nos incapacitam a lidar com todo esse barulho desconfortável, porém eficazmente usado por Deus, de ferro afiando ferro. Deus escolhe cada um dos irmãos em Cristo com quem estamos unidos no corpo. Não podemos fazer essa escolha, por mais que tentemos muito (cf. Tg 2.1-5; Rm 2.11; Ap 5.9). Isso sem mencionar o tempo que gastamos presos às redes, em vez de investirmos no estudo da Palavra de Deus — apenas para, depois, nos enganarmos dizendo que não temos tempo para ler a Bíblia. Ou da prontidão em buscarmos respostas prontas de influenciadores que não nos conhecem, em vez de abrirmos a Bíblia e ouvirmos o que Deus tem a nos dizer; ou de ouvirmos nosso pastor, a quem Deus apontou como nosso líder espiritual. Ou mesmo de nossa rapidez em “tirar o corpo fora” quando nossas irmãs precisam de ajuda em serviço, ensino, exortação, aconselhamento ou discipulado. Veremos mais a esse respeito nos próximos capítulos. As escolhas que as redes sociais nos permitem fazer, bem como seus algoritmos, estão nos dando a sensação de que temos o poder de incluir pessoas em nossas “vidas digitais” — e de excluí-las. É muito poder! E o que acontece é que estamos transferindo para fora do ambiente virtual essa
tentativa de exercer poder sobre com quem, como e em que medida queremos nos relacionar. Mas, como vimos, o natural pós-Queda é justamente que você seja cada vez mais egocêntrica e não queira se relacionar, ecoando a resposta de Caim ao Criador, sobre onde estava Abel: “Não sei; acaso, sou eu tutor do meu irmão?” (Gn 4.9b). Essa é a solução que o mundo lhe oferece por todas as vias: a de que você deve pensar mais em si mesma e buscar a felicidade sozinha.
Você não vai encontrar essa alegria que o mundo promete, minha irmã. Precisamente porque ela não passa de uma miragem, de uma ilusão. Você não foi criada para andar só ou mesmo para caminhar apenas com quem você escolhe digitalmente — até porque não é possível “caminhar” verdadeiramente com alguém de forma digital. Que bom! Deus escolheu você e cada uma das pessoas que estão conectadas a você pelos laços de sangue.
RESTAURANDO CONEXÕES DE REDE
PARA QUE NOSSA ALEGRIA SEJA COMPLETA
Como vimos, com a entrada do pecado no mundo, nosso acesso a Deus foi negado. Ficamos manchadas pelo pecado e, por isso, não pudemos mais nos relacionar com um Deus Santo. Essa ruptura afetou diretamente todas as outras esferas de relacionamento, inclusive a esfera horizontal que chamamos de “uns aos outros”.
As soluções para restabelecer as conexões envolvem reinicialização e limpeza,28 mas nós nunca fomos capazes de fazer isso sozinhas. Deus, porém, em sua infinita
28 Reiniciar o computador ou o roteador; fazer limpeza de cache ou memória.
misericórdia, vem, desde sempre, providenciando os meios para restaurar nossas conexões com ele e nossas conexões uns com os outros. E ele fez isso de forma perfeita e definitiva na cruz do Calvário. O Pai envia seu Filho Jesus para viver a vida que não podemos viver, uma vida santa: “Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação” (2Co 5.18). Ele veio pagar o preço dos nossos pecados e morrer a morte que nós merecíamos (cf. 2Co 5.21). E ressuscitou e ascendeu aos céus, deixando o Espírito Santo para habitar em nós e nos unir uns aos outros (Ef 2.14-22; 1Co 12.12-31).
Nós fomos lavadas pelo sangue de Jesus. Temos permissão para nos comunicar e nos relacionar com o Pai, conforme fomos criadas para fazer (Rm 5.1-2). E, com essa conexão principal restaurada, temos tudo aquilo de que precisamos para nos conectar verdadeiramente umas com as outras (Cl 3.9-11, 15). Isso porque já fomos reconectadas umas às outras no madeiro e já podemos desfrutar um vislumbre do que viveremos na eternidade.29 Lá no céu, estaremos santificadas em glória, em perfeita união, gozando da presença de Deus. Habitaremos com ele, seremos seu povo e ele estará conosco (Ap 21.2,3). Lá, sim, nossos “contatos” serão perfeitos e nossa alegria será completa e eterna.
29 Nos próximos capítulos, as irmãs que aqui se uniram para escrever desenvolvem formas práticas de como já podemos experimentar um gostinho da eternidade, obedecendo ao chamado de Deus para caminharmos juntas hoje.
UM POUCO SOBRE AS COLABORADORAS

Ana Paula Nunes Araujo é autora do livro Unidas contra a rivalidade feminina, palestrante e host do Podcast Sherlocka Holmes. Ela é formada em Comunicação, pós-graduada em Teologia Bíblica e mestranda em Aconselhamento, os dois últimos pelo CPAJ. Casada com Diego dy Carlos e mãe do Arthur, congregam na Igreja Batista da Graça em São José dos Campos (SP).

Claudia Lotti é casada com Rinaldo Lotti Filho, mãe do Henrique, da Rachel e do Benjamim. Ela é neurologista, mestre em Neurociências e professora. Pós-graduanda em Educação Cristã, Claudia é coautora do livro Toda mulher trabalha, dá aula de EBD e aconselha mulheres na Igreja Presbiteriana Paulistana (SP).

Laise Oliveira é esposa do pastor Alexandre Oliveira e mãe de três filhas (Júlia, Isabela e Sara). Pedagoga, teóloga, cursa especialização em Aconselhamento e serve há 12 anos no Ministério Fiel como coordenadora e professora do Cursos Fiel. Laise auxilia o ministério feminino da Igreja Batista da Graça em São José dos Campos (SP), onde congrega. Ela palestra em conferências e é idealizadora do BiblicaMente, ministrando aulas de Bíblia para mulheres, e do CronologicaMente, fazendo leituras bíblicas reflexivas no Instagram.

Luciana Sborowski é casada com Douglas, pastor da Igreja Presbiteriana de Ribeirão Preto (SP), onde congrega. Mãe de 3 filhos (Lia, André e Pedro), Luciana é graduada em Fonoaudiologia e mestranda em Aconselhamento Bíblico pelo Andrew Jumper. Serve no ministério de aconselhamento bíblico e discipulado de mulheres em sua igreja local. Co-criadora do Movimento Cartas Vivas, também colabora no Filipenses Quatro Oito, organizando eventos e editando materiais para o discipulado de jovens e mulheres.

Naná Castillo é casada com Luiz Castillo, mãe da Ester e do João, e a família congrega na Igreja Batista Maranata, em São José dos Campos (SP). Ela é enfermeira, doutora em ciências e professora livre-docente em saúde da criança. Coautora do livro Toda mulher trabalha, Naná é palestrante, criadora e professora do ministério Filipenses Quatro Oito.

Nátalie Campos é membro da Igreja Presbiteriana Pedras Vivas, em Santo André (SP). É esposa do pastor Heber Campos Jr., com quem tem três filhos: Bianca, Samuel e Nicole. Formada em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Teologia, tem ensinado mulheres em conferências e por meio de seu perfil @nataliegcampos. Nátalie também serve no Conte Comigo, um ministério voltado para esposas de seminaristas no Seminário Presbiteriano em São Paulo.

Prisca Mendonça é teóloga, escritora e palestrante. Casada com Luís Mendonça e mãe de Asaph, é membro da Igreja Batista Reformada em Cotia (SP), onde atua na área de ensino para as mulheres. É fundadora do ministério Teologia Para Mulheres, onde se dedica a ensinar e encorajar mulheres a estudarem teologia de forma simples e acessível.

Renata Cavalcanti é editora de livros para crianças e mulheres na Editora Fiel e coordenadora da Conferência Fiel para Mulheres. Com formação na área de Comunicação Social (Jornalismo e Publicidade), possui pós-graduação em Marketing e MBA em Book Publishing. Casada com Juliano e mãe do Théo, Renata auxilia no ministério infantil da Igreja Batista da Graça, em São José dos Campos (SP), onde congrega.

Renata Gandolfo é membro da Igreja Batista da Graça em São José dos Campos (SP). Idealizadora do movimento Cartas Vivas, ela serve como conselheira bíblica, além de ajudar mulheres com discipulado e estudos bíblicos.
Licenciada em Letras, pós-graduada em Aconselhamento Bíblico e Literatura, Renata trabalha no Editorial Online do Ministério Fiel, escrevendo regularmente na coluna Vida de Ovelha, do blog Voltemos ao Evangelho.
O Ministério Fiel visa apoiar a igreja de Deus de fala portuguesa, fornecendo conteúdo bíblico, como literatura, conferências, cursos teológicos e recursos digitais.
Por meio do ministério Apoie um Pastor (MAP), a Fiel auxilia na capacitação de pastores e líderes com recursos, treinamento e acompanhamento que possibilitam o aprofundamento teológico e o desenvolvimento ministerial prático.
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