Coleção 10V - 1º Ano - Sociologia - Aluno

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Gabriela Junqueira


Ollyy / Shutterstock.com

FRENTE

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SOCIOLOGIA Por falar nisso Na vida cotidiana, é indicada a inclusão de uma mentalidade científica para oferecer explicações racionais sobre o que acontece ao nosso redor, ou seja, devemos analisar e indagar determinadas situações usando critérios de racionalidade, baseados em leis e princípios lógicos para chegar a sistematizações. O pensamento científico aqui direcionado ao aprendizado da Sociologia nos permite compreender os comportamentos em sociedade e analisar nossas próprias ações. Embasados na Sociologia, formamos uma postura crítica e reflexiva diante da modernidade, diferenciando os conhecimentos sobre o mundo e percebendo o impacto que podemos causar. Ademais, podemos perceber como a origem da Sociologia, enquanto campo do saber, é intimamente relacionada a essa vontade de dar sentido ao mundo social em transformação e quão importante é perceber-nos enquanto elementos ativos de transformação social. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A01 A02 A03 A04

Formas do conhecimento................................................................8 Conhecimento popular × Conhecimento científico......................19 Fenômenos históricos....................................................................29 A Sociologia e o mundo moderno.................................................37


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A01

ASSUNTOS ABORDADOS nn Formas do conhecimento nn Senso comum nn Filosofia nn Religião nn Artes nn Mitos

FORMAS DO CONHECIMENTO O conhecimento científico busca explicar as coisas mais variadas do nosso cotidiano. Ele, por exemplo, que o que nós respiramos é gás oxigênio e que ele é representado pela fórmula O2. O conhecimento científico é a informação e o saber que partem do princípio das análises dos fatos reais e cientificamente comprovados. Para isso, ele deve estar embasado em observações e experimentações, que servem para atestar a veracidade ou falsidade de determinada teoria. A busca pelo saber científico facilita a vida das pessoas, levando conhecimento acerca de determinados fatos. Porém, não se chega a isso de maneira superficial, aceitando resultados imediatos ou com pouca reflexão. O cientista tem que se dedicar e esforçar para descobrir informações sobre seu objeto de estudo. Uma das principais características do conhecimento científico é a sistematização que é um saber ordenado. Outra característica importante do conhecimento científico é o princípio da verificabilidade, pois, segundo determinadas lógicas, análises, coerências e comprovações, há instrumentos para criar uma tese de caráter válido, e isso explica por que o saber científico deve tanto ser ordenado, obtido a partir de um conjunto de ideias que são formadoras de uma teoria, como deve ser verificado e comprovado sob a ótica da ciência para que possa fazer parte do conhecimento científico. É importante saber que esse tipo de conhecimento é de caráter provisório, ou seja, as teorias são válidas e legítimas enquanto não são superadas por outros cientistas com melhores argumentos ou fundamentos. Desse modo, o conhecimento científico está em constante renovação, pois é relevante descartar o fato que este conhecimento também é passível de falhas, pois a ciência, não é algo estático e definitivo. A ciência é variável e, sem dúvida, pode receber interferência do ambiente tanto local quanto global, pois a todo momento novas teorias estão surgindo, podendo substituir a antiga por meio de novas comprovações e experimentações científicas. Assim, temos o entendimento de que a ciência se desenvolve como um processo, no qual um novo conhecimento é pensado e produzido a partir de algo anteriormente desenvolvido, e isso permite que a ciência se desenvolva de forma sempre atual e questionadora. Fonte: Matej Kastelic / Shutterstock.com

Figura 01 - Congressos, conferências, colóquios e outros são locus de debates de pesquisas e construção do conhecimento científico por pesquisadores do mundo inteiro.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

É importante destacar que o conhecimento científico versa sobre o que entendemos por senso comum, pois ao contrário do conhecimento científico, que requer base teórica e comprovações a partir de experimentações, o conhecimento do senso comum é pautado principalmente nas crenças populares, ideias e conceitos que são transmitidos através das gerações por meio de heranças culturais. Enquanto a ciência tem o pensamento racional como forma de aquisição do conhecimento, o senso comum se baseia nas experiências vividas, na utilidade e transmissão de valores ancestrais, o que nos faz ir além, e nos permite ir para outra diferenciação, quanto à natureza do conhecimento ligado à objetividade e à subjetividade. Na objetividade, todo conhecimento é centrado no objeto, que é abordado sem atribuição de qualquer parecer pessoal, enquanto que na subjetividade todo conhecimento é baseado na experiência individual do sujeito, variando de acordo com as opiniões pessoais. Portanto, há teorias que são tão mais objetivas, quanto aquelas que se desenvolvem em um âmbito da subjetividade. Como exemplo, uma ciência de investigação objetiva será dada por um clássico francês Émile Durkheim, já a subjetividade será compreendida por um clássico alemão Max Weber. Para compreender um pouco mais sobre as formas de conhecimento e do pensamento refletiremos sobre outros temas, além do ligado ao senso comum, como também aqueles ligados aos temas da filosofia, religião, artes e mitologia.

Senso comum O senso comum é um conhecimento embasado no empirismo, que é passado de geração a geração, desprovido de qualquer constatação que dispõe do aval do universo científico propriamente dito. Para melhor entender, podemos pensar em algumas situações e afirmações cotidianas. São conhecimentos de fatos ou verdades embasadas nas impressões do próprio indivíduo. São conceitos imaturos e opiniões formadas sem qualquer prova ou evidência concreta, mas que podem tornar verdades absolutas. Veja os exemplos abaixo.

Figura 02 - “Mulher ao volante perigo constante”

Em briga de marido e mulher Será?

O meu cabelo não é ruim,

RUIM É SEU RACISMO

Figura 03 - “Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” Figura 04 - “Cabelo ruim” / “Cabelo de Bombril” / “Cabelo duro” / “Quando não está preso está armado”

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Fonte: Wikimedia Commons

NÃO SE METE A COLHER.

A01  Formas do conhecimento

Estacionamento do

XIV Encontro Internacional da MULHER


Sociologia

Como podemos ver, o risco que o senso comum assume é de opiniões individuais e sem reflexão serem tomadas como verdades, e isso pode desencadear um processo de preconceito e discriminação de todos os tipos (desde a etnia até o gênero, sexo e etc.). Uma forma de pensamento que não está preocupada com causas e fundamentos faz com que apenas afirmações preconceituosas - sem nenhum fundamento lógico - sejam reproduzidas, o que influencia várias ações de inferiorização de alguns grupos sociais.

Filosofia Filosofia é uma palavra grega que significa amor pelo conhecimento, pela sabedoria, e consiste no estudo de problemas fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, à verdade, à mente, e à linguagem. A peculiaridade da forma de conhecer filosofia é que, diferentemente das outras formas de conhecer, ela busca os princípios fundamentais, as causas primeiras do objeto em questão. Isso se dá porque as questões levantadas pela filosofia têm um caráter universal e necessário, diferente das questões levantadas pela ciência, que são, em sua maior parte, de caráter contingente. As questões mais gerais da filosofia estão relacionadas ao homem e ao Universo em sua totalidade. Com a reflexão filosófica chega-se aos princípios, leis, regras, fundamentos dos objetos de uma maneira que ultrapassa os limites da ciência, mas não o da razão, pois toda reflexão filosófica deve ser racional, lógica, coerente. Ademais, não é porque ela ultrapassa os limites da ciência que ela seja algo abstrato e fora da realidade, pelo contrário; o conhecimento filosófico tem total ligação com a realidade. Pois, se assim fosse, seriam apenas palavras concatenadas sem sentido algum, e a filosofia é plena de sentido.

Religião As religiões apresentam uma explicação sobrenatural de conhecer o mundo. É baseada na crença da divindade ou forças transcendentais. É um conjunto de “verdades” a que os homens chegaram, mediante aceitação de uma revelação divina, na qual tudo é aceito pela fé - aquilo que não existe comprovação - sem uma reflexão seguida por métodos científicos, embasada exclusivamente na fé humana. As ditas “verdades” de que trata o conhecimento teológico são infalíveis ou indiscutíveis, na medida em que são revelações sobrenaturais da divindade. As Escrituras Sagradas, tais como a Bíblia, o Alcorão, a Sagrada Tradição podem ser incluídas como conhecimento teológico para exemplificar a religião enquanto forma de conhecimento.

Artes

A01  Formas do conhecimento

A arte é um conhecimento ligado a uma natureza subjetiva, de um modo particular de compreender o mundo, um modo que traduz a sensibilidade do artista. Na história da filosofia, tentou-se definir a arte como intuição, expressão, projeção. Esse universo caracteriza um tipo particular de conhecimento que o ser humano produz a partir das perguntas fundamentais que se fazem com relação ao seu lugar no mundo, pois o ato criador estrutura e organiza o mundo, respondendo aos desafios que dele emana, em um constante processo de transformação do homem e da realidade que o cerca.

Mitos O conhecimento mítico trata de narrativas que geralmente refletem sobre a origem do homem, do universo, tendo um caráter simbólico. E, apesar de o mito tentar explicar a origem de coisas como o universo, os seus argumentos e fundamentações não são fatos constatados na realidade. O mito pode ser definido como uma explicação do atual por um acontecimento primordial que está sempre presente e por isso se situa em um espaço e tempo sagrados. O mito explica o tempo e o espaço cotidianos pelo espaço e tempo sagrados, por isso os relatos míticos, na maioria das vezes, começam com a seguinte ex10


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Antigamente, os índios não tinham fogo, comiam caça seca ao sol e pau puba. Um índio levou o seu cunhado mais novo para pegar filhotes (ou ovos) de arara. Foram e colocaram uma armação de varas até o buraco da arara nas pedras. Aí o mais novo subiu. Não pegou arara porque estava com medo (ou não havia nada ali, ou compadeceu-se dos filhotes), pegou uma pedra e jogou para baixo, acertando a mão do cunhado, que o aguardava. Este zangou-se, tirou a vara e foi embora e o menino ficou lá em cima entregue à própria sorte: comia o que defecava, bebia o que urinava. Não tinha nada em cima das pedras. Ele ficou muito magro, quase moribundo. Enquanto isso, um dia, Onça foi caçar, matou um caititu e veio carregando. No caminho de volta, viu a sombra do índio no chão. Em vão, por mais de uma vez, tentou agarrar a sombra, pensando que fosse o rapaz. Até que olhou para cima e viu o índio. Onça chamou-lhe e botou a vara para que descesse. Ele titubeou, mas acabou concordando. Quando ia descendo, pegou um filhote de arara e jogou para a Onça comer. Depois a Onça o levou nas costas para a casa. Quando chegou lá a mulher de Onça estava fiando algodão. Onça disse: “Eu trouxe um menino”. Aí assou carne e deu muito de comer para ele, que estava fraco por ter passado muito tempo nas pedras. O menino chamava a mulher de Onça de nhirua (vocativo para mãe) e Onça de djunua (pai). Onça disse à mulher: “Quando ele ficar com fome, você tira carne e dá”. O menino ficou com fome, mas ela não lhe deu comida, aí ele pegou carne e saiu correndo com medo dela, que o ameaçou mostrando as garras. Quando Onça voltou, o índio contou o ocorrido, e aquele lhe fez arco e flecha dizendo: “Se ela te ameaçar de novo, não hesites em matá-la”. Mas a mulher de Onça começou de novo a implicar e não deu carne. O menino a matou. O menino fez um cofo para carregar beiju e Onça, pai dele, mostrou-lhe o rumo de sua aldeia de origem. Ele foi embora levou carne assada e beiju para a aldeia. Andou um dia e chegou. Contou aos outros que tinha acontecido. Disse que lá tinha fogo, que Onça comia assado. Foram todos lá. Pegaram um jatobá grande queimando e carregaram nas costas, todos juntos. E a onça ficou sem fogo até agora. Ela come cru e nós comemos cozido. (JUNQUEIRA, 2017 apud GORDON, 2006, p. 445/46) O conhecimento científico que difere desses acima é de caráter objetivo, ou seja, procura estabelecer regras válidas para todas as experiências possíveis e não se embasam em mero opinião. Ele busca explicar os fatos de maneira concreta. A ciência busca descobrir como o mundo e a natureza funcionam, sem a interferência do sujeito. O conhecimento é adquiro por meio do método científico, que um conjunto de etapas que um pesquisador segue. São passos lógicos e organizados, para estudar e analisar os fenômenos que despertaram interesse.

Muito falamos sobre a verdade, e muitas vezes o conhecimento científico e a ciência são embebidos pelo discurso revelador da verdade absoluta sobre determinados fatos. Mas é importante levantar um questionamento quanto a essa afirmação, pois o pensamento científico não é permeado pela verdade absoluta, e menos ainda conhece toda a verdade sobre tudo, por isso é importante refletir esse conceito como um conjunto de descrições, interpretações e teorias que visam ao conhecimento de uma parcela da realidade por meio de métodos científicos (FRANCELIN, 2004 apud Freire-Maia, 1998). Assim, objeto específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicas, processo cumulativo do conhecimento, e objetividade fazem da ciência uma forma de conhecimento que é conflituosa ao conhecimento fornecido pelo senso comum, pois ele é a todo instante racional, objetivo, analítico, comunicável, acumulativo, explicativo, entre outros fatores relacionados à investigação científica. Por isso é relevante refletir sobre o papel da ciência enquanto agente em diversas esferas do conhecimento, bem como sua relação com outros tipos de saberes e eventos, pois a ciência pode ser passível de influências que podem ser recebidas e, principalmente, entendidas de diversas maneiras em um mesmo evento e por um mesmo observador. Nesse sentido, o debate prende-se à ciência e uma possível aproximação com o senso comum, para refletirmos o quanto o senso comum deve ser importante para nortear o conhecimento, mas é importante observar seus riscos. O pensamento científico não se forma nem se transforma apenas pelo experimento, pois anterior à práxis científica estão a ideias e o pensamentos, por isso o conceito de ciência não pode ser reduzido apenas a experimentos, pois é extremamente abrangente. Sabemos também que determinados critérios podem ser fundamentais para comprovar algumas teses associadas ao desenvolvimento das ciências exatas e biológicas, porém, os estudiosos das ciências humanas e sociais não partilham desse mesmo aparato metodológico. Eles seguem regras e lógicas científicas, porém, experimentos e laboratórios, não fazem parte do desenvolvimento do campo de pesquisa, pois a todo instante eles estão lidando com objetos relacionados às relações sociais, ao estudo das sociedades que já não existem mais, e por isso, pesquisas devem ser desenvolvidas no campo das hipóteses, mas cerceadas de metodologias que permitam que elas sejam desenvolvidas, sem perder o caráter científico que a ciência exige. Há a ilusória ideia de que se deve ter crença total na ciência, o que seria algo errôneo, no sentido que sabemos que a ciência nos mostra uma verdade, mas uma verdade parcelada da realidade. A eliminação de alguns ideais, como mito, por exemplo, coloca a ciência em um patamar de tudo explicar, de tudo dominar, e o que temos que nos perguntar e: o que é a verdade em si?! Quem então pode ser o dono da verdade? 11

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pressão: “naquele tempo” ou “antigamente” como podemos visualizar neste mito Kayapó sobre a aquisição do fogo, trazido para exemplificar o mito como forma de conhecimento.


Sociologia

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Verdade A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil. E os dois meios perfis não coincidiam. Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram a um lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em duas metades, diferentes uma da outra. Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. As duas eram totalmente belas. Mas carecia optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia. ANDRADE, Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.

Dessa forma, devemos encarar a ciência e o conhecimento científico, pensando em como ele, apesar do método e rigorosidade, pode nos trazer meias verdades, ou verdades influenciadas por um senso comum, e como algumas verdades podem vir imbuídas de preconceitos, de visões pessoais. A verdade, portanto, pode ser mascarada pela fé e pelas crenças. Então os pesquisadores devem a todo instante estar atentos a esses riscos, pois a orientação positiva que o senso comum permite, por indagações que permeiam nosso cotidiano, gera um risco que deve ser encarado com cuidado e perspicácia, devendo jamais influenciar algo peremptoriamente.

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Devemos ficar atentos, nesse sentido, à ideia de que a visão linear do pesquisador, muitas vezes, pode não ser suficiente e adequada para tratar dos problemas levantados pelo próprio meio científico. Aqui a crítica não é voltada à razão, mas ao uso da razão como único caminho para o conhecimento verdadeiro. A partir da reflexão que tivemos por meio do poema de Drummond, vimos que as verdades podem ser provisórias e relativas, e uma das funções da racionalidade é construir hipóteses que sustentem essas verdades, ao mesmo tempo em que, pela mesma via, desconstroem-se essas hipóteses e as verdades chamadas provisórias são substituídas. Para se chegar mais próximo a um pensamento racional, devemos entender o processo de que os conceitos nascem no cotidiano, permeados pelo senso comum, e são apropriados pelo meio científico, que os fazem se tornar ciência justamente pelo rompimento com esse cotidiano. Boaventura (2002) propõe um novo senso comum, que 12


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será cada vez mais estreito ao pensamento científico, porque segundo o autor, a ciência moderna se desenvolveu distanciada do senso comum, porém a ciência pós-moderna vem para reconhecer os valores e positividades do senso comum, na medida em que ele também produz conhecimento e utilidades para nosso cotidiano. Mesmo que esse conhecimento seja permeado por aspectos ancestrais e místicos, ele não deve ser visto por um olhar preconceituoso e discriminatório, que é justamente um dos riscos de se levar o senso comum ao âmbito científico. O que se deve fazer é refletir, e olhar de maneira mais crítica o que esse cotidiano nos traz, identificando o que pode ser útil ao desenvolvimento processual da ciência, o que Santos (2002), chama de “sensocomunizar”. A expressão corresponde a uma aproximação entre conhecimento científico e senso comum, pois há cada vez mais necessidade de criar um diálogo entre o que é produzido pela ciência e o senso comum, ou seja, de tornar democrático o acesso ao conhecimento científico. Para se refletir então sobre a produção da ciência, cercada por um senso comum que ronda nosso cotidiano, o método científico é primordial, pois consiste em um procedimento de trabalho organizado em uma série de passos, um caminho confiável para garantir o conhecimento científico. O método científico surgiu a partir do século XVI, e foram pensadores como Bacon e Descartes que determinaram as bases do método. O primeiro com o método indutivo, que deu ao conhecimento um caráter mais funcional e afirmava que apenas a investigação científica poderia garantir o desenvolvimento do homem e o seu domínio sobre a natureza, e o segundo com o método dedutivo.

samento. Há algumas causas que explicam determinados fenômenos e essas causas podem ser reveladas a partir de um método baseado no método científico, que, como vimos, é pautado no rigor da pesquisa, na quantificação de dados e leis e nas teorias que sustentam as observações. O pensamento científico é uma forma de conhecimento que não dá lugar à subjetividade, à fantasia, aos preconceitos, enfim, a tudo que não pode ser demonstrado por meio de leis e métodos. Nesse sentido, todo raciocínio científico é alicerçado na objetividade, na racionalidade e na sistematicidade. É interessante notar, por fim, que a ciência é um ponto de intersecção possível entre o que seria a verdade e o senso comum, fazendo parte, portanto da Teoria do Conhecimento. A Epistemologia, que se define como ramo da filosofia que trata da natureza, das origens e da validade do conhecimento, propõe-nos algumas questões: O que é o conhecimento? Como nós o alcançamos? Podemos conseguir meios para defendê-lo contra o desafio cético? Para tal, sugiro que o professor em conjunto com os alunos reflitam sobre “O Mito ou Alegoria da Caverna de Platão”, uma metáfora utilizada por Platão em que a ideia era mostrar como poderíamos nos libertar da condição de escuridão da ignorância que nos mantém aprisionados, despir-nos dos pré-julgamentos e pré-conceitos para chegar ao conhecimento verdadeiro.

A01  Formas do conhecimento

O método indutivo baseia-se na observação de uma série de acontecimentos com o fim de perceber as regularidades apresentadas e na experimentação. O método dedutivo, lançado por René Descartes, foi um divisor de águas no que diz respeito aos fundamentos do método científico moderno. Esse método não parte da observação, mas fundamenta-se em hipóteses iniciais que são contrastadas posteriormente pela realidade dos fatos. Se a hipótese é confirmada pela realidade, torna-se uma lei e o conjunto de leis forma uma teoria científica. Descartes propôs uma instrumentalização da natureza, por meio da explicação matemática e racional dos fenômenos e a sua mecanização: para se compreender um todo, bastaria compreender as suas partes. Assim, a dedução cartesiana, onde as experiências apenas confirmam os princípios gerais fixados pela razão, ocupa o lugar do pensamento indutivo de Bacon. Isso proporcionou que as realizações cientificas dos tempos modernos fossem moldadas pela sincronização dos métodos indutivo e dedutivo. Finalizamos esta primeira aula então, com uma proposição: uma criança pensa de maneira fantasiosa e mágica, o homem do paleolítico pensava a partir de mitos, e uma pessoa da Idade Média refletia por meio de superstições e crenças, mas é o raciocínio científico que revoluciona o pen13


A01  Formas do conhecimento

Sociologia

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Referências bibliográficas ANDRADE, Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. FRANCELIN, Marivalde Moacir. Ciência, senso comum e revoluções científicas: ressonâncias e paradoxos. Ci. Inf. [online]. 2004, vol.33, n.3, pp.26-34. ISSN 0100-1965. SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 13. ed. Porto: Afrontamento, 2002.

Exercícios de Fixação

02. (Uem PR) “Chamamos senso comum ao conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da experiência vivida na coletividade a que pertencemos.” (ARANHA, Maria L. de Arruda e MARTINS, Maria H. Pires. Filosofando: introdução à filosofia. p.60.)

02 + 08 + 16 = 26.

Considerando essa definição do senso comum adequada à filosofia da práxis de Antonio Gramsci, assinale o que for correto. 01. O senso comum é o conjunto de ideias, valores e juízos destituídos de razão e de bom senso, inaptos ao conhecimento e falsificadores da realidade. 02. Encontra-se no senso comum a presença de elementos ingênuos, aleatórios e difusos, além do fato de ser conservador, isto é, resistente a mudanças, constituindo-se numa forma de conhecimento não sistematizado e acrítico. 04. Segundo Antonio Gramsci, os intelectuais orgânicos representam a elite técnica dos professores e das pessoas de conhecimento elevado, formadores da opinião pública e responsáveis pela organização da cultura. 08. A função do intelectual orgânico é favorecer a passagem do senso comum ao bom senso, isto é, o núcleo sadio das crenças e práticas populares, dotado de ética adequada e ação efetiva contra as contradições da realidade. 16. Para Antonio Gramsci, a formação dos intelectuais e governantes é, na maior parte das vezes, ideológica, favorecendo as disputas de classe e divisões da cultura. 03. (Uem PR PAS) Considere o seguinte texto: “O limite da gestão do mundo pelo técnico-científico se torna patente quando se considera a incapacidade do progresso em resolver os problemas sociais do mundo (...) É por isso que, hoje, muitos, ao mesmo tempo que reconhecem a eficácia e a performance da ciência e da técnica, recusam-se a reduzir a elas a sua visão de mundo” (FOUREZ, G. A construção das ciências. In: ARANHA, M.; MARTINS, M. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4ª ed. São Paulo: Moderna, 2009, p. 349). A respeito dos valores cognitivos e dos valores éticos que a ciência envolve, assinale o que for correto.

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01. (Uem PR) Assinale o que for correto. 02 + 04 + 08 = 14. 01. Como há uma separação clara entre o que é verdadeiro, portanto campo do juízo científico, e do que é belo, campo do juízo estético, poucos filósofos se dedicaram à investigação do juízo do gosto. 02. Walter Benjamin ponderava, em uma visão otimista da sociedade industrial, que a reprodução técnica da obra de arte – em livros, nas artes gráficas, na fotografia, no rádio e no cinema – propiciaria um movimento de democratização da cultura e das artes. 04. Kant, ao investigar os problemas da subjetividade do juízo do gosto, considerava a beleza como uma categoria universal da razão e, a partir da discussão sobre a beleza, propunha ser possível atingir um juízo estético possível de ser compartilhado por todos. 08. Os iluministas consideravam que era na contemplação desinteressada da obra que se dava o sentimento estético, porém tal contemplação dependia do refinamento da sensibilidade, que deveria ser alcançado pela educação. 16. A arte midiática, que atinge um número muito maior de indivíduos, proporciona uma maior concordância de opiniões no que se refere ao juízo do gosto. Tal fato prova que a arte de massa é mais verdadeira do que as manifestações individualizadas, que propiciam juízos de valor muito mais particulares.

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01. O poder cognitivo peculiar à ciência constitui um meio para alcançar fins, cuja correção ética é suscetível de exame e de debate. 02. O fato de a ciência se desenvolver em direções que são determinadas por valores éticos e políticos evidencia o caráter parcial do método científico, no que diz respeito aos critérios de aceitação ou recusa de uma teoria ou hipótese. 04. As discussões sobre valores e ciência, realizadas pela Bioética, reforçam as teorias que, observando a eficácia do método científico na dominação da natureza e na produção de conforto e bem-estar, apostam na ciência como fator propiciador de melhorias nas relações humanas. 08. A credibilidade da ciência como método para alcançar conhecimento é compatível com a negação de sua neutralidade com relação aos fatores que motivam o seu desenvolvimento. 16. Os valores éticos adotados por uma ciência são capazes de comprometer seus valores cognitivos. 04. (Uem Pr) “A filosofia procura explicar tanto a ordem do real como a posição do homem nessa ordem (o que para nós é o bem e o mal) sem o recurso a nenhum mistério e nenhuma arbitrariedade. Isso significa encontrar o porquê do real, do bem e do mal sem ter que apelar para a opinião dos outros, à própria opinião ou mesmo à própria experiência, se elas forem insuficientes para mostrar as razões de aceitarmos nossos julgamentos. Apenas serão aceitos como filosóficos os julgamentos fundados na experiência suficiente para demonstrarmos o que julgamos, na razão ou, enfim, na compreensão intelectual daquilo que julgamos.” (MARÇAL, J. (org.). Antologia de Textos Filosóficos. Curitiba: SEED-PR, 2009, p.193-4)

Sobre o excerto citado e seus conhecimentos sobre o racionalismo, assinale o que for correto. 04 + 08 + 16 = 28. 01. A reflexão sobre o bem e o mal não pertence à filosofia, mas ao domínio da religião e do misticismo popular, que justificam a crença em Deus e no transcendente. 02. A filosofia é o produto de uma tentativa de explicação intelectual do pensamento de Deus, a partir do qual o homem e o mundo empírico são desconsiderados. 04. A matemática, naquilo que depende exclusivamente da razão e da percepção sensível sob o controle do entendimento, é um exemplo de operação intelectual que serve de modelo ao racionalismo. 08. Cada um, por si mesmo, deve ser capaz de alcançar, racional e livremente, os motivos pelos quais acredita em algo, sem apelo a qualquer constrangimento externo. 16. A filosofia é uma forma de discurso que evita a arbitrariedade, devendo trazer em si mesma o argumento ou a prova de sua validade. 05. (Udesc SC) Afirma-se, comumente, que as principais características da filosofia são a reflexão e a atitude crítica. Nesse horizonte, estabeleça a diferença entre a filosofia e o senso comum.

A Filosofia propriamente dita surge no momento em que o exercício do pensar torna-se objeto de reflexão, ou seja, no instante em que o homem retoma o significado de seus atos e dos seus pensamentos e nesta hora é chamado a pensar o já pensando. A atitude crítica na filosofia não faz afirmação apenas, mas se obriga a justificar o pensamento com argumentos que evita contradições e ambiguidades. Senso comum é aquele conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados ao qual, ao longo da experiência vivida acrescentamos seus resultados a partir do coletivo em que vivemos. Esse conjunto de ideias permite-nos interpretar a realidade, bem como de um corpo de valores que nos ajuda a avaliar, julgar e agir.

Exercícios Complementares 01. (Uel PR) Observe a charge a seguir.

combatem por sombras uns com os outros e disputam o poder, como se ele fosse um grande bem. (PLATÃO. A República. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994. p.326.)

a) Segundo a alegoria da caverna de Platão e com base nessa afirmação, explique o modelo político que configura a organização da cidade ideal. b) Compare a alegoria da caverna e a charge, e explicite o que representa, do ponto de vista político, a saída do homem da caverna e a contemplação do bem. Fonte: <http://jarbas.wordpress.com>

A01  Formas do conhecimento

Após descrever a alegoria da caverna, na obra A República, Platão faz a seguinte afirmação: Com efeito, uma vez habituados, sereis mil vezes melhores do que os que lá estão e reconhecereis cada imagem, o que ela é e o que representa, devido a terdes contemplado a verdade relativa ao belo, ao justo e ao bom. E assim teremos uma cidade para nós e para vós, que é uma realidade, e não um sonho, como atualmente sucede na maioria delas, onde

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02. (Enem MEC) Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias. DESCARTES. R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Questão 01 a) Platão dedica a obra República para criar a cidade ideal, isto a fim de demonstrar o que é a justiça e se a vida justa é mais feliz que a injusta. O filósofo rejeita as cidades existentes como modelos de cidades justas, pois as aparências não são suficientes para definir o que algo é em si mesmo. Então, para vislumbrar o que é a justiça, antes necessitamos enxergar o conceito de maneira ampliada, isto é, na cidade ideal e depois de maneira diminuta na alma do indivíduo. A cidade justa de Platão contempla trabalhadores, soldados e governantes realizando as funções para as quais estão mais aptos naturalmente. E assim como na cidade platônica é o filósofo quem governa, no indivíduo é a razão que o guia. b) Na charge os personagens estão presos por correntes ao televisor, na alegoria os homens estão presos à caverna. Assim como na TV a realidade é forjada pelos programas, a realidade era forjada dentro da caverna por alguns homens livres dos grilhões. Os homens nos dois casos, as sombras são tidas como verdadeiras, porém quando libertos, eles passam a enxergar a realidade mesma. Essa saída indica a possibilidade de autonomia. No âmbito político, representa a possibilidade do exercício do governo à luz da justiça e o afastamento das formas de dominação.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 03 A Alegoria da Caverna quer dizer, utilizando uma imagem fictícia, como era a realidade da cidade de Atenas ou de todas as cidades. Tal realidade é que os homens vivem suas vidas encantados com imagens, ou seja, eles vivem suas vidas encantados com aquilo que mantém apenas a aparência da realidade. Não apenas o homem está nessa situação de enfeitiçado, porém ele também está preso impedido de chacoalhar para fora dessa situação. O filósofo é quem consegue se livrar do feitiço e depois quebrar os grilhões que o impedem de sair desse estado. É fundamental, segundo a alegoria, realizar esse movimento para fora da caverna para conceber que a aparência explicitada pelas imagens não revela muito sobre a verdade descoberta sob a luz existente fora da caverna. A aparência é apenas um simulacro produzido na caverna, a essência é uma descoberta feita livre do confinamento neste antro que os homens vivem, chamado “cidade”.

03. (Unesp SP) Do lado oposto da caverna, Platão situa uma fogueira – fonte da luz de onde se projetam as sombras – e alguns homens que carregam objetos por cima de um muro, como num teatro de fantoches, e são desses objetos as sombras que se projetam no fundo da caverna e as vozes desses homens que os prisioneiros atribuem às sombras. Temos um efeito como num cinema em que olhamos para a tela e não prestamos atenção ao projetor nem às caixas de som, mas percebemos o som como proveniente das figuras na tela. (Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001.)

Explique o significado filosófico da Alegoria da Caverna de Platão, comentando sua importância para a distinção entre aparência e essência. 04. (Unioeste PR) “... esta palavra, Filosofia, significa o estudo da sabedoria, e por sabedoria não se deve entender apenas a prudência nos negócios, mas um conhecimento perfeito de todas as coisas que o homem pode saber, tanto para a conduta da sua vida como para a conservação da saúde e invenção de todas as artes. E para que este conhecimento assim possa ser, é necessário deduzi-lo das primeiras causas, de tal modo que, para se conseguir obtê-lo – e a isto se chama filosofar –, há que começar pela investigação dessas primeiras causas, ou seja, dos princípios. Estes devem obedecer a duas condições: uma, é que sejam tão claros e evidentes que o espírito humano não possa duvidar da sua verdade, desde que se aplique a considerá-los com atenção; a outra, é que o conhecimento das outras coisas dependa deles, de maneira que possam ser conhecidos sem elas, mas não o inverso. Depois disto, é indispensável que, a partir desses princípios, se possa deduzir o conhecimento das coisas que dependem deles, de tal modo que, no encadeamento das deduções realizadas, não haja nada que não seja perfeitamente conhecido.” Descartes. “À medida que Descartes vai desenvolvendo sua ideia de um sistema reconstruído de conhecimento, vemos surgir dois componentes específicos da visão cartesiana. O primeiro é um individualismo radical: a ciência tradicional, ‘composta e acumulada a partir das opiniões de inúmeras e variadas pessoas, jamais logra acercar-se tanto da verdade quanto os raciocínios simples de um indivíduo de bom senso’. O segundo componente é uma ênfase na unidade e no sistema: ‘Todas as coisas que se incluem no alcance do conhecimento humano são interligadas’”. Cottingham.

Considerando os textos acima, que tratam da teoria cartesiana do conhecimento, é INCORRETO afirmar que a) a teoria cartesiana do conhecimento implica um sistema em que todos os conteúdos encontram-se intimamente relacionados. b) a teoria do conhecimento cartesiana pretende, a partir da elaboração de um método preciso, reconstruir o conhecimento em bases sólidas. c) a teoria do conhecimento cartesiana, que tem como objetivo a elaboração de uma ciência universal, serve-se, em certa medida, do modelo indutivista para alcançar seu objetivo. d) o conhecimento que se tem de cada coisa deriva de um processo no qual cada etapa pode ser conhecida sem o concurso de etapas posteriores, mas não o inverso. e) quando determinada noção se apresenta com clareza e com distinção, o sujeito pensante entende que se encontra frente a um conhecimento verdadeiro pela própria natureza da concepção cartesiana do conhecimento.

05. (Enem MEC) TEXTO I Há já de algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável. DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).

TEXTO II É de caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida. SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).

A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do conhecimento, deve-se a) retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade. b) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções. c) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos. d) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados. e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados. 17

A01  Formas do conhecimento

Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor considera o conhecimento, de modo crítico, como resultado da a) investigação de natureza empírica. Descartes é o principal filósofo racionalista. Assim sendo, para ele, o b) retomada da tradição intelectual. conhecimento é resultado de investic) imposição de valores ortodoxos. gações do ser pensante, único capaz de chegar a conceitos verdadeiros. d) autonomia do sujeito pensante. e) liberdade do agente moral.


Sociologia

06. (Uem PR) Uma das obras de Platão (428-347 a.C.) mais conhecidas é A República, na qual se encontra o mito da caverna “Platão imagina uma caverna onde pessoas estão acorrentadas desde a infância, de tal forma que, não podendo ver a entrada dela, apenas enxergam o seu fundo, no qual são projetadas as sombras das coisas que passam às suas costas, onde há uma fogueira. Se um desses indivíduos conseguisse se soltar das correntes para contemplar, à luz do dia, os verdadeiros objetos, ao regressar, relatando o que viu aos seus antigos companheiros, esses o tomariam por louco e não acreditariam em suas palavras.” (ARANHA, M.L.A. e MARTINS, M.H. Filosofando: introdução à filosofia. 3.ª ed. revista. São Paulo: Moderna, 2003, p.121).

Sobre a citação acima e o alcance epistemológico do mito da caverna, assinale o que for correto. 01 + 04 + 16 = 21. 01. As imagens produzidas na caverna são sombras que podem ser confundidas com a realidade. 02. A todo aquele que sai da caverna é vetada a possibilidade de retorno. 04. A imagem da fogueira se contrapõe, fora da caverna, à presença do sol, responsável pela verdadeira luz. 08. Tal qual o mito da Esfinge, decifrado por Édipo, Platão descreve três estados da humanidade: infância, juventude e maturidade. 16. Tal qual o mundo sensível, ilusório e efêmero, as imagens da caverna possuem um grau ontológico deficitário ou duvidoso. 07. (Uem PR) “Há já algum tempo dei-me conta de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões por verdadeiras e de que aquilo que depois eu fundei sobre princípios tão mal assegurados devia ser apenas muito duvidoso e incerto; de modo que era preciso tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões que recebera até então em minha crença e começar tudo novamente desde os fundamentos, se eu quisesse estabelecer alguma coisa de firme e de constante nas ciências.” (DESCARTES, R. Meditações sobre a filosofia primeira. In: MARÇAL, J. Antologia de textos filosóficos. Curitiba: SEED, 2009, p. 153).

A01  Formas do conhecimento

02 + 04 + 16 = 22.

A partir do texto citado, assinale o que for correto. 01. A verdadeira ciência ou conhecimento verdadeiro deve refutar toda e qualquer crença ou religião. 02. O início do processo filosófico de descoberta da verdade começa com a instauração da dúvida. 04. O espírito de investigação filosófica busca alicerces firmes, que não foram dados pelo modo como se adquiria o conhecimento até então. 08. A dúvida sobre o conhecimento que se tem decorre das opiniões e dos saberes mal apreendidos na escola. 16. Os alicerces firmes do conhecimento devem estar além das opiniões das autoridades acadêmicas. 08. (Uem PR) “Pois como se supõe que as faculdades da mente são naturalmente iguais em todos os indivíduos – e se assim não fosse, nada poderia ser mais infrutífero que argumentarmos ou 18

debatermos uns com os outros –, seria impossível, se as pessoas associassem as mesmas ideias a seus termos, que pudessem durante tanto tempo formar diferentes opiniões sobre o mesmo assunto, especialmente quando comunicam suas opiniões, e cada uma das partes volta-se para todos os lados em busca de argumentos que possam dar-lhes a vitória sobre seus antagonistas. É verdade que, se os homens tentam discutir questões que estão inteiramente fora do alcance das faculdades humanas, tais como as que concernem à origem dos mundos, ou à organização do sistema intelectual ou da região dos espíritos, eles podem ficar longo tempo golpeando o vazio em suas infrutíferas contendas, sem nunca chegar a qualquer conclusão determinada. Mas se a questão diz respeito a algum assunto da vida e da experiência cotidiana, julgaríamos que nada poderia preservar a disputa indecidida por tanto tempo [...]” (HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento humano. In: MARÇAL, J. Antologia de textos filosóficos. Curitiba: SEED, 2009, p. 377). 02 + 04 + 08 = 14.

A partir do trecho citado, assinale a(s) afirmativa(s) correta(s). 01. Tendo em vista que as faculdades da mente são iguais, os pensamentos produzidos a partir das mesmas impressões sensíveis são também iguais. 02. As controvérsias existem pelo fato de as opiniões serem associações diversas de mesmas ideias a termos diferentes. 04. Disputas que nascem da experiência cotidiana têm sua resolução mais rápida, pois não incorrem na confusão das ideias. 08. O campo da experiência está ao alcance das faculdades humanas, visto que fornece um fundamento empírico para as ideias. 16. Nas contendas intelectuais, vale utilizar-se de toda e de qualquer opinião para obter a vitória. 09. (Uem PR) “O pragmatismo opõe-se ao intelectualismo e a todas as formas de pensamento da totalidade, buscando dar atenção aos fatos observáveis e às suas consequências. É um método de esclarecimento das diferenças significativas entre ideias, que se assenta na antecipação das consequências futuras que essas ideias possam ter.” (ARANHA, M. L.; MARTINS, M. H. P. Temas de filosofia. 3ª. ed. rev. São Paulo: Moderna, 2005, p. 118)

Com base no excerto citado e nos seus conhecimentos sobre o pragmatismo, assinale o que for correto. 01 + 04 + 08 + 16 = 29 01. Segundo o pragmatismo, o concretamente experienciável é indispensável para julgar a pertinência das ideias. 02. O pragmatismo requer o conhecimento de verdades inatas. 04. Princípios da teoria evolucionista, que considera a continuidade de um ser vivo ligada à capacidade de adaptação ao mundo, estão em conformidade com o pragmatismo. 08. Ao criticar o intelectualismo, o pragmatismo pretende liberar a metafísica de conceitos vagos e dar lugar a uma filosofia purificada, científica e realista. 16. Segundo o pragmatismo, o significado de uma ideia não é dado por si mesmo, mas em seu valor de uso e nas suas consequências.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A02

CONHECIMENTO POPULAR X CONHECIMENTO CIENTÍFICO Na aula passada, iniciamos o estudo sobre as diversas formas de conhecimento e como a ciência se situa frente ao que chamamos de conhecimento popular – senso comum. Em princípio, a condição humana sempre foi marcada pela necessidade de dar sentido conectivo à realidade e explicar o que não aparenta ser explicável.

ASSUNTOS ABORDADOS n n Conhecimento popular x conhe-

cimento científico

O idealismo transcendental de Immanuel Kant (1997) permite-nos pensar como o intelecto e a forma como comparamos e classificamos os objetos ao nosso redor estão intimamente relacionados com o que experimentamos enquanto indivíduo, de acordo com nossos valores, se tornando condições pelas quais esses objetos podem ser conhecidos, o que pode culminar em um processo de discriminação e preconceito, ou seja, uma forma sem reflexão pelo qual o homem classifica e ordena as coisas a sua volta. Proposições:

Conhecimento

Verdade

Crenças Verdadeiras Crenças Verdadeiras e Jus ficadas (Conhecimento) Figura 01 - Diagrama demonstrando a ciência como ponto de intersecção entre a “verdade” e o senso comum

Fonte: pathdoc / Shutterstock.com

Opirus/Arte

Crenças

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Sociologia

Assim, podemos recorrer às fórmulas mágicas, explicações religiosas, míticas, opiniões pessoais ou formulações científicas como maneiras de compreender e situar nossa condição no mundo. Mas a explicação de um fato ou fenômeno é crucial para o entendimento e a razão de estar no mundo dos homens, seja ela de caráter científico ou mesmo ancorada no senso comum. De certo modo, em nossa vida cotidiana, em algum momento nos perguntamos, pensamos e nos questionamos sobre a origem e o significado das coisas, do mundo, das guerras, do poder, da família, das catástrofes ambientais, da violência, da morte e de outros problemas e questões que julgamos mais ou menos importantes. Assim, não somos apenas seres pensantes. Somos seres que agem no mundo, que se relacionam com outros seres humanos, animais, plantas, coisas, fatos e acontecimentos que provocam a nossa consciência na intenção de compreendê-los. É claro, que a compreensão é uma produção que envolve o sujeito – como agente do conhecimento – e os objetos que circundam a realidade e a consciência. Nesse sentido, são possíveis variadas formas de entendimento e julgamento das coisas e fenômenos.

No meio científico, os conhecimentos também podem ser provisórios e parciais e podem dar lugar a novos conhecimentos que surgem ao longo do tempo por meio de novas pesquisas. A grande diferença é que no meio científico deve haver plena consciência de que uma pesquisa que leva a um novo conhecimento não é definitiva (FRANCELIN, 2004). O senso comum, portanto, descarta essa premissa, pois as opiniões obtidas podem ser emitidas como verdadeiras e definitivas. A ciência, aparentemente, busca por meio de seu rigor na pesquisa, no debate e na crítica de opiniões afastar-se do senso comum. Ao pensar sobre a origem do pensamento cientifico é importante destacar que o primeiro elemento de qualquer conhecimento científico é o uso da razão humana distanciada de opiniões, preconceitos ou qualquer tipo de ideia embasada em relatos mitológicos, sem nenhuma reflexão crítica. É também um conhecimento prático passível de provas. O conhecimento tem finalidade e utilidade que podem ser tratadas quantas vezes forem preciso para tal conhecimento seja comprovado. Essa é uma das principais características desse tipo de conhecimento, o que o diferencia dos demais tipos.

Fonte: Wikimedia Commons

A02  Conhecimento popular X Conhecimento científico

O senso comum e o conhecimento científico estão relacionados ao cotidiano humano, assim como podem relacionar-se entre si, porém são distintos, e tais distinções devem ser consideradas (FRANCELIN, 2004), na medida em que o primeiro pode ser designado como empírico, vindo das experiências vividas, e o segundo permeado por passos e regras sistemáticas, metodológicas e de caráter pragmático. Isso se processa por um método que permite a sistematização de dados e fatos que possam comprovar os resultados obtidos, que recorrentemente passam por processos de revisões e correções feitas pelos próprios cientistas em virtude de entender esse processo como parte do desenvolvimento científico, e não como sinal de falência da ciência.

A pesquisa científica tem início no senso comum, porém dele se diferencia por meio de metodologias e princípios que visam a legitimá-la enquanto conhecimento científico, o que permite uma superação desse saber no sentido metodológico. Podemos entender, que a caracterização do senso comum não passa, necessariamente, por critérios de verdade ou falsidade, mas sim pela ausência de fundamentos e metodologias. São processos sem reflexões críticas nos quais um indivíduo concebe um conjunto de informações como conhecimentos, sem saber realmente o que essas informações significam, e as utiliza na prática cotidiana como se fossem verdadeiras e definitivas assumindo os riscos de se transformarem em preconceito e discriminação.

Figura 02 - O conhecimento acerca dos princípios ativos farmacológicos presentes em raízes e outras partes dos vegetais pode ser entendido como uma forma de produção de conhecimento de Senso Comum. Essa forma de conhecimento é transmitida de geração para geração por meio de "receitas" caseiras.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Assim, o senso comum ou o conhecimento popular é o conhecimento da vida cotidiana, como sentimos e experiências da realidade, um conhecimento intuitivo e espontâneo. O senso comum, na produção desse tipo de conhecimento, percorre um caminho que vai do hábito à tradição, e quando estabelecida, passa de geração para geração. Assim, aprendemos com nossos pais a atravessar uma rua, a fazer o televisor funcionar, a manipular os alimentos etc., e é nessa tentativa de facilitar o cotidiano que o senso comum produz suas próprias “teorias”. Aqui podemos pensar também no conhecimento trazidos por nossos avós por exemplo, quanto ao uso de ervas e plantas medicinais, que acabam sendo verdadeiros conhecimentos medicinais, eficientes, eficazes e útil à nossa sobrevivência. Assim o senso comum é uma mistura e aperfeiçoamento e transmissão constante de saberes. Como vimos na aula passada, arte, religião, filosofia, mitologia e senso comum são domínios do conhecimento humano, porém a ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade. Suas conclusões devem ser passíveis de verificação e isentas de emoção, para, assim, tornarem válidas para todos. A superstição também é um exemplo de senso comum, algo em que se acredita sem uma determinada reflexão e comprovação dos fatos, e que cria determinadas “teorias” e “verdades”. Passar por debaixo de escadas, ver um gato preto atravessar na sua frente. Quem já ouviu uma dessas proposições como propagantes de azar? A partir desses exemplos, vemos de forma cada vez mais clara que o senso comum é a forma de conhecimento mais presente no dia a dia das pessoas que não se preocupam, prioritariamente, com questões científicas, o que não quer dizer que não haja conhecimento cientifico válido entre essas pessoas ou que não haja a presença do senso comum no âmbito científico.

Esse conhecimento popular está bastante atrelado à questão cultural, cultivado e carregado de geração em geração marcado pela ancestralidade. Então, o senso comum é uma forma de conhecimento imediato, irrefletido com base na opinião, na troca de experiências sem comprovação científica. É um conhecimento popular que está intrinsecamente ligado à cultura de um determinado lugar, e que ultrapassa e vai além das noções de tempo e espaço. Assim, temos dois tipos de conhecimento que a todo momento se aproximam e se afastam. Aproximam porque ambos tratam da realidade, porém se apartam quando a ciência abstrai a realidade para compreendê-la melhor, ou seja, a ciência afasta-se da realidade, transformando-a em objeto de investigação. Outro exemplo claro dessa distinção entre o senso comum e o conhecimento científico, é o fato de nós, aqui na Terra, termos a impressão de que o Sol gira em torno da Terra, uma visão do senso comum, porém, com o auxílio metodológico, seguido por regras, lógicas e sistematizações chega-se à conclusão de que é a Terra que gira em torno do Sol, embora não pareça assim, o que só sabemos por meio do conhecimento científico. Quando falamos em desnaturalização das realidades implicadas pelo senso comum é importante entender que todos os nossos hábitos são resultantes de escolhas sociais e isso ajuda a reconhecer a pluralidade de formas de vida social e de desenvolvimentos intelectuais existentes. Com isso dizemos que a mitologia, bem como a religião, as artes e a filosofia como outras formas de conhecimento são conhecimentos distintos da forma atual sistemática e pragmática de explicação da sociedade, a ciência. E ainda que a diferença entre essas formas de conhecimento tenha dominado o ambiente intelectual nos séculos XIX e XX, hoje se admite um reconhecimento social nas várias formas do saber. Desse modo, a intenção não é discutir aqui a veracidade e a eficácia de uma ou outra forma de conhecimento, senão cairíamos em uma tarefa árdua de convencimentos, angústias pessoais e etnocentrismos metodológicos. Muitas pessoas já ouviram e reproduziram um conjunto de saberes do senso comum. Expressões como “não entre na piscina após comer”, “político é tudo ladrão”, “mulheres são mais afetuosas”, outras. Esses exemplos de senso comum, como forma de conhecimento, baseiam-se em observações do cotidiano que, ao serem repassados, ao longo das gerações, têm poder de consolidar-se em verdades. O senso comum é, dessa forma, uma maneira particular e específica de compreender o mundo e os acontecimentos em torno da realidade, demonstrando-se assaz imediatista e instantâneo.

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A02  Conhecimento popular X Conhecimento científico

Podemos pensar em atitudes que permeiam nosso meio a todo instante. Todos nós temos a nossa psicologia de vida e, quando alguém precisa de um ombro amigo ou de uma orientação, tornamo-nos psicólogos e achamo-nos no direito de colocar nossas vivências em prática com legitimidade para ouvir e entender seus problemas. Esse exemplo é bem claro e preciso para entender que essa psicologia que usamos com nossos amigos em momentos de dificuldades não é a psicologia dos psicólogos, mas uma psicologia utilizada no cotidiano pelas pessoas em geral, uma psicologia do senso comum, pautada nas subjetividades e carregadas de pré-conceitos advindo de nossas experiências individuais.


Sociologia

O senso comum parte de uma interpretação individual replicada a outros, por isso é uma observação particular e depende do olhar de um indivíduo que tem a tendência de ser subjetivo e ambíguo, o que significa que esse conhecimento é refém de quem o interpreta e é sujeito a suas intensidades. O senso comum aplicado aos sabores dos alimentos, por exemplo. O sabor da comida vai depender do paladar de quem a prepara. Assim, como as medidas usadas seguem a subjetividade de cada um e a ambiguidade de cada sistema de unidade, como “um punhado” de sal, “uma pitada” de açúcar etc. Essas medidas não são padronizadas e dependem de cada um para serem quantificadas. Seu caráter supersticioso, (potencialmente) preconceituoso e irracional, reflete apenas as possibilidades que uma consciência comum tem de reagir contra o “não sentido” das coisas, o que não a torna menos digna que a atitude científica de compreender as mesmas situações e problemas visando a dominá-los para melhor agir sobre eles. O senso comum ou o conjunto dos conhecimentos não científicos pode ser classificado, também, como parte constitutiva do que chamamos de cultura popular. O modo de ver e de fazer do senso comum, mesmo não contando com uma estrutura de difusão organizada e institucionalizada, penetra na consciência do homem de maneira profunda e, além de servir a cada homem individualmente, assume funções sociais importantes. O conhecimento científico, por outro lado, se distancia de todos esses pontos ao estabelecer um conhecimento geral e unificador. Um cientista não está interessado em entender unicamente um pequeno fenômeno, mas também as relações e implicações dele com o resto da sociedade. A ciência estuda os “porquês” da vida, de forma rigorosa, alicerçado em unidades padronizadas e conceitos fundamentados.

Fonte: Wikimedia Commons

A02  Conhecimento popular X Conhecimento científico

Enquanto isso, o conhecimento do senso comum apenas determina o motivo de algumas indagações pessoais, mas não traça os caminhos que levaram à determinada conclusão. O conhecimento científico, por sua vez, se destina-se a esforçar e entender todos os processos e etapas de uma ideia ou teoria, a partir do uso de métodos científicos.

Figura 03 - Os conhecimentos e pensamentos sem reflexão versus conhecimentos e pensamentos fundamentados trazem respostas reflexivas ao cotidiano.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

O exercício de juntar todos os conhecimentos até aqui elaborados permitem-nos organizar um pensamento crítico, reflexivo, objetivo e rigoroso sobre a vida social. Isso significa que temos a necessidade de ir além do senso comum, do conhecimento popular, mas não negá-los. Ao pensar no papel o papel da Sociologia e do sociólogo nessa discussão, devemos entender que um sociólogo é um cientista, e é alguém curioso, que sempre busca mais informações e reflexões antes da conclusão sobre um determinado fenômeno. Para atingir esse objetivo - e manter o rigor - temos que garantir uma base metodológica forte e consolidada e isso significa organizar nosso pensamento e ter um plano para entender a sociedade. É preciso partir da realidade empírica, isto é, dos fatos, para entender o fenômeno, e agrupar os dados e informações que auxiliam a compreensão do caso em questão. Contudo, os dados coletados nem sempre nos dirão se estamos tratando de um fenômeno inédito ou comum nessa ou em outras sociedades, por isso é necessário organizar questões comparativas para enxergar as relações entre as sociedades.

Questionamento

Pergunta

Factual

O que aconteceu?

Comparativo

Esse fenômeno aconteceu em outros lugares?

Analítico

Este fenômeno já ocorreu em outros momentos?

Teórico

O que está por trás desse fenômeno?

A consolidação da Sociologia enquanto disciplina está intimamente relacionada à sua característica de ciência que estuda os comportamentos dos indivíduos em sociedade. Trata-se de um conhecimento que busca desnaturalizar os costumes da nossa vida social de forma sistêmica e crítica. O que gabarita a Sociologia enquanto intérprete da vida social é o rigor de sua análise científica. Em termos introdutórios, Norbert Elias (2008) já nos chama atenção “para compreendermos de que trata a sociologia. Temos que nos distanciar de nós mesmos, temos que nos considerar seres humanos entre os outros. Na verdade, a sociologia trata dos problemas da sociedade e a sociedade é formada por nós e pelos outros” (2008, p.13).

Fonte: Wikimedia Commons

A perspectiva sociológica demanda perceber além da comparação atual, isto é, enxergar as conexões ao longo do tempo e do desenvolvimento dos povos, para, enfim, voltar à interpretação do que estudamos, ou seja, retomar às questões teóricas.

A02  Conhecimento popular X Conhecimento científico

O ponto de partida da Sociologia é a construção de uma imaginação sociológica (Mills, 1970). Nas palavras de Anthony Giddens: Aprender a pensar sociologicamente (por outras palavras, olhar mais além) significa cultivar a imaginação. Estudar sociologia não pode ser simplesmente um processo rotineiro de acumulação de conhecimentos. Um sociólogo é alguém capaz de se libertar do quadro das suas circunstâncias pessoais e pensar as coisas num contexto mais abrangente. (GIDDENS, 2008, p.2) Em outras palavras, queremos dizer que só é possível a compreensão dos fenômenos sociais a partir da abstração, do entendimento de que tais fenômenos devem ser vistos como parte de comportamentos mais gerais. Um sociólogo é alguém interessado em comportamentos dos mais variados, desde os mais complexos, até os mais rotineiros, como um jogo de futebol, por exemplo. Seria esse evento parte do interesse de um cientista social? Sim!

Figura 04 - Imaginação Sociológica.

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Sociologia

Figura 05 - Integração que o futebol viabiliza.

A02  Conhecimento popular X Conhecimento científico

No exercício de abstrair a partida de futebol, o pesquisador deve perceber que não se trata de um mero jogo. A participação nesse evento significa que há um valor simbólico em sua realização. Assim, é possível notar um conjunto de rituais relacionados ao jogo que chega a ter maior relevância do que a própria partida, como a interação social entre amigos ou a preparação para o jogo, com uma roupa específica e uma chuteira, o fato de os jogadores estarem ligados a determinadas superstições antes de iniciarem a partida etc. Analisar os comportamentos que antecedem, ou mesmo que acontecem durante ou pós o apito do juiz é mais relevante enquanto tema sociológico do que a partida em si. Outra faceta que chama atenção no futebol enquanto tema sociológico, é a rede de relações sociais e econômicas que se pode reconhecer a partir desse hábito. Um jogador de futebol de fim de semana é parte de um grupo social que une indivíduos de diferentes classes sociais e em diferentes espaços - desde um clube até a rua ao lado de várias residências. O caráter popular do jogo revela quão incutido ele está na cultura de um povo. Indo mais além, percebe-se como essa prática é algo comum em diferentes espaços no mundo e seu caráter geral pode ser visto também a partir de laços econômicos, em campeonatos amadores com torcidas organizadas e venda de produtos personalizados. Pode-se ainda perceber o jogo de futebol, como parte de um mundo globalizado em que representa um conjunto de opções de estilo de vida. As pessoas podem optar por praticar esse esporte em diferentes campos, com diferentes equipamentos ou estruturas. Enquanto alguns aceitam qualquer campo de terra batida para jogar, outros exigem condições estruturais mais amplas, como grama ou até uniformes predefinido. O jogo pode ser visto ainda enquanto ato político, como em uma ação de solidariedade, a exemplo do que se viu em novembro de 2016, uma partida em benefício às vitimas do acidente com o voo da equipe da Chapecoense. 24

Esse evento permitiu-nos ver, seja na atuação das torcidas ou nos atos de pessoas de várias cidades do Brasil comprar as camisetas do time e ajudar a equipe a se, reerguer, é perceptível que o jogo de futebol possui uma significação maior do que a prática desportiva em si, e que o futebol pode ser compreendido enquanto um fenômeno que atinge todas as classes sociais, integrando as diferenças em prol de um ato solidário. O exercício da perspectiva sociológica é a realização do que foi dito no início de sua leitura: eventos que são parte da vida de uma pessoa são, via de regra, parte de fenômenos e de questões mais amplas. Uma tragédia envolvendo um acidente de carro, por exemplo, é um trauma para as pessoas diretamente envolvidas, seja pela dimensão humana ou material, mas também é parte de um problema maior de mobilidade urbana, tema-chave para se debater sobre a vida em uma grande metrópole. Se acidentes de carro se tornam cada vez mais corriqueiros, a explicação não pode ser resumida a aleatoriedade ou a ações individuais, e o fato de se retomar a abstração permite enxergar interações amplas e explicações fidedignas. No fim, o desenvolvimento sociológico ajuda não só aqueles curiosos, mas todas as pessoas, pois a imaginação sociológica proposta por Mills (1970) colabora para uma visão mais informada sobre a diversidade cultural presente no mundo. Com o reconhecimento da multiplicidade de culturas e suas ramificações, um estudante de sociologia se torna uma pessoa mais crítica diante da diversidade e é capaz de perceber problemas e possíveis soluções. Essa capacidade se aplica tanto em um nível micro - no campo da autoconsciência - quanto em um nível macro no campo das diferenças políticas. Referências bibliográficas ELIAS, Norbert. Introdução à Sociologia. Espaço da sociologia, trans. Maria Luísa Ribeiro Ferreira, Portugal, Lisboa: Edições 70, 2008. FRANCELIN, Marivalde Moacir. Ciência, senso comum e revoluções científicas: ressonâncias e paradoxos. Ci. Inf. [online]. 2004, vol.33, n.3, pp.26-34. ISSN 0100-1965. GIDDENS, Anthony. Sociologia, 6ª edição, F.C. Gulbenkian, Lisboa, 2008. KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. 4. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1997. MILLS, W. A Imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1970.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação

02. (Uem PR) O homem tem necessidade de conhecer e de explorar o meio em que vive. O senso comum, o bom senso, a arte, a religião, a filosofia e a ciência são formas de saber que auxiliam o homem a entender o mundo e a orientar suas ações. Assinale o que for correto. 23 (01 + 02 + 04 + 16) 01. O senso comum é o conhecimento adquirido por exigências da vida cotidiana; fornece condições para o agir, todavia é um conjunto de concepções fragmentadas, recebidas sem crítica e, muitas vezes, incoerentes, tornando-se, assim, fonte de preconceitos. 02. O bom senso, ao contrário do senso comum, apresenta-se como uma elaboração refletida e coerente do saber; em vez da aceitação cega de determinações alheias, pelo bom senso o sujeito livre e crítico questiona os valores estabelecidos e decide pelo que se revela mais sensato ou plausível. 04. A ciência caracteriza-se como um sistema de conhecimentos, expressos em proposições gerais e objetivas sobre a realidade empírica; é um conhecimento construído por um processo de raciocínio rigoroso e metodicamente conduzido, baseado na experiência, permitindo explicar, prever e atuar sobre os fenômenos. 08. Religião e filosofia são duas formas antagônicas de interpretação da realidade; a filosofia, unicamente com o raciocínio lógico-formal, busca entender apenas o mundo natural e o humano; a religião ocupa-se apenas da razão. 16. O conhecimento filosófico caracteriza-se como um saber elucidativo, crítico e especulativo; como elucidativo, visa a esclarecer e a delimitar conceitos e problemas; como crítico, nada aceita sem exame prévio e reflexão; como especulativo, assume a atitude teórica e globalizadora, que envolve os problemas em uma visão total.

03. (Uem PR) Aranha e Martins (2005) definem o senso comum como o “primeiro olhar sobre o mundo, ainda não crítico, a partir do qual as pessoas participam de uma comunhão de ideias e realizam as expectativas de comportamento dos grupos sociais a que pertencem.” (ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Temas de filosofia. 3.ª ed. rev. São Paulo: Moderna, 2005, p.144).

Sobre o senso comum, assinale o que for correto. 01. O senso comum é um conjunto de ideias cuja finalidade é a crítica ao saber estabelecido. 02. O senso comum é um conjunto de ideias e práticas cegas e incompatíveis com a verdade. 04. Ao ser definido como o primeiro olhar, o senso comum é um saber metafísico das causas e dos primeiros princípios. 08. Todos os homens, intelectuais e analfabetos, participam do senso comum. 16. O senso comum confunde-se com as ideologias de uma classe ou de um grupo social. Gabarito: 08

04. (Uel PR) Leia o texto a seguir.

A02  Conhecimento popular X Conhecimento científico

01. (Ufam AM) O senso comum se caracteriza por ser: I. um conhecimento valorativo, em que cada coisa ou fato nos afeta de maneira diferente. II. um conhecimento generalizador, pois reúne um certo número de fenômenos sob as mesmas leis. III. um conhecimento subjetivo que expressa um saber da nossa sociedade ou do nosso grupo social. Dos itens acima, pode-se concluir: a) somente I e III estão corretos. b) somente II e III estão incorretos. c) somente I está incorreto. d) todos estão incorretos. e) todos estão corretos.

A pedra amuleto do signo de Virgem é o quartzo rosa. Segundo crenças antigas, esta pedra ajuda nas dificuldades afetivas, nas brigas com o casal, nos problemas familiares. Ótimo talismã contra o mau-olhado. Cor: ROSA. Para cada uma dessas pedras, é necessária uma programação personalizada para conseguir o máximo dos benefícios. De vez em quando, é preferível submergir as pedras em água e sal grosso para descarregar as eventuais toxinas acumuladas. (Adaptado de: Disponível em: <www.horoscopofree.com/pt/astrology/stone/?IdSign=6#point>. Acesso em: 6 set. 2011.)

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Sociologia

Com base no texto e nos conhecimentos sobre senso comum e senso científico, considere as afirmativas a seguir. I. A complexidade da vida cotidiana produz, no ser social, a busca de respostas, ainda que se valendo das dimensões místicas. II. O avanço recente da ciência tornou possível compreender objetivamente o destino humano mediante o estudo dos astros. III. Na consulta ao horóscopo, aos astros e às melhores pedras para cada signo do zodíaco, o senso comum substitui o científico. IV. Enquanto área de conhecimento, o esoterismo é fundamental para desfetichizar a vida social ao esclarecer ao homem o que é sua existência real. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e III são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

05. (Uem PR) “Mais que um saber, a filosofia é uma atitude diante da vida, tanto no dia a dia como nas situações-limite, que exigem decisões cruciais. Por isso, no seu encontro com a tradição filosófica, é preferível não recebê-la passivamente como um produto, como algo acabado, mas compreendê-la como processo, reflexão crítica e autônoma a respeito da realidade.” (ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 4ª. ed. São Paulo: Moderna, 2009, p.20)

Com base no excerto citado, assinale o que for correto. 01. A filosofia é uma forma de conhecimento que questiona a realidade. 02. A filosofia é um saber teórico, não pragmático, que desconsidera a aplicação prática. 04. A filosofia é uma experiência de vida que responde às questões fundamentais da existência. 08. A filosofia não pode ser reaberta ou discutida, pois os filósofos já morreram. 16. A filosofia é uma ideologia, pois não se ocupa com o debate político. 01 + 04 = 05.

Exercícios Complementares

A02  Conhecimento popular X Conhecimento científico

01. (Ufu MG) O surgimento da sociologia foi propiciado pela necessidade de

em cada sociedade: quanto mais machista, ou sexista, ela

a) manter a interpretação mágica da realidade, como patrimônio de um restrito círculo sacerdotal. b) manter uma estrutura de pensamento mítica para a explicação do mundo. c) condicionar o indivíduo, através dos rituais, a agir e pensar conforme os ensinamentos transmitidos pelos deuses. d) considerar os fenômenos sociais como propriedade exclusiva de forças transcendentais. e) observar, medir e comprovar as regras que tornassem possível, através da razão, prever e controlar os fenômenos sociais.

for, mais exacerbadas as suas réplicas.

02. (Enem MEC) TEXTO I

FRANZINI, F. Futebol é “coisa pra macho”? Pequeno esboço para uma história das mulheres no país do futebol. Revista Brasileira de História, v. 25, n. 50, jul.–dez. 2005 (adaptado).

TEXTO II Com o Estado Novo, a circularidade de uma prática cultural nascida na elite e transformada por sua aceitação popular completou o ciclo ao ser apropriada pelo Estado como parte do discurso oficial sobre a nacionalidade. A partir daí, o Estado profissionalizou o futebol e passou a ser o grande promotor do esporte, descrito como uma expressão da nacionalidade. O futebol brasileiro refletiria as qualidades e os defeitos da nação.

É notório que o universo do futebol caracteriza–se por

SANTOS, L. C. V. G. O dia em que adiaram o carnaval: política externa e a construção do Brasil. São Paulo: EdUNESP, 2010.

ser, desde sua origem, um espaço eminentemente mas-

Os dois aspectos ressaltados pelos textos sobre a história do

culino; como esse espaço não é apenas esportivo, mas socio cultural, os valores nele embutidos e dele derivados estabelecem limites que, embora nem sempre tão claros, devem ser observados para a perfeita manutenção da “ordem”, ou da “lógica’” que se atribui ao jogo e que nele se espera ver confirmada. A entrada das mulheres em campo subverteria tal ordem, e as reações daí

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decorrentes expressam muito bem as relações presentes

futebol na sociedade brasileira são respectivamente: a) Simbolismo político — poder manipulador. b) Caráter coletivo — ligação com as demandas populares. c) Potencial de divertimento — contribuição para a alienação popular. d) Manifestação de relações de gênero — papel identitário. e) Dimensão folclórica — exercício da dominação de classes.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

03. (Ufu MG) Sobre o surgimento da sociologia como ciência pode-

cies de ilusões. É também em um sentido restrito semelhante

mos afirmar que, exceto,

que o homem quer somente a verdade: deseja as consequên-

a) a sociologia, diversamente de outras ciências, lida com a re-

cias da verdade que são agradáveis e conservam a vida: diante

alidade social e as interpretações que são feitas sobre essa

do conhecimento puro sem consequências ele é indiferente,

realidade.

diante das verdades talvez perniciosas e destrutivas ele tem

b) a sociologia se defronta apenas com o que vagamente cha-

disposição até mesmo hostil.

mamos de realidade e baseia-se no fato.

(Nietzsche, “Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral”, § 1)

c) o conhecimento científico da vida social não se baseia no fato, mas na concepção do fato e na relação entre a concep-

No texto anterior, Nietzsche afirma que o que “deve ser verda-

ção e o fato.

de” é o resultado de um “acordo de paz”. Isso seria o mesmo

d) a sociologia nasce e se desenvolve como um dos florescimentos intelectuais mais complexos das situações de existência nas modernas sociedades industriais e de classe.

que dizer que a busca da verdade é, em última instância, determinada por necessidades sociais? Por quê? 06. (Uem PR ) No livro VII, do diálogo intitulado A República, do filó-

04. (UEG GO) A ciência desconfia da veracidade de nossas certe-

sofo grego Platão (428-347 a.C.), a personagem Sócrates constrói

zas, de nossa adesão imediata às coisas, da ausência de crítica

uma narrativa, que ficou conhecida como a alegoria da caverna,

e da falta de curiosidade. Por isso, onde vemos coisas, fatos e

sobre a situação do homem no que diz respeito à educação e à

acontecimentos, a atitude científica vê problemas e obstáculos,

ausência de educação. Nessa alegoria, a passagem do interior

aparências que precisam ser explicadas.

para o exterior da caverna simboliza a educação do filósofo que

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2003. p. 218.

– uma vez liberto das amarras que o prendiam às sombras no interior da caverna, isto é, ao mundo sensível, enganador e ilusório

Com base na afirmação precedente pode-se afirmar que:

– descobre a luz da verdade, representada pelo sol no exterior da

a) a ciência, ao contrário do senso comum, é um conhecimento

caverna, ou seja, o mundo inteligível.

objetivo, quantitativo e generalizador, que se opõe ao cará-

A respeito da filosofia de Platão, assinale o que for correto.

ter dogmático e subjetivo do senso comum.

01. Para Platão, o exercício da filosofia é um problema moral, evi-

b) a ciência domina o imaginário contemporâneo. Isso significa

denciado pela conexão apresentada na alegoria da caverna

que, cada vez mais, confiamos no testemunho de nossos sentidos que promovem uma adesão acrítica à realidade dada.

entre a liberdade do homem e o conhecimento da verdade. 02. O método dialético, seguido por Platão em seus diálogos, é

c) a ciência existe para confirmar nossas certezas cotidianas,

uma disputa de opiniões particulares em que prevalecem

utilizando um pensamento assistemático que despreza o tra-

os interlocutores mais persuasivos. 04. Platão critica a pedagogia tradicional de seu tempo, baseada no estudo das tradições poéticas de Homero e Hesíodo,

do os obstáculos e problemas observados por nossa percep-

pois a arte, sendo imitação da realidade, não é capaz de

ção imediata das coisas.

conduzir ao conhecimento das coisas verdadeiras.

05. (UFPR)

Questão 06. Para Platão, o exercício da filosofia é um problema político evidenciado pela necessidade que há de o filósofo descer, isto é, devido à necessidade de o filósofo retornar para a caverna e não abandonar seus concidadãos enquanto mantém uma contempla-08. ção daquilo que é verdadeiro e se localiza fora da caverna, ou seja, daquilo que é verdadeiro e independente dos costumes da cidade, o exercício da filosofia é inevitavelmente um problema político.

“Enquanto o indivíduo, em contraposição a outros indivíduos, quer conservar-se, ele usa o intelecto, em um estado natural das coisas, no mais das vezes somente para a representação: mas, porque o homem, ao mesmo tempo por necessidade e tédio, quer existir socialmente e em rebanho, ele precisa de

Na teoria política de Platão, cabe ao filósofo o governo da cidade, pois aquele que se dedica à busca do conhecimento verdadeiro é capaz de agir e de julgar de forma verdadeiramente justa.

16. A alegoria da caverna mostra como o saber é ensinado pelo filósofo àqueles que, por si mesmos, não possuem o poder de conhecer as coisas verdadeiras.

um acordo de paz e se esforça para que pelo menos a máquina

01 + 04 + 08 = 13.

bellum omnium contra omnes (a guerra de todos contra todos)

07. (Ufu MG) Leia os textos abaixo, extraídos da obra A República

desapareça de seu mundo. Esse tratado de paz traz consigo

de Platão.

algo que parece ser o primeiro passo para alcançar aquele enig-

— Acaso não seria uma defesa adequada dizermos que aquele

mático impulso à verdade. (...) Os homens, nisso, não procuram

que verdadeiramente gosta de saber tem uma disposição natu-

tanto evitar serem enganados, quanto serem prejudicados pelo

ral para lutar pelo Ser, e não se detém em cada um dos muitos

engano: o que odeiam, mesmo nesse nível, no fundo não é a

aspectos particulares que existem na aparência, mas prossegue

ilusão, mas as consequências nocivas, hostis, de certas espé-

sem desfalecer nem desistir da sua paixão, antes de atingir a

Questão 05. O impulso à verdade, para Nietzsche, é resultante de um tratado de paz que retira do mundo a guerra de todos contra todos, isto é, a verdade é uma convenção apaziguadora dada através da uniformidade de designações válidas e obrigatórias sobre as coisas. A verdade, por conseguinte, possui origem convencional e por esquecimento disso o homem poderia supor ser sua linguagem algo mais que determinações subjetivas. “Somente por esquecimento pode o homem alguma vez chegar a supor que possui uma “verdade” no grau acima designado. [...] Como poderíamos nós, se somente o ponto de vista da certeza fosse decisivo nas designações, como poderíamos no entanto dizer: a pedra é dura: como se para nós esse “dura” fosse conhecido ainda de outro modo, e não somente como uma estimulação inteiramente subjetiva! Dividimos as coisas por gêneros, designamos a árvore como feminina, o vegetal como masculino: que transposições arbitrárias! A que distância voamos do cânone da certeza!”. (Nietzsche, F. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral. In: Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 47)

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A02  Conhecimento popular X Conhecimento científico

balho da razão. d) a rigor, a ciência complementa o senso comum, mas banin-


Sociologia Questão 07 a) O método em questão é a dialética. É por meio dela, afirma Platão, que o filósofo pode atingir a Ideia, ou a realidade inteligível. A dialética leva o filósofo para além dos aspectos particulares do mundo visível. Vale dizer que, com frequência, Platão se refere ao filósofo como “dialético”, isto é, como aquele que detém a arte (ou domina o método) que leva das aparências à essência. b) Trata-se da realidade inteligível (mundo das Ideias, das Formas), na qual se encontram as essências, o Ser de cada coisa existente. Uma realidade alcançável apenas pelos “olhos da alma”, pois é observado apenas pelo esforço da razão. Exatamente por ser inteligível, essa realidade tem como características: ser metafísica, isto é, imaterial, ou incorpórea; ser una, isto é, reduz a multiplicidade das coisas sensíveis a uma unidade; ser eterna, por não se submeter ao ciclo de geração e degeneração das coisas do mundo sensível.

natureza de cada Ser em si, pela parte da alma à qual é dado

cos ou a instalação de sistemas de irrigação. Para a ciência mo-

atingi-lo – pois a sua origem é a mesma –; depois de se aproxi-

derna, a Lua é um satélite que descreve uma órbita elíptica em

mar e de se unir ao Verdadeiro, poderá alcançar o saber e viver

torno da Terra, cuja distância mínima do nosso planeta é cerca

e alimentar-se de verdade, e assim cessar o seu sofrimento;

de 360 mil quilômetros, e que tem raio de 1 736 quilômetros.

antes disso, não? (República, 490b)

Para os gregos, era Selene, filha de Hyprion, irmã de Hélios,

— Da mesma maneira, quando alguém tenta, por meio da dialéti-

amante de Endymion e Pan, e percorria o céu numa carrua-

ca, sem se servir dos sentidos e só pela razão, alcançar a essência

gem de prata. Tenho mais simpatia pela explicação dos gregos,

de cada coisa, e não desiste antes de ter apreendido só pela inteli-

mas devo reconhecer que a teoria moderna permite prever os

gência a essência do bem, chega aos limites do inteligível, tal como

eclipses da Lua e até desembarcar na Lua, façanha dificilmente

aquele chega então aos do visível. (República, 532 a-b)

concebível para uma cultura que continuasse aceitando a ex-

PLATÃO. A República. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1996.

plicação mitológica. Os astronautas da NASA encontraram na superfície do nosso satélite as montanhas observadas por Gali-

Com base nos textos e na doutrina de Platão, responda:

leu, mas não encontraram nem Selene nem sua carruagem de

a) Qual método pode levar o homem a atingir a essência de

prata. Para o bem ou para o mal as teorias científicas modernas

cada coisa – a natureza de cada Ser em si – para além da

são válidas, o que não ocorre com as teorias alternativas.

realidade visível, que se atinge pelos sentidos?

(Sérgio Paulo Rouanet, filósofo brasileiro, 1993. Adaptado.)

b) O filósofo se refere a uma realidade à qual se chega apenas pela inteligência. Que realidade é essa? Cite, ao menos, três

Cite o nome dos dois diferentes tipos de conhecimento comen-

características compositivas desta realidade, de acordo com

tados no texto e explique duas diferenças entre eles.

a filosofia de Platão. 08. (Enem MEC) Pode-se viver sem ciência, pode-se adotar cren-

10. (Enem MEC) TEXTO I

ças sem querer justificá-las racionalmente, pode-se desprezar

Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos,

as evidências empíricas. No entanto, depois de Platão e Aristó-

e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos

teles, nenhum homem honesto pode ignorar que uma outra

enganou uma vez.

atitude intelectual foi experimentada, a de adotar crenças com

DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

base em razões e evidências e questionar tudo o mais a fim de descobrir seu sentido último.

TEXTO II

ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2002.

Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia

Platão e Aristóteles marcaram profundamente a formação do

mos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta

pensamento Ocidental. No texto, é ressaltado importante as-

ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sen-

pecto filosófico de ambos os autores que, em linhas gerais,

sorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita.

esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisare-

refere-se à

HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).

A02  Conhecimento popular X Conhecimento científico

a) adoção da experiência do senso comum como critério de verdade. b) incapacidade de a razão confirmar o conhecimento resultante de evidências empíricas. c) pretensão de a experiência legitimar por si mesma a verdade. d) defesa de que a honestidade condiciona a possibilidade de se pensar a verdade. e) compreensão de que a verdade deve ser justificada racionalmente. 09. (Unesp SP) A ciência moderna tem maior poder explicativo, permite previsões mais seguras e assegura tecnologias e aplicações mais eficazes. Não há dúvida de que a explicação científica sobre a natureza da chuva comporta usos que a explicação indígena não comporta, como facilitar prognósticos meteorológi-

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Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume a) defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo. b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica. c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento. d) concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos. e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A03

FENÔMENOS HISTÓRICOS

ASSUNTOS ABORDADOS

Para entender o processo que culminou no surgimento da Sociologia, apresentado em nossa última aula como autoconsciência da sociedade, é importante entender os contextos históricos que deram condições para que isso acontecesse. A Sociologia é uma ciência moderna, e nesse sentido, as mudanças que ocorreram no mundo e que culminaram com o início da modernidade são centrais para o entendimento histórico da sociologia. De acordo com o pensamento de Dahrendorf (1977) se pudéssemos designar o lugar histórico-filosófico de algumas grandes disciplinas do pensamento humano, poderíamos dizer que o mesmo que a teologia significou na sociedade feudal medieval e a filosofia na época da transição para a idade moderna, a sociologia significou para as modernas sociedades industriais.

nn Fenômenos históricos nn Desagregação da sociedade feudal (séc. XV-XVII) nn Consolidação da hegemonia burguesa (séc. XVIII - XIX) nn Sociologia como Ciência Social

As organizações e arranjos sociais não acontecem ao mero acaso, são, invariavelmente, produtos de conflitos e cooperações ao longo dos tempos e a Sociologia se manifesta nessas situações enquanto vontade humana de compreender a realidade. Em um exercício de revisitar o passado, é possível perceber alguns grandes ciclos de mudanças que propiciaram o desenvolvimento da disciplina que hoje estudamos.

Desagregação da sociedade feudal (séc. XV-XVII)

Esse período é marcado por rupturas econômicas, políticas e sociais, como por exemplo: nn Expansão

Marítima; do comércio e o comércio ultramarino; nn Formação dos Estados Nacionais; nn Reforma Protestante; nn Iluminismo. nn Ampliação

Fonte: Wikimedia Commons

A sociedade medieval, por suas características e condições sociais pautadas na tradição, no conhecimento religioso e na subsistência, não garantia um ambiente favorável ao desenvolvimento do conhecimento científico. A historiografia referiu-se ao longo de décadas à Idade Média como tempos sombrios, de escuridão, em uma alusão à ausência do estímulo ao saber crítico da ciência e ao poderio do conhecimento religioso. O primeiro passo para a vida moderna então seria a desestruturação dessa sociedade, que já não permitia determinados desenvolvimentos.

Fonte: Nicolas Primola / Shutterstock.com

Figura 01 - Organização feudal, representada nos estamentos: Clero (à esquerda), Nobreza (à esquerda, com a espada) e os servos.

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Sociologia

No que diz respeito ao desenvolvimento econômico, a expansão comercial, impulsionada pelas Grandes Navegações demandou uma nova sociedade, pois, se antes os arranjos sociais se resumiam a uma vida centrada nos feudos, o avanço do comércio expande as relações sociais entre as pessoas e amplia a movimentação de indivíduos pelas cidades e pelo mundo. A produção medieval, que visava à subsistência, foi progressivamente substituída pelo comércio e as pessoas que antes se preocupavam com a subsistência, agora começavam a pensar em acúmulo e, futuramente, em lucro. No campo político, por sua vez, a formação dos Estados nacionais foi responsável pela centralização da política e a unificação de territórios nacionais. A lógica medieval da descentralização, justificada pela insegurança das invasões bárbaras, perde sentido ao longo do tempo e a necessidade econômica do acúmulo de bens e organização da produção, demanda dos antigos governantes, novos arranjos políticos. Nesse momento novas formas e pensamentos de governo aparecem como o Absolutismo. No campo social, a Reforma Protestante e o Movimento Iluminista apontam para duas mudanças na visão de mundo: mais centrada no indivíduo e pautada pela racionalidade. As mudanças econômicas atuam como mola propulsora das mudanças sociais e para além de divergências religiosas no catolicismo. A Reforma Protestante, ao pautar uma organização religiosa centrada na ação individual e preocupada com a autonomia e longe do determinismo católico possibilitou um ambiente de mudanças. Max Weber (2004), em sua clássica obra Ética protestante e o “espírito” do capitalismo, argumenta que Está claro que a participação dos protestantes na propriedade do capital, na direção e nos postos de trabalho mais elevados das grandes empresas modernas industriais e comerciais é relativamente mais forte, ou seja, superior à sua porcentagem na população total, e isso se deve em parte a razões históricas que remontam a um passado distante em que a pertença a uma confissão religiosa não aparece como causa de fenômenos econômicos, mas antes, até certo ponto, como consequência deles. (WEBER, 2004, p. 29/30)

A03  Fenômenos históricos

Fonte: Wikimedia Commons

O Iluminismo representou a grande mudança intelectual que abriu as portas para uma reflexão sobre o mundo social e o comportamento humano. Até então, não existia propriamente um pensamento autônomo sobre o que chamamos hoje de “social”, pois a religião produzia uma visão dominadora e cosmológica do mundo e de seus processos. De certo modo, não se concebia que as relações entre os homens pudessem ser decalcadas como objeto de conhecimento científico.

Figura 02 - Iluminismo enquanto a organização de um novo modo de pensar, baseado na razão humana.

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Mais que um movimento, o iluminismo foi um modo de pensar. De maneira geral, foi uma consequência da “revolução científica” desenhada desde o final do século XVI. O avanço das ciências naturais e o destacamento do homem como ser racional e capaz de desvendar os processos que orientam a existência física, química e biológica foram fundamentais para a consolidação do olhar científico na modernidade.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Esse primeiro ciclo de mudanças foi responsável pelo desmantelamento da sociedade medieval que ao longo de séculos definiu e organizou a vida social em regiões da Europa. Como na vida social não existem vácuos, os processos aqui apresentados abriram espaço para novos padrões de conflitos e cooperações, ou seja, antes de existir uma sociedade plenamente moderna e capitalista, há uma transição que começa nesse ciclo e que se encerra com o processo que o historiador Eric Hobsbawm chamou de a “dupla revolução”.

Consolidação da hegemonia burguesa (séc. XVIII - XIX) A origem da Sociologia está ligada ao processo de instalação definitiva da Modernidade, ou seja, a Sociologia nasce como reflexo das condições sócio-históricas implantadas pela modernidade burguesa. A implantação de um novo modelo de produção impactou profundamente as formas de convivência social, tendo como expressão desse momento, a constituição dos grandes aglomerados urbanos. A ascensão da burguesia enquanto classe dominante e a mudança no modelo econômico são as principais consequências das duas grandes revoluções do período: a Francesa e a Industrial, respectivamente. A “dupla revolução” ganha essa alcunha pelos impactos que deixou no mundo, e se antes dela era difícil falar em um mundo moderno, elas são a fundação da sociedade que até hoje vivemos. De acordo com Hobsbawm: Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente sob a influência da revolução industrial britânica, sua política e ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa. A Grã-Bretanha forneceu o modelo para as ferrovias e fábricas, o “explosivo econômico” que rompeu com as estruturas socioeconômicas tradicionais do mundo não europeu; mas foi a França que fez suas revoluções e a elas deu suas ideias, a ponto de bandeiras tricolores de um tipo ou de outro terem-se tornado o emblema de praticamente todas as nações emergentes (…). A França forneceu o vocabulário e os temas da política liberal e radical-democrática para a maior parte do mundo. A França deu o primeiro grande exemplo, o conceito e o vocabulário do nacionalismo. A França forneceu os códigos legais, o modelo de organização técnica e científica e o sistema métrico de medidas para a maioria dos países. A ideologia do mundo moderno atingiu as antigas civilizações que tinham até então resistido as ideias europeias inicialmente através da influência francesa. Esta foi a obra da Revolução Francesa. (HOBSBAWN, 2015, p. 2 capítulo 3) A consolidação da sociedade industrial significou, por um lado, a exuberância técnico-produtiva alçada pelas mãos da classe burguesa, por outro lado, usurpou as condições de vida anteriores, provocando mutações radicais nos modos de vida, principalmente nas classes trabalhadoras.

A03  Fenômenos históricos

Fonte: Everett Historical / Shutterstock.com

Figura 03 - Operárias em uma fábrica - símbolo.

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Sociologia

Fonte: Wikimedia Commons

Essa mudança, aparentemente paradoxal, ao mesmo tempo que amplia o desenvolvimento econômico dos Estados - começando na Inglaterra - faz crescer o abismo social existente entre os que possuem as máquinas e os que nelas trabalham. Esse ambiente de crise social é terreno fértil para indignações e consequentemente para a Sociologia.

Figura 04 - Pintura de Delacroix, em que a Liberdade guia o povo - símbolo da Revolução Francesa.

Na França, a inconformidade de amplos setores da população faz eclodir um movimento de contestação e de clara ruptura com o Antigo Regime, e a adversidade, como afirma Marx: ainda que as revoluções burguesas avancem rapidamente, enquanto a sociedade se mantém em êxtase ela tem vida curta: rapidamente culmina e a burguesia a silencia antes que ela possa se aproveitar do resultado de suas lutas. Fonte: Studio_G / Shutterstock.com

Sociologia como Ciência Social

A03  Fenômenos históricos

Os dois ciclos de mudanças apresentados apontam para uma nova realidade: a Sociedade Moderna. Entre os séculos XV e XIX o conjunto das mudanças econômicas, políticas e sociais rendeu o fim da sociedade medieval e propiciou o nascimento de um novo padrão de vida. O quadro apresentado a seguir deixará mais claro o que discutimos até aqui nesta aula.

Figura 05 - A sociologia como uma racionalidade coletiva sobre nossa própria realidade

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Sociedade feudal

Sociedade moderna

Relações sociais

Fundada na honra, na tradição e na religião.

Fundada em um contrato, no mercado e laicas.

Meio de vida

Sociedade Agrária e de subsistência.

Sociedade urbano-industrial e voltada para o lucro.

Estratificação social

Clero, Nobreza e Servos (Estamentos)

Burguesia e Proletariado (Classes Sociais)

Tempo

Cíclico

Linear

Espaço

Limitado e regional

Ampliado e global

Conhecimento

Teocêntrico

Científico


Ciências Humanas e suas Tecnologias

O quadro acima destaca os principais tópicos que diferenciam essas duas sociedades, entre eles, o tempo é uma diferença que nos faz refletir sobre essas mudanças, pois a lógica de como cada sociedade entende sua vida e se organiza é uma das melhores formas de compreender a mudança. A sociedade feudal foi regida pela produção agrária, isso em um período em que técnicas de plantio e colheita eram rudimentares - em comparação com as atuais - o que tornava os produtores reféns das estações do ano e dos tempos de cada gênero produzido. Por isso o tempo dessa sociedade é cíclico, porque segue o ritmo da natureza: preparação da terra, plantio, colheita e como a produção era de subsistência, os indivíduos não possuíam alternativa a não ser repetir essa lógica ao longo de suas vidas. A sociedade moderna, dominada pela razão e pela ciência, já passa a dominar mais a organização social e já não seria mais refém dos ciclos das estações do ano, mas sim do relógio da fábrica que aponta o horário para começar e terminar o trabalho. A lógica é a da máquina e a do acúmulo de bens, e o trabalho uma necessidade de sobrevivência e, ao mesmo tempo, possibilidade de mudança de condição de vida - visão inexistente antes da modernidade. É justamente em meio a essa sociedade moderna e esse cenário em que as condições de vida se diferenciam e as desigualdades se evidenciam que a Sociologia surge, ou seja, ela nasce da necessidade de dar sentido às mudanças sociais que comentamos nesta aula, e dar sentido aqui significa explicar e, para além disso, orientar o sentido dessa nova realidade.

Referências bibliográficas DAHRENDORF, Ralph. Sociologia e sociedade industrial. In Foracchi, Marialice e Martins, José de Souza. Sociologia e sociedade. São Paulo: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1977. HOBSBAWN, E. J. A era das revoluções, 1789 - 1848. Paz e Terra, 2015. WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. Tradução: José Marcos Mariani de Macedo; revisão técnica, edição de texto, apresentação, glossário, correspondência vocabular e índice remissimo Antonio Flávio Pierucci São Paulo, Companhia das Letras, 2004.

Exercícios de Fixação 01. A multidão, sua presença nas ruas de Londres e Paris no sé-

palmente em Londres e Paris. Mundo novo, ideias novas,

culo XIX, foi considerada pelos contemporâneos como um

problemas novos. A esse respeito e considerando o trecho

acontecimento inquietante. Milhares de pessoas se des-

supracitado a sociologia é uma ciência moderna influencia-

locando para o desempenho do ato cotidiano da vida nas

da principalmente

grandes cidades. Gestos automáticos e reações instintivas,

a) pela necessidade de compreender as crises sociais mo-

cabeças humanas, a imagem do caos, onde o homem vive e se relaciona num deserto de homens”. BRESCIANI, M. S. M. Baudelaire, Londres e Paris no século XIX. Coleção Primeiros Passos, 1995.

Sabemos que a reflexão sociológica surge no século XIX influenciada pelas transformações da modernidade princi-

dernas.

A03  Fenômenos históricos

um fervilhante desfile de homens e mulheres, um mar de

b) pela necessidade de reinterpretar a denominada modernidade. c) pela necessidade de explicar gestos automáticos e instintivos. d) pela necessidade de explicar o inquietante deserto de homens.

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Sociologia

02. (Ufu MG) Na parte mais tardia de sua carreira, Comte elaborou

d) As atividades rurais do período histórico, tratado no tex-

planos ambiciosos para a reconstrução da sociedade francesa

to, foram o objeto de estudo que deu origem à Sociologia

em particular, e para as sociedades humanas em geral, baseado

como ciência.

no seu ponto de vista sociológico. Ele propos. o estabelecimento de uma “religião da humanidade”, que abandonaria a fé e o dogma em favor de um fundamento científico. A Sociologia estaria no centro dessa nova religião GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 28.

Com base nessa assertiva, Comte aponta para o papel da Sociologia como ciência fundamental para a compreensão a) da ideia da revolução, como solução para sanar as questões da desigualdade social. b) da crença na ação dos indivíduos, como fator de intervenção na realidade. c) do consenso moral, como solução para regular e manter unida a sociedade. d) dos elementos subjetivos da sociedade, tendo em vista a pluralidade social.

disciplina cientifica surgiu ao longo do século XIX, como uma resposta acadêmica para os novos desafios da modernidade. Além das concepções advindas da Revolução Francesa e dos fortes impactos gerados pela Revolução Industrial na estrutura da sociedade, muitos outros processos também contribuíram para essa nova configuração da sociedade. Em seu desenvolvimento ao longo do século XIX, a Sociologia esperava entender a) os grupos sociais e as causas da desintegração social vigente. b) como a Revolução Industrial encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, sem prejuízo da classe trabalhadora, pois foi beneficiada por esse processo. c) a subjetividade dos indivíduos nas pesquisas sociológicas, como uma disciplina cientifica com metodologia própria. d) a Revolução Francesa como um marco revolucionário que

03. (...) Grandes mudanças que ocorreram na história da humanidade, aquelas que aconteceram no século XVIII — e que se estenderam no século XIX — só foram superadas pelas grandes transformações do final do século XX. As mudanças provocadas pela revolução científico- tecnológica, que denominamos Revolução Industrial, marcaram profundamente a organização social, alterando-a por completo, criando novas formas de organização e causando modificações culturais duradouras, que perduram até os dias atuais. DIAS, Reinaldo. Introdução à sociologia. São Paulo: Persons Prentice Hall, 2004, p. 124.

Percebe-se que as transformações ocorridas nas sociedades ocidentais permitiram a formação de relações sociais complexas. Nesse sentido, a Sociologia surgiu com o objetivo de compreender essas relações, explicando suas origens e consequências. Sobre o surgimento da Sociologia e das mudanças históricas apontadas no texto, assinale a alternativa CORRETA. A grande mecanização das fabricas nas cidades possibilitou o desenvolvimento econômico da população rural por meio do aumento de empregos.

A03  Fenômenos históricos

04. (Ufu MG) De um ponto de vista histórico, a Sociologia como

a) A divisão social do trabalho foi minimizada com as novas tecnologias introduzidas pelas revoluções do século XVIII. b) A Sociologia foi uma resposta intelectual aos problemas sociais, que surgiram com a Revolução Industrial. c) O controle teológico da sociedade foi possível com o emprego sistemático da razão e do livre exame da realidade.

modificou o pensamento, apesar de manter as tradições aristocratas. 05. (UPE PE) Leia o texto a seguir: Enquanto resposta intelectual à “crise social” de seu tempo, os primeiros sociólogos irão revalorizar determinadas instituições que, segundo eles, desempenham papéis fundamentais na integração e na coesão da vida social. A jovem ciência assumia como tarefa intelectual repensar o problema da ordem social, enfatizando a importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social e destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade. MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2006, p. 30.

Com base nele, o surgimento da Sociologia foi motivado pelas transformações das relações sociais ocorridas na sociedade europeia, nos séculos XVIII e XIX, contribuindo para a) o aumento da desorganização social estabelecida pela Revolução Industrial. b) a organização de vários movimentos sociais controlados por pensadores como Saint-Simon e Comte. c) a elaboração de um conceito de sociologia incluindo os fenômenos mentais como tema de reflexão e investigação. d) a criação da corrente positivista, que propôs uma transformação da sociedade com base na reforma intelectual plena do ser humano. e) o surgimento de uma “física social” preocupada com a construção de uma teoria social, separada das ideias de ordem e desenvolvimento como chave para o conhecimento da realidade. A alternativa [D] é a única correta. O surgimento da sociologia esteve relacionado ao desenvolvimento de uma física social de ordem positivista, calcada em ideais como o cientificismo, a ordem e o progresso.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios Complementares ocorridas na produção de conhecimento sobre o humano. Nesse sentido, é correto afirmar que: 01 + 02 + 08 = 11. 01. A compreensão dos fenômenos sociais levou ao entendimento de que a sociologia é capaz de explicar qualquer fenômeno relacionado aos seres humanos a partir de causas que emanam do mundo social e do mundo natural nos aspectos em que tal fenômeno é afetado pela ação humana. 02. Crença religiosa, pobreza, justificativa para existência de elites e privilegiados, submissão dócil de alguns grupos sociais a outros, machismo, preconceito e xenofobia são temas da sociologia. 04. No futuro, a sociologia, como disciplina de caráter fortemente artesanal, será substituída por abordagens mais tecnicistas, tais como a engenharia social, a econometria e a sociobiologia. 08. Estrutura, função, valores e classes sociais são categorias utilizadas pela sociologia para elaborar suas análises. 16. Valores religiosos, afetivos, estéticos e morais dizem respeito a escolhas individuais e, portanto, não são analisados pela sociologia.

02. (Ufu MG) Selecione as afirmativas que indicam o contexto histórico, social e filosófico que possibilitou a gênese da sociologia. 05. (Uema MA) A Sociologia como ciência foi criada no século I. A sociologia é um produto das revoluções francesa e XIX em um contexto marcado por “mudanças sociais” que industrial e foi uma resposta às novas situações colodemandavam explicações para a intervenção nos problemas cadas por estas revoluções. detectados. II. Com o desenvolvimento do industrialismo, o sistema soO tipo de sociedade que propiciou o surgimento da sociologia cial passou da produção da guerra para a produção das e a indicação de suas características são, respectivamente, coisas úteis, através da organização da ciência e das artes. III. O pensamento filosófico dos séculos XVII e XVIII conTipo de Características tribuiu para popularizar os avanços científicos, sendo sociedade a teologia a forma norteadora desse pensamento. Inchaço populacional na zona urbaIV. A formação de uma sociedade, que se industrializava na, crescimento da criminalidade, Capitalista a) e urbanizava em ritmo crescente, propiciou o fortaleaparecimento do proletariado e cricimento da servidão e da família patriarcal. se das instituições sociais. Assinale a alternativa correta. Aumento da urbanização, desindusGabarito questão 03 a) III e IV O racionalismo, na ciência, está relacionado com o esforço de se trialização, aumento da taxa de emb) Escravocrata prego, aparecimento da burguesia e b) I, II e III compreender racionalmente os fenômenos. Na sociologia, esse ideal foi introduzido por meio do positivismo, que significou a tentativa de enfraquecimento dos laços sociais. c) II, III e IV compreender a sociedade cientificamente, da mesma forma como a ciência compreende os fenômenos físicos e biológicos. Isso se cond) I e II Aumento da migração para a zona solidou através de Émile Durkheim, que desenvolveu uma metodologia própria para a sociologia a partir do conceito de “fato social”. rural, valorização do salário dos 03. (Ufu MG) Entre os fatores intelectuais que influenciaram o c) Socialista trabalhadores, redução do desemprego e fortalecimento da igreja ensurgimento da Sociologia como “ciência da sociedade,” desquanto instituição social. taca-se o racionalismo. Disserte sobre este assunto, mostrando como se deu essa influência. Crescimento da população urbana e rural, redução da pobreza, aparecid) Comunista mento do proletariado, fortalecimento 04. (Uem PR) A sociologia surge, como disciplina, no período da família enquanto instituição social. compreendido entre o final do século XIX e o início do século XX. Esse processo está relacionado a revoluções sociais, Estabilidade econômica, valorização políticas, culturais e econômicas que afetaram profundada mulher no mercado de trabalho, e) Feudal fortalecimento do casamento como mente as sociedades influenciadas pelas ideias ocidentais, instituição social. mas também está fortemente associado a transformações

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A03  Fenômenos históricos

01. (Ufu MG) Sobre o surgimento da sociologia, podemos afirmar que I. a consolidação do sistema capitalista na Europa no século XIX forneceu os elementos que serviram de base para o surgimento da sociologia como ciência particular. II. o homem passou a ser visto, do ponto de vista sociológico, a partir de sua inserção na sociedade e nos grupos sociais que a constituem. III. aquilo que a sociologia estuda constitui-se historicamente como o conjunto de relacionamentos que os homens estabelecem entre si na vida em sociedade. IV. interessa para a sociologia, não indivíduos isolados, mas inter-relacionados com os diferentes grupos sociais dos quais fazem parte, como a escola, a família, as classes sociais etc.. a) II e III estão corretas. b) Todas as afirmativas estão corretas. c) I e IV estão corretas. d) I, III e IV estão corretas. e) II, III e IV estão corretas.


Sociologia

06. (Uem PR) Sobre as condições de surgimento do pensamento

b) a escola sociológica francesa se tornou uma referência para

sociológico, assinale o que for correto. 01 + 04 + 08 + 16 = 29.

os estudos da realidade social com base no pensamento de

01. O desenvolvimento de um pensamento científico sobre a

Durkheim.

sociedade surge em fins do século XVIII, na Europa, como

c) a visão sociológica ofereceria um conhecimento útil para

resposta às questões sociais que surgiram em decorrência

consolidar a desorganização social após a Revolução France-

dos processos de revolução burguesa.

sa e Industrial.

02. Uma das principais ambições da sociologia, em seus primór-

d) a pesquisa de campo ganhou destaque com o pensamento

dios, foi criar uma concepção teológica da história humana,

positivista, orientando o caminho metodológico que o socio-

encontrando argumentos lógicos e racionais que comprovas-

lógico deveria seguir.

sem os efeitos da ação divina sobre a vida social.

e) o pensamento de Augusto Comte representou um impor-

04. O encontro com as populações ameríndias, os relatos

tante papel na elaboração do conhecimento sociológico,

que os viajantes europeus fizeram sobre a América e os

fundamentado na valorização da economia e dos mitos

conflitos originários desse encontro foram elementos

como instrumento intelectual para compreender as rela-

centrais para o desenvolvimento de um pensamento es-

ções sociais.

pecífico sobre o “outro”, o não europeu, que se tornou posteriormente alguns dos fundamentos da antropologia social. 08. O fenômeno da desigualdade social, discutido na sociologia por meio do conceito de estratificação social, é um tema presente no pensamento clássico e permanece como um dos principais problemas que desafiam as concepções contemporâneas das ciências sociais. 16. Marx jamais reivindicou o reconhecimento como soció-

08. (Uem PR) “Mas a vocação da sociologia é fornecer orientação em um mundo reconhecidamente em mudança. E essa vocação só pode ser realizada delineando-se as mudanças e suas consequências, assim como investigando as estratégias de vida adequadas para lidar com suas exigências. Creio que um mundo que exige uma reorientação contínua é o hábitat natural da pesquisa sociológica e dos serviços que a sociologia pode e deve oferecer”. (BAUMAN, Z. Para que serve a sociologia? Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p. 59).

logo. No entanto, seus escritos, produzidos em meados do século XIX, tornaram-se textos centrais dos pensamentos político e social elaborados pela sociologia nos séculos XX e XXI.

Nas três primeiras décadas do século XX, embora a burguesia já mostrasse sem disfarces a sua faceta conservadora e belicista, defrontando-se com um movimento operário organizado, e testemunhasse também um acontecimento como a instalação do poder soviético na Rússia, conseguia, não obstante, controlar, até certo ponto, as ameaças dos movimentos e dos grupos revolucionários. Além disso, deve-se mencionar que a existência da monopolização das empresas e dos capitais daquelas décadas, embora consideráveis, evidentemente eram menos acentuadas do que são em nossos dias. Dessa forma, a burocratização do trabalho intelectual não era ainda uma realidade viva e concreta que aprisionava e inibia a imaginação dos sociólogos.

A03  Fenômenos históricos

mento e a institucionalização das Ciências Sociais, assinale o que for correto. 01 + 02 + 16 = 19.

07. (UPE PE) Leia o texto a seguir:

MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia? São Paulo: Brasiliense, 2006, pp. 76-77.

O texto faz referência a um período da história da Sociologia. Sobre esse período, é CORRETO afirmar que a) o conhecimento sociológico foi organizado com base no pensamento iluminista de Descartes.

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Considerando o texto citado e conhecimentos sobre o surgi-

01. Uma das tarefas da sociologia é mostrar como os problemas pessoais estão interligados a questões de ordem pública e coletiva. 02. A sociologia se constitui num tipo de conhecimento relevante tanto para os cientistas e especialistas quanto para todos aqueles afetados pelos resultados de suas pesquisas, ou seja, o grande público. 04. A sociologia é um conhecimento originário do mundo moderno e, como tal, se mostra superada pelas novas formas de interação e comunicação da pós-modernidade, não tendo mais lugar na sociedade contemporânea. 08. O pensamento sociológico e as metodologias por ele empregadas não utilizam recursos matemáticos ou estatísticos na constituição de análises sobre a história e a estrutura social de grupos ou nações. 16. A sociologia é uma ciência, portanto estabelece problemas, dúvidas e questionamentos sobre a realidade. Por isso, ela é também uma forma de consciência, na medida em que permite desenvolver uma nova perspectiva sobre o próprio mundo em que vivemos.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A04

A SOCIOLOGIA E O MUNDO MODERNO Em aulas anteriores, vimos que o surgimento da Sociologia está fortemente marcado pela presença do pensamento social dos séculos XVIII e XIX e suas consequências no avanço das ciências em geral. A Sociologia, porém, como um produto intelectual, nasceu de um processo complexo que envolve fatores histórico-políticos e sociais. Segundo Octávio Ianni:

ASSUNTOS ABORDADOS nn A Sociologia e o mundo moderno nn A origem do pensamento sociológico

A ideia de Sociologia é contemporânea da ideia de Modernidade. Ambas nascem na cidade. Formam-se principalmente em Paris, capital do século XIX, em meados desse século. Aí decantavam-se as mais novas e típicas realizações materiais e espirituais da sociedade moderna. (IANNI, 1989, p. 14). A vida no meio urbano é intensa e conflituosa e a concentração populacional no meio urbano é maior, o que provoca maiores interações sociais e, com elas, mais relações de cooperação e de conflito. Essa intensidade associada às mudanças econômicas e políticas evidenciaram os limites da “dupla revolução” na qual, nem tudo era progresso e o crescimento descontrolado da indústria trouxe problemas, como: acidentes de trabalho, a insalubridade dos ambientes urbanos, a falência de tradicionais instituições e a miséria, o que teve como consequência a organização dos operários em associações políticas e trabalhistas para garantir melhores condições de vida e de trabalho (QUINTANEIRO, 2005). Essa sociedade moderna e capitalista é o nosso locus inicial de estudo e é a partir dela, nas contradições que afloram cada vez mais, que os indivíduos passam a pensar sobre suas realidades objetivas, enquanto a nova burguesia expande seu domínio para além dos mares europeus.

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Figura 01 - Sociologia como forma de compreensão do mundo.

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Sociologia

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A origem do pensamento sociológico Nessa perspectiva, o surgimento da Sociologia está situado em um contexto de profundas modificações na estrutura social, no século XIX. O aparecimento das grandes cidades, os problemas sociais oriundos do processo de consolidação do capitalismo como produto das revoluções burguesas criaram uma situação que necessitava, cada vez mais, de respostas intelectuais. Ao caminhar de forma sintética no interior da consagrada tríade formadora da Sociologia - Durkheim, Weber e Marx - podemos notar a modernidade como uma nova forma societal que inaugura paradigmas diversos que podem ser expostos com os temas inaugurais da Sociologia. Portanto, a origem da Sociologia só pode ser concebida dentro desses fatores, uma vez que é impossível distanciar esse surgimento das condições históricas citadas e dos eventos apresentados. Sendo assim, é difícil determinar uma data de nascimento para a ciência da sociedade, mas é possível traçar um panorama histórico da sua origem, levando em conta as condições sociais que balizaram suas primeiras reflexões. Em relação à originalidade do seu nascimento, comenta Quintaneiro:

Figura 02 - Tríade do pensamento sociológico. Max Weber (em pé à esquerda), Émile Durkheim (em pé à direita) e Karl Marx (sentado).

Sua paternidade é incerta: uns a atribuem ao inquieto e revolucionário francês Saint-Simon (1760-1825), outros àquele que foi seu secretário, o conservador Auguste Comte (1798-1857) que a apadrinhou. Em todo caso, sua origem se mescla com os processos sociais e econômicos que há muito vinham se constituindo na Europa, nos campos da ciência e da tecnologia, da organização política, dos meios e processos de trabalho, das formas de propriedade da terra e dos instrumentos de produção, da distribuição do poder e da riqueza entre as classes, e das tendências à secularização e racionalização que se mostravam em todas as áreas da atividade humana. É desse torvelinho de transformações que brotará o manancial dos clássicos do pensamento sociológico: Marx, Durkheim e Weber. (QUINTANEIRO, 2005, p. 12)

A04  A Sociologia e o mundo moderno

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Aqueles que podemos chamar de pioneiros da Sociologia vão partir desse ambiente inquietante para delimitar essa ciência. Tem-se um desafio, como compreender a nova sociedade moderna em que vivem, considerando que ainda não é possível ter uma clara dimensão se as transformações já acabaram ou quais são todas as suas consequências, assim estudar um objeto em transformação - algo cotidiano para a sociologia - já se coloca como algo inquietante e desafiador. Auguste Comte (1798-1857)

Figura 03 - Auguste Comte, pensador positivista francês e pioneiro da sociologia.

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Ainda que não seja possível atribuir a um único indivíduo a criação de um campo de estudos, frequentemente Comte recebe o destaque no surgimento daSociologia. Comte, originalmente, se referia à ciência como física social, em uma alusão à ciência natural (física) como forma de puxar credibilidade para sua nova empreitada. O próprio Comte muda o nome em função de conflitos intelectuais, fazendo com que ele adotasse a Sociologia como nome da sua ciência social.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Émile Durkheim (1858-1917)

DE SE NV OL V DA IME RA NTO ZÃ O

Estado posi vo Estado meta sico Estado teológico

nn Estado teológico (explicações sobrenaturais, a huma-

nidade vê o mundo e se organiza a partir dos mitos e das crenças religiosas); nn Estado

metafísico (os fenômenos são explicados por meio de abstrações, sem crença nem em aspectos sobrenaturais nem em fundamentos científicos);

nn Estado

positivo (triunfo da ciência, se busca leis segundo as quais os fenômenos se encadeiam uns aos outros para compreender manifestações naturais e humanas).

Assim, o positivismo começou a atribuir fatores humanos nas explicações dos diversos assuntos, aproximando ao estudo a observação de coisas mais práticas e presentes no cotidiano, ou seja, há uma subordinação da imaginação à observação, sendo necessário observar os conjuntos de ações que envolvem cada indivíduo.

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O entendimento de sua época era que a ciência - normalmente associada às ciências naturais - se apresentava como principal expressão da análise objetiva do mundo natural. Comte corrobora com essa compreensão da ciência ao entender que o que dá qualidade ao pensamento científico não é seu objeto de estudo, mas sim seu método, isto é, a forma como o estudo se organiza para alcançar seu objetivo. Para Comte, isso significou que se pegasse o método científico apropriado das ciências naturais e o usasse para compreender as leis do mundo social, poderia entender e orientar o desenvolvimento social, assim ele formulou a “lei dos três estados” da evolução humana:

Figura 04 - Émile Durkheim, reconhecido como o primeiro pai da Sociologia.

Pensador francês francês, tal qual seu antecessor, Durkheim parte do pensamento de Comte, de que a Sociologia deve ser vista como uma ciência. O autor percebia na Sociologia o potencial de ser uma ciência empírica que elucidasse questões filosóficas e para tal, ela deveria se pautar em fenômenos objetivos, os chamados fatos sociais. Com uma obra vasta sobre metodologia, formação da ordem social e chegando até estudos sobre origem moral da sociedade, Durkheim possui contribuições mais atemporais ao pensamento sociológico. Ao buscar uma dimensão mais rigorosa que Comte, Durkheim dá novo sentido ao positivismo científico e tenta enxergá-lo nos aspectos da vida social que determinam nossa ação enquanto indivíduos. Para ele, a sociedade prevalece sobre o indivíduo, sendo um conjunto de normas de ação e pensamentos que são construídas exteriormente, fora das consciências individuais, e sem essas regras, a sociedade não existiria, e é por isso que os indivíduos devem obedecer a elas. Durkheim afirma então que os fatos sociais são justamente essas normas coletivas que orientam a vida dos indivíduos, ressaltando que esses fatos sociais são exteriores, coercitivos e gerais. Geral porque estão latentes em todos os espaços sociais; exteriores, porque consistem em ideias e normas que não são criadas isoladamente pelos indivíduos, e sim pela coletividade, estando “fora” do nós; e coercitivos, porque essas ideias, normas e regras devem ser seguidas, caso contrário haverá algum tipo de punição, podendo ser física, moral, psicológico, emocional etc. 39

A04  A Sociologia e o mundo moderno

Sua contribuição se dá no sentido em que ele, por vivenciar o turbilhão que atravessa a França no pós-Revolução Francesa e ver as primeiras consequências da industrialização, busca criar uma forma verdadeira de explicar as normas do mundo.


Sociologia

Pensemos sobre o crime e como ele é uma regra tática. Nós já nascemos sabendo que o crime é algo nocivo, que torna a sociedade doente de alguma forma, e assim quem o comete é ou deveria ser submetido a algum tipo de punição. Assim também como o ato de falar algum idioma que não é reconhecido localmente, se se está no Brasil e falar francês, o indivíduo claramente será punido com a má comunicação, e assim terá a interação prejudicada. A partir desses exemplos podemos entender claramente o que Durkheim chama de fato social. Max Weber (1864-1920) Max Weber, conhecido como indivíduo de grande erudição, possui estudos em amplas áreas, contribuindo - assim como Marx - na economia, no direito, na história e na filosofia. Observando a expansão da industrialização pela Europa até chegar à Alemanha, onde viveu, tentou compreender seus funcionamentos básicos, diferenciando as sociedades modernas capitalistas de outras formas de organização social. Uma questão relevante em Weber, também uma de suas marcas, é a análise da ação social. No entendimento desse autor, o foco do sociólogo é a ação intencional humana, entendendo que a vida social é moldada a partir dos indivíduos e não o contrário, como entendia seu antecessor. Assim, a sociedade não seria algo exterior e superior aos indivíduos, como em Durkheim, o que coloca a questão subjetiva em foco, como já alertamos em nossa primeira aula.

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Dessa forma, tem-se que a ação social só existe quando o indivíduo estabelece uma comunicação com os outros. Um exemplo: pensemos em um consumidor indo a alguma loja escolher um par de sapatos. Sua ação é social, pois o ato de comprar algo já é significativo. O desafio é como o consumidor orienta sua ação na compra dos sapatos, pois Weber estabelece quatro tipos de ação social: a ação social racional com relação a fins, a ação social racional com relação a valores, a ação social afetiva e a ação social tradicional.

A04  A Sociologia e o mundo moderno

Assim, ele pode comprar um modelo de que mais goste, ou que tenha uma afeição maior, caracterizando uma ação afetiva, ou pode comprar os sapatos que sempre compra, fazendo com que sua ação seja tradicional, pode também comprar os sapatos pela marca, o que agrega valores e sua ação será racional com relação a valores. E, por fim, pode comprar os sapatos que estiver mais de acordo com a finalidade, para esportes, por exemplo. Aqui então sua ação será racionalmente com respeito a fins1. Ressalto que uma ação, não necessariamente, pode estar relacionada a um só tipo de ação, podendo o consumidor do exemplo dado escolher os sapatos por exemplo, por afeição, e pela marca, o que caracterizaria sua ação como afetiva, mas também como racional com relação a valores.

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Figura 05 - Max Weber, ainda jovem, precursor da sociologia compreensiva.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Karl Marx (1818-1883) Pensador alemão, Marx se diferencia dos dois franceses tanto no método quanto nos objetivos. Ainda jovem, Marx sai de seu país natal por conflitos políticos e fica a maior parte de sua vida na Inglaterra, onde amplia seus estudos e atuação política. O fato de Marx ter vivido no país em que se inicia a Revolução Industrial trouxe influência sobre sua percepção, pois ele coloca as crescentes desigualdades sociais à frente, e ao ver a exploração da classe operária escancarada, isso o estimula a tentar entender o fundamentamento desse modelo econômico e como ele se organiza para que as pessoas, em geral, o aceitem enquanto realidade absoluta. Marx, diferente de Durkheim e de Weber, acredita que não se pode pensar a relação indivíduo-sociedade separadamente das condições materiais em que essas relações se apoiam, pois as condições materiais de toda a sociedade condicionam as demais relações sociais. Para ele, o estudo de qualquer sociedade deveria partir justamente das relações sociais que os homens estabelecem entre si para utilizar os meios de produção e transformar a natureza, já que essas relações sociais de produção são a base que condiciona todo o resto da sociedade. Segundo Marx, na sociedade capitalista as relações sociais de produção definem dois grandes grupos dentro da sociedade: de um lado, os capitalistas, que são aquelas pessoas que possuem os meios de produção (máquinas, ferramentas etc.) necessários para transformar a natureza e produzir mercadorias. Do outro, os trabalhadores, também chamados, no seu conjunto, de proletariado, aqueles que nada possuem, a não ser o seu corpo e a sua disposição para trabalhar. Marx considerava então que havia um permanente conflito entre essas duas classes – conflito que não é possível resolver dentro da sociedade capitalista, por isso, para Marx, a História era sempre a história da luta de classes.

A04  A Sociologia e o mundo moderno

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Assim, por meio de uma rápida exposição – já que os clássicos serão foco de estudo aprofundado na próxima série dos conceitos desses autores podemos perceber que eles estavam tentando compreender a sociedade de sua época, e com isso finalizamos este primeiro livro, que deu uma noção introdutória, mas fundamental sobre a Sociologia, e que permitirá um maior estreitamento de nossa relação para os estudos futuros.

Figura 06 - Karl Marx, pensador alemão, contribuiu com o pensamento crítico à Sociologia.

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Sociologia

Exercícios de Fixação 01. A sociologia originou-se no século XIX, das transformações que permeavam a sociedade causando profundas inquietação e instabilidade, decorrentes da desagregação da sociedade medieval e a formação do mundo moderno. O esboço da nova sociedade industrial se delineava e, juntamente com ela, se fazia presente à necessidade do homem enfrentar as novas exigências e os conflitos inerentes ao surgimento da sociedade. IANNI, O. A sociologia e o mundo moderno. Tempo Social; Revista de Sociologia da USP, S. Paulo, Volume 1(1), 1.sem. 1989, p.7-27.

Um dos acontecimentos científicos do século XIX foi a gênese da reflexão sociológica, ciência esta, que surge com o intuito de entender os males e as transformações daquilo que foi cunhado de modernidade. Considerando o discurso sociológico como uma interpretação do mundo moderno considera-se que a sociologia a) surge como fruto do tradicionalismo, do conservadorismo e do proselitismo moderno de culto a razão. b) é um discurso de interpretação da modernidade caracterizada pelas crises societais urbanas. c) guarda em sua gênese uma influência do pensamento tradicional presente na transição feudo-capitalista. d) é uma ciência caracterizada como dramática, pois surge para interpretar os conflitos sociais. e) surge como um discurso conservador frente as transformações da modernidade e contemporaneidade. 02. Texto I

Questão 04. A alternativa [D] é claramente correta. Os proletários são desprovidos dos meios de produção, devendo assim vender sua força de trabalho em troca de um salário de subsistência para poderem sobreviver.

A04  A Sociologia e o mundo moderno

Cidadão Tá vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar Foi um tempo de aflição Eram quatro condução Gabarito questão 05 Duas pra ir, duas pra voltar O século XVIII é definido como um século explosivo. Se no século anterior Hoje depois dele pronto a Revolução Inglesa determina novas Olho pra cima e fico tonto formas de organização política, é nesse século que se verá tanto a Revolução Mas me vem um cidadão Americana quanto a Francesa alterando todo o quadro político mundial, bem E me diz desconfiado como servindo de exemplo e parâmetro “Tu tá aí admirado para as revoluções políticas posteriores. Ou tá querendo roubar?” As transformações na esfera da produção, a emergência de novas formas de Meu domingo tá perdido organização política e a exigência da repopular dão características Vou pra casa entristecido presentação muito específicas a esse século. Dá vontade de beber E pra aumentar meu tédio Eu nem posso olhar pro prédio Que eu ajudei a fazer. BARBOSA, L. ln: ZÊ RAMALHO. 20 Super Sucessos. Rio de Janeiro: Sony Music, 1999 (fragmento).

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Texto II O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens. Esse fato simplesmente subentende que o objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, agora se lhe opõe como um ser estranho, como uma força independente do produtor. MARX, K. Manuscritos econômicos-filosóficos(Primeiro manuscrito). São Paulo: Boitempo Editorial, 2004 (adaptado).

Com base nos textos, a relação entre trabalho e modo de produção capitalista é a) baseada na desvalorização do trabalho especializado e no aumento da demanda social por novos postos de emprego. b) fundada no crescimento proporcional entre o número de trabalhadores e o aumento da produção de bens e serviços. c) estruturada na distribuição equânime de renda e no declínio do capitalismo industrial e tecnocrata. d) instaurada a partir do fortalecimento da luta de classes e da criação da economia solidária. e) derivada do aumento da riqueza e da ampliação da exploração do trabalhador. 03. (UPE PE) Dentre os principais autores articuladores da Sociologia na sua fase inicial de desenvolvimento, é CORRETO citar os nomes de: a) Marx e Foucault. d) Aristóteles e Comte. b) Comte e Durkheim. e) Durkheim e Chartier. c) Descartes e Marx. 04. (Ufu MG) Marx e Engels (http://www.culturabrasil.org/manifestocomunista.htm), em seu Manifesto do Partido Comunista, consideram que “a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.” Em vista disso, assinale a alternativa que define corretamente a burguesia e o proletariado. a) Os burgueses utilizam o trabalho escravo para a produção, e o proletariado é desprovido de liberdade para vender sua força de trabalho. b) Os burgueses são proprietários que utilizam da manufatura do proletariado para a produção de mercadorias, e o proletariado impulsiona o desenvolvimento da manufatura. c) Os burgueses são os grandes proprietários de terras, e o proletariado detém o poder social e econômico. d) Os burgueses são os detentores dos meios de produção, e o proletariado vende sua força de trabalho. 05. (Ufu MG) A Sociologia é uma ciência moderna, com menos de dois séculos, que se desenvolveu a partir do questionamento da sociedade urbana-industrial, em formação desde a segunda metade do século XVIII. A partir dessa afirmação, descreva a estrutura social que possibilita a formação do pensamento sociológico.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 04. a) A imagem faz referência à ação racional com relação a valores. Esse tipo de ação se dá por indivíduos que tomam decisões racionais tendo como critério principal um valor moral internalizado por eles. b) A ação social que o capitão e o marinheiro tomaram tem como critério o dever que ambos possuem de estarem com seu navio, mesmo que este naufrague. Esse princípio ético de “não abandonar o barco” guia as decisões racionais que ambos tomem para ali se manterem, mesmo que, do ponto de vista da ação racional com respeito a fins, isso pareça desprovido de razão.

Exercícios Complementares 01. (Enem MEC) A sociologia ainda não ultrapassou a era das construções e das sínteses filosóficas. Em vez de assumir a tarefa de lançar luz sobre uma parcela restrita do campo social, ela prefere buscar as brilhantes generalidades em que todas as questões são levantadas sem que nenhuma seja expressamente tratada. Não é com exames sumários e por meio de intuições rápidas que se pode chegar a descobrir as leis de uma realidade tão complexa. Sobretudo, generalizações às vezes tão amplas e tão apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova.

b) dialética, pois reconhece a existência de uma realidade exterior ao pesquisador. c) kantiana, pois trata da “coisa em si” e realiza a coisificação da realidade. d) nietzschiana, pois coloca a “vontade de poder” como fundamento para a pesquisa. e) weberiana, pois aborda a ação social racional atribuída por um sujeito. 04. (Ufu MG)

DURKHEIM, E. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

O texto expressa o esforço de Émile Durkheim em construir uma sociologia com base na a) vinculação com a filosofia como saber unificado. b) reunião de percepções intuitivas para demonstração. c) formulação de hipóteses subjetivas sobre a vida social. d) adesão aos padrões de investigação típicos das ciências naturais. e) incorporação de um conhecimento alimentado pelo engajamento político.

BOELTER, C.; PLUMER, E. Sobre o pensamento de Durkheim e Weber. In: TESKE, Ottmar (coord.), Sociologia: textos e contextos. Canoas: Ed. ULBRA, 1999, p. 41. Adaptado.

Explique as características dos fatos sociais, na visão de Émile Durkheim, contidas no texto acima. 03. (UEG GO) O objeto de estudo da sociologia, para Durkheim, é o fato social, que deve ser tratado como “coisa” e o sociólogo deve afastar suas prenoções e preconceitos. A construção durkheimiana do objeto de estudo da sociologia pode ser considerada a) positivista, pois se fundamenta na busca de objetividade e neutralidade.

Fonte:<http://www.clubedoarrais.com>.

Observe a charge e a ação do capitão e do marinheiro de não abandonarem o navio em caso de naufrágio. A referida ação pode ser analisada utilizando a tipologia das ações sociais de Weber. Com base nas informações, faça o que se pede. a) Indique e descreva as características da ação social à qual se refere à ação acima. b) Justifique sua escolha desta ação social, explicando-a por meio da Teoria Compreensiva de Weber.

A04  A Sociologia e o mundo moderno

02. (Uem PR) Émile Durkheim (1858-1917) é considerado um dos teóricos fundadores da Sociologia e definiu como objeto de estudo dessa nova ciência os fatos sociais, compreendidos como “coisa”. O texto adaptado retrata as características dos fatos sociais. Não somos obrigados a falar a língua do nosso país, usar a moeda vigente ou adaptar-nos à tecnologia moderna; mas se assim não o fizermos, nossas vidas serão um fracasso, portanto, não temos escolha, todos nós somos coagidos a acatá-las. Estas decisões não são determinadas individualmente, são exteriores à nossa vontade, elas já estão prontas na sociedade.

05. (Enem MEC) Texto I Cidadão Tá vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar Foi um tempo de aflição Eram quatro condução Duas pra ir, duas pra voltar

Questão 02. Os fatos sociais possuem três características: são gerais, exteriores aos indivíduos e coercivos. Falar a língua de um país, por exemplo, é um fato social porque todos ali fazem isso (é geral), é independente da vontade dos indivíduos e existe mesmo que alguém não queira falar essa língua (é exterior) e todos são obrigados a dominá-la para poderem se comunicar de forma plena (é coercivo).

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Sociologia

Hoje depois dele pronto Olho pra cima e fico tonto Mas me vem um cidadão E me diz desconfiado “Tu tá aí admirado Ou tá querendo roubar?” Meu domingo tá perdido Vou pra casa entristecido Dá vontade de beber E pra aumentar meu tédio Eu nem posso olhar pro prédio Que eu ajudei a fazer.

a) progresso civilizatório como decorrência da expansão do industrialismo. b) extinção do pensamento mítico como um desdobramento do capitalismo. c) emancipação como consequência do processo de racionalização da vida. d) afastamento de crenças tradicionais como uma característica da modernidade. e) fim do monoteísmo como condição para a consolidação da ciência. 07. (UEG GO)

BARBOSA, L. In: ZÉ RAMALHO. 20 Super Sucessos. Rio de Janeiro: Sony Music, 1999 (fragmento).

Texto II O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens. Esse fato simplesmente subentende que o objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, agora se lhe opõe como um ser estranho, como uma força independente do produtor. MARX, K. Manuscritos econômicos-filosóficos (Primeiro manuscrito). São Paulo: Boitempo Editorial, 2004 (adaptado).

Com base nos textos, a relação entre trabalho e modo de produção capitalista é a) baseada na desvalorização do trabalho especializado e no

Algumas pessoas conseguem mais do que outras nas socieda-

aumento da demanda social por novos postos de emprego.

des – mais dinheiro, mais prestígio, mais poder, mais vida, e

b) fundada no crescimento proporcional entre o número de

tudo aquilo que os homens valorizam. Tais desigualdades criam

trabalhadores e o aumento da produção de bens e serviços.

divisões na sociedade – divisões com respeito a idade, sexo,

c) estruturada na distribuição equânime de renda e no declínio

riqueza, poder e outros recursos. Aqueles no topo dessas di-

do capitalismo industrial e tecnocrata. d) instaurada a partir do fortalecimento da luta de classes e da criação da economia solidária. e) derivada do aumento da riqueza e da ampliação da exploração do trabalhador. 06. (Enem MEC) A crescente intelectualização e racionalização não indicam um conhecimento maior e geral das condições sob A04  A Sociologia e o mundo moderno

as quais vivemos. Significa a crença em que, se quiséssemos, poderíamos ter esse conhecimento a qualquer momento. Não há forças misteriosas incalculáveis; podemos dominar todas as coisas pelo cálculo. WEBER, M. A ciência como vocação. In: GERTH, H., MILLS, W.(Org.). Max Weber: ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado).

Tal como apresentada no texto, a proposição de Max Weber a respeito do processo de desencantamento do mundo evidencia o(a)

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visões querem manter sua vantagem e seu privilégio; aqueles no nível inferior querem mais e devem viver em um estado constante de raiva e frustração [...]. Assim, a desigualdade é uma máquina que produz tensão nas sociedades humanas. É a fonte de energia por trás dos movimentos sociais, protestos, tumultos e revoluções. As sociedades podem, por um período de tempo, abafar essas forças separatistas, mas, se as severas desigualdades persistem, a tensão e o conflito pontuarão e, às vezes, dominarão a vida social. TURNER, Jonathan H. Sociologia: Conceitos e aplicações. São Paulo: Pearson, 2000. p. 111.(Adaptado).

A observação da figura e a leitura do texto permitem inferir: a) no plano social, a igualdade humana está explícita em dois setores bem definidos: na Justiça, segundo a qual todos são iguais perante a lei, e na educação, em que todos devem ter oportunidades iguais; essas práticas são vivenciadas pela sociedade brasileira.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

b) segundo Karl Marx, aqueles que possuem ou controlam os

de produção e a distribuição de bens e riquezas, buscan-

meios de produção têm poder, sendo capazes de manipular

do uma sociedade que se caracterizasse pela igualdade de

os símbolos culturais através da criação de ideologias que

oportunidades.

tígio são dados igualmente aos membros de uma sociedade, gerando, portanto, grupos culturais, comportamentais e organizacionais semelhantes. d) a estratificação, na visão de Karl Marx, mostra que a luta de classes não se polariza entre o ter e o não ter e envolve mais do que a ordem econômica. 08. (Uem PR) “A conclusão geral a que cheguei e que, uma vez adquirida, serviu de fio condutor de meus estudos, pode formular-se resumidamente assim: na produção social de sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral”. (MARX, Karl. Prefácio a Contribuição à crítica da economia política. In BOTELHO, André (org) Essencial sociologia. São Paulo: PenguinClassics/Cia. Das Letras, 2013, p. 35).

Considerando o texto acima e conhecimentos sobre o tema, assinale o que for correto.

Gab: 08

01. São as relações políticas e jurídicas que determinam a organização das formas produtivas e a estrutura econômica da sociedade. 02. O principal fundamento do conflito social é o salário. Acordos capazes de manter aumentos salariais constantes levariam à superação da luta de classes. 04. As relações sociais estabelecidas no mundo produtivo capitalista são determinadas pela liberdade, pela qualificação e pela empregabilidade do trabalhador. 08. O desenvolvimento das forças produtivas transforma as relações sociais existentes e abre caminho para o surgimento de processos de revolução social. 16. Ampliar o acesso ao consumo é uma forma eficiente de alterar as relações de poder existentes no interior da sociedade capitalista. 09. (UECE) O século XIX foi marcado pelo surgimento de corren-

No que diz respeito a essas correntes, assinale a afirmação verdadeira. a) O socialismo cristão buscava aplicar os ensinamentos de Cristo sobre amor e respeito ao próximo aos problemas sociais gerados pela industrialização, mas apesar de vários teóricos importantes o defenderem, a Igreja o rejeitou através da Encíclica Rerum Novarum, lançada pelo Papa Leão XIII. b) No socialismo utópico, a doutrina defendida por Robert Owen e Charles Fourrier, prevaleciam as ideias de transformar a realidade por meio da luta de classes, da superação da mais valia e da revolução socialista. c) O socialismo científico proposto por Karl Marx e Friedrich Engels, através do manifesto Comunista de 1848, defendia uma interpretação socioeconômica da história dos povos, denominada materialismo histórico. d) O anarquismo do russo Mikhail Bakunin defendia a formação de cooperativas, mas não negava a importância e a necessidade do Estado para a eliminação das desigualdades. 10. (Uem PR) Sobre a relação entre a revolução industrial e o surgimento da sociologia como ciência, assinale verdadeiro ou falso. V, V, F, V, F

01. A consolidação do modelo econômico baseado na indústria conduziu a uma grande concentração da população no ambiente urbano, o qual acabou se constituindo em laboratório para o trabalho de intelectuais interessados no estudo dos problemas que essa nova realidade social gerava. 02. A migração de grandes contingentes populacionais do campo para as cidades gerou uma série de problemas modernos, que passaram a demandar investigações visando à sua resolução ou minimização. 04. Os primeiros intelectuais interessados no estudo dos fenômenos provocados pela revolução industrial compartilhavam uma perspectiva positiva sobre os efeitos do desenvolvimento econômico baseado no modelo capitalista. 08. Os conflitos entre capital e trabalho, potencializados pela concentração dos operários nas fábricas, foram tema de pesquisa dos precursores da sociologia e continuam inspirando debates científicos relevantes na atualidade. 16. A necessidade de controle da força de trabalho fez com que as fábricas e indústrias do século XIX inserissem sociólogos em seus quadros profissionais, para atuarem no desenvolvimento de modelos de gestão mais eficientes e produtivos.

tes de pensamento que contestavam o modelo capitalista de produção e propunham novas formas de organizar os meios

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A04  A Sociologia e o mundo moderno

justifiquem seu poder e seus privilégios. c) a estratificação de classes existe quando renda, poder e pres-


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

Exercícios de Aprofundamento 01. (Enem MEC) Assentado, portanto, que a Escritura, em muitas passagens, não apenas admite, mas necessita de exposições diferentes do significado aparente das palavras, parece-me que, nas discussões naturais, deveria ser deixada em último lugar. GALILEI, G. Carta a Benedetto Castelli. In: Ciência e fé: cartas de Galileu sobre o acordo do sistema copernicano com a Bíblia. São Paulo: Unesp, 2009. (adaptado)

O texto, extraído da carta escrita por Galileu (1564-1642) cerca de trinta anos antes de sua condenação pelo Tribunal do Santo Oficio, discute a relação entre ciência e fé, problemática cara no século XVII. A declaração de Galileu defende que a) a bíblia, por registrar literalmente a palavra divina, apresenta a verdade dos fatos naturais, tornando-se guia para a ciência. b) o significado aparente daquilo que é lido acerca da natureza na bíblia constitui uma referência primeira. c) as diferentes exposições quanto ao significado das palavras bíblicas devem evitar confrontos com os dogmas da Igreja. d) a bíblia deve receber uma interpretação literal porque, desse modo, não será desviada a verdade natural. e) os intérpretes precisam propor, para as passagens bíblicas, sentidos que ultrapassem o significado imediato das palavras. 02. (UPE PE) Dentre os variados aspectos do pensamento humano, existe o pensamento mítico. Sobre essa forma de pensar, leia o texto a seguir: Um mito diz respeito, sempre, a acontecimentos passados: antes da criação do mundo, ou durante os primeiros tempos, em todo o caso faz muito tempo. Mas o valor intrínseco atribuído ao mito provém de que estes acontecimentos, que decorrem supostamente em um momento do tempo, formam também uma estrutura permanente. Esta se relaciona simultaneamente ao passado, ao presente e ao futuro. Lévi-Strauss, C. Antropologia Estrutural. Rio, 1975, p. 241

Com relação a essa forma do pensar humano, assinale com V as afirmativas Verdadeiras e com F as Falsas. ( ) O mito é uma tentativa fracassada de explicação da realidade. ( ) O ser humano encontrou, na consciência mítica, a base para organizar um conhecimento sobre a realidade. ( ) O mito é recuperado no cotidiano do homem contemporâneo e se apresenta com uma abrangência diferente daquela que se fazia sentir no homem primitivo. ( ) A única ideia verdadeira sobre mito faz-se presente no homem moderno, quando este deseja superar a própria impotência e se tornar um ser excepcional. ( ) O mito é uma forma autônoma de pensamento, quando ligado à tarefa de esclarecer a existência humana no mundo. 46

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA. O mito é, como diz o texto de Lévi-Strauss, algo que a) V, V, V, F, F diz respeito aos acontecimentos perdidos longinquab) F, V, V, F, V mente no tempo que foi. O mito expõe a estrutura da origem de tudo e conseguintemente constitui a c) F, V, F, V, V ordenação do presente e possibilita a formulação da d) V, F, F, F, V disposição de todas as coisas existentes no futuro. e) F, F, F, F, V 03. (Enem MEC) Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém todas as tentativas para descobrir, mediante conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimento, malogravam-se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento. KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado).

O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido como revolução copernicana na filosofia. Nele, confrontam-se duas posições filosóficas que a) assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do conhecimento. b) defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo. c) revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a reflexão filosófica. d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos objetos. e) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento e são ambas recusadas por Kant. 04. (Uem PR) “A razão especulativa, porém, embora não possa conhecer o ser em si – abstrato, que não se oferece à experiência e aos sentidos –, pode pensá-lo e coloca problemas que só serão resolvidos no âmbito da razão prática, isto é, no campo da ação e da moral. Ou seja, embora Deus, a liberdade e a imortalidade não possam ser conhecidos (agnosticismo) por não terem uma matéria que se ofereça à experiência sensível, nem por isso têm sua existência negada.” (ARANHA, M. L.; MARTINS, M. H. P. Temas de filosofia. 3ª. ed. rev. São Paulo: Moderna, 2005, p. 115)

Sobre o excerto citado, assinale o que for correto. 02 + 04 + 08 = 14. 01. Razão especulativa e razão prática se ocupam dos mesmos objetos. 02. Nem tudo o que existe pode ser matéria de conhecimento. 04. A razão prática ocupa-se da moral. 08. O conhecimento é da ordem do sensível. 16. A razão prática se confunde com o agnosticismo.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

GIRARDI, Leopoldo e QUADROS, Odone. Filosofia – Aprendendo a Pensar, 1998, p. 53.

Com relação a esse assunto, analise os itens a seguir: I. O homem é um ser extraordinário, inteiramente original no mundo dos viventes, principalmente porque indaga sobre sua própria natureza e se coloca como objeto de discussão. II. Nada se compara à natureza humana. O homem que somos parece a própria evidência e é, entretanto, a mais enigmática dentre as coisas. III. Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer. Na invenção e no uso de instrumentos, de sinais e símbolos de toda sorte, satisfazemos o desejo de conhecer, porque nos aproximamos do desconhecido no já conhecido. IV. A ação humana sobre a natureza, impregnada pela intenção subjetiva, é a primeira forma de práxis dos homens e se configura originariamente como trabalho, ou seja, ação transformadora sobre a natureza para arrancar dela os meios da sobrevivência. V. Por meio do trabalho e da prática social, os homens desenvolvem relações com a natureza e por intermédio da prática simbolizadora, pela qual criam e lidam com signos, desenvolvem relações no âmbito do mundo objetivo. Estão CORRETOS, apenas, a) II, III e IV. b) I, III e IV. c) II, III, IV e V. d) I, IV e V. e) I, II, III e IV. 06. (Unioeste PR) “As teorias racionalistas e empiristas da ciência sofrem de graves problemas internos. Os racionalistas, quando tentavam justificar proposições advindas de um pensar claro como verdades absolutas, eram, com efeito, obrigados a adotar certas noções problemáticas evidentes por si mesmas, [...]. Os empiristas estavam diante de uma série de problemas relacionados à falibilidade e ao campo restrito dos sentidos, e do problema de justificar as generalizações que necessariamente ultrapassam a evidência proporcionada por determinadas aplicações dos sentidos (o problema da indução). Esses problemas internos são graves e suficientes para desacreditar as tentativas filosóficas tradicionais de fundamentar uma teoria da ciência com base na natureza humana. Contudo, não considero as dificuldades internas com que se depararam o racionalismo e o

empirismo tradicional as principais razões para rejeitá-los como explicações satisfatórias da ciência. Sou da opinião de que a abordagem geral que exige que se trace a natureza do conhecimento científico de acordo com a natureza dos seres humanos que o produzem está fundamentalmente equivocada”. Alan Chalmers.

Considerando o texto acima, no qual o autor apresenta sua posição em relação a dois tipos de abordagem filosófica da ciência moderna, é INCORRETO afirmar que a) as teses fundamentais da filosofia da ciência moderna apresentam graves dificuldades internas. b) para os pensadores racionalistas, os axiomas são fundamentais, pois formam a base de justificação de teorias científicas. c) o pensar e o sentir, aspectos essenciais da natureza humana, devem, necessariamente, ser análogos à natureza da ciência. d) a indução apresenta problemas, pois as generalizações decorrentes de sua aplicação invariavelmente evidenciam as limitações dos sentidos. e) embora o homem seja o sujeito do conhecimento, não se pode centrar toda a investigação sobre o caráter da ciência tendo como base a natureza humana. 07. (Uem PR) As origens históricas da Sociologia, como área específica de conhecimento, estão associadas ao período histórico que é frequentemente denominado de Modernidade. Sobre esse período é correto afirmar que: 01 + 04 + 16 = 21. 01. O Positivismo é uma corrente de pensamento importante no período. Sua influência pode ser observada na constituição de várias áreas de conhecimento científico consolidadas entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX. 02. Na Europa, as transformações relacionadas às migrações do campo para a cidade, à expansão das cidades e à industrialização não geraram impacto significativo sobre a Sociologia, uma vez que as preocupações centrais da disciplina dizem respeito à humanidade e não a grupos humanos específicos. 04. A consolidação da propriedade privada como um aspecto dominante das relações de trabalho nos centros urbanos assim como a expansão da racionalidade, mesmo em termos de interpretação da fé religiosa monoteísta, são aspectos relevantes para o surgimento da Sociologia como uma área de conhecimento específico. 08. O otimismo generalizado em relação ao conhecimento científico e a suas aplicações tecnológicas (a eletricidade, o cinema, os carros de passeio, o telefone etc.) não possui relações com as origens históricas da Sociologia. 16. O fortalecimento dos Estados modernos, a diluição de laços comunitários tradicionais, o fortalecimento dos processos de individualização e a expansão do capitalismo são fatores importantes para a emergência de categorias sociais como o eleitor, o indivíduo e o consumidor, as quais, por sua vez, tornaram-se objetos de reflexão da Sociologia. 47

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

05. (UPE PE) O homem, em seu contexto de vida, depara-se com objetos, coisas, vegetais, animais. Pela sua razão e vontade, impõe-se e domina soberano. Cria instrumentos visando à sobrevivência e facilitando sua vida. Distingue-se, radicalmente, da realidade que o rodeia. Em seu horizonte de conhecimentos, estão as coisas com as quais não se confunde. Essa clara distinção lhe faz emergir a consciência de si, do seu ser, do seu poder, de sua liberdade.


Sociologia

08. (UPE PE) Leia o texto a seguir: A Sociologia surgiu como decorrência de um processo histórico, que culminou com a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, e a Revolução Francesa de 1789. Esses dois acontecimentos geraram problemas sociais que os pensadores da época não conseguiram explicar (...). Assim, com o social tornando-se um problema de dimensões nunca vistas, estavam dadas as condições que geraram a necessidade de criar uma nova disciplina científica. DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010, p. 19. (Adaptado).

Sobre o assunto tratado no texto, é INCORRETO afirmar que a) a Sociologia buscou explicar os problemas sociais decorrentes da rápida urbanização, provocada pelas novas tecnologias de produção em massa. b) a divisão do trabalho industrial se tornou um importante tema de estudo da Sociologia, pois as tarefas repetitivas e altamente especializadas tiveram como consequência o aumento da desigualdade social. c) os primeiros pensadores da ciência sociológica tinham a tarefa de racionalizar a nova ordem social, encontrando soluções para a “desorganização” por meio do conhecimento das leis que regem as relações entre os indivíduos. d) os novos papéis sociais, que surgem nesse período, marcam a interdependência entre operários e empresário. Isso será um fator fundamental para se compreenderem as desigualdades produzidas pela relação entre instrumentos de produção (do empresário) e a força de trabalho (do operário), a qual fundamentou a organização social da época. e) as novas formas de pensar a sociedade sofreram influência das ciências biológicas. Estas explicavam a sociedade como um conjunto de ações individuais independentes, sendo esses estudos considerados uma referência teórica importante para a Sociologia.

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

09. (UPE PE) Observe a imagem a seguir:

Fonte: <http://grupoavanzi.com>

Ela representa um conceito sociológico, caracterizado por um agrupamento de indivíduos envolvidos num esforço organizado para promover mudança na sociedade da qual fazem parte. Assinale a alternativa que NÃO indica o princípio formador desses grupos. 48

a) Identidade b) Oposição c) Totalidade d) Defesa de valores e realidades universais e) Predomínio da imparcialidade dos objetivos defendidos pelos grupos e pelas pessoas 10. (UPE PE) Leia o texto a seguir: O saber da comunidade, aquilo que todos conhecem de algum modo; o saber próprio dos homens e das mulheres, de crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos; o saber de guerreiros e esposas; o saber que faz o artesão, o sacerdote, o feiticeiro, o navegador e outros tantos especialistas, envolve, portanto, situações pedagógicas interpessoais, familiares e comunitárias, em que ainda não surgiram técnicas pedagógicas escolares, acompanhadas de seus profissionais de aplicação exclusiva. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação? São Paulo: Brasiliense, 2007, p. 20.

O tema discutido no texto é uma preocupação nos estudos da Sociologia desde a sua consolidação como ciência. Nos trabalhos de Émile Durkheim, esse tema ganhou um destaque por considerar uma forma de integração dos indivíduos e de perpetuação dos hábitos e costumes do grupo, ou seja, dos fatos sociais. Sobre isso, assinale a alternativa que NÃO indica uma característica do tipo de transmissão do conhecimento. a) A aprendizagem acontece sem que haja um planejamento específico e, muitas vezes, sem que os sujeitos se deem conta. b) O processo de construção do conhecimento é permanente, contínuo e não previamente organizado, desenvolvendo-se ao longo da vida. c) O conhecimento transmitido permite ao sujeito resolver situações referentes aos processos de socialização e àqueles relacionados às imposições da natureza para sobrevivência do grupo. d) A percepção gestual, a moral e a comportamental, provenientes de meios familiares de amizade, de trabalho e de socialização midiática, fazem parte do rol de aprendizagens e conhecimentos. e) O conhecimento e a habilidade são transmitidos por meio de um currículo predefinido em ambientes especializados, num processo conhecido como escolarização.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 12. A sociologia weberiana tem no indivíduo o seu ponto principal de análise. Assim, o autor sempre procura compreender o sentido da ação individual no contexto em que ela se insere. O seu livro A ética protestante e o espírito do capitalismo é um grande ensaio desse tipo de proposta analítica, onde outra preocupação de Weber está bastante presente: a busca por compreender o processo de racionalização da sociedade, que se dá de forma bastante marcante com a consolidação da empresa capitalista.

11.

de transferir para a Sociologia a metodologia de investigação utilizada pelas ciências naturais. Não havia, para ele, fundamento para essa proposta, uma vez que o sociólogo não trabalha sobre uma matéria inerte, como acontece com os cientistas naturais [...]. Vivendo em uma nação retardatária quanto ao desenvolvimento capitalista, Weber procurou conhecer a fundo a essência do capitalismo moderno. Ao contrário de Marx, não considerava o capitalismo um sistema injusto, irracional e anárquico. Para ele, as instituições produzidas pelo capitalismo, como a grande empresa, constituíam clara demonstração de uma organização racional que desenvolvia suas atividades dentro de um padrão de precisão e eficiência. (MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia? São Paulo: Brasiliense, 2011. p. 69 e p. 72. Coleção Primeiros Passos.)

Com base nos conhecimentos sociológicos, caracterize a Sociologia na perspectiva weberiana, discorrendo sobre os aspectos relevantes dessa perspectiva apontados no texto-base. 13. (Uem PR) “Ao criticar o mito e exaltar a ciência, contraditoriamente o positivismo fez nascer o mito do cientificismo, ou seja, a crença cega na ciência como única forma de saber possível. Desse modo, o positivismo mostra-se reducionista, já que,

ção sociológica possível da tirinha acima. a) O negócio motivacional assume uma função ideológica. b) O líder é um proletário. c) O chefe da empresa é um proletário. d) O dono da empresa e o chefe são a mesma pessoa. e) O dono da empresa é quem se apropria da produção dos trabalhadores. 12. (UFPR) O fragmento abaixo foi retirado do livro O que é Sociolo-

bem sabemos, a ciência não é a única interpretação válida do real. De fato, existem outros modos de compreensão, como o senso comum, a filosofia, a arte, a religião, e nenhuma delas exclui o fato de o mito estar na raiz da inteligibilidade. A função fabuladora persiste não só nos contos populares, no folclore, mas também na vida diária, quando proferimos certas palavras ricas de ressonâncias míticas – casa, lar, amor, pai, mãe, paz, liberdade, morte – cuja definição objetiva não esgota os significados que ultrapassam os limites da própria subjetividade.”

gia? e refere-se ao pensamento do sociólogo Max Weber.

(ARANHA, M. L.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 4ª. ed. rev. São Paulo: Moderna, 2009, p. 32)

A Sociologia por ele [Max Weber] desenvolvida considerava

A partir do trecho citado, assinale o que for correto.

o indivíduo e a sua ação como ponto chave da investigação.

08 + 16 = 24.

01. Ao contrário da ciência, o senso comum, a religião e a filo-

Com isso, ele queria salientar que o verdadeiro ponto de

sofia refletem uma imagem incompleta e precária do real.

partida da sociologia era a compreensão da ação dos indiví-

02. O mito do cientificismo é a aplicação do rigor formal do

duos e não a análise das “instituições sociais” ou do “grupo

método científico à dança, à música e a diversas outras for-

social”, tão enfatizadas pelo pensamento conservador. Com essa posição, não tinha a intenção de negar a existência ou a importância dos fenômenos sociais, como o Estado, a empresa capitalista, a sociedade anônima, mas tão somente a de ressaltar a necessidade de compreender as intenções e motivações dos indivíduos que vivenciam estas situações sociais. A sua insistência em compreender as motivações das

mas de expressão popular. 04. O positivismo utiliza o inconsciente e o mito como forma de expressão do mundo. 08. Explicações de caráter mítico, apesar de pertencerem ao período antigo, sobrevivem na modernidade. 16. A função fabuladora recupera aspectos do mito que se distinguem da razão e do método científico.

ações humanas levou-o a rejeitar a proposta do positivismo 49

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

Assinale a alternativa que não corresponde a uma interpreta-


FRENTE

A


shutterstock.com/por Rawpixel

SOCIOLOGIA Por falar nisso As ciências sociais se caracterizam por estudar o desenvolvimento e organização das sociedades e das diversas culturas, analisando os movimentos, os conflitos sociais e a construção das identidades, o que permite uma interpretação dos problemas da sociedade, da política e da diversidade cultural que permeiam o âmbito social. A sociologia, como uma ciência que pertence ao grupo das ciências sociais e humanas engloba também a análise dos fenômenos de interação entre os indivíduos, as formas internas de estrutura e as formas de sociabilidades que são criadas e estabelecidas por meio das relações sociais, o que culmina na compreensão dos comportamentos sociais, bem como de nossas próprias ações. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A05 A06 A07 A08

Introdução às Ciências Sociais.......................................................52 Viver em sociedade: o papel da socialização I..............................59 Viver em sociedade: o papel da socialização II.............................68 Sociabilidade no ciberespaço........................................................76


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A05

ASSUNTOS ABORDADOS nn Introdução às ciências sociais nn Sociologia nn Antropologia nn Ciência política

INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS Viver em um mundo em constante ebulição é a realidade neste início de século XXI, e a cada momento somos bombardeados com informações de acontecimentos na infinidade de dimensões multifacetadas em que vivemos e suas múltiplas repercussões. Conflitos, tensões, acordos internacionais, avanços tecnológicos marcam o cenário de constantes mudanças no mundo em que vivemos. Ao mesmo tempo em que podemos nos sentir desorientados com o volume de informações, temos, cada vez mais, ferramentas que possibilitam o controle do nosso presente e o planejamento de um futuro possível. Identificar esses elementos é o nosso primeiro passo, e a partir dele, podemos levantar questionamentos que dizem respeito à maneira pela qual chegamos até essas sociedades, ou ainda como o desenvolvimento dos povos nos trouxe até esse momento.

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São essas as perguntas norteadoras das preocupações centrais das Ciências Sociais. A maior parte dos indivíduos levam a vida a partir de suas próprias ações e intenções, isto é, pensam seus próprios gostos e preferências sem se dar conta de que suas escolhas são, de alguma forma, relacionadas às escolhas de outros indivíduos. A rotina tem como uma de suas consequências a naturalização dos comportamentos humanos e se um indivíduo percebe apenas as suas próprias ações, ele pode acreditar na naturalidade de um ciclo de vida que diz que esse indivíduo deve estudar, trabalhar, formar uma família e se aposentar.

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Cabe às Ciências Sociais apresentar uma visão mais ampla, na qual os comportamentos, as ideias e até mesmo os gostos e as preferências de um indivíduo não sejam elementos dados, mas, sim, resultados de profundos e complexos processos sociais. Um ciclo de vida mais comum em uma sociedade não é resultado da natureza humana, e sim da cultura desse povo e de uma teia de interações sociais.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Para que seja possível a compreensão de fenômenos amplos como conflitos étnicos ou específicos como as relações de trabalho em uma empresa, o primeiro exercício que devemos empreender é o de ampliar nossa visão sobre a sociedade, e aqui as Ciências Sociais, que se desdobram entre as disciplinas de Sociologia, Antropologia e Ciência Política entram como um importante âmbito do saber para se pensar de forma crítica e reflexiva a respeito de nossas indagações. Traremos então uma breve apresentação do que seriam as três disciplinas integrantes do que chamamos de Ciências Sociais, pois durante todo o nosso trabalho nos debruçaremos a esmiuçar conceitos fundamentais dessas disciplinas.

Sociologia Já sabemos que a Sociologia é uma ciência que tem como objetivo compreender e interpretar os fenômenos sociais e portanto, a perspectiva sociológica permite-nos entender a complexidade de nosso mundo, cujas regularidades de nosso comportamento e suas influências nos processos sociais são, a todo instante, possíveis objetos de observação e análise, o que possibilita o entendimento de nossas próprias ações, enquanto indivíduos que integram a realidade como um todo. Um dos eixos fundamentais do estudo da Sociologia é a relação entre indivíduo e sociedade, isto é, a relação das ações individuais sobre os processos sociais e vice-versa. Quando um indivíduo executa uma ação por sua vontade, significa que ele atribui-lhe um significado. De igual forma, a sociedade também atribui uma significação sobre as ações das pessoas, incluindo também as ações desse indivíduo. Isso significa que, quando uma pessoa cumprimenta outra no meio da rua, ela teve um sentido, um objetivo para executar essa ação, e os demais indivíduos nesse meio podem observar e interpretar esse movimento de alguma forma.

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A05  Introdução às ciências sociais

Figura 01 - Sociedade em rede: relações sociais e comportamentos interligados na sociedade.

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Assim sendo, a Sociologia é um estudo das relações dos seres humanos. É do seu interesse analisar e verificar o comportamento humano diante das mais diversas situações que ocorrem cotidianamente, tentando buscar explicações e as relações que implicam os fenômenos sociais da vida em comunidade, buscando elementos para compreender as estruturas sociais sobre as quais vivemos e, com elas, analisamos os comportamentos individuais dentro do grupo.


Sociologia

Antropologia A Antropologia, no sentido semântico significa estudo do homem e, portanto analisa as diferentes culturas. É uma ciência preocupada em compreender a formação de preferências e comportamentos em sociedades distintas, partindo do princípio de que, de acordo com Clifford Geertz (2008, p.4) “o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, sendo a cultura essas teias”. Um dos objetivos da Antropologia, enquanto ciência, é o alargamento do discurso humano. Essa disciplina nos ajuda a perceber a condição de construção cultural das sociedades em que vivemos, bem como a noção de que as regras, os comportamentos, os valores e as ideias de um povo não são naturais, mas, sim, resultados de gerações de desenvolvimento social. Nos termos de Laraia (2001). O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é o herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete a experiência e conhecimentos adquiridos pelas numerosas gerações que o antecederam. A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções. (LARAIA, 2001, p. 45). Entender esse patrimônio é papel do antropólogo e, para que isso seja possível, é fundamental reconhecer o outro a partir de sua própria visão de mundo, sem um julgamento – qualificando o outro como “inferior” ou “superior”- em função de suas diferenças. A Antropologia, nesse sentido, nos auxilia de forma precisa nessa percepção da diversidade cultural, em que se deve desnaturalizar visões que caracterizam verdadeiros riscos à sociedade (violência, preconceito, discriminação etc).

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A05  Introdução às ciências sociais

Figura 02 - Execução de ritual indígena no norte do Brasil.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

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Ciência política

Figura 03 - A ciência política como forma de ampliar a voz do indivíduo e intervir na ordem social.

A Ciência Política é a disciplina que se dedica aos estudos das instituições e fenômenos políticos. É uma disciplina interessada em compreender acontecimentos, analisando as mudanças ou manutenção das relações existentes.

João Ubaldo Ribeiro (1998) afirma que: A Política tem a ver com quem manda, por que manda, como manda. Afinal, mandar é decidir, é conseguir aquiescência, apoio ou até submissão. Mas é também persuadir. Não se trata, como já foi dito, de um processo simples, e ninguém pode alegar compreendê-lo integralmente, apesar dos esforços dos estudiosos, que há milhares de anos vêm tentando dissecá-lo, analisá-lo e categorizá-lo. Em toda sociedade, desde que o mundo é mundo, existem estruturas de mando. Alguém, de alguma forma, manda em outrem; normalmente uma minoria mandando na maioria. Esse fato está no centro da Política. (RIBEIRO, 1998, p. 3)

A Ciência Política cuida dos atos e dos atores sociais participantes das atividades políticas, considerando as suas ações e o contexto em que elas são tomadas, estudando e analisando os processos de disputa política, entendido como processos de embate em nome da distribuição de poderes. Desse modo, fomenta uma opinião política que seja teoricamente embasada em categorias e conceitos.

01. (Uema MA) Até meados de 1970, mais de dois terços de todas as sociedades do mundo poderiam ser consideradas autoritárias. Atualmente menos de um terço das sociedades é de natureza autoritária. A democracia não está mais concentrada nos países ocidentais, ela agora é defendida, ao menos em princípio, em muitas regiões do mundo. GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.

Um exemplo de situação vivenciada em países democráticos é a) a disseminação das expressões artísticas, literárias e musicais, para que a população se adeque às estratificações sociais. b) a possibilidade de consulta popular, em forma de plebiscito, para que o povo expresse suas opiniões a respeito de uma questão específica. c) a redução de oportunidades, para que o cidadão possa intervir em aspectos da vida pública, junto com o Governo. d) a concentração de riquezas nas mãos do Estado, para que o governo possa aumentar as igualdades sociais. e) o grande número de partidos políticos, para que os políticos usem, de forma ilimitada, o poder. 02. (Uem PR) Em nosso cotidiano, diversos sentidos são associados à palavra cultura. Ela pode se referir ao cultivo da agricultura, às produções artísticas ou à educação formal e escolarizada. Sobre o conceito de cultura para as ciências sociais, assinale o que for correto. 01 + 02 = 03. Gabarito questão 01 A democracia corresponde ao governo do povo. Ele pode participar do processo decisório tanto na eleição de seus representantes, quanto de forma direta, em referendos ou plebiscitos.

01. Cultura designa um conjunto de conhecimentos, crenças e hábitos com os quais um agrupamento humano se identifica e se distingue de outros grupos. 02. A criação de museus, a valorização de acontecimentos históricos específicos, a composição de hinos e o reconhecimento de tradições populares são estratégias importantes na formulação de uma cultura nacional, isto é, de um sentimento de pertencimento a uma população e a um território específico. 04. Existem formas ideais humanas que todas as sociedades devem alcançar antes de serem consideradas dotadas de cultura, como, por exemplo, o desenvolvimento de escrita. 08. São culturais os traços de comportamento que obedecem a um padrão específico de racionalidade e se afastam progressivamente de atitudes marcadas pela expressão intensa de emoções e manifestações de ordem fisiológica, psicológica e sentimental. 16. A cultura é um conjunto harmônico de tendências coletivas. A manifestação de conflitos e disputas simbólicas no espaço social promove a desintegração desse conjunto e o consequente processo de aculturação social. 03. (Uem PR) Dentre os pensadores que influenciaram na formação doestado moderno e também na origem das ciências sociais e políticas, John Locke (1632-1704) era favorável às formas de governo que garantissem a liberdade depenGabarito questão 02 As afirmativas [01] e [02] são as únicas corretas. A cultura é um atributo de todas as pessoas ou sociedades, e sua existência não é livre de conflitos. 55

A05  Introdução às ciências sociais

Exercícios de Fixação


Sociologia Gabarito questão 03 As afirmativas [02] e [04] são claramente incorretas. A intolerância continua a existir no mundo atual e no Brasil. O racismo, a homofobia, o surgimento de grupos radicais como o Estado Islâmico e o aumento de casos de xenofobia são exemplos que reforçam essa percepção de intolerância contemporânea.

samento dos indivíduos e o direito à propriedade.Entre as suas obras mais conhecidas está a Epístola sobre a tolerância, na qual ele defende o respeito às crenças dos indivíduos e a tolerância religiosa. A obra de Locke influenciará o filósofo Voltaire (1694-1778) a escrever o livro Tratado sobre a tolerância, publicado em 1763, também se dirigindo contra os conflitos religiosos que ocorriam na Europa daquela época. O livro de Voltaire se encerra com um apelo: “Possam todos os homens lembrar-se de que são irmãos... Não nos odiemos, não nos dilaceremos uns aos outros...”

(VOLTAIRE. Tratado sobre a tolerância. São Paulo: Folha de São Paulo, 2014, p. 109 e 110).

Com base naideia de tolerância exposta acima, é correto afirmar que: 01 + 08 + 16 = 25. 01. A tolerância é uma concepção segundo a qual os grupos e classes sociais com diferentes opiniões políticas, crenças religiosas e interesses devem conviver pacificamente em uma sociedade. 02. A defesa da tolerância realizada por Locke e Voltaire deu bons resultados, pois no mundo atual não ocorrem mais

conflitos religiosos e políticos violentos como os que ocorriam na época em que esses pensadores viveram. 04. No Brasil atual, em virtude de um histórico de construção de uma sociedade pacífica, sem preconceitos, prevalece a tolerância nas relaçõessociais e não ocorrem conflitos violentos entre cidadãos, grupos religiosos e classes sociais. 08. O assassinato de nove fiéis negros que participavamde uma reunião de estudos bíblicos em uma Igreja Metodista na cidade de Charlleston, na Carolina do Sul (EUA), em 17 de junho de 2015, é um exemplo de violência provocada pela intolerância nas relaçõessociais naquele país. 16. De acordo com as ideias expostas no enunciadogeral da questão (caput), Locke e Voltaire eram favoráveis à aceitação pacífica das divergências entre as crenças religiosas para que prevalecesse atolerância nas relações humanas.

04. Com suas palavras, explique o conceito de perspectiva sociológica e construa um exemplo, tal qual existe na unidade. 05. Diferencie as três disciplinas das Ciências Sociais e aponte um uso (um estudo de caso) de cada uma.

Exercícios Complementares 01. (UFG GO) Leia a receita apresentada a seguir. TACACÁ 2 litros de tucupi temperado 4 dentes de alho 4 pimentas de cheiro 4 maços de jambu 1/2 kg de camarão 1/2 xícara de goma de mandioca Sal a gosto Modo de servir: muito quente, em cuias, temperado com pimenta. Disponível em: <www.receitastipicas.com/receita/tacaca.html>. Acesso em: 9 set. 2013.

A05  Introdução às ciências sociais

Comer é um ato social, histórico, geográfico, religioso, econômico e cultural. O preparo dos alimentos, a escolha dos ingredientes e a maneira de servir identificam um grupo social e ajudam a estabelecer uma identidade cultural. Essa receita, “Tacacá”, comida muito apreciada na culinária paraense, demonstra a) uma interação cultural, com a incorporação de ingredientes advindos de tradições culinárias distintas. b) um modo de preparo espontâneo, associado aos padrões culinários da colônia. c) um modelo ritualista de servir, vinculado ao formalismo religioso africano. d) um modo de utilizar os ingredientes provenientes do extrativismo, associado ao nomadismo dos quilombos. e) uma imposição de identidade cultural, pelo uso de produtos cultivados em áreas sertanejas.

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02. (Enem MEC) Texto I Documentos do século XVI algumas vezes se referem aos habitantes indígenas como “os brasis”, ou “gente brasília” e, ocasionalmente no século XVII, o termo “brasileiro” era a eles aplicado, mas as referências ao statuseconômico e jurídico desses eram muito mais populares. Assim, os termos “negro da terra” e “índios” eram utilizados com mais frequência do que qualquer outro. SCHWARTZ, S. B. Gente da terra braziliense da nação. Pensando o Brasil: a construção de um povo. In: MOTA, C. G. (Org.). Viagem Incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Senac, 2000 (adaptado).

Texto II Índio é um conceito construído no processo de conquista da América pelos europeus. Desinteressados pela diversidade cultural, imbuídos de forte preconceito para com o outro, o indivíduo de outras culturas, espanhóis, portugueses, franceses e anglo-saxões terminaram por denominar da mesma forma povos tão díspares quanto os tupinambás e os astecas. +SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.

Ao comparar os textos, as formas de designação dos grupos nativos pelos europeus, durante o período analisado, são reveladoras da a) concepção idealizada do território, entendido como geograficamente indiferenciado. b) percepção corrente de uma ancestralidade comum às populações ameríndias. Gabarito questão 02 Ao desprezarem a diversidade cultural indígena, os europeus que chegaram ao continente americano demonstram seu etnocentrismo, que se manifesta tanto na linguagem que utilizam, quanto nas atitudes que tomam nesses novos territórios.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

c) compreensão etnocêntrica acerca das populações dos territórios conquistados. d) transposição direta das categorias originadas no imaginário medieval. e) visão utópica configurada a partir de fantasias de riqueza. 03. (UFG GO) Analise as imagens a seguir.

04. (Enem MEC) O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona consigo mesmo ou com seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade fracionária que se liga ao denominador, e cujo valor está em sua relação com o todo, que é o corpo social. As boas instituições sociais são as que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular não se julgue mais como tal, e sim como uma parte da unidade, e só seja percebido no todo. ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Figura 2

Figura 1 - AUTOR DESCONHECIDO. Retrato da Rainha Elizabeth. Disponível em: <www.npg.org.uk>. Acesso em: 23 set. 2013 Figura 2 - RODRIGUES, Manuel Lopes. Alegoria da República (1896). In: CARVALHO, José Murilo. A formação das almas. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 85.

As pinturas se relacionam a distintas concepções de poder, uma absolutista e outra republicana, expressas nas figuras 1 e 2 ao

Figura 1

Figura 2

a)

destacar a cruz no alto da coroa, reforçando a submissão do Estado ao poder religioso.

relacionar o modelo de feminilidade à laicização do Estado, projetando novos costumes.

b)

explorar os símbolos monárquicos, caracterizando uma estética barroca.

recorrer à saturação ornamental por meio dos símbolos, apoiando-se na estética neoclássica.

c)

associar a figura feminina à autoridade, instituindo a rainha como mãe do Estado-nação.

utilizar a personagem feminina como representação da liberdade, expondo a emancipação das mulheres.

d)

ostentar as joias da Coroa, expressando a ascensão econômica da aristocracia feudal.

eleger um vestuário modesto, estabelecendo correspondência entre República e simplicidade popular.

e)

fundir a figura do governante ao Estado, consagrando o poder do soberano.

personificar o regime político em uma figura anônima, afirmando os princípios da soberania popular.

05. (Unesp SP) Se um governo quer reduzir o índice de abortos e o risco para as mulheres em idade reprodutiva, não deveria proibi-los, nem restringir demais os casos em que é permitido. Um estudo publicado em “The Lancet” revela que o índice de abortos é menor nos países com leis mais permissivas, e é maior onde a intervenção é ilegal ou muito limitada. “Aprovar leis restritivas não reduz o índice de abortos”, afirma Gilda Sedgh (Instituto Guttmacher, Nova York), líder do estudo, “mas sim aumenta a morte de mulheres”. “Condenar, estigmatizar e criminalizar o aborto são estratégias cruéis e falidas”, afirma Richard Horton, diretor de “The Lancet”. “É preciso investir mais em planejamento familiar”, pediu a pesquisadora, que assina o estudo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os seis autores concluem que “as leis restritivas não estão associadas a taxas menores de abortos”. Por exemplo, o sul da África, onde a África do Sul, que o legalizou em 1997, é dominante, tem a taxa mais baixa do continente. (http://noticias.uol.com.br, 22.01.2012. Adaptado.)

Na reportagem, o tema do aborto é tratado sob um ponto de vista a) fundamentalista-religioso, defendendo a validade de sua proibição por motivos morais. b) político-ideológico, assumindo um viés ateu e materialista sobre essa questão. c) econômico, considerando as despesas estatais na área da saúde pública em todo o mundo. d) filosófico-feminista, defendendo a autonomia da mulher na relação com o próprio corpo. e) estatístico, analisando a ineficácia das restrições legais que proíbem o aborto. 57

A05  Introdução às ciências sociais

Figura 1

A visão de Rousseau em relação à natureza humana, conforme expressa o texto, diz que a) o homem civil é formado a partir do desvio de sua própria natureza. b) as instituições sociais formam o homem de acordo com a sua essência natural. c) o homem civil é um todo no corpo social, pois as instituições sociais dependem dele. d) o homem é forçado a sair da natureza para se tornar absoluto. e) as instituições sociais expressam a natureza humana, pois o homem é um ser político.


Sociologia

06. (Uel PR) Observe a figura e leia o texto a seguir.

Orlan, Autorretrato, fotografia digital, 2004.

Orlan foi a primeira artista a utilizar a cirurgia estética nas suas performances com a intenção de transformar a operação em um evento artístico e não obter um resultado final que adequasse seu rosto aos padrões de beleza vigentes. A figura faz parte de uma série de autorretratos produzidos a partir da apropriação de práticas de intervenções corporais provenientes de outras tradições e da hibridização do seu rosto com imagens de registros etnográficos, por meio da manipulação digital. Esses autorretratos buscam o mesmo apelo visual que as propagandas de produtos de beleza.

A05  Introdução às ciências sociais

Adaptado de Entrevista: “Orlan, artiste: Moncorps est devenuunlieupublic de débat”. (Orlan, artista: Meu corpo se tornou um lugar público de debate). In: Le Monde. Paris, 22 abr. 2009.

Com base na figura e no texto, considere as afirmativas a seguir. I. Ao evidenciar a falta de um padrão universal de beleza feminina, Orlan indica que a beleza é construída socialmente. II. Orlan, ao problematizar o estatuto do corpo e da beleza nas sociedades de culturas tradicionais, questiona os padrões de beleza da sociedade ocidental contemporânea. III. Ao recorrer às imagens e às práticas de intervenções corporais de outras culturas, Orlan revela que o que é considerado feio diz respeito às culturas tradicionais. IV. O processo de hibridização da imagem do rosto de Orlan com máscaras africanas, ou outras representações, visa à constituição de um novo conceito de beleza. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 07. Assinale a alternativa que NÃO APRESENTA características de uma Medida Provisória: a) Se torna efetiva na data de sua publicação. b) Necessita de aprovação do Poder Legislativo para entrar em vigor.

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c) Tranca a pauta do Poder Legislativo caso não seja analisada em até 45 dias. d) É um instrumento com força de lei adotado pelo presidente da República. e) Deve ser utilizada somente em casos de relevância e urgência. 08. (...) Como para mim é mais difícil vestir a pele de uma mulher negra, porque por ser branca eu tenho menos elementos que me permitem alcançá-la, eu preciso fazer mais esforço. Não porque sou bacana, mas por imperativo ético. E a melhor forma que conheço para alcançar outro, especialmente quando por qualquer circunstância este outro é diferente de mim, é escutando-o. Assim, quando ouvi que não deveria usar turbante, entre outros símbolos culturais das mulheres negras, fui escutá-las. Acho que isso é algo que precisamos resgatar com urgência. Não responder a uma interdição com uma exclamação: “Sim, eu posso!”. Mas com uma interrogação: “Por que eu não deveria?”. As respostas categóricas, assim como as certezas, nos mantêm no mesmo lugar. As perguntas nos levam mais longe porque nos levam ao outro. (...) BRUM, Eliane. De uma branca para outra. El País. 20 de fevereiro de 2017. Adaptado. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/20/opinion/1487597060_574691.html>

Assinale a alternativa que apresenta o conceito sociológico que melhor representa o desejo de compreensão do outro apreA dúvida gerada pela intenção de compreender sentado pela autora: a visão do outro é um resultado da prática do a) Etnocentrismo relativismo cultural, ou seja, do ato de considerar que a nossa cultura não é o centro, nem a b) Antropocentrismo única verdadeira. c) Relativismo Cultural d) Fato Social e) Relativismo Físico 09. (Enem MEC) O processo de justiça é um processo ora de diversificação do diverso, ora de unificação do idêntico. A igualdade entre todos os seres humanos em relação aos direitos fundamentais é o resultado de um processo de gradual eliminação de discriminações e, portanto, de unificação daquilo que ia sendo reconhecido como idêntico: uma natureza comum do homem acima de qualquer diferença de sexo, raça, religião etc. BOBBIO, N. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

De acordo com o texto, a construção de uma sociedade democrática fundamenta-se em: a) A norma estabelecida pela disciplina social. b) A pertença dos indivíduos à mesma categoria. c) A ausência de constrangimentos de ordem pública. d) A debilitação das esperanças na condição humana. e) A garantia da segurança das pessoas e valores sociais.

Gabarito questão 06 As afirmativas [I] e [II] são as únicas corretas. As performances de Orlan questionam a cultura europeia ao utilizarem elementos estéticos que fogem ao padrão ocidental de beleza. Assim, ela não está necessariamente procurando construir um novo conceito estético, mas questionar o vigente em sua cultura.

Questão 09. O ato de considerar a existência de uma natureza humana comum abre espaço para que todos os seres humanos sejam considerados portadores de uma mesma dignidade. É nesse sentido que se pode criar uma sociedade democrática e que respeite a diversidade cultural.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A06

VIVER EM SOCIEDADE: O PAPEL DA SOCIALIZAÇÃO I

ASSUNTOS ABORDADOS nn Viver em sociedade: o papel da

Nossa convivência e relação em meio a outros indivíduos é tão complexa e intensa que as Ciências Sociais se debruçam a compreender toda essa diversidade e dinamismo presente e resultante das relações dos sujeitos que a constituem. Assim, você e a maioria dos que habitam a sua rede de convivência direta e indireta, compartilhando um conjunto de normas e valores específicos, atuam no processo de socialização. E seria errôneo afirmar que uma sociedade se constitui apenas por indivíduos sem qualquer tipo de ligação pessoal, pois todos nós acabamos por nos tornar parte de grupos que possui contato mais próximo à nossa realidade diária, com os quais dividimos interesses, objetivos e similaridades de ideias e condições, sejam econômicas ou de posição social.

socialização I

A sociedade é um conjunto de pessoas ligadas pela necessidade de auxílio. Essas pessoas buscam garantir as condições de vida e a satisfação dos seus interesses. Fora da sociedade as pessoas, as pessoas não conseguiriam sobreviver, pois o ser humano necessita dessa interação para conseguir alimentação e abrigo, como em tempos remotos. No mundo moderno, contudo, as relações sociais são construídas pela interdependência, se constituindo em uma relação de dependência recíproca que é responsável pela coesão entre as pessoas. Mesmo em uma realidade cuja maioria tenha hábitos voltados para a vida urbana com muitos artifícios que as tornam autossuficientes, não há quem não necessite estabelecer essa relação de solidariedade. Porém, as necessidades não são somente no âmbito material, como roupas, moradia e transporte. São dependências para além disso, voltadas também para necessidades transcendentais.

Fonte: Uber Images / Shutterstock.com

Figura 01 - A socialização é um fenômeno em que todos os envolvidos acabam por sofrer influência

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Sociologia

Os seres humanos não vivem em comunidade por escolha pessoal, mas porque a vida social impõe certos comportamentos padrões, se caracterizando, assim, como um fenômeno sui generis. Podemos pensar, como exemplo, se viver em sociedade fosse uma escolha individual, pessoas com alto poder aquisitivo poderiam escolher estocar alimentos, roupas e qualquer coisa do âmbito do entretenimento, e viverem isoladas e cercadas por bens. Porém, essas pessoas, em pouco tempo, estariam submetidas a sinais de tristeza, solidão e, quem sabe? Podem até chegar a um estágio de loucura. Diante disso, podemos ver a necessidade de se viver em interação com outras pessoas, pois essa é uma maneira de satisfazer suas necessidades e vontades. Isso nos faz pensar que o ser humano manifesta duas vontades concomitantes: um desejo por independência, buscando cada vez mais recursos que os tornem autônomos em muitos âmbitos de suas vidas, e outra por fazer parte e pertencer a determinados grupos, como a família, a nação, uma ideologia, algo que tenha um significado importante, pois é assim que ele além de satisfazer suas necessidades, se desenvolve, indo além de sua individualidade e buscando frequentemente pela integração. Essa integração nem sempre acontece de forma pacífica, pois muitas vezes há embate de ideias e conflitos que estão presentes nas relações. As pessoas são diferentes e/ou porque têm objetivos e interesses diferentes. Todo esse desenvolvimento ocorreria de forma mais prática e justa se houvesse equilíbrio, compreensão, autonomia, confiança, respeito, pois devemos entender que dependemos uns dos outros em vários sentidos.

Fonte: A06  Viver em sociedade: o papel da socialização I StockLite / Shutterstock.com

Figura 02 - Socialização primária.

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Os conflitos podem ser resultados do desrespeito às diferenças, da intolerância, da necessidade de pessoas ou grupos se sentirem superior aos outros. Nesse sentido, viver em sociedade é permitir elogiar e ser elogiado, amar e ser amado; também rejeitar e ser rejeitado, desrespeitar e ser desrespeitado. Enfim, tudo isso para entender que de forma positiva ou negativa interferimos na vida do outro, e a todo o momento o outro interfere em nossa vida.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Por isso, não podemos deixar de destacar as diferenças existentes, e uma das que chamam atenção em vários sentidos, refere-se às condições socioeconômicas. Olhando para as paisagens, percebemos diferentes condições de moradia, alimentação, transporte, educação, de acesso à cultura e lazer. Tudo isso depende do rendimento das pessoas e, por isso, existem diferentes classes sociais, nas quais os mais pobres não conseguem, muitas vezes, satisfazer suas necessidades básicas. Quando nascemos, os traços culturais não estão incluídos no nosso inconsciente. Daí temos o processo de socialização atuando enquanto aprendizagem de uma cultura, de determinadas normas e regras. Para a criança, por exemplo, o processo acontece no cotidiano, no contexto em que está inserida. Ela aprende determinadas formas de compreender sua realidade e de interagir com os outros. Esse processo garante ainda, que a criança, enquanto novo sujeito social, aprenda como se guiar neste mundo cheio de símbolos e significados. E embora se inicie na infância, o processo de socialização não termina com a chegada da vida adulta, pois o comportamento e a compreensão de mundo altera-se a todo momento, e é esse contato que garante a continuidade do processo de socialização. É um processo em que os indivíduos entrará em contato com um enorme número de contextos e grupos sociais dotados de diferentes visões de mundo. Nesse processo de socialização, Anthony Giddens (2008) especifica duas etapas: a primeira fase ocorre na infância período de maior aprendizagem cultural da vida do ser humano, momento em que ele aprende sua primeira língua e começa a ter seu comportamento moldado pelo convívio social com sua família, pois a “descoberta” do mundo externo começa na família, o que pode ser chamado de socialização primária.

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A06  Viver em sociedade: o papel da socialização I

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Figura 03 - Socialização secundária.


Sociologia

Esses contatos sociais primários caracterizam-se por serem pessoais, diretos e com influência afetivas. São os primeiros tipos de contatos que as pessoas estabelecem, pois, a criança tem contato com a linguagem e vai compreendendo as relações sociais primárias e os seres sociais que a compõem, interiorizando, nesse momento, normas e valores, bem como regras básicas da sociedade, a moral e os modelos de comportamento do grupo a que pertence, caracterizando esse tipo de socialização como essencial para o indivíduo, pois deixa marcas muito profundas por toda a sua vida. O segundo período (socialização secundária) acontece na fase mais madura do ser humano. É todo e qualquer processo que introduz um indivíduo, já socializado, em novos setores no mundo objetivo da sociedade. Dentro desse mundo, vamos assumindo novos papéis em vários grupos aos quais vamos pertencendo, adquirindo papéis sociais determinados pelas relações sociais desenvolvidas. E sabendo que, no processo de socialização, os sujeitos se constroem mutuamente, podemos estabelecer três tipos de mecanismos desse processo: Socialização por aprendizagem

O indivíduo se socializa quando ele aprende os valores, normas sociais etc.

Socialização por imitação

O indivíduo reproduz os comportamentos que ele vê durante o processo.

Socialização por identificação

O indivíduo vai se identificar com outras pessoas, como pais, professores etc.

Entendendo a socialização como a relação entre os indivíduos e um grupo social, podemos perceber esses novos grupos sociais como agentes de socialização. Nesse caso incluímos a família, a escola, as associações, as empresas como representantes desse conceito. Isso nos permite pensar que desde que nascemos, várias pessoas passam a fazer parte de nossas vidas e com elas vamos desenvolvendo muitos tipos de relações. Devemos entender, portanto, que a necessidade de nos manter unidos não é um capricho pessoal, e sim uma questão de sobrevivência. Aí está a necessidade de estar voltados para o crescimento e evolução. É preciso manter a motivação no sentido de ser cada vez melhor para si e para os outros com os quais convivemos diariamente. Importante destacar também algumas diferenças entre o conceito de sociedade e comunidade. Na sociedade, os indivíduos se relacionam, muitas vezes, de forma impessoal e automática, enquanto que em uma comunidade os integrantes possuem relações mais estreitas, bem como interesses e desejos comuns. Assim, os integrantes de uma comunidade aproximam-se uns dos outros ao se diferenciarem do restante da sociedade.

A06  Viver em sociedade: o papel da socialização I

Já a comunidade é uma construção ideológica que se baseia na necessidade individual da segurança, da familiaridade, da noção de pertencimento. Como afirma um clássico da Sociologia contemporânea, Zygmund Bauman (2003), pertencer a uma comunidade significa renegar parte de nossa individualidade em nome de algo maior, uma estrutura montada para satisfazer nossas necessidades de intimidade e da construção de uma identidade, o que nos dá a ideia de que a comunidade tende a manter o que é estranho do lado de fora, criando uma fronteira entre o que é familiar e o que é estranho, o que é “de dentro” e o que é “de fora”. Os fenômenos cotidianos das interações sociais podem ser compreensíveis desde um plano macro - pensado por Durkheim, por exemplo, que analisava os fenômenos sociais no âmbito coletivo, em que há uma predominância do social pelo individual, colocando a ênfase no nível geral - ou pode ser uma perspectiva micro - como Weber pensou, refletindo como cada pessoa se comporta na hora de interagir com outra, em um plano individual. O conceito de indivíduo faz referência à cada pessoa que faz parte de uma sociedade, e aqui devemos ter um cuidado, ao afirmar que a sociedade é somente um conjunto de indivíduos. É, antes, um conjunto de indivíduos vivendo juntos, compartilhando muitas coisas entre si em um momento histórico e em um espaço geográfico específico. 62


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Cada um de nós é diferente. Cada um tem uma história, uma identidade, uma religião, uma maneira de compreender a amizade e o amor. E é isso que promove a individualidade, a liberdade e o direito de ser diferente. Hoje a liberdade do indivíduo tem crescido comparando às sociedades tradicionais, o que não torna o processo de socialização menos importante em nossas vidas, pois ele tem um caráter de longo prazo e denomina todas as experiências da nossa vida. O processo de socialização sempre vai existir. Um exemplo vamos imaginar uma família na fila de um supermercado aguardando sua vez para ser atendida no caixa. O filho mais novo vai direto ao caixa, o responsável o chama, explica que tem que aguardar sua vez, ensinando valores e regras sociais. Pronto! O filho já sabe que o correto é respeitar as filas em cada ocasião. Temos aí um processo de socialização instaurado. Podemos perceber que o processo de socialização é realizado por instituições, como a família e a escola, mas também é realizado junto a outras pessoas, em situações corriqueiras do nosso dia a dia. Tal processo é fundamental para a construção das sociedades, pois simultaneamente é por meio dele que os indivíduos interagem independente da a cor, classe social, ou qualquer outra diferença. Todos os seres humanos estão sempre em constante processo de socialização. Por fim, e não menos importante, é fundamental observar que é justamente porque vivendo em sociedade a pessoa pode satisfazer suas necessidades. É preciso que a sociedade seja organizada, de tal modo que sirva realmente para esse fim, pois não é suficiente atender somente às necessidades de uma parcela da sociedade. Sendo assim, é importante fazer com que todas as pessoas sejam atendidas, tenham as mesmas oportunidades e conhecendo seus direitos, deveres e responsabilidades enquanto atores sociais (DALLARI, 2014).

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A06  Viver em sociedade: o papel da socialização I

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Figura 04 - A beleza da individualidade.


Sociologia

Exercícios de Fixação 01. (UPE PE) Leia o texto a seguir:

e) O conhecimento e a habilidade são transmitidos por

O saber da comunidade, aquilo que todos conhecem de al-

meio de um currículo predefinido em ambientes especia-

gum modo; o saber próprio dos homens e das mulheres, de

lizados, em um processo conhecido como escolarização.

crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos; o saber de guerreiros e esposas; o saber que faz o artesão, o sacerdote, o feiticeiro, o navegador e outros tantos especialistas, envolve, portanto, situações pedagógicas interpessoais, familiares e comunitárias, em que ainda não surgiram técnicas pedagógicas escolares, acompanhadas de seus profissionais de aplicação exclusiva. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação? São Paulo: Brasiliense, 2007, p. 20.

02. (Uema MA) A Sociologia, tradicionalmente, é a ciência que estuda a sociedade. Expressão abstrata, visto que não há uma definição precisa. Mas, a literatura indica que toda sociedade deriva de grupos sociais, compreendidos como “um agregado de seres humanos no qual (1) existem relações específicas entre indivíduos que o compreendem e (2) cada indivíduo tem consciência do próprio grupo e de seus símbolos”. É necessário, portanto, que haja interação e identidade entre os membros do grupo. OUTHWAITE, William; BOTTOMORE, Tom (editores). Dicionário do pensamento social do século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2008.

Um exemplo de grupo social é (são) a) multidão em um domingo na praia. b) pessoas em uma fila de cinema. O tema discutido no texto é uma preocupação nos estudos da Sociologia desde a sua consolidação como ciência. Nos

A06  Viver em sociedade: o papel da socialização I

trabalhos de Émile Durkheim, esse tema ganhou um desta-

c) alunos em uma sala de aula. d) jovens em festival de música. e) indivíduos lendo jornal.

que por considerar uma forma de integração dos indivíduos

03. (UEG GO) Os seres humanos são formados socialmente. A

e de perpetuação dos hábitos e costumes do grupo, ou seja,

sociologia aborda esse processo de constituição social dos

dos fatos sociais.

seres humanos com o termo “socialização”. Desde Marx e

Sobre isso, assinale a alternativa que NÃO indica uma carac-

Durkheim, passando pela escola funcionalista até chegar

terística do tipo de transmissão do conhecimento.

aos sociólogos contemporâneos, esse é um tema funda-

a) A aprendizagem acontece sem que haja um planeja-

mental da sociologia, mesmo sem usar esse termo. Alguns

mento específico e, muitas vezes, sem que os sujeitos se

sociólogos atribuem um caráter repressivo e coercitivo

deem conta.

ao processo de socialização em determinadas épocas e

b) O processo de construção do conhecimento é perma-

sociedades. A socialização, na sociedade moderna, seria

nente, contínuo e não previamente organizado, desen-

diferente da que ocorre em outras sociedades. A letra da

volvendo-se ao longo da vida.

música a seguir apresenta elementos desse processo de

c) O conhecimento transmitido permite ao sujeito resol-

socialização moderna.

ver situações referentes aos processos de socialização PRESSÃO SOCIAL

e àqueles relacionados às imposições da natureza para

Plebe Rude

sobrevivência do grupo. d) A percepção gestual, a moral e a comportamental, pro-

Há uma espada sobre a minha cabeça

venientes de meios familiares de amizade, de trabalho e

É uma pressão social que não quer que

de socialização midiática, fazem parte do rol de aprendi-

eu me esqueça

zagens e conhecimentos.

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Gabarito questão 01 A educação é, segundo Durkheim, a transmissão de formas de pensar, agir e sentir que as gerações mais velhas fazem em relação às mais novas. Ela não ocorre somente em ambientes formais, mas em diversas situações de socialização, exatamente como apresenta o texto da questão.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Gabarito questão 05 A alternativa [B] é a única correta. A figura apresenta um grupo que trabalha em conjunto, com o objetivo de edificar algum tipo de construção. Todos estão comprometidos com a causa. Sendo assim, o mais correto é dizer que este se caracteriza como um grupo comunitário autossuficiente, por ter interesse na satisfação geral dos membros do grupo.

Que tenho que estudar

Portanto, é CORRETO afirmar:

que eu tenho que trabalhar

a) Os indivíduos são seres antissociais que somente pautam suas vidas influenciados pelo individualismo utilitário.

que tenho que ser alguém

b) A socialização não expressa a heterogeneidade das popu-

não posso ser ninguém

lações e seus modos de vida, mas somente a condição de Há uma espada sobre a minha cabeça É uma pressão social que não quer que

nascimento das pessoas. c) A socialização desagrega os indivíduos numa comunidade, impossibilitando as relações sociais e a participação em de-

eu me esqueça

cisões públicas. Que a minha vitória é a derrota de alguém

d) Socialização é o processo de aprender a tornar-se membro de uma sociedade, por meio do qual nos tornamos seres sociais.

e o meu lucro é a perda de alguém que eu tenho que competir

05. (UPE PE) Observe a imagem a seguir:

que eu tenho que destruir Há uma espada sobre a minha cabeça É uma pressão social que não quer que eu me esqueça

conformar é rebelar que eu tenho que rebelar rebelar é conformar E quem conforma o sistema engole

Gabarito questão 03 A letra da música faz referência à imposição de valores e comportamentos exteriores aos indivíduos. Tais valores representam o ideal de sucesso individual e de competitividade, típicos da sociedade capitalista contemporânea.

e quem rebela o sistema come Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/ plebe-rude/pressao-social-original.html>. Acesso em: 16/03/2016

A letra da música apresenta o processo de a) socialização de grupos subalternos que são altamente competitivos e voltados para o lucro e a vitória competitiva independente de qualquer consideração ética. b) imposição dos valores dos pequenos comerciantes que precisam de educação escolar e aprendem a ter o lucro como objetivo principal de sua empresa. c) imposição de elementos da sociabilidade moderna, tais como escolarização e trabalho visando ascender socialmente e vencer a competição social. d) socialização nos países subdesenvolvidos, nos quais a falta de oportunidades e de riquezas gera uma forte competição social. e) imposição de uma socialização fundada na racionalização, marcada por uma valoração da razão e dos sentimentos. 04. (Unimontes MG) Socialização é um conceito-chave utilizado na Sociologia para reconhecer que identidades sociais, papéis e

(Disponível em: http://pt.wikieducator.org/ Usu%C3%A1rio: Phibartle/My_profile)

O modo como as pessoas se organizam pode ser determinado pela existência de fortes laços de companheirismo, preocupação com o bem-estar uns dos outros, cooperação e confiança mútua. No contexto da imagem, a organização apresentada demonstra um grupo comunitário caracterizado a) por uma unidade de observação pessoal, no qual o grupo representa um elemento analítico referencial e representativo que permite compreender tão somente o seu contexto. b) pela autossuficiência, ao passo que proporciona todas ou a maioria das atividades satisfazendo as necessidades dos membros do grupo. c) por uma homogeneidade ideológica, já que todas as ideias e mudanças vindas de fora do grupo são aceitas por todos de maneira uniforme. d) pela nitidez, porque o limite territorial do grupo vai além do espaço de cooperação, chegando até os limites do Estado Nacional. e) como um grupo em mutirão que busca satisfazer as necessidades dos grupos de conflito para manter a harmonia social.

trajetórias de indivíduos e grupos sociais são construídos por meio de um processo contínuo de transmissão cultural. Questão 04. Somente a alternativa [D] está correta. É pelo processo de socialização que um indivíduo passa a tornar-se membro de uma sociedade, internalizando comportamentos, significados e valores. Esse processo é fundamental para a existência tanto do indivíduo como ser social, quanto para a reprodução da sociedade por meio das gerações.

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A06  Viver em sociedade: o papel da socialização I

Que eu tenho que conformar


Sociologia Gabarito questão 04 O processo de socialização na sociedade moderna ocorre principalmente por meio da ação de instituições sociais específicas, tais como a família, a escola e a religião. Ao nascer, o novo indivíduo entra em contato com essas instituições que são responsáveis por ensinar a ele o conjunto de normas e regras necessárias para a vida social. Assim, por meio de uma relação, sobretudo afetiva, a criança aprende uma língua, os costumes, comportamentos e regras que serão a matriz para toda a sua vivência e percepção de si em sociedade.

Exercícios Complementares 01. (Ufu MG) Em relação aos ritos de passagem nas sociedades tribais e urbanas, podemos afirmar que I. Os ritos de passagem acentuam as regras de um determinado grupo e marcam a aquisição, pelo indivíduo, de um novo “status” que confirma sua inserção social. II. Os ritos fazem parte da cultura desde que o homem passou a compartilhar símbolos e a viver em comunidade. III. Experiências como o nascimento, a passagem da infância para a adolescência e desta para a vida adulta determinam mudanças importantes na vida dos indivíduos e são anunciadas pelos ritos de passagem. IV. Os ritos teriam como função organizar o caos interno e a violência inerentes aos seres humanos. Assinale a alternativa correta. a) Todas as afirmativas estão corretas. Somente a afirmativa IV está incorreta. Ainb) I, II e III estão corretas. da que os ritos possuam a função social de organizar a vida social e a sucessão de fases c) II e III estão corretas. do indivíduo ou de “status” sociais, não se d) I e IV estão corretas. pode dizer que sem os ritos o homem vive um “caos interno”. A hipótese de que o e) II, III e IV estão corretas. em homem é inerentemente violente é falsa, o que invalida toda a afirmativa IV.

A06  Viver em sociedade: o papel da socialização I

02. (Ufu MG) Considere o texto escrito pelo antropólogo norte-americano Kroeber. “Heródoto conta-nos que um rei egípcio, desejando verificar qual a língua-mater da humanidade, ordenou que algumas crianças fossem isoladas da sua espécie, tendo somente cabras como companheiros e para o seu sustento. Quando as crianças já crescidas foram de novo visitadas, gritaram a palavra bekos, ou, mais provavelmente bek, suprimindo o final, que o grego padronizador e sensível não podia tolerar que se omitisse. O rei mandou então emissários a todos os países a fim de saber em que terra tinha esse vocábulo alguma significação. Ele verificou que no idioma frígio isso significava pão, e, supondo que as crianças estivessem reclamando alimentos, concluiu que usavam o frígio para falar a sua linguagem humana ‘natural’, e que essa língua devia ser, portanto, a língua original da humanidade. A crença do rei numa língua humana inerente e congênita, que só os cegos acidentes temporais tinham decomposto numa multidão de idiomas, pode parecer simples; mas, ingênua como é, a inquirição revelaria que multidões de gente civilizada ainda a ela aderem”. (Laraia, R. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahan Ed., 1986).

Disserte sobre a existência ou não de uma linguagem humana natural, tomando por base uma possível moral da história contada pelo referido autor. 03. (Uel PR) “Pesquisadores das universidades britânicas de Glasgow e Bristol acompanharam os hábitos de 9.000 crianças nos últimos catorze anos. Concluíram que o ambiente no

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qual elas foram educadas teve tanta influência nos casos de obesidade infantil quanto a herança genética. O estudo identificou oito fatores que podem levar à obesidade a partir dos 7 anos, dos quais destacam-se, aqui, dois: crianças com mais de 3 anos que permanecem diante da TV mais de oito horas por semana têm tendência ao sedentarismo e à superalimentação; filhos de pais obesos podem, além de herdar características genéticas de obesidade, imitar seu comportamento.” (Veja, ano 38, n. 23, p. 37, 8 jun. 2005.)

Com base no texto, é correto afirmar que: a) O fato de filhos de pais obesos serem obesos indica que a causa da obesidade infantil é necessariamente genética. b) Escolarização e incidência de obesidade infantil são diretamente proporcionais, revelando o equívoco dos conceitos sobre alimentação e saúde. c) Fatores biológicos e a construção de hábitos alimentares no processo de socialização da criança são determinantes na obesidade infantil. d) A interdição das crianças à televisão é uma medida que elimina o risco da obesidade infantil. e) O sedentarismo, a superalimentação e o ambiente no qual as crianças são educadas são fatores de obesidade infantil circunscritos aos povos de origem anglo-saxã. 04. (UFPR) Para viver em sociedade, todo indivíduo precisa internalizar determinados conjuntos de normas sociais e transformá-los em sua vida prática em comportamentos que são aceitos socialmente. Esse processo na Sociologia compreende o que se chama de socialização. Como se desenvolve esse processo de socialização nas sociedades modernas e quais as principais instituições responsáveis por ele? 05. (Uel PR) “Socialização significa o processo pelo qual um indivíduo se torna um membro ativo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se de acordo com seus folkways e mores [...]. Há pouca dúvida de que a sociedade, por suas exigências sobre os indivíduos determina, em grande parte, o tipo de personalidade que predominará. Naturalmente, numa sociedade complexa como a nossa, com extrema heterogeneidade de padrões, haverá consideráveis variações. Seria, portanto, exagerado dizer que a cultura produz uma personalidade totalmente estereotipada. A sociedade proporciona, antes, os limites dentro dos quais a personalidade se desenvolverá”. Fonte: KOENIG, S. Elementos de Sociologia. Tradução de Vera Borda, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1967, p. 70-75.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar:

Gabarito questão 02 Diferentemente da intuição do rei egípcio, não podemos dizer que há uma linguagem humana natural. No caso das crianças que viveram com as cabras, a palavra bek não significa pão, mas somente a imitação do som emitido pelas cabras, que é algo similar a bek. Sendo assim, o mais correto seria dizer que a linguagem é culturalmente transmitida e aprendida mediante um processo de socialização, na qual os indivíduos mais novos entram em contato com a produção simbólica que já existia antes deles. Como as crianças da história somente “socializaram-se” com as cabras, acabaram por “falar” como cabras.


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06. (Uem PR) “Todos nós sabemos da existência de um certo tipo de ‘organização social’ entre animais não humanos, não apenas entre mamíferos superiores, tais como os macacos, por exemplo, mas também insetos: formigas, cupins e abelhas, notadamente. (...) Quando comparamos as ‘sociedades’ animais não humanas, particularmente a sociedade daqueles insetos, o fazemos porque constatamos que o comportamento de tais animais apresenta certas padronizações parecidas com algumas padronizações verificadas entre os seres humanos” (VILA NOVA, Sebastião. Introdução à Sociologia. São Paulo: Atlas, 1985, p. 29).

Considerando o que diz o texto acima, assinale o que for correto. 16 01. Segundo o autor, não há diferença essencial alguma entre o estudo das sociedades humanas feito pela sociologia e o das sociedades de insetos feito pela entomologia. 02. De acordo com o texto, homens e animais são padronizados devido ao peso da herança genética em todos os tipos de sociedades. 04. Podemos concluir do texto que são os fatores do meio ambiente que levam à padronização dos comportamentos dos animais e dos seres humanos. 08. Segundo o autor, se não fosse a descoberta das leis de padronização das sociedades de animais, os sociólogos não teriam se interessado pelas leis de padronização existentes nas sociedades humanas. 16. Podemos deduzir do texto que tanto os pesquisadores dos animais quanto os sociólogos se preocupam com as ações regulares produzidas pela vida em sociedade.

d) um conceito de Herbert Spencer, segundo o qual ocorre uma evolução para uma forma de sociedade superior e mais progressista. 09. (Uem PR) Leia o texto a seguir: “Desde o início a criança desenvolve uma interação não apenas com o próprio corpo e o ambiente físico, mas também com outros seres humanos. A biografia do indivíduo, desde o nascimento, é a história de suas relações com outras pessoas. Além disso, os componentes não sociais das experiências da criança estão entremeados e são modificados por outros componentes, ou seja, pela experiência social.” (BERGER, Peter L. e BERGER, Brigitte. “Socialização: como ser um membro da sociedade”. In: FORACCHI, Marialice M. e MARTINS, José de Souza. Sociologia e Sociedade. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1977, p. 200).

Podemos concluir do texto que 01 + 04 + 08 + 16 = 29. 01. os indivíduos, desde o nascimento, são influenciados pelos valores e pelos costumes que caracterizam sua sociedade. 02. a relação que a criança estabelece com o seu corpo não deveria ser do interesse das ciências biológicas, mas apenas da sociologia. 04. o fenômeno tratado pelo autor corresponde ao conceito de socialização, que designa o aprendizado, pelos indivíduos, das regras e dos valores sociais. 08. as experiências individuais, até mesmo aquelas que parecem mais relacionadas às nossas necessidades físicas, contêm dimensões sociais. 16. o desconforto físico que uma criança sente, como a fome, o frio e a dor, pode receber dos adultos distintas respostas de satisfação, dependendo da sociedade na qual eles estão inseridos. 10. (Ufla MG) Observe o seguinte cartaz.

07. (UFPR) A socialização da criança é fundamental para a construção do eu social. A família tem como uma de suas funções a socialização primária das crianças. Em que consiste esse processo e por que a sociologia atribui-lhe tanta importância? 08. (UEG GO) De acordo com as teorias sociológicas, a socialização é a) um processo no qual o capitalismo supera o isolamento das pequenas propriedades do regime feudal. b) um contrato jurídico no qual o trabalho deixa de ser individual e autônomo e passa a ser social e heterônomo. c) um processo no qual, por um lado, o indivíduo se torna um ser social e, por outro, se torna um indivíduo integrado em determinadas relações sociais.

Sabendo que a socialização transmite ao indivíduo os padrões culturais da sociedade e que o controle social é um forte instrumento de socialização, a alternativa em que a função do cartaz apresentado se enquadra é: a) função de ordem social. b) função de organização social. c) função de eficiência social. d) função de dispersão social.

Gabarito questão 07 A socialização primária da criança é realmente uma das funções primordiais para a família no seu modelo contemporâneo. Por meio da instituição familiar e mediante um processo de identificação afetiva, a criança aprende a língua e incorpora a cultura, os valores, os comportamentos aceitos e o seu papel dentro da sociedade. A socialização primária é a etapa mais importante para a constituição do indivíduo social.

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A06  Viver em sociedade: o papel da socialização I

a) Existe uma interação entre a cultura e a personalidade, o que faz com que as individualidades sejam influenciadas de diferentes modos e graus pelo ambiente social. b) Apesar de os indivíduos se diferenciarem desde o nascimento por dotes físicos e mentais, desenvolvem personalidades praticamente idênticas por conta da influência da sociedade em que vivem. c) A sociedade impõe, por suas exigências, aprovações e desaprovações, o tipo de personalidade que o indivíduo terá. d) O indivíduo já nasce com uma personalidade que dificilmente mudará por influência da sociedade ou do meio ambiente. e) São as tendências hereditárias e não a sociedade que determinam a personalidade do indivíduo.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A07

ASSUNTOS ABORDADOS nn Viver em sociedade: o papel da

socialização II

VIVER EM SOCIEDADE: O PAPEL DA SOCIALIZAÇÃO II Já sabermos que o processo socialização consiste na interiorização que cada indivíduo faz desde que nasce, por meio do contato primário com a família, e ao longo de toda a sua vida, por meio do contato secundário em escolas, clubes, universidades, interiorizando os modos de pensar e agir bem como normas e regras da sociedade em que se vive, que é uma questão determinante para a integração social.

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É também nesse processo que a ação coercitiva da sociedade, que é o que nos impede ou nos incita a praticar algo, exerce uma pressão em nossa consciência, agindo como uma força sobre os indivíduos, o que Durkheim caracterizou como uma das características do fato social.

Figura 01 - Integração social pelos diferentes tipos de pensamento e ideais aprendidos no processo de socialização.

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Todas essas regras, normas e pensamentos são ensinados no processo de socialização por meio das relações e interações sociais. A relação social é, portanto, um relacionamento entre indivíduos ou no interior de um grupo social. Sendo assim, o objeto básico da análise da Sociologia, como a teoria da ação social de Max Weber, seria uma conduta dos indivíduos, reciprocamente orientada e dotada de sentido partilhado pelos diversos agentes de determinada sociedade.


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Assim entendida, a relação social então é a forma incorporada da interação social. Vale também destacar que essa interação social pode ser diádica - pessoa a pessoa -, entre uma pessoa e um grupo ou entre um grupo e outro grupo, constituindo, portanto, condições indispensáveis à associação humana. É a partir dessa interação, de acordo com Vygotsky (1998), que se estabelecem processos de aprendizagem e o aprimoramento das estruturas mentais existentes desde o nascimento. De acordo com o tipo de relação estabelecida, a interação social pode ser marcada pela reciprocidade ou não. Quando é recíproca, ela é caracterizada pela interação entre as partes que irão interagir, havendo uma influência mútua, como em uma sala de aula, como vimos no exemplo. A outra, porém, tem um caráter unilateral, não ocorrendo a interação social de ambas as partes, como quando estamos assistindo a uma série, pois somente nós, os espectadores, sofremos influência. As relações sociais podem ser ainda marcadas pela formalidade, aquelas que são destituídas de afeto entre os membros. Na maioria das vezes, as relações são passageiras como aquelas que desenvolvemos no âmbito do trabalho. Ainda existem as relações marcadas pela informalidade que são as mais duradouras, pois são desenvolvidas por meio de afeto, as relações de família por exemplo. É importante ressaltar que uma relação social não, necessariamente, tem que se encaixar em um só modelo: só formal ou só informal.

Figura 03 - Charge mostrando uma relação social de produção estabelecida entre diferentes classes sociais envolvidas no processo produtivo do etanol.

A sociedade é formada por grupos sociais. Um grupo social se estabelece pela interação entre pessoas e o sentimento de identidade existente, criando laços de pertencimento, desenvolvendo uma relação estável e compartilhando histórias, valores e princípios, como: grupos religiosos, políticos, escolares etc. Cooley (1909), de acordo com a relação, com o tamanho do grupo e com o grau de contato entre seus membros estabeleceram-se classificações para os grupos sociais, conforme no quadro abaixo.

Grupos Primários

São formados por grupos pequenos, que se estabelecem por meio de relações mais íntimas e duradouras, com contato direto ou indireto. Exemplos: família, vizinhos e amigos.

Grupos Secundários

Possuem grandes dimensões e são mais organizados. Envolvem relacionamentos de menor contato, mais formais e institucionais, contudo, possuem interesses e objetivos comuns. Exemplos: grupos formados nas igrejas, nos partidos políticos etc.

Grupos Intermediários

Nesses grupos existem contatos maiores e menores que incluem os grupos primários e secundários, ou seja, há uma alternância dos dois tipos de grupo. Exemplo: contato com a direção da escola, que pode ser tanto uma relação mais duradoura e estável, como de menor contato.

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A07  Viver em sociedade: o papel da socialização II

Figura 02 - Relação e interação social no âmbito escolar.

Marx é um dos clássicos da Sociologia que se dedicou ao estudo das relações sociais de produção, que são desenvolvidas por meio das relações de trabalho, ou seja, das forças produtivas e dos modos de apropriação dos meios de produção.

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Já o conceito de interação social envolve uma modificação de comportamento nos indivíduos envolvidos, como resultado do contato e da comunicação que se estabelece entre eles. Como exemplo podemos observar a relação que o professor estabelece em sala de aula com seus alunos, ou que os próprios alunos estabelecem entre si. Ao aprender com o professor, os alunos mudam seu comportamento, e as mudanças aqui são uma via de mão dupla : tanto o aluno aprende com o professor, quanto o professor apende com seus alunos, havendo uma mútua influência.


Sociologia

Apresentados o conceito e os tipos de grupos sociais, podemos nos dedicar agora sobre às instituições sociais, que são instrumentos que regulam, de alguma forma, nossas ações, estabelecendo regras que são reconhecidas e reproduzidas socialmente. Sendo assim, essas instituições determinam procedimentos dos grupos de acordo com padrões, valores e comportamentos podendo agir como uma espécie de controlador da sociedade.

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As instituições poder ser espontâneas ou criadas, com fins reguladores ou operacionais. As instituições espontâneas surgem a partir das relações estabelecidas entre os agentes sociais, como a família por exemplo, enquanto que as instituições criadas surgem para regular e organizar a sociedade e não surgiram espontaneamente, como as igrejas, por exemplo. Quanto aos seus fins, sendo reguladoras, atuam regulando diversos aspectos da sociedade (igrejas, escolas etc.) e sendo operacionais, operam sobre diversos aspectos da sociedade, como os órgãos públicos de operação, que podem ser vistos na figura do departamento de finanças.

Figura 04 - Igreja e escola como exemplo de Instituições Sociais.

A primeira instituição da qual fazemos parte é a família, cujas principais funções são: a reprodução, a economia e a educação. No Brasil, a tradição é a família ser monogâmica. A família monogâmica é aquela em que cada esposa tem apenas um cônjuge, durante certo período de tempo mas sabemos que hoje já existem casais que, por meio de acordos, aceitam o cônjuge ter relações com outras pessoas por um período significativo de tempo ou por toda a vida, caracterizando uma estrutura poligâmica formada por mais cônjuges. Porém, há outras estruturas familiares, como a poliandria - mulher casada com mais de dois homens - e poliginia - homens casados com mais de uma mulher.

A07  Viver em sociedade: o papel da socialização II

Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 05 - Exemplo de poliandria no Tibet na primeira foto, e de poliginia muçulmana, na segunda foto em que vemos um muçulmano com suas quatro esposas, na segunda imagem.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Do mesmo modo que nos socializamos, primeiramente por meio da família, há indivíduos que, no decorrer da vida, optam, por alguma motivação, pelo isolamento social, o que evidencia a falta de interação social. As pessoas que sofrem com o isolamento social, voluntário ou não, possuem muitas dificuldades para interação social e, por isso, se afastam, o que pode causar graves problemas, inclusive psíquicos, pois, como já vimos, nós, necessitamos da convivência uns com os outros. Esse “problema” pode ser tratado por meio de terapias alternativas, tratamento psicológicos e psiquiátricos. O isolamento social pode ser causado por diversos fatores, como preconceito – de todos os gêneros. Pessoas que sofrem algum tipo de discriminação preferem se isolar da sociedade.

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Por isso é importante ficarmos atento ao nosso redor, pois essas pessoas podem apresentar características como timidez e/ou insegurança, podem se sentir inferiores, e sofrer bullying, tanto no ambiente familiar, como no escolar, como retrata a série “13 Reasons Why”. A série produzida pelo Netflix apresenta uma jovem que sofre problemas na escola e vê no suicídio a única saída para fugir do sofrimento pelo qual ela passa todos os dias expresso pelas agressões físicas, verbais ou psíquicas.

Figura 06 - Personagem da série 13 Reasons Why , Hannah Baker.

Dentro do ambiente escolar temos hoje as chamadas tribos urbanas, muitas vezes denominadas pelos sociólogos de “subculturas” ou “subsociedades”. São grupos que compartilham hábitos, valores culturais, estilos musicais e/ou ideologias políticas semelhantes.

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As tribos urbanas surgem da necessidade de os jovens se agruparem, criarem uma identidade, na qual cada grupo possui uma estrutura interna própria. Muitas tribos urbanas surgiram dos movimentos de contracultura, como os hippies e os punks, enfatizando a diversidade cultural que existe e estão ao nosso redor. Além dos hippies e punks, podemos citar uma infinidade de tribos urbanas, como os grafiteiros, pagodeiros, sertanejos, funkeiros, rappers, skatistas, grunges, yuppies, playboys, patricinhas, mauricinhos etc. Os skatistas são um grupo que surgiu nos Estados Unidos na década de 1960, envolvendo o equilíbrio em uma pequena prancha de quatro rodas que desliza no solo - skate. Os seus integrantes compartilham de um estilo próprio de vestimenta, como uso de boné, calças largas, calçado apropriado para a prática desportiva, entre outros.

Figura 07 - Skatistas.

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Sociologia

Fonte: Wikimedia Commons

Os hippies surgiram também nos Estados Unidos, a partir do movimento de contracultura no final da década de 1960. O grupo contestava o poder hegemônico do modelo econômico e as injustiças sociais, pregavam pela paz e pelo amor, pautado em valores da natureza e da vida em comunidade. Por isso, seus adeptos tinham um modo de vida comunitário e libertário. O estilo hippie é constituído de roupas coloridas, cabelos e barbas compridos, saias longas e calças “boca de sino”, que hoje estão na moda, e são mais conhecidas como calças flare.

Figura 08 - Hippies.

Figura 01 - Punks.

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Fonte: Wikimedia Commons

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Os punks, por sua vez, surgem em meados da década de 1970, na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Austrália, influenciados por ideias anarquistas propondo a liberdade individual. Possuem um estilo próprio, que rejeita o que dita a moda e, por isso, suas vestimentas são calças rasgadas, normalmente justas, coturnos, jaquetas de couro, além de acessórios como, anéis, pins, correntes e um penteado radical.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação

02. (Uem PR) Considerando seus conhecimentos sobre a temática “instituições sociais”, assinale o que for correto. 01 + 02 + 08 + 16 = 27. 01. As escolas, as igrejas e as famílias podem ser consideradas instituições sociais que exercem formas de coerção sobre os indivíduos. Elas pressionam pelo cumprimento de valores preestabelecidos. 02. As instituições sociais direcionam as ações dos indivíduos no sentido de organizarem, disciplinarem e controlarem suas condutas, mas também são flexíveis ao ponto de incorporarem as transformações, mesmo que elas não gerem grandes rupturas no modelo de sociedade. 04. A escola é uma instituição social regida por normas e por regras que eliminam os conflitos na adoção dos projetos pedagógicos norteadores da conduta de seus profissionais. 08. As religiões podem ser consideradas instituições sociais que garantem sua permanência por meio dos rituais: atos repetitivos que rememoram o acontecimento inicial da história sagrada de determinada cultura. 16. A família é um tipo de instituição social essencialmente dinâmica, sendo o tipo familiar mais expressivo na sociedade brasileira, na atualidade, o monoparental: quando um dos cônjuges vive com os filhos na presença ou não de outros parentes na mesma casa. 03. (Uem PR) No que se refere às instituições sociais, assinale o que for correto. 01 + 04 + 08 = 13 01. A linguagem é uma instituição fundamental da sociedade, expressando e estabelecendo símbolos compartilhados. 02. A grande maioria das sociedades não possui regras que regulamentam as relações sexuais e a procriação de filhos; no entanto, onde elas existem, são praticamente as mesmas.

04. Para a maioria dos indivíduos, a família aparece como a primeira instituição social, já que, para eles, ela é considerada o fundamento básico das sociedades. 08. As instituições sociais podem ser consideradas formas sancionadas de papéis, padrões e relações, cujo objetivo é satisfazer necessidades sociais básicas. 16. O Estado supervisiona apenas os aspectos exteriores da vida social; portanto, não pode ser definido como uma instituição social. 04. (Uel PR) Leia o texto a seguir. “O primeiro beijo é sempre o último”. Assim um informante define, com certa nostalgia, o surgimento de uma nova rotina na prática de “ficar” entre os jovens ao longo da night. “Ficar” é essencialmente beijar, beijar em série, beijar muito. O primeiro beijo, marcado por algo absolutamente fugaz, registro imediato do tátil, desliga--se do que outrora era ritual do enamoramento, prelúdio de uma trajetória sentimental. [...] No campo do afeto e do exercício da sociabilidade, essa mesma noite propicia comportamentos que revelam a transitoriedade, a seriação e o deslocamento afetivo como um novo mecanismo de agrupamento dos jovens. (ALMEIDA, M. I. M. de. “Guerreiros da noite - cultura jovem e nomadismo urbano”. In: Ciência hoje, v. 34, n. 202, p. 28.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a sociabilidade moderna, considere as afirmativas a seguir. I. As práticas assinaladas entre os jovens identificam-se ao que se definiu como pós-modernidade, isto é, relações fluidas, marcadas pela instantaneidade e por rupturas contínuas com referenciais pré-estabelecidos. II. O comportamento dos jovens que optam pela prática do “ficar” é diferente do estado anômico, analisado por Durkheim, na medida em que as bases da existência social mantêm seu funcionamento normal. III. A vida social moderna, ao individualizar os sujeitos, eliminou a necessidade, entre os jovens, de participar de agrupamentos identitários e de estabelecer vínculos sociais com outras pessoas. IV. A adoção da prática antissocial do “ficar” é fruto de uma juventude sem valores morais, como família, tradição e propriedade privada, presentes desde os primórdios da humanidade.

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01. (Uem PR) Considerando o que afirmam as teorias sociológicas sobre as instituições sociais, assinale o que for correto. 08. 01. Elas tratam somente das instituições, portanto não consideram nem reconhecem as responsabilidades pessoais dos indivíduos que interagem na sociedade. 02. Compreendem que organizações sociais, como a família e a tribo, expressam exclusivamente a vontade do líder da nação ou de um grupo social específico. 04. Entendem que as instituições que vigoram na sociedade são interdependentes, porém uma alteração em uma instituição jamais provoca modificações nas demais. 08. Algumas delas consideram que as instituições sociais são expressões dos valores morais vigentes em uma determinada sociedade. 16. Não definem as religiões afro-brasileiras como instituições sociais, pois elas não estão relacionadas à necessidade física alguma do ser humano.

Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

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Sociologia

Exercícios Complementares 01. (UPE PE) Observe a imagem a seguir:

Atualmente, um dos debates mais acirrados da sociedade brasileira diz respeito à capacidade de casais homossexuais fornecerem estrutura familiar para o desenvolvimento de uma criança. Ao contrapor o senso comum de que apenas a família constituída por um homem e uma mulher pode oferecer essa estrutura, ganhou repercussão, nas redes sociais, o caso do garoto de quatro anos que foi adotado por um casal homossexual após ser rejeitado por três casais heterossexuais com as justificativas de ser “feio” e “negro demais”. (...) Disponível em: <http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/ brasil/2015/02/27/> Adaptado. Acesso em: junho 2015

O tema apresentado no texto se refere ao conceito socioImplicitamente, o texto faz referência à lógico de família como instituição social. Podendo a) Comunidade. variar historicamente e culturalmente, a família pode ter diversas configurações, b) Instituição social. tal como apresenta o texto da questão. c) Indicadores políticos. d) Igualdade de gênero. e) Democratização das classes trabalhadoras.

Disponível em: <https://lucassrodrigue.wordpress.com/2013/11/28/>

03. (Uema MA) As novas tecnologias de comunicação têm moldado a vida moderna, a exemplo da situação expressa na charge.

Acesso em: junho 2015

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02. (UPE PE) Leia o texto a seguir: Amor Menino rejeitado por casais heterossexuais por ser “feio e negro demais” é adotado por casal homossexual O garoto de quatro anos havia sido rejeitado por outros três casais heterossexuais

Fonte: image description

A relação social estabelecida ocorre entre dois agentes sociais. Aparentemente um dos lados exerce influência significativa sobre o outro. A Sociologia classifica essa ação como a) Interação social não recíproca. A figura faz referência à interação social b) Interação social bilateral. não recíproca. Uma vez que a criança c) Retardamento cultural. sofre uma influência da mensagem televisiva e não pode interferir na televisão, d) Assimilação direta. não há reciprocidade e, portanto, a interação é unilateral. e) Aculturação.

Fonte: Disponível em: <http://arteemanhasdalingua.blogspot.com. br/201110 01archive.html>. Acesso em: 30 ago. 2014.

A charge retrata uma crítica a novas formas de a) grupo e de conflito sociais. b) mobilidade e de ação sociais. c) interação e de relação sociais. d) movimento e de instituição sociais. e) alienação e de desigualdade sociais. 04. (UFPR) Família, Escola e Igreja são exemplos de instituições sociais analisadas pela Sociologia. Por que elas se constituem em objetos da Sociologia? 05. (Unimontes MG) Interação social é ação social, orientada mutuamente, de dois ou mais indivíduos em contato direto. A interação social pressupõe significados e expectativas em relação às ações das pessoas. Portanto, é INCORRETO afirmar que:

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Gabarito questão 03 As novas formas de comunicação via internet mudam a nossa forma de estabelecermos nossa interação e relação social, alterando o processo de socialização e de significação das relações sociais. É isso que está expresso na charge da questão, que critica uma forma bastante contemporânea de as pessoas se comunicarem.

Gabarito questão 04 Todas essas são instituições que promovem a socialização dos indivíduos. Por meio delas, os indivíduos entram em contato entre si, aprendem e internalizam as regras sociais que contribuem para a vida em comum.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Gabarito questão 06 Nas últimas décadas, as mulheres tem ocupado mais espaço no ambiente público, trabalhando e contribuindo na economia doméstica. Dessa maneira, as crianças passam menos tempo com a família e mais tempo com outros agentes socializadores, como a escola e os meios de comunicação. Isso modifica a forma de socialização primária, bem como as relações de poder ao interno das famílias, que deixam de depender tanto da figura paterna como referência de autoridade.

a) Ainteração é a reciprocidade de ações sociais. b) A interação social diz respeito somente à participação política num contexto de disputa eleitoral. c) A interação por meio da linguagem também é condicionada pela cultura. d) A comunicação, fundamental para o exercício da interação, é imprescindível para o homem enquanto ser social.

O relato anterior diz respeito ao caso do Garoto Selvagem, que inspirou o filme homônimo de François Truffaut, de 1970. É interessante observar que ainda que tenha sido posteriormente educado por um professor, o garoto nunca aprendeu a falar, ler e escrever de forma plena. Explique, de forma sociológica, por que foi impossível para o menino aprender essas habilidades tão comuns para garotos dessa faixa etária.

06. (UFPR) O sociólogo norte americano TalcottParsons analisou a família como uma unidade de solidariedade difusa. Para ele, os membros de uma família compartilham de um status comum, ou seja, os pais compartilham seu status com os filhos. Constatou que a mulher tinha como um de seus papéis principais, o de promover a socialização dos filhos. Quais as mudanças que se processaram em relação à família e ao papel da mulher nas últimas três décadas?

09. O que pode acontecer a um indivíduo caso ele não tenha possibilidade de se socializar com ninguém? Assinale a alternativa correta sociologicamente.

Todo tipo de relação dos indivíduos pode ser chamado de interação social, e não somente a participação política.

07. (UPE PE) Leia o texto a seguir: Acordei pensando... Que não agimos apenas por nosso desejo Que sempre fazemos as coisas pensando em outros... Que nossas ações só existem em relação a nossa família, vizinhança, cidade Que essas ações, de espírito coletivo, geram solidariedade Que quanto mais amor e relações existirem, mais coletivas serão nossas ações Que os desejos ocultos e egoístas camuflam a infelicidade de quem é incapaz de pensar no coletivo.

a) Ele ficará sozinho e sem amigos, tornando-se uma pessoa violenta. b) Ele provavelmente não sobreviverá em sociedade e terá grandes dificuldades para se comunicar. c) Ele será encaminhado para uma instituição de caridade. d) Ele não se reconhecerá como pessoa, uma vez que não terá conhecido o significado da palavra “amor”. e) Ele se tornará um empecilho para seus pais, um problema para a sociedade e não quererá viver. 10. (UPE PE) Observe a foto a seguir:

Disponível em: http://manguevirtual.blogspot.com.br/search/label/POESIA

d) A generalidade é um aspecto importante nas ações coletivas, pois as regras e normas sociais são comuns a todos os membros de uma sociedade. e) As instituições sociais são responsáveis pela socialização e pelo controle das ações individuais. Elas ensinam os indivíduos a seguirem as regras sociais que lhes são exteriores. 08. No fim do século XVIII, foi encontrado em um bosque próximo à cidade de Aveyron, na França, um garoto que vivia totalmente isolado. O menino, que na época tinha por volta de 10 e 12 anos, parecia ter vivido somente na floresta, sem qualquer contato humano. Ao ser encontrado, ele passou a viver com um professor, que se encarregou de educa-lo.

Disponível em: <http://skyscrapercity.com/ showthread.php?t=651235&page=61>.

Ela apresenta a interação entre pessoas de um mesmo grupo. O processo de sociabilidade se desenvolve no grupo, com base em um conceito sociológico expresso na foto acima. Sobre ele, analise as alternativas abaixo e assinale a CORRETA. a) A sociabilidade de novos membros de uma sociedade só é possível quando há mudanças radicais na estrutura social. b) Os espaços físicos de uma sociedade são destinados a vários processos sociais. Na foto percebe-se o único espaço destinado ao processo que permite a sociabilidade entre os indivíduos. c) A competição é um processo de sociabilidade evidenciado na foto, pois os contatos primários caracterizam as interações dos membros desse grupo. d) As relações presentes na foto são um processo contínuo no qual o indivíduo, ao longo da vida, aprende, identifica hábitos e valores característicos, que o ajudam no desenvolvimento de sua personalidade e na sua integração com o grupo. e) As interações mostradas na foto são baseadas em estratégias de competição com o objetivo de organizar movimentos de mudança da estrutura social vigente.

Gabarito questão 08 Tendo passado sua infância sem contato humano, o garoto não vivenciou a sua socialização primária. Assim, ele não internalizou a linguagem social necessária para poder falar, ler e escrever. Ou seja, isso acontece não porque o garoto tem algum distúrbio de aprendizagem, mas simplesmente porque não se socializou, como os demais garotos franceses da época.

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A07  Viver em sociedade: o papel da socialização II

Acerca dos aspectos que definem o objeto de estudo sociológico contido no texto, assinale a alternativa INCORRETA. a) A coerção é uma característica importante para adaptar os indivíduos às regras da sociedade em que vivem. b) A educação dos indivíduos é uma forma utilizada pela sociedade para internalizar, nas pessoas, hábitos e costumes do grupo social. c) A ação individual é importante para a formação da coletividade, mas a vontade individual é fundamental para a constituição da solidariedade. Sem esta não existe sociedade.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A08

ASSUNTOS ABORDADOS nn Sociabilidade no ciberespaço

SOCIABILIDADE NO CIBERESPAÇO Na Sociologia a interação social é um conceito que determina as relações sociais desenvolvidas pelos indivíduos e grupos sociais. Portanto, é uma condição indispensável para o desenvolvimento e constituição das sociedades. É somente a partir dela que nós desenvolvemos a comunicação e criamos redes de relações as quais resultam em determinados comportamentos sociais. Como um fenômeno recente, a interação social adquire uma nova aparência, desenvolvida também pela internet, de maneira virtual. O surgimento da internet, como uma rede mundial de computadores, veio nos trazer-nos uma nova sociedade completamente interconectada e tomada pelas mídias eletrônicas, que permitem às pessoas se conhecerem e se comunicarem virtualmente, sem a presença física, por meio do chamado ciberespaço.

Fonte: Bloomicon / Shutterstock.com

Esse outro modo de se conectar e de ter relações sociais com pessoas afeta vários aspectos da vida cotidiana, pois o virtual passou a ser um traço inquestionável nas práticas sociais. Esse novo modo pode ser visto como uma forma de virtualização informacional em rede. Por meio de computador e internet, uma pessoa pode criar conexões de todas as maneiras e fundar um espaço de sociabilidade virtual. Essa novidade intensificou transformações sociais nos mais diversos campos da atividade humana, e é o que Castells (1999) chama de “sociedade em rede”. Esse fenômeno constitui o novo momento histórico em que a base de todas as relações se estabelece por meio da informação e da sua capacidade de processamento e de geração de conhecimentos, um espaço de interações propiciado pela realidade virtual.

Figura 01 - Sociabilidade no ciberespaço.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

A sociabilidade no mundo virtual permite a participação ativa em diferentes “tribos cibernéticas”, que podem ser entendidas como as tribos urbanas. No espaço da internet, porém, essas novas formas de sociabilidade pelas tecnologias da informação e comunicação e as relações interpessoais no ciberespaço vêm interferir na própria subjetividade humana, pois o ciberespaço requer parâmetros específicos de sociabilidade. Há um novo norte em relação ao produto das relações humanas mediatizadas pela revolução tecnológica, impondo novas formas de pertencimento destituídas da materialidade dos lugares, nos quais podemos definir como sociabilidade nossa própria imagem, tudo aquilo que representamos ou deixamos transparecer às pessoas. Na internet, podemos pertencer a um lugar que não existe e, embora possa ser um lugar com certo vazio de afetividade, dá sentido a um tipo de relação social por meio de uma localização virtual cujo acesso e endereço não são físicos e, sim, virtuais. Nosso comportamento, portanto, depende em grande parte daquilo que pretendemos comunicar aos outros, porém nem sempre aparentamos aquilo que somos e tampouco somo vistos como gostaríamos. A preocupação com o que os outros pensam a nosso respeito é parte importante das relações entre os seres humanos, tanto porque fazemos de tudo para pertencer a algum grupo específico, como para sermos aceitos. Podemos ver nisso o recente caso do desafio da baleia azul, apontado como um dos responsáveis pelo suicídio de alguns jovens no país. No desafio, usuários seriam convidados para entrar em grupos específicos, e a partir de então seriam estimulados a finalizar alguns desafios perigosos. Chantageados e, sob pena de morte de algum membro dos familiares, cedem aos desafios, entre os quais o suicídio. Esse era o desafio máximo proposto - a única saída que os integrantes viam para sair dessa chantagem constante.

Fonte: Wikimedia Commons

A partir desse exemplo, podemos ver que a expansão da internet tem proporcionado novas formas de dinâmica social e interações nem sempre positivas, pois podem gerar problemas como exclusão, isolamento social, bem como o cyberbullying, que é o bullying no espaço virtual. Ainda que o cyberbullying, em um primeiro momento, não se manifeste por meio de agressões físicas, muitas vezes esse comportamento é visto como um crime menos violento, apesar de ele ter implicações tão ou mais graves que o bullyng físico. O dano é psicológico, fato que não impede de atingir o plano físico.

Um exemplo recente é o caso de preconceito sofrido pela filha adotiva do casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, em que após uma foto postada no instagram da famosa, a filha foi atacada com comentários racistas, decorrentes de um preconceito e discriminação que ainda rondam nossa sociedade.

A08  Sociabilidade no ciberespaço

Sabemos que esse bullying no plano virtual é imbricado de ameaças de todas as formas, inclusive de morte, bem como publicação de informações pessoais, muitas vezes íntimas, o que coloca a vítima em uma posição de constrangimento, e riscos recorrentes.

Figura 02 - Foto do casal com a filha, vítima de racismo na internet.

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Sociologia

Fonte: Wikimedia Commons

Os ataques sofridos por meio do cyberbullying são geralmente ligados às características pessoais da vítima, denegrindo sua imagem e afetando sua autoestima, sua personalidade e seu psicológico. Tais ataques podem ser permanentes uma vez que todas as informações circulam de forma tão veloz, que, mesmo que tiradas do ar, muitas pessoas acabam fazendo cópias das postagens, e assim, passam a usá-las de várias maneiras conta a vítima. Outro desafio desse tipo de ataque é o fato de o agressor nem sempre ser identificado, e a impessoalidade pode ser um dos agravantes do cyberbullying, já que, quando não parte para o plano das agressões físicas, não há contato físico e direto com a vítima. Nesse sentido, podemos ver que as relações interpessoais ficam facilitadas no ciberespaço, pela simulação da vida real, fazendo com que haja lugar para as falsas identidades. No mundo real, vivemos Figura 03 - A violência virtual tem impacto real na vida de quem a sofre. cercados pelo sentimento de medo, pela instabilidade social e afetiva. No ciberespaço vagamos com uma falsa liberdade, sem os obstáculos da vida real, e é nesse meio que precisamos repensar valores e atitudes no ciberespaço. É claro que temos todo esse lado perigoso e arriscado que a internet provoca, mas seria desleal não lançar comentários acerca de tudo que a internet nos trouxe de bom, possibilitando-nos inúmeras aproximações, que sem ela seria impossível. Hoje, com um simples toque no celular, podemos falar, em tempo real, com quem está do outro lado do mundo, podemos fazer compras sentado no sofá da nossa casa, bem como assistir a filmes e séries sem sair do conforto de nossa casa. Podemos ver que a interconectividade exige de ambas as partes uma atenção sintonizada com o outro, o que infelizmente muitas pessoas, fisicamente próximas não estabelecem umas com as outras. É a famosa frase que tanto ouvimos em meio à sociedade em rede: “a internet nos aproximou de quem está longe, e nos distanciou de quem está próximo”. Porém, situações em que pessoas são superficiais e ligeiras nos encontros casuais existem independentes do uso recente da internet.

A08  Sociabilidade no ciberespaço

Ao analisar o surgimento e desenvolvimento da internet como mídia de massa, podemos nos questionar e provocar uma reflexão sobre até que ponto o avanço tecnológico satisfaz as necessidades de cada indivíduo, pois, apesar de todo avanço e vantagens em termos de acessibilidade, flexibilidade e interatividade, a digitalização ainda não chega a todas as classes e camadas sociais. Esse fenômeno é intitulado de analfabetismo digital, o que pode criar um abismo maior entre as diferentes classes sociais, causando um cenário de desigualdade maior quanto ao acesso virtual, que separa o mundo entre os que têm acesso à comunicação e ao poder e os que, por não estarem incluídos ao ciberespaço, não têm o mesmo acesso. Aí nos perguntamos: será que de fato temos uma sociedade democrática, na qual todos são agentes receptores e produtores de informação? Essa indagação nos propõe pensar sobre as comunicações de massa, e como elas nos influenciam a todo instante, exercendo um papel fundamental na formação da opinião pública, influenciando de forma positiva, mas também negativa. O termo comunicação de massa se explica pela ideia de transmitir e disseminar algo para o maior número de público, assim, podemos considerar que a televisão, o rádio, os jornais e a internet são mídias de comunicação de massa, o que torna as informações mais ágeis e amplas. 78


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Esse meio de comunicação pode ser algo muito vantajoso e eficiente, porém, temos que também enxergar o que de negativo isso pode nos trazer, pois esses veículos de informações, antes de qualquer coisa, são formadores de opiniões, podendo agir de forma a impor alguma opinião individual, influenciando favorável ou desfavoravelmente seus receptores, trazendo mensagens prontas e sem reflexão, beirando o senso comum, integrando o que chamamos de indústria cultural. Na tentativa de se exaltar mais o lado positivo das comunicações de massa, podemos pensar, como saída, maior controle no sentido de organizar e regulamentar esses meios, para que a impressa cumpra seu papel de forma democrática, e para que a liberdade de expressão seja exercida de forma equilibrada, de maneira tal que as informações sejam lançadas de forma a promover questionamentos, para se romper paradigmas, e integrar cada vez mais pensamentos críticos e reflexivos no nosso cotidiano. O fato é que há uma tendência de monopólio das grandes empresas de comunicação e o processo de globalização e desenvolvimento da sociedade em rede tão veloz torna a sociedade mais dependente desse modelo de comunicação da opiniões prontas, o que seria um verdadeiro risco nesse processo de desenvolvimento e de formação.

A08  Sociabilidade no ciberespaço

Fonte: nmedia / Shutterstock.com

Podemos ver, portanto, que a internet, como integrante dessas mídias de comunicação de massa, traz consigo o ciberespaço como novo âmbito de socialização, um processo que acontece em um lugar não palpável, cheio de possibilidades, encantos e riscos, e que cresce cada dia mais como um novo campo de relações, contatos e interações sociais muito mais amplos, propiciando o desenvolvimento humano social a outros níveis de experimentos e observação de si mesmo e do outro.

Figura 04 - Comunicação de massa.

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Sociologia Gabarito questão 01 Não é somente o valor de uso que determina se uma mercadoria é desejável ou não, mas também o seu valor de troca e valor simbólico. Ainda que o BlackBerry funcione tão bem quanto outros celulares, ele não possui o mesmo valor simbólico que outros aparelhos similares.

Gabarito questão 02. Somente a alternativa [E] é incorreta. Nas sociedades ditas “tribais”, os papéis sociais são bem definidos, havendo pouca margem de escolha para os membros do grupo se diferenciarem como queiram. Não por acaso, Durkheim estuda as sociedades “primitivas” para poder compreender a sociedade moderna.

Exercícios de Fixação 01. Rachel Crosby, representante de vendas em Los Angeles, fala do seu telefone BlackBerry como se estivesse se referindo a um parente incômodo. “Tenho vergonha dele”, disse Rachel, que parou de usar seu aparelho em festas e conferências. Ela diz que, nas reuniões, coloca seu BlackBerry escondido sob o iPad, temendo que os clientes o vejam e a julguem. Antes o BlackBerry era exibido orgulhosamente pela elite e os abastados, mas aqueles que ainda o usam dizem que o aparelho virou imã para zombarias e escárnio das pessoas que usam o iPhone e os mais novos aparelhos Android. PERLROTH, Nicole. O Estado de S.Paulo. Disponível em: <http://www. estadao.com.br/noticias/impresso,blackberry-vira-a-ovelha-negra-dos-smartphones-,946679,0.htm>. Acesso em 17 out. 2012.

Sobre a forma como o consumo é percebido socialmente, assinale a alternativa incorreta. a) O consumo está relacionado ao reconhecimento social. b) O consumo relaciona-se com a identidade social dos indivíduos. c) O valor de uso é o principal determinante do valor das mercadorias. d) A forma como as mercadorias são valorizadas pode ser interpretada pelo conceito marxista de fetichismo. e) As classes sociais tendem a possuir padrões de consumo diversos.

A08  Sociabilidade no ciberespaço

02. (Uncisal AL) O homem enquanto espécie e a própria humanidade têm na vida em sociedade uma necessidade vital. Em meio a contatos e processos, os indivíduos se aproximam ou se afastam constituindo diferentes formas de associação que atribuem status e papéis aos seus membros, forjando uma ampla rede mantida por mecanismos de sustentação social eficientes. As opções trazem afirmações verdadeiras em relação aos agrupamentos, processos e mecanismos de sustentação social, exceto: a) em uma realidade marcada pela diversidade, fenômenos sociais como o bullying e a homofobia passaram a ser debatidos intensamente por grande parte da população brasileira. b) nas sociedades contemporâneas o conflito entre pais e filhos aumentou o grau de complexidade. A partir de uma multiplicidade de valores novos e opostos, o choque de gerações se tornou mais visível e intenso. c) enquanto grupo social, a escola apresenta a incidência de contatos primários e secundários, sendo classificada como grupo intermediário. d) o controle da sexualidade feminina, exercido até algum tempo atrás, exemplifica como os valores atuam enquanto mecanismo de sustentação social e dominação de um grupo sobre outro. e) nas sociedades tribais não há como se definir os papeis sociais e diferenciar o status de cada indivíduo. Nelas os mecanismos de sustentação são inexistentes.

80

02 + 04 = 06.

03. (Uem PR) Sobre as instituições responsáveis pelos processos de socialização dos indivíduos, assinale o que for correto. 01. A família deixou de ser uma instituição de socialização primária relevante, pois no século XXI não transmite mais as habilidades necessárias para o agir em sociedade. 02. A escola é responsável pela socialização secundária dos indivíduos, atuando tanto na formação profissional dos estudantes quanto na transmissão de valores e normas compatíveis com a estrutura social vigente. 04. Os grupos de colegas e amigos formados na adolescência e na juventude podem ser definidos como instituições de socialização importantes, pois desempenham papel cada vez mais relevante no processo de formação das identidades sociais. 08. Os meios de comunicação, apesar de cada vez mais presentes na vida moderna, não interferem no processo de socialização primária e secundária, pois a exposição aos seus conteúdos sempre é mediada e controlada pela família e pela escola. 16. O processo de socialização se encerra no final da juventude, não se estendendo pela vida adulta. Nessa etapa da vida individual adulta, as habilidades e valores necessários para viver em sociedade já estão de tal forma cristalizados que não podem mais ser alterados. 04. Leia. Sei que os anos vão passando e eu amando mais você. Dedicando sempre um amor sem fim, bons momentos de paixão e de felicidade. E eu sempre acreditei que o seu amor era verdade. Você sempre jurou a mim eterno amor, que um dia casaria comigo e seria feliz. Mas você mentiu, e eu vi que estava errado. Um dia vi você sair com o ex-namorado. Eu vou te deletar, te excluir do meu Orkut. Eu vou te bloquear no MSN. Não me mande mais scraps, nem e-mails, Power Point. Me exclua também e adicione ele. Ewerton Assunção. Eu vou te excluir do meu Orkut.

A música, acima, acaba por apresentar um aspecto novo da socialização existente na sociedade contemporânea. Que aspecto é esse? a) O aumento da importância da internet como mediadora das relações sociais. b) A relevância sociológica do amor para as relações amorosas. c) A traição como fato social total. d) A persistência da traição nas relações sociais. e) O desejo pela posse de meios de comunicação. Gabarito questão 04 A internet cria novos ambientes de socialização e novas regras sociais que devem ser seguidas. Ainda que a música pareça uma simples paródia ou brincadeira, ela consegue evidenciar a importância da internet para as relações sociais contemporâneas.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios Complementares 01. (UFPR) Para viver em sociedade, todo indivíduo precisa

c) “Nova era demográfica de declínio populacional não

internalizar determinados conjuntos de normas sociais e

catastrófico pode estar alvorecendo. Fome, epidemias,

transformá-los em sua vida prática em comportamentos

enchentes, vulcões e guerras cobraram seu preço no

que são aceitos socialmente. Esse processo na Sociologia

passado, mas que grandes populações não se repro-

compreende o que se chama de socialização.

duzam por escolha individual é uma mudança histórica

Como se desenvolve esse processo de socialização nas sociedades modernas e quais as principais instituições responsáveis por ele?

notável. Na Europa Ocidental, esse padrão está se estabelecendo em tempos de paz, sob condições de grande prosperidade, embora, sejam ainda visíveis oscilações conjunturais, significativas na depressão escandinava

02. (Uel PR) As relações amorosas, após os anos de

do início dos anos de 1990.” (THERBORN, G. Sexo e poder. São Paulo: Contexto, 2006. p. 446).

1960/1980, tenderam a facilitar os contatos feitos e desfeitos imediatamente, gerando uma gama de possibilidades de parceiros e experimentos de prazer. Essa forma

d) “É assim numa cultura consumista como a nossa, que

de contato amoroso tem sido denominada pelos jovens

favorece o produto para o uso imediato, o prazer passa-

como “ficar”. Assim, em uma festa pode-se “ficar” com

geiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam

vários parceiros ou durante um tempo “ir ficando” em

esforços prolongados, receitas testadas, garantias de se-

diferentes situações, sem que isso se configure em com-

guro total e devolução do dinheiro. A promessa de apren-

promisso, namoro ou outra modalidade institucional de

der a arte de amar é a oferta (falsa, enganosa, mas que se

relação. Os processos sociais que provocaram as mudan-

deseja ardentemente que seja verdadeira) de construir

ças nas relações amorosas, bem como suas consequên-

a ’experiência amorosa’ à semelhança de outras merca-

cias para o indivíduo e para a sociedade, têm sido proble-

dorias, que fascinam e seduzem exibindo todas essas ca-

matizados por vários cientistas sociais.

racterísticas e prometem desejo sem ansiedade, esforço

Assinale a alternativa em que o texto explica os sentidos das relações amorosas descritas acima. a) “Hoje as artes de expressão não são as únicas que se propõem às mulheres; muitas delas tentam atividades criadoras. A situação da mulher predispõe-na a procurar uma salvação na literatura e na arte. Vivendo à margem do mundo masculino, não o apreende em sua figura universal e sim através de uma visão singular; ele é para ela, não um conjunto de utensílios e conceitos e sim uma fonte de sensações e emoções; ela interessa-se pelas qualidades das coisas no que têm de gratuito e secreto [...]”. (BEAUVOIR, S. O segundo sexo. 5 ed. São Paulo: Nova Fronteira, 1980. p. 473.)

sem suor e resultados sem esforço. (BAUMAN, Z. Amor líquido. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. p.21-22).

e) “Viver na grande metrópole significa enfrentar a violência que ela produz, expande e exalta, no mesmo pacote em que gera e acalenta as criações mais sublimes da cultura. [...] Nesse sentido, talvez a primeira violência de que somos vítima, já no início do dia, é o jornalismo, sempre muito sequioso de retratar e reportar, nos mínimos detalhes, o que de mais contundente e chocante a humanidade produziu no dia anterior [...]”. (NAFFAH NETO, A. Violência e ressentimento. In: CARDOSO, I. et al (Orgs). Utopia e mal-estar na cultura. São Paulo: Hucitec, 1997. p. 99.)

dizer que os cientistas, quando chegam através do seu

03. (Uel PR) “Socialização significa o processo pelo qual um

conhecimento a esses problemas fundamentais, tentam

indivíduo se torna um membro ativo da sociedade em que

por si próprios compreendê-los e fazem um apelo à sua

nasceu, isto é, comporta-se de acordo com seus folkways e

própria reflexão. Nos próximos anos, por exemplo, após as

mores [...]. Há pouca dúvida de que a sociedade, por suas

experiências do Aspecto, a discussão sobre o espaço e so-

exigências sobre os indivíduos determina, em grande par-

bre o tempo – problemas filosóficos – vai ser retomada”.

te, o tipo de personalidade que predominará. Naturalmen-

(MORIN, E. A inteligência da complexidade. 2. ed. São Paulo: Peirópolis, 2000. p. 37.)

A08  Sociabilidade no ciberespaço

b) “Hoje, no entanto, existe uma renovação, o que significa

te, numa sociedade complexa como a nossa, com extrema heterogeneidade de padrões, haverá consideráveis varia-

Gabarito questão 01 O processo de socialização na sociedade moderna ocorre principalmente através da ação de instituições sociais específicas, tais como a família, a escola e a religião. Ao nascer, o novo indivíduo entra em contato com essas instituições que são responsáveis por ensinar a ele o conjunto de normas e regras necessárias para a vida social. Assim, através de uma relação, sobretudo afetiva, a criança aprende uma língua, os costumes, comportamentos e regras que serão a matriz para toda a sua vivência e percepção de si em sociedade.

81


Sociologia

ções. Seria, portanto, exagerado dizer que a cultura produz

afeto e do exercício da sociabilidade, essa mesma noite propi-

uma personalidade totalmente estereotipada. A sociedade

cia comportamentos que revelam a transitoriedade, a seriação

proporciona, antes, os limites dentro dos quais a personalida-

e o deslocamento afetivo como um novo mecanismo de agru-

de se desenvolverá”. Fonte: KOENIG, S. Elementos de Sociologia. Tradução de Vera Borda, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1967, p. 70-75.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar: a) Existe uma interação entre a cultura e a personalidade, o que faz com que as individualidades sejam influenciadas de diferentes modos e graus pelo ambiente social. b) Apesar de os indivíduos se diferenciarem desde o nascimento por dotes físicos e mentais, desenvolvem personalidades praticamente idênticas por conta da influência da sociedade em que vivem. c) A sociedade impõe, por suas exigências, aprovações e desaprovações, o tipo de personalidade que o indivíduo terá. d) O indivíduo já nasce com uma personalidade que dificilmente mudará por influência da sociedade ou do meio ambiente. e) São as tendências hereditárias e não a sociedade que determinam a personalidade do indivíduo.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a sociabilidade

04. (Ufu MG) James Dean, astro do filme “Juventude Transviada” (1955), foi um dos ícones do estilo de vida jovem de sua época, misturando rock and roll e rebeldia. Atualmente, outros estilos e influências musicais marcam o cenário jovem mundial ao lado do rock, como a música eletrônica, o rap, o soul, o funk, o hip hop, o samba, o punk e outros. Entre as alternativas a seguir, assinale a que não se refere à relação entre música e juventude. a) O gosto musical refere-se exclusivamente a escolhas e preferências individuais. b) Os padrões de consumo musicais estão associados a padrões estéticos e culturais.

I.

As práticas assinaladas entre os jovens identificam-se ao que se definiu como pós-modernidade, isto é, relações fluidas, marcadas pela instantaneidade e por rupturas contínuas com referenciais pré-estabelecidos.

II.

O comportamento dos jovens que optam pela prática do “ficar” é diferente do estado anômico, analisado por Durkheim, na medida em que as bases da existência social mantêm seu funcionamento normal.

III.

A vida social moderna, ao individualizar os sujeitos, eliminou a necessidade, entre os jovens, de participar de agrupamentos identitários e de estabelecer vínculos sociais com outras pessoas.

IV.

A adoção da prática antissocial do “ficar” é fruto de uma juventude sem valores morais, como família, tradição e propriedade privada, presentes desde os primórdios da humanidade.

Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 06. (Unicentro PR) A respeito dos estudos sobre socialização, está correto o que se afirma em a) O primeiro grupo social fundamental na socialização é o religioso, representado pela Igreja. b) O processo de maturação biológica e o desenvolvimento in-

estilos musicais pode traduzir formas de resistência polí-

fantil necessitavam de intervenções de adultos, o que sem-

tica e cultural.

A08  Sociabilidade no ciberespaço

moderna, considere as afirmativas a seguir.

c) O engajamento dos indivíduos em grupos relacionado a

d) Os estilos musicais podem nos dizer muito acerca da constituição de identidades individuais e coletivas entre jovens. 05. (Uel PR) Leia o texto a seguir. “O primeiro beijo é sempre o último”. Assim um informante define, com certa nostalgia, o surgimento de uma nova rotina na prática de “ficar” entre os jovens ao longo da night. “Ficar” é essencialmente beijar, beijar em série, beijar muito. O primeiro

82

pamento dos jovens. (ALMEIDA, M. I. M. de. “Guerreiros da noite - cultura jovem e nomadismo urbano”. In: Ciência hoje, v. 34, n. 202, p. 28.)

pre será igual, independente das diferenças culturais. c) O processo de socialização termina quando o indivíduo atinge a maioridade e entra no mercado de trabalho. d) A sociologia postula a existência de uma natureza infantil que explica a igualdade nas condições de ser criança. e) A internalização do social e a sua percepção da realidade, como a primeira socialização, ocorrem dentro do grupo familiar, sendo, assim, decorrentes da classe social da família.

beijo, marcado por algo absolutamente fugaz, registro imediato

07. (Enem MEC) Um volume imenso de pesquisas tem sido produ-

do tátil, desliga--se do que outrora era ritual do enamoramen-

zido para tentar avaliar os efeitos dos programas de televisão.

to, prelúdio de uma trajetória sentimental. [...] No campo do

A maioria desses estudos diz respeito a crianças - o que é bas-


Ciências Humanas e suas Tecnologias Gabarito questão 08 Além da família, da escola e da igreja, há também como o primeiro exemplo, a influência que os meios de comunicação de massa exercem na formação individual da criança. A entrada da mulher no mercado de trabalho também é um exemplo e não dá opção da mesma de estar integralmente custodiando a educação de seus filhos, assim, acaba deixando à creche ou à TV a responsabilidade dos cuidados com a criança.

tante compreensível pela quantidade de tempo que elas pas-

04. A indústria da cultura, por meio da imprensa esportiva, opera

sam em frente ao aparelho e pelas possíveis implicações desse

um processo de produção para eventos futebolísticos como a

comportamento para a socialização. Dois dos tópicos mais pes-

Copa do Mundo, que contribuem para o obscurecimento das

quisados são o impacto da televisão no âmbito do crime e da violência e a natureza das notícias exibidas na televisão.

grandes diferenças internas existentes entre os brasileiros. 08. A criação da imagem do Brasil como o país do futebol mos-

GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.

tra que a nação é uma realidade construída que não se

O texto indica que existe uma significava produção científica

16. Para grande parcela da imprensa esportiva brasileira, o

sobre os impactos socioculturais da televisão na vida do ser hu-

futebol se apresenta como um evento de ordemcultural

mano. E as crianças, em particular, são as mais vulneráveis a

autônoma, desvinculado de aspectos da vidapolítica e eco-

essas influências, porque a) codificam informações transmitidas nos programas infantis por meio da observação. b) adquirem conhecimentos variados que incentivam o processo de interação social. c) interiorizam padrões de comportamento e papéis sociais com menor visão crítica. d) observam formas de convivência social baseadas na tolerância e no respeito. e) apreendem modelos de sociedade pautados na observância das leis.

nômica brasileira.

confunde com o Estado Nacional.

10. (Udesc PR) Ao longo do século XX, e mais especialmente a partir dos anos 1950, a juventude tornou-se uma importante questão social. No Brasil contemporâneo, as demandas da juventude encontram-se inseridas no debate público nacional, fazendo parte das agendas governamentais. Escolha um entre os vários problemas que mais atingem os jovens brasileiros e desenvolva uma análise clara e objetiva sobre ele. 11. Veja a figura abaixo:

08. (UFPR) Normalmente, quando se fala de socialização, se pensa no processo de interiorização de normas e de comportamentos sociais pela criança. Durkheim afirma que a socialização primária da criança, que ocorre nos primeiros anos de vida, é de responsabilidade da família, e a socialização secundária se faz em instituições como a igreja e a escola.

09. (Uem PR) Considerando a citação a seguir e o debate sociológico sobre identidade nacional e indústria cultural e cultura de massas, assinale o que for correto. 01 + 02 + 04 + 08 + 16 = 31. “O tempo das Copas do Mundo é, assim, o tempo da nação, tal como ela se apresenta através do futebol. E a imprensa esportiva opera com este pressuposto, possibilitando a emergência de um nível mais englobante de identidade social em que todas as diferenças (de classe, de posição, de etnia, regionais etc.) são tornadas secundárias” (GUEDES, Simoni Lahud. O Brasil no campo de futebol. Niterói-RJ: EDUFF, 1998,p.49).

01. Uma análise sociológica do futebol revela que ele entrelaça aspectos culturais e sociais importantes para compreender-se a construção da identidade nacional brasileira. 02. Particularmente durante as Copas do Mundo, cria-se um sentimento de pertencimento a uma nação de iguais, que é representada pelo selecionado brasileiro nos campos de futebol.

A partir dela, assinale a alternativa incorreta. a) A percepção das gerações está relacionada à idade social dos indivíduos. b) A charge demonstra como as formas de socialização mudam com o passar das gerações. c) Devido às transformações tecnológicas, as formas mais novas de comunicação podem se tornar obsoletas com o passar das décadas. d) As modernas formas de comunicação deixarão de existir por causa das alterações climáticas naturais do planeta. e) Uma das formas de definir o presente é através da noção de “modernidade líquida”. Gabarito questão 10 Um dos principais problemas que atinge boa parte dos jovens brasileiros é a questão do emprego, especialmente a entrada no mercado de trabalho. Não obstante o alto crescimento da economia brasileira e a melhora dos índices sociais nos anos recentes, parte considerável dos jovens ainda tem que trabalhar para complementar a renda familiar. Entretanto, estes jovens trabalhadores não estão capacitados a assumir postos de boa remuneração ou que, ao menos, permitam uma perspectiva de crescimento profissional. Em virtude de problemas ainda não sanados no sistema de ensino brasileiro, especialmente no que se refere ao ensino médio e ao acesso a boas universidades, a maior parte dos jovens ainda não consegue uma formação educacional compatível com as exigências do mercado de trabalho. Configura-se, assim, um cenário paradoxal, no qual há uma necessidade por parte das empresas em preencher cargos de início de carreira, mas jovens sem a capacitação necessária para ocupá-los. Dessa forma, ainda é considerável a parcela de jovens empregada em trabalhos precários – muitas vezes informais e, portanto, sem garantia de direitos trabalhistas –, que além de serem degradantes em muitos casos, ainda colaboram para a evasão escolar ao não permitirem a conciliação do trabalho com os estudos – tanto aqueles de formação básica quanto os de qualificação profissional.

Gabarito questão 07 As crianças não respondem por seus atos, possuem menor senso crítico e são, portanto, mais vulneráveis às influências dos programas de televisão. Em muitos países, por exemplo, está proibido o direcionamento da publicidade ao público infantil, pois as crianças não têm condições de decidir sobre suas necessidades de consumo.

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A08  Sociabilidade no ciberespaço

Considerando que vivemos no século XXI, que outras instituições participam hoje da socialização da criança? Cite duas e justifique sua escolha.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

Exercícios de Aprofundamento 01. (Uema MA) A Sociologia, tradicionalmente, é a ciência que estuda a sociedade. Expressão abstrata, visto que não há uma definição precisa. Mas, a literatura indica que toda sociedade deriva de grupos sociais, compreendidos como “um agregado de seres humanos no qual (1) existem relações específicas entre indivíduos que o compreendem e (2) cada indivíduo tem consciência do próprio grupo e de seus símbolos”. É necessário, portanto, que haja interação e identidade entre os membros do grupo. OUTHWAITE, William; BOTTOMORE, Tom (editores). Dicionário do pensamento social do século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2008.

Um exemplo de grupo social é (são) a) multidão em um domingo na praia. b) pessoas em uma fila de cinema. Gabarito questão 02 c) alunos em uma sala de aula. Teoria enquanto conjunto de conceid) jovens em festival de música. tos/categorias analíticas originadas a partir de generalizações de fenômee) indivíduos lendo jornal. nos sociais. Método enquanto pro-

cedimento de investigação científico.

02. (UFPR) A Sociologia é uma forma objetiva de interpretação dos processos sociais e da vida social. A objetividade da Sociologia requer do sociólogo a utilização, entre outros, de dois instrumentos fundamentais: uma teoria consistente e um método adequado. O que se entende por teoria e o que se entende por método nas Ciências Sociais? 03. (UEG GO) Os autores clássicos das Ciências Sociais, Émile Durkheim e Max Weber, definem como objeto de estudo da Sociologia, respectivamente: a) a ação social e fato social. b) a luta de classes e o fato social. c) o fato social e a ação social. d) o fato social e a luta de classes. 04. (Unioeste PR) “Os sociólogos estabelecem distinção entre a socialização primária e a socialização secundária. A socialização primária é o processo por meio do qual a criança se transforma num membro participante da sociedade. A socialização secundária compreende todos os processos posteriores, por meio dos quais o indivíduo é introduzido em um mundo específico. Qualquer treinamento profissional, por exemplo, constitui um processo de socialização secundária.” (BERGER, P. L. e BERGER, B., “Socialização: como ser membro da sociedade”. In FORACCHI, M. M. e MARTINS, J. S., Sociologia e Sociedade – Leituras de introdução à Sociologia. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1999. p. 213-4)

84

Considerando o texto acima reproduzido, é CORRETO afirmar que a) a socialização é um fenômeno que ocorre apenas nos anos inciais da vida. b) a socialização primária é aquela que ocorre no ambiente familiar e a secundária é aquela que ocorre apenas nas escolas. c) as pessoas nascidas em famílias bem estruturadas não precisam passar por processos de socialização secundária. d) apenas as sociedades industrializadas apresentam processos de socialização secundária. e) a socialização é um processo que se inicia quando nascemos e nunca chega ao fim. 05. (UPE PE) A vida em comunidade permite que as pessoas tenham uma maior aproximação física e afetiva, possibilitando um vínculo social denominado pela Sociologia de solidariedade. Para que haja uma ligação solidária entre os indivíduos, alguns aspectos são importantes. Sobre os aspectos que mantêm os membros de uma comunidade integrados, assinale a alternativa INCORRETA. a) A homogeneidade é uma característica das comunidades e se torna importante para seus membros, pois ela representa um conjunto semelhante de objetivos para a vida social. b) A ligação entre os membros de uma família é mais forte atualmente que há cem anos, pois a sociedade contemporânea possui mais meios de tornar as famílias integradas e, consequentemente, a comunidade. c) Os laços familiares são caracterizados como voluntários e emocionais, que permitem a formação de valores como o respeito mútuo. Isso é importante para a manutenção de vínculos comunitários de solidariedade. d) As comunidades localizadas geograficamente em morros têm como principal característica a nitidez, pois há um claro limite territorial. e) Os membros das comunidades que migram para outras regiões geográficas levam consigo elementos socioculturais de suas interações anteriores, e estas se constituem em aspecto importante para as novas socializações. 06. (UPE PE) Leia o texto a seguir: Acordei pensando... Que não agimos apenas por nosso desejo Que sempre fazemos as coisas pensando em outros... Que nossas ações só existem em relação a nossa família, vizinhança, cidade


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Disponível em: http://manguevirtual.blogspot.com.br/search/label/POESIA

Acerca dos aspectos que definem o objeto de estudo sociológico contido no texto, assinale a alternativa INCORRETA. a) A coerção é uma característica importante para adaptar os indivíduos às regras da sociedade em que vivem. b) A educação dos indivíduos é uma forma utilizada pela sociedade para internalizar, nas pessoas, hábitos e costumes do grupo social. c) A ação individual é importante para a formação da coletividade, mas a vontade individual é fundamental para a constituição da solidariedade. Sem esta não existe sociedade. d) A generalidade é um aspecto importante nas ações coletivas, pois as regras e normas sociais são comuns a todos os membros de uma sociedade. e) As instituições sociais são responsáveis pela socialização e pelo controle das ações individuais. Elas ensinam os indivíduos a seguirem as regras sociais que lhes são exteriores. 07. (Unicentro PR) As brincadeiras de menino, em geral, envolvem atividades ao ar livre, como bicicleta, pipa ou skate. As meninas brincam de casinha. Isso é comum porque, antigamente, era papel do homem sair de casa para trabalhar, enquanto às mulheres cabiam os cuidados com o lar”, constata a pedagoga Maria Angela Barbato Carneiro, coordenadora do Núcleo de Cultura, Estudos e Pesquisas do Brincar da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. ECHEVERRIA, Malu. Brincadeira não tem sexo: meninos e meninas podem — e devem — brincar do que tiverem vontade. In: Revista Crescer. ed. 139, jun. 2005. [online] Disponível em: <http://super.abril.com.br/ superarquivo/2003/conteudo_275078.shtml>. Acesso em: 29 jan. 2009.

Sobre o processo de socialização e as relações de gênero, é correto afirmar que: a) O termo “sexo” distingue as diferenças anatômicas, e o termo “gênero”, as diferenças fisiológicas entre homens e mulheres. b) As relações de gênero são universais e não dependem da construção que cada cultura tem em relação às diferenças sexuais. c) O processo de socialização disciplina os corpos quanto aos modos de agir, porém esse aprendizado não interfere nos modos de ser dos sujeitos sociais. d) O gênero é uma construção social que, através de organismos sociais, como a família e a mídia, atribui papéis e identidades sociais a homens e mulheres. e) As brincadeiras de crianças, assim como o modo como se comportam, demonstram que os papéis sociais são definidos antes mesmo do encontro com as instituições sociais. 08. (Unicentro PR) A respeito dos estudos sobre socialização, está correto o que se afirma em: a) O primeiro grupo social fundamental na socialização é o religioso, representado pela Igreja.

b) O processo de maturação biológica e o desenvolvimento infantil necessitavam de intervenções de adultos, o que sempre será igual, independente das diferenças culturais. c) O processo de socialização termina quando o indivíduo atinge a maioridade e entra no mercado de trabalho. d) A sociologia postula a existência de uma natureza infantil que explica a igualdade nas condições de ser criança. e) A internalização do social e a sua percepção da realidade, como a primeira socialização, ocorrem dentro do grupo familiar, sendo, assim, decorrentes da classe social da família. 09. (Uem PR) “Não podemos deixar de perceber que agimos condicionados pelas experiências que acumulamos no passado. Como nos socializamos via grupos sociais, estes também limitam o espectro de opiniões que podemos suportar. Nossas ações e percepções acerca de nós mesmos são desenhadas pelas expectativas dos grupos dos quais fazemos parte. É por isso que coisas que nos parecem óbvias nada mais são do que um conjunto de crenças que mudam conforme as características dos grupos aos quais nos filiamos” (JUNIOR PAIVA, Yago Euzébio Bueno de. Viver e pensar o cotidiano. In Sociologia. Ciência & Vida. Ano III – Edição 32 – Dezembro/2010, p. 15).

Assinale a(s) alternativa(s) correta(s) sobre o texto acima e sobre os temas que ele aborda. 02 + 04 + 16 = 22. 01. Pode-se concluir do texto que os juízos que fazemos de nós mesmos são falsos, já que é a sociedade que os determina. 02. O fenômeno da socialização está abordado no texto. Ele é utilizado pela Sociologia para designar o aprendizado das normas e das crenças que vigoram numa determinada sociedade. 04. Pode-se concluir do texto que as crenças nutridas pelos indivíduos se constituem objetos de interesse da Sociologia. 08. De acordo com o autor do texto, o indivíduo é livre quando seus valores são construídos autonomamente, independente da sociedade. 16. Se nossas percepções sobre nós mesmos têm origem exterior, elas podem ser consideradas um fato social. 10. (Uem PR) Considerando seus conhecimentos sobre os processos de socialização, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 02 + 08 = 10 01. As redes de amizade não podem ser consideradas agentes de socialização, uma vez que, para ter amigos, é necessário aos seres humanos já estarem plenamente integrados à vida social. 02. A comunicação humana é um dos elementos de socialização. Ela é o produto e também um meio de interação social. Ela depende, em grande parte, da capacidade de imaginar e de se colocar no lugar do outro para entender o ato comunicativo. 04. A socialização é um processo restrito à infância. Os papéis sociais aprendidos nos primeiros anos de vida são os que permanecem e se reproduzem nas instituições sociais. 85

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

Que essas ações, de espírito coletivo, geram solidariedade Que quanto mais amor e relações existirem, mais coletivas serão nossas ações Que os desejos ocultos e egoístas camuflam a infelicidade de quem é incapaz de pensar no coletivo.


Sociologia

08. É possível dizer que a socialização começa logo após o nascimento. Ao chorarem, por exemplo, as crianças interagem com os pais, que lhes providenciam alimento, consolo ou afeição. Tanto para a sociologia quanto para a psicologia, esses são os primeiros movimentos em direção à construção do self, um conjunto de atitudes e de ideias sobre a própria existência e sobre a relação com os outros. 16. Apenas relações face a face podem ser consideradas relevantes nos processos de socialização. Os meios de comunicação de massa ou as recentes tecnologias digitais, embora muitas vezes chamados de interativos, não caracterizam formas significativas de socialização. 11. A opção ‘curtir’, no Facebook, pode revelar muito mais do que se pretende. Uma pesquisa publicada na última segunda (11) mostra que analisar os padrões destas preferências pode dar estimativas surpreendentemente precisas sobre informações pessoais que o usuário não expõe. O estudo examinou 8 000 usuários do Facebook nos Estados Unidos, que, voluntariamente, disponibilizaram suas opções ‘curtir’, perfis demográficos e resultados de testes psicométricos. Aqueles apontados como homossexuais foram classificados como tais não porque clicaram em sites sobre casamento gay, mas por causa de suas preferências musicais e televisivas, por exemplo. Cristãos e muçulmanos foram corretamente classificados em 82% dos casos e uma boa precisão nas previsões foi alcançada nos status de relacionamento e uso de substâncias, entre 65% e 73%.

ção e expansão. A cultura não é estática obu mórbida, seja por fatores históricos, humanos e até mesmo bélicos; ela é capaz de perder, reaver ou absorver novas referências durante o processo de consolidação ou reorganização de uma sociedade.

Disponível em: http://revistaculturacidadania.blogspot.com.br/2013/01/ artigos - Acesso em: julho 2015.

Ao processo cultural descrito no texto acima se dá o nome de A aculturação corresponde ao processo de a) Endoculturação. mudança cultural em que uma determinab) Etnocentrismo. da cultura se modifica na relação com outra. É o único processo que está de acordo c) Desigualdade. com o texto. d) Contracultura. e) Aculturação. 13.

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

Disponível em: <http://folha.com/no1244776>. Acesso em 13 mar. 2013. Adaptado.

Segundo a sociologia, esse tipo de pesquisa serve para demonstrar que: a) As pessoas estão deixando rastros perigosos na internet. b) Somente a psicologia é capaz de analisar o comportamento humano. c) A forma como a pessoa se relaciona nas redes sociais é determinada diretamente pela sua orientação sexual. d) A identidade e o gosto dos indivíduos estão relacionados a características sociais. e) Não há qualquer indício de verdade nas conclusões da pesquisa. 12. (UPE PE) Trata-se de um processo de aquisição, que ocorre por meio de vários grupos de culturas diversas, permitindo que indivíduos de uma cultura aprendam o comportamento ou as tradições de indivíduos de outra cultura. É errado pensar que uma cultura desapareça por completo, após sofrer influências de outra cultura. A cultura morre junto com o seu povo e, muitas vezes, se fortalece quando mescla sua cultura com a de outros povos. Devemos considerar que, mesmo nos tempos feudais e mercantis, nenhum povo conseguia viver constantemente isolado e que a cultura é um processo dinâmico em constante forma86

As figuras acima são tradicionalmente remetidas à mulher e ao homem. Segundo a sociologia, esse tipo de associação simbólica deve-se a: a) um preconceito social, que faz com que os homens nunca possam utilizar roupas femininas. b) uma característica natural, pois em todas as culturas os símbolos de masculinidade e de feminilidade são os mesmos. c) um processo psicológico, que constrói, na mente das pessoas, uma ideia do que é o homem e do que é a mulher. d) um processo escolar, pois é somente na escola que as crianças aprendem as diferenças entre homens e mulheres. e) um processo de socialização que ensina as pessoas a diferenciarem, por meio de certos símbolos, os homens das mulheres.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Gabarito questão 14 As mães ainda são as principais responsáveis pela socialização das crianças em nossa sociedade; particularmente naqueles segmentos em que os homens não assumem os seus filhos, deixando-os a cargo das mulheres. Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, submetida à baixa remuneração e/ou grandes períodos de horas fora de casa, elas terminam por se distanciar dos filhos. O que acaba influenciando no processo de socialização primária das crianças.

15. Hoje em dia, muitos pais acreditam que, a partir de certa idade, devem delegar a educação de seus filhos à escola, pois já cumpriram seu papel até ali, e nada podem acrescentar para o filho, não melhor do que faria o colégio. A questão é que estão enganados. Os pais são os melhores professores de seus filhos, e sempre serão. Mas quando digo professores, não me refiro aos ensinamentos de matérias como o português ou a matemática, e sim ao desenvolvimento de virtudes e capacidades relacionadas a todos os âmbitos de seu ser, pois sabemos que o ser humano não é apenas composto por seu lado racional (aqui me refiro aos aprendizados puramente escolares). Fonte: <http://www.serfamilia.com.br/educacao/ uma-parceria-ideal.html>. Acesso em 03 nov. 2012.

O discurso acima procura evidenciar a importância da família para a educação da criança. Do ponto de vista sociológico, o que está ocorrendo é: a) A democratização do ensino público. b) A afirmação da autonomia individual em detrimento da sociedade. c) A defesa da importância da família para a primeira socialização dos indivíduos. d) A divisão da instituição educacional. e) O aumento da anomia social. 16. Aprender a mexer com dinheiro é importante na educação de uma criança V – V – F – V – F A educação não se restringe à escola. É fundamental que ela seja dada em casa e mexer com dinheiro talvez seja um dos pontos mais importantes da educação de uma criança. A mesada é um dos pontos de grandes discussões em todas as famílias. Quanto dar? A definição do valor da mesada deve levar em conta diversos fatores. O círculo de amizades de seus filhos é um deles. Ele não deve nem ser o “milionário” nem o “mendigo”. Procure se informar sobre os hábitos financeiros dos amigos dos seus filhos para que eles não se sintam deslocados no grupo. Fabio Gallo. Aprender a mexer com dinheiro é importante na educação de uma criança. In: Estadão, 28 mai. 2012. Disponível em: <http://www. estadao.com.br/noticias/...878857,0.htm>. Acesso em 23 ago. 2012.

A partir do texto acima, analise as afirmações a seguir e julgue-as como Verdadeiras (V) ou Falsas (F). ( ) A educação corresponde a uma forma de preservar a sociedade, segundo Émile Durkheim. ( ) Ensinar as crianças a mexerem com dinheiro traz para a primeira socialização um aprendizado que, no geral, pertence à segunda socialização. ( ) As crianças que são socializadas aprendendo a mexer com dinheiro serão mais ricas que as que não são socializadas dessa maneira. ( ) O ensino a mexer com dinheiro faz sentido porque vivemos em uma sociedade capitalista.

( ) Não ser “milionário” nem ser o “mendigo” é importante para que a criança não sofra maus tratos dos adultos.

17. A socialização primária é a primeira socialização que o indivíduo experimenta na infância, e em virtude da qual torna-se membro da sociedade. A socialização secundária é qualquer processo subsequente que introduz um indivíduo já socializado em novos setores do mundo objetivo de sua sociedade. BERGER, P.; LUCKAMNN, T. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 175.

A respeito do conceito de socialização e das diferenças entre socialização primária e socialização secundária, considere as seguintes afirmativas: I. A socialização primária é mais forte e coercitiva que a secundária. II. O processo de aprendizado na socialização primária é carregado de afetividade. III. A socialização secundária está geralmente associada à divisão do trabalho. IV. A socialização secundária é independente da socialização primária. V. A socialização independe das instituições sociais. Estão corretas as afirmativas: a) I, II e III, apenas. b) I, II e IV, apenas. c) II, IV e V, apenas. d) I, II, III e IV, apenas. e) Todas as afirmativas estão corretas. 18. (Unioeste PR) De acordo com Richard T. SCHAFER, em Sociologia (São Paulo, 2006), “a língua é a fundação de todas as culturas, é um sistema abstrato de significados, de palavras e símbolos para todos os aspectos da cultura.” Nesse sentido, a palavra “pai”, por exemplo, revela uma série de aspectos da estrutura de parentesco, tais como sexo, idade, atribuições, deveres, inserção numa cadeia hierárquica etc. Isso porque as palavras não são sons escolhidos aleatoriamente, mas um meio de pensar e denominar a realidade, construídas culturalmente, referindo-se a situações concretas que envolvem sentimentos, obrigações, alianças, conflitos, hostilidades etc. Partindo da análise do texto transcrito acima, assinale a alternativa INCORRETA. a) A língua comunica às pessoas as mais importantes normas, os valores e as sanções de uma cultura. b) O idioma precede (gera) o pensamento, assim, os símbolos das palavras e a gramática de um idioma organizam o mundo para nós. c) A língua falada por um grupo cultural é mais do que uma descrição da realidade, ela também serve para moldar a realidade dessa cultura. d) Um idioma pode moldar a forma como vemos, experimentamos, cheiramos, sentimos e ouvimos. Pode influenciar a forma como pensamos as pessoas, as ideias e objetos à nossa volta. e) A linguagem para o indivíduo humano, como para a raça humana, é uma coisa inteiramente hereditária e não adquirida, completamente interna e não externa, é um crescimento orgânico e não um produto social. 87

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

14. (UFPR) De acordo com estudos recentes do Instituto de Pesquisas Aplicadas (IPEA), houve um aumento significativo de mulheres chefes de família no Brasil nos últimos anos. Como tal fenômeno pode repercutir no processo de socialização das crianças?


FRENTE

A


Wikimedia Commons

SOCIOLOGIA Por falar nisso Diante da diversidade cultural e de todas as suas formas de expressão, a Antropologia propõe uma compreensão e interpretação do outro para que se entenda as diversas culturas em todas as suas nuances. Isso se traduz em um olhar holístico, permitindo-nos enxergar a cultura do outro sem determinismos ou julgamentos. Diversidade cultural é agir no sentido da valorização de cada parte desse todo. É enxergar de tal maneira que a questão cultural esteja no nosso cotidiano, e entendê-la faz parte da construção de um pensamento e de uma sociedade mais democrática. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A09 A10 A11 A12

Conceito antropológico de cultura e a diversidade cultural...........90 As culturas e identidades multifacetadas........................................98 Gênero, sexo e suas variadas expressões......................................106 Orientação sexual: desigualdades e discriminação.......................116


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A09

ASSUNTOS ABORDADOS nn Conceito antropológico de cultura

e a diversidade cultural

CONCEITO ANTROPOLÓGICO DE CULTURA E A DIVERSIDADE CULTURAL A Antropologia, como vimos em aulas anteriores, é uma ciência que integra as chamadas Ciências Sociais. É uma ciência que elegeu a cultura humana e seus múltiplos desdobramentos com o seu objeto de estudo principal focando seus estudos inicialmente em povos considerados exóticos, geralmente situados fora do ambiente dos espaços urbanos. Já nos estudos contemporâneos, há discussões que englobam todos os âmbitos exaltando as mais diversas das infinitas culturas. Mesmo com a globalização, sabemos que o mundo continua marcado por fronteiras, principalmente as que dizem respeito às diferenças sociais, culturais, políticas e econômicas. A antropologia é a ciência social que melhor explica essa diversidade e a sua capacidade de sempre reconhecer e interpretar o lugar do outro. Para tal, é necessário entender o conceito de cultura, que foi muito explorado e discutido pelos antropólogos. Uma referência importante para os primeiros debates acerca do termo foi feita no livro Primitive Culture (1871), de Edward Tylor, em que o autor vê a cultura humana como única. Com essa concepção universalista, embasado na ideia de uma unidade psíquica da humanidade, o autor fundamentava-se em torno de ideias de um darwinismo social, no qual a cultura evoluiria passando todas pelos mesmos estágios, rumo ao progresso. Nesse mesmo sentido, Tylor, Morgan e Frazer (2004) continuaram os estudos trazendo essa visão evolucionista aos debates sobre cultura. Ao supor que a história de todas as sociedades é uma única história, uma história universal, comum a toda a humanidade, essa história seria precedida por três estágios de desenvolvimento da cultura humana nos quais “a selvageria precedeu a barbárie em todas as tribos da humanidade, assim como se sabe que a barbárie precedeu a civilização. A história da raça humana é uma só – na fonte, na experiência, no progresso.” Morgan (2004: 44). Esses três estágios, os quais seriam as “fases” dessa história universal, explicariam o acontecimento de elementos semelhantes em diferentes lugares e também a diversidade cultural existente.

Civilização Barbárie Selvageria

90


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Essa vertente evolucionista utiliza como metodologia o método comparativo, que surge considerando uma igualdade geral da natureza humana, na qual teríamos uma mentalidade única que seria, portanto, o caminho único de desenvolvimento da sociedade. A partir a partir do arranjo de elementos culturais e comparação entre tais elementos torna-se possível conhecer a trajetória da evolução da humanidade, e assim os estudiosos tentavam comprovar uma regra geral e uma suposta linearidade entre as diferentes sociedades, o que os permitia descobrir os tais estágios propostos em que cada povo comparado se encontraria (MORGAN, 2004).. A escola evolucionista na Antropologia desembocou para um termo importante para os estudos culturais, o etnocentrismo. O termo é formado pelo radical “ethnos” que significa nação, tribo, raça ou povo, mais o radical “centrismo”, que sugere centro. Esse tipo de fenômeno está relacionado a choques e embates culturais, mas também no interior da própria cultura, definindo ações as quais consideramos nossos hábitos e condutas como superiores aos de outras pessoas. Assim, um indivíduo definido como etnocêntrico considera seus valores melhores do que os valores e normas das outras culturas, e isso pode ser problemático, pois esses pensamentos podem levar a ideais preconceituosos, em que o indivíduo etnocêntrico irá considerar sua cultura como natural em relação às outras, que seriam então inferiores e absurdas, inculcando ideias de superioridade cultural, colocando seu grupo étnico como central e limitando ou impedindo qualquer outra possibilidade de existência. Essa visão pode ainda ser reforçada pelo fato de não se conhecer e reconhecer a cultura do outro, ou seus hábitos culturais, o que pode levar a atitudes preconceituosas, radicais, xenófobas e de espanto com gostos e escolhas individuais.

Figura 02 - Espeto de bicho-da-seda.

A09  Conceito antropológico de cultura e a diversidade cultural

Fonte: Wikimedia Commons

Vejamos as imagens a seguir:

Figura 03 - Espeto de picanha.

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Sociologia

Por que ao olhar as imagens, logo nos identificamos com o espeto de picanha, e nos assustamos com o espeto de bicho-da-seda? Pelo simples fato de que, como não conhecemos e não nos identificamos com a cultura de comer insetos, atitudes que podem ser consideradas exóticas para nós, a picanha parece-nos mais familiar, e assim associamos nossas escolhas e gostos a ela. Porém, na Coreia, o bicho-da-seda compõe o principal ingrediente de um prato muito popular, no qual os bichos são fritos em óleo e servidos assim, em espetos. Com isso, uma pessoa que discrimina e olha de forma preconceituosa hábitos diferentes dos seus pode ser considerada etnocêntrica. Daí a importância de se conhecer e olhar com respeito as escolhas e costumes do outro. Continuando com as escolas antropológicas que centraram seu debate acerca da temática associada à cultura, foquemos em Franz Boas, um autor que tentou refletir sobre a diferença. Aqui, cada cultura representava uma totalidade singular e todo seu esforço consistia em pesquisar o que fazia sua unidade. Para o autor, o curso das mudanças históricas na vida cultural da humanidade não seguiria leis definidas aplicáveis em toda parte, o que faria com que os desenvolvimentos em linhas básicas fossem os mesmos, em uma espécie de evolução uniforme, mas sim, via cada grupo cultural como único, tendo sua própria história (BOAS, 2009), identificando o que ele chama de particularismo histórico, dando um salto em vista às teorias retrógradas dos evolucionistas. Dessa forma, o método histórico proposto – permite-nos enxergar que as diversas expressões da cultura estão intimamente inter-relacionadas, o que nos permite ver que as culturas são integradas, e por isso leis gerais só podem existir quando o material de comparabilidade referir-se à história do desenvolvimento, pois só assim temos um meio mais preciso que o método comparativo generalizado de reconstruir a história do desenvolvimento das ideias (BOAS, 2009). As diferenças entre culturas não eram mais interpretadas pelas fases propostas pelos evolucionistas, e sim compreendidas como algo único. Os costumes e regras sociais de um determinado povo deveriam ser interpretados de acordo com as funções que desempenhavam em cada sociedade. Essa reflexão trouxe noções fundamentais para o debate acerca da diversidade cultural e o que chamamos de relativismo cultural, que vem no sentido de desnaturalizar visões etnocêntricas.

A09  Conceito antropológico de cultura e a diversidade cultural

Essa noção de relativismo cultural também rompe com alguns determinismos, como o geográfico e o biológico, por exemplo. O determinismo geográfico afirma que o ambiente físico e as características geográficas são o fator principal na criação da cultura. Já, segundo Boas, o determinismo geográfico não explica a causa de grandes diferenças culturais entre sociedades que se desenvolveram em regiões geográficas semelhantes. Já o determinismo biológico afirma que o agir humano é determinado por variáveis biológicas, e tais variáveis orientariam as vontades e comportamentos, não sendo as ações livres, mas sim resultado de mecanismos biológicos. Contudo, sabemos que essas diferenças biológicas não são fatores determinantes das diferenças culturais. Por isso, Boas refuta ambas as concepções, mostrando que não só é possível como também comum o fato de existir diversidade cultural em grupos culturais que vivem em localidades geograficamente parecidas ou em grupos com similaridades biológicas. Uma outra forma de entender a cultura surge das discussões da Antropologia Funcionalista, que trazem essa visão funcionalista sobre o termo. Malinowski discute que cada ideia, costume etc., exercem uma função no todo cultural. Esses elementos integrantes do todo teriam como função satisfazer as necessidades essenciais do homem e isso é possível com a criação de instituições sociais capazes de organizar e permitir que essas necessidades sejam atendidas. Outra contribuição do antropólogo ocorre 92


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Fonte: Dean Drobot / Shuttestock.com

no campo da observação participante, pois para ele, não se pode estudar uma cultura a distância, por isso institui o método que trata de participar e entender o ponto de vista do outro, estabelecendo um olhar de dentro, e não de fora. Porém, ao analisar a cultura por meio de um viés interpretativo, não podemos pensar em outro autor que não Clifford Geertz. O conceito de cultura defendido por ele baseia-se no semiótico, por acreditar no pensamento de Marx Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, e a cultura seria essas teias e a sua análise. Para exemplificar podemos usar a imagem da piscadela. O fato de se piscar pode representar um flerte, um sinal de mentira ou até mesmo um tique nervoso, e só poderemos compreender o que uma pessoa está nos querendo comunicar com uma piscadela, se pudermos interpretar tal gesto, que terá seu significado compartilhado, revelando assim o fundamento simbólico da cultura.

Figura 04 - Piscadela.

Temos ainda um olhar estruturalista acerca do termo cultura, trazido pelo antropólogo Lévi-Strauss, que via a cultura como um conjunto de sistemas simbólicos que atua integrando e constituindo o todo. Porém, assim como Boas, ele estava interessado em identificar a unidade psíquica do homem. Lévi-Strauss também o pretendia, mas por meio das estruturas, e isso só poderia ser feito por meio do acesso ao inconsciente. Lévi-Strauss também defendia a etnologia como principal método de compreensão da cultura. A ciência só seria possível unindo etnografias, documentos e fatos de culturas distintas, e é por meio dessa etnologia que se pode identificar as estruturas dos conteúdos inconscientes da mente humana, ou seja, as estruturas permanentes.

A09  Conceito antropológico de cultura e a diversidade cultural

Assim sendo temos inúmeras descrições acerca do termo cultura, e esse debate levantou conceitos importantes e sempre atuais, como a noção de etnocentrismo, fazendo-nos entender de que forma se afastar desse conceito, e o relativismo cultural, que auxilia não só o trabalho do antropólogo, mas também todos que, de alguma forma, lidam com costumes e valores alheios ao seu. Podemos finalizar nossa aula refletindo sobre como a cultura condiciona a visão de mundo do homem, agindo como uma lente através da qual o homem vê o mundo, no qual homens de culturas diferentes usam lentes diversas (BENEDICT, 1988), enxergando os gostos e escolhas individuais de culturas distintas com respeito e naturalização.

Referências Bibliográficas BENEDICT, Ruth. O Crisântemo e a Espada. São Paulo. Perspectiva, 1988. BOAS, Franz. Antropologia cultural. Trad. Celso Castro – 5. Ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2009. FRAZER, James George; MORGAN, Lewis Henry; TYLOR, Edward Burnett. Evolucionismo cultural. Org. Celso Castro – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2004. TYLOR, Edward Burnett. Primitive Culture: Researches into the Development of Mythology, Philosophy, Religion, Art, and Custom. London: John Murray, 1871.

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Sociologia Questão 03. O trabalho na sociedade Sanumá assume um caráter simbólico e religioso, diferente da nossa sociedade ocidental, na qual o trabalho tem um significado funcional (garantir a sobrevivência e o lucro) e dessacralizado. Em nossa sociedade, a caça adquire somente duas funções: ou a alimentação ou o lazer. Todas essas duas funções não são sagradas. Isso é bem diferente na sociedade Sanumá, cuja caça assume uma função mística, religiosa e simbólica. Nesse sentido, o trabalho é de caráter sagrado, e somente pode ser compreendido quando se conhece os códigos e os valores culturais da sociedade Sanumá.

Exercícios de Fixação 01. (Ufu MG) Etnocentrismo pode ser definido como I.

II. III. IV.

o ponto de vista que toma como referência as maneiras de agir e pensar do próprio grupo, considerando-os melhores e mais corretos. o princípio da relatividade cultural na interpretação das sociedades. a visão que parte da diversidade étnico-cultural na análise dos fenômenos da cultura. o ponto de vista que considera a própria cultura como modelo para todas as demais. Etnocentrismo, como indica a própria etimolo-

nome de seu filho (ou filha) recém-nascido. Essa caçada se reveste de grandes cuidados, pois é misticamente sobrecarregada de perigos, em parte porque a criança receberá do animal, além do nome, também um certo espírito que se instala em seu corpo. O pai deve, pois, evitar ao máximo manusear o animal abatido; carrega-o para a aldeia pendurado em cipó e passa-o imediatamente para os seus afins, ou seja, os parentes consanguíneos de sua mulher. Nem ele nem ela podem comer a carne, sob pena de porem em risco a vida da criança. São esses afins do caçador que irão consumir a carne e dar o veredito: se a carne for de boa qualidade, a criança viverá; senão, morrerá.”

da palavra, significa colocar a própria cultura a) I, II e IV estão corretas. gia como ponto referência em relação a todas as outras. A atitude etnocêntrica é caracterizada pelo b) I, II e III estão corretas. desprezo às regras e comportamentos que não se(Ramos 1986:24-5). iguais à sua própria cultura. Nesse sentido, soc) II, III e IV estão corretas. jam mente as afirmativas I e IV são corretas. As outras duas são incorretas porque desprezam o caráter d) I e IV estão corretas. preconceituoso da atitude etnocêntrica. 04. (Ufu MG) A coerência de um hábito cultural somente pode e) Todas as afirmativas estão corretas. ser analisada a partir 02. (Ufu MG) “”Viver é plural”, disse um dos nossos maiores esa) do sistema a que pertence. critores, o mineiro João Guimarães Rosa. A vida brasileira b) de um ponto de vista que seja exterior ao próprio hábito. também é plural. Qual a cara do Brasil? Não existe uma só. c) de uma descoberta casual que o revele em sua essência. Nosso país é múltiplo, vário, diferenciado.” d) de uma inteligência superior.

(ALENCAR, Chico. “Nem melhores nem piores: apenas brasileiros.” In: Identidade nacional em debate. Márcia Kupsta (org.). São Paulo: Moderna, 1997, p. 53)

A09  Conceito antropológico de cultura e a diversidade cultural

Considerando o texto acima, pode-se afirmar que I. o Brasil é um país preconceituoso do ponto de vista racial. II. a identidade brasileira se constitui pela diversidade étnico-cultural. III. a diversidade étnico-cultural no Brasil se expressa na diferença de costumes, crenças, na mistura de raças etc. IV. o brasileiro e o Brasil não dão certo por causa da misNesta questão, o estudante deve levar em consitura de raças. deração estritamente o texto do enunciado. Neste, Brasil é visto como plural, significando uma caa) II, III e IV estão corretas. oracterística positiva do ponto de vista cultural. Vale ressaltar que o comentário de Chico Alencar não b) I, II e III estão corretas. leva em consideração qualquer tipo de preconceito, seja racial ou cultural. É por isso que somente as c) II e III estão corretas. afirmativas II e III são consideradas como corretas, em oposição à afirmativa I, que seria correta, mas d) I e II estão corretas. somente em outro contexto analítico. e) Todas as afirmativas estão corretas. 03. (Ufu MG) Desenvolva a concepção de trabalho na sociedade Sanumá, apontando uma diferença significativa em relação à nossa, tomando por base uma atividade econômica típica como a caçada, conforme descrição a seguir. “Alguns dias depois que nasce uma criança fisicamente normal e em condições sociais também normais, o pai vai caçar. O animal que ele matar será o epônimo da criança, isto é, esta será chamada pelo nome dado à espécie da caça morta. Em outras palavras, o pai sai a caçar, literalmente, o

94

05. (Ufu MG) “Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato primário de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro.” LARAIA, Roque. Cultura, um conceito antropológico. 8ª ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

Considerando o texto acima, marque a alternativa correta acerca das afirmações abaixo. I. As sociedades tribais são tão eficientes para produzir cultura quanto qualquer outra, mesmo quando não possuem certos recursos culturais presentes em outras culturas. II. As sociedades selvagens são capazes de produzir cultura, mas estão mal adaptadas ao meio ambiente e, por isso, algumas nem sequer possuem o Estado. III. As chamadas sociedades indígenas são dotadas de recursos materiais e simbólicos eficientes para produzir cultura como qualquer outra, faltando-lhes apenas uma linguagem própria. IV. As chamadas sociedades primitivas conseguiram produzir cultura plenamente, ao longo do processo evolutivo, quando instituíram o Estado e as instituições escolares. a) I e II estão corretas. b) Apenas I está correta. c) I e III estão corretas. d) I e IV estão corretas.

Questão 04: [A] Os hábitos culturais, como revela o próprio conceito, não podem ser desvinculados da cultura na qual são inseridos. Como exemplo, podemos citar o hábito das mulheres muçulmanas utilizarem o véu em ambientes públicos. Ainda que para a cultura ocidental isso não faça sentido, tal prática é coerente com a cultura dessas mulheres, não tendo qualquer conotação agressiva ou causadora de estigma para elas.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 01. a) O racismo constitui-se no preconceito que existe mediante o conceito de raça. Assim, existe uma classificação entre raças superiores e inferiores. O etnocentrismo, em contrapartida, tem como base o conceito de cultura. Assim, a diferença é entre culturas superiores e culturas inferiores. b) Ambas as atitudes são preconceituosas. No caso do racismo, a própria noção de raça é imprópria para “classificar” a diversidade entre os homens. Os estudos de genética e de biologia demonstram que qualquer classificação humana a partir da ideia de raça é imprópria cientificamente. Já o etnocentrismo é também inaceitável porque parte de outro pressuposto errôneo: o de que existem culturas superiores e inferiores. Vale ressaltar que ambas as atitudes (racista e etnocêntrica) geram intolerância e violência.

Exercícios Complementares

02. (Ufu MG) Disserte sobre as diferenças entre os conceitos de desigualdade social e diversidade cultural. 03. (Ufu MG) Sobre o etnocentrismo, considere as assertivas abaixo. I. É um dos fenômenos que dá origem e sustentação aos preconceitos. Trata-se de uma atitude cultural condicionada, baseada em fundamentos psicológicos sólidos e profundos de rejeição ao “outro”, culturalmente diverso. II. Consiste em repudiar as manifestações culturais (religiosas, morais, estéticas, sociais e outras) que mais se afastam daquelas com as quais nos identificamos. Daí, a tendência que nos leva a menosprezar condutas culturalmente diversas das nossas. III. Consiste em um fenômeno praticamente universal, pois é possível perceber atitudes etnocêntricas em todas as sociedades, à medida que cada uma tem, em sua cultura particular, valores próprios que induzem à rejeição de valores diferentes. IV. É um fenômeno histórico muito particular das sociedades ocidentais, que só se desenvolveu no período do colonialismo, quando os europeus tiveram contato com africanos, sociedades indígenas da América e aborígenes australianos. Marque a alternativa correta. a) I, II e IV são corretas. b) I, II e III são corretas. c) II, III e IV são corretas. d) III e IV são corretas. 04. (Ufu MG) Nos versos da canção Brejo da Cruz, reproduzidos abaixo, Chico Buarque constrói, poeticamente, um panorama de alguns sujeitos com identidades culturais facilmente visíveis na sociedade brasileira. A novidade / que tem no Brejo da Cruz / é a criançada / se

alimentar de luz / Alucinados / meninos ficando azuis / e desencarnando / lá no Brejo da Cruz / Eletrizados / cruzam os céus do Brasil / Na rodoviária / assumem formas mil / uns vendem fumo / tem uns que viram Jesus / Muito sanfoneiro / cego tocando blues / Uns têm saudade / e dançam maracatus / Uns atiram pedra / outros passeiam nus / Mas há milhões desses seres / que se disfarçam tão bem / que ninguém pergunta / de onde essa gente vem / São jardineiros / guardas-noturnos, casais / São passageiros / bombeiros e babás / Já nem se lembram / que existe um Brejo da Cruz / que eram crianças / e que comiam luz / São faxineiros / balançam nas construções / São bilheteiras / baleiros e garçons / Já nem se lembram / que existe um Brejo da Cruz / que eram crianças / e que comiam luz. Considere os versos acima e disserte sobre quem são os sujeitos apresentados e como eles expressam a diversidade cultural no Brasil contemporâneo. 05. (Uel PR) Analise a imagem a seguir

A09  Conceito antropológico de cultura e a diversidade cultural

01. (Ufu MG) O respeito à diversidade cultural tornou-se consenso entre os cientistas sociais a partir dos estudos realizados em diferentes sociedades. Posteriormente tal atitude foi incorporada como um princípio por órgãos internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas). Porém, os mesmos pesquisadores concluíram também que o respeito à diferença cultural não é a forma comum de os indivíduos atuarem no cotidiano. O etnocentrismo e o racismo são atitudes recorrentes em muitas sociedades. a) Qual a diferença conceitual entre racismo e etnocentrismo? b) Por que os cientistas sociais e órgãos internacionais entendem que tais práticas são inaceitáveis?

Charles Le Brun (paris 1619-1690). “América”.

O quadro pretende mostrar os habitantes do continente americano e seus costumes, contudo os ameríndios aparecem com feições apolíneas e cabelos anelados. Nesta representação, como em muitas outras, os personagens mais se assemelham aos europeus do que propriamente aos povos da América. O quadro, assim, acaba nos dizendo mais sobre o olhar do próprio europeu do que sobre aqueles que procurava retratar. A identidade dos grupos humanos é uma característica fundamental para a criação de um “nós coletivo” que, ao mesmo tempo, identifica e diferencia os grupos entre si. Sobre a identidade, considere as afirmativas a seguir.

Questão 02. O conceito de desigualdade social está relacionado a uma sociedade que compartilha o mesmo sistema econômico. Por exemplo, em uma sociedade capitalista, dividida em classes, pode-se falar em desigualdade social quando fazemos referência às diferenças sociais e econômicas entre uma classe e outra. A diversidade cultural, em contrapartida, faz referência às diferenças culturais e simbólicas entre os grupos sociais. Essas diferenças são construídas historicamente e não podem ser reduzidas a diferenças econômicas. É dessa maneira que podemos falar em diversidade cultural, quando comparamos a sociedade norte-americana com a cultural árabe do norte da África ou com a cultura Tupi de indígenas sul-americanos, uma vez que as diferenças entre esses grupos são mais culturais do que simplesmente econômicas.

Questão 04. Os versos de Chico Buarque servem para dar uma imagem ao fenômeno da migração no Brasil. Esses sujeitos, que na cidade exercem a atividade de faxineiros, construtores, jardineiro etc., possuem em comum o fato de terem vindo de um mesmo local (o Brejo da Cruz) e de terem trazido consigo algumas características culturais. Essas características são o que vão ajudar a construir a diversidade cultural no Brasil contemporâneo, que ocorre mediante o contato entre pessoas que só compartilham o mesmo espaço graças à migração.

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Sociologia

I.

II.

III.

IV.

A identidade possui natureza estática, daí perpassar as gerações e os subgrupos que se originam a partir de um tronco comum. Como em um jogo de espelhos, a identidade é construída a partir das representações que os grupos fazem dos outros, o que permite que enxerguem a si mesmos. A herança genética dos diferentes grupos humanos impede transformações de identidade, posto que delimita a abrangência das respectivas culturas. A identidade supõe um processo de resignificação das diferenças entre os grupos sociais em função de um determinado contexto.

Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) I e III. c) II e IV. d) I, III e IV. e) II, III e IV. 06. (Uel PR) “Enunciado de maneira menos formal, etnocentrismo é o hábito de cada grupo de tomar como certa a superioridade de sua cultura”. “Todas as sociedades conhecidas são etnocêntricas”. “A maioria dos grupos, senão todos, dentro de uma sociedade, também é etnocêntrica”. “Embora o etnocentrismo seja parcialmente uma questão de hábito é também um produto de cultivo deliberado e inconsciente. A tal ponto somos treinados para sermos etnocêntricos que dificilmente qualquer pessoa consegue deixar de sê-lo”.

A09  Conceito antropológico de cultura e a diversidade cultural

Fonte: HORTON, P. B. & HUNT, C. L. Sociologia.Tradução de Auriphebo Berrance Simões. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1982. p. 46-47.

Com base nessas informações e nos conhecimentos sobre o tema, considera-se etnocêntrica a seguinte alternativa: a) O crescimento do PIB argentino tem sido muito superior ao do brasileiro nos últimos quatro anos. b) A raça ariana é superior. c) A produtividade da mão de obra haitiana é inferior à da chilena. d) Não gosto de música sertaneja. e) Acredito em minha religião. 07. (Uel PR) A formação cultural do Brasil tem como eixo central a miscigenação. Autores, como por exemplo Gilberto Freire, destacaram que a mistura de raças/etnias europeias, africanas e indígenas configuraram nossos hábitos, valores, hierarquias, estilos de vida, manifestações artísticas, enfim, a maioria das dimensões da nossa vida social, política, econômica e cultural. Entretanto, outros pensadores consideravam-na um aspecto negativo em nossa formação e tentaram ressaltar as origens europeias de algumas regiões, como o intelectual paranaense Wilson Martins afirmou:

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Assim é o Paraná. Território que, do ponto de vista sociológico, acrescentou ao Brasil uma nova dimensão, a de uma civilização original construída com pedaços de todas as outras. Sem escravidão, sem negro, sem português e sem índio, dir-se-ia que a sua definição não é brasileira. Inimigo dos gestos espetaculares e das expansões temperamentais, despojado de adornos, sua história é a de uma construção modesta e sólida e tão profundamente brasileira que pôde, sem alardes, impor o predomínio de uma ideia nacional a tantas culturas antagônicas. E que pôde, sobretudo, numa experiência magnífica, harmonizá-las entre si, num exemplo de fraternidade humana a que não ascendeu à própria Europa, de onde elas provieram. Assim é o Paraná. (MARTINS, W. Um Brasil diferente: ensaio sobre fenômenos de aculturação no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A Queiroz, 1989. p. 446.)

O preconceito em relação às origens africanas e indígenas criou uma ambiguidade no processo de autoafirmação dos indivíduos em relação às suas origens. Assinale a alternativa em que a árvore genealógica relatada por um indivíduo evidencia esse sentimento de ambiguidade em relação à formação social brasileira. a) Meu avô paterno, filho de italianos, casou-se com uma filha de índios do interior de Minas Gerais; meu avô materno, filho de português casado com uma negra, casou-se com uma filha de portugueses. Apesar de saber que sou fruto de uma mistura, dependendo do lugar em que estou, destaco uma dessas descendências: na maioria das vezes, digo que descendo de portugueses e/ou de italianos; raramente digo que descendo de negros e índios, quando o faço é porque terei alguma vantagem. b) Meu avô paterno, filho de negros, casou-se com uma filha de índios do Paraná; meu avô materno, filho de português casado com uma espanhola, casou-se com uma filha de italianos. Sempre destaco que sou brasileiro acima de tudo, pois descendo de negros, índios e europeus. Essa afirmação ajuda-me a obter vantagens em diferentes lugares, pois a identidade brasileira tem sido assumida com clareza pelo estado e pelo povo ao longo da história. c) Meus avós maternos são filhos de italianos e os avós paternos são filhos de imigrantes alemães. Eu casei com uma negra, mas meus filhos serão, predominantemente, brancos. Tenho orgulho dessa descendência que é predominante nas diferentes regiões do Brasil. Costumo destacar que o Brasil é diferente, é branco e negro e eu descendo de famílias italianas e alemãs, assim como meu filho. Esse traço cultural revela a grandeza do país e a firmeza de nossa identidade cultural. d) Meu avô paterno, filho de índios do Paraná, casou-se com uma filha de índios do Rio Grande Sul; meu avô materno, filho de negros, casou-se com uma filha de negros. Gosto de afirmar que sou brasileiro, pois índios, portugueses e negros formam nossa identidade nacional.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 08. 02 + 08 = 10. O contato intercultural não é livre de conflitos e de preconceitos. A respeito das diferenças culturais, somente as afirmativas [02] e [08] estão corretas. A sociologia rejeita o determinismo geográfico, por isso a afirmativa [01] está incorreta. No território brasileiro existiam cerca de mil povos indígenas quando chegaram os portugueses, o que invalida a afirmativa [04]. Por fim, a afirmativa [16] está incorreta, visto que o relativismo não nega as diferenças culturais, e, sim, as valoriza.

08. (Ufu MG) Uma das mais difundidas definições de cultura, segundo Raymond Williams, é a que designa “... um modo particular de vida, que seja de um povo, um período, um grupo ou da humanidade em geral...” WILLIAMS, Raymond, Palavras-chave – um vocabulário de cultura e sociedade, São Paulo: Boitempo Editorial, 2007. p. 121.

A partir da definição de cultura apresentada, marque a alternativa INCORRETA. a) O caráter processual e dinâmico da vida social não se verifica em todas as culturas, mas apenas naquelas que, pelo acúmulo de conhecimento científico, reúnem condições para a elaboração de novas respostas a desafios e problemas igualmente novos. b) As diferenças culturais referem-se a circunstâncias que as envolvem, tais como obstáculos a serem enfrentados e tradições passadas, sem que se possa estabelecer, portanto, uma hierarquia entre culturas distintas. c) As formas de interpretação da vida expressam-se em ritos; os mitos são o resultado de conhecimento acumulado nas tradições. Ambos possibilitam transformações em qualquer cultura. d) A relação entre culturas humanas e condições de vida de cada agrupamento evidencia que as diferenças culturais não são quantitativas ou de níveis. 09. (Uem PR) As grandes navegações europeias do século XV promoveram o contato entre povos e culturas bastante diversos. Considerando esse fato e as interpretações associadas à produção de diferenças culturais, assinale o que for correto. 01. É amplamente aceita até os dias atuais pela sociologia a ideia formulada no século XIX de que as diferenças culturais existentes entre os povos são determinadas diretamente pela localização geográfica. 02. No século XIX, obtiveram grande prestígio as teorias que afirmavam que a inferioridade racial dos negros e dos índios era responsável pelo seu atraso moral e intelectual diante dos brancos europeus. 04. Quando chegaram ao continente americano, os portugueses encontraram, no território que posteriormente seria reconhecido como brasileiro, um conjunto culturalmente homogêneo de comunidades indígenas, que possuíam as mesmas crenças, linguagem e valores.

08. A perspectiva etnocêntrica prevalece quando se atribuem valores de julgamento às crenças e aos costumes do “outro”, tendo como referência absoluta a própria cultura. Por isso, ela pode promover posturas de intolerância. 16. Denominamos “relativista” a perspectiva que nega veementemente as diferenças culturais existentes entre os povos, salientando somente os traços que lhes são comuns. 10. (Uel PR) No Brasil e em outros países, o etnocentrismo fundamentou muitas práticas etnocidas e genocidas, oficiais e não oficiais, contra populações culturalmente distintas das de origem europeia, cristã e ocidental, principalmente indígenas e africanas. Discriminação de etnia e de classe social também se inclui entre as formas de etnocentrismo. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, assinale a alternativa que apresenta uma interpretação contrária ao etnocentrismo. a) “Quando nos referimos a uma raça, não individualizamos tipos dela, tomamo-la em sua acepção mais lata. E assim procedendo vemos que a casta negra é o atraso; a branca o progresso, a evolução[...]” (Revista Brazil Médico, 1904.) b) “Esta Lei regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional”. (Estatuto do Índio, Lei No 6001 de 19 de dezembro de 1973, Artigo 1º, ainda em vigor.) c) As sociedades humanas se desenvolvem por estádios ou estados que vão sendo superados sucessivamente: o estado teológico, o metafísico e o positivo. Os povos indígenas e as etnias afro-brasileiras encontram-se nos estádios teológico ou metafísico e, por essa razão, permanecem nos estratos sociais inferiores e marginais de nossa sociedade. ( Baseado em Augusto Comte.) d) “[...]segundo o que até aqui escrevi acerca dos Coroados [Kaingang] dos Campos Gerais, é evidente que, no seu estado selvagem, são eles superiores em inteligência, indústria e previdência a muitos outros povos indígenas, e talvez até em beleza. Dada essa circunstância, dever-se-ia pôr todo o empenho em aproximá-los dos homens de nossa raça e, após, encorajar os casamentos mistos entre eles e os paulistas pobres [...]. Devo dizer, porém, que é mais fácil matar e reduzir os Coroados à escravidão, do que despender tais esforços em seu favor”. (Saint- Hilaire, V. E. Viagem à Comarca de Curitiba –1820.) e) “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. 1- O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional”. (Constituição Federal de 1988 na Seção II – Da Cultura, Art. 215.)

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A09  Conceito antropológico de cultura e a diversidade cultural

e) Meu avô paterno, filho de poloneses, casou-se com uma filha de índios do Paraná; meu avô materno, filho de ucranianos, casou-se com uma filha de poloneses. Como sou paranaense, costumo destacar que o Paraná tem miscigenação semelhante às das outras regiões do Brasil: aqui temos índios, europeus e negros.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A10

ASSUNTOS ABORDADOS nn As culturas e identidades mul-

tifacetadas

nn O mito das três raças nn Os dinamismos culturais

AS CULTURAS E IDENTIDADES MULTIFACETADAS Desde os tempos remotos, há a tentativa de se explicar as diferenças de comportamento entre os indivíduos, a partir das diversidades genéticas ou até mesmo geográficas. As características biológicas não são fator determinante das diferenças culturais, pois o ambiente físico não explica a diversidade cultural. Um exemplo disso são grupos indígenas que habitam uma mesma área ou áreas próximas, e mesmo assim têm estilos e costumes bem distintos. Assim, o comportamento depende antes de um aprendizado, de um processo de socialização, no qual a cultura possa determinar a diferença de comportamento entre os homens fazendo com que eles ajam de acordo com os seus padrões culturais. Apoiados nessas informações nesta aula, discutiremos os conceitos de raça e etnia, bem como analisar o mito das três raças, refletindo sobre as possiblidades de mudanças e interações culturais. O conceito de raça foi e continua sendo objeto de debate dentro das Ciências Sociais. Seu uso por parte de senso comum baseado em ideias sem reflexão crítica fez perdurar uma falsa afirmação de que os grupos humanos são divididos de acordo com características biológicas, ligados, muitas vezes, à cor de pele, ao de cabelo, à facial e cranial, à ancestralidade e à genética etc.

Fonte: Wikimedia Commons

As teorias que discutem o conceito de raça surgem em um cenário em que países europeus se tornavam nações imperialistas, agindo na tentativa de controle e domínio de outros territórios e indivíduos, como justificava então a essa nova ordem social que se estabelecia. Podemos pensar no exemplo da Alemanha nazista, em que o conceito foi amplamente adotado, reforçando e legitimando todo o preconceito e ações radicais praticadas contra os que não eram da raça pura – ariana. Hoje, sabemos que o conceito de raça é uma noção socialmente construída, e é utilizado para tratar de problemas ligados ao valor socialmente atribuído a certas características físicas, pois mesmo com as diferenças fenotípicas, as diferenças genéticas que existiam entre grupos de características físicas semelhantes eram praticamente as mesmas quando comparadas com as diferenças genéticas entre grupos de características físicas diferentes. O que existe é apenas um grande número de variações físicas entre os seres humanos. O conceito ligado à etnia, por sua vez, não está atrelado a esse ideal errôneo ligado a traços biológicos definitivos. Está ligado ao âmbito social e cultural, pois o conceito faz referência a construções culturais de determinada comunidade de pessoas.

Figura 01 - Possibilidades e dinamismos culturais e identitários presente nos indivíduos.

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Os integrantes de determinada etnia se veem como diferentes de outros grupos no sentido de não se compartilhar de elementos como religião, língua, história etc. Etnia, portanto, se refere ao âmbito cultural, sendo um grupo étnico uma comunidade humana definida por determinadas afinidades – sociais, linguísticas, culturais etc.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

O Brasil é considerado um país com enorme miscigenação étnica. Há grupos indígenas, portugueses, holandeses, italianos, negros etc. Não se pode dizer que há uma diferença de raça e sim diferença étnica, pois cada região brasileira, devido ao seu contexto histórico particular, possui uma predominância de determinada etnia.

Mito das três raças

O mito das três raças ou da democracia racial é um termo utilizado para se pensar e descrever as relações raciais no Brasil, e traz consigo a ideia de que o brasileiro, com essa mestiçagem sob uma ótica positiva estaria a salvo do racismo e da discriminação racial. Esse conceito foi apresentado por Gilberto Freyre (1998) em Casa-Grande & Senzala, em que se tinha o imaginário de que essa mestiçagem culminaria em uma meta-raça, e não haveria comportamentos voltados para a discriminação, o que não é verdade, pois há uma discriminação generalizada nos campos do emprego, educação etc. A mestiçagem era vista de maneira tão positiva por Freyre, que o autor acabou criando a noção da boa escravidão. O autor faz a defesa de uma escravidão benigna, o que o faz esquecer as consequências de um sistema que levou à posse de um homem por outro, o que reforça a vi-

Essa discussão possibilitou um enorme debate no âmbito da Sociologia, em que autores como Sérgio Buarque de Holanda (1995), em Raízes do Brasil, não só rejeita o mito de que no Brasil se dava o encontro e mestiçagem das três raças, como também recusava o conceito biológico de raças humanas, pois, onde não há raça, não poderia haver esse encontro para compor nosso país, e se nós nos atrelássemos a esse ideal, nos aprisionaríamos a uma condição biológica, que é de difícil libertação. Nós, enquanto indivíduos, somos frutos da condição humana pelas transições culturais de cada um, de cada povo, de uma determinada cultura. Somos assim seres culturais, passíveis de transformação, e não biológicos, o que nos colocaria em uma posição fixa e estática. O mito é ainda errôneo no que diz respeito a uma redução da dominação violenta imposta pelos europeus, pois a ideia que o mito traz é a de um equilíbrio de forças entre as três raças, o que na verdade não houve. Sabemos que a todo instante os negros e índios estavam lançados à possibilidade de dominação e controle por parte dos colonizadores, minimizando toda prática de violência e abuso que os portugueses engendraram nesse processo nada romântico quanto sugere o conceito de que somos o resultado de uma equilibrada mistura.

A10  As culturas e identidades multifacetadas

Fonte: Wikimedia Commons

Estabelecidos os conceitos de raça e etnia, podemos refletir sobre as possibilidades dentro do mito das três raças. O mito consistia na noção de que no Brasil dava-se o encontro e mestiçagem das três raças: a europeia – portuguesa -, africana e a indígena.

são romantizada da modernidade brasileira, com a hipótese de que o negro teria chance de se destacar individualmente. Isso leva a um ocultamento do racismo, que existe ainda hoje no pensamento social brasileiro.

Figura 02 - Miscigenação.

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Sociologia

Os dinamismos culturais

Fonte: Wikimedia Commons

vai criando ramificações e desdobramentos a partir das outras relações que o sujeito estabelece (GOMES, 2003).

Figura 03 - Miscelânea étnica

Como mecanismo adaptativo e cumulativo, a cultura sofre mudanças, se ressignificando em velocidades distintas nas diferentes sociedades, e isso já nos traz à tona o que é fundamental: entender que a cultura, antes de mais nada é um processo dinâmico. Cada sistema cultural está em constante mudança. Entende-se, por exemplo, pela diferença de comportamento entre as gerações, que pode ser alterada não só internamente, mas também por meio de influências externas.

Hoje, para entender a construção da identidade negra no Brasil é importante também considerá-la no sentido político, como uma tomada de consciência. O uso do turbante pelas mulheres negras, enquanto forma de resistência, forma de expressão e apoio aos que lutavam pelos direitos civis igualitários, vem para provar isso: os negros são sujeitos de muitas identidades e essas múltiplas identidades sociais podem ser, também, provisoriamente atraentes, parecendo-nos, depois, descartáveis. Elas podem ser, então, rejeitadas e abandonadas. Somos, desse modo, sujeitos de identidades transitórias e contingentes. Por isso, as identidades sociais têm caráter fragmentado, instável, histórico e plural (LOURO, 1999).

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Ao pensar, por exemplo, sobre a dinamicidade da cultura e da identidade, não podemos deixar de falar sobre a construção da identidade negra, um processo que possui dimensões pessoais e sociais que se constroem na vida social. A identidade negra se constrói em um movimento que envolve inúmeras variáveis, desde as primeiras relações estabelecidas por contatos pessoais, em que geralmente esse processo se inicia na família, por meio de uma socialização primária, e

A identidade negra é entendida como uma construção social, histórica, cultural e plural e por muito tempo pregou-se um ideal que constitui uma identidade negra positiva em uma sociedade que, historicamente, ensina aos negros, desde muito cedo, que para ser aceito é preciso negar-se a si mesmo. É um enorme desafio enfrentado pelos negros. Reconhecer-se em uma identidade supõe, portanto, responder afirmativamente à uma interpelação e estabelecer um sentido de pertencimento a um grupo social de referência. Como dissemos, há um tempo, para ser aceito, havia o hábito, de negar-se enquanto cultura. Para exemplificar isso, podemos pensar em como as mulheres negras usavam seus cabelos. Importante não generalizar, mas a grande maioria alisavam seus belos cachos, como uma maneira de ser aceita na sociedade, criando assim outro modo de pertencer a algum grupo social, específico ou geral.

Figura 04 - Turbante como símbolo de resistência da mulher negra.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Outro exemplo do dinamismo dessa cultura, e que a todo momento está sofrendo o temos do índio, ainda hoje, teremos uma resposta bem caricata, e que sempre rondou o senso comum.

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Aquela noção, do índio que vive nu, com arco e flecha na mão, corpos pintados, em que os homens se dedicam à pesca e à caça, enquanto as mulheres se dedicam aos trabalhos familiares, é a imagem romântica e heroica dos índios, que ainda hoje é reproduzida.

O desafio é que o senso comum vai além dessa visão heroica e romântica dos indígenas. Muitas vezes tratando-os como animais, bestas, sem alma, bárbaros, selvagens e com aquela noção de índio preguiçoso, e principalmente, com o velho ideal, que índio só e índio se tiver na aldeia, vivendo nu, conservando seus aspectos tradicionais. O que precisa ser entendido, com urgência, é que o fato de os índios estarem ocupando espaços que antes não tinham acesso, como escolas, universidades, shoppings etc., não os fazem menos índios, assim como o acesso a roupas, sapatos, e até mesmo às tecnologias, que estão a serviço de todos nós, não descaracterizam sua cultura. Figura 06 - Índios conectados.

A10  As culturas e identidades multifacetadas

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 05 - Obra de José de Alencar que traz uma visão heroica e romantizada do índio.

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Sociologia

Se pensarmos nas teorias do contato, discutidas na Antropologia, elas se desdobram nos conceitos de aculturação, transfiguração étnica e fricção interétnica. Aculturação foi um termo bastante criticado, pois leva consigo a ideia de assimilação, em que a cultura dominada seria assim descaracterizada de alguma forma. O segundo conceito de transfiguração étnica foi uma alternativa ao uso sem reflexão do primeiro conceito. Nesse termo ainda vinha clara a ideia de assimilação, e até mesmo dos problemas que essa cultura dominada teria no que diz respeito aos preconceitos por parte da cultura dominante. O conceito de fricção interétnica, por sua vez, rompe com o conceito de aculturação, trazendo a noção de permanência cultural frente ao contato, mas que hoje já foi superada. Tudo isso porque com o aprofundamento dos estudos, novos conceitos foram lançados, e hoje, os antropólogos utilizam a noção de etnogênese, um conceito contemporâneo que retrata e define as comunidades indígenas emergentes e que buscam por reconhecimento étnico ou mesmo a construção de novos grupos étnicos. Um exemplo claro desse processo de etnogênese pode ser visto no caso dos índios Gamela, que são um grupo resultantes desse processo, e que hoje, em contato com a FUNAI − Fundação Nacional do Índio – lutam pela demarcação de suas terras. No mês de abril (2017), homens munidos de armas de fogo e facões atacaram esse grupo em Viana, interior do Maranhão. Eles foram alvo de uma emboscada, pois estavam desarmados e pouco puderam fazer em defesa própria. No ataque, ao menos treze indígenas foram feridos, dois tiveram as mãos decepadas e cinco foram baleados. A área onde ocorreu o ataque é alvo de disputa por fazendeiros, em confronto com os indígenas há pelo menos três anos.

A10  As culturas e identidades multifacetadas

O fato desses indígenas estarem usando roupas e outros adereços antes associados à vida urbana levantou questionamentos, um dos quais um deputado federal chamou o povo Gamela de “pseudoindígenas” em entrevista a uma rádio.

Figura 07 - A área onde ocorreu o ataque é alvo de disputa territorial entre índios e fazendeiros

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Com esse exemplo, podemos ver, como a falta de informação e o pensamento intolerante podem resultar em conflitos e ideias preconceituosas e de descaracterização da alteridade. Contudo, se um brasileiro viaja para a França e continua sendo brasileiro, podendo sofrer adaptações ou não pela cultura local, por que o índio, indo para a cidade, fazendo o uso de tecnologias, usando roupas, sapatos, carros e motos deixa de ser índios? Deixemos essa noção no passado e vamos ao conceito que aprendemos na aula passada, do relativismo cultural, relativizando nossos julgamentos, e compreendendo, de vez, que a cultura é dotada de estruturas, mas que são tanto histórica como culturalmente ordenadas (SAHLINS, 1990), desembocando para um processo dinâmico e dotado de ressignificações. Referências bibliográficas FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. Editora Record, Rio de Janeiro, cap. IV, 34ª edição, pág. 372, 1998. GOMES, Nilma Lino. Educação, identidade negra e formação de professores/as: um olhar sobre o corpo negro e o cabelo crespo. Educ. Pesqui. [online]. 2003, vol.29, n.1, pp.167182. ISSN 1517-9702 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da sexualidade. In: LOURO, Guacira (Org.). O corpo educado – pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. SAHLINS, Marshall. Ilhas de história. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1990.


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Exercícios de Fixação

(STEINBECK, J. A Pérola. São Paulo: Círculo do Livro, p. 8.)

De acordo com o texto, assinale a alternativa correta. a) A cultura se mantém pela tradição, contudo ela pode ser continuamente recriada com a finalidade de exprimir as novas realidades vividas por indivíduos e grupos sociais. b) A cultura herdada torna-se desnecessária à medida que os anos passam, sendo, portanto, salutar que os homens do presente esqueçam seus antepassados. c) A música é o ponto de partida da formação de um povo, pois é a partir do momento em que os homens compõem e transmitem sonoramente suas ideias que passam a ter cultura. d) São indivíduos isolados cujos valores se desenvolvem com independência em relação à base material que têm diante de si constituem o ponto de partida para a formação da cultura de um determinado povo. e) Certas raças não conseguem se desenvolver culturalmente, razão pela qual se limitam a exprimir sua história pela música em vez de o fazerem pela linguagem. 02. (Uem PR) “Quando se fala em índio, qual é a primeira imagem que vem à mente? Sim, pele pintada, cocar na cabeça e ocas como moradia na aldeia. Hoje mais da metade dos índios brasileiros moram nos centros urbanos e levam uma vida comum. Só em São Paulo, são 11 mil. Usam Internet, cursam faculdade, falam português, mas nem por isso perderam a identidade”. (PEREIRA, Patrícia. “Selva de Pedra”. Revista de Sociologia. Ano I, n. 3, p.41.)

Considerando a citação acima e seus conhecimentos sobre o tema grupos étnicos, assinale o que for correto. 01. O índio urbano, de calça jeans e camiseta, pode ser considerado um indivíduo que perdeu sua identidade e abandonou sua cultura. 02. Muitas comunidades indígenas têm acompanhado as mudanças históricas e buscam autonomia para criar os próprios projetos, defender seus direitos e decidir os rumos de seu povo. 04. Os índios foram para as cidades na tentativa de aproximação com a cultura do homem branco, por considerá-la central e evoluída.

08. Com o uso da Internet, os índios ganharam meios de se civilizar, saindo da posição passiva em que se encontravam, que os impedia de decidir a respeito do próprio futuro e de criar os próprios projetos. 16. Os símbolos e significados da cultura indígena foram abalados pela globalização, já que os índios vêm substituindo a sua cultura pela cultura americanizada. 03. (Uem PR) “A feijoada, o mais conhecido dos chamados ‘pratos nacionais’, tem como base a comida do cotidiano. Mas, nesse caso, a dupla feijão com arroz, acompanhada pela farinha de mandioca, sofre uma transformação não apenas no conjunto dos ingredientes, mas sobretudo em seu significado, transformada em um prato emblemático – possuidor de um sentido unificador e marcador de identidade – ou ‘típico’.” (MACIEL, Maria E. “Uma cozinha brasileira”. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 33, jan-jun de 2004, p.33)

Considerando a alimentação humana como um processo social e cultural, assinale o que for correto. 01 + 02 + 16 = 19 01. Respeitada como um conjunto de saberes e práticas sociais, a culinária de um povo compõe parte de seu patrimônio cultural. 02. Definir a feijoada como prato tipicamente brasileiro implica considerá-la como uma combinação de símbolos e classificações que representariam o “modo de ser” desta nacionalidade. 04. A combinação arroz e feijão atende às necessidades nutricionais típicas da raça brasileira e das deficiências biológicas oriundas da miscigenação entre brancos, negros e indígenas. 08. As restrições e proibições alimentares de fundo religioso baseiam-se em interdições nutricionais cientificamente comprovadas como maléficas ao sustento físico do indivíduo. 16. Diferentemente dos chamados pratos típicos, que destacam as características das cozinhas regionais, o fast-food configura-se num tipo de alimentação identificada com o processo de globalização da cultura. 04. (Unioeste PR) Do ponto de vista sociológico a expressão “diversidade cultural” sustenta a) o processo por meio do qual as classes dominantes combatem as formas de expressão dos grupos populares. b) a pluralidade de manifestações e expressões como: rituais, práticas, comemorações, lamentações, produtos, hábitos dos grupos que constituem uma sociedade. c) a ideologia subjacente ao exercício da cidadania das classes sociais hegemônicas. d) apenas defesa dos direitos de negros, mulheres e indígenas. e) apenas os direitos de membros das classes subalternos da sociedade.

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A10  As culturas e identidades multifacetadas

01. (Uel PR) Leia o texto. Kino ouviu a leve batida das ondas da manhã na praia. Como era bom... Tornou a fechar os olhos para escutar a música dentro dele. Talvez só ele fizesse isso, talvez todos os homens da sua raça também fizessem. Tinham sido em outros tempos grandes fazedores de cantigas, de modo que tudo viam, pensavam, faziam ou ouviam virava cantiga. Era assim havia muito, muito tempo. As cantigas haviam ficado e Kino as conhecia, mas não havia cantigas novas. Não era que não houvesse cantigas pessoais. Naquele momento mesmo, havia na cabeça de Kino uma cantiga clara e terna e, se ele pudesse dar voz aos seus pensamentos, iria chamar-lhe a Cantiga da Família.


Sociologia

Exercícios Complementares 01. (Uel PR) Em novembro último, 100 policiais foram mobilizados para retirar 50 indígenas avá-guarani que haviam ocupado o Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná. A desocupação foi tensa, mas os indígenas acabaram deixando o local pacificamente, após rezarem e dançarem, em um ritual comandado pelo Pajé. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar: a) A despeito de terem o direito legal de habitar no Parque, os indígenas o desocuparam pelo fato de os brancos terem profanado seu lugar de culto religioso. b) A presença dos povos indígenas é inconciliável com medidas de conservação ambiental, daí a necessária interdição plena das florestas e remanescentes em que vivem. c) A retirada dos indígenas marcou o encerramento das atividades de exploração comercial no Parque Nacional do Iguaçu. d) A jurisprudência acerca da incompatibilidade entre os rituais religiosos dos avá-guarani e os preceitos religiosos hegemônicos no Brasil motivou a desocupação do Parque. e) Apesar de serem os tradicionais ocupantes da região, os indígenas foram retirados do Parque, por meio do uso de expedientes legais elaborados pelos e para os brancos.

Eu não quero ser amiga dos seus preconceitos. E seus preconceitos não se tornam válidos de repente só porque você tira a carta da minha amizade da manga. Mas aí vai um conselho de amiga: ninguém precisa ser preconceituosa para sempre. Espero que não mesmo: assim você vai poder estar lá quando eu for convidá-la para o meu casamento, quando eu precisar de alguém para cuidar do meu cachorro ou de alguém para me mandar uma mensagem animadora em um dia ruim. * Ilustração da própria autora. VALEK, Aline. Sai Daqui. Confeitaria. 07 out. 2013. Adaptado. Disponível em: <http://confeitariamag.com/alinevalek/sai-daqui/> Acesso em 05 nov. 2013

A partir do texto e de seus conhecimentos de sociologia, assinale a alternativa incorreta sobre o preconceito. a) O preconceito não está relacionado ao etnocentrismo, pois não é uma forma de julgar a cultura dos outros, mas somente o comportamento das pessoas. b) Há, na sociedade ocidental, uma forte concepção ideológica e preconceituosa que acaba por discriminar ou menosprezar pessoas com orientações sexuais diferentes da heterossexual. c) O preconceito manifesta-se em nós até mesmo por meio da linguagem que utilizamos. d) Grupos minoritários são geralmente aqueles que mais sofrem preconceito.

02.

Resposta:02 + 08 = 10.

03. (Uem PR) As grandes navegações europeias do século XV promoveram o contato entre povos e culturas bastante diversos. Considerando esse fato e as interpretações associadas à produção de diferenças culturais, assinale o que for correto. 01. É amplamente aceita até os dias atuais pela sociologia a ideia formulada no século XIX de que as diferenças culturais existentes entre os povos são determinadas diretamente pela localização geográfica. 02. No século XIX, obtiveram grande prestígio as teorias que afirmavam que a inferioridade racial dos negros e dos índios era responsável pelo seu atraso moral e intelectual diante dos brancos europeus. 04. Quando chegaram ao continente americano, os portugueses encontraram, no território que posteriormente seria reconhecido como brasileiro, um conjunto culturalmente homogêneo de comunidades indígenas, que possuíam as mesmas crenças, linguagem e valores. 08. A perspectiva etnocêntrica prevalece quando se atribuem valores de julgamento às crenças e aos costumes do “outro”, tendo como referência absoluta a própria cultura. Por isso, ela pode promover posturas de intolerância.

A10  As culturas e identidades multifacetadas

Oi, lembra de mim? Sou aquela sua amiga, lembra?, que está sempre em sua lembrança quando você precisa justificar que você não é preconceituosa. Eu sinceramente preferiria que você se lembrasse de mim na hora de mandar o convite do seu casamento, aquela mensagem animadora quando não estou em um bom dia, na hora de chamar alguém para ir ao cinema com você – ou até quando você precisasse de alguém para cuidar do seu cachorro enquanto você viaja. Bem, mas você, que se considera minha amiga, só lembra de mim em outros momentos. Cada um faz o que pode, né? Então, espero que você não me leve a mal, mas não quero ser sua amiga.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

04. (Uem PR) Sobre a interação entre os grupos étnicos no Brasil e a diversidade cultural do país, assinale o que for correto. 01. O conceito de etnia diz respeito à origem comum de um povo. Pertencem à mesma etnia os grupos de indivíduos que compartilham uma história, os mesmos laços linguísticos e culturais. 02. O Brasil é conhecido por sua diversidade étnica e cultural. Ao longo de toda a história, esse contato ocorreu sem conflitos, a interação social e étnica deu-se de modo pacífico e harmonioso. 04. A mobilização de parcela de grupos de indivíduos negros, reivindicando igualdade de oportunidade no trabalho, na educação e o fim da discriminação, é um exemplo de demanda de etnicidade. 08. No início do século XX, ainda era possível encontrar grupos indígenas isolados, como os Xetá no noroeste paranaense. Com a colonização cafeeira, eles foram perseguidos e retirados de suas terras, restando pouquíssimos deles como resultado daquele contato interétnico. 16. A vida cultural brasileira é fruto de um processo de assimilação das heranças culturais de diferentes grupos étnicos – indígenas, africanos, europeus, asiáticos, entre outros. Os integrantes desses grupos interagem, negociam e disputam em torno de suas ideias e interesses, formando nosso Resposta: 01 + 04 + 08 + 16 = 29. legado cultural. 05. (Ufu MG) O surgimento de manifestações indígenas no Brasil está relacionado com a emergência dos movimentos étnicos em diversos países da América Latina, a partir dos anos 1970. A respeito de tais movimentos no Brasil, marque a alternativa incorreta. a) Os interesses econômicos em relação à região da Floresta Amazônica não colocaram em risco os direitos históricos dos índios, como foi possível observar no recente episódio da demarcação das terras na Reserva Indígena Raposa/ Serra do Sol, em Roraima. b) O grande número de ONGs internacionais que se envolveram com a questão indígena no Brasil possibilitou visibilidade mundial às demandas dos diversos grupos do país. c) Grande parte da população indígena brasileira vive em áreas da Floresta Amazônica, lutando para manter suas tradições e preservar suas terras contra invasões de garimpeiros, grileiros etc d) O Estado brasileiro historicamente tratou as questões indígenas de forma autoritária. Isso foi um fator que dificultou a afirmação de um movimento em âmbito nacional, até os anos 1970.

06. (Uem) Conhecer, registrar e analisar as características da produção cultural e artística popular são recursos importantes para a construção da memória e da identidade de um povo. Nesse sentido, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01. No Brasil, existem diversas festas entendidas como manifestações da tradição popular, porém os folcloristas reconhecem como brasileiras apenas aquelas que não possuem influência estrangeira. 02. Alguns países europeus tiveram problemas em relação à definição e à manutenção de suas fronteiras e de sua soberania, bem como com questões étnico-culturais. Por isso, utilizaram suas tradições populares com o objetivo de imprimir e difundir a ideia de nação. 04. As noções de “cultura erudita” e “cultura popular” são construções utilizadas para diferenciar as crenças, os valores e os costumes do povo e das elites. Entretanto essas noções obscurecem os diálogos e as trocas entre os diferentes grupos existentes na sociedade. 08. Um exemplo de reflexão sobre a cultura brasileira foi a Semana de Arte Moderna de 1922, que, entre outras coisas, pretendia mostrar “o Brasil” às classes médias e às elites nacionais, valorizando as expressões e os costumes da população simples. 16) Para o senso comum, há uma hierarquia na definição da cultura popular brasileira. Desse modo, aquelas manifestações culturais restritas a alguns grupos étnicos, religiosos ou regionais tendem a ser entendidas como de menor relevância para a cultura nacional. Resposta: 02 + 04 + 08 + 16 = 30.

07. (Uem) Considerando o papel das sociedades indígenas no processo de formação da diversidade étnica brasileira, assinale o que for correto.

Resposta: 01 + 08 + 16 = 25.

01. O trabalho nessas sociedades é marcado por três elementos básicos: relações de parentesco, obrigações rituais e míticas e falta de separação entre atividades produtivas e lúdicas. 02. Para além da diversidade de comunidades, de grupos e de nações indígenas, é possível identificar o “índio brasileiro” como portador de uma identidade étnica única. 04. As populações indígenas gastam pouco tempo executando tarefas voltadas à satisfação de suas necessidades materiais e sociais, porque são naturalmente mais vagarosas. 08. O contato interétnico entre índios e brancos, durante o processo de colonização da sociedade brasileira, provocou o genocídio de diversas populações indígenas, revelando que essas relações foram reguladas pela violência. 16. As posturas colonialistas partiam da oposição entre “primitivos” e “civilizados”, o que fez que a contribuição dos povos indígenas ao processo de formação da sociedade brasileira fosse identificada como sinal de atraso.

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A10  As culturas e identidades multifacetadas

16. Denominamos “relativista” a perspectiva que nega veementemente as diferenças culturais existentes entre os povos, salientando somente os traços que lhes são comuns.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A11

ASSUNTOS ABORDADOS nn Gênero, sexo e suas variadas

expressões

GÊNERO, SEXO E SUAS VARIADAS EXPRESSÕES Para o senso comum, homens e mulheres são diferentes em função do sexo e de algumas atitudes que foram padronizadas para cada um. Do homem, espera-se força física e racionalidade. Da mulher, espera-se o afeto, o cuidado e o lado emocional aguçado, o que, muitas vezes, aproxima a mãe na criação dos filhos e coloca sobre o pai uma obrigação de ser o “macho alfa”, aquele que sustenta o lar financeiramente. Porém, esse padrão eleva o debate a outro nível, pois sabemos que todo esse padrão comportamental, e essa sociedade machista que coloca a mulher no âmbito da família e o homem no âmbito público cria várias ressalvas, principalmente no que tange à violência doméstica que vem aumentando drasticamente nos últimos tempos. Para entender esse debate, é necessário esclarecer alguns conceitos que farão parte da discussão a todo o momento. O primeiro será a diferença entre gênero e sexo. Importante ter claro que, quando falamos sobre sexo, estamos nos referindo às categorias inatas do ponto de vista biológico, uma categoria biológica. Enquanto o gênero é uma construção social, o que permite que esse gênero se altere no espaço e no tempo. O conceito de gênero pode ser fundamental como instrumento para auxiliar e enriquecer as reflexões, na medida em que ele pode ser utilizado para falar de questões relativas a desigualdades sociais, hierarquias, feminismo, feminicídio, patriarcado etc.

Fonte: Wikimedia Commons

Em outras palavras: o conceito de sexo pode facilmente ser definido pelas diferenças anatômicas e fisiológicas. O gênero, por sua vez, pode ser entendido por meio de diferenças psicológicas, sociais e culturais, uma noção socialmente construída de masculinidade e feminilidade, não o produto único do sexo biológico de um indivíduo.

Figura 01 - Estereótipos sobre homens e mulheres marcam nossas representações do senso comum.

Figura 02 - Diferença entre gênero e sexo.

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Para tal, sabemos que, enquanto o sexo usa somente o caráter biológico, o gênero trata das diferenças que são os resultados das construções sociais e culturais. Para Pierre Bourdieu (2012) as três instituições que permitiam uma dominação masculina nesse nível seria a família, a escola e a Igreja. O termo gênero foi utilizado incialmente nas ciências médicas e pela psicologia, na França, nos anos 1970. Para falar desse conceito, usava-se a noção de “sexo social” ou de “diferença social dos sexos”. Vale destacar que as desigualdades de gênero começam desde a infância, mais precisamente, no processo que já aprendemos, chamado socialização primária. Essa desigualdade ocorre de início, na indução que existe no seio da família para que as meninas gostem de bonecas, de brincar cozinhando, fazendo a limpeza, e os meninos gostem de brincar de carrinhos, de jogos que envolvam força física etc. As desigualdades começam dessa forma, cujos pais, a família, e logo após a escola induzem comportamentos diferentes em função do sexo. O menino tem que ser forte e a menina mais serena e delicada, reproduzindo as ações da sua mãe, enquanto o menino reproduz as ações do pai, acarretando uma criação alicerçada nas desigualdades de gênero desde a socialização primária até a secundária. Quando ingressam em clubes e associações, os jovens continuam aprendendo e reproduzindo essas desigualdades.


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#DicaCine Sociologi

Figura 03 - Menina brincando com boneca e o menino brincando com o carrinho, confirmando um estereótipo criado socialmente.

Foi a partir de seu livro, Sexo e Temperamento, que Margareth Mead (1979) estuda as relações de gênero em três tribos: Arapesh, Mundugumor e Tchambuli. Assim, em cada tribo, levanta elementos diferentes para os comportamentos femininos e masculinos. Na primeira tribo: Arapesh, apesar de o homem e a mulher realizarem funções diferentes, não existe distinção entre o seu comportamento, pois ambos apoiam o crescimento dos filhos, sendo dóceis. Com os Mundugumor, o comportamento feminino e masculino é violento e conflituoso, pois o pai deseja ter filhas meninas, que podem ser trocadas por esposas novas, tornando-o um homem rico, ao mesmo tempo que não desejam ter filhos homens, pois esses podem utilizar das irmãs como objeto de troca por esposas. Já as mulheres não querem engravidar para não ter que dividir o matriarcado, tornando essa sociedade bem agressiva. Na última tribo, os Tchambuli, o comportamento feminino e masculino é distinto. A mulher é quem pesca, detém a posição de poder, controla o lucro das relações de comércio, e tem a opção de escolher o parceiro para a união matrimonial. Os homens, por sua vez, se preocupam com as atividades cerimoniais, cuidando dos ornamentos e das atividades artísticas. Eles são os chefes da família, porém quem estipula as regras são as esposas. Com essas distinções, a autora consegue deixar claro que os comportamentos do homem e da mulher não são construções fixas, mas que mudam de acordo com o meio em que os indivíduos estão inseridos, independente do biológico.

DOCUMENTÁRIO NETFLIX THE MASK YOU LIVE IN (2015) Documentário sobre a pressão da sociedade sobre aquilo que pode ou não ser considerado “masculino” e como isso pode afetar os nossos jovens. Em comparação com as meninas, pesquisas mostram que os homens dos EUA têm maior probabilidade de serem diagnosticados com um distúrbio de comportamento. Além de mostrar como a imposição desse modelo machista prejudica os meninos, aumentando a incidência de depressão e suicídio. O documentário traz dados de como essa educação embasada no incentivo a uma hipermasculinidade (em casa e na escola) está diretamente ligada ao aumento do número de homicídios e também da violência contra mulheres.

A11  Gênero, sexo e suas variadas expressões

Margaret Mead, antropóloga norte-americana, incutiu na tradição antropológica a ideia de que os papéis destinados a homens e mulheres não são explicados por uma diferença essencial inscrita na natureza de seus corpos, ou seja, o biológico não explicaria diferenciações sociais no nível de status, de poder, comportamento, e a partir dessa rejeição à explicação biológica para as diferenças sociais, já sugere que o termo gênero seria uma construção social.

Com isso, reforçamos a famosa frase de Simone de Beauvoir, “não se nasce mulher, torna-se mulher”, pois todos os nossos gostos, as maneiras de se vestir e a preferência sexual são constituídas a partir do ambiente em que os seres humanos crescem e se desenvolvem. Depois de entender que gênero é então uma construção social, pensemos sobre algumas formas de desigualdade, sobre a violência de gênero que cresce muito em nossa sociedade e também sobre como o machismo influencia tais comportamentos, e que levantamos as discussões sobre o feminismo um dos movimentos de luta instituído pelas mulheres. 107


Sociologia

Outra temática importante que implica desigualdade é em relação ao salário pago às mulheres como também as desigualdades étnicas. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostra em pesquisa (Disponível em: http://idbdocs.iadb.org/wsdocs/getdocument.aspx?docnum=2208929 Acesso em: 07 maio de 2017.) que apesar do recente crescimento econômico e das políticas destinadas a reduzir as desigualdades, as diferenças salariais relacionadas ao gênero e também à etnia continuam sendo significativas nos países latino-americanos. Para desenvolver tal análise, o estudo promoveu a coleta de informações domiciliares provenientes de dezoito países da região, constatando que as mulheres, os/as negros/as e os/as indígenas recebem salários inferiores aos dos homens brancos na América Latina. As mulheres latino-americanas ganham menos, mesmo que possuam maior nível de instrução. Por meio de comparação simples dos salários médios, foi constatado que os homens ganham 10% a mais que as mulheres. Já quando a comparação envolve homens e mulheres com a mesma idade e nível de instrução, essa diferença sobe para 17%. Da mesma forma, a população indígena e negra ganha em média 28% menos que a população branca de mesma idade e nível de instrução. Uma das conclusões do estudo é de que a diferença salarial étnica poderia ser reduzida em quase um quarto com a melhora dos níveis de instrução dessa população. De acordo com a pesquisa, ainda os homens ganham mais que as mulheres em todas as faixas de idade, níveis de instrução, tipo de emprego ou de empresa. A disparidade é menor nas áreas rurais, em que as mulheres ganham, em média, o mesmo que os homens. A menor diferença salarial relacionada ao gênero está na faixa mais jovem da população que possui nível universitário. A defasagem é mais baixa entre trabalhadores formais e mais alta entre aqueles que trabalham em pequenas empresas. As diferenças salariais variam muito também entre os dezoito países pesquisados. O Brasil apresenta um dos maiores níveis de disparidade salarial. No país, os homens ganham aproximadamente 30% a mais que as mulheres de mesma idade e nível de instrução, quase o dobro da média da região (17,2%), enquanto na Bolívia a diferença é muito pequena. O resultado é o mesmo no que diz respeito à disparidade por raça e etnia, que chega também a 30%.

A11  Gênero, sexo e suas variadas expressões

A pesquisa ainda traz algumas recomendações para reduzir as disparidades salariais nos países latino-americanos. Por parte dos governos, a implementação de políticas no sentido de aumentar o nível educacional da população minoritária, além da implementação de maior número de creches, o que permitiria às mulheres mais dedicação à sua vida profissional. Já no âmbito familiar, uma divisão de tarefas mais igualitária, com os pais dividindo a criação dos(as) filhos(as), o que daria às mulheres a possibilidade de manter suas carreiras. Disponível em http://www.observatoriodegenero.gov.br/menu/noticias/ homens-recebem-salarios-30-maiores-que-as-mulheres-no-brasil/

Com essa crescente desigualdade de gênero existente, caminhamos para outro ponto importante e presente no âmbito dessa discussão, o machismo. O machismo está presente nos pequenos detalhes da nossa rotina. Ao se deparar com um acidente e estiver envolvimento com alguma mulher, logo os homens dizem: “Ah, é uma mulher”. Essas falas advindas do senso comum, e de uma sociedade que ainda cria pessoas pautadas nessas desigualdades de gênero desembocam em crimes e no chamado feminicídio, ou seja, o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher. 108


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O que motiva o crime, segundo pesquisas, é o ódio, o sentimento de perda do controle e propriedade sobre as mulheres, geralmente cometido por parceiro íntimo, em contexto de violência doméstica e familiar.

Fonte: Wikimedia commons

O crime de feminicídio está previsto na legislação desde a entrada em vigor da Lei nº 13.104/2015, que alterou o Art. 121 do Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940), para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio. Assim, o assassinato de uma mulher cometido por razões da condição de sexo feminino, isto é, quando o crime envolve: “violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. Os parâmetros que definem a violência doméstica contra a mulher, por sua vez, estão estabelecidos pela Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340) desde 2006: qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto, independentemente de orientação sexual. Ainda nesse cenário, como falamos de machismo, vamos falar de feminismo? Primeiro vamos esclarecer que um não é contrário ao outro. O feminismo é um movimento social e político que tem como objetivo conquistar o acesso aos direitos iguais entre homens e mulheres e que existe desde o século XIX, buscando construir condições de igualdade entre os gêneros, de modo que o machismo é o comportamento que coloca o homem em posição de superioridade com relação à mulher. O movimento vem se fortalecendo, até mesmo em redes sociais, as quais permitiram que mulheres se encontrem, dividindo aflições como os assédios nas ruas, relatando estupros, situações de desvalorização no mercado de trabalho, etc. Recentemente, famosas se reuniram no instagram com a #mexeucomumamexeucomtodas e #chegadeassedio para mostrar sua força e solidariedade a todas as mulheres que sofrem qualquer tipo de assédio e/ou violência.

Figura 04 -

#mexeucomumamexeucomtodas e Com o movimento, as feministas querem o fim da violência de gênero, crimes #chegadeassédio que durante muito tempo foram chamados de “passionais” e que acontecem, na maioria das vezes dentro da própria casa, e que se diferem da violência que atingem os homens, que morrem por diversos motivos, mas nunca por serem homens. Com o movimento Fonte: Wikimedia Commons Outros jeitos de usar a boca e as lutas, coloca-se em evidência Maior fenômeno de poesia dos EUA na última década, a questão do empoderamento fehá mais de 40 semanas no topo das listas de best-sellers minino, que é o ato de conceder Outros jeitos de usar a boca é um livro de poemas sobre a sobrevivência. Sobre a experiência de violência, o abuso, o poder de participação social às o amor, a perda e a feminilidade. O volume – publicado mulheres, garantindo que possam nos EUA como “milkandhoney” – é dividido em quatro estar cientes sobre a luta pelos seus partes, e cada uma delas serve a um propósito diferente direitos, fato que as coloca presene lida com um tipo diferente de dor. Cura uma mágoa tes em debates, em todos os âmbidiferente. Outros jeitos de usar a boca transporta o leitor tos na constante busca pelo direito por uma jornada pelos momentos mais amargos da vida e encontra uma maneira de tirar delicadeza deles. das mulheres de poder participar Publicado inicialmente de forma independente por de debates públicos e tomar deciRupiKaur, poeta, artista plástica e performer canadense sões que sejam importantes para o nascida na Índia – e que também assina as ilustrações futuro da sociedade, principalmenpresentes neste volume –, o livro se tornou o maior te nos aspectos que estão relaciofenômeno do gênero nos últimos anos nos Estados Unidos, com mais de 1 milhão de exemplares vendidos. nados com a mulher.

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A11  Gênero, sexo e suas variadas expressões

Indicação de leitura


Sociologia

Importante ressaltar que há um mito que ronda o senso comum de que muitas feministas são contra a família, o casamento, e se recusam a ter filhos. Na verdade elas são a favor da escolha da mulher, para que ela mesma possa decidir se quer e quando quer se casar, assim como o caso de ter ou não filhos, partindo do princípio de que elas sejam livres para fazer suas escolhas, e que por tais escolhas não sejam julgadas. Como a questão do aborto, por exemplo. Não que feministas sejam a favor ou contra o aborto; elas são a favor da livre escolha. Por isso, são a favor da legalização do aborto, para que o Estado não crie leis para determinar como elas devem agir com relação ao próprio corpo. Que o Estado crie condições e assistência, para que, se a mulher desejar interromper uma gravidez indesejada, ela possa fazer os procedimentos com segurança, e não em clínicas clandestinas, o que colocaria sua vida em risco. Elas querem, portanto, que o aborto seja regulamentado e tratado como uma questão de saúde e não uma questão criminal. Com essas exposições vimos que as concepções que assimilamos mais masculinas que femininas na nossa sociedade não são definitivas, mas sim variações nos comportamentos de gênero que são historicamente, socialmente e culturalmente construídos, e são assumidos individualmente por meio de papéis, gostos, costumes, comportamentos e representações. Referências bibliográficas BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Tradução Maria Helena Kühner. 11° ed.- Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. MEAD, M. Sexo e temperamento em três sociedades primitivas. São Paulo: Perspectiva, 1979.

A11  Gênero, sexo e suas variadas expressões

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 05 - Feminismo e a violência contra a mulher.

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Exercícios de Fixação

Disponível em: <http://www.ufjf.br/secom/2015/11/25/libera-meu-xixi-ufjf-lanca-campanha-em-prol-do-respeito-a-diversidade/>.

Para se entender as motivações para o desenvolvimento de uma política pública como a descrita, é necessário saber que: a) O sexo determina a conduta social dos indivíduos. b) Não há uma definição biológica para o conceito de sexo. c) O gênero é uma construção social. d) As diferenças de gênero são definidas geneticamente. 02. (Uel PR) Leia o texto a seguir. Inevitavelmente, nós consideramos a sociedade um lugar de conspiração, que engole o irmão que muitas de nós temos razões de respeitar na vida privada, e impõe em seu lugar um macho monstruoso, de voz tonitruante, de pulso rude, que, de forma pueril, inscreve no chão signos em giz, místicas linhas de demarcação,entre as quais os seres humanos ficam fixados, rígidos, separados, artificiais. Lugares em que, ornado de ouro ou de púrpura, enfeitado de plumas como um selvagem, ele realiza seus ritos místicos e usufrui dos prazeres suspeitos do poder e da dominação, enquanto nós, “suas” mulheres, nos vemos fechadas na casa da família, sem que nos seja dado participar de nenhuma das numerosas sociedades de que se compõe a sociedade. (WOOLF, V. Trois Guinées. Paris: Éditionsdes Femmes,1997. p.200. apud Bourdieu, P. A Dominação Masculina.2.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. p.4.)

Em sua obra, Virginia Woolf reflete sobre a condição social das mulheres. Tal condição foi historicamente abordada com base no pensamento binário, a exemplo da díade masculino-feminino, também presente na oposição entre ordem e caos, o que pode ser encontrado em diferentes culturas e no pensamento científico. O binarismo, no entanto, é uma forma de racionalização da vida social criticada por diferentes correntes teóricas. Com base no texto e nos conhecimentos sobre as críticas ao pensamento binário aplicado às explicações das relações sociais de gênero, considere as afirmativas a seguir. I. Nesse trecho, Virginia Woolf invoca o paradigma do construtivismo social e entende que os posicionamentos sociais das mulheres e dos homens são fruto de forças sociais que tendem a transcender as vontades individuais e a gerar opressões.

II.

Para Virginia Woolf, as separações entre o mundo dos homens e o mundo das mulheres são intransponíveis, havendo correspondência real entre as representações sociais e as práticas dos sujeitos empreendidas na experiência concreta. III. As evidências de que diferentes sociedades atribuem posição de domínio ao masculino fornecem a comprovação de que os valores culturais são determinados pelas diferenças biológicas entre os sexos, o que se expressa em uma cultura universal. IV. Pelos exemplos históricos conhecidos, os esquemas binários de representação do masculino e do feminino produzem hierarquias entre esses dois termos, de modo a reservar um status superior aos atributos classificados como masculinos. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 03. (Uem PR) “Quando deixei a casa de meus pais, fui morar em uma república de rapazes em São Leopoldo. Lá, todos eram obrigados a dividir as tarefas domésticas. Graças a essa experiência, anos depois, já em Recife, minha companheira e eu pudemos estabelecer um novo arranjo na divisão do trabalho doméstico, arranjo esse fora dos padrões dominantes em que cabe aos homens o exercício das atividades do domínio público e às mulheres as atividades domésticas. A participação de minha companheira em alguns movimentos sociais, incluindo o movimento feminista, também teve papel decisivo na maneira como tentamos educar nossos filhos. Certamente, a experiência deles tem sido diferente da minha e das gerações anteriores. Sei que isso não significa uma superação de todos os traços culturais que sinalizam para a desigualdade de gênero, mas já avançamos muito em relação às circunstâncias vivenciadas pelos meus pais, avós e, de maneira geral, pelos homens que ainda esperam ser servidos pelas mulheres da casa.” (BRYM, Robert et al. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Thomson Learning, 2006, p. 281 e 282).

A partir do relato acima, escrito pelo sociólogo Remo Mutzenberg como parte de sua história de vida, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). Resposta: 01 + 04 + 16 = 21. 01. Apesar de a divisão social do trabalho ter atingido altíssimos graus de especialização em nossa sociedade, a realização das tarefas domésticas continua concentrada no trabalho feminino.

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01. (Ufu MG) A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) liberou nesta quarta-feira (25) o uso de todos os banheiros da instituição por qualquer pessoa, conforme o gênero com que se identifica. A iniciativa se deu pela adoção da campanha “Libera meu xixi”, voltada ao combate da transfobia em espaços públicos. Nos próximos dias, banheiros de todo o campus receberão uma placa com a frase “Aqui você é livre para usar o banheiro correspondente ao gênero com que se identifica”.


Sociologia

02. A discussão sobre as questões de ordem privada, como as relações conjugais e o cuidado dos filhos, não integram a pauta do movimento feminista, que tem um caráter de reivindicações concentradas na conquista de direitos políticos para as mulheres. 04. A participação das mulheres no mercado de trabalho, no último século, é marcada por avanços e conquistas. Contudo, a persistência das desigualdades de gênero se manifesta nos menores salários pagos às mulheres, na dupla ou tripla jornada exercida por elas e na vulnerabilidade às atitudes de assédio moral e de assédio sexual. 08. A identificação clara de atribuição de tarefas para cada um dos sexos determina que as crianças identifiquem as regras normais e naturais dessa divisão. 16. A família patriarcal, aquela que fundamenta sua autoridade na figura masculina, é um modelo que se associa ao processo de colonização do Brasil e guarda, para além das dimensões de afinidade ou de solidariedade familiar, características econômicas e políticas.

A11  Gênero, sexo e suas variadas expressões

04. (Uem PR) Em relação a questões de transformação e desigualdades sociais, a partir das teorias sociológicas sobre gênero, é correto afirmar que: Resposta: 01 + 08 = 09. 01. Cada sociedade e cada cultura, em cada momento histórico particular, configuram papéis e lugares para os gêneros, por isso, as demandas por igualdade social e por participação política não podem ser homogeneizadas sob uma pauta única. 02. As diferenças de gênero, se compararmos as diferentes sociedades, são, em termos gerais e globais, apenas questões de diferenças de linguagem. 04. Diferenças entre sexo e gênero são, na essência, exatamente a mesma coisa. 08. Questões religiosas, étnicas, raciais, morais e políticas devem ser consideradas centrais nos debates acerca de preconceito, de discriminação e de exclusão social baseados em sexo e gênero. 16. Movimentos sociais devem expressar demandas de toda a população porque diversidades cultural, social, política e histórica são expressões inadequadas e antiquadas para fins de reivindicação. 05. (Unisc RS) “Gênero é o conceito corrente utilizado para designar os modos de classificar as pessoas como pertencentes a mundos sociais, a princípio, organizados pelas diferenças de sexo. A expressão identidade de gênero alude à forma como um indivíduo se percebe e é percebido pelos outros como masculino ou feminino, de acordo com os significados que estes termos têm na cultura a que pertence. (...). Possuir um sexo biológico,no entanto, não implica automaticamente uma identificação com as convenções sociais de um determinado contexto, no que concerne a ser homem ou mulher. ” (ZAMBRANO, E; HEILBORN, M.L. Identidade de gênero. In: LIMA, Antonio Carlos de Souza (Coord.). Antropologia & direito: temas antropológicos para estudos jurídicos. Rio de Janeiro: ABA, 2012. p. 412)

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Considerando a citação acima analise as afirmativas abaixo. I. A identidade de gênero é definida pelo sexo biológico. II. Os tipos de roupa que deve vestir, os comportamentos e sentimentos de pertencimento associados a um determinado gênero definem a identidade de gênero. III. Possuir um sexo biológico não implica automaticamente uma identificação com as convenções sociais de ser homem ou mulher. IV. A partir da citação acima podemos inferir que a identidade de gênero não é construída socialmente. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa II está correta. b) Somente as afirmativas I e II estão corretas. c) Somente as afirmativas II e III estão corretas. d) Somente as afirmativas III e IV estão corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas. 06. (Unisc RS) Carole Vance no texto Antropologia (Re)descobre a Sexualidade afirma que as abordagens construtivistas: [...] partilham a necessidade de problematizar os termos e o campo de estudos — no mínimo, todas as abordagens adotam a visão de que atos sexuais fisicamente idênticos podem ter importância social e significado subjetivo variáveis, dependendo de como são definidos e compreendidos em diferentes culturas e períodos históricos. Assim como um ato sexual não traz em si um significado social universal, a relação entre atos sexuais e significados sexuais também não é fixa, o que torna sua transposição a partir da época e do local do observador um grande risco. Na verdade, as culturas geram categorias, esquemas e rótulos diferentes para estruturar as experiências sexuais e afetivas. Essas construções não só influenciam a subjetividade e o comportamento individual, mas também organizam e dão significado à experiência sexual coletiva através, por exemplo, do impacto das identidades, definições, ideologias e regulações sexuais. VANCE, Carole. A Antropologia (Re)descobre a Sexualidade. Revista Physis, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, 1995, p. 7-32.

Com base no trecho leia as afirmativas a seguir: I. As definições de sexualidade são extensivas a toda a história e a todas as culturas porque os significados atribuídos à sexualidade são fixos e universais. II. A existência de atos sexuais idênticos indica que o peso da cultura na influência dos comportamentos e das subjetividades é limitado porque há algo inato que condiciona a organização da expressão da sexualidade. III. Os significados sobre a sexualidade variam em contextos históricos e culturais, pois os grupos sociais produzem categorias, esquemas e rótulos diferentes para estruturar as experiências sexuais e afetivas. Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa III está correta. b) Somente as afirmativas I e II estão corretas. c) Somente as afirmativas I e III estão corretas. d) Somente as afirmativas II e III estão corretas. e) Todas as afirmativas estão corretas.


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Exercícios Complementares 01. (UFG GO) Leia o texto e analise a figura a seguir. Em 1991, a renda média das brasileiras correspondia a 63% do rendimento masculino. Em 2000, chegou a 71%. As conquistas comprovam dedicação, mas também necessidade. As pesquisas revelam que quase 30% delas apresentam em seus currículos mais de dez anos de escolaridade, contra 20% dos profissionais masculinos. PROBST, Elisiana Renata. “A evolução da mulher no mercado de trabalho”. Revista do Instituto Catarinense de Pós Graduação. Disponível em: <www. icpg.com.br>. Acesso em: 4 abr. 2014

Fonte: <www.facebook.com>. Acesso em: 4 abr. 2017

Tendo em vista o texto e o implícito no discurso iconográfico, percebe-se a) as diferenças na valorização da força de trabalho entre os gêneros e a ampliação das demandas das mulheres na luta pelo reconhecimento social. b) a queda da taxa de fecundidade, elevando a renda feminina, e os tabus da adequação a padrões de beleza vigentes. c) a alteração do perfil das trabalhadoras que se tornam mais velhas, casadas e mães e a participação das mulheres no movimento feminista. d) a classificação do trabalho doméstico contabilizado como atividade econômica e a continuidade de modelos familiares tradicionais. e) as diferenças da jornada de trabalho entre os gêneros e a influência da mídia estabelecendo um padrão de corpo feminino. 02. (UEPB) A charge e o texto abaixo retratam um dos temas trabalhados pela Geografia: Questão de Gênero.

Com base nas informações da charge, do texto e seus conhecimentos sobre o tema, são verdadeiras as afirmativas, EXCETO: a) A violência física contra a mulher é o estágio de uma série de violências verbais, simbólicas, psicológicas que atingem mulheres todos os dias. A discriminação histórica contra a mulher não é fruto de uma concepção patriarcal que ainda impera, mesmo inconscientemente, na sociedade. b) A marcha das vadias objetiva conscientizar a sociedade de que a culpa do estupro não é da mulher e o estupro não dever estar associado ao modo como ela se veste. Protestam contra a culpabilização das vitimas nos casos das violências sofridas. Criticam também as instituições que sustentam a dominação e a exploração contra a mulher. c) A mercantilização do corpo da mulher, do prazer e a banalização da exploração sexual são dimensões da globalização econômica. A mulher é considerada alvo estratégico do consumismo e o apelo sexual o elemento central nesse método. d) Mulheres trabalhadoras assalariadas, depois do trabalho nas fábricas, no comércio, no campo ou como empregadas domésticas, são subordinadas à dupla jornada de trabalho ao realizarem as tarefas domésticas ao chegarem em casa. Já as mulheres burguesas ou de classe média alta, mesmo que trabalhem, relegam as mulheres mais pobres a essa segunda atividade. Logo, em sua grande maioria são as mulheres pobres e trabalhadoras exploradas e oprimidas que lutam de forma consciente contra a opressão.

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A11  Gênero, sexo e suas variadas expressões

“O direito a uma vida livre de violência é um dos direitos básicos de toda mulher. É pela garantia desse direito que marchamos hoje e marcharemos sempre, até que todas sejamos livres”. Esse texto constava entre os inúmeros cartazes na Segunda Marcha das Vadias no Distrito Federal.


Sociologia

e) A opressão ao sexo feminino nas empresas se dá na prática do assédio e abuso sexual em troca da manutenção do emprego e das promoções de cargos. As mulheres que não aceitam esses “pré-requisitos” têm que se desdobrar e demonstrar capacidade e superioridade para se manter em seus empregos. 03. (Enem MEC) TEXTO I Ela acorda tarde depois de ter ido ao teatro e à dança; ela lê romances, além de desperdiçar o tempo a olhar para a rua da sua janela ou da sua varanda; passa horas no toucador a arrumar o seu complicado penteado; um número igual de horas praticando piano e mais outra na sua aula de francês ou de dança. Comentário do Padre Lopes da Gama acerca dos costumes femininos [1839] apud SILVA, T. V. Z.Mulheres, cultura e literatura brasileira. Ipotesi — Revista dos Estudos Literários, Juiz de Fora, v. 2. n. 2, 1998.

TEXTO II As janelas e portas gradeadas com treliças não eram cadeias confessas, positivas; mas eram, pelo aspecto e pelo seu destino, grande gaiolas, onde os pais e maridos zelavam, sonegadas à sociedade, as filhas e as esposas. MACEDO, J.M. “Memória da Rua do Ouvidor [1878]”. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 20 maio 2013 (adaptado).

A representação social do feminino comum aos dois textos é o(a) a) submissão de gênero, apoiada pela concepção patriarcal de família. b) acesso aos produtos de beleza, decorrência da abertura dos portos. c) ampliação do espaço de entretenimento, voltado às distintas classes sociais. d) proteção da honra, medida pela disputa masculina em relação às damas da corte. e) valorização do casamento cristão, respaldado pelos interesses vinculados à herança.

Com base nos dados apresentados acima, assinale a alternativa correta. a) A maior parte dos homofóbicos é do sexo masculino, jovem, branco e desconhecido da vítima. b) Os dados apontam a correlação entre homofobia, faixa etária e questões raciais. c) Os casos de homofobia são predominantemente vinculados ao tipo de vida dos próprios homossexuais, uma vez que se relacionam com pessoas contatadas em chats ou em locais de pouca segurança, como parques e boates gays. d) A maior parte dos suspeitos prefere não informar sua orientação sexual, o que também se aplica ao perfil das vítimas. e) Embora porcentagem considerável de mulheres tenham sido vítimas de violência, não se constata índice relevante de mulheres suspeitas de homofobia. 05. (Enem MEC) Mirem-se no exemplo Daquelas mulheres de Atenas Vivem pros seus maridos Orgulho e raça de Atenas. BUARQUE, C.; BOAL, A. “Mulheres de Atenas”. In: Meus caros amigos, 1976. Disponível em: http://letras.terra.com.br. Acesso em 4 dez. 2011 (fragmento)

Os versos da composição remetem à condição das mulheres na Grécia antiga, caracterizada, naquela época, em razão de a) sua função pedagógica, exercida junto às crianças atenienses. b) sua importância na consolidação da democracia, pelo casamento. c) seu rebaixamento de status social frente aos homens. d) seu afastamento das funções domésticas em períodos de guerra. e) sua igualdade política em relação aos homens. 06. (Uel PR) Observe a figura e leia o texto a seguir.

A11  Gênero, sexo e suas variadas expressões

04. (Udesc SC)

Orlan, Autorretrato, fotografia digital, 2004 *Do total que teve a idade informada Fonte: Relatório sobre a violência homofóbica no Brasil - Secretaria Nacional de Direitos Humanos

Fonte: <http://blog.newtonpaiva.br>. Acessado em: 30 mar. 2015.

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Orlan foi a primeira artista a utilizar a cirurgia estética nas suas performances com a intenção de transformar a operação em um evento artístico e não obter um resultado final que ade-


Ciências Humanas e suas Tecnologias

quasse seu rosto aos padrões de beleza vigentes. A figura faz parte de uma série de autorretratos produzidos a partir da apropriação de práticas de intervenções corporais provenientes de outras tradições e da hibridização do seu rosto com imagens de registros etnográficos, por meio da manipulação digital. Esses autorretratos buscam o mesmo apelo visual que as propagandas de produtos de beleza. Adaptado de Entrevista: “Orlan, artiste: Moncorps est devenuunlieupublic de débat”. (Orlan, artista: Meu corpo se tornou um lugar público de debate). In: Le Monde. Paris, 22 abr. 2009.

Fundamental para os estudos históricos na atualidade, o texto se refere ao conceito de a) gênero. b) patriarcado. c) empoderamento. d) matriarcado. e) feminismo. 08. (Enem MEC) Texto I

Com base na figura e no texto, considere as afirmativas a seguir. I. Ao evidenciar a falta de um padrão universal de beleza feminina, Orlan indica que a beleza é construída socialmente. II. Orlan, ao problematizar o estatuto do corpo e da beleza nas sociedades de culturas tradicionais, questiona os padrões de beleza da sociedade ocidental contemporânea. III. Ao recorrer às imagens e às práticas de intervenções corporais de outras culturas, Orlan revela que o que é considerado feio diz respeito às culturas tradicionais. IV. O processo de hibridização da imagem do rosto de Orlan com máscaras africanas, ou outras representações, visa à constituição de um novo conceito de beleza. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

Portanto, [esse] termo pode ser entendido como um instrumento, como uma lente de aumento que facilita a percepção das desigualdades sociais e econômicas entre mulheres e homens, que se deve à discriminação histórica contra as mulheres. Esse instrumento oferece possibilidades mais amplas de estudo sobre a mulher, percebendo a em sua dimensão relacional com os homens e o poder. Como uso desse instrumento, pode-se analisar o fenômeno da discriminação sexual e suas imbricações relativas à classe social, às questões étnico-raciais, intergeracionais e de orientação sexual. TELES, Maria Amélia de Almeida & MELLO, Mônica. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense, 2003. p. 16-17. (adaptado)

“As mulheres do futuro farão da Lua um lugar mais limpo para se viver”. Fonte: <www.propagandashistoricas.com.br>. Acesso em: 16 out. 2015.

Texto II Metade da nova equipe da NASA é composta por mulheres Até hoje, cerca de 350 astronautas americanos já estiveram no espaço, enquanto as mulheres não chegam a ser um terço desse número. Após o anúncio da turma composta 50% por mulheres, alguns internautas escreveram comentários machistas e desrespeitosos sobre a escolha nas redes sociais. Fonte: <https://catracalivre.com.br>. Acesso em: 10 mar. 2016.

A comparação entre o anúncio publicitário de 1968 e a repercussão da notícia de 2016 mostra a a) elitização da carreira científica. b) qualificação da atividade doméstica. c) ambição de indústrias patrocinadoras. d) manutenção de estereótipos de gênero. e) equiparação de papéis nas relações familiares.

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A11  Gênero, sexo e suas variadas expressões

07. (UFSM RS) Analise os fragmentos a seguir. A sociologia, a antropologia e outras ciências humanas lançaram mão [dessa] categoria para demonstrar e sistematizar as desigualdades socioculturais existentes entre mulheres e homens, que repercutem na esfera da vida pública e privada de ambos os sexos, impondo a eles papéis sociais diferenciados que foram construídos historicamente e criaram polos de dominação e submissão. Impõe-se o poder masculino em detrimento dos direitos das mulheres, subordinando-as às necessidades pessoais e políticas dos homens, tornando-as dependentes.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A12

ASSUNTOS ABORDADOS nn Orientação sexual: desigualdades

e discriminação

ORIENTAÇÃO SEXUAL: DESIGUALDADES E DISCRIMINAÇÃO Para continuar no âmbito da discussão sobre sexualidade e gênero, vamos falar sobre a orientação sexual e seus desdobramentos. A sexualidade humana é um tema que gera polêmicas e conflitos, já que envolve questões afetivas, comportamentais e determinados ideais. O gênero é construído socialmente, como uma forma de identificar determinadas ações de acordo com o sexo, como a noção de que “rosa é para meninas / azul é para meninos”. O conceito de orientação sexual, por sua vez, diz respeito à atração que se sente por outros indivíduos, o que pode envolver questões emocionais e sexuais. Assim, se a pessoa sente atração por indivíduos do gênero oposto, falamos que ela é heterossexual ou heteroafetiva. Se a atração é por aquelas do mesmo gênero, sua orientação é homossexual ou homoafetiva, ou se o interesse é por ambos, elas são chamadas bissexuais ou biafetivos. Vale destacar que pessoas do gênero masculino com orientação homossexual geralmente são chamadas de gays e as do gênero feminino, de lésbicas. Hoje é muito aceito o termo homoafetividade no lugar de homossexualidade ou ainda heteroafetividade, em substituição ao termo heterossexualidade, porque o uso do sufixo sexual tende a levar a noção de que essas relações se reduzem somente ao âmbito sexual. No mesmo contexto, podemos falar também sobre o papel sexual, que está relacionado ao comportamento de gênero que a pessoa desempenha na sociedade. Esse fator envolve muitos estereótipos, como o fato de uma mulher ser chamada de feminina por usar maquiagem, por exemplo, e ser masculinizada por jogar futebol, ou ainda um homem ser delicado e ser chamado de “afeminado”, já que para ser o “macho alfa” deve ser rude e viril.

Figura 01 - Algumas expressões de gênero e orientação sexual

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Outro conceito que é importante se definir é o de identidade de gênero, que se traduz na forma como o indivíduo se percebe em relação ao gênero que possui, ou seja, se há ou não identificação com seu gênero. Quando uma pessoa de determinado gênero se sente mais como se fosse de outro, independentemente de sua orientação sexual, falamos que ela é transexual. É aquela cuja identidade sexual não é a mesma que seu sexo biológico, em que muitas vezes acontecem as cirurgias de mudança de sexo. Vale um destaque: transexuais e travestis não estão dentro de uma mesma categoria. Travestis têm uma identidade de gênero mista, podendo haver identificação tanto com homens quanto com mulheres. Por isso, há o costume de se travestir e alterar o comportamento.

Fonte: Wikimedia Commons

Importante usar o conceito que aprendemos de relativismo, e relativizar ao pensar que o papel sexual apresenta relação à orientação sexual. Não necessariamente o é, pois tanto a mulher feminina, quanto a masculinizada pode ter atração por ambos os gêneros, como também o homem “afeminado” ou “macho alfa”.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Se for possível falar de uma cronologia do uso desses termos, há algum tempo a sociedade considerava que todos deveriam ser heterossexuais. Nesse período, os homossexuais eram tidos como doentes que deveriam ser tratados. A partir da década de 1970, pesquisas comprovaram que a homossexualidade não é uma doença e que sempre existiu na história da humanidade, na qual o percentual relativo, em todas as sociedades, de homossexual e bissexual é de 5 a 10%, independente de nacionalidade, religião ou profissão. E, assim como o movimento feminista na década de 1960, os homossexuais e bissexuais criaram movimentos para mobilizar a sociedade contra o preconceito que sofrem, em busca de um mundo mais justo e democrático, cujo respeito impere.

Fonte: Wikimedia Commons

E é a partir do surgimento desses grupos, principalmente nos países desenvolvidos, que essa parcela da sociedade conseguiu pressionar os governos para que adotassem medidas para coibir o preconceito, além de legalizar e aprovar o casamento homossexual e o direito de constituir família. Hoje são 25 países, incluindo Estado Unidos, México, Espanha, Portugal, dentro outros, de acordo com o mapa a seguir.

Diante dessas conquistas, nos países desenvolvidos o preconceito é menor, se comparado aos países subdesenvolvidos, onde ainda há muito preconceito e discriminação sobre a minoria étnica, como homossexuais e bissexuais. No Brasil, em 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a união estável entre casais do mesmo sexo como entidade familiar, permitindo os mesmos direitos que envolvem uma união estável entre indivíduos do sexo oposto. Dois anos depois, em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio da resolução 175, decidiu que os cartórios brasileiros fossem obrigados a celebrar casamento entre pessoas do mesmo sexo, e não poderiam se recusar a converter união estável homoafetiva em casamento. Apesar de importante, a decisão não tinha a mesma força do que uma lei e pode ser contestada por juízes, dificultando o processo. Entre 2014 e 2015, o casamento gay, homoafetivo ou igualitário cresceu mais do que a formalização do compromisso entre casais heterossexuais no Brasil e de acordo com a pesquisa anual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Estatísticas de Registro Civil as uniões igualitárias cresceram 15,7%. Entre os héteros, aumentaram 2,7%. Desde 2013, o casamento de papel passado entre cônjuges do mesmo sexo biológico aumentou 51,7%. Importante destacar que, para muitos, a oficialização da união é também uma atitude política, de afirmação de direitos da população LGBT, além de significar a cristalização de um compromisso.

Figura 02 - Países em que o casamento homoafetivo é legalizado.

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Fonte: Shutterstock.com

A12  Orientação sexual: desigualdades e discriminação

Figura 03 - Casamento gay, homoafetivo ou igualitário.


Sociologia

No Brasil, a sigla LGBT referente à diversidade à diversidade sexual representa lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Entre os transgêneros estão os travestis e transexuais. Falar sobre a sigla nos remete à Parada Gay de São Paulo, evento que acontece na Avenida Paulista, em que uma multidão celebra a diversidade sexual dentro de sociedade que ainda insiste em não a aceitar totalmente. Segundo os organizadores, foram 3 milhões de pessoas no ano de 2016, reforçando a posição da manifestação como a maior dos segmentos LGBT do mundo. A mobilização e a luta são necessárias e legítimas, pois a discriminação e estereótipos associados à homossexualidade e bissexualidade ainda marcam muito quem se vê confrontado com a sua orientação sexual, pois há quem aceite e assuma com fluidez, porém, muitas pessoas tendem a negar ou a esconder a sua verdadeira orientação sexual. Tudo isso, muitas vezes, por medo de sofrer preconceito ou algum tipo de violência.

Apesar de a nossa sociedade apresentar determinada abertura para o posicionamento sexual dos homossexuais, ainda observamos ataques psicológicos violentos a essas pessoas, como podemos ver nos gráficos1 a seguir, que mostram dados mais recentes disponibilizados pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República sobre a violência homofóbica são de 2012. 1 Gráficos e reportagem acessada e disponível em: http://brasildebate.com.br/a-violencia-homofobica-em-numeros/ Acesso em: 08 maio de 2017.

A12  Orientação sexual: desigualdades e discriminação

Figura 04 - Parada do orgulho LGBT de São Paulo

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Fonte: Wikimedia Commons

A homofobia é crescente em nossa sociedade e lança terror à comunidade LGBT. Mas, o que é homofobia? É um sentimento ou reação externa de rejeição a algo de que o indivíduo não gosta, ou não concorda, ou tem medo. Portanto, homofobia é uma das manifestações da fobia que se declara quando esse indivíduo toma as diferenças de orientação sexual entre as pessoas como fonte de preconceito e de discriminação e até de agressão física, verbal, sexual ou moral, caracterizando-se por toda a ordem de violência física, psicológica e simbólica cometida contra quem vivencia relação afetivo-sexual com parceiros do mesmo sexo. As práticas de violência avançam pelas ruas, pelas casas, pelas religiões, pelas profissões que silenciam frente à ausência de direitos desse segmento e por várias outras instituições. Muitas vezes elas são realizadas pelo próprio Estado, por meio de seus aparelhos de hegemonia, a exemplo da polícia, ou mesmo por pessoas que simplesmente comentem crime de ódio contra os segmentos LGBT pelo fato de esses indivíduos orientarem sua vida sexual fora dos padrões da considerada heteronormatividade. (GOMES, et al., 2014)


Ciências Humanas e suas Tecnologias

2012

% de aumento

Denúncias

1159

3084

166,09%

Violações

6809

9982

46,6%

Suspeitos

2275

4784

110,29%

Média violação/vítima

3,97

3,23

17,45% 10,03%

7,88% 2,70%

Fonte: SDH, 2012

Em 2012, os dados mostram que 58,9% das vítimas conheciam o agressor e que o local mais frequente de agressão é a casa (38,6%), seguido da rua (30,8%). Relação suspeito ví ma

Conhecido 58,90%

Não informado 7,00%

Fonte: SDH, 2012

Apesar da subnotificação, os números apontam grave quadro de violências homofóbicas no Brasil: no ano de 2012, foram reportadas 27,34 violações de direitos humanos de caráter homofóbico por dia. A cada dia, durante o ano de 2012, 13,29 pessoas foram vítimas de violência homofóbica reportada no país. Entre as vítimas das denúncias, em que pese os altos índices de desconhecimento sobre a identidade de gênero das mesmas, 60,44% foram identificadas como gays, 37,59% como lésbicas, 1,47% como travestis e 0,49% como transexuais.

Desconhecidos 34,10% Fonte: SDH, 2012

Já o gráfico a seguir mostra o perfil das violações denunciadas em 2012, com destaque para a violência psicológica e a discriminação. Tipo de violação 83,20%

74,01%

Transexuais 0,49%

32,68%

Fonte: SDH, 2012

Já o gráfico a seguir mostra o grande percentual de vítimas na faixa etária de 15 a 29 anos, com concentração de 18 a 29 anos.

0,10% 0,10% 0,03%

2,39%

4,18%

so fina nce iro

Lésbicas 37,59%

5,70%

ee con ôm Dis i crim co ina Ou ção tra s re Ne glig lac ion ênc ada ia s ao Tra sd bal hs ho esc Trá rav fico o de pes soa Vio s lên Vio cia lên si cia ca ins tu Vio cio lên n cia al psi col ó g Vio ica lên cia sex ual

1,13%

Abu

Gays 60,44%

0,40% 0,06%

ad o Até 12 an De os 13 a1 4a no De s 15 a2 9a De no 30 s a3 9 De an os 40 a4 9 De an os 50 a5 9 De an os 60 a6 9a De no s 70 a8 5a no s

0,04% 0,27%

Fonte: SDH, 2012

119

A12  Orientação sexual: desigualdades e discriminação

2011

61,16%

Nã oi nfo rm

As análises foram feitas essencialmente a partir dos dados provenientes do Disque Direitos Humanos (Disque 100) da SDH: as estatísticas analisadas referem‐se às violações reportadas, não correspondendo à totalidade das violências ocorridas cotidianamente contra LGBT. Segundo o estudo, em 2012, foram registradas pelo poder público 3 084 denúncias de 9 982 violações relacionadas à população LGBT, envolvendo 4 851 vítimas e 4 784 suspeitos. Em relação a 2011 houve um aumento de 166,09% de denúncias e 46,6% de violações, quando foram notificadas 1 159 denúncias de 6 809 violações de direitos humanos contra LGBT, envolvendo 1 713 vítimas e 2 275 suspeitos, conforme tabela abaixo:


Sociologia

Tanto na análise do crescimento das ocorrências como dos números absolutos, é importante considerar a questão da subnotificação dos casos, seja porque as vítimas se sentem intimidadas, seja por despreparo dos agentes públicos. No entanto, os dados mostram a importância da criminalização da homofobia e da educação para a igualdade, a fim de que a violência homofóbica no Brasil possa ser enfrentada em todas as suas formas. Enquanto isso, assumir a homossexualidade ainda pode ser um ponto de partida de um árduo processo que ainda virá, se o sujeito resolver se revelar para outras pessoas, pois carregar o estigma significa ter de lidar com intolerância, conflitos e violência de várias maneiras. Abaixo registramos outras categorias importantes associadas à questão do gênero e conceitos que são desdobramentos dessa discussão para didatizar e facilitar a apreensão dos conceitos que podem ser fundamentais. Expressão (ou Performance) de Gênero Refere-se às maneiras que as pessoas usam para expressar seu gênero em sociedade, como uso de acessórios, gestos, as atitudes e o timbre da voz.

Identidade de gênero É o gênero com o qual a pessoa se identifica. Há quem se perceba como homem, como mulher, como ambos ou mesmo como nenhum dos dois gêneros: são os chamados não binários. Cisgênero

Transexual e/ou transgênero

Identifica-se com o mesmo gênero que lhe foi dado no nascimento

Identifica-se com um gênero diferente daquele que lhe foi dado no nascimento

Orientação sexual

A12  Orientação sexual: desigualdades e discriminação

Depende do gênero pelo qual a pessoa desenvolve atração sexual e laços afetivos. Heterossexual

Homossexual

Bissexual

Por alguém de outro gênero

Por alguém do mesmo gênero

Por ambos

Referências bibliográficas GOMES, Ana Maria, REIS, Aparecido Francisco dos, KURASHIGE, Keith Diego. Violência e homofobia: um estudo sobre o preconceito e a agressão contra a população LGBT em Mato Grosso do Sul. Revista Bagoas, v.8, n.11, 2014.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação

ECHEVERRIA, Malu. Brincadeira não tem sexo: meninos e meninas podem — e devem — brincar do que tiverem vontade. In: Revista Crescer. ed. 139, jun. 2005. Disponível em: <http://super.abril.com.br>. Acesso em: 29 jan. 2009.

Sobre o processo de socialização e as relações de gênero, é correto afirmar: a) O termo “sexo” distingue as diferenças anatômicas, e o termo “gênero”, as diferenças fisiológicas entre homens e mulheres. b) As relações de gênero são universais e não dependem da construção que cada cultura tem em relação às diferenças sexuais. c) O processo de socialização disciplina os corpos quanto aos modos de agir, porém esse aprendizado não interfere nos modos de ser dos sujeitos sociais. d) O gênero é uma construção social que, através de organismos sociais, como a família e a mídia, atribui papéis e identidades sociais a homens e mulheres. e) As brincadeiras de crianças, assim como o modo como se comportam, demonstram que os papéis sociais são definidos antes mesmo do encontro com as instituições sociais. 02. (Unicentro PR) Uma mãe canadense defendeu a decisão tomada por ela e por seu marido de manter em segredo o sexo de seu filho mais novo, para dar à criança a oportunidade de desenvolver a sua identidade sexual por conta própria. A decisão tomada por Kathy Witterick, 38 anos, e David Stocker, 39, de não revelar o gênero de seu bebê Storm, de quatro meses de idade, gerou uma avalanche de reações – positivas e negativas – após reportagem do jornal “Toronto Star”, publicada nesta semana [28.05.2011]. (www.g1.globo.com. Adaptado.)

De acordo com o texto, pode-se afirmar que: a) O ponto de vista adotado pela mãe canadense pressupõe a adoção do determinismo biológico no campo da sexualidade. b) O fato descrito pela reportagem revela a influência da fé religiosa nos padrões comportamentais contemporâneos. c) Sob o ponto de vista moral, a decisão tomada pelo casal canadense expressa um perfil conservador. d) O fato em questão revela que, para os pais da criança canadense, identidade sexual é um tema pertencente exclusivamente à esfera da autonomia individual.

e) A postura adotada pelos pais da criança em questão revela intolerância no campo das diferenças sexuais. 03. As afirmativas abaixo dizem respeito a certas concepções sobre gênero. Assinale a alternativa que apresenta somente afirmativas sociologicamente corretas. I. Os gêneros são socialmente construídos. É por isso que não se pode dizer, sociologicamente, que existe algo como a “masculinidade” ou a “feminilidade” natural das pessoas. II. Os sexos surgem naturalmente entre as pessoas. É por isso que nas relações afetivas sempre há um polo masculino e outro feminino. III. Todas as pessoas nascem sem sexo. Somente após o nascimento é que a sociedade acaba por definir quem será homem e quem será mulher, segundo seu órgão sexual. IV. A forma como a sociedade ocidental compreende e define as diferenças de gênero acaba por excluir manifestações minoritárias (como as pessoas chamadas de hermafroditas, por exemplo), que passam a ser consideradas aberrações. V. A homoafetividade é uma anomalia genética passível de tratamento. Estão corretas sociologicamente: a) Somente I e III. b) Somente II e V. c) Somente I e IV. d) Somente I, III e IV. e) Somente II, IV e V. 04. A construção do masculino e do feminino em uma sociedade, no entanto, varia de acordo não somente com seu conjunto de normas instituídas, mas principalmente por tradições, valores e subjetividades, materializadas pela existência de indicadores que traduzem as desigualdades vivenciadas pela população, apesar dos pactos, tratados e resoluções construídas na direção da promoção de igualdade. BICALHO, P. P. G. et al. Os direitos sexuais e o enfrentamento da violência sexual. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 24, n.1, 2012, p. 36.

A respeito das desigualdades de gênero, assinale a alternativa correta. a) As desigualdades de gênero, no Brasil, são maiores que nos outros países mais desenvolvidos. b) A igualdade entre homens e mulheres existe, uma vez que está presente na Constituição. c) Há diversas instituições, normas e condutas das pessoas que expressam as desigualdades de gênero. d) A população deve ser vista como uma totalidade não fragmentada para que as desigualdades deixem de existir. e) Somente uma ética da tolerância é capaz de estimular condutas da desigualdade.

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A12  Orientação sexual: desigualdades e discriminação

01. (Unicentro PR) As brincadeiras de menino, em geral, envolvem atividades ao ar livre, como bicicleta, pipa ou skate. As meninas brincam de casinha. Isso é comum porque, antigamente, era papel do homem sair de casa para trabalhar, enquanto às mulheres cabiam os cuidados com o lar”, constata a pedagoga Maria Angela Barbato Carneiro, coordenadora do Núcleo de Cultura, Estudos e Pesquisas do Brincar da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.


Sociologia Questão 02. Apresentar os homossexuais como uma figura caricatural corresponde a um ato político na medida em que cria (ou revela) o estereótipo de que os gays não podem ser levados a sério. Isso acontece na medida em que seus atos não estão de acordo nem com os parâmetros masculinos nem com os femininos. Isso cria uma aura de excentricidade que é utilizada pela mídia para dar a conotação de um humor que não valoriza a identidade dos homossexuais como pessoas dignas de respeito, mas somente de zombaria.

Exercícios Complementares 01. (Ufu MG) Na questão abaixo, aparecem duas afirmativas ligadas pela expressão “uma vez que”. As diferenças de comportamento entre pessoas de sexos diferentes são determinadas por fatores biológicos, UMA VEZ QUE as atividades atribuídas às mulheres em uma cultura não podem ser atribuídas aos homens em outra. a) Se as duas afirmativas forem verdadeiras e a segunda explicar a primeira. b) Se as duas afirmativas forem verdadeiras e a segunda não explicar a primeira. c) Se as duas afirmativas forem falsas. d) Se a primeira afirmativa for falsa e a segunda verdadeira.

A12  Orientação sexual: desigualdades e discriminação

02. (Ufu MG) Frequentemente, nos programas de televisão, é apresentada uma visão caricatural dos homossexuais. Discorra sobre o assunto, procurando evidenciar até que ponto e por que esse procedimento muito difundido pode ser considerado um ato político, tomando-se, aqui, política em seu sentido mais amplo. 03. (Ufu MG) A identidade de gênero tem sido considerada o fundamento e a alavanca de um dos mais importantes movimentos sociais contemporâneos, distinguindo-se de outros, como os orientados pela identidade de classe, de etnia, de crença religiosa. Assinale a alternativa correta quanto às características dos movimentos de gênero no momento histórico atual. a) A identidade feminina, que fundamenta os movimentos sociais de gênero, referencia-se em singularidades biológicas ou naturais, como a menstruação, a gestação, a concepção humana, a dominação masculina, sendo este referencial muito particular em relação aos demais movimentos sociais. b) Os movimentos de gênero apresentam diversidade interna análoga a outros movimentos sociais e, em alguns casos, além das reivindicações referentes às singularidades biológicas da mulher e à dominação masculina, incorporam outras, referentes às desigualdades étnicas e de classes, por exemplo. c) A identidade feminina e as mulheres permanecem absolutamente submetidas à dominação masculina, como se observa na esfera econômica, e os movimentos de gênero não devem ser diferenciados dos demais por reivindicações frustradas ou particulares, à medida que todos são naturais e se repetem na história. d) A identidade feminina fundamentou os movimentos sociais de gênero apenas em seu início, no século XIX, tendo diluído-se nos demais movimentos em décadas recentes, à medida que permaneceram presos aos temas políticos historicamente impostos pelos homens, descaracterizando a luta feminista.

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04. (Uem PR) Saffioti afirma que “A identidade social da mulher, assim como a do homem, é construída através da atribuição de distintos papéis, que a sociedade espera ver cumpridos pelas diferentes categorias de sexo. A sociedade delimita, com bastante precisão, os campos em que pode operar a mulher, da mesma forma como escolhe os terrenos em que pode atuar o homem.” (SAFFIOTI, Heleieth. Opoder do Macho. São Paulo: Moderna, 1987, p.8). Resposta: 01 + 04 + 16 = 21.

Tendo como referência o texto e seus conhecimentos sobre a temática de “gênero”, assinale o que for correto. 01. Tradicionalmente, as sociedades ocidentais modernas destinaram às mulheres a tarefa de socializar os filhos. Contudo, ao longo do tempo, surgiram “novos arranjos familiares”, pois a família é uma instituição marcada pelo dinamismo. 02. A atribuição do espaço doméstico à mulher decorre de sua capacidade natural para realização dos afazeres de casa e da socialização dos filhos. 04. A educação exerce papel central na constituição das identidades sociais de homens e de mulheres. 08. A definição de distintos papéis sociais para homens e mulheres torna legítima, para as diferentes categorias de sexo, a suposta superioridade dos homens. 16. A inferioridade feminina é exclusivamente social, sendo que o fenômeno da subordinação da mulher ao homem atravessa todas as classes sociais. 05. (Uem PR) “Gênero é um conceito formulado para tentar compreender como se organizam as relações sociais que se desenvolvem entre homens e mulheres. Ao contrário do sexo que, em princípio, pode ser pensado como biologicamente constituído, o gênero será sempre uma construção social, isto é, as formas como homens e mulheres comportam-se, pensam as atividades que exercem, o acesso ao conhecimento, ao poder, entre outras, estará relacionada a grupos sociais específicos, de sociedades específicas e em momentos históricos específicos.” (FEITOSA, Samara. A construção social dogênero. Curitiba: SEED. Fonte:<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br>. Acesso em: 25/06/2010).

Considerando o texto acima e seus conhecimentos sobre as relações entre indivíduo e sociedade, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). Resposta: 01 + 02 + 04 + 16 = 23. 01. Enquanto a biologia determina o sexo, a estrutura social e a cultura determinam a expressão dos papéis masculinos e femininos. 02. A construção social do gênero faz-se evidente na maneira como os pais tratam os filhos, como os professores tratam os alunos e como os meios de comunicação de massa retratam imagens ideais do corpo.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

06. (Uel PR) Leia o texto a seguir: Uma notável virada na história do casamento teve início na década final do século XX, com a institucionalização oficial do casamento homossexual, ou “parceria”. [...] O reconhecimento da homossexualidade como forma legítima de sexualidade foi parte da revolução sexual do ocidente. Ela está agora descriminalizada onde era ainda um delito, e em 1973 foi retirada da lista de desordens mentais da Associação Psiquiátrica Americana. Em 1975, a Comissão de Serviços Civis dos EUA retirou sua interdição à contratação de homossexuais. Logo, a discriminação dos homossexuais é que passou a ser considerada um delito. A igualdade em relação à “orientação sexual” esteve nas normas para a nomeação de prefeitos na Holanda na década de 1980, por exemplo. Grande avanço internacional foi sua inclusão na Constituição Sul-Africana pós-apartheid [em 1996]. [...] Entretanto, o que é interessante nesse nosso contexto particular são as reivindicações de gays e lésbicas pelo direito ao casamento e a aceitação parcial de suas exigências. O maior progresso aconteceu no norte da Europa [...]. [...] as parcerias de mesmo sexo foram inicialmente institucionalizadas na Escandinávia como tantas outras coisas da moderna mudança da família. Desde 1970, as autoridades suecas reconheciam alguns direitos gerais de coabitação dos parceiros do mesmo sexo, reconhecimento sistematizado em 1987 no Ato dos Coabitantes Homossexuais. A primeira legislação nacional sobre parcerias registradas entre casais do mesmo sexo foi aprovada na Dinamarca, em 1989, e serviu de modelo para outros países escandinavos. Na Holanda, a lei sobre parcerias registradas está em efeito desde 1998, na França desde 1999, abrangendo também relações pessoais solidárias que não apenas homossexuais. [...] No Brasil, um projeto de lei do Partido dos Trabalhadores, então na oposição, foi apresentado antes das eleições de 2002, mas não foi ainda votado. O casamento não está desaparecendo. Está mudando. (THERBORN, G. Sexo e poder: a família no mundo, 1900-2000. São Paulo: Contexto, 2006. p.329-331.)

Os direitos dos homossexuais relatados no texto constituem-se em demandas expostas pelos a) “clássicos” movimentos operários organizados em vários países desde o século XIX, voltados para os problemas de classes sociais, direitos trabalhistas, participação política e sindical, fortemente impulsionados pelos líderes sindicais.

b) “tradicionais” movimentos religiosos da América Latina e outros países no século XX, voltados pela humanização das relações sociais, direitos humanos, inclusão social e política, fortemente impulsionados pelos líderes eclesiásticos. c) “recentes” movimentos sociais surgidos em vários continentes na década de 2000, voltados para a manutenção dos direitos civis, fortalecimento do casamento como instituição familiar sólida e eficaz na preservação da estrutura social patriarcal. d) “modernos” movimentos sociais surgidos em todo o mundo na década de 1930, voltados para a consolidação dos laços de solidariedade, união e civilidade, fortemente impulsionados pelos líderes do sindicalismo corporativo. e) “novos” movimentos sociais surgidos em vários países a partir dos anos de 1960, voltados para os problemas identitários de grupos, gênero, etnias e políticas do corpo, fortemente impulsionados pelas ativistas feministas. 07. (Ufu MG) A noção de gênero consiste em uma categoria de análise fundamental para os estudos contemporâneos destinados à compreensão da dominação masculina e às representações sociais do feminino e masculino. Com base na afirmação acima, conclui-se que: a) O conceito de gênero substituiu o termo sexo para se referir à caracterização anátomo-fisiológica dos seres humanos. b) Os estudos de gênero se referem apenas ao comportamento sexual dos indivíduos. c) Ela envolve a concepção da distinção entre os sexos como uma construção social. d) A noção de gênero surge nos anos 90 do século XX a partir das teorias feministas. 08. (Uem PR) “Após trabalhar com um grupo de mulheres com idades entre 29 e 53 anos, sem filhos e morando sozinhas há mais de 2 anos, a pesquisadora [ Eliane Gonçalves] ‘contesta a ideia de que as mulheres estão sós porque esperam seu príncipe encantado, foram preteridas em função das mais jovens ou por motivos afins’, afirmando que ‘há escolhas que elas vão fazendo ao longo da vida, como privilegiar a carreira para marcar seu lugar no mundo’. Segundo Eliane, sob a lógica do ‘familismo’, que pressupõe o par e o casamento como lugares privilegiados de saúde e felicidade, a mulher ‘só’ é percebida como solitária e infeliz, frustrada e insatisfeita, já que sua existência seria medida e avaliada segundo a perspectiva de mulher casada ou que possui um par masculino.” Resposta: 02 + 08 = 10.

(HAAG, Carlos. “Mulher solteira não procura mais”. Revista Fapesp. Ed.145, março de 2008).

A partir da leitura da citação acima, é correto afirmar que 01. as mulheres que vivem sem marido ou companheiro estão nessa situação por serem muito exigentes e perderem na juventude boas oportunidades matrimoniais. 02. a conquista de boas posições no mercado de trabalho é considerada por muitas mulheres um dos fatores predominantes da independência e autonomia feminina. 123

A12  Orientação sexual: desigualdades e discriminação

04. As roupas são artefatos culturais fundamentais na formação e expressão das identidades femininas e masculinas. 08. São expressões de anomalia social as construções culturais de papéis masculinos e femininos que não correspondem às determinações biológicas do sexo. 16. A violência contra homossexuais está assentada num conjunto de representações sociais de forte caráter conservador que considera as relações afetivas entre pessoas do mesmo sexo um comportamento desviante.


Sociologia

04. o ato de morar só é característico do isolamento social e de uma anomalia psíquica vivenciada pelas mulheres que privilegiaram ao longo de suas vidas o estudo e a carreira profissional. 08. é expressão de uma concepção social patriarcalista considerar o solteirismo feminino como uma falta essencial, cristalizada na ideia de solidão e vitimização. 16. a pesquisa realizada comprova que a mulher solteira e sem filhos sofre mais problemas de saúde do que as mulheres casadas. 09. (Uem PR) “O ‘homem feminino’ era uma espécie de náufrago chegando a uma ilha deserta e tentando se adaptar às condições de vida do lugar. Ele não escolheu estar ali. Não preparou seu espírito para mudar de vida. Não esqueceu as facilidades e o conforto do lugar onde morava. Mas como vinha questionando a validade de viver para o trabalho, estressado, viu no naufrágio uma oportunidade de experimentar a novidade”.

A12  Orientação sexual: desigualdades e discriminação

OLIVEIRA, Malu. Homem e mulher a caminho do século XXI. São Paulo: Ática, 1997, p. 67. Resposta: 02 + 08 = 10.

Considerando o texto e o tema instituições sociais e as relações entre indivíduo e sociedade, assinale o que for correto. 01. As ciências sociais consideram que as diferenças de comportamento existentes entre homens e mulheres, em relação aos seus papéis familiares, são decorrentes das diferenças anatômicas e fisiológicas existentes entre os sexos. 02. Alguns dos principais movimentos sociais contemporâneos problematizam e questionam os modelos hegemônicos de masculinidade e feminilidade heterossexuais como única forma legítima de conformação das identidades e comportamentos sexuais. 04. Os movimentos pela igualdade entre os gêneros, originados no início do século XX, foram organizados por grupos sociais que lutavam, simultaneamente, pelo reconhecimento do papel público das mulheres e pelos direitos à vida familiar e doméstica dos homens. 08. Os estudos de gênero apontam que valores, como força, coragem e ousadia, associados ao mundo masculino, bem como as concepções de delicadeza, timidez e fragilidade, relacionadas aos conceitos de feminino, são construções simbólicas e sociais que podem ser apropriadas das mais diversas maneiras pelos homens e pelas mulheres. 16. O avanço feminista do século XX alterou radicalmente a posição das mulheres no mundo público e privado, mas não afetou significativamente a identidade masculina. 10. (Uem PR) Leia o texto a seguir, que remete ao debate sobre questões de gênero. A violência contra a mulher acontece cotidianamente e nem sempre ganha destaque na imprensa, afirmou a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire [...]. “Quando surgem casos, principalmente com pessoas famosas, que chegam aos jornais, é que a sociedade efetivamente se dá con124

ta de que aquilo acontece cotidianamente e não sai nos jornais. As mulheres são violentadas, são subjugadas cotidianamente [...]”, afirmou a ministra. [...] “Eliza morreu porque contrariou um homem que achou que lhe deveria impor um castigo. Ela morreu como morrem tantas outras quando rompem relacionamentos violentos”, disse a ministra. (“Violência contra as mulheres é diária”, diz ministra, Agência Brasil, Brasília, 11 jul. 2010.)

Com base no texto e nos conhecimentos socioantropológicos sobre o tema, é correto afirmar: a) Questões de gênero são definidas a partir da classe social, razão pela qual são mais presentes nas camadas populares do que entre as elites. b) As identidades sociais masculina e feminina são configuradas a partir de características biológicas imutáveis presentes em cada um. c) As diferenças de gênero são determinadas no terreno econômico, daí o fato de serem produto da sociedade capitalista. d) As experiências socialistas do século XX demonstram que nelas as questões de gênero são resolvidas de modo a estabelecer a igualdade real entre homens e mulheres. e) As relações de gênero são construídas socialmente e favorecem, nas condições históricas atuais, a dominação masculina. 11. (Uem PR) Segundo a autora Valéria Pilão, “Há um grupo no estado de São Paulo chamado ‘Carecas do ABC’, cuja atividade coletiva chegou ao extremo de jogarem um garoto pela janela do trem, pois o mesmo era punk. As manifestações homofóbicas também estão presentes, o preconceito contra o negro é outra característica que permeia estes movimentos. Na cidade de Curitiba, capital do estado do Paraná, recentemente (set/2005) um grupo pregando ‘o orgulho branco’ agrediu um negro na região denominada setor histórico. Suas atitudes não pararam por aí, panfletos cujo conteúdo propunha o preconceito ao homossexual e ao negro foram afixados nos postes do local.” (PILÃO, V. Movimentos sociais. In: LORENSETTI, E. et al. Sociologia. Curitiba: SEED-PR, 2006, p. 241-242). Resposta: 02 + 04 = 06.

Levando em consideração o texto acima, é correto afirmar que 01. a discriminação contra os grupos sociais considerados minoritários, como aparece no texto citado, respeita o ordenamento jurídico brasileiro. 02. as situações de violência descritas no texto expressam a persistência de preconceitos contra homossexuais e negros na sociedade brasileira. 04. ainda ocorrem no Brasil a organização e a participação em grupos que promovem a intolerância e a violência contra homossexuais e negros. 08. no Brasil, após a promulgação da Constituição de 1988, o preconceito e a discriminação contra grupos minoritários deixaram de existir. 16. o preconceito e a discriminação contra homossexuais e negros contribuem para tornar a sociedade brasileira homogênea, saudável e pacífica.


FRENTE

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SOCIOLOGIA

Exercícios de Aprofundamento 01. (UFPR) A diversidade cultural que esteve presente na origem e na formação do Brasil ainda caracteriza nossa sociedade. Cite três elementos que atestam essa diversidade e comente cada um deles.

Sotaques, religião, costumes, gastronomia; que refletem a história e a influência da miscigenação.

02. (Uel PR) Leia o texto. Kino ouviu a leve batida das ondas da manhã na praia. Como era bom... Tornou a fechar os olhos para escutar a música dentro dele. Talvez só ele fizesse isso, talvez todos os homens da sua raça também fizessem. Tinham sido em outros tempos grandes fazedores de cantigas, de modo que tudo viam, pensavam, faziam ou ouviam virava cantiga. Era assim havia muito, muito tempo. As cantigas haviam ficado e Kino as conhecia, mas não havia cantigas novas. Não era que não houvesse cantigas pessoais. Naquele momento mesmo, havia na cabeça de Kino uma cantiga clara e terna e, se ele pudesse dar voz aos seus pensamentos, iria chamar-lhe a Cantiga da Família. (STEINBECK, J. A Pérola. São Paulo: Círculo do Livro, p. 8.)

De acordo com o texto, assinale a alternativa correta. a) A cultura se mantém pela tradição, contudo ela pode ser continuamente recriada com a finalidade de exprimir as novas realidades vividas por indivíduos e grupos sociais. b) A cultura herdada torna-se desnecessária à medida que os anos passam, sendo, portanto, salutar que os homens do presente esqueçam seus antepassados. c) A música é o ponto de partida da formação de um povo, pois é a partir do momento em que os homens compõem e transmitem sonoramente suas ideias que passam a ter cultura. d) São indivíduos isolados cujos valores se desenvolvem com independência em relação à base material que têm diante de si constituem o ponto de partida para a formação da cultura de um determinado povo. e) Certas raças não conseguem se desenvolver culturalmente, razão pela qual se limitam a exprimir sua história pela música em vez de o fazerem pela linguagem. 03. (Ufu MG) Uma das superstições características da cultura popular é a relativa ao mês de agosto, considerado mês de mauagouro, quando nenhuma decisão importante deve ser tomada: não se deve fechar negócios, nem marcar casamentos oufazer mudanças de qualquer espécie. O Jornal Correio de Uberlândia, em agosto de 2008, publicou reportagem que atestavamudanças desse comportamento, durante o referido mês, tais como: realizações de casamentos, de mudanças deresidências, ou de negócios em andamento ou, ainda, salões de beleza com movimento normal para “mudanças de visual”. Considerando o enunciado acima e o conceito antropológico de cultura, marque a alternativa correta.

a) Só há pureza e autenticidade nas manifestações provindas da zona rural, não contaminadas pelas vertiginosas transformações do mundo urbano. b) As práticas culturais não são congeladas no tempo, são partes integrantes da história e estão em processo de transformação com a própria história. c) As manifestações culturais populares passam por um processo de descaracterização, pois para permanecerem autênticas e tradicionais devem reproduzir integralmente o passado e evitar mudanças. d) As verdadeiras práticas tradicionais não se alteram com o tempo e são reproduzidas da mesma forma como foram originadas. 04. (Enem MEC) A hibridez descreve a cultura de pessoas que mantêm suas conexões com a terra de seus antepassados, relacionando-se com a cultura do local que habitam. Eles não anseiam retornar à sua “pátria” ou recuperar qualquer identidade étnica “pura” ou absoluta; ainda assim, preservam traços de outras culturas, tradições e histórias e resistem à assimilação. CASHMORE, E. Dicionário de relações étnicas e raciais. São Paulo: Selo Negro, 2000 (adaptado).

Contrapondo o fenômeno da hibridez à ideia de “pureza” cultural, observa-se que ele se manifesta quando a) criações originais deixam de existir entre os grupos de artistas, que passam a copiar as essências das obras uns dos outros. b) civilizações se fecham a ponto de retomarem os seus próprios modelos culturais do passado, antes abandonados. c) populações demonstram menosprezo por seu patrimônio artístico, apropriando-se de produtos culturais estrangeiros. d) elementos culturais autênticos são descaracterizados e reintroduzidos com valores mais altos em seus lugares de origem. e) intercâmbios entre diferentes povos e campos de produção cultural passam a ger ar novos produtos e manifestações. 05. (Enem MEC) A população negra teve que enfrentar sozinha o desafio da ascensão social, e frequentemente procurou fazê-lo por rotas originais, como o esporte, a música e a dança. Esporte, sobretudo o futebol, música, sobretudo o samba, e dança, sobretudo o carnaval, foram os principais canais de ascensão social dos negros até recentemente. A libertação dos escravos não trouxe consigo a igualdade efetiva. Essa igualdade era afirmada nas leis, mas negada na prática. Ainda hoje, apesar das leis, aos privilégios e arrogâncias de poucos correspondem o desfavorecimento e a humilhação de muitos. CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006 (adaptado).

Em relação ao argumento de que no Brasil existe umademocracia racial, o autor demonstra que

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Sociologia

a) essa ideologia equipara a nação a outros paísesmodernos. b) esse modelo de democracia foi possibilitado pelamiscigenação. c) essa peculiaridade nacional garantiu mobilidadesocial aos negros. d) esse mito camuflou formas de exclusão em relação aos afrodescendentes.

e) essa dinâmica política depende da participação ativade todas as etnias Resposta: 02 + 04 + 08 + 16 = 30.

06. (Uem PR) Tendo como referência as discussões sobre diversidade étnica no Brasil, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01. Os sociólogos usam os termos etnia, raça e cultura como sinônimos. 02. Nos anos 30 do século passado, a mestiçagem foi amplamente condenada por setores sociais que atribuíam a ela um fator de desequilíbrio em nossa formação social e cultural. 04. Uma abordagem sociológica crítica, como a de Florestan Fernandes, afirma que os negros participaram de todas as transformações sociais ocorridas na sociedade brasileira. 08. As populações indígenas foram alvo dos “preamentos”, ou seja, os índios eram aprisionados em massa para serem utilizados como trabalhadores escravos. 16. Para alguns analistas da cultura brasileira, a afirmação da etnicidade de alguns grupos é, também, uma luta em defesa de sua identidade sociocultural. 07. (Ufu MG) Nas últimas décadas, o Brasil experimentou mudanças demográficas, sociais, culturais, econômicas e políticas significativas. A crescente inserção das mulheres no mercado de trabalho e na política, a melhoria de seu nível educacional, a redução da fecundidade, a postergação da maternidade, a redução da resistência a novos atributos para os papeis feminino e masculino são algumas delas. No entanto,os ritmos de tais mudanças parecem seguir descompassados.

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

PICANÇO, Felícia Silva. Em: ARAÚJO, C. & SCALON, C. (org.). Gênero, família e trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.

De acordo com o trecho acima, as desigualdades de gênero na inserção no mercado de trabalho persistiriam devido à a) maior participação dos membros masculinos nas tarefas concernentes ao trabalho doméstico. b) representação de que não cabe apenas ao homem, enquanto chefe de família, o papel de provedor do grupo doméstico. c) crença no fato de que o ingresso feminino no mercado de trabalho gera um prejuízo à família. d) crítica à representação da mulher como naturalmente disposta a assumir os papéis de esposa e mãe. 08. (Unioeste PR) No Brasil, ainda são elevados os índices de violência e desigualdades de direitos entre homens e mulheres. Alguns estudos de gênero defendem a necessidade de analisarmos, com mais propriedade, a situação das mulheres e demais grupos subalternizados, social e cientificamente. Sobre os temas ligados aos estudos de gênero, assinale a afirmativa INCORRETA. a) Debater o tema da cidadania das mulheres é também analisar um processo que envolve a participação das mulheres na esfera pública e no mercado de trabalho, marcada por inclusões e exclusões que vêm desde o século XVIII. 126

b) No âmbito teórico, os movimentos feministas, ao entrarem na academia e ao fazerem crítica às categorias de análise, produziram o conceito de gênero. c) Quando se fala em estudos de gênero, se pensa na igualdade de direitos entre mulheres e homens, e, em alguns casos, em reivindicações por atendimentos especiais às mulheres. d) As políticas públicas, consideradas em sua variedade e alcance, são um importante instrumento para a concretização dos objetivos das mulheres. e) O problema da violência contra a mulher no Brasil foi solucionado com a promulgação da Lei Maria da Penha. Resposta: 01 + 02 + 16 = 19.

09. (Uem PR) Ainda que Dilma Rousseff tenha sido reeleita para aPresidência da República em 2014, o resultado dasúltimas eleições indica a reduzida representação demulheres na política brasileira. Na Câmara Federal, porexemplo, das 513 vagas em disputa, somente 51 foramassumidas por deputadas. Considerando o tema dasrelações de gênero na política brasileira, assinale o quefor correto. 01. A igualdade formal entre os sexos convive no Brasilcom práticas recorrentes de subordinação, deinferiorização e até mesmo de exclusão de mulheresda vida pública. 02. A naturalização de representações sociais queidentificam a esfera privada às mulheres e a esferapública aos homens acaba legitimando a manutençãodas desigualdades de gênero na política brasileira. 04. O reduzido número de mulheres nos cargos eletivosda política brasileira é causado tanto pelodesinteresse feminino quanto pelas dificuldadesgeradas pela maternidade. 08. A recente feminilização da política brasileira se opõeaos valores de igualdade, racionalidade e seriedadeque ajudaram a constituir as democracias modernas. 16. Os movimentos feministas surgiram das lutascoletivas das mulheres contra o sexismo, asubordinação e a inferiorização impostos por umaestrutura social patriarcal. 10. (Unesp SP) A República Islâmica do Irã abençoa e incentiva operações de troca de sexo, em nome de uma política que considera todo cidadão não heterossexual como espírito nascido no corpo errado. Com ao menos 50 cirurgias por ano, o país é recordista mundial em mudança de sexo, após a Tailândia. Oficialmente, gays não existem no país. Ficou famosa a frase do presidente Mahmoud Ahmadinejad dita a uma plateia de estudantes nos EUA em 2007, de que “não há homossexuais no Irã”. A homossexualidade nem consta da lei. Mas sodomia é passível de execução. […] Uma transexual operada confidenciou um sentimento amplamente compartilhado em silêncio: “Não teria mutilado meu corpo se a sociedade tivesse me aceitado do jeito que eu nasci”. (SamyAdghirny. Operação antigay. Folha de S.Paulo, 13.01.2013.)

O incentivo a cirurgias de troca de sexo no Irã é motivado por a) tabus sexuais decorrentes do fundamentalismo religioso hegemônico naquele país. b) critérios de natureza científica que definem o que é uma “sexualidade normal”. c) uma política governamental fundamentada em princípios liberais de cidadania. d) influências ocidentais ocasionadas pelo processo de globalização cultural pela internet. e) pressões exercidas pelos movimentos sociais homossexuais pelo direito à cirurgia.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

FOUCAULT, Michel. 1984 - Entrevista com Michel Foucault. In: _____. Problematização do sujeito: psicologia, psiquiatria e psicanálise. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006, p. 338.

O texto acima faz uma interessante abordagem a respeito da relação entre identidade e sexualidade. Considerando a abordagem feita por Michel Foucault e os conhecimentos que você possui de sociologia, assinale a alternativa incorreta: a) Nem todos os povos utilizam o critério de “atração sexual” para definir a identidade dos indivíduos. b) Nem todas as sociedades consideram a homoafetividade como uma perversão. c) É recente, do ponto de vista histórico, a preocupação social com a identidade sexual dos indivíduos. d) A relação entre identidade e sexualidade está presente em todas as sociedades. 12. (Unesp SP) A República Islâmica do Irã abençoa e incentiva operações de troca de sexo, em nome de uma política que considera todo cidadão não heterossexual como espírito nascido no corpo errado. Com ao menos 50 cirurgias por ano, o país é recordista mundial em mudança de sexo, após a Tailândia. Oficialmente, gays não existem no país. Ficou famosa a frase do presidente Mahmoud Ahmadinejad dita a uma plateia de estudantes nos EUA em 2007, de que “não há homossexuais no Irã”. A homossexualidade nem consta da lei. Mas sodomia é passível de execução. […] Uma transexual operada confidenciou um sentimento amplamente compartilhado em silêncio: “Não teria mutilado meu corpo se a sociedade tivesse me aceitado do jeito que eu nasci”. (Samy Adghirni. Operação antigay. Folha de S.Paulo, 13.01.2013.)

O incentivo a cirurgias de troca de sexo no Irã é motivado por a) tabus sexuais decorrentes do fundamentalismo religioso hegemônico naquele país. b) critérios de natureza científica que definem o que é uma “sexualidade normal”. c) uma política governamental fundamentada em princípios liberais de cidadania. d) influências ocidentais ocasionadas pelo processo de globalização cultural pela internet. e) pressões exercidas pelos movimentos sociais homossexuais pelo direito à cirurgia.

13. (Uel PR) Leia os textos a seguir e responda à questão. Texto I Reserva da insensatez O processo de demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, é o mais antigo e conturbado da história do Brasil [...]. Ao delimitarem uma reserva desse tamanho [7,5% da área do estado], os antropologos da Funai pressupunham que os índios continuariam vivendo como nômades, de caça e da pesca, a exemplo de seus ancestrais. Mas eles estão totalmente integrados às cidades do entorno. Moram em casas, fazem compras em supermercados e falam português [...]. Texto II Selva é com ele O Comandante da Amazônia [general de exército Augusto Heleno Pereira] chamou a atual política indigenista de “lamentável” e “caótica”, por impedir não índios de entrar em reservas e por abandonar as comunidades indígenas à miséria depois da demarcação [...] A doutrina militar defende desde a ocupação e a civilização da Amazônia como a melhor forma de protegê-la. A ameaça de invasão da região por traficantes e terroristas estrangeiros, como os da Farc, é real. Só quem pode contê-la é o Exército. Por isso, é de bom senso sempre ouvir o que os generais têm a dizer sobre a Amazônia. (Revista Veja, 23 abr. 2008. p. 58)

Em 2008, o Supremo Tribunal Federal brasileiro discutiu a demarcação contínua da Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. Fortes críticas à permissão da demarcação (como ilustrado pelos textos anteriores) revelam valores e formas de pensamento de setores da sociedade brasileira. Sobre esta polêmica, considere as seguintes afirmativas. I. Este processo de disputa atesta a dificuldade, ainda nos dias atuais, da efetivação dos direitos de etnias indígenas em meio aos interesses de proprietários de terra. II. Embora contrárias à demarcação, as críticas expostas nos textos estão livres do sentimento de superioridade cultural pelos não índios. III. As polêmicas são causadas pelas debilidades culturais das etnias indígenas, que não lhes permitem integrar-se de forma harmoniosa ao Estado brasileiro. IV. O argumento segundo o qual se deve “civilizar” a Amazônia demonstra que pressupostos etnocêntricos ainda se encontram presentes na sociedade brasileira. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e III são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas II e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

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FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

11. Na cultura grega, que conhecia os aphrodisia, era simplesmente impensável que alguém fosse essencialmente homossexual em sua identidade. Havia pessoas que praticavam os aphrodisia convenientemente, segundo os costumes, e outras que não os praticavam bem, mas o pensamento de identificar alguém segundo sua sexualidade não poderia vir-lhes à ideia. Foi somente quando o dispositivo da sexualidade estava efetivamente estabelecido, quer dizer, quando um conjunto de práticas, instituições e conhecimentos havia feito da sexualidade um domínio coerente e uma dimensão absolutamente fundamental do indivíduo, foi nesse momento preciso que a questão “Que ser sexual é você?” tornou-se inevitável.


FRENTE

A


SOCIOLOGIA Por falar nisso O termo “Política”, em qualquer de seus usos, na linguagem comum ou na linguagem dos especialistas e profissionais, refere-se ao exercício de alguma forma de poder e, naturalmente, às múltiplas consequências desse exercício. Toda maneira pela qual o poder é exercido ele se reveste de grande complexidade, às vezes não aparente à primeira vista. Por exemplo, se o governo decreta um novo imposto, esse ato não consiste em uma decisão que “vai e não volta”. Ao contrário, a criação de um novo imposto, cuja decretação constitui obviamente um ato de poder, ou seja, um ato político, é precedida, conforme o caso, por uma série de outros atos em que tomam parte diversos detentores de alguma espécie de poder, tais como governantes, técnicos, assessores, grupos de interesse, indivíduos ou entidades influentes e assim por diante. Tal ato desencadeia uma inter-relação entre a “fonte do poder” (a que criou e implantou o imposto) e os submetidos a esse poder (os que, direta ou indiretamente, são afetados pelo imposto). Basta pensar um pouco para ver como qualquer ato de poder é complexo e cheio de implicações. E é esse o terreno da Política. (RIBEIRO, 1998, p. 1) Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A13 A14 A15 A16

Política, poder e Estado moderno..................................................130 Ciência política, formas, sistemas e tipologias de governo...........137 Partidos políticos e participação política........................................143 Movimentos sociais e novos movimentos sociais..........................151


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A13

ASSUNTOS ABORDADOS nn Política, poder e Estado Moderno nn Michel Foucault e a microfísica do poder nn Surgimento do Estado Moderno

POLÍTICA, PODER E ESTADO MODERNO A política passou a ser usada em função das atividades relacionadas e esse mesmo Estado encontra-se em conexão com o conceito de Poder, que, para Weber, significa a probabilidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social, mesmo que contra toda a resistência e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade, no qual é preciso ter alguma coisa a mais em relação aos outros para que se possa efetivamente “mandar”. Ainda para Weber, o Estado é uma relação de homens que dominam seus iguais, mantida pela violência legítima. Dessa forma, o autor legitima o uso do poder da força pelo Estado, que é o único que deve possuir o poder de utilização da força para colocar em prática seus ideais. O vocábulo “política” passou a ser utilizado como referência a tudo que se relaciona à polis, mais precisamente com o Estado (BOBBIO, 2004). Como afirma João Ubaldo Ribeiro (1998), tanto se refere ao exercício de poder quanto às diversas consequências implicadas por esse exercício, sendo portanto, arte, filosofia, ciência, e em instância final, uma profissão. Esclarecido o que entendemos por política, estabeleçamos algumas diferenças clássicas entre a Ciência Política e a Filosofia Política, já que a política nos cerca diariamente e é necessário compreendê-la melhor.

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 01 - Ciência Política X Filosofia Política.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

A Ciência Política nos traz teorias políticas que formulam novas propostas, fazendo inúmeras análises sobre os tipos de governos ou atividade política, construindo-se cotidianamente em constante processo de avanço social que se baseia na existência de uma disciplina que consiga sistematizar processos, movimentos e instituições políticas, auxiliando, por meio de suas análise, melhor compreensão dos sistemas políticos, o que vai proporcionar um conhecimento mais abrangente, permitindo a todos aqueles que acesso a ela interferir na legitimação do poder instaurado e participar na vida política do seu país.

Fonte: Wikimedia Commons

Michel Foucault e a microfísica do poder

Figura 02 - Michel Foucault.

Vimos o que Weber entendia por poder. Agora vamos entender o conceito de poder que Foucault defende e as discussões a respeito de micro e macropolítica. As análises política do âmbito macro busca investigar os grandes sistemas. Aqui os indivíduos eram resultado de suas posições de classe social, eram vistos como reflexos das formações sociais. O poder, portanto, poderia ser compreendido como derivado de cima para baixo. Michel Foucault é um dos cientistas que nos traz um novo pensamento sobre análise micro, rompendo com uma análise resultante somente de um viés macro. Essa análise micro foca também os indivíduos e suas relações, possibilitando entender como o poder se distribui e se dá pelas relações sociais. Ele é algo exercido. Se nas análises tradicionais o poder estava associado à figura do Estado, no qual os indivíduos não seriam responsá-

veis por ele, na perspectiva micro, o poder é entendido como estando presente em todos os lugares e relações. São relações de poder, nem sempre visíveis, porém, sua realização é exercida na prática da rotina. O poder assim, pode se mascarar em tradições ou mesmo em relações afetivas, e quanto mais mascarado estiver, mais eficaz ele se torna, pois os dominados não perceberão a relação de dominação e então a resistência não se faz presente. Um exemplo disso pode ser visto nos relacionamentos abusivos, que é uma relação em que predomina o excesso de poder sobre o outro, é o desejo de controlar o parceiro. Esse comportamento, na maioria das vezes, inicia-se de modo sutil e paulatinamente ultrapassando os limites e causando sofrimento. Nesses relacionamentos, o ciúme e a possessividade são exagerados. Há um intenso controle sob as decisões e ações do parceiro, ao ponto de querer isolá-lo até mesmo do convívio com amigos e familiares, podendo chegar à violência verbal e/ou física dentre outros abusos. Geralmente, a vítima não sai do relacionamento, tanto por ele ser algo mascarado, como por não confiar nas leis e nas medidas formuladas para protegê-la da violência. Ainda há o fato de a nossa sociedade insistir na cultura de culpabilização das vítimas. As vítimas, quando procuram auxílio, relatam cansaço e desgaste na relação, porém, ainda questionam se esse abuso teria sido por culpa delas ou se o parceiro de fato é assim, além de questionarem também seus papéis sociais, e a visão dos outros: “o que vão achar” e “se acharão que o erro foi delas”, acreditam inicialmente na mudança do parceiro, o que reforça a visão da presença do poder em todos os lugares e em todas as relações sociais, mesmo que inicialmente, esse abuso não seja visível, como no exemplo dado.

Surgimento do Estado Moderno Já falamos sobre política e agora é importante discutir sobre o surgimento do Estado Moderno, uma das instituições mais importantes, pois tem como principal objetivo o controle social e a superação dos grandes problemas existentes na ordem capitalista. Por isso, é fundamental para entender como os indivíduos vêm se organizando socialmente, o que irá servir de subsídio para entender também as transformações políticas e sociais que vêm acontecendo nos últimos anos. A primeira forma de Estado Moderno que devemos destacar é o absolutismo, que foi resultado de um longo processo histórico que começa com a desagregação da sociedade feudal, no qual a sociedade tradicional, na figura da nobreza e do clero, passavam a enfrentar uma nova classe social em formação, a burguesia. 131

A13  Política, poder e Estado Moderno

A Filosofia Política começou com Sócrates, Platão e Aristóteles. Ela trabalha pensando o mundo como deveria ser, idealizando modelos de democracia, de aristocracia, de autocracia e etc. Dessa maneira, a Filosofia Política trabalha com hipóteses, e a Ciência Política descreve como elas são, pensando o mundo como existe, usando a realidade para explicar a própria realidade.


Sociologia

Com a burguesia cada vez mais rica, e por ser uma classe em expansão, ela buscou se aliar politicamente à monarquia, o que caracterizou o surgimento do Estado absolutista. Como consequência, esse novo Estado, apoiado pela burguesia, centralizou todas as decisões políticas, o que fez sua força e suas decisões alcançarem âmbitos que antes só obedeciam aos senhores feudais. Com a constituição desse Estado, o rei reunia em sua imagem as decisões e delegações quanto à administração econômica, à justiça e o poder militar, e não colocava limites para a ação do Estado. O Estado absolutista teve como representante teórico Thomas Hobbes, o qual defendia que o Estado deveria ser a instituição fundamental para regular as relações humanas, dado o caráter da condição natural dos homens que os impele à busca do atendimento de seus desejos a qualquer preço, movida por paixões, pois os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito, de onde surge sua mais conhecida expressão: “O homem é o lobo do homem”. É neste momento que começa a separação entre o público e o privado, por meio de medidas tomadas pelos reis em nome do interesse geral. E assim, diante de novos desafios, o Estado começa a racionalizar o funcionamento do poder político para melhor administrar, controlar etc., para exercer seu domínio na sociedade civil. O Estado liberal se consolida com as revoluções burguesas que ocorreram na Europa, ao longo dos séculos XVII e XVIII. O Estado liberal que correspondia as ambições de poder da burguesia, que consolidava sua força econômica. Ao tomar o poder político, a burguesia promove duas importantes mudanças: nn Substituição

do mercantilismo pela economia de mercado, baseado na livre concorrência.

nn Destrói

A primeira mudança fundamentou-se por meio dos princípios do liberalismo de Adam Smith, David Ricardo, entre outros, e a segunda baseou-se nas obras de John Locke e Rousseau.

A13  Política, poder e Estado Moderno

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 03 - Monarquia absolutista.

a teoria do direito divino e promove o Estado de direito.

132


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Tais mudanças proporcionaram a criação do Estado Liberal e Democrático, o que permitiu o fim do voto censitário, criando a oportunidade de qualquer indivíduo ter a chance de representar os interesses da sociedade no parlamento, desde que escolhido por meio de eleições. A separação de poderes em executivo, legislativo e judiciário, também caracterizou a formação do Estado Liberal e Democrático, e apesar de basear-se na teoria do “Estado Mínimo” ele não deixa de intervir totalmente nas atividades econômicas, o que promoveu uma democracia restrita e cidadania plena para uma pequena minoria, ou seja, a burguesia. Dessa forma, o Estado liberal não é apenas um protetor da propriedade privada, ele capta recursos e investe no desenvolvimento econômico para garantir a manutenção desse sistema social. Com um período de transformações e uma crise da democracia e a popularidade do Estado liberal ou Estado de direito em declínio, surge o Estado do Bem-Estar Social (Welfare State). O capitalismo de livre concorrência entra em crise e com a tentativa de aumentar a produtividade e garantir o lucro maior, a burguesia passa a explorar o trabalhador ao máximo, submetendo o operário à carga horária de até dezesseis horas. Porém, com a organização crescente desses setores por meio de sindicatos e a Revolução Russa de 1917, a burguesia ampliou o poder político do Estado para atender a algumas reivindicações do proletariado, adotando essa política de Bem-Estar social.

Figura 04 - Estado Liberal.

A13  Política, poder e Estado Moderno

O Estado do Bem-Estar Social teve no inglês John Maynard Keynes o seu principal referencial teórico, no qual o autor mostra que o novo Estado devia seguir políticas por ele sugeridas, cobrando impostos da burguesia e investindo-os em áreas sociais, o que trouxe melhorias para uma parcela do proletariado, porém nos países subdesenvolvidos, a superação dos problemas sociais ficou longe de ser alcançada, o que deixa claro que a política do Estado do Bem-Estar Social não é sinônimo de justiça social.

Fonte: Wikimedia Commons

No Estado de Bem-Estar Social, o Estado se responsabiliza pela promoção e defesa social, atuando ao lado de sindicatos e empresas privadas com o intuito de garantir serviços públicos e proteção à população. Foi associado à noção de que os indivíduos são sujeitos dotados de direitos sociais, que conferem serviços de educação, saúde, previdência e lazer. Assim, a burguesia, receosa em perder seu poder enquanto classe dirigente, vê a necessidade da criação desse Estado forte com novas atribuições.

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Sociologia

Referências bibliográficas GOHN, Maria da Gloria. 500 Anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e terceiro setor. Revista Mediações. 1, 1140, 2000.

Fonte: Wikimedia Commons

SCHERER-WARREN, Ilse. Apresentação. Soc. estado. [online]. vol.21, n.1, pp.13-16. ISSN 0102-6992. http://dx.doi.org/10.1590/ S0102-69922006000100002. 2006.

Figura 03 - Estado do Bem-Estar Social não é sinônimo de justiça social.

SOUSA, Rainer Gonçalves. “Movimento Operário Brasileiro”; Brasil Escola. Disponível em: http://brasilescola.uol.com.br/historiab/ movimento-operario-brasileiro.htm Acesso em: 21 de maio de 2017. STAHLHOFER, Bettina. Movimentos sociais tradicionais e novos movimentos sociais. 2015. Disponível em: https://prezi.com/x27nnpojwrdm/movimentos-sociais-tradicionais-e-novos-movimentos-sociais/ Acesso em: 21 maio de 2017. 2015.

Exercícios de Fixação

A13  Política, poder e Estado Moderno

01. (Uem PR) Considerando o tema poder, política e Estado, assinale o que for correto. 01 + 04 + 08 + 16 = 29. 01. O Estado Moderno surgiu da desintegração do mundo feudal e das relações políticas dominantes até então na Europa. 02. Ao longo dos anos, o Estado capitalista manteve a mesma forma, não sendo a sua estrutura afetada pelas mudanças sociais. 04. É com o Estado liberal que se estabelece a separação entre público e privado e a noção de que não se deve interferir nas atividades econômicas. 08. Após a Segunda Guerra Mundial, o bloco de países capitalistas propôs uma nova forma de organização estatal: o Estado de bem-estar social. 16. O Estado neoliberal é produto das mudanças socioeconômicas ocorridas nos anos 70, e seus adeptos defendem a ideia de um Estado mínimo. 02. (Uem PR) A respeito da monarquia absolutista que vigorou na Europa no início da era moderna, é correto afirmar que 01. foi uma forma de governo adotada pelos senhores feudais, camponeses e clero católico contra as ameaças representadas pelo desenvolvimento da burguesia. 02. teve como um representante típico o imperador romano Constantino, do século IV d.C. 04. o monarca exercia um poder de forma democrática, ouvindo todos os setores da sociedade. 08. o monarca intervinha vigorosamente na vida econômica, buscando fazer alianças com a burguesia, classe em ascensão. 16. a monarquia valeu-se da teoria do direito divino dos reis, para se legitimar. 08 + 16 = 24. 03. (Unicentro PR) O conceito correto de Estado está explicitado na alternativa a) É uma forma de organização com poder supremo e cargos distribuídos por poderes, que são limitados por normas específicas. Somente a alternativa [E] é correta. Ela apresenta a concepção weberiana de Estado, apresentada no livro Ciência e Política: duas vocações. Esta conceituação é a maneira clássica de se considerar sociologicamente o Estado.

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b) Forma-se através da organização de um grupo de pessoas, cidadãos, que tem o poder de mandar em um território, de acordo com a lei. c) Consiste em uma habilidade de determinado grupo fazer valer seus próprios interesses ou as próprias preocupações, mesmo diante de resistências. d) É uma instituição sobre a qual se exerce a soberania através da organização de um grupo de pessoas que têm status social similar, segundo critérios diversos, especialmente, o econômico. e) Existe onde há um mecanismo de governo controlando determinado território, com autoridade legitimada e capacidade de uso da força militar para sua implementação política. 04. (Uem PR) Considerando seus conhecimentos sobre o pensamento liberal e a sua importância no processo de formação do Estado Moderno, assinale o que for correto. 02 + 04 + 16 = 22. 01. Para os economistas liberais clássicos, os interesses particulares do indivíduo estão em conflito direto com os interesses gerais da sociedade. 02. Na concepção liberal, o papel do Estado deve ser o da manutenção da ordem, da preservação da paz e da proteção da propriedade privada. 04. A iniciativa privada é o principal agente da economia clássica, cabendo a ela fomentar os negócios e os empreendimentos industriais e comerciais. 08. O pensamento liberal clássico emergiu em meados do século XVI, e foi a ideologia política que sustentou o Estado Absolutista na Europa e sua expansão colonizadora nas Américas. 16. O neoliberalismo é a versão mais contemporânea do pensamento liberal, destacando-se pela defesa de uma estrutura estatal reduzida.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios Complementares

O Globo, 13/12/2015.

De acordo com a reportagem, o modelo político de Estado que estaria inviabilizado no atual contexto brasileiro é deO modelo de Estado que provê serviços básicos nominado: como saúde, educação e segurança social é chaa) bem-estar social mado de “Estado de bem-estar social”. Esse tipo de modelo é criticado por aqueles que defendem b) liberal-federativo o modelo neoliberal de Estado mínimo. c) democrático-nacionalista d) unitário-desenvolvimentista 02. (Unioeste PR) Max Weber (1864-1920) afirma que “devemos conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território […], reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física”. (Weber, Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 2006, p. 56).

Assinale a alternativa CORRETA, a respeito do significado da afirmação de Weber. a) Para Weber, no caso do Estado contemporâneo, apenas seus agentes podem utilizar a violência de modo legítimo dentro dos limites do seu território. b) O Estado foi sempre o único agente que pode utilizar legalmente a violência com o consentimento dos cidadãos – a violência dos pais contra os filhos, por exemplo, sempre foi ilegal. c) Atualmente, o Estado é o único agente que utiliza a violência (ameaças, armas de fogo, coação física) como meio de atingir seus fins – assim a segurança de todos os cidadãos está garantida. d) Outros grupos também podem utilizar a violência como recurso – por exemplo, as empresas privadas de vigilância – independente da autorização legal do Estado. e) Todos os cidadãos reconhecem como legítima qualquer violência praticada pelos agentes do Estado contemporâneo – por exemplo, quando a polícia usa balas de borracha contra grevistas. 03. O monopólio da violência legítima é, ainda, o que se encontrou de melhor para limitar a violência, deixando à razão os asilos, em que ela pode se exercer mais livremente. RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015, p. 130-131.

O trecho anterior foi inspirado na sociologia de um determinado sociólogo famoso. Comente quem foi ele e a relevância da sua noção de Estado para entender o mundo contemporâneo. 04. (Uem PR) Sobre a formação e a transformação dos Estados nacionais modernos, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01. O Estado nacional moderno se constitui a partir da tripartição dos poderes. Contudo, em cada caso, Estado e sociedade civil constroem relações distintas entre si em função do estabelecimento de diferentes graus de controle e de participação. Tais diferenças podem ser observadas, por exemplo, em relação aos padrões de financiamento das campanhas eleitorais, no sistema de voto em lista fechada para os cargos legislativos ou no voto distrital. 02. O fenômeno da globalização extingue a importância do Estado nacional ao integrar mercados, facilitar o deslocamento de mão de obra, integrar continentes e assimilar tecnologia da informação. 04. Nos sistemas democráticos, todos os grupos sociais são igualmente representados pelos partidos políticos os quais, por sua vez, têm condições iguais de se eleger, desde que decidam participar do jogo eleitoral e aceitar suas regras. 08. O financiamento privado das campanhas eleitorais nos Estados democráticos favorece mecanismos de barganha e de corrupção desse próprio Estado. 16. Pelas características da organização política brasileira, para governar a figura presidencial eleita precisa formar alianças entre vários partidos, com o objetivo de aprovar seus projetos junto ao Poder Legislativo. 01 + 08 + 16 = 25. 05. (Ufu MG) Soberania pode ser entendida como I. o conceito político-jurídico que indica o poder de mando de última instância, em uma sociedade política. II. o termo que aparece, na sua significação moderna, juntamente com o Estado, indicando, em sua plenitude, o poder estatal. III. a indicação da autoridade para fazer e alterar a lei, de acordo com as normas de um sistema jurídico, isto é, fonte do exercício do poder legal e político. IV. a condição do Estado Moderno que não é politicamente independente. Os cidadãos desse Estado têm a autoridade e o poder supremo, não derivados das normas de um sistema jurídico, para o exercício da cidadania. Selecione a alternativa correta. a) I, II e III estão corretas. Somente a assertiva IV é falsa e absurda, do ponto de vista político. A Soberania está reb) II, III e IV estão corretas. lacionada com o exercício do poder em uma comunidade política. Contemporaneamenc) I e IV estão corretas. te, tal soberania pressupõe a existência de um Estado Moderno independente, que é d) III e IV estão corretas.

regido por leis próprias segundo os interesses de seus cidadãos. Gabarito questão 03 O trecho da questão foi inspirado na sociologia de Max Weber. Segundo ele, o Estado é aquele que possui o monopólio da violência legítima em um determinado território. Assim, para poder existir, o Estado depende que as pessoas reconheçam que aquilo que ele faz é justo. Essa definição é importante porque nos ajuda a compreender a violência contemporânea quando o Estado não consegue assumir essa função. Isso ocorre em contextos como as periferias de muitas cidades brasileiras 135 (nas quais o crime organizado é mais forte e legítimo) e em países em guerra civil, como a Síria.

A13  Política, poder e Estado Moderno

01. (Uerj RJ) Há dinamite de pavio aceso no Orçamento O ponto central, que já deveria ser tema de um amplo debate no Congresso, no Executivo e fora deles, é que a crise fiscal implodiu os alicerces da Constituição de 1988. A ideia de um Estado que seria capaz de eliminar a miséria, reduzir a pobreza e ainda fornecer serviços básicos como saúde e educação com eficiência faliu. Aceite-se ou não.


Sociologia

06. (Ufu MG) “A Constituição não existe no vácuo, mas em funcionamento. E só funcionará se, além de legítima, for um texto suficientemente genérico e econômico (...) para acomodar o pluralismo que se pretende numa sociedade democrática e para ter o grau de flexibilidade necessário à sua sobrevivência diante de futuras alterações da realidade.” RIBEIRO, João Ubaldo. Política quem manda, por que manda, como manda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 134.

Analise as assertivas abaixo. I. Um Estado democrático não possui Constituição. II. Constituição é o conjunto de normas que se sobrepõe a todas as outras. III. A sociedade democrática possui meios para realizar os ideais presentes na Constituição. IV. A ação do Governo não é limitada pela lei constitucional, em uma sociedade democrática. Selecione a alternativa correta. A Constituição corresponde a um conjunto a) I e IV estão corretas. de normas que dá as diretrizes jurídicas de como e segundo quais valores deve funciob) II e III estão corretas. nar uma comunidade política. Ela adquire c) II, III e IV estão corretas. importância ainda maior em uma sociedade democrática que segue princípios constitud) I, II e III estão corretas. cionais criados segundo critérios democráticos de representação e participação política.

07. (Ufu MG) Na canção Estação derradeira, de Chico Buarque, é apresentada, em breves palavras, parte de um retrato falado do Rio de Janeiro: “Rio de Janeiro Civilização encruzilhada Cada ribanceira é uma nação À sua maneira Com ladrão Lavadeiras, honra, tradição Fronteiras, munição pesada”.

CD FRANCISCO, Chico Buarque, RCA, 1987.

A13  Política, poder e Estado Moderno

Relacione essa composição com a concepção do sociólogo Max Weber a respeito das características do Estado moderno e aponte a alternativa correta. a) De acordo com a perspectiva weberiana, a existência de uma “cidade partida”, como o Rio de Janeiro, seria reflexo de uma “nação partida” em que os meios de violência são monopolizados pelas classes dominantes para oprimir as classes dominadas. b) Segundo a concepção weberiana, é típico de toda e qualquer sociedade de classes ou estamental a concorrência entre poderes armados paralelos que põem, permanentemente, em questão a possibilidade da existência do monopólio do uso legítimo da violência. c) De acordo com Weber pode-se afirmar que, no limite, o Estado brasileiro não está inteiramente constituído como tal, uma vez que não se revela em condições de exercer, em sua plenitude, o monopólio do uso legítimo da violência. d) Conforme a ótica weberiana, no Estado moderno, com o surgimento dos exércitos profissionais, vive-se uma situação em que se tem “o povo em armas”, razão pela qual não seria surpreendente, para Weber, constatar a situação de violência que campeia, atualmente, nas metrópoles brasileiras. 136

08. (Uem PR) Sobre a formação do Estado moderno e as transformações que ele sofreu ao longo da história, assinale o que for correto. 01 + 02 + 04 + 08 + 16 = 31. 01. A centralização das estruturas jurídicas e da cobrança de impostos, a monopolização da legitimidade do uso da violência e a criação de uma burocracia específica para administrar os serviços públicos foram fundamentais para a constituição do Estado moderno. 02. Os Estados Absolutistas europeus contribuíram para a desagregação das relações políticas feudais. Por isso, seu advento é constitutivo do longo processo que resultou no surgimento dos Estados modernos. 04. O princípio da soberania popular foi substantivamente transformado em fins do século XIX e ao longo do século XX como resultado das lutas sociais empreendidas a favor da ampliação dos direitos políticos. 08. A construção do Estado-nação esteve intimamente associada à ideia de um poder territorializado. 16. Embora estejam associados, os conceitos de Estado e de nação não coincidem, já que existem nações sem Estado – como é o caso dos palestinos – e Estados que abrangem várias nações – como o Reino Unido. 09. (UEG GO) O Estado moderno, que representou a superação de concepções políticas medievais, encontrou vários teóricos. Entre eles merecem destaque Maquiavel, Jean Bodin e Thomas Hobbes. Este último ficou conhecido por afirmar que o Estado a) é uma criação do homem para sua própria defesa e proteção. b) é uma criação divina, e o monarca, seu representante. c) é um instrumento de exploração das classes dominantes. d) é um instrumento democrático em benefício do indivíduo. 10. (Uem PR) Sobre as teorias sociológicas a respeito do Estado, assinale o que for correto. 01 + 02 + 04 + 16 = 23. 01. Algumas teorias sociológicas afirmam que o Estado é necessário para garantir a unidade de uma sociedade dividida em classes sociais, favorecendo, assim, os interesses das classes dominantes. 02. Para alguns sociólogos, o que diferencia o Estado das demais instituições é o fato de ele ter o direito legítimo e exclusivo do uso da força. 04. Segundo alguns sociólogos, em sociedades complexas, o Estado é uma instituição fundamental para garantir a coesão social, sobrepondo-se às demais instituições e regulando sua coexistência. 08. Há um consenso na sociologia de que o Estado é um fenômeno exclusivamente ocidental e próprio do modo de produção capitalista. Nas demais sociedades, não se encontram instituições que assumam funções correlatas. 16. De acordo com algumas interpretações, o Estado é fundamental para assegurar as próprias condições de funcionamento da economia de mercado, embora muitos liberais rejeitem sua intervenção.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A14

CIÊNCIA POLÍTICA, FORMAS, SISTEMAS E TIPOLOGIAS DE GOVERNO

ASSUNTOS ABORDADOS nn Ciência política, formas, siste-

mas e tipologias de governo

O pensamento político de Maquiavel

nn O pensamento político de Maquiavel

Nesta aula, iremos conhecer o pensamento político de Maquiavel, que surge em um cenário que permitiu o nascimento de uma nova ideia política. Nicolau Maquiavel chama a atenção por defender que o poder, a honra e a glória são bens que devem ser perseguidos, cujo homem de virtú poderia conseguir bens na terra e deveria lutar e valorizar, sem ficar ambicionando recompensas exclusivamente celestiais, assim, a moral não poderia ser um limitador da prática política. O pensamento político de Maquiavel se apoia no conceito de que a estabilidade da sociedade e do governo precisa ser alcançada a qualquer preço. De forma original, Maquiavel situa a esfera política como autônoma da vida social, tendo regras e movimentos próprios, fora de noções morais ou religiosas. A política é então situada como uma esfera do poder por excelência e essa relação de poder elabora o conceito de Virtus. Não aquela virtude ligada ao pensamento clássico de Aristóteles, em que a virtude se entrelaça à ética. Aqui refere-se a uma espécie de astúcia na arte de governar. Está ligada ao conceito de poder e de exercício de poder de forma calculada estrategicamente. Esse planejamento é planejamento um instrumento para o efetivo poder, sem a subordinação clássica em relação à moral.

nn Conceitos básicos da Ciência Política nn Formas, sistemas e tipologias de governo

Fonte: Wikimedia Commons

Sua Virtus descortina valores morais. Não é apenas o bem comum ou a atualização da pólis, mas antes de qualquer coisa é conquistar o poder, usar o poder e mantê-lo. Para alcançar tais objetivos, são necessários princípios de justiça, egoísmo e prudência como aspectos fundamentais da fortuna, que somente o homem e suas decisões calculadas estrategicamente podem alterar. Maquiavel separa o que no pensamento clássico está totalmente aglutinado. A moral privativa é incompatível com a virtude clássica na forma de uma moral pública, da mesma forma, que a moralidade é totalmente distinta do que é legal ou convencionado. O Príncipe concebido nessa visão deve ser o governante capaz de decidir com prudência, perspicácia e autoridade, sobre as coisas do Estado e dos seus súditos sem se preocupar com determinados valores morais, mas antes de qualquer coisa deve respeitar a propriedade privada, fundamento que determina entre outras coisas, o equilíbrio e a manutenção do poder por parte do Príncipe.

Figura 01 - Nicolau Maquiavel.

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Sociologia

Conceitos básicos da Ciência Política

Fonte: Wikimedia Commons

Estado divide-se em três esferas - Federal, Estadual e Municipal - e o poder está dividido em três, para manter o equilíbrio, sendo eles: executivo, legislativo e judiciário.

Figura 02 - A bandeira é o mais marcante dos símbolos de uma nação.

A14  Ciência política, formas, sistemas e tipologias de governo

Iremos nos atentar a alguns conceitos fundamentais na Ciência Política, que auxiliarão na compreensão de aulas futuras e nos servirão de base para estudar e analisar a realidade. São eles: povo, nação, Estado e governo. Comecemos pelo conceito de povo, que é a população do Estado considerada sob o aspecto jurídico. Povo é constituído por um grupo de pessoas entendidas em sua integração em uma ordem estatal determinada. Pode ser também compreendido como o conjunto de indivíduos sujeitos às mesmas leis. Esse conceito com frequência é confundido com o de nação, porém são conceitos diferentes. O conceito de nação está relacionado com fatores históricos, culturais e de identidade. Uma nação é constituída por uma população que partilha a mesma origem, língua, cultura, ou seja, são pessoas que possuem uma história e identidade comuns, que partilham de determinados símbolos e significados. O conceito de nação, dessa forma, é mais amplo do que o conceito de povo. A nação submete-se ao Governo e à legislação do país em que se localiza. Importante destacar que um mesmo país pode abrigar nações distintas, como o Brasil, por exemplo, que abriga diversas nações indígenas. O Estado, por sua vez, é um conjunto de instituições públicas que administra um território, ou seja, a unidade administrativa de um território, que procura, ou ao menos, deveria atender aos anseios e interesses de sua população. Dentre essas instituições, podemos citar as escolas, os hospitais públicos, unidades prisionais, dentre outras. Já o governo seria apenas uma das instituições que compõem o Estado, com a função de administrá-lo, como características transitórias e apresentando diferentes formas, que variam de um lugar para outro. Enquanto os Estados têm caráter fixo.

Formas, sistemas e tipologias de governo Como vimos em aulas anteriores, a política surgiu a partir da necessidade de administrar os interesses e os conflitos da vida em sociedade. Na maioria dos países democráticos, o 138

O Poder Legislativo exerce a função de criar normas jurídicas para regular a vida em sociedade, embora o poder Executivo também tenha o direito de enviar projetos de lei ou medias provisórias ao parlamento. Esse poder também pode derrubar um veto do Executivo ou alguma norma já aprovada. No Brasil, esse poder é representado pelo Congresso Nacional, na figura de Deputados e Senadores, Assembleia Legislativa, que contemplam a esfera Estadual e a Câmara municipal, que contempla a esfera Municipal. O Poder Executivo executa as leis e administra os negócios públicos, enviando ao Legislativo seus projetos de lei, veta toda ou parte de uma norma aprovada pelo Legislativo, cumpre o que manda o Poder Judiciário etc. No Brasil, esse poder é representado pelo Presidente da república esfera Federal -, governadores - esfera Estadual - e prefeitos - esfera Municipal. Por fim, o Poder Judiciário administra a justiça mediante aplicação das leis aos conflitos de interesses, podendo também declarar a inconstitucionalidade das leis que foram aprovadas pelo legislativo e/ou executivo. No Brasil, na esfera Federal, esse poder é representado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal Superior do Trabalho (TST), Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Superior Tribunal Militar (STM). Já na esfera Estadual, há os diversos Tribunais de Justiça. Quanto às formas de governo são em geral duas: Monarquia e República. A primeira, um sistema dinástico e hereditário tradicional de governo, divide-se em dois tipos: Monarquia absolutista − o monarca governa com seus conselheiros, sem constituição nem parlamento, tendo poderes quase ilimitados, Monarquia constitucional ou parlamentarista, em que os monarcas apenas representam ou simbolizam o Estado, podendo ter o poder de indicar ou demitir o premiê e tentar resolver impasses políticos etc. Na República, o governante é escolhido ou indicado para governar durante determinado período, cujo regime pode ser democrático ou ditatorial. Durante a história a República tem servido tanto aos interesses dos que queriam a democracia como também àqueles que não a queriam. A República divide-se em dois sistemas: República presidencialista, cujo presidente acumula as funções de chefe de Estado e de governo. Ele foi criado pelos EUA e é usado por diversos países, sejam democráticos ou ditatoriais, como EUA e Cuba, por exemplo. Já a República parlamentarista o presidente é apenas o chefe de Estado, quem governa é o primeiro ministro, juntamente com seu gabinete. Esse tipo de governo é adotado em países como Alemanha e Itália.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Parlamentarismo

Presidencialismo

Vantagens

É mais flexível à opinião pública, pois prevê a rápida troca do premiê e seu gabinete, em caso de governo incompetente, corrupto, crise etc. o medidor de seu desempenho é a opinião pública e a liberdade de imprensa. Até mesmo o próprio parlamento pode ser desfeito, seguindo-se novas eleições legislativas, sem ruptura política. Atualmente, as mais estáveis democracias do mundo são parlamentaristas, seja ela monarquia ou república. Ex: Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia, Japão, Canadá etc.

A população elege diretamente o seu governante, e deposita suas esperanças nas mãos de apenas um candidato).

Desvantagens

Para os que gostam de votar diretamente no governante, não há essa opção, pois o premiê é eleito pelo Congresso. O parlamentarismo requer mais consciência política do povo. No caso do Brasil, seria preciso uma ampla reforma política que mudasse completamente o modelo vigente, com ampla transparência para o povo e a imprensa. Além disso, o povo deveria passar a escolher muito bem os parlamentares (deputados e senadores), pois deles é que sairiam os governantes.

O modelo concentra muito poder nas mãos do presidente (é chefe de Estado e chefe de Governo). A exemplo do Brasil, o presidente edita medidas provisórias, as quais têm preferência para ser discutidas e votadas pelo Congresso. Outra desvantagem é a tentação do cargo, cuja maioria do povo, alienada, muitas vezes, o vê como o herói, o messias, pai dos pobres etc. O cargo é convidativo à implantação de ditaduras, algo bastante comum na América Latina. O mais recente exemplo é o da Venezuela.

Disponível em http://filosocioetemac.blogspot.com.br/2011/08/ segundos-anos-iii-unidade-politica.html acesso em: 21 maio de 2017.

A14  Ciência política, formas, sistemas e tipologias de governo

Fonte: Wikimedia Commons

Quanto aos tipos de Governo temos a Democracia, cujo poder reside na vontade da maioria do povo e no princípio dos direitos humanos, civis, políticos e sociais, sendo esses direitos garantidos em constituição. Vale destacar que mesmo respeitando a vontade da maioria, a democracia deve respeitar, ouvir e garantir os direitos também das minorias. A democracia surgiu na Grécia Antiga, em um modelo de democracia direta, em que todos os eleitores votavam, discutiam, aprovavam ou reprovavam as propostas de leis, porém, como era um modelo que demandava muito tempo, ele evoluiu para um modelo representativo - democracia indireta - em que elegemos os representantes que legislarão ou governarão por nós. Essa situação pode ser problemática e conflituosa, já que apenas um pequeno grupo decide pela maioria, além da presença de pessoas não qualificadas para os quadros do legislativo e do executivo, em que há pessoas com outros interesses que não coincidem com o do povo.

Figura 03 - Democracia.

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Sociologia

A Oligarquia se constitui no governo cujo poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família. O Brasil tem forte tradição oligárquica, desde os primórdios de sua história, como oligarquias econômicas, como cafeeira, familiar, no caso das famílias Sarney e Collor e a oligarquia política na figura de um partido que ocupa diversos cargos no governo. Oligarquia trabalha em causa própria para tentar manter-se no poder indefinidamente, não atentando para os problemas da maioria, pois seus interesses são voltados para seu próprio grupo ou família, cujo nepotismo é um efeito devastador. A Aristocracia significava o governo dos sábios, os quais seriam os mais qualificados para governar. Para Platão e Aristóteles, seria o governo ideal, embora não haja garantia de que os sábios não se deixariam corromper ou sucumbir às tentações do poder. Hoje, o significado desse termo mudou: tornou-se sinônimo de nobreza e elite cultural e econômica. Ditadura e Tirania se referem aos regimes antidemocráticos, em que todos ou grande parte dos direitos são anulados. As ditaduras podem ser teocráticas ou repúblicas monopartidaristas, como China e Cuba ou até bipartidarista, como foi o Brasil da ditadura militar. Pode ainda existir partido como foi a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas. O maior problema das ditaduras, sejam elas capitalistas ou socialistas, é a perseguição aos que pensam diferente, pois não há liberdade de expressão nem de pensamento, assim como não há garantias constitucionais em relação aos direitos individuais, no qual os direitos humanos, civis e políticos são eliminados em sua maioria, havendo a prática da censu-

ra ou mesmo o monopólio oficial da informação. A tortura faz parte da rotina dos cárceres dos países ditatoriais, além da execução sumária e sumiço do corpo, como ocorreu na ditadura brasileira, por exemplo. A Autocracia é uma forma de governo na qual um único homem detém o poder supremo, controlando todos os níveis de governo, o que, na realidade, é quase impossível, o que leva o conceito a ser aglutinado aos da Ditadura e da Tirania. O Anarquismo, em sentido literal, significa sem governante ou sem governo. O Estado é um mal, assim como a propriedade privada e o capitalismo. A proposta anarquista está muito mais no campo da utopia, devido aos seus ideais embasados na autodisciplina e cooperação voluntária da comunidade e não na autoridade hierárquica do Estado, no qual o homem é um ser bom, que gosta de cooperar, respeitar e viver em paz com seus semelhantes. Porém, o Estado acaba inibindo ou impedindo esta tendência humana de cooperar com o resto da sociedade. No anarquismo, a sociedade não seria uma estrutura e sim um organismo vivo que cresce em função da natureza. Os anarquistas defendem a extinção da pirâmide hierárquica de poder, o que levaria a formar uma sociedade descentralizada que procura estabelecer uma relação de forma mais direta possível, em uma estrutura autogestionária, isto é, sem regras, autoridades e hierarquias valorizando, sobretudo, a liberdade natural de cada indivíduo. Referências bibliográficas MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe [tradução Maria Júlia Goldwasser]. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

A14  Ciência política, formas, sistemas e tipologias de governo

Exercícios de Fixação 01. (Unimontes MG) O Estado, objeto de estudo da Sociologia e da Ciência Política, constitui um mecanismo de controle social existente na sociedade. É CORRETO afirmar que a) o Estado democrático tem o poder pleno para determinar a vida de todos os indivíduos em sociedade, a partir do exercício de uma autoridade pessoal. b) o Estado constitui a totalidade da estrutura social. c) só o Estado possui autoridade - poder legitimo - para regulamentar o uso da força. d) somente o Governo expressa a autoridade legítima do Estado, com os demais Poderes assumindo uma atuação alheia a esse aparato institucional. 02. (Uel PR) Nas democracias modernas, a cidadania se concretiza pelo acesso aos direitos constitucionais. Na sociedade brasileira, o texto da Constituição Federal de 1988 estende os direitos ao conjunto da população. Entretanto, na prática, a persistência de desigualdades revela a dificuldade de pleno acesso à cidadania por parte dos brasileiros. Analisando a sociedade inglesa, o sociólogo Theodore H. Marshall, em sua obra Cidadania, classe social e status (1967), parte

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da constatação de que a “cidadania” e o “sistema de classes capitalista” convivem (ainda que, algumas vezes, em conflito) e relaciona a “cidadania” com “direitos civis” (originários dos séculos XVII e XVIII), “direitos políticos” (do XIX) e “direitos sociais” (do XX). Marshall, assim, concebe a “cidadania” como um “status concedido” e os “direitos” como decorrentes de mudanças históricas da sociedade. A partir das informações do enunciado e dos conhecimentos sobre a temática “Direitos/Cidadania”, dê dois exemplos atuais para cada tipo de “direitos” (“civis”, “políticos” e “sociais”) segundo Theodore H. Marshall. 03.

Horário político começa amanhã e ocupará mais de 3 horas diárias A partir de amanhã, quem acompanha diariamente a programação da TV e do rádio será bombardeado com a inserção diária de um total de 3 horas e 20 minutos preenchido com propostas dos candidatos que disputam as eleições neste ano. O horário eleitoral gratuito, que é exibido de segunda-feira a sábado, ocupará a programação desses veículos até a véspera da disputa eleitoral, no dia 2 de outubro.

Gabarito questão 02 “Direitos civis” (necessários à liberdade individual): liberdade de ir e vir; liberdade de imprensa, pensamento e fé; direito à propriedade e de contratos válidos; direito à justiça e à salvaguarda dos demais. “Direitos políticos” (ligados à formação do Estado democrático representativo): direito de votar e ser votado; de participar do poder político, como associações civis, partidos e sindicatos, manifestação/participação política. “Direitos sociais” (ligados a um mínimo de bem-estar econômico e social): direito à segurança, à participação na herança social, à chance de ter padrão de vida civilizado; à educação, à cultura, à saúde, à habitação, ao transporte coletivo, à previdência e ao lazer.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Gabarito questão 03 Várias respostas podem ser dadas, dependendo da argumentação do aluno. Pode-se dizer, por exemplo, que sim, pois através disso os eleitores podem conhecer os partidos e seus candidatos, bem como sua plataforma política e suas propostas. Por outro lado, também se pode dizer que não, pois os programas não esclarecem a população, mas seguem uma lógica publicitária e mercadológica de convencimento.

Em caso de segundo turno, ele será retomado 48 horas após a proclamação do resultado da primeira disputa e prossegue até 24 de outubro, segundo as regras da Justiça Eleitoral. No rádio, as propostas serão veiculadas das 7h às 7h50, e das 12h às 12h50. Já na TV, o horário eleitoral gratuito será das 13h às 13h50, e das 20h30 às 21h20.

ARCOVERDE, Léo. Horário político começa amanhã e ocupação mais de 3 horas diárias. Agora. Adaptado. 18 ago. 2014. Disponível em: <http:// www.agora.uol.com.br/saopaulo...diarias.shtml> Acesso em 19 ago. 2014.

A cada dois anos ocorrem eleições para a escolha dos representantes do povo em cargos políticos do poder Executivo e Legislativo no Brasil. Em 2014 acontecem eleições para deputados (federal e estadual), senador, governador e presidente da República. Tendo esse contexto como referência, responda: o horário eleitoral gratuito é importante para o exercício da democracia brasileira? Justifique sua resposta. 04. (Uema MA) Observe, na ilustração, uma prática eleitoral típica do clientelismo político brasileiro, caracterizada como voto de cabresto confundido, no vulgo, com democracia. Tal confusão compromete o pleno exercício da cidadania intrínseco à democracia.

Considerando a ilustração acima, estabeleça distinção entre os conceitos de democracia e a prática de clientelismo político. 05. Considerando o regime político brasileiro após a Constituição de 1988, pode-se dizer que o Brasil é um/uma: a) República democrática parlamentarista. b) Ditadura democrática nacionalista. c) República democrática presidencialista. d) Parlamentarismo republicano. e) Monarquia republicana democrática.

Exercícios Complementares

(Cotrim, Gilberto. 1955. História Global – Brasil e Geral. Volume único. 8ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 81.)

A história cumpre o papel de educar as novas gerações com concepções, ideias e informações consideradas válidas, adequadas ou corretas, segundo consensos mínimos que vão se construindo nas gerações anteriores e se legitimando ao longo do tempo. O conceito e a prática de cidadania são exemplos disso. Acerca do sentido atual do conceito de cidadania e do papel da história na construção desse conceito, assinale a afirmativa correta. a) Ao longo do século passado, através das mudanças sociopolíticas ocorridas principalmente no Brasil, o conceito de cidadania se destituiu totalmente do sentido social, passando a ser um ato puramente individual. b) Ser cidadão hoje é apenas estar em dia com suas obrigações eleitorais, mantendo-se informado sobre os pleitos e os trâmites das eleições, já que a palavra cidadania é sinônimo de “política” enquanto forma de governo. c) Na atual conjuntura, a partir de discussões constantes e uma educação mais intensa e democrática, o termo cidadania ganha um sentido mais amplo de participação na vida social e, principalmente, de legitimidade de direitos e deveres. d) A partir dos conceitos históricos que vão sendo deflagrados a cada período e em cada cultura específica, o conceito de cidadania perde o sentido inicial e passa a ser sinônimo de condição socioeconômica, ou seja, o cidadão e quem detém poder.

02. (Uem PR) “[...] o totalitarismo difere essencialmente de outras formas de opressão política que conhecemos, como o despotismo, a tirania e a ditadura. Sempre que galgou o poder, o totalitarismo criou instituições políticas inteiramente novas e destruiu todas as tradições sociais, legais e políticas do país. Independentemente da tradição especificamente nacional ou da fonte espiritual particular de sua ideologia, o governo totalitário sempre transformou as classes em massas, substituiu o sistema partidário não por ditaduras unipartidárias, mas por um movimento de massa, transferiu o centro do poder do exército para a polícia e estabeleceu uma política exterior que visava abertamente o domínio mundial.” 01 + 02 + 04 + 16 = 23.

(ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Cia. Das Letras, 1989, p. 512).

A partir do texto citado, assinale o que for correto. 01. Para os regimes totalitários, o controle dos indivíduos é fundamental, donde a importância da vigilância policial ostensiva sobre o povo. 02. Uma característica do regime político totalitário é a supressão dos partidos políticos como instituições de mediação política entre o governo e o povo. 04. As ditaduras e outros tipos de governos autoritários não se configuram, necessariamente, como exemplos de regimes totalitários. 08. Ao instalarem seus regimes totalitários, o fascismo italiano e o nazismo alemão suprimiram, de imediato, todos os partidos políticos, constituindo regimes unipartidários. 16. Os regimes totalitários trataram as suas populações como um todo homogêneo, como uma massa social que deve se tornar uniforme.

Gabarito questão 04 A democracia pressupõe o livre exercício, por parte do cidadão, de seus direitos políticos, como o voto. O clientelismo político, por outro lado, corresponde à troca de favores do eleitor com o seu candidato. Assim, em troca de certos benefícios, ele perde a liberdade de exercício de seus direitos políticos, devendo atender aos interesses do candidato. Ou seja, o clientelismo político é exatamente uma prática que impede o exercício pleno de uma democracia.

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A14  Ciência política, formas, sistemas e tipologias de governo

01. (UERN) Cidadania e cidadão são palavras que vêm do latim “civitas”. O termo indicava a convivência das pessoas que participavam das decisões sobre os rumos da sociedade.


Sociologia Gabarito questão 07 O Estado Laico é aquele que não se declara seguidor de uma religião. Assim, sua função não é a de defender determinado culto, religião, ou crença, mas permitir que todos eles possam coexistir. É desta maneira que os direitos tradicionalmente vinculados a uma determinada crença podem ser expandidos também para outras formas de vivência social.

03. (Unesp SP) Se um governo quer reduzir o índice de abortos e o risco para as mulheres em idade reprodutiva, não deveria proibi-los, nem restringir demais os casos em que é permitido. Um estudo publicado em “The Lancet” revela que o índice de abortos é menor nos países com leis mais permissivas, e é maior onde a intervenção é ilegal ou muito limitada. “Aprovar leis restritivas não reduz o índice de abortos”, afirma Gilda Sedgh (Instituto Guttmacher, Nova York), líder do estudo, “mas sim aumenta a morte de mulheres”. “Condenar, estigmatizar e criminalizar o aborto são estratégias cruéis e falidas”, afirma Richard Horton, diretor de “The Lancet”. “É preciso investir mais em planejamento familiar”, pediu a pesquisadora, que assina o estudo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os seis autores concluem que “as leis restritivas não estão associadas a taxas menores de abortos”. Por exemplo, o sul da África, onde a África do Sul, que o legalizou em 1997, é dominante, tem a taxa mais baixa do continente. (http://noticias.uol.com.br, 22.01.2012. Adaptado.)

A14  Ciência política, formas, sistemas e tipologias de governo

Na reportagem, o tema do aborto é tratado sob um ponto de vista a) fundamentalista-religioso, defendendo a validade de sua proibição por motivos morais. b) político-ideológico, assumindo um viés ateu e materialista sobre essa questão. c) econômico, considerando as despesas estatais na área da saúde pública em todo o mundo. d) filosófico-feminista, defendendo a autonomia da mulher na relação com o próprio corpo. e) estatístico, analisando a ineficácia das restrições legais que proíbem o aborto. 04. (UFJF MG) O exercício do governo envolve sempre relações de poder entre governantes e governados. A democracia, com o ideal do autogoverno, oferece uma base de legitimação para o exercício do poder político, fundamentada em princípios de que todo o poder emana do povo e todos são iguais politicamente. Porém, em várias partes do mundo, há descontentamento popular com os governantes. Esse descontentamento, muitas vezes, assume a forma de protestos e manifestações. A imagem abaixo retrata um momento das manifestações ocorridas no Brasil no ano de 2013.

05. (Enem MEC) O processo de justiça é um processo ora de diversificação do diverso, ora de unificação do idêntico. A igualdade entre todos os seres humanos em relação aos direitos fundamentais é o resultado de um processo de gradual eliminação de discriminações e, portanto, de unificação daquilo que ia sendo reconhecido como idêntico: uma natureza comum do homem acima de qualquer diferença de sexo, raça, religião etc. BOBBIO, N. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

De acordo com o texto, a construção de uma sociedade democrática fundamenta-se em: a) A norma estabelecida pela disciplina social. b) A pertença dos indivíduos à mesma categoria. c) A ausência de constrangimentos de ordem pública. d) A debilitação das esperanças na condição humana. e) A garantia da segurança das pessoas e valores sociais. 06. (Enem MEC) A democracia deliberativa afirma que as partes do conflito político devem deliberar entre si e, por meio de argumentação razoável, tentar chegar a um acordo sobre as políticas que seja satisfatório para todos. A democracia ativista desconfia das exortações à deliberação por acreditar que, no mundo real da política, onde as desigualdades estruturais influenciam procedimentos e resultados, processos democráticos que parecem cumprir as normas de deliberação geralmente tendem a beneficiar os agentes mais poderosos. Ela recomenda, portanto, que aqueles que se preocupam com a promoção de mais justiça devem realizar principalmente a atividade de oposição crítica, em vez de tentar chegar a um acordo com quem sustenta estruturas de poder existentes ou delas se beneficia. YOUNG. I. M. Desafios ativistas à democracia deliberativa. Revista Brasileira de Ciência Política. n. 13. jan.-abr. 2014.

As concepções de democracia deliberativa e de democracia ativista apresentadas no texto tratam como imprescindíveis, respectivamente, a) a decisão da maioria e a uniformização de direitos. b) a organização de eleições e o movimento anarquista. c) a obtenção do consenso e a mobilização das minorias. d) a fragmentação da participação e a desobediência civil. e) a imposição de resistência e o monitoramento da liberdade. 07. (Uema MA) O Estado democrático deve garantir direitos iguais para seus cidadãos e suas cidadãs, independentemente de valores e crenças pessoais, a exemplo da recente aprovação pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) da resolução que obriga todos os cartórios civis do Brasil a oficializar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Fonte: Disponível em: <www.redebraislatual.com.br/cidadania/2013/05/ justica-obriga-cartorios-a-transformar-uniao-homoafetiva-em-casamento>. Acesso em: 24 nov. 2014.

EXPLIQUE como essa imagem exibe, ao mesmo tempo, as forças e as fraquezas da democracia em nosso país. 142

Considerando o exemplo da decisão do CNJ favorável à extensão dos mesmos direitos dos casais heterossexuais aos casais homossexuais, explique a necessidade da laicidade do Estado para a garantia da igualdade na diferença.

Gabarito questão 04 A democracia brasileira é relativamente recente. Assim sendo, é compreensível que ainda não esteja consolidada. A figura da questão apresenta a fraqueza dessa democracia em garantir a estabilidade política e os interesses da maioria da população, uma vez que as pessoas estão descontentes. Por outro lado, o fato das pessoas poderem se manifestar livremente e interferir nas atitudes dos governantes é uma das forças de nossa democracia.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A15

PARTIDOS POLÍTICOS E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA

ASSUNTOS ABORDADOS nn Partidos políticos e participação

política

Partidos políticos

nn Partidos políticos nn Esquerda – Centro – Direita

Fonte: Wikimedia Commons

nn Participação política

Figura 01 - Símbolos de alguns partidos políticos do Brasil.

A Constituição, promulgada em 1988, e a legislação eleitoral brasileira permitem a existência de várias agremiações políticas no Brasil. Com o fim da ditadura militar (1964-1985), vários partidos políticos foram criados e outros, que estavam na clandestinidade, vieram a funcionar. Na época do Regime Militar, a Lei Falcão estabeleceu a existência de apenas duas legendas: ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Enquanto a ARENA reunia os políticos favoráveis ao regime militar, o MDB reunia a oposição, embora controlada. Felizmente, esse sistema bipartidário não existe mais e desde o início da década de 1980, nosso país voltou ao sistema democrático com a existência de vários partidos políticos. Hoje existem 35 partidos políticos registrados no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). É necessário entender e encarar a realidade no que diz respeito aos partidos, pois eles não são clubes literários, entidades beneficentes, associações de homens de bem ou organizações não governamentais de grandes propósito. As transformações recentes na dinâmica política democrática impuseram aos governantes, dirigentes, militantes, simpatizantes e ao público em geral algumas lições pouco edificantes: programas de governo não são escritos a partir dos estatutos do partido, mas em função de pesquisas de opinião; políticos colocam suas carreiras em primeiro plano ficando para um segundo momento definir que outros interesses vão, de fato, representar; eleições são os únicos mecanismos aceitos para controlar minimamente os representantes, já que é somente nesse momento que eles têm de se aborrecer com os eleitores. (CODATO, 2007) 143


Sociologia

A função primordial dos partidos políticos é ser mediador entre o povo e o Estado, fazendo uma análise de conceitos de partido político, em consonância com os pressupostos da democracia. Pode-se destacar aqui também o caráter do partido político como um grupo de pessoas em torno de uma ideologia, em que há uma busca por apresentar um programa que reúna os principais pontos de convergência social com o objetivo de maior quantidade de adeptos e assim assumir o poder.

A15  Partidos políticos e participação política

Como importante instrumento democrático, o partido tem ainda uma função instrutora: dotar o eleitor de consciência política, o que hoje, os partidos deixam muito a desejar, atuando nessa interface sociedade/Estado. Vale destacar

que temos ainda as chamadas coalizões, que são formadas quando um presidente, sem maioria no Congresso, reúne outros partidos para aprovar leis de interesse do governo, ou seja, são acordos políticos ou alianças interpartidária para alcançar um fim comum. Em troca, essas legendas participam diretamente da gestão, comandando ministérios e ocupando cargos diversos. Por um lado, o presidente garante estabilidade, com maiores possibilidades de nomear parlamentares para cargos importantes do Congresso, como a Mesa Diretora e as comissões mais poderosas. Por outro lado, os partidos, à frente de pastas com grande capilaridade, têm a chance de aumentar seu capital político com obras e inaugurações em todo o país.

Partidos Políticos

Suas principais ideias e características

PDT - Partido Democrático Trabalhista

Criado em 1981, o PDT resgatou as principais bandeiras defendidas pelo ex-presidente Getúlio Vargas. De tendência nacionalista e social-democrata, esse partido tem como redutos políticos os estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Essas regiões têm o apoio de uma significativa base eleitoral popular. A principal figura do PDT foi o ex-governador Leonel Brizola, falecido em 2004. O PDT defende como ideia principal o crescimento do país por meio de investimento na indústria nacional, portanto é contrário às privatizações.

PC do B - Partido Comunista do Brasil

Fundado em 25 de março de 1922, o Partido Comunista do Brasil foi colocado na ilegalidade na época do regime militar (1964 a 1985). Mesmo assim, políticos e partidários do PC do B entraram nas fileiras da luta armada contra os militares. Este partido entrou na legalidade somente em 1985, durante o governo de José Sarney, defendendo a implantação do socialismo no Brasil e tem como bandeiras principais a luta pela reforma agrária, distribuição de renda e igualdade social. A principal figura do partido foi o ex-deputado João Amazonas.

PR - Partido da República

Criado em 24 de outubro de 2006 com a fusão do PL (Partido Liberal) e PRONA (Partido da Reedificação da Ordem Nacional). O Partido Liberal entrou em funcionamento no ano de 1985, reunindo vários políticos da antiga ARENA e também dissidentes do PFL e do PDS. Ele tem uma proposta de governo que defende o liberalismo econômico com pouca intervenção do Estado na economia. Outra importante bandeira dos integrantes do PR é a diminuição das taxas e impostos cobrados pelo governo.

DEM - Democratas - Antigo PFL (Partido da Frente Liberal)

O PFL foi registrado em 1984 e contou com a filiação de vários políticos dissidentes do PDS. Apoio e forneceu sustentação política durante os governos de José Sarney, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. Atualmente faz oposição ao governo Lula. Suas bases partidárias estão na região Nordeste do Brasil, embora administre atualmente a cidade de São Paulo com o prefeito Gilberto Kassab. Em 28 de março de 2007, passou a chamar Democratas (DEM). Os partidários defendem uma economia livre de barreiras e a redução de taxas e impostos.

PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro

Fundado em 1980, o PMDB uma grande quantidade de políticos que integravam o MDB na época do governo militar. Identificado pelos eleitores como o principal representante da redemocratização do país, no início da década de 1980, foi o vencedor em grande parte das eleições ocorridas no período pós-regime militar. Chegou ao poder nacional com José Sarney, que se tornou presidente da república após a morte de Tancredo Neves. Com o sucesso do Plano Cruzado, em 1986, o PMDB conseguiu eleger a grande maioria dos governadores naquelas eleições. Após o fracasso do Plano Cruzado e a morte de seu maior representante, Ulysses Guimarães, o PMDB entrou em declínio. Muitos políticos deixaram a legenda para integrar a outras ou fundar novos partidos. A principal legenda fundada pelos dissidentes do PMDB foi o PSDB. O atual presidente do Brasil, Michel Temer, pertence ao PMDB.

PPS - Partido Popular Socialista

Com a queda do muro de Berlim e o fim do socialismo, muitos partidos deixaram a denominação comunista ou socialista de lado. Foi o que aconteceu com o PCB que se transformou em PPS, em 1992. Além da mudança de nomenclatura, o partidários mexeram em suas bases ideológicas, aproximando-se mais da social-democracia. Suas principais figuras políticas da atualidade são o ex-governador do Ceará Ciro Gomes e o senador Roberto Freire.

PP - Partido Progressista (ex-PPB)

Criado em 1995 da fusão do PPR (Partido Progressista Reformador) com o PP e PRP, esse partido tem como base políticos do antigo PDS, que surgiu a partir da antiga ARENA. O PPB defende ideias amplamente embasadas no capitalismo e na economia de mercado. Seus principais representantes são o ex-governador e ex-prefeito Paulo Maluf de São Paulo e o senador Esperidião Amin de Santa Catarina.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

PSB - Partido Socialista Brasileiro

Foi criado no ano de 1947 e defende ideias do socialismo com transformações na sociedade. Defende a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos brasileiros. Principal representante político foi Miguel Arraes (falecido em 2005).

PT - Partido dos Trabalhadores

Surgiu junto com as greves e o movimento sindical no início da década de 1980, na região do ABC Paulista. Esse partido surgiu no cenário político para ser uma grande força de oposição e representante dos trabalhadores e das classes populares. De base socialista, o PT defende a reforma agrária e a justiça social. Governou o Brasil entre os anos de 2003 e 2011 (governo Lula) e 2011 e 2016 (governo Dilma). A ex-presidente Dilma foi afastada em 2016, no segundo ano de seu mandato, por meio de um processo de impeachment.

PSTU - Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado

Fundado em 1994 por dissidentes do PT. Os integrantes do PSTU defendem o fim do capitalismo e a implantação do socialismo no Brasil. Tem como base os antigos regimes socialistas do Leste Europeu. São favoráveis ao sistema cujos trabalhadores consigam mais poder e participação social.

PV - Partido Verde

De base ideológica ecológica, o PV foi fundado em 1986. Seus integrantes lutam por uma sociedade capaz de crescer com respeito à natureza. São favoráveis ao respeito aos direitos civis, à paz, à qualidade de vida e às formas alternativas de gestão pública. Seus integrantes lutam contra as ameaças ao clima e aos ecossistemas do nosso planeta.

PTB - Partido Trabalhista Brasileiro

Fundado no ano de 1979, contou com a participação de Ivete Vargas, filha do ex-presidente Getúlio Vargas. No seu início, pregava a volta dos ideais nacionalistas defendidos por Getúlio Vargas. Atualmente é uma legenda com pouca força política e defende ideias identificadas com o liberalismo.

PCB - Partido Comunista Brasileiro

Fundado na cidade de Niterói em 25 de março de 1922, esse partido defende o comunismo, baseado nas ideias de Marx e Engels, e tem como símbolo a foice e o martelo cruzados. As cores do partido são a vermelha e a amarela. É um partido de esquerda, contrário ao sistema capitalista e ao neoliberalismo, defendendo a luta de classes. É também conhecido como “Partidão”.

PSOL - Partido Socialismo e Liberdade

Fundado em 6 de junho de 2004, defende o socialismo como forma de governo. Foi criado por dissidentes do PT (Partido dos Trabalhadores). É um partido de esquerda, contrário ao sistema capitalista e ao neoliberalismo. Tem como cor oficial a vermelha e como símbolo um Sol.

PRTB - Partido Renovador Trabalhista Brasileiro

Obteve registro definitivo em 18 de fevereiro de 1997.

PSD - Partido Social Democrático

Fundado por políticos dissidentes do Partido Progressista e Democratas, em 21 de março de 2011.

PT do B - Partido Trabalhista do Brasil

Obteve o registro definitivo em 11 de outubro de 1994.

PTN - Partido Trabalhista Nacional

Refundado em 1995.

PTC - Partido Trabalhista Cristão

Obteve registro definitivo em 22 de fevereiro de 1990.

PSL - Partido Social Liberal

Obteve registro definitivo em 2 de junho de 1998.

PSC - Partido Social Cristão

Obteve o registro definitivo em 29 de março de 1990.

PSDC - Partido Social Democrata Cristão

Obteve registro definitivo no TSE em 5 de agosto de 1997.

PMN - Partido da Mobilização Nacional

Fundado em 1984.

PCO - Partido da Causa Operária

Teve sua criação aprovada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 30 de setembro de 1997.

PRP - Partido Republicano Progressista

Obtenção do registro definitivo em 22 de novembro de 1991.

A15  Partidos políticos e participação política

PSDB - Partido da Social-Democracia Brasileira

O PSDB foi fundado no ano de 1988 por políticos que saíram do PMDB por discordarem dos rumos que o partido estava tomando na elaboração da Constituição daquele ano. Políticos como Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Ciro Gomes defendiam o parlamentarismo e o mandato de apenas quatro anos para Sarney. De base social-democrata, esse partido defende o desenvolvimento do país com justiça social. O PSDB cresceu muito durante e após os dois mandatos na presidência de Fernando Henrique Cardoso. Atualmente, é a principal força de oposição ao governo Lula.

145


Sociologia

PHS - Partido Humanista da Solidariedade

Fundado em 20 de março de 1997.

PRB - Partido Republicano Brasileiro

Fundado em 25 de agosto de 2005.

PPL - Partido Pátria Livre

Teve sua criação aprovada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 4 de outubro de 2011.

SD - Solidariedade

Fundado em outubro de 2012, o Solidariedade teve sua criação aprovada pelo TSE em setembro de 2013.

PROS - Partido Republicano da Ordem Social

Fundado em janeiro de 2010, o PROS teve sua criação aprovada pelo TSE em setembro de 2013.

PEN - Partido Ecológico Nacional

Teve sua criação aprovada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 19 de junho de 2012.

NOVO

Partido Novo - teve seu registro deferido pelo TSE em 15 de setembro de 2015.

REDE

Rede Sustentabilidade - o registro foi aprovado pelo TSE em 22 de setembro de 2015.

PMB

Partido da Mulher Brasileira - registro deferido pelo TSE em 29 de setembro de 2015.

Esquerda – Centro – Direita

com a nobreza e a alta burguesia, encarnados na figura dos girondinos. Dessas dissidências culminaram as noções de esquerda e direita, que perduram até hoje no debate político. A visão da direita é a de que estado tem que exercer o mínimo poder com base na liberdade do indivíduo, diminuindo impostos e gerando uma liberdade econômica. Seus representantes acreditam no mercado livre, em que há uma regulamentação, mas sem a interferência espessa do governo, focando no indivíduo, na propriedade privada e na liberdade individual, o que corrobora com o capitalismo.

Figura 02 - Esquerda X Direita.

A15  Partidos políticos e participação política

Diante do cenário político atual, não há quem não tenha visto na internet, nas ruas ou jornais, indivíduos que, por não saberem diferenças ideológicas básicas sobre os partidos políticos, vivem chamando alguns de comunista e outros de “coxinha” sem compreensão do que isso significa. Para esclarecer essa situação, apontemos o que difere direita de esquerda política, como também o que significa partidos de centro. É importante entender como surgiram os termos direita e esquerda no contexto da Revolução Francesa. A estrutura do Antigo Regime era composta por três Estados, sendo eles a Nobreza (primeiro), o Clero (segundo) e a Burguesia (terceiro), que se dividia entre alta e baixa burguesia e incluía também os trabalhadores urbanos e os camponeses. A revolução explode em 1789, pela busca de legitimidade e representatividade política por parte do Terceiro Estado, que reuniu em Assembleia Constituinte para redefinir os rumos da França, levando em conta o protagonismo da burguesia. Nesse cenário, dois grupos principais debatiam, e do lado esquerdo, encontravam-se os mais exaltados e radicais, alinhados com a baixa burguesia e os trabalhadores, que tinham como principais representantes os jacobinos. Já do lado direito, estavam os mais moderados e com boa articulação 146

Para a direita, a desigualdade social é uma fatalidade, mas todo indivíduo tem a oportunidade de transformar a sua condição por meio de esforço próprio, o que traz à tona a noção de meritocracia, em que a culpa do fracasso ou do sucesso é do próprio indivíduo, o que rompe, em certa medida, com as políticas sociais, no sentido de que o Estado não deve intervir favorecendo determinados grupos, sob o risco de privilegiar alguns em detrimento de outros, o que culmina, em uma bancada ruralista que não enxerga os interesses dos povos indígenas, pois a terra é lugar de trabalho para produção. Uma produção que envolve lucro além de trazer para debate pautas como: pena de morte e diminuição da maioridade penal. Com esse debate, a direita marcha a caminho da tradição, tendo geralmente influências militares e autoritárias, o que justifica serem chamados de conservadores, principalmente em pautas como casamento homoafetivo e aborto, e aqui principalmente por influência religiosa. Um exemplo de partido de direita hoje no Brasil, pode ser visto no Partido Progressista (PP). A esquerda, por sua vez, defende a necessidade de uma intervenção do governo na economia e na vida do indivíduo para a diminuição da pobreza e das injustiças sociais, trazendo o foco para a sociedade. A esquerda defende o intervencionismo de intervencionismo, pois acredita que a desigualdade social é fruto do capitalismo e que o Estado deve intervir para que haja igualdade.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Seus integrantes acreditam que não há oportunidades iguais para todos, e por isso defendem pautas como as cotas raciais, que seriam uma solução para séculos de humilhação e desfavorecimento, atuando como uma forma de saldar uma dívida histórica com essa parcela da sociedade. Isso ocorre também na criação de leis de proteção aos homossexuais, à mulher e aos criminosos, que são chamados para reintegração social, o que reforça a quebra da esquerda com a ideia de meritocracia, pois como ela seria justa sem uma sociedade sem oportunidades iguais? A esquerda ainda apoia a separação do Estado e da igreja – Estado laico – o que não permite que ideais religiosos interfiram em questões políticas direcionadas para o coletivo, e por isso encaminham as discussões sobre casamento homoafetivo e o aborto no âmbito científico. Diante do atual cenário político, é complicado exemplificar partidos de ambas as posições, mas um exemplo de partido de esquerda pode ser visto no Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Há ainda os partidos de centro, que trazem uma visão política que acredita em ideais tanto da direita, quanto da esquerda, sendo contra os extremos, podendo ser representado pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

tamente, porém a população também decide e manifesta seu poder de forma direta no caso dos plebiscitos, referendos e projetos de lei de iniciativa popular. Plebiscito e referendo são consultas ao povo para decidir sobre matéria de relevância para a nação em questões de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. A diferença entre ambos é a seguinte: o plebiscito é convocado previamente à criação do ato legislativo ou administrativo e o referendo é convocado posteriormente, cabendo ao povo ratificar ou rejeitar a proposta. Nos últimos 20 anos, o país organizou dois plebiscitos. No primeiro, a população votou para escolher entre manter a República ou restaurar a monarquia e entre presidencialismo e parlamentarismo. O outro plebiscito foi sobre a proibição ou não do uso de arma de fogo pela população civil. Essa forma de Democracia permite a intervenção direta e não apenas a fiscalização dos representantes eleitos.

Participação política

Democracia representa va

Democracia direta Figura 04 - Eleição majoritária X Eleição proporcional.

Figura 03 - Formas de participação política.

A democracia é um regime de governo cujo povo deve tomar as decisões políticas e decisões de poder. Democracia pode ser direta, indireta ou semidireta. A direta é quando é direta quando o povo promulga as leis, tomando as decisões importantes e escolhendo, inclusive, os agentes de execução. A indireta é quando o povo elege representantes, eleitos por meio do voto, por um mandato de duração limitada e esses eleitos devem representar os interesses da maioria. A democracia indireta pode também ser chama de Democracia Representativa. Por fim, a semidireta que ocorre quando, no caso das democracias indiretas, o povo é chamado a estabelecer algumas leis, por meio de referendos ou mesmo impor vetos a um projeto de lei, ou ainda propor ele mesmo, projetos de lei. Esse modelo pode ser chamado também de Democracia Participativa, que garante, portanto, a participação popular na esfera pública. O Brasil adotou o regime da democracia semidireta, pois as assembleias Legislativas, o Congresso Nacional, as Câmaras de Vereadores e os membros do Executivo são eleitos representantes do povo e, assim, exercem o poder popular indire-

A eleição majoritária pode ser também absoluta. É aquela em que é eleito aquele que obtiver mais da metade dos votos apurados, excluídos os votos em branco e os nulos. Nas eleições para Presidente da República, governador de estado e do Distrito Federal e prefeito de município com mais de 200 000 (duzentos mil) eleitores caso o candidato com maior número de votos não obtiver a maioria absoluta dos votos, haverá o segundo turno entre os dois candidatos mais votados, em razão do disposto nos Artigos 29, Inciso II, e 77 da Constituição Federal. O sistema proporcional é utilizado nas eleições para os cargos de deputado federal, deputado estadual, deputado distrital (DF) e vereador. Esses sistema foi instituído por considerar que a representatividade da população deve ocorrer de acordo com a ideologia que determinados partidos ou coligações representem. Dessa forma, ao votar, o eleitor escolhe ser representado por determinado partido e, pre147

A15  Partidos políticos e participação política

Democracia semidireta ou par cipa va “sistema híbrido”

Quanto às eleições, elas podem ser majoritárias e as proporcionais. O primeiro sistema é utilizado nas eleições para os cargos de Presidente da República, governador de estado e do Distrito Federal, senador e prefeito. Será eleito o candidato que obtiver a maioria dos votos. A eleição majoritária pode ser simples ou relativa em que é eleito aquele que obtiver o maior número dos votos apurados.


Sociologia

ferencialmente, pelo candidato por ele escolhido. Contudo, caso o seu candidato não seja eleito, o voto será somado aos demais votos da legenda, compondo a votação do partido ou coligação. Nesse sistema, aplica-se o cálculo do quociente eleitoral, obtidos pela divisão do número de “votos válidos” pelo número “vagas a serem preenchidas”, ou seja, nesse tipo de pleito, o eleitor, ao votar, escolherá ser representado por determinado partido e, preferencialmente, pelo candidato por ele escolhido. Em resumo, o voto do eleitor na eleição proporcional brasileira indicará quantas vagas determinado partido/coligação terá direito. Cabe ressaltar que, mesmo que um candidato tenha votação expressiva, se o partido/coligação não ganhar vaga, tal candidato pode não ser eleito. Assim, os candidatos mais votados poderão preencher as cadeiras recebidas pelos partidos/coligações, conforme a sua colocação. Esse aspecto é o que diferencia o sistema eleitoral proporcional brasileiro do adotado em outros países. No Brasil, quem faz a lista de classificação dos

candidatos (ordem de colocação) é o eleitor, por meio do seu voto, isto é, o candidato que obtiver o maior número de votos dentro de determinado partido/coligação ficará em primeiro lugar na lista. É o que chamamos de lista aberta. Referências bibliográficas CODATO, Adriano. Partidos, políticos, moral etc. Gazeta do Povo. Curitiba - PR, p. 8, 11 out. 2007 CRUZ. João Hélio Reale da. A função do partido político no regime democrático. Revista Âmbito Jurídico. Eleitoral, 2016. PARTIDOS POLÍTICOS DO BRASIL. Disponível em: http:// www.suapesquisa.com/partidos/ Acesso em: 21 maio de 2017. http://www.tre-sc.jus.br/site/eleicoes/eleicoes-majoritarias-e-proporcionais/ http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2016/Setembro/saiba-como-calcular-os-quocientes-eleitoral-e-partidario-nas-eleicoes-2016 http://www. folhadosudoeste.jor.br/democracia-direta-indireta-e-semidireta/ Acesso em: 21 maio de 2017.

Exercícios de Fixação

A15  Partidos políticos e participação política

01. (Ufu MG) Os partidos políticos existem desde a antiguidade, mas tornaram-se essenciais a partir do século XIX, no contexto do Estado liberal-democrático. De acordo com os princípios ideológicos que dão sustentação a esse tipo de formação estatal, marque a alternativa incorreta. a) Os partidos políticos representam, no plano estatal, a sociedade civil organizada. b) Os partidos políticos expressam a existência de classes e segmentos sociais diferenciados. c) Os partidos políticos existem para garantir a efetivação dos interesses privados em nível de Estado. d) Os partidos políticos legitimam-se no contexto da disputa democrática pelo poder. 02. (Ufu MG) Sobre o sistema político brasileiro atual é correto afirmar que a) o descumprimento de promessas de campanha implica a perda do mandato político. b) os eleitores escolhem representantes pelo critério do mandato imperativo. c) referendo e plebiscito são possibilidades constitucionais de participação direta. d) entre os crimes de responsabilidade que podem produzir a perda de mandato, está a ruptura com itens do programa partidário. 03. (Ufu MG) Quanto aos regimes democrático e ditatorial nas sociedades capitalistas, é correto afirmar que a) as democracias implicam a existência e o efetivo funcionamento de um órgão de representação política, o Parlamento. b) as ditaduras sempre implicam o fechamento do parlamento e a existência de governos militares.

148

c) as democracias políticas são a garantia da superação das desigualdades socioeconômicas. d) as ditaduras trazem iguais dificuldades às organizações e ações de todas as classes sociais. 04. (Uel PR) O trecho abaixo, de autoria de Victor Nunes Leal, encontra-se no clássico Coronelismo, Enxada e Voto, publicado em 1949. “E assim nos parece este aspecto importantíssimo do ‘coronelismo’, que é o sistema de reciprocidade: de um lado, os chefes municipais e os ‘ coronéis’, que conduzem magotes de eleitores como quem toca tropa de burros; de outro, a situação política dominante no Estado, que dispõe do erário, dos empregos, dos favores e da força policial, que possui, em suma, o cofre das graças e o poder da desgraça. É claro, portanto, que os dois aspectos – o prestígio próprio dos ‘coronéis’ e o prestígio de empréstimo que o poder público lhes outorga – são mutuamente dependentes e funcionam ao mesmo tempo como determinantes e determinados. Sem a licença do ‘coronel’ – firmada na estrutura agrária do país –, o governo não se sentiria obrigado a um tratamento de reciprocidade, e sem essa reciprocidade a liderança do ‘coronel’ ficaria sensivelmente diminuída”. Fonte: LEAL, V. N., Coronelismo, enxada e voto. São Paulo: Alfa-Omega, 1986, 5ª ed., p. 43.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situação social e política do país, no período em questão, assinale a alternativa correta a respeito das eleições e do sistema representativo no Brasil: a) A troca de favores entre chefes locais e poder público é algo completamente superado pela democracia que se instaurou no Brasil nos últimos 20 anos.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

b) Independentemente da estrutura social e política, a prática da troca de favores entre chefes locais e poder público continua sendo o mecanismo primordial de relacionamento político no Brasil. c) A troca de favores entre chefes políticos locais e poder público ocorria graças aos “votos de cabresto”. d) A troca de favores entre chefes políticos locais e poder público só acontecia porque os cidadãos lutavam por seus direitos. e) A troca de favores entre os chefes políticos e o poder público foi a maneira encontrada por ambos para defender os interesses públicos e republicanos. 05. (Uel PR) De acordo com Norberto Bobbio, “ao lado do problema do fundamento do poder, a doutrina clássica do Estado sempre se ocupou também do problema dos limites do poder, problema que geralmente é apresentado como problema das relações entre direito e poder (ou direito e Estado)”. Fonte: BOBBIO, N. Estado, Governo e Sociedade: para uma teoria geral da política. Tradução de Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000, p. 93-94.

Os limites do poder no Estado democrático de direito moderno são estabelecidos: I. Pela autonomia constitucional entre os poderes judiciário, legislativo e executivo. II. Por normas legais, definidas por processos legítimos, que regulam e estabelecem direitos e deveres tanto para governantes quanto para os indivíduos na sociedade. III. Por normas legais que subordinam os poderes judiciário e legislativo ao poder executivo e asseguram a prevalência dos interesses do partido majoritário. IV. Por normas legais que assegurem que todos os cidadãos tenham garantias individuais mínimas, como o direito à defesa, direito a ir e vir e direito a manifestar suas opiniões. A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é: a) I e III b) II e IV c) I, II e III d) I, II e IV e) I, III e IV

Exercícios Complementares

02. (Ufu MG) “A política foi inventada como modo pelo qual a sociedade, internamente dividida, discute, delibera e decide em comum para aprovar ou rejeitar as ações que dizem respeito a todos os seus membros.” (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994, p. 370)

Tomando como referência o texto acima, de que maneira o significado de política pode ser compreendido? I. Atividade de Governo, compreendida como administração do poder público, sob a forma de Estado, com

autoridade para gerir impostos, taxas, tributos e promover a defesa nacional. II. Profissão de alguns especialistas, pertencentes a uma organização sociopolítica como o partido, que disputam os cargos do Estado. III. Ação organizada de determinados grupos, como: política universitária, política sindical, movimento estudantil, movimento das mulheres em defesa do aborto, movimento da reforma agrária, movimento negro e movimento homossexual. IV. Exercício de alguma forma de poder e as múltiplas consequências desse exercício. É um processo no qual interesses são transformados em objetivos e decisões efetivas. a) I e IV estão corretas. b) I, II e III estão corretas. c) II e III estão corretas. d) Todas as afirmativas estão corretas. e) III e IV estão corretas. 03. (Ufu MG) A Constituição Brasileira, promulgada em 05/10/88, em seu Título I, Dos Princípios Fundamentais, Artigo 1, Parágrafo único, diz que “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representação ou diretamente, nos termos desta Constituição.” (Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil. 18ª edição. São Paulo: Saraiva, 1998, p.3)

A partir dessa afirmação da Constituição Brasileira, o Brasil pode ser considerado uma democracia? Para responder, utilize-se dos conceitos de democracia social e política.

Gabarito questão 03 A pergunta da questão pode ser interpretada de duas formas: se normativamente o Brasil é uma democracia, ou se a democracia brasileira está de acordo com a sua Constituição. Parece-nos que a questão faz referência à primeira interpretação. Se assim pensarmos, podemos dizer que o Brasil é sim uma democracia, dado que o poder emana do povo, que o exerce diretamente ou por meio dos seus representantes. É justamente essa a característica principal de um governo democrático socialmente (pelo poder emanar do povo) e politicamente (pelo poder ser exercido pelo povo).

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A15  Partidos políticos e participação política

01. (Uem PR) Sobre a participação política no período contemporâneo da História, assinale o que for correto. 01 + 02 + 16 = 19. 01. A Comuna de Paris (1871) foi a primeira experiência histórica de autogestão democrática e popular, que proclamou a total igualdade social, econômica e política entre homens e mulheres. 02. A célebre frase “todo o poder emana do povo”, inserida no parágrafo único do Art. 1º. da Constituição do Brasil de 1988, retrata a essência do sistema representativo e democrático brasileiro. 04. Durante a Ditadura Militar brasileira (1964-1985), o povo participava diretamente das eleições, elegendo o Presidente da República. 08. A partir da década de 1990, o sucesso do crescimento econômico chinês foi resultado do processo de abertura do sistema político, da liberdade de imprensa e do direito de sindicalização dos trabalhadores. 16. Movimentos sociais são organizações coletivas que viabilizam distintas formas de ações políticas para expressar demandas de ordem cultural, social e econômica.


Sociologia

04. (Ufu MG) “Dificilmente o governante autocrata de um regime ditatorial chama a si mesmo de ditador ou permite que o chamem assim.” RIBEIRO, João Ubaldo. Política: quem manda, por que manda, como manda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p.115.

Assinale os possíveis significados da palavra “ditadura”. I. Forma de Governo que apresenta as seguintes características: a) uma pessoa ou um pequeno grupo de pessoas controla, de maneira democrática, todas as instituições sociais; b) refreada por lei constitucional; c) total liberdade de opinião e pensamento. II. O termo refere-se a uma única pessoa ou a um pequeno grupo de pessoas, que apresenta concentração e caráter ilimitado do poder. III. Governo ditatorial que não é refreado pela lei, pois coloca-se acima dela, modificando-a de acordo com sua vontade. IV. Ditadura é toda classe dos regimes não democráticos, especificamente, os modernos. Selecione a alternativa correta. a) I, III e IV estão corretas. c) I e III estão corretas. b) I e IV estão corretas. d) II,III e IV estão corretas. 05. (Ufu MG) “É claro que sempre houve facções divergentes em todas as sociedades e é evidente que essas facções tendiam a organizar-se, de uma forma ou de outra, em grupos destinados a promover os interesses de seus membros. Mas os partidos políticos organizados, como conhecemos hoje, são fenômeno comparativamente recente.” (RIBEIRO, João Ubaldo. Política; quem manda, por quê manda, como manda. 2 ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p. 177)

A15  Partidos políticos e participação política

Assinale, de acordo com o código, a alternativa que contém as afirmativas corretas sobre os partidos políticos. I. Fenômeno decorrente do surgimento dos parlamentos e de grupos de interesse estruturados formalmente, nos países que adotam formas de Governo representativo. II. Contemporaneamente, têm sua constituição e funcionamento regidos pelo Estado. São uma instituição fundamental e elemento básico na configuração do Estado. III. Organizam a ação política, procurando desagregar os indivíduos dos partidos por “status” socioeconômico, filiação religiosa e visão de mundo. IV. Alguns podem ser caracterizados como “reivindicatórios”, outros como “reformistas” e outros ainda como “revolucionários”. V. As suas ações são orientadas para a conquista do poder político dentro da sociedade, integrando setores mais amplos da sociedade civil no sistema político. a) I, II e III estão corretas. b) I, II, IV e V estão corretas. c) III, IV e V estão corretas. d) I, III e V estão corretas. e) Todas as afirmativas estão corretas. 150

06. (Ufu MG) Quais são os modelos tradicionais de sistemas eleitorais? a) Plurinominal e cumulativo. b) Maioria simples e relativa. c) Currais eleitorais e eleitores de cabresto. d) Majoritário e proporcional. e) Majoritário e bipartidário. 07. (Ufu MG) “A Constituição não existe no vácuo, mas em funcionamento. E só funcionará se, além de legítima, for um texto suficientemente genérico e econômico (...) para acomodar o pluralismo que se pretende numa sociedade democrática e para ter o grau de flexibilidade necessário à sua sobrevivência diante de futuras alterações da realidade.” RIBEIRO, João Ubaldo. Política quem manda, por que manda, como manda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 134.

Analise as assertivas abaixo. I. Um Estado democrático não possui Constituição. II. Constituição é o conjunto de normas que se sobrepõe a todas as outras. III. A sociedade democrática possui meios para realizar os ideais presentes na Constituição. IV. A ação do Governo não é limitada pela lei constitucional, em uma sociedade democrática. Selecione a alternativa correta. a) I e IV estão corretas. c) II, III e IV estão corretas. b) II e III estão corretas. d) I, II e III estão corretas. 08. (Ufu MG) “A análise das formas de governo é tida como conceptualmente distinta da análise referente às formas de Estado ou de regime. (...) A bipartição clássica distingue a Forma de Governo parlamentar e a Forma de Governo presidencial.” (BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília: UNB, 1986. p. 517.)

Assinale a alternativa que corresponde à Forma de Governo presidencial. a) O Sistema gira em torno da figura do primeiro-ministro. b) O Governo tem o poder de dissolver o Parlamento. c) O presidente acumula os poderes de chefe do Estado e de chefe do Governo. d) O presidente não tem poder para nomear e demitir ministros. 09. (Ufu MG) Uma premissa essencial da conquista de direitos civis, sociais e políticos é o seu caráter ativo, ou seja, seu vínculo com a ação organizada dos participantes da sociedade civil. A democracia é uma condição indispensável para o exercício da cidadania, contudo, na sociedade capitalista ocorre um fato que favorece apenas formas passivas de cidadania, em que os sujeitos não gozam de uma verdadeira autonomia. Assinale a alternativa que corresponde a esse fato. a) A expressão das particularidades dos grupos ou classes sociais. b) A emergência da subjetividade individual no seio dos movimentos. c) A transformação dos trabalhadores em consumidores. d) As relações dos movimentos com o Estado e suas instituições.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A16

MOVIMENTOS SOCIAIS E NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS

ASSUNTOS ABORDADOS nn Movimentos sociais e novos mo-

Os movimentos sociais são manifestações coletivas que constituem um importante instrumento de mobilização e transformação social e de ampliação e efetivação da cidadania. Os movimentos podem ser divididos em tradicional ou clássico e novos movimentos sociais. O movimento social clássico pode ser representado pelo movimento operário. O movimento social tradicional pode ser centrado nos conflitos de base econômica, oriundos das condições materiais de produção da existência e da desigualdade social. Já os novos movimentos sociais podem ser vistos nos movimentos ambientalistas, movimento negro, movimento feminista, feminista, dentre outros. Nesses novos movimentos há uma ênfase na transformação cultural, em que são consideradas as formas discriminatórias e de dominação nas relações de gênero, étnicas, ecológicas etc.

vimentos sociais

nn Movimentos sociais clássicos: movimento operário no Brasil nn Novos movimentos sociais nn Movimento negro nn Movimento feminista nn Movimento ambientalista

Fonte: Wikimedia Commons

Nos anos 1950 e parte dos anos 1960, os movimentos sociais eram vistos como causa de conflito e instigadores de revoltas e revoluções, como manifestações que perturbavam o bom funcionamento e o equilíbrio da sociedade. A partir de meados dos anos 1960, as manifestações pelos direitos civis nos Estados Unidos e a eclosão de rebeliões estudantis mudaram o cenário anterior e ampliaram o campo de atuação dos movimentos sociais, bem como a forma de estudá-los. Nos anos 1970 e 1980, as manifestações contra regimes autoritários marcaram os movimentos sociais da América do Sul na luta pela democracia e pelo retorno dos direitos de cidadania. A partir de 1990, os movimentos passaram a ser vistos de maneira difusa. Eles eram organizados em redes nacionais e internacionais que reuniam bandeiras de reivindicações locais e globais. Os movimentos sociais segundo Maria da Glória Gohn são então Figura 01 - Sem movimento não há liberdade.

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Sociologia

[...] ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base referencial. (GOHN, 2000, p. 13)

dá maior autonomia aos seus integrantes, que buscam transformar os comportamentos e valores dos diversos segmentos sociais. Eles querem também a garantia de direitos de grupos minoritários, atuando como uma rede de trocas de informações e cooperação, permitindo grupos emergentes com novas identidades, ou mesmo os novos que surgem, a exemplo do que acontece com o movimento feminista e o movimento negro.

nn Projeto nn Ideologia nn Organização

A16  Movimentos sociais e novos movimentos sociais

O projeto é uma das características básicas de um movimento social porque só há força no movimento se ele tiver embasado em propostas, em objetivos que desejam alcançar. São pautas de reivindicação com possíveis soluções para o conflito. Já a ideologia é fundamental, pois ela reflete a visão de mundo dos indivíduos que fazem parte do movimento. E por fim, a organização, porque ela é responsável pela estrutura do movimento que é gerido por meio de sede, endereço, sistema de arrecadação e sistema jurídico que o mantêm em funcionamento. Pontuadas essas características, façamos um recorte na história dos movimentos sociais levando em conta aspectos como: formas de organização, orientações desenvolvidas com as instituições sociais e estruturas a serem transformadas. Vamos nos ater aos movimentos sociais clássicos que se constituíram, principalmente, em torno das lutas dos trabalhadores desde a consolidação do capitalismo, se caracterizando por meio de uma organização vertical e rígida estrutura hierárquica, em que os integrantes seguiam as determinações do grupo dirigente, travando fortes embates políticos com o Estado porque buscavam transformações na estrutura econômica e social para superar as condições de opressão da classe trabalhadora, lutando por melhores salários, melhores condições de trabalho, redução da jornada etc., dando origem aos sindicatos muitos dos quais existem até hoje. Quanto aos novos movimentos sociais, eles alteraram suas reivindicações para o âmbito da cultura, formando um movimento embasado em relações horizontais, o que 152

Fonte: Wikimedia Commons

Os movimentos sociais são ações coletivas com o objetivo de manter ou mudar uma situação. Podem ser de confronto político, ter relação de oposição ou de parceria com o Estado. Para se caracterizar como movimento social, ele deve ter três aspectos básicos: Figura 02 - Movimento MST.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST - é um dos maiores movimentos sociais do Brasil cujo foco principal é a luta pela reforma agrária. O movimento surge de uma desigualdade do acesso à terra, consequência de uma organização patrimonial e patriarcal, ou seja, uma questão histórica e estrutural no Brasil que culmina em uma concentração fundiária, e por isso a importância do movimento. Ele traz para o diálogo a necessidade da discussão e da luta política. O movimento MST que começou nos anos 1980 e atualmente se faz presente em 24 estados da federação. Além da reforma agrária, esse movimento enfoca também discussões sobre as transformações sociais, principalmente no que diz respeito à inclusão social, seja em termos de desapropriação e assentamento, seja em relação à qualidade da infraestrutura disponível às famílias já assentadas. Se por um lado, a luta pela terra é legítima, por outro, os meios praticados pelo movimento para promover suas invasões são muito recriminados pela sociedade civil, pois o movimento é, muitas vezes, acusado do uso da violência para invadir propriedades. Porém, vale destacar que a violência pode vir do Estado ao lidar com uma questão social tão delicada e importante. Lembremos o episódio do massacre de Eldorado de Carajás, no Pará, em 1996, quando militantes foram mortos em confronto com a polícia. Apesar das críticas, o MST é uma ferramenta importante na transformação de uma realidade rural no país, cuja reforma agrária é uma entre tantas transformações que contribuem para a erradicação da miséria e da desigualdade, atuando na valorização da função social da terra.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

O início da formação da classe de trabalhadores foi marcada por uma forte influência de ideais anarquistas e comunistas, e já na primeira década do século XX, o Brasil já tinha um quadro operário com mais de 100 mil trabalhadores. Entre os anos de 1903 e 1906, greves de menor volume tomavam conta dos grandes centros industriais e uma primeira tentativa de repressão foi imediatamente respondida por uma greve geral que tomou conta de São Paulo, em 1907. Mediante a rigidez do governo, uma greve de maior proporção foi organizada em 1917, cujo conflito ganhou proporções e um fatal confronto com a polícia explodiu com um evento marcante: morte de um jovem trabalhador que participava das manifestações. O episódio fez com que os operários organizassem importantes caminhadas com número maior de adeptos pelo centro da cidade. Diante de todas essas manifestações, a ação grevista serviu para a formação de um movimento mais organizado. Inspirado pelo Partido Bolchevique Russo, em 1922, oficializou-se a fundação do PCB, Partido Comunista Brasileiro, o que influenciou para que os sindicatos passassem a se organizar melhor, contando com um contingente maior de trabalhadores.

Novos movimentos sociais Fonte: Wikimedia Commons

Figura 04 - Novos movimentos sociais.

Figura 05 - 2ª Marcha Zumbi dos Palmares.

Na década de 1960, a caminhada dos grupos no Brasil ganha novas influências e referências, e nas décadas de 1970 e 1980, o movimento negro surge, primeiramente de maneira clandestina, durante o período escravagista, quando surgem grandes nomes neste cenário, como Zumbi dos Palmares, por exemplo, líder do Quilombo dos Palmares, espaço de resistência desse movimento. Com a Lei Áurea, a população negra inicia um novo desafio: a luta contra o preconceito e desigualdade social. Como marco dessa era, começam a circular jornais e revistas voltados para as causas dos negros. Inicialmente esses espaços surgem para discutir suas vidas e seus desafios, porém com o tempo, passam a ser espaço de denúncias de atrocidades praticadas contra os negros, a chamada Imprensa Negra Paulista. No mesmo período, em 1931, é fundada a Frente Negra Brasileira, um movimento que viria a se transformar em partido político, que foi extinto com os demais na criação do Estado Novo. Nas décadas de 1970 e 1980 vários grupos são formados com o objetivo de unir jovens negros e também denunciar o preconceito. A partir daí protestos e manifestações acontecem chamando a atenção da comunidade e do governo, como a manifestação no Teatro Municipal de São Paulo, em 1978 em prol da resistência e defesa de quatro atletas negros que foram expulsos do Clube Regatas Tietê. Esse fato resultou na formação do Movimento Negro Unificado. Como exemplo de um ato político que despertou a necessidade de políticas públicas destinadas aos negros como forma compensatória e de reparação com uma dívida histórica que se tem com essa parcela da população, foi realizada em Brasília em 1995, a Marcha Zumbi que contou com a presença de trinta mil pessoas. A partir desse episódio o governo passa a ter interesse no cumprimento de resoluções determinadas pelos órgãos de Direitos Humanos. E é nesse cenário que são criados os programas de cotas, iniciativas estaduais e municipais, e em 153

A16  Movimentos sociais e novos movimentos sociais

Figura 03 - Movimento Operário Brasileiro.

Movimento negro

Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons

Movimentos sociais clássicos: movimento operário no Brasil


Sociologia

2003 foi criada a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR). O movimento negro hoje reivindica uma compensação, bem como a aplicação e fiscalização das leis que buscam criminalizar o racismo. É importante destacar a lei 1390/51, chamada de “Lei Afonso Arinos” que proíbe qualquer tipo de discriminação racial no país, porém a lei é colocada em dúvida, pois as punições não eram aplicadas em casos claros de racismo. Além disso, existe a “Lei Caó”, de 1989, que ficou conhecida como “Caó” em homenagem ao seu autor, o deputado Carlos Alberto de Oliveira. Esta lei define os crimes resultantes de preconceito racial, determinando a pena de reclusão a quem tenha cometidos atos de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. No que diz respeito à inclusão do negro no sistema educacional brasileiro, a Lei 12.711/12 determina a criação cota de vagas em universidades públicas para a população negra, e no âmbito do trabalho, há também uma cota relacionada a concursos públicos, através da Lei 12.990/14. Esta lei determina que 20% das vagas oferecidas nos concursos sejam destinadas aos negros, o que reforça o uso do termo “raça” voltado para direitos sociais.

Movimento feminista

litário e a aceitação de mulheres no serviço público. Nesse momento são resgatadas as discussões acerca da participação da mulheres na política do Brasil, e com isso é fundada em 1922, a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, cujos principais objetivos eram a luta pelo voto e livre acesso das mulheres ao campo de trabalho. Em 1928 é autorizado o primeiro voto feminino, no mesmo ano em que é eleita a primeira prefeita no país. Vale destacar que os dois atos foram anulados, mas já abriram um grande caminho para discussão e reinvindicação quanto à cidadania das mulheres. Em 1932, no governo de Vargas, é garantido o sufrágio feminino, que garante o direito ao voto e à candidatura das mulheres conquista que só se efetivaria por meio da Constituição de 1946. Durante o período que antecipa o Estado Novo, as militantes divulgavam suas ideias por meio de reuniões, jornais, explicativos, e da arte de maneira geral. Contudo, entre os dois períodos ditatoriais vividos pelo Brasil, o movimento perde muita força e a partir da década de 1960, o movimento agregou questões como acesso aos métodos contraceptivos, por exemplo, dentre tantos outros que integram o universo das mulheres. O movimento feminista traz em sua trajetória grandes conquistas, porém ainda há muitas lutas a se travar, como podemos ver no quadro abaixo, principalmente em questões como a violência contra a mulher, diferença salarial entre gêneros descriminalização do aborto, entre outros.

Fonte: Wikimedia Commons

A16  Movimentos sociais e novos movimentos sociais

SAIBA MAIS

Figura 06 - Reivindicações do movimento feminista na Marcha das Vadias.

A luta pela igualdade e direitos das mulheres existe desde o Brasil Colônia, quando as mulheres eram propriedades de seus pais e maridos. Suas lutas iniciais se resumiam ao direito à vida política, educação, direito ao divórcio e livre acesso ao mercado de trabalho. Até então não havia uma proibição, de fato, à participação das mulheres na vida política, pois elas não eram sequer reconhecidas como possuidoras de direitos. Durante as greves de 1907 e 1917 as exigências estavam voltadas para regularização do trabalho feminino, como a jornada de oito horas e a abolição de trabalho noturno. No mesmo período, foi aprovada a resolução para salário igua154

1 DADOS DE VIOLÊNCIA CONTRA MULHER - 13 mulheres são assassinadas por dia no Brasil (Fonte: MS/ SVS/CGIAE – Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM). - A cada cinco minutos uma mulher é agredida no Brasil (Mapa da Violência 2012 – Homicídio de Mulheres). - A cada 2 horas uma mulher é vítima de homicídio, 372 por mês. (Instituto Avante Brasil – IAB a partir de dados do DataSUS, do Ministério da Saúde – Mapa da violência 2012) - Os homens ganham aproximadamente 30% a mais do que as mulheres com mesmo nível de instrução e idade. (Dados adquiridos através do relatório “Novo século, velhas desigualdades: diferenças salariais de gênero e etnia na América Latina”, escrito pelos economistas do BID Hugo Ñopo, Juan Pablo Atal e Natalia Winder.) 1 Dados retirados do site http://www.politize.com.br/movimento-feminista-historia-no-brasil/

Levando em conta todas essas lutas, é fato que as mulheres sempre chocaram a sociedade tradicional, que foi e ainda será voltada para o conservadorismo, e por isso manifestações,


Ciências Humanas e suas Tecnologias

como a Marcha das Vadias, por exemplo, são alvos de recriminação e ataques. A manifestação luta contra uma cultura do estupro, igualdade de gêneros, descriminalização do aborto, dentre outras tantas que assolam o universo das mulheres ainda se deparam constantemente com essas agressões, preconceitos e discriminação, e por isso o movimento cresce contando com um contingente cada vez maior em prol dessa luta diária.

Movimento ambientalista O movimento ambientalista consiste em diferentes correntes de pensamento que tem como objetivo principal a defesa do meio ambiente, exigindo dentre tantas outras reivindicações, medidas de proteção ambiental, por exemplo. Por isso, o movimento se preocupa com as ações e soluções para os problemas ambientais. Temos como representantes desses movimentos ambientalistas, instituições, organizações não governamentais, como Greenpeace e WWF, ativistas independentes e outros, que atuam em defesa do meio ambiente por meio de manifestações, reivindicações e projetos para a conservação ecológica. Esses movimentos lutam pela proteção e conservação do o meio ambiente, intervindo para evitar a extinção de espécies animais, despertando e alertando instituições e governos sobre a necessidade de preservação e respeito ao meio ambiente, atuando também no combate ao desmatamento e poluição ambiental como alternativa a preservação. Muitos movimentos participam por meio de ações políticas em defesa do meio ambiente e por isso muitos atuam em partidos políticos ou por meio de parlamentares que defendem os interesses do movimento, aprovando leis positivas na preservação do meio ambiente.

A16  Movimentos sociais e novos movimentos sociais

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 07 - Documentário “O movimento ambientalista”.

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Fonte: Wikimedia Commons

Sociologia

Figura 08 - Greenpeace e WWF.

Seguem abaixo algumas ações desse movimento: nn Ações de conscientização e educação ambiental; nn Plantio de árvores visando à despoluição de rios, lagos e oceanos; nn Divulgação de propagandas em meios de comunicação e redes sociais, voltadas para a defesa do meio ambiente; nn Desenvolvimento de pesquisas com o intuito de ações mais eficazes quanto aos problemas ambientais; nn Incentivo à reciclagem e consumo consciente. Referências bibliográficas GOHN, Maria da Gloria. 500 Anos de lutas sociais no Brasil: movimentos sociais, ONGs e terceiro setor. Revista Mediações. 1, 11-40, 2000. SCHERER-WARREN, Ilse. Apresentação. Soc. estado. [online]. vol.21, n.1, pp.13-16. ISSN 01026992. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69922006000100002. 2006. SOUSA, Rainer Gonçalves. “Movimento Operário Brasileiro”; Brasil Escola. Disponível em: http:// brasilescola.uol.com.br/historiab/movimento-operario-brasileiro.htm Acesso em: 21 de maio de 2017. STAHLHOFER, Bettina. Movimentos sociais tradicionais e novos movimentos sociais. 2015. Disponível em: https://prezi.com/x27nnpojwrdm/movimentos-sociais-tradicionais-e-novos-movimentos-sociais/ Acesso em: 21 maio de 2017. 2015.

A16  Movimentos sociais e novos movimentos sociais

Exercícios de Fixação 01. (Enem MEC) Ninguém nasce mulher; torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino. BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como marca o(a) a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual. b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho.

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c) organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero. d) oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos. e) estabelecimento de políticas governamentais para promover ações afirmativas. 02. (Uem PR) “Na atualidade, os principais movimentos sociais atuam por meio de redes sociais, locais, regionais, nacionais e internacionais ou transnacionais, e utilizam-se muito dos novos meios de comunicação e informação, como a internet.” (GOHN, M. G. Movimentos sociais na contemporaneidade, In Revista Brasileira de Educação. v.16, n.47, 2011, p. 335-6).


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Considerando o trecho citado e o tema dos movimentos sociais, assinale o que for correto. 01 + 04 + 16 = 21. 01. Movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico que não precisam se sustentar em organizações formalmente instituídas, como partidos políticos ou sindicatos. 02. Com o Facebook, as antigas práticas adotadas pelos movimentos sociais durante o século XX foram abandonadas e novas formas de organização coletiva tomaram o seu lugar. 04. Ciberativismo é uma prática utilizada por diversos movimentos sociais da atualidade para gerar novos processos de mobilização social e de identificação coletiva. 08. A principal função dos movimentos sociais é agregar diferentes pessoas que estão insatisfeitas com o governo e pretendem criticá-lo por meio das redes sociais. 16. Movimentos sociais têm o potencial de catalisar interesses distintos de grupos ou de classes, por vezes antagônicas, em favor de uma agenda política comum. 03. (Uem PR) “Neste maio de 2014, o sujeito dominante das manifestações coletivas tem cara, nome e até endereço. Não usa máscara porque ele é a própria máscara. São entidades sindicais e corporativas, as das reivindicações previsíveis e compreensíveis. Não raro são cúmplices do que questionam, como os desmandos que culminam na inflação alta, na corrosão dos salários, nas carências que não são as do catálogo do Fome Zero. Em 2013, o povo supostamente manso, diluído no sistema de cooptações que enquadrou a sociedade inteira nas conveniências do poder e do partido que governa, deu o primeiro aviso que mansidão tem limite. A surpresa é que, em 2014, a forma é outra, mas o recado é o mesmo: a cumplicidade tem seu dia de basta.”

04. (Enem MEC) Não nos resta a menor dúvida de que a principal contribuição dos diferentes tipos de movimentos sociais brasileiros nos últimos vinte anos foi no plano da reconstrução do processo de democratização do país. E não se trata apenas da reconstrução do regime político, da retomada da democracia e do fim do Regime Militar. Trata-se da reconstrução ou construção de novos rumos para a cultura do país, do preenchimento de vazios na condução da luta pela redemocratização, constituindo-se como agentes interlocutores que dialogam diretamente com a população e com o Estado. GOHN, M. G. M. Os sem-terras, ONGs e cidadania. São Paulo: Cortez, 2003 (adaptado).

No processo da redemocratização brasileira, os novos movimentos sociais contribuíram para a) diminuir a legitimidade dos novos partidos políticos então criados. b) tornar a democracia um valor social que ultrapassa os momentos eleitorais. c) difundir a democracia representativa como objetivo fundamental da luta política. d) ampliar as disputas pela hegemonia das entidades de trabalhadores com os sindicatos. e) fragmentar as lutas políticas dos diversos atores sociais frente ao Estado. 05. “Lulu”, machismo invertido? Novo aplicativo permite às mulheres compartilhar informações sobre homens com quem saem.

De acordo com as teorias sociológicas sobre movimentos sociais e participação política e com base no texto acima, assinale o que for correto: 02 + 04 = 06. 01. O movimento do Passe Livre, que ganhou as ruas de várias cidades brasileiras em 2013, não era legítimo e, por isso, os sindicatos tomaram a frente nas negociações em 2014. 02. Tanto as manifestações de entidades sindicais e corporativas quanto as manifestações populares são expressões coletivas e políticas legítimas. 04. Em sociedades democráticas, mesmo que os governos recebam apoio popular, não significa que os movimentos sociais e populares devam abandonar as manifestações públicas de suas críticas e insatisfações. 08. O Programa Fome Zero solucionou os problemas sociais do Brasil e, por isso, não há necessidade de manifestação dos movimentos sociais e populares. 16. Aqueles sindicatos que apoiaram candidatos que foram eleitos nas eleições presidenciais não têm direito de se manifestar criticamente em relação às decisões do governo atual.

A falsa simetria ocorre quando, querendo tratar tudo com “igualdade”, nós. fingimos que a desigualdade de poder não existe. Certo dia, pula pra mim um anúncio no Facebook: “Avalie os garotos de sua cidade”, ou qualquer coisa do tipo. A identidade visual é toda trabalhada em roxo (cor-de-rosa não cola mais entre jovens e adolescentes, pelo jeito) e preto, com uma pegada moderninha. O nome do aplicativo anunciado (vale um prêmio para a equipe de marketing) é “Lulu”. “Lulu” evoca ela, aquela mesma, Luluzinha. “Luluzinha”, assim como o “Clube da Luluzinha” são sinônimos de grupos exclusivamente femininos, que em geral têm um tom forte de empo157

A16  Movimentos sociais e novos movimentos sociais

(MARTINS, J. S. O variável humor das ruas, in O Estado de São Paulo, Caderno Geral, 24/05/2014).


Sociologia

deramento numa sociedade machista. Não seria, então, uma contradição, que o aplicativo chamado Lulu reproduzisse justamente um comportamento tão criticado pelas feministas em grupos de homens – avaliar e rankear as mulheres segundo critérios autoritários do grupo? As mulheres no Lulu não estariam fazendo o mesmo que reclamam que os homens fazem com elas todos os dias? Me parece que não. Avaliar e rankear os homens com quem ficamos não faz com que 15 deles sejam assassinados por dia, nem com que 5 homens sejam estuprados a cada hora. Então, não. Não é a mesma coisa! MOSCHKOVICH, Marília. “Lulu”, machismo invertido? Carta Capital. 25 nov. 2013. Adaptado. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/blogs/ outras-palavras/201clulu201d-machismo-invertido-7277.html>

No mês de novembro de 2013, apareceu no Brasil o aplicativo Lulu, que permite às mulheres classificarem os homens que co-

nhecem. Assinale se as afirmativas abaixo são verdadeiras (V) ou falsas (F) a respeito desse contexto. F – V – V – V – V. ( ) A criação do aplicativo Lulu é uma importante conquista do movimento feminista. ( ) Ao utilizar critérios já comuns na sociedade, aplicativos como o Lulu não são capazes de superar a dominação de gênero. ( ) Aplicativos desse tipo tendem a ser heteronormativos, ou seja, acabam por desconsiderar homossexuais, bissexuais e outras formas de relacionamento afetivos. ( ) Ainda que possa ser considerado uma forma de empoderamento das mulheres, esse tipo de ação não modifica a estrutura machista da sociedade. ( ) Pode-se dizer que aplicativos desse tipo tendem a coisificar as relações humanas, tratando as pessoas como coisas a serem avaliadas.

Exercícios Complementares 01. (Enem MEC) A linhagem dos primeiros críticos ambientais brasileiros não praticou o elogio laudatório da beleza e da grandeza do meio natural brasileiro. O meio natural foi elogiado por sua riqueza e potencial econômico, sendo sua destruição interpretada como um signo de atraso, ignorância e falta de cuidado. PADUA, J. A. Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (1786-1888). Rio de Janeiro: Zahar, 2002 (adaptado).

Descrevendo a posição dos críticos ambientais brasileiros dos séculos XVIII e XIX, o autor demonstra que, via de regra, eles viam o meio natural como a) ferramenta essencial para o avanço da nação. b) dádiva divina para o desenvolvimento industrial. c) paisagem privilegiada para a valorização fundiária. d) limitação topográfica para a promoção da urbanização. e) obstáculo climático para o estabelecimento da civilização. 02. (UEA AM)

A questão colocada em debate pela charge é a) o desenvolvimento que não pode ser alcançado com a presença de áreas verdes. b) a falta de materiais de proteção individual para as pessoas próximas às caçambas. c) o caráter efêmero das construções civis que um dia serão destruídas. d) a situação precária dos trabalhadores ligados ao transporte de carga no Brasil. e) o descarte irregular de lixo e os impactos ambientais e sociais implicados. 03. (Uel PR) Leia o texto a seguir. Uma parte considerável dos novos ativistas já compareceu a protestos e a encontros presenciais, mas há muitos que se manifestam exclusivamente na Internet sob a forma de textos, hashtags e vídeos. E o volume de informação produzido por eles sinaliza a centralidade que a política assumiu no dia a dia dos brasileiros.

A16  Movimentos sociais e novos movimentos sociais

Adaptado de: CIRNE, S. Somos todos ativistas. Galileu. abr. 2016, p. 41.

As formas de ativismo on-line e off-line, no Brasil, demonstram a emergência, na sociedade civil, de novos atores políticos, que se articulam por meio de ações coletivas em rede. Com base no texto e nos conhecimentos sobre as recentes formas de mobilização dos atores da sociedade civil, assinale a alternativa correta. a) As ações coletivas em rede podem ser comparadas aos movimentos sindicais brasileiros da década de 1970, por adotarem práticas de organização e de mobilização em defesa da esfera privada contra a opressão estatal. b) As manifestações políticas organizadas em redes de movimentos caracterizam-se pela participação de diversos grupos e de múltiplos atores imersos na vida cotidiana, com militância parcial e efêmera.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Gabarito questão 04 Os movimentos sociais são formas de organização política dos cidadãos que ultrapassam a política formal. Eles estão inseridos no contexto histórico, refletem e demandam interesses de grupos sociais do seu tempo. Assim, pode-se dizer que eles são um importante meio de transformação social, pois têm sua luta vinculada à construção de uma sociedade melhor, e não à simples reprodução ou restituição de uma ordem social anterior.

c) O atual ativismo político no Brasil, a exemplo do mundo, mo-

Desenvolva uma síntese das ideias apresentadas nesse frag-

biliza entidades e organizações ideologicamente unificadas e

mento, destacando os principais aspectos da relação dos movi-

com práticas comuns no mercado, a fim de obter vantagens

mentos sociais com a dinâmica social como um todo.

passado, a mobilização das grandes classes e a afirmação do movimento operário como principal protagonista das transformações socioeconômicas. e) Os sujeitos dos movimentos favoráveis às políticas neoliberais, na atualidade brasileira, organizam-se em rede para a defesa da intervenção e da regulação da economia e das relações de trabalho, pelo Estado.

05. (Uerj RJ) As comunidades quilombolas, que são predominantemente constituídas por população negra, se autodefinem a partir das relações com a terra, do parentesco, do território, da ancestralidade, das tradições e das práticas culturais próprias. Estima-se que em todo o país existam mais de três mil comunidades quilombolas. O Decreto Federal nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos.

04. (UFPR) Leia o fragmento abaixo, que fala sobre movimentos

Adaptado de incra.gov.br.

sociais na contemporaneidade.

A demarcação de terras de comunidades quilombolas é fato

Na realidade histórica, os movimentos sempre existiram, e

recente nas práticas governamentais brasileiras.

cremos que sempre existirão. Isso porque representam forças

Um dos principais objetivos dessa política pública é viabilizar a

sociais organizadas, aglutinam as pessoas não como força-ta-

promoção de:

refa de ordem numérica, mas como campo de atividades e

a) aceleração da reforma agrária

experimentação social, e essas atividades são fontes gerado-

b) reparação de grupos excluídos

ras de criatividade e inovações socioculturais. A experiência

c) absorção de trabalhadores urbanos

da qual são portadores não advém de forças congeladas do

d) reconhecimento da diversidade étnica

passado – embora este tenha importância crucial ao criar uma memória que, quando resgatada, dá sentido às lutas do presente. A experiência recria-se cotidianamente, na adversidade das situações que enfrentam. Concordamos com antigas análises de Touraine, em que afirmava que os movimentos são o coração, o pulsar da sociedade. Eles expressam energias de resistência ao velho que oprime ou de construção do novo que liberta. Energias sociais antes dispersas são canalizadas e potencializadas por meio de suas práticas em “fazeres propositivos”. Os movimentos realizam diagnósticos sobre a realidade social, constroem propostas. Atuando em redes, constroem ações coletivas que agem como resistência à exclusão e lutam pela inclusão social. Constituem e desenvolvem o chamado empowerment de atores da sociedade civil organizada à medida que criam sujeitos sociais para essa atuação em rede. Tanto os movimentos sociais dos anos 1980 como os atuais têm construído representações simbólicas afirmativas por meio de discursos e práticas. Criam identidades para grupos antes dispersos e desorganizados, como bem acentuou Melucci (1996). Ao realizar essas ações, projetam em seus participantes sentimentos de pertencimento social. Aqueles que eram excluídos passam a se sentir incluídos em algum tipo de ação de um grupo ativo. (GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, vol.16, n. 47, p. 336, maio/ago. 2011).

06. (Uem PR) “Quando deixei a casa de meus pais, fui morar em uma república de rapazes em São Leopoldo. Lá, todos eram obrigados a dividir as tarefas domésticas. Graças a essa experiência, anos depois, já em Recife, minha companheira e eu pudemos estabelecer um novo arranjo na divisão do trabalho doméstico, arranjo esse fora dos padrões dominantes em que cabe aos homens o exercício das atividades do domínio público e às mulheres as atividades domésticas. A participação de minha companheira em alguns movimentos sociais, incluindo o movimento feminista, também teve papel decisivo na maneira como tentamos educar nossos filhos. Certamente, a experiência deles tem sido diferente da minha e das gerações anteriores. Sei que isso não significa uma superação de todos os traços culturais que sinalizam para a desigualdade de gênero, mas já avançamos muito em relação às circunstâncias vivenciadas pelos meus pais, avós e, de maneira geral, pelos homens que ainda esperam ser servidos pelas mulheres da casa.” (BRYM, Robert et al. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Thomson Learning, 2006, p. 281 e 282).

A partir do relato acima, escrito pelo sociólogo Remo Mutzenberg como parte de sua história de vida, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01 + 04 + 16 = 21. 01. Apesar de a divisão social do trabalho ter atingido altíssimos graus de especialização em nossa sociedade, a realização das tarefas domésticas continua concentrada no trabalho feminino. 159

A16  Movimentos sociais e novos movimentos sociais

coletivas trabalhistas e salariais. d) O ciberativismo, na contemporaneidade, envolve, como no


Sociologia

02. A discussão sobre as questões de ordem privada, como as relações conjugais e o cuidado dos filhos, não integram a pauta do movimento feminista, que tem um caráter de reivindicações concentradas na conquista de direitos políticos para as mulheres. 04. A participação das mulheres no mercado de trabalho, no último século, é marcada por avanços e conquistas. Contudo, a persistência das desigualdades de gênero se manifesta nos menores salários pagos às mulheres, na dupla ou tripla jornada exercida por elas e na vulnerabilidade às atitudes de assédio moral e de assédio sexual. 08. A identificação clara de atribuição de tarefas para cada um dos sexos determina que as crianças identifiquem as regras normais e naturais dessa divisão. 16. A família patriarcal, aquela que fundamenta sua autoridade na figura masculina, é um modelo que se associa ao processo de colonização do Brasil e guarda, para além das dimensões de afinidade ou de solidariedade familiar, características econômicas e políticas. 07. (Uem PR) Observe a imagem a seguir:

01. Os movimentos sociais exercem papel importante na tarefa de exigir do Estado o reconhecimento de direitos de grupos minoritários e a redistribuição de recursos econômicos que minimizem as injustiças sociais. 02. Movimentos sociais e partidos políticos têm a mesma tarefa na ordem democrática. Ambos disputam o poder e o controle do Estado. 04. Os movimentos sociais, por mais distintas que sejam as suas reivindicações, utilizam todos um mesmo repertório, ou seja, as mesmas práticas de ação. 08. Mobilizações com ajuda da internet são formas de ativismo que escapam das formas legítimas de participação reconhecidas nas sociedades democráticas. 16. O voto constitui o único instrumento legítimo de participação política nas democracias representativas. 09. (Enem MEC) A demanda da comunidade afro-brasileira por reconhecimento, valorização e afirmação de direitos, no que diz respeito à educação, passou a ser particularmente apoiada com a promulgação da Lei 10.639/2003, que alterou a Lei 9.394/1996, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. Brasília: Ministério da Educação, 2005.

A16  Movimentos sociais e novos movimentos sociais

Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br Acesso em: junho 2015.

O fenômeno nela apresentado é definido como uma a) ação de partidos políticos que possuem o objetivo de mudar uma determinada situação em um país ou região. b) determinação social de grupos minoritários que reivindicam melhores situações para determinados indivíduos desprotegidos culturalmente. c) solução definitiva e tranquila de conflitos e desigualdades sociais impostas pelos grupos menos favorecidos aos grupos sociais considerados elitizados. d) ação coletiva com base em uma determinada visão de mundo, objetivando a mudança ou a manutenção das relações sociais numa dada sociedade. e) norma de comportamento determinada pela sociedade para controlar manifestações individuais ou grupais que contrariem os interesses do poder político do país. 08. (Uem PR) Sobre o tema Movimentos Sociais e Participação Política, assinale o que for correto. 01. 160

A alteração legal no Brasil contemporâneo descrita no texto é resultado do processo de a) aumento da renda nacional. b) mobilização do movimento negro. c) melhoria da infraestrutura escolar. d) ampliação das disciplinas obrigatórias. e) politização das universidades públicas. 10. (Uem PR) Segundo Sheila Aparecida Santos Silva, as cotas raciais para ingresso nas universidades e para ocupação de cargos públicos, como parte das políticas afirmativas, são medidas “que buscam reparar ou minimizar o racismo e a exclusão social que afetam os negros e descendentes” 08 + 16 = 24. (SILVA, Sheila Aparecida Santos. Diversidade cultural brasileira. In: LORENSETTI, Everaldo, et al. Sociologia: ensino médio. Curitiba: SEED-PR, 2006, p. 142).

De acordo com essa afirmação, assinale o que for correto. 01. Na visão da autora, a política de cotas reproduz e promove injustiças sociais. 02. Para a autora, é impossível corrigir ou minimizar desigualdades criadas historicamente. 04. Os cargos públicos e o ensino superior, conforme a autora, devem ser acessíveis apenas para pessoas das elites. 08. Segundo a autora, as cotas visam tornar a convivência social mais aberta à aceitação das diferenças raciais. 16. A política de cotas, na visão da autora, resulta de um reconhecimento de que há racismo na sociedade brasileira.


FRENTE

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SOCIOLOGIA

Exercícios de Aprofundamento 01. (Uem PR PAS) Segundo Salvina Maria Ferreira, “Para o filósofo Thomas Hobbes (1588-1679), o homem, em seu ‘estado de natureza’, acaba provocando conflitos com os outros, pois vive competindo, desconfia de todos e vive buscando a glória.” (FERREIRA, S. M. Formação do Estado Moderno. In: LORENSETTI, E. et al. Sociologia. Curitiba: SEED-PR, 2006, p. 222).

Por isso, seria necessária a existência de um estado forte, com poderes absolutos, capaz de garantir a segurança de cada cidadão. De acordo com essa forma de pensar, é correto afirmar que 08 + 16 = 24. 01. os homens são naturalmente bons, e a sociedade é que os corrompe. 02. os homens são naturalmente maus, e os mais fortes é que devem dominar a sociedade. 04. o estado deve interferir para que os mais fracos sejam os bem-sucedidos nos conflitos. 08. a ação reguladora do estado visa a conter a agressividade natural dos homens, tornando possível a convivência pacífica, tendo em vista a garantia da vida social. 16. a existência do estado é benéfica para os indivíduos, em razão de ele tornar possível uma vida melhor do que se não existisse. 02. (Unicentro PR) Sobre o conceito de Estado, é correto afirmar: a) É uma organização civil para administrar dado território e a sua população. b) Refere-se à não existência da divisão territorial determinada pelos limites geográficos. c) Trata-se da eleição realizada pelo povo que garante a legitimidade para pessoas governarem. d) É a estrutura organizacional e política, fruto de um contrato social ou de um pacto político, que garante legitimidade ao governo. e) Consiste em uma estrutura organizacional e política, independente de um pacto político com autoridade ilimitada, podendo decidir sobre qualquer situação social. 03. (Uema MA) Aponte a opção correta referente à instituição da primeira modernidade, encarregada de ser o centro organizador da vida política e social. a) O Sufrágio Universal. b) O Mercado. c) A Moeda. d) As Nações Unidas. e) O Estado.

04. (Enem MEC) No sistema democrático de Schumpeter, os únicos participantes plenos são os membros de elites políticas em partidos e em instituições públicas. O papel dos cidadãos ordinários é não apenas altamente limitado, mas frequentemente retratado como uma intrusão indesejada no funcionamento tranquilo do processo “público” de tomada de decisões. HELD, D. Modelos de democracia. Belo Horizonte: Paideia, 1987.

O modelo de sistema democrático apresentado pelo texto pressupõe a a) consolidação da racionalidade comunicativa. b) adoção dos institutos do plebiscito e do referendo. c) condução de debates entre cidadãos iguais e o Estado. d) substituição da dinâmica representativa pela cívico-participativa. e) deliberação dos líderes políticos com restrição da participação das massas. 05. Art. 76. Salário mínimo é a contraprestação mínima devida e paga diretamente pelo empregador a todo trabalhador, inclusive ao trabalhador rural, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada época e região do País, as suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte. BRASIL. Decreto Lei nº 5.452 de 01 de Maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/decreto-lei/del5452compilado.htm> Acesso em 15 mar. 2013.

O salário mínimo é o mínimo valor mensal que deveria ser pago a um trabalhador. Do ponto de vista histórico-social, a criação do salário mínimo está relacionada à instituição de qual desses modelos de Estado? a) Estado liberal. b) Estado autoritário. c) Estado de exceção. d) Estado de Bem-Estar Social. e) Estado de desenvolvimento humano. 06. (FGV SP) A fria letra da lei tem sentido para o mundo racional das instituições do Estado, mas não necessariamente para o cidadão que seria por ela beneficiado. A começar pelo fato de que o Estado brasileiro, por várias razões, não é um Estado onipresente. O fiscal ocasional das relações de trabalho será substituído na sequência da fiscalização pelo arbítrio do fazendeiro e até pela força de seus pistoleiros e jagunços. Na crua realidade cotidiana de trabalhadores que vivem no limiar da 161


Sociologia

civilização, a vida é organizada segundo os preceitos do poder pessoal e da violência costumeira. Há alguns anos, houve o caso de um desses trabalhadores, no Mato Grosso, que, fugindo da fazenda de seu cativeiro, teve que caminhar 400 km por dentro da mata até achar uma pequena cidade onde, no fim das contas, não havia nenhum representante da Justiça do Trabalho. Acabou empurrado de um lado para outro na busca do abrigo da lei que, afinal, não encontrou. José de Sousa Martins, O direito ao não direito. Disponível em: http://www. estadao.com.br/noticias/impresso,direito-ao-nao-direito,911448,0.htm

Assinale a alternativa que interpreta corretamente os argumentos do texto. a) As iniciativas governamentais de combate ao trabalho em condições degradantes são destinadas ao fracasso, já que o Estado não é capaz de fiscalizar as relações de trabalho. b) Não basta apenas promulgar leis que ampliem os direitos dos trabalhadores; é preciso que o Estado garanta as condições para que essas leis sejam cumpridas. c) A recusa dos direitos sociais inscritos na lei é comum em sociedades arcaicas, nas quais o povo não é afetado pelas condições degradantes de trabalho. d) No Brasil contemporâneo, as instituições do Estado se impõem sobre as relações tradicionais baseadas no poder pessoal. e) Em sociedades modernas, tais como a brasileira, o Estado não deve intervir para assegurar o cumprimento dos direitos sociais da população. 07. (Ufu MG) Considere a afirmação de um dos intelectuais mais importantes do pensamento neoliberal − Friedrich August Von Hayek. “A democracia pode exercer poderes totalitários, e um governo autoritário pode agir com base em princípios liberais”. HAYEK, F. A. von, Fundamentos da liberdade, Brasília: Universidade de Brasília, 1983, p. 111.

Para Hayek, a vontade da maioria da população pode ser um obstáculo à liberdade econômica e uma ditadura pode defendê-la. Considerando que essa formulação (uma ditadura pode defender a liberdade econômica) foi feita com referência ao FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

regime político de Augusto Pinochet, no Chile (1973-1990), assinale a alternativa correta que demonstra o que esse pensador neoliberal entende por democracia. a) Democracia sempre é um governo de acordo com a vontade da maioria. b) A democracia define-se pela garantia da liberdade econômica, mesmo que em detrimento da liberdade política. c) A democracia é a garantia plena dos direitos e liberdades políticas. d) A democracia é o único tipo de governo defendido pelo liberalismo.

162

08. (Uem PR) Sobre o sistema político brasileiro e suas transformações ao longo da história, assinale o que for correto. 02 + 08 + 16 = 26. 01. A democracia que vigorou no país entre os anos de 1946 e 1964 indicou um dos poucos momentos na história brasileira em que o poder legislativo adquiriu autonomia suficiente diante do executivo para exercer suas funções. 02. Para alguns estudiosos, a partir da década de 1990, a Medida Provisória (MP) tornou-se, muitas vezes, o instrumento legal que permitiu ao poder executivo sobrepor-se ao legislativo. 04. O projeto de industrialização promovido no Brasil pela “Revolução de 30” dependeu de mudanças na estrutura do Estado que descentralizaram o poder político. 08. A existência de Constituições durante a vigência dos últimos regimes autoritários vividos pelo Brasil (1937-1945 e 19641984) confirma que elas não garantem, necessariamente, a democracia representativa e os direitos dos cidadãos. 16. Na Primeira República, o domínio exercido pelos grandes proprietários de terra sobre os trabalhadores rurais integrou as estratégias das oligarquias regionais para controlarem os resultados dos processos eleitorais. 09. Feminismo não prega ódio, feminismo não prega a dominação das mulheres sobre os homens. Feminismo clama por igualdade, pelo fim da dominação de um gênero sobre outro. Feminismo não é o contrário de machismo. Machismo é um sistema de dominação. Feminismo é uma luta por direitos iguais. AVERBUCK, Clara. Feminismo para leigos. Carta Capital. 28 jun. 2013. Adaptado. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/blogs/feminismo-pra-que/feminismo-para-leigos-3523.html> Acesso em 04 nov. 2013.

Assinale se as afirmativas abaixo são verdadeiras (V) ou falsas (F) a respeito do feminismo. F – V – V – F – V. ( ) O feminismo corresponde a uma teoria cientificamente comprovada que defende a superioridade das mulheres em relação aos homens. ( ) O feminismo surgiu no bojo da luta por direitos civis, políticos e sociais de diversas minorias historicamente oprimidas. ( ) O feminismo possui grande relação com os movimentos sociais. ( ) O feminismo prega o homossexualismo. ( ) O feminismo questiona a violência simbólica que a mulher sofre na sociedade. 10. (Enem MEC) Estatuto da Frente Negra Brasileira (FNB) Art. 1º – Fica fundada nesta cidade de São Paulo, para se irradiar por todo o Brasil, a Frente Negra Brasileira, união política e social da Gente Negra Nacional, para a afirmação dos direitos históricos da mesma, em virtude da sua atividade material e moral no passado e para reivindicação de seus direitos sociais e políticos, atuais, na Comunhão Brasileira. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 4 nov. 1931.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Quando foi fechada pela ditadura do Estado Novo, em 1937, a

12. (Uem PR) Sobre a formação e a transformação dos Estados nacio-

FNB caracterizava-se como uma organização

nais modernos, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01 + 08 + 16 = 25.

a) política, engajada na luta por direitos sociais para a popula-

01. O Estado nacional moderno se constitui a partir da tripar-

ção negra no Brasil.

tição dos poderes. Contudo, em cada caso, Estado e socie-

b) beneficente, dedicada ao auxílio dos negros pobres brasileiros depois da abolição.

dade civil constroem relações distintas entre si em função do estabelecimento de diferentes graus de controle e de

c) paramilitar, voltada para o alistamento de negros na luta contra as oligarquias regionais.

participação. Tais diferenças podem ser observadas, por exemplo, em relação aos padrões de financiamento das

lista conduzida a partir de São Paulo. e) internacionalista, ligada à exaltação da identidade das populações africanas em situação de diáspora. 11. (Uem PR) Considere a seguinte afirmação: “A democracia no Brasil é algo muito recente e ainda está se consolidando. Ela continuará crescendo se as regras institucionais para as eleições e o exercício do poder forem ampliadas, para possibilitar a participação da população, e se os movimentos sociais tiverem mais liberdade para lutar pela manutenção dos direitos fundamentais e a criação de novos direitos. Somente quando a maioria da população tiver educação de qualidade, condições de se alimentar adequadamente e condições de vida social decente poderemos ter democracia no Brasil. Enquanto isso, temos uma democracia ‘capenga’”. (TOMAZI, Nelson. Sociologia para o ensino médio. São Paulo: Atual, 2007, p. 124).

campanhas eleitorais, no sistema de voto em lista fechada para os cargos legislativos ou no voto distrital. 02. O fenômeno da globalização extingue a importância do Estado nacional ao integrar mercados, facilitar o deslocamento de mão de obra, integrar continentes e assimilar tecnologia da informação. 04. Nos sistemas democráticos, todos os grupos sociais são igualmente representados pelos partidos políticos os quais, por sua vez, têm condições iguais de se eleger, desde que decidam participar do jogo eleitoral e aceitar suas regras. 08. O financiamento privado das campanhas eleitorais nos Estados democráticos favorece mecanismos de barganha e de corrupção desse próprio Estado. 16. Pelas características da organização política brasileira, para governar a figura presidencial eleita precisa formar alianças entre vários partidos, com o objetivo de aprovar seus projetos junto ao Poder Legislativo.

Sobre a análise exposta, assinale o que for correto. 01 + 04 + 08 = 21.

13. (Enem MEC) Os movimentos sociais do século XXI, ações co-

01. Podemos deduzir do texto que, para o autor, a qualidade de

letivas deliberadas que visam à transformação de valores e

um regime democrático pode variar no tempo e no espaço.

instituições da sociedade, manifestam-se na e pela internet. O

Ele nos sugere que a presença e a estabilidade do sistema elei-

mesmo pode ser dito do movimento ambiental, o movimen-

toral são apenas indicadores mínimos para definir o grau de

to das mulheres, vários movimentos pelos direitos humanos,

democracia que existe em uma determinada sociedade.

movimentos de identidade étnica, movimentos religiosos, mo-

02. Podemos concluir do texto que, em uma democracia, os

vimentos nacionalistas e dos defensores/proponentes de uma

partidos políticos não são tão importantes. Assim, a democracia brasileira seria melhor se as regras eleitorais reconhecessem os movimentos sociais como instituições de representação, e não os partidos políticos. 04. Podemos concluir do texto que as deficiências da demo-

lista infindável de projetos culturais e causas políticas. CASTELLS, M. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

De acordo com o texto, a população engajada em processos políticos pode utilizar a rede mundial de computadores como

cracia brasileira têm relação com o fato de que tivemos, ao

recurso para mobilização, pois a internet caracteriza-se por

longo da história republicana, a vigência de longos perío-

a) diminuir a insegurança do sistema eleitoral.

dos de regimes autoritários.

b) reforçar a possibilidade de maior participação qualificada.

08. De acordo com o texto, a consolidação da democracia brasileira não depende de mudanças na estrutura jurídica do Estado. 16. Para o autor, a qualidade de uma democracia pode ser medida observando-se os seguintes indicadores: as regras ins-

c) garantir o controle das informações geradas nas mobilizações. d) incrementar o engajamento cívico para além das fronteiras locais. e) ampliar a participação pela solução da escassez de tempo dos cidadãos.

titucionais vigentes, as condições dadas para a construção de ações coletivas e a maneira como os recursos materiais estão distribuídos. 163

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

d) democrático-liberal, envolvida na Revolução Constituciona-


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FRENTE

A


SOCIOLOGIA Por falar nisso A Sociologia, como ciência integrante das Ciências Sociais, é subdivida em diversas áreas que diferem tanto em seu objeto de estudo, como na metodologia utilizada para desenvolver-se. Durante as aulas, as preocupações eram analisar a vida em sociedade em seus diversos desdobramentos. Aqui vamos nos dedicar a uma área específica da Sociologia: a Sociologia do Trabalho que investiga a organização e a evolução do mundo do trabalho das relações de trabalho e as implicações sociais decorrentes destas. Para isso, analisaremos como essas relações vêm se construindo e se modificando e como isso corrobora para a transformação do próprio conceito e visão do trabalho. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A17 A18 A19 A20

O trabalho nas suas diferentes vertentes......................................166 Émile Durkheim e a divisão do trabalho social.............................172 Karl Marx: trabalho, capital e alienação........................................179 Padrões produtivos e novas formas de organização.....................185


FRENTE

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SOCIOLOGIA

MÓDULO A17

ASSUNTOS ABORDADOS nn O trabalho nas suas diferentes

vertentes

nn Trabalho nas sociedades tribais nn Trabalho, escravidão e servidão nn Trabalho na sociedade moderna

O TRABALHO NAS SUAS DIFERENTES VERTENTES O conceito de trabalho, em geral, está relacionado com a satisfação das necessidades dos seres humanos, como se alimentar, por exemplo. Tal visão coloca os homens em uma relação de dependência com a natureza, pois é no mundo natural que estão os elementos que devem ser utilizados, o que implica que o trabalho seja um dispêndio de energia humana para realização e modificação dos elementos naturais. Essa energia humana, que é dispendida no trabalho, está presente em quase tudo à nossa volta, pois, a todo o momento, deparamo-nos com diferentes processos de produção, o que faz com que esses modos de produção sejam distintos. Isso é o que faz com que o trabalho se organize de diferentes maneiras e em distintas sociedade no transcurso da História. Nesse sentido, vamo-nos ater na pergunta: como o termo trabalho perpassa em algumas dessas sociedades.

Trabalho nas sociedades tribais Nas sociedades tribais, mesmo que não haja um modelo fixo, pois a cultura é dinâmica e multifacetada, o trabalho geralmente não tem a mesma concepção tal qual nas sociedades industrializadas. O trabalho nessas sociedades está integrado, relacionado com outras dimensões da sociabilidade, como festas, rituais, artes, mitos, pinturas, etc., existindo então como parte de um todo, no qual praticamente, todos trabalham. Aqui não existe uma hierarquia por classes sociais, mas uma divisão por sexo, na qual as mulheres ficam responsáveis por cuidar dos filhos e da casa, e os homens por serviços como a caça e pesca, por exemplo. É importante destacar que, embora não haja uma divisão do trabalho da forma como lidamos hoje, essas sociedades têm sua organização e primam por uma qualidade de vida, visto que, com um trabalho de 3 a 4 horas diárias já satisfaziam suas necessidades enquanto sociedades.

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 01 - Trabalho nas Sociedades Tribais

Por isso, as sociedades tribais ficaram conhecidas como “sociedades do lazer”, pois, como o trabalho era integrado a outras atividades, como as cerimoniais, por exemplo, era então associado ao lazer, o que permitiria que seus membros usufruíssem seu tempo em atividades não relacionadas à produção com excelência.

166


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Trabalho, escravidão e servidão Neste item, mostraremos como o termo “trabalho” pode ter nascido do latim tripallium que significa “instrumento de tortura”, o que colocou a ideia de trabalho relacionada a algo penoso. Se nas sociedades tribais o trabalho era relacionado ao lazer, aqui ele é visto como punição. Nas sociedades grega e romana, o trabalho escravo subsidiava a produção necessária para suprir as necessidades da sociedade. Havia também os artesãos e os camponeses, porém, mesmo esses trabalhadores que se diziam livres, eram explorados pelos senhores. Os senhores e proprietários ficavam responsáveis por discutir os assuntos da cidade e dos cidadãos e, para que isso fosse possível, era fundamental e essencial o trabalho escravo. As sociedades feudais eram permeadas por trabalhadores ditos livres, por seus senhores e pelos membros do clero. Nessas sociedades, a terra era o principal meio de produção, assim, ela era um meio de trabalho e de ocupação dos trabalhadores, mas nunca uma propriedade, o que estabelecia um regime de servidão, prevalecendo assim um sistema de deveres entre senhores e servos.

Diante do exposto, vimos que a atividade do trabalho nessas sociedades era relacionada a uma atividade extenuante, humilhante e torturante, colocando uma percepção de sofrimento no ato de trabalhar.

A17  O trabalho nas suas diferentes vertentes

O artesanato que se desenvolvia nas cidades tinha uma organização baseada nas corporações de ofício, na qual havia um mestre que controlava o trabalho de todos, além de pagar os direitos ao rei ou ao senhor feudal. Na hierarquia, abaixo do mestre, vinha o oficial, que ocupava uma posição intermediária entre a do aprendiz e a do mestre, e seus deveres se desdobravam em fixar a jornada de trabalho e a remuneração, além da transmissão dos ensinamentos do mestre aos aprendizes, que deviam ter entre 12 e 15 anos, e eram a base dessa hierarquia, sendo subordinado a um só mestre.

Fonte: Wikimedia Commons

Esse sistema de deveres constituía em obrigações do servo para com o senhor feudal, entre elas, a talha e a corveia. A talha era uma taxa que se pagava sobre tudo o que se produzia na terra. A corveia era uma taxa que se pagava relativa a serviços prestados nas instalações do senhor feudal. Além disso, cobravam-se taxas pelo uso do moinho ou pelo simples fato de o servo residir na aldeia. Importante ressaltar que, embora o trabalho ligado à terra fosse a principal atividade, havia outras formas de trabalho, tais como, atividades artesanais e comerciais, desenvolvidas nos feudos e nas cidades.

Figura 02 - À esquerda trabalho escravo, 167 e à direita trabalho no feudo.


Sociologia

Trabalho na sociedade moderna Com a emergência do mercantilismo e do capitalismo, era preciso reverter a noção de que o trabalho fosse algo penoso e torturante e, para isso, o trabalho passou a ser visto como uma atividade que dignifica o ser humano. A transformação dos artesãos e dos camponeses em assalariados ocorreu por meio de dois processos de organização do trabalho: a cooperação simples e a manufatura. A cooperação simples se baseava no princípio de que o artesão desenvolvia todo o processo produtivo, porém ele trabalhava para quem financiava a matéria-prima e as ferramentas de trabalho. Na manufatura, por sua vez, o trabalho continuava a ser artesanal, mas o artesão não desenvolvia todo o trabalho. Aqui cada pessoa passava a fazer apenas uma parte do trabalho, e o produto passou a tornar-se, então, resultado das atividades de muitos trabalhadores. Nesse cenário, o trabalho transformou-se em mercadoria e com isso podia então ser vendido e comprado.

A17  O trabalho nas suas diferentes vertentes

Figura 03 - Trabalho na sociedade moderna

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Fonte: Wikimedia Commons

Desse modo, surge a maquinofatura, na qual o espaço de trabalho passou a ser a fábrica, na qual todo o conhecimento que o trabalhador usava para produção foi dispensado e substituído pelas máquinas. O trabalhador foi convencido de que a situação era favorável a ele, criando a falsa ideia de que estava agora livre, ocultando o fato de ser obrigado a fazer o que lhe impunham, como trabalhar mais horas do que antes. Essa noção foi implementada e transformada com a colaboração de vários setores sociais.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 03. O que se observa hoje não é nada mais do que aquilo que já se anunciava no século XIX: máquinas como quintessência da produção capitalista de massa e seu correlato no aspecto humano, a alienação. Por outro lado, a automação do processo industrial, mais contemporâneo, desloca o local privilegiado do mercado de trabalho da fábrica para os serviços. A natureza continua sendo explorada de maneira predatória e o ser humano, como nunca antes, arregimenta tecnologias, sobretudo as de informação, como próteses para a vida cotidiana.

Exercícios de Fixação

tivo nas sociedades capitalistas contemporâneas. 02 + 08 = 10. 01. Ao contrário do que estabelecia o Estado de Bem-Estar Social, atualmente, as relações entre empregadores e empregados são reguladas por legislações trabalhistas rígidas e extensas. 02. O processo produtivo é descentralizado numa escala transnacional, embora o poder de decisão sobre ele se mantenha concentrado. 04. O trabalho temporário diminui drasticamente, sendo utilizado apenas em períodos de crescimento das demandas de consumo. 08. Ao contrário da especialização requerida pelo modelo fordista, nas sociedades capitalistas contemporâneas, exige-se versatilidade do trabalhador, de modo que ele possa desempenhar distintas funções. 16. O alto grau de automação existente nas distintas fases do processo produtivo favorece o pleno emprego e o fortalecimento da capacidade de organização política dos trabalhadores. 02. (Ufes ES) A transição de um modo de produção social para outro ocorre em determinadas situações. Com relação a essa substituição de um modo de produção social por outro, assinale a alternativa correta. a) Um modo de produção atende a todas as necessidades de uma determinada população. Entretanto, como as necessidades são crescentes, um novo modo de produção deve ocupar o espaço. b) Necessariamente, a população percebe o esgotamento daquele modo de produção e acaba por reivindicar um novo, nem que para isso use da força de uma revolução. c) Após um longo período de acumulação de contradições o povo acaba por criar um novo modelo que sustente a vida (sobrevivência) com melhor qualidade e menor esforço físico. d) Um modo de produção é substituído por outro mais jovem e qualitativamente superior quando cumprir seu papel histórico, isto é, desenvolver e esgotar suas potencialidades. Isso se dá em forma de saltos qualitativos, após longo período de acumulação de contradições. e) As necessidades materiais são tantas que o processo produtivo não consegue dar conta, ou seja, torna-se necessário criar um novo modo de produção quando o anterior já se encontra incapaz de atender aos desejos.

03. (UFPR) “O trabalho é o esforço para transformar a natureza e, nesse processo, o homem transforma a si mesmo”. (Araújo, S.; BRIDI, M. A.; Motim, B. Sociologia um olhar crítico, p. 49)

Como aplicar essa afirmação no contexto da produção atual com grande predominância da tecnologia? 04. (Uem PR) A respeito das características da sociedade industrial, assinale o que for correto. 01 + 02 + 04 + 08 = 15. 01. Existe uma separação entre indústria e círculo familiar, ou seja, o local onde se trabalha não é o mesmo onde se compartilha a vida doméstica. 02. Existe uma divisão social do trabalho baseada na separação entre aqueles que detêm a propriedade dos meios de produção e aqueles que vendem sua força de trabalho. 04. A crescente especialização do trabalho intensifica a interdependência das funções sociais. 08. As indústrias necessitam de um sistema de planejamento para aprimorar cotidianamente as formas de controle e execução das tarefas, o que resulta na criação de profissionais especialistas na administração da empresa. 16. A indústria é uma forma moderna de seleção natural, recrutando os mais fortes e orientando os operários a adaptarem-se ao ambiente. 05. (Uem PR) Utilizando seus conhecimentos sobre o conceito de “modo de produção”, assinale o que for correto sobre suas características no capitalismo. 01 + 02 + 04 + 08 + 16 = 31. 01. Exige que o trabalho humano acompanhe as constantes transformações do mundo do trabalho, separando as unidades de concepção das de produção. 02. Estruturou a divisão da sociedade entre proprietários dos meios de produção e proprietários da força de trabalho. Essa diferenciação marcou não só as relações dentro de ambientes fabris, mas também os locais de moradia e lazer dos trabalhadores. 04. Organizou a produção de uma forma de conhecimento científico que propiciou a apropriação intensa da natureza. Contudo os benefícios gerados por tal apropriação não alcançaram a sociedade como um todo. 08. Ao mesmo tempo em que deixou o indivíduo livre para trocar sua força de trabalho por salário, gerou um processo de alienação do trabalhador. 16. Procurou o aperfeiçoamento técnico constante, mais produtividade dos operários e racionalização dos processos produtivos, com o objetivo de expandir os lucros e baixar os custos de produção.

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A17  O trabalho nas suas diferentes vertentes

01. (Uem PR) Assinale o que for correto sobre o processo produ-


Sociologia

Exercícios Complementares 01. (UERN) Assim como no Egito, na Mesopotâmia, a agricultura foi a principal atividade econômica praticada pela população. O Estado era responsável pelas obras hidráulicas necessárias para a sobrevivência da população, bem como pela administração de estoques de alimentação e pela cobrança de impostos (...). (Vicentino, Claudio. História Geral e do Brasil / Claudio Vicentino, Gianpaolo Dorigo. 1ª Ed. São Paulo: Scipione. 2010. p. 60-455.)

... a base da economia Inca estava nos Ayllu, espécie de comunidade agrária. Todas as terras do império pertenciam ao Inca, logo, ao Estado. Através da vasta rede de funcionários, essas terras eram doadas aos camponeses para sua sobrevivência. Os membros de cada Ayllu deveriam, em troca, trabalhar nas terras do Estado e dos funcionários, nas obras públicas e pagar impostos. (Moraes, Jose Geraldo Vinci de. 1960. Caminhos das Civilizações – história integrada: Geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 1998.)

De acordo com o materialismo histórico preconizado por Marx e Engels, o modo de produção que aparece descrito parcialmente nos trechos anteriores, é o a) feudal. b) asiático. c) primitivo. d) escravista. 02. (Enem MEC)

A figura representada por Charles Chaplin critica o modelo de produção do início do século XX, nos Estados Unidos da América, que se espalhou por diversos países e setores da economia e teve como resultado a) a subordinação do trabalhador à máquina, levando o homem a desenvolver um trabalho repetitivo. b) a ampliação da capacidade criativa e da polivalência funcional para cada homem em seu posto de trabalho. c) a organização do trabalho, que possibilitou ao trabalhador o controle sobre a mecanização do processo de produção. d) o rápido declínio do absenteísmo, o grande aumento da produção conjugado com a diminuição das áreas de estoque. e) as novas técnicas de produção, que provocaram ganhos de produtividade, repassados aos trabalhadores como forma de eliminar as greves. 03. (Enem MEC) O mercado tende a gerir e regulamentar todas as atividades humanas. Até há pouco, certos campos – cultura, esporte, religião – ficavam fora do seu alcance. Agora, são absorvidos pela esfera do mercado. Os governos confiam cada vez mais nele (abandono dos setores de Estado, privatizações). RAMONET, I. Guerras do século XXI: novos temores e novas ameaças. Petrópolis: Vozes, 2003.

No texto é apresentada uma lógica que constitui uma característica central do seguinte sistema socioeconômico: a) Socialismo. b) Feudalismo. c) Capitalismo. d) Anarquismo. e) Comunitarismo.

A17  O trabalho nas suas diferentes vertentes

04. (UPE PE) Observe a imagem a seguir:

Cenas do filme Tempos Modernos (Modern Times), EUA, 1936, Direção: Charles Chaplin, Produção: Continental

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Fonte: <http://www.historiadigital.org>. Acesso em: Junho 2015


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 05. Sim. O “negócio motivacional” acaba por aumentar a produtividade das empresas através de noções como a de liderança. Assim, o grande beneficiado não são os funcionários, mas o dono da empresa, que acaba por obter um lucro maior. Ou seja: pensando em contribuir com a empresa, o que as pessoas fazem é aumentar a desigualdade social e a exploração dos patrões sobre os empregados.

Baseando-se na imagem, a relação de produção apresentada é conhecida como a) Capitalista. b) Socialista. c) Escravista. d) Feudalista. e) Primitivista. 05.

O tipo de relação entre produção e consumo discutido no texto pressupõe o(a) a) aumento do poder aquisitivo. b) estímulo à livre concorrência. c) criação de novas necessidades. d) formação de grandes estoques. e) implantação de linhas de montagem. 07. (Enem MEC)

NEVES, E. Engraxate. Disponível em: www.grafar.glogspot.com. Acesso em: 15 fev. 2013.

Considerando-se a dinâmica entre tecnologia e organização do trabalho, a representação contida no cartum é caracterizada pelo pessimismo em relação à a) ideia de progresso. b) concentração do capital. c) noção de sustentabilidade. d) organização dos sindicatos. e) obsolescência dos equipamentos. 08. (Enem MEC)

A figura acima faz uma sátira da relação das empresas com seus funcionários. Por essa perspectiva, o “negócio motivacional”, apresentado na charge, pode ser considerado como uma expressão ideológica? Justifique sua resposta. 06. (Enem MEC) Falava-se, antes, de autonomia da produção significar que uma empresa, ao assegurar uma produção, buscava também manipular a opinião pela via da publicidade. Nesse caso, o fato gerador do consumo seria a produção. Mas, atualmente, as empresas hegemônicas produzem o consumidor antes mesmo de produzirem os produtos. Um dado essencial do entendimento do consumo é que a produção do consumidor, hoje, precede a produção dos bens e dos serviços. SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000 (adaptado).

Fonte: <http://ensino.univates.br>. Acesso em: 11 maio 2013

Na imagem, estão representados dois modelos de produção. A possibilidade de uma crise de superprodução é distinta entre eles em função do seguinte fator: a) Origem da matéria-prima. b) Qualificação da mão de obra. c) Velocidade de processamento. d) Necessidade de armazenamento. e) Amplitude do mercado consumidor. 171

A17  O trabalho nas suas diferentes vertentes

Fonte: <https://www.facebook.com>. Acesso em 02 set. 2013.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A18

ASSUNTOS ABORDADOS nn Émile Durkheim e a divisão do

trabalho social

nn Solidariedade mecânica nn Solidariedade orgânica

ÉMILE DURKHEIM E A DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL Desde o início de seu desenvolvimento, ainda em meados do século XIX, a Sociologia se dedicou a analisar o trabalho como elemento central das sociedades modernas. Para o sociólogo francês, Émile Durkheim, o trabalho modificou completamente as sociedades industrializadas, por meio da complexa divisão social do trabalho que gerou uma forma específica de união entre os indivíduos. Para entender esse processo, Durkheim utilizava-se de uma comparação muito interessante. Para, o sociólogo, a sociedade poderia ser comparada a um organismo, no qual cada indivíduo deveria cumprir um papel para o bem social, e é por isso que a solidariedade deveria ser algo intrínseco em cada membro de uma sociedade. A divisão do trabalho, então, é encarada como fator de integração, como unidade do corpo social. A divisão do trabalho social originou o que Durkheim chamou de solidariedade orgânica e de solidariedade mecânica, agindo nos indivíduos por meio de relações que não os façam independentes, mas ao contrário, que os façam solidários. Trata-se de uma solidariedade que não age somente nos momento de serviços. Em vez de desarmonia e desagregação, o trabalho nas sociedades capitalistas originou o que Durkheim chamou de solidariedade orgânica – nos locais de trabalho, em que as pessoas passam a maior parte de seu tempo, os indivíduos aprenderiam a conviver uns com os outros. Esse tipo se oporia à solidariedade mecânica, típica de sociedades ditas tradicionais, em que o fator que une os indivíduos não são as relações de trabalho, mas o fato de terem em comum tradições, traços culturais, visões de mundo etc.

Fonte: Wikimedia Commons

O autor se preocupa com a questão moral e social, o que impede a instauração do caos, e é exatamente a solidariedade que permite que os indivíduos se integrem por meio do conjunto de redes e preceitos determinados pela moral de uma dada sociedade e que têm como principal função manter o equilíbrio e a coesão social. A divisão do trabalho social não se refere, portanto, somente às atividades econômicas, como também influencia por ter função social, e isso permite estreitar a interdependência entre os elementos que compõem a sociedade, possibilitando a criação da solidariedade social, de modo que a divisão do trabalho se torne cada vez mais, uma das bases fundamentais da ordem social (Durkheim, 1979).

Figura 01 - Retrato de Émile Durkheim

172

Essa divisão do trabalho social, mesmo com sua função social e sendo uma das bases da ordem, provoca consequências positivas e negativas, pois, podendo ser entendida como progresso, permite maior especialização e qualificação dos indivíduos no trabalho, o que a faz via de realização pessoal. Além disso, tal divisão contribui para o aumento da força produtiva e da habilidade no trabalho, permitindo um rápido desenvolvimento intelectual e material das sociedades, o que mantém o equilíbrio social. No entanto, pode-se também levar a uma diminuição da consciência coletiva, ou seja, a uma excessiva especialização, o que poderia culminar numa desagregação por meio do afrouxamento dos laços sociais.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Fonte: Wikimedia Commons

Solidariedade mecânica

Figura 02 - Exemplo de sociedade em que há uma solidariedade do tipo mecânica.

A solidariedade mecânica estava presente nas sociedades ditas tradicionais, como as sociedades indígenas. Nesse cenário, a consciência coletiva reduzia as ações do indivíduo, que ajustava suas decisões em favor dos preceitos comuns, o que permitia uma coesão social mais forte e, ao mesmo tempo, uma vigília mais rigorosa quanto ao comportamento do indivíduo. As sociedades embasadas na solidariedade mecânica não possuem divisão do trabalho social, atribuindo, assim, um valor supremo à sociedade e aos seus interesses como um todo, tendo por base a indistinção e a indiferenciação dos indivíduos. Devido a isso, nessas sociedades, a solidariedade mecânica pode não conduzir à realização pessoal do indivíduo, devido à forte consciência coletiva.

Solidariedade orgânica A18  Émile Durkheim e a divisão do trabalho social

Nas sociedades baseadas na solidariedade orgânica, há uma divisão do trabalho social que é marcada pela presença de uma forte consciência individual, ou seja, uma preocupação com os interesses dos indivíduos. Aqui, diferentemente das sociedades que têm uma solidariedade mecânica, veem-se um grande número de indivíduos e uma elevada densidade material e moral, ademais a distinção entre os indivíduos faz-se de acordo com os diferentes papéis desempenhados. As normas não são repressivas e as sanções são do tipo restitutivo, visando a um reestabelecimento da ordem, o que difere das normas e sanções da solidariedade mecânica, que têm caráter repressivo e coercitivo, permitido pela forte consciência coletiva. A solidariedade orgânica pode surgir devido ao aumento demográfico, ao desenvolvimento tecnológico, à disponibilidade de mão de obra etc., o que pode levar ao enfraquecimento e até mesmo o desaparecimento do coletivo e à fragmentação da sociedade. 173


Sociologia

O que pode ser visto nas nossas sociedades, em que a solidariedade orgânica está cada vez mais demarcada, é a diminuição significativa da consciência coletiva, como consequência da divisão do trabalho social. Cabe ainda ressaltar que os indivíduos, devido à especialização de suas habilidades, tornem-se mais interdependentes uns dos outros, já que cada um fornece serviços diferentes. Tipos de Solidariedade, segundo E. Durkheim Mecânica

Orgânica

Sociedade simples

Sociedades complexas

As funções sociais dos indivíduos são semelhantes

As funções sociais dos indivíduos são especializadas e interdependentes

Não há significativa divisão social do trabalho

A divisão social do trabalho é bastante complexa

Predomínio de mecanismo de coerção imediata, violenta e punitiva

Predomínio de mecanismos de coerção formais, exercido de forma mediada

Predomínio do Direito punitivo

Predomínio de Direito restitutivo

Sociedades economicamente simples

Sociedades economicamente complexas

Tabela 01 - Quadro que traz as principais características e diferenciações entre solidariedade mecânica e orgânica. Fonte: <http://cafecomsociologia.com/2011/01/solidariedade-mecanica-e-solidariedade.html>. Acesso em: 1 de jun. de 2017.

Referências bibliográficas

A18  Émile Durkheim e a divisão do trabalho social

Figura 03 - Exemplo de sociedade em que há uma solidariedade do tipo orgânica.

174

Fonte: Wikimedia Commons

DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social. São Paulo: Abril Cultural, 1979.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 01. a) Sociedades de solidariedade mecânica: são as sociedades tradicionais, em que há uma simples divisão do trabalho e a consciência coletiva prepondera sobre a consciência individual. Sociedades de solidariedade orgânica: são as sociedades modernas, em que há uma complexa divisão do trabalho e a consciência individual prepondera sobre a consciência coletiva. b) À solidariedade orgânica. Isso porque podemos perceber a complexa divisão do trabalho pela quantidade enorme de profissões existentes e a forma individualista das relações sociais, típica de sociedades em que a consciência individual prepondera sobre a consciência coletiva.

Exercícios de Fixação

a) Que tipos de solidariedade são esses? Explique cada um deles. b) A sociedade em que vivemos está mais próxima a qual desses tipos? Por quê? 02. Leia. Texto 1: Para o sistema econômico Guarani, assim como para muitas outras variantes da Modalidade Doméstica de Produção, o fato de se definir a família como unidade básica de trabalho e de produção não exclui reconhecer a ocorrência de casos variantes, em que existiam outras formas organizativas institucionalizadas. [...] Entretanto, esta organização mais abrangente do trabalho não ocasionava nenhuma modificação drástica no sistema doméstico, conforme se pode inferir pelas informações arqueológicas e etno-históricas disponíveis. SOUZA, José Otávio Catafesto de. O sistema econômico nas sociedades indígenas Guarani pré-coloniais. Horiz. antropol. [on-line]. 2002, vol.8, n.18, p. 230. Adaptado. Fonte em: <http://www.scielo.br>. Acesso em 14 nov. 2012.

Texto 2: Os efeitos da globalização, complexos e contraditórios, afetaram desigualmente o emprego masculino e feminino nos anos noventa. Se o emprego masculino regrediu ou se estagnou, a liberalização do comércio e a intensificação da concorrência internacional tiveram por consequência um aumento do emprego e do trabalho remunerado das mulheres ao nível mundial, com a exceção da África sub-sahariana. HIRATA, Helena. Globalização e divisão sexual do trabalho. Cad. Pagu [on-line]. 2002, n.17-18, p. 143 . Fonte: <http://www.scielo.br>. Acesso em 14 nov. 2012.

O texto 1 apresenta a divisão do trabalho em uma sociedade indígena. Em contrapartida, o texto 2 faz referência à divisão do trabalho em um contexto de globalização. Como Émile Durkheim classificaria cada uma dessas sociedades, segundo o seu tipo de solidariedade correspondente? Justifique sua resposta. 03. No dia 12/07/2012, no Programa “Na Moral”, Pedro Cardoso foi entrevistado por Pedro Bial a respeito do trabalho dos paparazzi. Leia abaixo um trecho da entrevista: Pedro Bial – Mas seguindo o seu raciocínio: o empresário busca o ganho – pra evitar a palavra lucro, que vamos dizer... ou lucro, o que for –, o empresário quer vender revista. As pessoas compram essas revistas. Esses sites são os mais acessados – os acessos de celebridades. Pedro Cardoso – É, os alemães também compraram o Nazismo, por esse raciocínio. A sociedade tem demandas. Nem

todas as demandas da sociedade são a saúde dela. [...] Nós temos uma doença cultural. Uma doença social que mata pessoas, que constrange a liberdade, que principalmente vende uma mentira. Programa Na Moral apresentado em 12/07/2012. [transcrição]. Fonte: <http://tvg.globo.com>. Acesso em 15/07/2012.

No trecho acima, Pedro Cardoso considera que a sociedade possui uma saúde que deve ser preservada. Dentre os autores abaixo, qual aquele que apresenta uma concepção semelhante? a) Max Weber. b) Karl Marx. xc) Émile Durkheim. d) Marcel Mauss. e) Pierre Bourdieu. 04. Émile Durkheim foi um dos primeiros autores a forjar o conceito socialização em sociologia; considerava-o o desenvolvimento conduzido pelos adultos daqueles que ainda não estão inseridos na vida em sociedade – portanto, algo específico do período da infância. A autonomia do agir foi tratada por Durkheim como um deficit para a vida organizada em sociedade, à qual os indivíduos deveriam ser integrados, uma vez que incorporavam os saberes e normas sociais vigentes, por intermédio de indivíduos “já socializados”, com a finalidade de manter a coesão e a ordem social. GRIGOROWITSCHS, Tamara. O conceito “socialização” caiu em desuso? Uma análise dos processos de socialização na infância com base em Georg Simmel e George H. Mead. Educ. Soc., Campinas, v. 29, n. 102, Apr. 2008. Fonte: <http://www.scielo.br>. Acesso em 02/07/2012. Resposta: V – V – F – V

Pode-se dizer que, segundo Durkheim, a socialização é necessária à sociedade para manter a coesão e a ordem social. A partir dessa concepção, julgue as afirmativas abaixo ( ) Para Durkheim, uma das maneiras de as gerações mais velhas ensinarem as regras sociais às gerações mais novas é através da educação. ( ) Segundo Durkheim, há basicamente dois tipos de sociedade: as sociedades orgânicas e as sociedades mecânicas. A diferença entre um tipo e outro está relacionada às formas de divisão do trabalho. ( ) O trabalho de Durkheim sobre a sociedade moderna é muito parecido com o de Max Weber. Ambos deram muito valor ao processo de racionalização do mundo, esquecendo-se da influência do capitalismo sobre a sociedade moderna. É por isso que Karl Marx é frequentemente considerado como o autor mais completo dentre os três. ( ) O conceito de socialização foi muito importante para a sociologia compreender de que forma se dava a reprodução das normas sociais entre uma geração e outra.

Questão 02. O primeiro texto, por fazer referência a uma sociedade com pouca divisão do trabalho, diria respeito a uma sociedade de solidariedade mecânica. Já o segundo texto, ao tratar de complexas divisões do trabalho em contexto de globalização, faz referência às sociedades de solidariedade orgânica.

175

A18  Émile Durkheim e a divisão do trabalho social

01. Émile Durkheim, importante sociólogo francês, categoriza a sociedade de acordo com o seu tipo de solidariedade.


Sociologia

Exercícios Complementares 01. (UPE PE) Leia o texto a seguir: O saber da comunidade, aquilo que todos conhecem de algum modo; o saber próprio dos homens e das mulheres, de crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos; o saber de guerreiros e esposas; o saber que faz o artesão, o sacerdote, o feiticeiro, o navegador e outros tantos especialistas, envolve, portanto, situações pedagógicas interpessoais, familiares e comunitárias, em que ainda não surgiram técnicas pedagógicas escolares, acompanhadas de seus profissionais de aplicação exclusiva. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação? São Paulo: Brasiliense, 2007, p. 20.

02. (Uem PR) “Durkheim concebe a sociedade como um corpo vivo, um organismo cujas partes – cada instituição e cada indivíduo – cumprem papéis determinados e existem em função do todo. A ‘liga’ que une esses diferentes componentes, tornando a sociedade possível, é o que ele chama de solidariedade. Nas sociedades mais simples e mais homogêneas há uma integração equilibrada entre as partes porque elas diferem muito pouco entre si (...). Esse tipo de arranjo social, característico das sociedades pré-capitalistas, sofreu uma mudança importante quando, paralelamente ao aumento populacional, ocorreu um incremento das comunicações e das trocas de mercadorias e ideias entre as pessoas (...)”. (BOMENY, Helena et al. Tempos modernos, tempos de sociologia. São Paulo: Editora do Brasil, 2013, p. 77 e 78).

A18  Émile Durkheim e a divisão do trabalho social

O tema discutido no texto é uma preocupação nos estudos da Sociologia desde a sua consolidação como ciência. Nos trabalhos de Émile Durkheim, esse tema ganhou um destaque por considerar uma forma de integração dos indivíduos e de perpetuação dos hábitos e costumes do grupo, ou seja, dos fatos sociais. Sobre isso, assinale a alternativa que NÃO indica uma característica do tipo de transmissão do conhecimento. a) A aprendizagem acontece sem que haja um planejamento específico e, muitas vezes, sem que os sujeitos se deem conta. b) O processo de construção do conhecimento é permanente, contínuo e não previamente organizado, desenvolvendo-se ao longo da vida. c) O conhecimento transmitido permite ao sujeito resolver situações referentes aos processos de socialização e àqueles relacionados às imposições da natureza para sobrevivência do grupo. d) A percepção gestual, a moral e a comportamental, provenientes de meios familiares de amizade, de trabalho e de socialização midiática, fazem parte do rol de aprendizagens e conhecimentos. e) O conhecimento e a habilidade são transmitidos por meio de um currículo pré-definido em ambientes especializados, num processo conhecido como escolarização.

176

Considerando o texto e conhecimentos sobre o tema citado, assinale o que for correto. Resposta: 01 + 02 = 03. 01. Durkheim se preocupa com o tema da divisão do trabalho social, processo presente em todas as sociedades humanas. 02. A noção de integração é central no pensamento de Durkheim. Ela se faz presente no ambiente de trabalho, nas relações familiares ou no próprio Estado. 04. Para Durkheim, a vida social não gera uma vida moral. Esta seria expressão de fenômenos puramente psicológicos; portanto, não seria objeto de estudos da sociologia. 08. Durkheim define que os agrupamentos humanos, independentemente de sua variedade populacional, cultural ou social, são regidos por semelhantes formas de solidariedade. 16. Os processos educativos estão ausentes do pensamento de Durkheim. Para ele, os modos de aprendizagem são uma extensão da vida biológica. 03. (Unimontes MG) Coube a Émile Durkheim (1858-1917) a institucionalização da Sociologia como disciplina acadêmica. Para o sociólogo clássico francês, a sociedade moderna implica uma diferenciação substancial de funções e ocupações profissionais. Sobre as análises desse autor, é CORRETO afirmar: a) O problema social é estritamente econômico e depende de vontades individuais. b) O desenvolvimento da sociedade moderna deve passar por um processo de ruptura social e permanente anomia. c) A questão social é também um problema de moralização e organização consciente da vida econômica. d) Para Durkheim, na sociedade moderna não há possibilidades de desenvolvimento das coletividades, por necessitar de novos pactos políticos dos governantes.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

De acordo com os postulados de Durkheim, é CORRETO dizer que o conceito de “anomia” indica a) a necessidade de todos demonstrarem solidariedade com os mais necessitados. b) uma situação na qual aqueles indivíduos portadores de um senso moral superior devem se colocar como líderes dos grupos dos quais fazem parte. c) a condição na qual os indivíduos não se identificam como membros de um grupo que compartilha as mesmas regras e normas e têm dificuldades para distinguir, por exemplo, o certo do errado e o justo do injusto. d) o consumismo exacerbado das novas gerações, representado pelo aumento do número de shopping centers nas cidades. e) a solidariedade que as pessoas demonstram quando entoam cantos nacionalistas e patrióticos em manifestações públicas como os jogos das seleções nacionais de futebol. 05. (Ufu MG) A concepção da Sociologia de Durkheim se baseia em uma teoria do fato social. Seu objetivo é demonstrar que pode e deve existir uma Sociologia objetiva e científica, conforme o modelo das outras ciências, tendo por objeto o fato social. ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 336.

Em vista do exposto, assinale a alternativa correta. a) Durkheim demonstrou que o fato social está desconectado dos padrões de comportamento culturais do indivíduo em sociedade e, portanto, deve ser usado para explicar apenas alguns tipos de sociedade. b) Segundo Durkheim, a primeira regra, e a mais fundamental, é considerar os fatos sociais como coisas para serem analisadas. c) O estado normal da sociedade para Durkheim é o estado de anomia, quando todos os indivíduos exercem bem os fatos sociais. d) A solidariedade orgânica, para Durkheim, possui pequena divisão do trabalho social, como pode ser demonstrada pela análise dos fatos sociais da sociedade. 06. (Unimontes MG) Segundo o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), a consciência coletiva corresponde ao conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade que forma um sistema determinado que possui dinâmica própria. Ou seja, existem certos padrões

morais estabelecidos pela sociedade aos quais as pessoas devem obedecer, como deveres por ela impostos, cuja natureza obrigatória da moral caminha conjuntamente à manifestação voluntária da vontade de segui-la. Considerando as reflexões do autor sobre esse tema, analise as afirmativas a seguir: I. A consciência coletiva produz um mundo de sentimentos, de ideias, de imagens e independe da maneira pela qual cada um dos membros dessa sociedade venha a manifestá-la, porque tem uma realidade própria. II. A consciência coletiva recobre todas as áreas de distintas dimensões na consciência das pessoas, independentemente de que esteja inserido numa sociedade simples ou mesmo uma sociedade complexa. III. Quanto mais simples é a sociedade mais extensa é a consciência coletiva, maior é a coesão entre os participantes da sociedade, o que faz com que todos se assemelhem e, por isso, os membros do grupo sintam-se atraídos pelas similitudes uns com os outros. IV. Na sociedade complexa, o ideal moral é imutável, e uma vez que ele surge, impossibilita a sua modificação e evolução, por mais que se modifiquem as condições de vida social. Estão CORRETAS as afirmativas a) I, II e IV, apenas. b) I, II e III, apenas. c) II, III e IV, apenas. d) I, III e IV, apenas. 07. (Uem PR) “Os Nambiquara vivem numa dupla economia: de caçadores e lavradores, de um lado, de colhedores e catadores, de outro. A primeira incumbe ao homem, a segunda, à mulher. Enquanto o grupo masculino parte para um dia inteiro de caça armado de arcos e flechas, ou trabalha nos roçados durante a estação das chuvas, as mulheres, munidas do pau de cavar, perambulam com as crianças pelo cerrado, e apanham, arrancam, matam a pauladas, capturam, pegam tudo o que, em seu caminho, possa servir de alimentação: grãos, frutas, bagos, raízes, tubérculos, bichinhos de toda espécie. (...) Mas durante sete meses do ano a mandioca é rara; quanto às caçadas, é questão de sorte, naquelas areias estéreis onde uma caça magra praticamente não sai da sombra e das pastagens dos mananciais, afastadas umas das outras por espaços consideráveis de matagal semidesértico. Assim, é graças à coleta feminina que a família subsistirá.” (LÉVISTRAUSS, C. Tristes Trópicos, São Paulo: Cia. Das Letras, 1999, p. 270-1). Resposta: 02 + 04 = 06.

Sobre as relações entre sociedade e natureza, a partir do relato etnográfico de Lévi-Strauss, é correto afirmar que: 01. A divisão sexual do trabalho não é capaz de satisfazer todas as necessidades de um grupo humano. 02. A caça, a coleta e a agricultura são formas adotadas pelos grupos humanos para organizarem o trabalho e a produção de seu mundo social.

177

A18  Émile Durkheim e a divisão do trabalho social

04. (Unioeste PR) “Solidariedade orgânica” e “solidariedade mecânica” são conceitos propostos pelo sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) para explicar a ‘coesão social’ em diferentes tipos de sociedade. De acordo com as teses desse estudioso, nas sociedades ocidentais modernas, prevalece a ‘solidariedade orgânica’, onde os indivíduos se percebem diferentes embora dependentes uns dos outros. A lógica do mercado capitalista, entretanto, baseada na competição individualista em busca do lucro, pode corromper os vínculos de solidariedade que asseguram a coesão social e conduzir a uma situação de ‘anomia’.


Sociologia

04. Sociedades predominantemente baseadas em divisão sexual do trabalho costumam apresentar menos estratos hierárquicos do que sociedades predominantemente baseadas em divisão social do trabalho. 08. A cultura humana é um fenômeno tão potente que torna seus membros independentes das limitações naturais existentes no ecossistema que habitam. 16) A cata e a coleta, atividades feminina e infantil entre os Nambiquara, devido a suas características aleatórias, correspondem à menor fonte de alimento consumido por esse grupo indígena ao longo de todo o ano. 08. (Uel PR) A cidade desempenha papel fundamental no pensamento de Émile Durkheim, tanto por exprimir o desenvolvimento das formas de integração quanto por intensificar a divisão do trabalho social a ela ligada. Com base nos conhecimentos acerca da divisão de trabalho social nesse autor, assinale a alternativa correta. a) A crescente divisão do trabalho com o intercâmbio livre de funções no espaço urbano torna obsoleta a presença de instituições. b) A solidariedade orgânica é compatível com a sociedade de classes, pois a vida social necessita de trabalhos diferenciados. c) Ao criar seres indiferenciados socialmente, o “homem massa”, as cidades recriam a solidariedade mecânica em detrimento da solidariedade orgânica. d) O efeito principal da divisão do trabalho é o aumento da desintegração social em razão de trabalhos parcelares e independentes. e) O equilíbrio e a coesão social produzidos pela crescente divisão do trabalho decorrem das vontades e das consciências individuais. 09. (UPE PE) Leia o texto a seguir:

A18  Émile Durkheim e a divisão do trabalho social

Acordei pensando... Que não agimos apenas por nosso desejo Que sempre fazemos as coisas pensando em outros... Que nossas ações só existem em relação a nossa família, vizinhança, cidade Que essas ações, de espírito coletivo, geram solidariedade Que quanto mais amor e relações existirem, mais coletivas serão nossas ações Que os desejos ocultos e egoístas camuflam a infelicidade de quem é incapaz de pensar no coletivo. Fonte: http://manguevirtual.blogspot.com.br/search/label/POESIA

Acerca dos aspectos que definem o objeto de estudo sociológico contido no texto, assinale a alternativa INCORRETA. a) A coerção é uma característica importante para adaptar os indivíduos às regras da sociedade em que vivem.

178

b) A educação dos indivíduos é uma forma utilizada pela sociedade para internalizar, nas pessoas, hábitos e costumes do grupo social. c) A ação individual é importante para a formação da coletividade, mas a vontade individual é fundamental para a constituição da solidariedade. Sem esta não existe sociedade. d) A generalidade é um aspecto importante nas ações coletivas, pois as regras e normas sociais são comuns a todos os membros de uma sociedade. e) As instituições sociais são responsáveis pela socialização e pelo controle das ações individuais. Elas ensinam os indivíduos a seguirem as regras sociais que lhes são exteriores. 10. Para [Durkheim], “as representações, as emoções e as tendências _____(1)_____ não têm como causas geradoras certos estados de consciência individual, mas as condições em que se encontra o corpo social em seu conjunto.”, isso porque “aqui está uma ordem de fatos que apresenta características muito especiais: consiste em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder de coerção em virtude do qual se lhe impõem”. A generalidade, exterioridade e coercitividade são características dos _____(2)_____. É como se a realidade social fosse um ser psíquico distinto das consciências particulares e capaz de ultrapassá-las temporal e espacialmente, impondo-lhes certas formas de pensar, ser e agir. Como afirma, “o conjunto de crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade forma um sistema determinado, que tem vida própria; podemos chamá-lo de _____(3)_____.” (2008, p.50). Essa é uma ideia central para Durkheim: os fatos sociais, embora produzidos pelas relações entre os _____(4)_____, adquirem uma “consistência” e uma “autonomia” em relação a cada indivíduo que contribuiu para sua produção. Contudo, o autor deixa claro que a autoridade da qual está investida a sociedade é antes resultado da associação dos indivíduos. VARES, Sidnei Ferreira de. Sociologismo e individualismo em Émile Durkheim. Cad. CRH [on-line]. 2011, vol.24, n.62 Adaptado. [cited 2013-02-25], pp. 435-446. Fonte: <http://www.scielo.br>.

Assinale a alternativa que apresenta as palavras que completam as lacunas de forma correta, Segundo o pensamento de Émile Durkheim.

a) b)

(1)

(2)

(3)

(4)

coletivas

fatos sociais

“consciência coletiva”

indivíduos

individuais fatos sociais

“consciência coletiva”

fatos sociais

c)

sociais

indivíduos

fatos sociais

indivíduos

d)

sociais

indivíduos

fatos sociais

fatos sociais

e)

gerais

homens

ideologia

indivíduos


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A19

KARL MARX: TRABALHO, CAPITAL E ALIENAÇÃO

ASSUNTOS ABORDADOS nn Karl Marx: trabalho, capital e

As transformações pelas quais o mundo do trabalho vem passando são fundamentais para que se compreenda a organização atual dessas relações, desde o escravismo, a servidão, e outras formas de trabalho até se chegar ao trabalho industrial. O impacto de novas tecnologias, novas formas de organização, a exigência de cada vez mais qualificação são alguns dos fatores que mostram o quão essas transformações estão em processo constante, o que provoca a Sociologia do Trabalho a diálogos e reflexões cada vez mais presentes.

alienação

Para o sociólogo Émile Durkheim o trabalho trouxe para as sociedades industrializadas a complexa divisão social do trabalho e uma solidariedade entre os indivíduos. Já Karl Marx considerava que a divisão do trabalho gerava um conflito entre indivíduos e classes sociais, o que ele chamou de luta de classes. Para Marx, o ponto de partida são os indivíduos concretos e as relações que eles estabelecem entre si e com a natureza para a produção de sua existência, e o que caracteriza e diferencia o ser humano é sua relação com a natureza a fim de produzir as condições materiais de sua existência. O homem se distingue dos animais logo que começam a produzir seus meios de existência (MARX e ENGELS, 1998). É pelo trabalho que a natureza é transformada. Assim, o trabalho é, para Marx, uma condição de existência, pois “independente de todas as formas de sociedade, é eterna a necessidade natural de mediação do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, da vida humana” (MARX, 1985, p. 50), ou seja, do ponto de vista da ontologia (estudo do ser), o trabalho é uma condição de existência humana.

Fonte: Wikimedia Commons

Nesse sentido, uma das grandes críticas que a Sociologia do Trabalho tece ao mundo moderno e ao modo capitalista de produção é a alienação do trabalhador em relação à sua atividade. Para Marx, a alienação mostra de fato como o trabalhador está posto como mero vendedor de sua força de trabalho, estando colocado à parte da função de sua atividade e do produto final de seu esforço, e ainda tem a remuneração não suficiente para que ele possa ter igual acesso àquilo que produziu. Tudo isso porque o sistema de produção é fragmentado, e o trabalhador se encontra distante do produto do seu trabalho. Diferente, por exemplo, dos artesãos, que se reconheciam nos seus produtos finais, além de terem controle sobre seu trabalho. Isso porque a atividade é cada vez mais especializada e repetitiva, e também porque hoje os trabalhadores se encontram sob domínio do patrão, com relação aos horários e às condições de trabalho, por exemplo. Assim, as transformações no mundo do trabalho podem ter-nos levado a uma condição de luta de classes, foco principal de estudo de Marx, em que alguns são tão poderosos e detêm tanto capital que podem comprar os outros que estão submetidos a condições humilhantes de trabalho. Figura 01 - Karl Marx

179


Sociologia

1) A unidade imediata e mediata de ambos. O que significa que em um primeiro momento eles estão unidos, depois se separam e se tornam estranhos um ao outro, porém havendo uma sustentação recíproca entre eles; 2) A oposição de ambos. Trabalho e capital se excluem e tanto o trabalhador conhece o capitalista como a negação da sua existência, quanto o capitalista conhece o trabalhador como a negação da sua existência; 3) A oposição de cada um contra si mesmo. O capital é ao mesmo tempo ele próprio e o trabalho; e o trabalho, também é ao mesmo tempo, ele próprio e mercadoria, isto é, capital. A alienação, uma parte de todo esse procedimento, é um processo de exteriorização de uma essência humana e do não reconhecimento do seu próprio trabalho, que, no fim do processo de trabalho, o produto feito se transforme em algo estranho, independente do ser que o produziu. E por isso, é descrita por Marx sob quatro aspectos:

Por meio do conceito de mais-valia, Marx fez distinção de duas formas dessa extorsão da força de trabalho: a mais-valia absoluta e a mais-valia relativa. A mais-valia absoluta ocorre pelo aumento do ritmo de trabalho, da vigilância sobre o processo de produção ou até da ameaça da perda do trabalho; o empregador exige maior empenho na produção sem oferecer nenhum tipo de compensação em troca, e recolhe o aumento da produção de excedentes em forma de lucro. A mais-valia relativa, por sua vez, está relacionada ao processo de avanço científico e do progresso tecnológico, no qual o capitalista lança mão de melhorias tecnológicas para acelerar o processo de produção e aumentar a quantidade de mercadoria produzida. Porém, nesse processo, não é oferecida qualquer gratificação ao trabalhador, que tem sua mão de obra substituída pelo maquinário tecnológico. Com essa mecanização dos modos de produção, ampliam-se os números e os lucros sem aumentar os gastos com a força de trabalho.

A19  Karl Marx: trabalho, capital e alienação

1) O trabalhador é estranho ao produto de sua atividade, que pertence ao outro. Isso faz com que o produto seja dotado de um poder independente, no qual quanto mais o trabalhador se esgota no trabalho, tanto mais poderoso e exterior se torna o produto de seu trabalho; 2) A alienação do trabalhador ao produto surge também como alienação da atividade produtiva, que passa a ser um trabalho forçado, determinado pela necessidade externa. Assim, o trabalho deixa de ser uma satisfação de uma necessidade e passa a ser um meio para satisfazer necessidades externas a ele, uma espécie de sacrifício; 3) Com a alienação da atividade produtiva, o trabalhador se aliena também do gênero humano, o que culmina na perda completa da humanidade; 4) A decorrência dessa alienação do trabalhador, é a alienação do homem pelo homem, que pode ser vista pela alienação na relação trabalhador X capitalista. Outro conceito fundamental dentro dessa discussão sobre trabalho para Marx é o conceito de mais-valia, que é um processo de extorsão por meio da apropriação do trabalho excedente na produção de produtos com valor de troca, isto é, a diferença existente entre o valor da mercadoria produzida, a soma do valor de seus meios de produção e o valor do trabalho, que se apresenta como a base de lucro no sistema capitalista. Esses valores não são concretos e absolutos, e alteram de uma sociedade para a outra. Na verdade, os valores atribuídos ao trabalho e mesmo a todo processo de produção eram inferiores ao valor cobrado pelo produto final, gerando, dessa forma, lucros elevados para o capitalista e possibilitando cada vez menos o acesso do trabalhador ao produto que produz. 180

Figura 02 - Representação da mais-valia.

Fonte: Wikimedia Commons

Conhecendo essas condições, para o autor é importante refletir sobre o movimento que o trabalho e o capital apresentam sob três vieses fundamentais:

É dessa forma, que se relacionam capital, trabalho e alienação, culminando na coisificação ou reificação do mundo, tornando-o objetivo. Segundo Marx, a tomada de consciência de classe e a revolução são as únicas formas para a transformação social e para saída desse mundo coisificado em que o trabalhador e todo o proletariado se encontram. Referências bibliogrpaficas MARX, Karl. O Capital: Crítica da economia política. Livro 1º, tomo 1, 2ª ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985. MARK, Karl; ENGELS, F. A ideologia alemã. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação 01. (Unimontes MG) Para Karl Marx (1818-1883), no processo produtivo, o trabalhador gera o valor equivalente a seu salário, que é o tempo de trabalho necessário, mas também cria valor com o tempo de trabalho excedente, que é apropriado pelo proprietário do capital. Embora o processo de venda da força de trabalho por um salário apareça como um intercâmbio entre equivalentes, o valor que o trabalhador pode produzir durante o tempo em que trabalha para aquele que o contrata é um valor superior àquele pelo qual vende suas capacidades. Assinale a alternativa que define essa proposição. a) Mais-valia. b) Modo de produção. c) Materialismo histórico. d) Trabalho concreto. 02.

03. (Unimontes MG) Desde suas primeiras publicações, as formulações teóricas de Karl Marx (1818-1883) provocam fortes impactos na ação política e debates nos meios acadêmicos, em variados períodos da história moderna. Sobre a importância intelectual de Marx, assinale a opção INCORRETA. a) O pensamento de Karl Marx continua a ser debatido nos meios intelectuais, inclusive no século XXI. b) Karl Marx é um pensador que não tem mais importância teórica para a análise da complexidade capitalista no mundo contemporâneo. c) Entre outros autores clássicos, Karl Marx é considerado um dos principais fundadores da Sociologia. d) As teorias de Karl Marx são fundamentais para a análise contemporânea dos problemas de desigualdades e conflitos de classe. 04. (Uema MA) A história da cultura brasileira é pontuada pelo “jeitinho brasileiro” e pela cordialidade, frutos da colonização portuguesa. Sérgio Buarque sugere que nossa cultura tem algumas singularidades, tais como: aversão à impessoalidade, forte simpatia e rejeição ao formalismo nas relações sociais. Tais singularidades se refletem no ordenamento da sociedade expresso no fragmento da música Minha história de João do Vale e Raimundo Evangelista, que trata da educação como base da estratificação social na sociedade burguesa.

A figura acima, claramente marxista, faz uma crítica à ideia de meritocracia. Assinale a alternativa que apresenta uma interpretação marxista desse conceito. a) Meritocracia corresponde ao modelo de gestão que tem como princípio básico o mérito e as capacidades que cada uma das pessoas possui. b) Meritocracia é uma noção bastante atual, que tem como objetivo valorizar a livre iniciativa e a inovação nas relações de trabalho. c) Meritocracia corresponde a um mecanismo ideológico, que oculta a relação de exploração e de desigualdade entre as classes sociais. d) Meritocracia diz respeito à reformulação da ética protestante que deu origem ao capitalismo moderno. e) A meritocracia é um fato social, pois corresponde à representação coletiva da sociedade capitalista contemporânea.

João do vale; Chico Evangelista. “Minha história”. In: álbum, João do Vale. Rio de Janeiro: Sony, 1981.

Conforme a contribuição de Karl Marx sobre a análise da sociedade capitalista, os conceitos sociológicos expressos nessa música são a) superestrutura, anomia social, racionalidade, alienação. b) ação social, infraestrutura, solidariedade orgânica, coesão social. c) divisão do trabalho, mais valia, solidariedade mecânica, burocracia. d) sansão social, relações de produção, organicismo, forças produtivas. e) ideologia, classe social, desigualdade social, relações sociais de trabalho.

181

A19  Karl Marx: trabalho, capital e alienação

Fonte: <https://www.facebook.com>. Acesso em 16 Set. 2014.

E quando era noitinha, a meninada ia brincar. Vige como eu tinha inveja de ver Zezinho contar: “o professor ralhou comigo, porque eu não quis estudar” (bis) Hoje todos são doutor, E eu continuo um João Ninguém Mas, quem nasce pra pataca nunca pode ser vintém. Ver meus amigos doutor basta pra mim sentir bem (bis)...


Sociologia

Exercícios Complementares 01. (UEG GO)

d) a estratificação, na visão de Karl Marx, mostra que a luta de classes não se polariza entre o ter e o não ter e envolve mais do que a ordem econômica. 02. (UEG GO) Para Marx, diante da tentativa humana de explicar a realidade e dar regras de ação, é preciso considerar as formas de conhecimento ilusório que mascaram os conflitos sociais. Nesse sentido, a ideologia adquire um caráter negativo, torna-se um instrumento de dominação na medida em que naturaliza o que deveria ser explicado como resultado da ação histórico-social dos homens, e universaliza os interesses de uma classe como interesse de todos. A partir de tal concepção de ideologia, constata-se que a) a sociedade capitalista transforma todas as formas de consciência em representações ilusórias da realidade

Algumas pessoas conseguem mais do que outras nas sociedades – mais dinheiro, mais prestígio, mais poder, mais vida, e tudo aquilo que os homens valorizam. Tais desigualdades criam divisões na sociedade – divisões com respeito a idade, sexo, riqueza, poder e outros recursos. Aqueles no topo dessas divisões querem manter sua vantagem e seu privilégio; aqueles no nível inferior querem mais e devem viver em um estado constante de raiva e frustração [...]. Assim, a desigualdade é uma máquina que produz tensão nas sociedades humanas. É a fonte de energia por trás dos movimentos sociais, protestos, tumultos e revoluções. As sociedades podem, por um período de tempo, abafar essas forças separatistas, mas, se as severas desigualdades persistem, a tensão e o conflito pontuarão e, às vezes, dominarão a vida social. TURNER, Jonathan H. Sociologia: Conceitos e aplicações. São Paulo: Pearson, 2000. p. 111. (Adaptado).

A observação da figura e a leitura do texto permitem inferir: a) no plano social, a igualdade humana está explícita em dois setores bem definidos: na Justiça, segundo a qual A19  Karl Marx: trabalho, capital e alienação

todos são iguais perante a lei, e na educação, em que todos devem ter oportunidades iguais; essas práticas são vivenciadas pela sociedade brasileira. b) segundo Karl Marx, aqueles que possuem ou controlam os meios de produção têm poder, sendo capazes de manipular os símbolos culturais através da criação de ideologias que justifiquem seu poder e seus privilégios. c) a estratificação de classes existe quando renda, poder e prestígio são dados igualmente aos membros de uma sociedade, gerando, portanto, grupos culturais, comportamentais e organizacionais semelhantes.

182

conforme os interesses da classe dominante. b) ao mesmo tempo que Marx critica a ideologia ele a considera um elemento fundamental no processo de emancipação da classe trabalhadora. c) a superação da cegueira coletiva imposta pela ideologia é um produto do esforço individual principalmente dos indivíduos da classe dominante. d) a frase “o trabalho dignifica o homem” parte de uma noção genérica e abstrata de trabalho, mascarando as reais condições do trabalho alienado no modo de produção capitalista. 03. (Unioeste PR) “I. Burgueses e proletários. A história de todas as sociedades até hoje existente é a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de corporação e companheiro, em resumo, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das classes em conflito” (MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 2010, p. 40).

Assinale a alternativa CORRETA: para Karl Marx (1818-1883) como se originam as classes sociais? a) As classes sociais se originam da divisão entre governantes e governados. b) As classes sociais se originam da divisão entre os sexos. c) As classes sociais se originam da divisão entre as gerações. d) As classes sociais se originam da divisão do trabalho. e) As classes sociais se originam da divisão das riquezas.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

A utilização da força de trabalho é o próprio trabalho. O comprador da força de trabalho consome-a, fazendo o vendedor dela trabalhar. Este, ao trabalhar, torna-se realmente no que antes era apenas potencialmente: força de trabalho em ação,

posse dos meios de produção, enriqueceu e também obteve o controle do Estado [...] criando leis para proteger a propriedade privada (particular) e manter-se no poder; [...] Enquanto isso, a classe assalariada (os proletários), sem os meios de produção e voz política na sociedade, transformava-se em parte funda-

trabalhador. Para o trabalho reaparecer em mercadorias, tem

mental no enriquecimento da burguesia, pois ofereciam mão

de ser empregado em valores de uso, em coisas que sirvam

de obra para as fábricas”.

para satisfazer necessidades de qualquer natureza. O que o capitalista determina ao trabalhador produzir é, portanto, um valor de uso particular, um artigo especificado. A produção de valores de uso muda sua natureza geral por ser levada a cabo em benefício do capitalista ou estar sob seu controle. Por isso, temos inicialmente de considerar o processo de trabalho à parte de qualquer estrutura social determinada. MARX, Karl. O capital, v. 1, parte III, capítulo VII. Fonte: <https://www.marxists.org>.

Os três principais elementos que constituem o processo apresentado no texto são a) trabalho, vendedor e material. b) matéria-prima, trabalho e capitalista. c) estrutura social, capitalista e trabalho.

(LORENSETTI, E. Sociologia – Ensino Médio, Curitiba, SEED-PR, 2006, p. 44).

De acordo com o texto acima, é correto afirmar:

Resposta: 04 + 16 = 20.

01. As classes sociais são grupos humanos formados por pessoas pobres ou por pessoas ricas. A existência dessas classes na história é determinada pela vontade divina. 02. O conceito científico de “classes sociais” se refere à existência de grupos humanos compostos por raças e etnias diferentes e que competem entre si pelo domínio da sociedade. 04. O conceito de “classes sociais” utilizado por Karl Marx se baseia no estudo das relações sociais entre proprietários dos meios de produção e trabalhadores assalariados sem a propriedade dos mesmos meios. 08. Segundo o enunciado da questão (caput), a classe assalaria-

d) consumo, vendedor, instrumentos de produção.

da ou proletariado pode economizar o salário que recebe no

e) trabalho, matéria-prima e instrumentos de produção.

final do mês e também se tornar proprietária dos meios de

05. (Ufu MG) Marx e Engels (http://www.culturabrasil.org/manifestocomunista.htm), em seu Manifesto do Partido Comunista, consideram que “a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes. A socie-

produção, encerrando assim a luta entre as classes sociais. 16. Segundo o enunciado da questão (caput), a classe assalariada é a responsável pelo enriquecimento da burguesia, pois é ela que fornece a mão de obra que realiza o trabalho nas fábricas.

dade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos,

07. (Unimontes MG) Fundador do materialismo histórico, Karl

em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia

Marx (1818-1883) defendia que a tendência do modo capita-

e o proletariado.”

lista de produção é separar cada vez mais o trabalhador e os

Em vista disso, assinale a alternativa que define corretamente a

meios de produção. Na perspectiva teórica de Marx, é INCOR-

burguesia e o proletariado.

RETO afirmar que

a) Os burgueses utilizam o trabalho escravo para a produção,

a) a sociedade capitalista é a fase final da história da huma-

e o proletariado é desprovido de liberdade para vender sua

nidade, em que as classes sociais - especialmente o prole-

força de trabalho.

tariado - desenvolvem toda sua potencialidade por meio da

b) Os burgueses são proprietários que utilizam da manufatura do proletariado para a produção de mercadorias, e o proletariado impulsiona o desenvolvimento da manufatura. c) Os burgueses são os grandes proprietários de terras, e o proletariado detém o poder social e econômico. d) Os burgueses são os detentores dos meios de produção, e o proletariado vende sua força de trabalho. 06. (Uem PR) Para entender os conflitos sociais nas sociedades

revolução tecnológica, assegurando mais liberdade aos indivíduos modernos. b) o postulado básico do marxismo é o determinismo econômico, segundo o qual as condições econômicas são fundamentais no desenvolvimento da sociedade. c) a divisão social do trabalho reproduz modos de segmentação da sociedade, resultando em desigualdades e exploração de uma classe social sobre a outra.

modernas, Karl Marx (1818-1883) defendeu a importância de

d) a procura do lucro é intrínseca ao capitalismo, cujo objetivo

estudar como ocorrem as relações entre as diferentes classes

do capital não é apenas satisfazer determinadas necessida-

sociais de uma determinada sociedade. De acordo com o pro-

des, mas produzir mais-valia.

fessor Everaldo Lorensetti, “Segundo Marx, a burguesia tomou 183

A19  Karl Marx: trabalho, capital e alienação

04. (UPE PE) Leia o texto a seguir:


Sociologia

08. (Uel PR) Observe as figuras a seguir e responda à(s) questão(ões).

caso da teoria de Karl Marx, a metáfora espacial de um edifício é utilizada para exemplificar seu entendimento sobre a dinâmica dialética da sociedade. Com base nos conhecimentos sobre Karl Marx a respeito das relações entre infraestrutura e superestrutura, assinale a alternativa correta. a) Os conflitos entre grupos sindicais mais politizados e de status mais elevado, na produção, geram a eliminação das desigualdades sociais. b) O controle das ideias e das instituições de uma época é insuficiente para estabelecer o valor do trabalho e a igualdade de oportunidades no mercado. c) O aparato político e estatal é a base sobre a qual se articulam as disputas pelo controle e pela apropriação dos meios de produção.

Peter Bruegel, O Velho- “Pequena” Torre de Babel 60,0 x 74,5 cm, óleo sobre tela, 1563

d) A ordem partidária e jurídica que compõe o estado burguês determina a emergência das forças revolucionárias dos trabalhadores. e) A consciência social e o sistema jurídico contradizem a existência material na medida em que pretendem anular o antagonismo das relações de produção. 09. (Unimontes MG) A premissa da análise marxista da sociedade é, portanto, a existência de seres humanos que, por meio da interação com a natureza e com outros indivíduos, dão origem à vida social. No texto Ideologia Alemã, Marx e Engels defendem que o primeiro fato histórico é, pois, a produção dos meios que permitem satisfazer as necessidades humanas, a produção da própria vida material; trata-se de um fato histórico; de uma condição fundamental de toda a história, que é necessário, tanto hoje como há milhares de anos, executar, dia a dia, hora a hora, a fim de manter os homens vivos. Considerando essa reflexão, é INCORRETO afirmar: a) As variadas formas que assumem as relações sociais de produção e as forças produtivas são a base para a compreensão dos diferentes tipos de sociedade. b) As formas de consciência social, com suas respectivas re-

A19  Karl Marx: trabalho, capital e alienação

presentações e ideias sociais, determinam e condicionam as formas de vida social. c) O materialismo histórico tem como princípio a explicação das formas e condições de produção da vida material e social. Cildo Meireles, Babel, instalação, 2001-2006

A imagem de um edifício alude à existência de uma estrutura ordenada. De modo análogo, a compreensão e a explicação sobre a organização de uma sociedade também podem invocar o tema da ordem e sua antítese, o caos, como, por exemplo, as questões relativas à harmonização social e às revoluções. No 184

d) As condições em que se realiza o trabalho humano em diferentes épocas históricas se tornam essenciais para compreensão das dinâmicas da vida social.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A20

PADRÕES PRODUTIVOS E NOVAS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO O modo de produção capitalista é, provavelmente, o mais conhecido dos modos de produção. Ele é caracterizado pelas relações assalariadas de produção e demarcado por duas classes sociais principais: a burguesia e o proletariado. Esse modo de produção foi marcado por quatro etapas:

ASSUNTOS ABORDADOS nn Padrões produtivos e novas for-

mas de organização nn Fordismo nn Taylorismo nn Toyotismo

1) Pré-capitalismo: fase em que o modo de produção feudal ainda predomina, mas com relações mercantilistas. 2) Capitalismo comercial: fase em que a maior parte dos lucros está concentrada nas mãos dos comerciantes, se tornando mais comum o trabalho assalariado. 3) Capitalismo industrial: o capital passa a ser investido nas indústrias, tornando-as a atividade econômica mais importante e fundamentando o trabalho assalariado. 4) Capitalismo financeiro: bancos e instituições financeiras controlam as demais atividades econômicas por meio de financiamentos. Apresentadas essas condições de instauração do modo de produção capitalista, sabemos ainda que durante o início do século XX a indústria passava por mais um dos muitos processos de transformação: a Segunda Revolução Industrial que culminou com surgimento do capitalismo financeiro já apresentado anteriormente.

Figura 01 - Representação do modo de produção capitalista

Fonte: Wikimedia Commons

Nesse cenário existiu ainda uma corrida por lucro que fez com que se disseminassem várias novas formas de produção que visavam a aumentar o lucro do patrão. Esses mecanismos criados para esse objetivo ficaram conhecidos como padrões produtivos, tais como fordismo, taylorismo e mais recentemente o toyotismo.

185


Sociologia

Fordismo O Fordismo tem como característica a introdução do novo processo de fabricação, criado por Ford e conhecido como “linha de montagem”. Em meados de 1908, a principiante indústria automobilística enfrentava dois grandes problemas, o da mão de obra especializada e o do alto custo da produção, que era quase artesanal. Henry Ford inova e traz um sistema revolucionário, baseado na correia transportadora e na linha de montagem, trazendo a especialização para a linha de produção, já que cada trabalhador executa apenas uma operação altamente padronizada ocasionada pela extrema divisão do trabalho. Essa divisão do trabalho soluciona os dois problemas, pois com a especialização em uma única operação resolve-se o problema da mão de obra e com o sistema de linha de montagem, o que possibilitou a fabricação de um automóvel Ford modelo T em uma hora e trinta e três minutos. Soluciona-se também o problema do alto custo de produção.

A20  Padrões produtivos e novas formas de organização

Fonte: Wikimedia Commons

Diante disso, a indústria automobilística e todas as outras adotaram o Fordismo e passaram a produzir em grandes quantidades a preços acessíveis. Apesar de ser uma opção satisfatória, o fordismo era viável somente para a grande produção em série e implicava a criação de grandes unidades industriais, que só poderiam existir com grandes concentrações financeira. Como seria quase impossível alguém por si só disponibilizar de tamanho investimento, surgem as sociedades anônimas, que deram lugar à formação de grandes bancos de investimento, que permitiram às instituições financeiras o controle efetivo das unidades industriais.

Figura 02 - Automóvel Ford modelo T

186

O Fordismo conhece o seu declínio pela rigidez de seu modelo de gestão, como a produção de carros de uma só cor – preto – por exemplo, pois a General Motors começa a fabricar diferentes modelos de carros e cores e ultrapassa a Ford como a maior montadora do mundo.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Taylorismo Criado pelo engenheiro mecânico Frederick Winslow Taylor, o taylorismo é um sistema que consiste na divisão do trabalho e especialização do operário em uma só tarefa, na qual o trabalhador não teria mais a necessidade de conhecer todo o processo de produção. Ele devia conhecer apenas um, procurando aperfeiçoamento constante de sua parte, e o conhecimento de todo processo ficava a cargo apenas do gerente, que trabalha como um fiscal do processo. Essa política de trabalho permitia o aumento da produção, barateava o preço dos produtos e especializava o funcionário, o que criava a alienação do trabalhador. Esse sistema buscou aumentar a eficiência do resultado operacionalmente para potencializar a produção, e, sendo assim, o taylorismo aperfeiçoou o processo de divisão técnica do trabalho, ocasionando a padronização e a realização de atividades simples e repetitivas.

Toyotismo

A20  Padrões produtivos e novas formas de organização

Figura 03 - Taylorismo como nova forma de organização do trabalho

Fonte: Wikimedia Commons

Criado depois da Segunda Guerra Mundial pelo japonês Taiichi Ohno, o Toyotismo foi implementado pela primeira vez na fábrica da Toyota. Seu surgimento ocorreu quando o Japão tinha uma economia pequena, o que impedia a estocagem de produtos. Assim, o Toyotismo, também conhecido como just-in-time, agia de forma que fosse produzido apenas o necessário. Nesse sentido, a produção era de acordo com a entrada de matéria-prima e com o mercado consumidor. Assim, quando a procura era alta, eram produzidos mais produtos, quando ela diminuía, a produção caía. O sistema também permitia sempre a atualização da produção, na qual a cada tecnologia lançada, o sistema era atualizado, algo que se tornaria impossível com os sistemas anteriores.

187


Sociologia

Diferente também dos outros sistemas, o trabalhador aqui assumia outras funções, precisando conhecer amplamente o processo produtivo e as novas tecnologias. Isso demandava mão de obra mais qualificada e reduzia a quantidade de trabalhadores, o que provocou, entre outros problemas, o aumento do desemprego. Além desse problema, o padrão ainda culminou na transferência da mão de obra para o setor terciário, no qual os empregos concentraram-se mais na distribuição de mercadorias do que propriamente em sua produção, Assim o Toyotismo poderia ser considerado como o sistema responsável pela terceirização da economia. Atualmente, vale dizer que o desenvolvimento tecnológico leva à exclusão da mão de obra humana, o que gera um processo de desemprego estrutural, marcado pela forte automatização da produção. Para Ricardo Antunes (2011), quando o trabalho vivo é eliminado, o trabalhador se precariza, o que significa dizer que há também um desmonte dos direitos trabalhistas. É fato que as condições de trabalho e os direitos trabalhistas, de certo modo, avançaram como resultado da luta de movimentos sindicais, operários, porém, a despeito dos avanços no tocante ao trabalho e à resolução de alguns conflitos, não se pode esquecer a lógica da exploração inerente ao capitalismo, que é tão presente no cotidiano do trabalhador. Referências biliográficas ANTUNES, Ricardo. O Continente do Labor. São Paulo, SP: Boitempo, 1ª ed., 2011.

A20  Padrões produtivos e novas formas de organização

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 04 - Na linha de produção toyotista, a quantidade de funcionários é reduzida.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação

02. (Uem PR) Sobre o modelo fordista-taylorista de organização do trabalho, que prevaleceu na maioria dos países capitalistas durante o século XX, assinale o que for correto. 01. O taylorismo buscava aumentar a produtividade do trabalho por meio do controle das atividades dos trabalhadores e do parcelamento das tarefas. 02. A transferência do “saber fazer” do chão da fábrica para os setores de gerência era a principal meta do modelo administrativo proposto por Frederick Taylor. 04. São características fundamentais do fordismo a mecanização de etapas do processo produtivo fabril e a incorporação da linha de montagem. 08. Os trabalhadores fabris, sem alternativa viável, aceitaram a monotonia, o estresse e a falta de autonomia trazidos pela adoção do modelo fordista-taylorista. 16. O modelo fordista-taylorista tinha como objetivo a produção em pequena escala de produtos diversificados para um mercado consumidor exigente.

03. Leia o texto abaixo. Uma agência de notícias chinesa infiltrou um de seus jornalistas em uma fábrica da Foxconn com a missão de conhecer o processo de fabricação do iPhone 5, lançado no último dia 12. Ele fingiu ser um operário novato por 10 dias e conseguiu reunir imagens e informações valiosas sobre como funciona a fábrica, a rotina de trabalho e o processo de produção do smartphone. As horas de trabalho eram extenuante, e os operários ganhavam somente cerca de 8 reais a cada duas horas extras, mesmo nas madrugadas. O estresse e a raiva eram tão grandes que, na ausência dos supervisores, os trabalhadores socavam as partes de iPhone contra as esteiras e xingavam. O jornalista não aguentou a rotina e abandonou a fábrica no 10º dia. Fonte: Paulo Alves. Conheça a péssima experiência de um operário na fábrica do iPhone 5. In: Techtudo. Adaptado. Disponível em: <http://www.techtudo.com.br>. Acesso em 27 set. 2012.

A partir do texto acima e dos seus conhecimentos sobre as relações de trabalho no mundo capitalista contemporâneo, assinale a alternativa INCORRETA: a) As relações de tipo capitalista acabam por gerar a precarização do trabalho. b) O tipo de produção acima descrito está mais próximo ao modelo toyotista. c) Se, por um lado, a tecnologia facilitou o fluxo de informações, por outro, ele não foi capaz de solucionar as desigualdades sociais. d) Os custos sociais da fabricação de muitos produtos, na maioria das vezes, não são contabilizados. 04. (Ufu MG) Levando em consideração as relações do sistema de produção fordista e demais sistemas de produção e suas consequências, constata-se que o trabalho no sistema a) taylorista baseia-se em trabalhadores multifuncionais, sendo que cada posto de trabalho executa várias tarefas, a fim de diminuir os custos de produção. b) fordista caracteriza-se pela separação entre elaboração e execução no processo de trabalho, proporcionando a alienação. c) fordista é repetitivo e parcelado, gerando trabalhadores felizes e satisfeitos por não necessitarem de longos processos de capacitação para o trabalho. d) toyotista tem a produção vinculada à demanda, ocasionando flexibilização e evitando, assim, as demissões e a precarização, além de possibilitar a utilização racional da força de trabalho.

Resposta:01 + 02 + 04 = 07.

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A20  Padrões produtivos e novas formas de organização

01. (UFPA) Atualmente experimentamos profundas transformações, em todas as dimensões da sociedade, que levaram a uma reestruturação radical do setor produtivo. É uma das CONSEQUÊNCIAS desse processo: a) Promove-se a organização da classe trabalhadora e fortalecem-se os sindicatos, uma vez que agora estes possuem um poder de pressão maior sobre os empresários. b) As empresas que passaram por um processo de reestruturação produtiva conseguiram obter vantagens comerciais porque, ao fazerem um intenso investimento em tecnologia, reduziram consideravelmente o desemprego tecnológico, ao mesmo tempo em que criaram mais postos de trabalho. c) A fragmentação do mundo do trabalho e a prática empresarial da terceirização tendem a criar uma rede complexa e diversificada na qual surgem novos estatutos precários de emprego e salário. d) Conquistam-se novos benefícios sociais e garantem-se benefícios já conquistados, na medida em que as empresas contratantes, ao livrarem-se dos encargos sociais e legais impostos pelo Estado, acrescentam os valores correspondentes nos salários dos trabalhadores, a título de incentivo. e) Existe uma espécie de degradação do trabalho na maioria dos setores da economia, que é determinada, em grande medida, pelo pouco interesse que os jovens possuem em relação à sua própria qualificação; o que nada tem a ver com os processos decorrentes da lógica do capitalismo.


Sociologia

Exercícios Complementares 01. (Uem PR) “Uma liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal, em dezembro de 2014, impediu o governo federal de divulgar novas atualizações do cadastro de empregadores flagrados com mão de obra escrava, a chamada ‘lista suja’, que esteve público entre 2003 e 2014. A ministra Cármen Lúcia revogou a medida cautelar que impedia a divulgação da lista no dia 16 de maio deste ano, mas como o Ministério do Trabalho ainda não publicou uma nova relação e não possui data para isso, uma nova Lista de Transparência foi solicitada via LAI (Lei de Acesso à Informação) para que a sociedade não fique sem informação a respeito do tema. (...) Os nomes permaneciam na ‘lista suja’ por, pelo menos, dois anos, período durante o qual o empregador deveria fazer as correções necessárias para que o problema não voltasse a acontecer e quitasse as pendências com o poder público. O cadastro, criado em 2003, é um dos principais instrumentos no combate a esse crime, e citado como referência mundial pelas Nações Unidas.”

16. Tanto o trabalho escravo quanto o latifúndio, o patriarcalismo e o voto de cabresto são expressões históricas do passado brasileiro que não encontram paralelos no país atualmente. 02. (UPE PE) A partir dos anos 1970, o sistema de produção fordista começou a entrar em crise, pois a superprodução gerou uma diminuição acentuada da lucratividade. Como alternativa, surge, no Japão, um novo sistema de trabalho capitalista, que possui como modelo produtivo a flexibilização da produção. Além de reordenar as relações de trabalho, esse novo sistema produtivo permitiu o avanço tecnológico em muitas áreas. A imagem a seguir representa um novo tipo de trabalhador exigido por esse sistema de produção capitalista das sociedades modernas.

SAKAMOTO, L. “Lista de Transparência” traz 349 nomes flagrados por trabalho escravo. Repórter Brasil. 06/06/2016. In: <http://reporterbrasil.org.br>.

A20  Padrões produtivos e novas formas de organização

Considerando o texto acima, e conhecimentos de história e de sociologia, assinale o que for correto. Resposta: 01 + 02 + 04 = 07. 01. O Brasil reconheceu, em 1995, a existência de trabalhadores submetidos a formas contemporâneas de escravidão. De 1995 a 2011, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 42 mil trabalhadores escravizados. Esse cenário remete a continuidades históricas relativas a profundas desigualdades sociais no país que remontam ao período colonial. 02. Apesar de a economia brasileira figurar entre as maiores do mundo, setores dominantes como a pecuária, a produção de cana-de-açúcar e outras expressões de agricultura não familiar exploram força de trabalho escravo ou assalariado temporário. 04. Sobre os paralelos observados entre as formas coloniais e as contemporâneas de trabalho escravo, no Brasil, constatamos, nos dois casos, a ausência de respeito à dignidade humana do trabalhador e os abusos do empregador em relação a condições mínimas de direitos individuais e trabalhistas, tais como a alimentação adequada e o descanso semanal. 08. A privação da liberdade do trabalhador é um fenômeno inexistente no contexto contemporâneo, uma vez que as formas tayloristas de organização do trabalho estão sendo substituídas integralmente pela flexibilização do trabalho e formação continuada do trabalhador.

190

Fonte: <http://imagohistoria.blogspot.com.br>.

Sobre as características desse sistema de produção, é CORRETO afirmar que a) a consequência dessa organização do trabalho permitiu a inserção de taxas de lucro com a superexploração da força de trabalho. b) o trabalhador é especializado em uma única função, deixando-o limitado a uma atividade repetitiva, sem nenhuma visão global do produto final. c) o controle de qualidade da produção é feito no final do processo, em um setor específico da fábrica. d) o salário é uniforme, pois todos os trabalhadores produzem o mesmo produto; ainda assim os prêmios e as bonificações ficam restritos a empresários e capitalistas. e) o aumento das tecnologias robóticas e de automação nesse processo de produção capitalista possibilitou a ampliação do número de vagas de emprego, criando um mercado de trabalho para profissões e funções cada vez mais específicas.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 03. No modelo fordista, os trabalhadores executavam atividades repetitivas, tendo basicamente uma única função no processo produtivo. Já no modelo de acumulação flexível, essas atividades são executadas quase que exclusivamente por máquinas robotizadas. Ao mesmo tempo em que isso gerou a diminuição de postos de trabalho nas indústrias, também produziu novas formas de trabalho, relacionadas à manutenção e criação de novas tecnologias. Assim, o trabalhador, muitas vezes, não ocupa uma única função na cadeia produtiva, mas deve ser capaz de adaptar-se a novos contextos e novas funções, resultantes das transformações tecnológicas e econômicas às quais é submetido.

03. (UFPR)

Justifique a afirmação “Tanto as seções, como as máquinas, têm as necessárias separações.”, considerando a lógica de organização fabril. Utilize os dados do texto e da tabela para indicar três características das condições de trabalho e do grupo de trabalhadores dessa fábrica.

Na primeira imagem, uma cena do filme Tempos Modernos, com Charles Chaplin, retrata o trabalho nas fábricas fordistas no século XX, considerado o século da produção em massa. Na segunda imagem, observa-se a produção de automóveis realizada por robôs. Estabeleça uma comparação entre o fordismo e a acumulação flexível, ressaltando os problemas tecnológicos e econômicos que explicam as mudanças na maneira de trabalhar e produzir no século XXI. 04. (Unesp SP) Tanto as seções, como as máquinas, têm as necessárias separações. Trabalhando esta fábrica somente com fios tintos e produzindo artigos sujeitos à variação da moda, possui desenvolvida seção de preparo e tinturaria com todos os melhoramentos e condições de higiene desejadas. Somente na seção de aproveitamento de resíduos se nota absoluta falta de asseio. As máquinas dessa seção são todas de manejo perigoso, ocasionando frequentemente pequenos desastres. O dia é de dez horas e um quarto. Damos abaixo um quadro do pessoal desta fábrica, classificando os operários segundo as idades e nacionalidades: Nacionalidades

Homens

Adultos

Brasileira

74

63

60

4

41

242

Italiana

234

223

225

22

243

947

Espanhola

17

16

8

41

Síria

9

12

4

6

21

52

Japonesa

11

11

Alemã

4

4

2

10

Francesa

1

1

Inglesa

1

1

Total

340

329

299

32

305

1305

Menores Total

Mulheres de mais de 22 anos

de 16 a 22 anos

Homens

Mulheres

“Condições do trabalho na indústria têxtil no estado de São Paulo”, Boletim do Departamento Estadual do Trabalho, 1912. In: Paulo Sérgio Pinheiro e Michael Hall (orgs.). A classe operária no Brasil, vol. 2, 1981. Adaptado.

ANTUNES. R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2009 (adaptalo).

O objetivo desse modelo de organização do trabalho é o alcance da eficiência máxima no processo produtivo industrial que, para tanto, a) adota estruturas de produção horizontalizadas, privilegiando as terceirizações. b) requer trabalhadores qualificados, polivalentes e aptos para as oscilações da demanda. c) procede à produção em pequena escala, mantendo os estoques baixos e a demanda crescente. d) decompõe a produção em tarefas fragmentadas e repetitivas, complementares na construção do produto. e) outorga aos trabalhadores a extensão da jornada de trabalho para que eles definam o ritmo de execução de suas tarefas. 06. (Uema MA) A etimologia do termo trabalho deriva do vocábulo tripallium que significa “instrumento de tortura”. O trabalho foi associado à ideia de castigo, tortura, atividade penosa. Ao longo do tempo, houve várias interpretações do sentido de trabalho. No feudalismo, o trabalhador tinha uma visão total do produto. Com a consolidação da sociedade industrial, o modelo fordista e taylorista fragmentaram o processo de produção, conforme imagem abaixo.

Fonte: http://www.paraconstruir.wordpress.com>. Acesso em: 21 ago. 2013

Nesse sentido, as características do fordismo e do taylorismo, no início do século XX, em novo ordenamento social do trabalho, são, respectivamente,

Questão 04. O texto faz referência a um momento histórico bastante importante: a industrialização, com a consequente divisão do trabalho ao interior de uma fábrica. Esse modelo, de caráter bastante moderno, é caracterizado por uma rígida divisão das atividades e por uma maior exploração dos trabalhadores. Não por acaso, eles eram, em geral, imigrantes, havendo inclusive mulheres e crianças. Todos eram submetidos às longas jornadas de trabalho, em condições bastante ruins de trabalho e de higiene. Eles se submetiam a esse tipo de trabalho por oferecerem uma mão de obra barata, que encontravam no trabalho fabril a possibilidade de ganharem um salário de sobrevivência.

191

A20  Padrões produtivos e novas formas de organização

Cena do filme Tempos Modernos, gravado em 1936. Produção robotizada em montadoras de automóveis.

05. (Enem MEC) A introdução da organização científica taylorista do trabalho e sua fusão com o fordismo acabaram por representar a forma mais avançada da racionalização capitalista do processo de trabalho ao longo de várias décadas do século XX.


Sociologia

a) especialização da administração e solidarismo, flexibilização, robótica. b) automação, fragmentação e cooperação, manufatura, rigidez do trabalho. c) mecanização, automação, precariedade do trabalho e estabilidade no emprego, solidarismo. d) impessoalidade das normas, flexibilização do trabalho, robótica e controle das atividades, fluidez do trabalho. e) controle das atividades, mecanizaçã

o e impessoali-

dade das normas, rigidez do trabalho, especialização da administração.

09. Fotógrafo registra quem está por trás dos produtos Made in China A China cada dia mais nos possibilita ter acesso a produtos de preço baixíssimo mas, para que isso aconteça, alguém tem que ser explorado. O fotógrafo Michael Wolf visitou algumas fábricas de brinquedos, bonecos e outros tipos de produtos com o selo Made in China e registrou imagens de pessoas e dos processos que estão por trás dessa indústria. Não, aquele boneco do Mickey na sua prateleira não foi feito por complexas máquinas chinesas e sim pelas mãos de operários mal pagos.

07. (Enem MEC) Um trabalhador em tempo flexível controla o local do trabalho, mas não adquire maior controle sobre o processo em si. A essa altura, vários estudos sugerem que a supervisão do trabalho é muitas vezes maior para os ausentes do escritório do que para os presentes. O trabalho é fisicamente descentralizado e o poder sobre o trabalhador, mais direto. SENNETT, R. A corrosão do caráter: consequências pessoais do novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999 (adaptado).

Comparada à organização do trabalho característica do taylorismo e do fordismo, a concepção de tempo analisada no texto pressupõe que a) as tecnologias de informação sejam usadas para democratizar as relações laborais. b) as estruturas burocráticas sejam transferidas da empresa para o espaço doméstico. Fonte <http://www.hypeness.com.br>. Acesso em 21 jan. 2013.

c) os procedimentos de terceirização sejam aprimorados pela qualificação profissional. d) as organizações sindicais sejam fortalecidas com a valorização da especialização funcional. e) os mecanismos de controle sejam deslocados dos processos para os resultados do trabalho. 08. (UFPA) Como reflexos das transformações nas políticas de A20  Padrões produtivos e novas formas de organização

gestão e de organização do trabalho no contexto atual de globalização, tem-se o novo perfil de trabalhador ou da classe social que vive do trabalho e uma reconfiguração no mercado de trabalho. Assim, podemos afirmar corretamente que um dos impactos da atual globalização e da reestruturação produtiva no mundo do trabalho, na virada do século XX para o século XXI, é o (a) a) aumento do contingente de trabalhadores fabris. b) redução significativa dos índices de trabalho feminino e infantil. c) aumento da inclusão de jovens no mercado de trabalho. d) aumento do número de trabalhadores no setor de serviços. e) redução do número de trabalhadores no setor informal da economia.

192

A respeito do tipo de trabalho apresentado nas fotos e do contexto em que ele se insere, assinale se as alternativas abaixo são verdadeiras (V) ou falsas (F).

Resposta: F – V – F – V – V – F.

( ) O tipo de mão de obra empregada nessas indústrias é caracterizado como sendo altamente qualificado. ( ) Essas indústrias chinesas possuem uma linha de produção semelhante ao modelo fordista-taylorista. ( ) Por ser uma indústria contemporânea, o modelo de produção chinês corresponde a uma superação do modelo toyotista. ( ) A mão de obra assalariada só é empregada (em vez das máquinas) devido ao seu baixo custo na China. ( ) Como problemas desse modelo produtivo, podemos citar os custos ambientais e sociais, resultantes do tipo de exploração empregada. ( ) Esses problemas de falta de boas condições de trabalho são tipicamente chineses, não podendo ser vistos em outros lugares do mundo.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

Exercícios de Aprofundamento 01. (Uel PR) O texto a seguir faz referência a uma forma específica

go. Por isso, nesses casos, os processos de trabalho não

de organização do trabalho, que impulsionou o desenvolvimento do capitalismo industrial no século XX.

geram relações propriamente sociais. 02. Segundo muitos autores, para alcançar a sua subsistência, nem todos os grupos humanos viveram de atividades pro-

O trabalho era [...] prender tampas de vidro em garrafas pe-

dutivas, como ocorreu historicamente nas sociedades de

quenas. Trazia na cintura a meada de barbante. Segurava as garrafas entre os joelhos, para poder trabalhar com as duas mãos. Nesta posição, sentado e curvado sobre os joelhos, os

pescadores, de coletores e de caçadores. 04. Alguns antropologos afirmam que grupos indígenas, como os ianomâmis, podem ser considerados “sociedades de

seus ombros estreitos foram se curvando; o peito ficava con-

abundância”, pois dedicam poucas horas diárias às ativida-

traído durante dez horas por dia [...] O superintendente tinha

des produtivas, mas, apesar disso, têm suas necessidades

grande orgulho dele e trazia visitantes para observarem-no [...]

materiais satisfeitas. Tais necessidades não são crescentes,

Isto significava que ele atingira a perfeição da máquina. Todos os movimentos inúteis eram eliminados. Todos os movimentos dos seus magros braços, cada movimento de um músculo dos

como ocorre nas sociedades capitalistas. 08. Na sociedade feudal, a terra era o principal meio de produção, porém os direitos sobre ela pertenciam aos

dedos magros, eram rápidos e precisos. Trabalhava sob grande

senhores. Os camponeses e os servos nunca podiam de-

tensão, e o resultado foi tornar-se nervoso.

cidir o que produzir, para quem e quando trocar o fruto

(LONDON, J. Contos. São Paulo: Expressão Popular, 2005. p. 98.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é corre-

do seu trabalho. 16. O modo de produção escravista colonial que ocorreu no Brasil tinha as seguintes características principais:

to afirmar que esta forma de organização do trabalho:

economia voltada para o mercado externo baseada no

a) Implicou um enriquecimento das tarefas a serem desenvol-

latifúndio, troca de matérias-primas por produtos ma-

vidas, de tal modo que os trabalhadores poderiam operar,

nufaturados da metrópole e fraco controle da colônia

por exemplo, com a habilidade das duas mãos.

sobre a comercialização.

b) Produziu um trabalhador mais intelectualizado, visto que a complexidade do seu trabalho coincidia com a complexidade da máquina utilizada.

03. (UFMA) O modo de produção que se caracteriza pela relação entre trabalho assalariado e capital é definido como modo de

c) Apoiava-se no princípio do Just in Time, isto é, trabalho a

produção:

tempo justo, na maior autonomia do trabalhador frente a

a) asiático.

seus meios de trabalho.

b) camponês.

d) Generalizou a tarefa parcelar, monótona e desinteressante,

c) feudal.

pela subordinação do homem à máquina, distanciando-o,

d) capitalista.

assim, do trabalho criativo.

e) socialista.

e) Revelou-se inviável em outros setores de atividade, como o caso dos escritórios e restaurantes de fast food, embora tenha sido amplamente utilizada no espaço fabril ao longo do século XX.

04. (Uenp PR) Analise as proposições a seguir, que se referem ao pensamento de Durkheim. I.

dariedade mecânica, que tem por fundamento a coesão social, pela solidariedade orgânica.

02. (Uem PR) Sobre as relações produtivas desenvolvidas por diferentes grupos sociais ao longo da história, assinale o que for correto.

Resposta: 04 + 16 = 20.

A divisão social do trabalho induz a substituição da soli-

II.

A solidariedade mecânica é caracterizada pela cooperação entre indivíduos e grupos, segundo a correlação de

01. Nas sociedades tribais, o trabalho humano está relacio-

suas funções sociais, enquanto a solidariedade orgânica

nado apenas à satisfação das necessidades básicas do ho-

tem por fundamento a adesão total do indivíduo ao gru-

mem, como, por exemplo, garantir a alimentação e o abri-

po a que pertence. 193


Sociologia

III.

A mudança nos modelos de solidariedade que funda-

( ) A divisão do trabalho possibilita a coesão social, garantin-

mentam as sociedades implica transformações nas estru-

do o funcionamento harmônico do organismo social.

turas sociais, inclusive nos seus fundamentos morais.

A alternativa que contém a sequência correta, de cima para

Está(ão) correta(s) apenas a(s) proposição(ões):

baixo, é a

a) I e II.

a) V V V F

b) I e III.

b) F V V V

c) II.

c) F V F F

d) II e III.

d) F V F V

e) III.

e) V F F F

05. (Unioeste PR) Émile Durkheim é considerado um dos fundadores das Ciências Sociais e entre as suas diversas obras se destacam

07. (Ufu MG) A industrialização e o surgimento concomitante de grandes centros urbanos com seus aglomerados populacionais

“As Regras do Método Sociológico”, “O Suicídio” e “Da Divisão do

e um crescente processo de individualização constituíram te-

Trabalho Social”. Sobre este último estudo, é correto afirmar que

mas recorrentes na investigação sociológica clássica.

a) a divisão do trabalho possui um importante papel social.

Discorra a respeito da relação entre os processos de urbani-

Muito além do aumento da produtividade econômica, a di-

zação e individuação, a partir da abordagem sociológica de

visão garante a coesão social ao possibilitar o surgimento de

Émile Durkheim.

um tipo específico de solidariedade. b) a solidariedade mecânica é o resultado do desenvolvimento

08. (Unimontes MG) O trabalho é considerado, em Sociologia,

da industrialização, que garantiu uma robotização dos com-

como uma atividade produtiva exercida pelo homem, a partir

portamentos humanos.

da transformação da natureza, para assegurar sua sobrevivên-

c) a solidariedade orgânica refere-se às relações sociais estabe-

cia e desenvolvimento. Karl Marx (1818-1883) afirma que o

lecidas nas sociedades mais tradicionais. O nome remete ao

trabalho pode emancipar os indivíduos, mas, no capitalismo,

entendimento da harmonia existentes nas comunidades de

de modo geral, resulta em alienação dos trabalhadores. Sobre esse assunto, marque a alternativa INCORRETA.

menor taxa demográfica.

a) O trabalho não deve ser visto exclusivamente como empre-

d) indiferente dos tipos de solidariedade predominantes, o crime

go remunerado.

necessita ser punido por representar uma ofensa às liberdades

b) O trabalho é a produção dos indivíduos vivendo em sociedade.

e à consciência individual existente em cada ser humano. e) a consciência coletiva está vinculada exclusivamente às

c) No sistema capitalista, a produção coletiva passou a ser or-

ações sociais filantrópicas estabelecidas pelos indivíduos na

ganizada e dirigida segundo os interesses de todos os trabalhadores, sem distinção.

contemporaneidade, não tendo nenhuma relação com tra-

d) A divisão social do trabalho expressa modos de segmenta-

dições e valores morais comuns. 06. (Unicentro PR) Um dos livros muito conhecidos do sociólogo Emi-

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

le Durkheim é o “Da divisão do trabalho social”, obra publicada

194

ção e estratificação da sociedade. 09.

em 1893. Nesse livro, o autor identifica o surgimento de um novo

Um amigo da área de RH de uma multinacional disse que não

método de trabalho que conduzia a uma nova fonte de interação

sabia onde enfiar a cara quando chamou um homem muito,

social. Sobre a função da divisão do trabalho em Durkheim, assina-

muito simples para informar que ele seria descontinuado. “O

le V para as afirmativas verdadeiras e F, para as falsas.

senhorzinho não entendia nem por um decreto que estava

( ) A especialização das profissões e a divisão do trabalho ba-

sendo demitido’’, diz ele – que teve que apelar para o método

seiam-se em uma ética asceta que leva os indivíduos a bus-

antigo, quando foi claramente compreendido.

carem acumulação e eficiência e a evitarem o desperdício

Aliás, as empresas não falam mais em “empregados’’. Agora

e a preguiça.

são “colaboradores”. Há várias razões que explicam, muitas

( ) Os resultados econômicos da divisão do trabalho são de

delas traçando um resgate da ação coletiva de sinergias vol-

menos importância, pois o efeito moral, o sentimento de

tadas à construção de um objetivo comum… Zzzzzz… Prefiro a

solidariedade que essa produz é a sua verdadeira função.

explicação mais simples que surgiu de outro colega, do RH de

( ) Um arranjo social com classes dominantes e classes domi-

uma grande empresa brasileira: “isso foi para botar no mes-

nadas em constante conflito entre si é uma das principais

mo pacote o pessoal que é contratado como CLT e quem é

implicações da divisão social do trabalho.

terceirizado ou integrado mas, na prática, também é empre-


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 09. A palavra “empregado” revela a divisão de classes entre aquele que é o dono da empresa e aquele que é o empregado. Já a palavra “demissão” denota uma situação claramente prejudicial ao trabalhador: a perda do seu emprego e de seu sustento. Assim, tentar modificar e atenuar essas palavras corresponde a um mecanismo ideológico, que tenta esconder as contradições inerentes ao sistema produtivo capitalista.

gado nosso’’. Enfim, todos colaboram com o lucro do patrão,

nesa. O objetivo é cortar despesas. Os robôs serão usados para

portanto faz sentido.

fazer trabalho simples e de rotina, como limpeza, soldagem e

SAKAMOTO, Leonardo. Palavras podem cair em desuso. Mas “idiota” continuará sempre na moda. Blog do Sakamoto. 11 mar. 2014. Adaptado. Fonte: <http:// blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br> Acesso em 11 mar. 2014.

montagem, atividades que atualmente são feitas por funcioná-

A partir de uma abordagem marxista, explique por que as em-

“Fabricante do Ipad vai trocar trabalhadores por um milhão de robôs em três anos”. Fonte: <http://noticias.r7.com>. Acesso em: 21 ago. 2011. (adaptado)

presas têm interesse em modificar e atenuar palavras como “demissão” ou “empregado”.

rios. A empresa já tem 10 mil robôs e o número deve chegar a 300 mil em 2012 e a um milhão em três anos.

Em relação aos efeitos da decisão da empresa, uma divergên-

Entenda o que é obsolescência programada

cia entre o empresário e os funcionários, no exemplo citado, encontra-se nos respectivos argumentos: a) Aumento da eficiência – Perda dos postos de trabalho.

Conforme usamos um produto, é natural que este sofra des-

b) Reforço da produtividade – Ampliação das negociações.

gastes e se torne antigo com o passar do tempo. O que não é

c) Diminuição dos custos – Redução da competitividade.

natural é que a própria fabricante planeje o envelhecimento de

d) Inovação dos investimentos – Flexibilização da produção.

um produto, ou seja, programar quando determinado objeto

e) Racionalização do trabalho – Modernização das atividades.

vai deixar de ser útil e parar de funcionar, apenas para aumentar o consumo.

13. (UFFS BA) A transição de um modo de produção social para

Apesar do avanço tecnológico, que resultou na criação de uma

outro ocorre em determinadas situações.

diversidade de materiais disponíveis para produção e consumo,

Com relação a essa substituição de um modo de produção so-

hoje nossos eletrodomésticos são piores, em questão de dura-

cial por outro, assinale a alternativa correta.

bilidade, do que há 50 anos. Os produtos são fáceis de comprar,

a) Um modo de produção atende a todas as necessidades

mas são desenhados para não durar. Por esta razão, o consu-

de uma determinada população. Entretanto, como as

midor sofre para dar a eles uma destinação final adequada e

necessidades são crescentes, um novo modo de produção

ainda se vê obrigado a comprar outro produto.

deve ocupar o espaço.

Fonte: <http://www.idec.org.br>. Acesso em 21 fev. 2013.

A obsolescência programada está vinculada à forma de fun-

b) Necessariamente, a população percebe o esgotamento daquele modo de produção e acaba por reivindicar um novo, nem que para isso use da força de uma revolução.

cionar do sistema capitalista. Qual dos autores abaixo analisou

c) Após um longo período de acumulação de contradições o

esse tipo de necessidade econômica? Qual era a grande preo-

povo acaba por criar um novo modelo que sustente a vida

cupação desse autor ao analisar esse tipo de fenômeno?

(sobrevivência) com melhor qualidade e menor esforço físico.

a) Max Weber. b) Karl Marx. c) Émile Durkheim. d) Immanuel Kant. e) Machado de Assis.

Gabarito questão 11 a) Chama de luta de classes. b) No sistema capitalista, há basicamente duas classes sociais, segundo Marx: a burguesia e o proletariado. Por ser a detentora dos meios de produção, a burguesia oprime o proletariado, que, por sua vez, se vê obrigado a trabalhar para a burguesia na medida em que somente possui sua força de trabalho para garantir sua sobrevivência.

11. Até hoje, como vimos, todas as sociedades sempre se assentaram na oposição entre as classes opressoras e oprimidas. MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Penguin Classicis/Companhia das Letras, 2012, p. 57.

a) Como Marx chama a oposição entre classes opressora e oprimida? b) Quais são as classes sociais no sistema capitalista? Qual delas é a opressora e qual é a oprimida? O que diferencia uma da outra?

d) Um modo de produção é substituído por outro mais jovem e qualitativamente superior quando cumprir seu papel histórico, isto é, desenvolver e esgotar suas potencialidades. Isso se dá em forma de saltos qualitativos, após longo período de acumulação de contradições. e) As necessidades materiais são tantas que o processo produtivo não consegue dar conta, ou seja, torna-se necessário criar um novo modo de produção quando o anterior já se encontra incapaz de atender aos desejos. 14. (Uem PR) Sobre o modelo fordista-taylorista de organização do trabalho, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

10.

Resposta: 04 + 08 + 16 = 28.

01. Os princípios fordistas visam à produção em série de produtos personalizados de acordo com as demandas do mercado consumidor.

12. (Enem MEC) Uma gigante empresa taiwanesa do setor de tec-

02. A parcialização do trabalho implementada no fordismo fez

nologia vai substituir parte de seus funcionários por um milhão

com que o trabalho executado pelos operários se tornasse

de robôs em até três anos, segundo a agência de notícias chi-

mais agradável e menos extenuante. 195


Sociologia

04. A parcialização fordista ganhou impulso e maior eficiência

produto inteiro foram fragmentadas, decompostas e re-

com a introdução da linha de montagem acoplada à esteira

organizadas, de forma que o trabalhador executasse uma

mecânica desenvolvida por Frederick Taylor.

parte do processo de produção.

08. O taylorismo pregava a necessidade de um rígido controle

( ) O proprietário do capital reúne um grupo de artesãos que

e fiscalização da atividade dos operários.

não possuem mais os meios de produção, mas continuam

16. Uma das metas do modelo fordista-taylorista era a ex-

responsáveis por todo o conjunto de tarefas necessárias à

propriação do “saber fazer” dos operários e a concen-

produção de uma certa mercadoria.

tração desse conhecimento nos setores de planejamen-

A sequência correta é

to das indústrias.

a) 4, 1, 2, 3.

15. Dentre as características abaixo, quais são aquelas que dizem respeito somente ao modelo de produção toyotista? Assinale a alternativa correta.

b) 4, 3, 2, 1. c) 2, 1, 3, 4. d) 3, 2, 1, 4. 17. (Ufu MG) Em 2006, o DIEESE (Departamento Intersindical de

I.

Separação rígida entre planejamento e execução

II.

Produção padronizada

III.

Trabalhador polivalente

IV.

Produção just in time

[...] com exceção das conquistas obtidas em acordos ou con-

V.

Flexibilização da produção

venções coletivas desde a Constituição de 1988, praticamente

VI.

Utilização da administração científica

todas as alterações nos direitos trabalhistas foram no sentido

a) Somente I, II, IV e V.

Estatística e Estudos Socioeconômicos) lançou um estudo intitulado “A jornada de trabalho no Brasil” na qual se pode ler que

de diminuir direitos e/ou de intensificar o ritmo de trabalho. DIEESE. A Jornada de Trabalho no Brasil. Fontes: <http://portal.mte.gov.br>. Acesso em: 22 fev. 2015.

b) Somente II, III e IV. c) Somente III, IV e V. d) Somente IV, V e VI. e) Somente III, IV, V e VI.

Tomando por base as reflexões de Karl Marx acerca da jornada de trabalho e seus conhecimentos sobre a realidade nacional, é correto afirmar que:

16. (Unimontes MG) Para Karl Marçx, ocorreram diferentes pro-

a) Tal como todo aparato jurídico burguês, a Constituição de

cessos de trabalho ao longo da história do Capitalismo, sendo

1988 trouxe consigo a redução dos direitos trabalhistas e a ampliação da exploração sobre o trabalho.

inclusive caracterizados, na sua obra, como os mais importantes elementos para compreensão das transformações econô-

b) A redução de direitos trabalhistas é uma marca presente em todos os Estados de Bem-Estar Social no centro e na perife-

micas, sociais e políticas nos últimos séculos. Considerando as características de diferentes processos de trabalho na sociedade capitalista, associe a 2ª coluna com a 1ª. Coluna 1

c) Intensificar o ritmo de trabalho significa, em outras palavras, ampliar a extração de mais valia relativa. d) Vive-se o paradoxo de a redução dos direitos conviver com

1) Organização da produção em cooperação simples

um momento especial de crescimento e ofensiva da mobili-

2) Manufatura

zação sindical.

3) Maquinofatura 4) Automação FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

ria do capitalismo.

Coluna 2 ( ) Processo de trabalho que combina a programação e autonomia das máquinas com o uso de mão de obra altamente especializada para isso, ao lado da diminuição da força de trabalho na execução do processo produtivo.

18. (Ufu MG) A mecanização do processo produtivo assume hoje dimensões nunca vistas, com o desenvolvimento da robótica e, cada vez mais, as fábricas empregam um contingente menor de operários. Em vista disso, podemos observar as seguintes mudanças nas relações de trabalho: I.

( ) A divisão do trabalho se dá em manual e intelectual, ou em quem pensa e quem executa, e, ainda, com o trabalhador passando a ser apenas o operador de um conjunto de mecanismos. ( ) As tarefas que eram centralizadas em quem produzia o

196

II.

A concorrência desenfreada entre trabalhadores por empregos não reforça um sentimento crescente de individualismo e isolamento. Com a transformação na indústria, novas relações de trabalho se organizam – trabalho individual, terceirizado e prestação de serviços- substituindo relações de emprego tradicionais.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Gabarito questão 20 A divisão do trabalho social em uma sociedade complexa está relacionada com a forma de solidariedade típica dessa sociedade: a solidariedade orgânica. Nesse tipo de sociedade, os indivíduos são altamente diferenciados entre si. Dessa forma, a divisão do trabalho serve para manter a coesão social, na medida em que coloca cada indivíduo em um papel em relação ao funcionamento da sociedade, da mesma forma como um membro possui uma função específica em um organismo.

IV.

A concorrência desenfreada entre trabalhadores por em-

Assinale a alternativa correta.

prego, entre empresas pelo controle dos mercados e en-

a) II e III estão corretas.

tre nações pelos recursos escassos, abala antigas alianças

b) I e II estão corretas.

e relações tradicionais de solidariedade.

c) II, III e IV estão corretas.

Nos países industrializados, surge o desemprego estrutu-

d) I , II e III estão corretas.

ral, com a diminuição constante e irreversível dos cargos nas empresas, colocando em disponibilidade uma parcela cada vez maior da população. a) I, III e IV estão corretas.

22. (Ufu MG) A luta das mulheres, no Brasil, por igualdade de condições com os homens no mercado de trabalho apresenta hoje os seguintes resultados: I.

crescimento da participação da mulher no mercado de

II.

predomínio da igualdade salarial entre homens e mulhe-

III.

ocupação, pela mulher, de cargos de direção nas empre-

IV.

qualificação profissional da mão de obra feminina em rit-

b) I, II e III estão corretas. c) III e IV estão corretas.

trabalho.

d) II, III e IV estão corretas. e) Todas as afirmativas estão corretas. 19. (Ufu MG) Sobre as relações sociais estabelecidas entre os homens no processo de produção capitalista, podemos afirmar que I.

se caracterizam por serem relações de exploração, antagonismo e oposição.

II.

as relações estabelecidas entre as classes sociais são complementares, pois uma só existe em relação à outra.

III.

dividem os homens entre proprietários e não proprietários dos meios de produção.

IV. V.

as desigualdades não constituem a base de formação das

a) I, II e III b) I e IV c) II, III e IV d) III e IV

Gabarito questão 23 O contrato de trabalho temporário dificulta a organização e mobilização dos trabalhadores. Isso porque, devido à falta de estabilidade e à constante competição, os trabalhadores não se juntam em defesa de seus interesses coletivos, ficando submetidos aos interesses de seus patrões.

23. (Ufu MG) O contrato temporário de trabalho cria, em uma messuem um vínculo empregatício menos instável e o dos que têm

dade, pois ambos são vendedores de sua força de trabalho.

data marcada para a demissão. Com base nisto, responda: o con-

c) II, III e IV estão corretas. d) I, III e IV estão corretas. 20. (Ufu MG) Explique a função da divisão do trabalho social nas sociedades complexas, segundo a concepção durkheimiana. 21. (Ufu MG) São características das transformações que estão ocorrendo no mundo do trabalho na sociedade globalizada:

trato temporário de trabalho favorece ou dificulta a organização e a mobilização dos trabalhadores? Justifique sua resposta. 24. (Ufu MG) Considerando a relação entre o desenvolvimento tecnológico e o trabalho nas sociedades capitalistas contemporâneas, assinale a alternativa incorreta. a) O discurso empresarial atribui aos trabalhadores desempregados grande parte da responsabilidade pelo desemprego que vivenciam, pois eles não estariam se qualificando adequadamente. b) A introdução da informática e de robôs na indústria exige

a principal estratégia das grandes empresas está na dis-

dos trabalhadores que permanecem empregados múltiplas

persão geográfica para outras zonas em que a exploração

habilidades para que operem vários equipamentos, sob

do trabalho é mais barata;

pena deles não atenderem às exigências da lucratividade

a produção, longe da rigidez do fordismo, apoia-se na flexibilização organizacional do trabalho e das formas de

desejada pelas empresas. c) A diminuição de postos de trabalho na atividade industrial

contratação;

não expressa uma tendência histórica do capitalismo, de

com as novas tecnologias, o mercado de trabalho se

substituição do trabalho vivo (trabalhadores) pelo trabalho

apresenta como um bloco homogêneo, de fácil mobilidade e intercâmbio; IV.

Selecione a alternativa correta.

entre o capitalista e o trabalhador há uma relação de igual-

b) III, IV e V estão corretas.

III.

mo acelerado.

ma empresa, dois segmentos de trabalhadores: o dos que pos-

a) I, II e III estão corretas.

II.

sas em proporções iguais às do homem.

classes sociais.

Selecione a alternativa correta.

I.

res que executam as mesmas tarefas.

morto (máquinas e equipamentos). d) O desemprego estrutural e massivo que atinge, atualmente,

a inserção da população feminina no mercado de traba-

cerca de 1,3 bilhões de trabalhadores(as) determina uma di-

lho se dá de forma ampliada e igualitária.

minuição no número de greves. 197

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

III.


Sociologia

25. (Ufu MG) A fusão de campos de conhecimento e a mistura

27. (Ufu MG) A crise do compromisso fordista, devido às greves

de tecnologias são responsáveis por novos horizontes que se

operárias radicais, à impossibilidade de intensificar a divisão

abrem para o mercado de trabalho. Atento a essas novas ten-

parcelar do trabalho, à crise econômica internacional e ao acir-

dências, o mercado exigirá um tipo de profissional com as se-

ramento da concorrência internacional, provocou uma série de

guintes características, exceto

mudanças no modo de acumulação capitalista, entre elas:

a) que consiga reunir todas as informações disponíveis para

a) a difusão de novas formas de organização do processo de

criar soluções inéditas. b) que, sendo eclético, saiba o suficiente de cada área para orientar grandes equipes de trabalho. c) que seja altamente especializado em uma área do conhecimento. d) que tenha uma formação crítica e humanista para orientar-se em meio à diversidade de informações. 26. (Ufu MG) Cientistas sociais reconhecidos têm apontado algumas contradições dos processos da globalização com fortes impactos sobre as identidades e culturas nacionais. Estes sugerem que ocorrem dois processos: tanto a tendência à autonomia nacional e aos particularismos culturais, que mantêm a heterogeneidade, quanto a tendência globalizante, que força a homogeneidade cultural, conforme HALL, Stuart. A Identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 1999, p. 68-69. Com base no argumento acima, assinale a alternativa que apresenta uma hipótese sociológica teoricamente incorreta sobre a heterogeneidade da produção cultural nas sociedades capitalistas contemporâneas. a) As identidades nacionais estão em declínio, mas novas identidades híbridas estão surgindo, pois todas as identidades, por definição, são formadas por representações simbólicas historicamente condicionadas, face a sociedades diferentes. Estas resultam de comunidades unitárias imaginadas, mitos fundacionais e tradições inventadas. b) As identidades nacionais sofrem certo declínio como resultado da tendência de homogeneização cultural, promovida pelo aumento da circulação de mercadorias e dos sistemas simbólicos dominantes, que são mediados pelos agentes detentores dos meios de comunicação massivos, atualmente informatizados e internacionalizados. FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

c) As identidades nacionais e outras identidades particulares, como as de classe, de gênero, de etnia e de religião, estão sendo reelaboradas e até reforçadas como expressão de resistência à globalização e à homogeneização das culturas, demarcando uma das contradições apontadas pelos cientistas sociais. d) A produção cultural apresenta uma grande heterogeneidade de sujeitos produtores e consumidores, pela propriedade e disponibilidade geral dos meios técnicos para reprodução de quaisquer sistemas simbólicos, como se comprova pelo acesso generalizado à televisão e à comunicação informatizada da Internet. 198

trabalho, chamada de “modelo fordista”, fundadas na flexibilidade e no trabalho em grupo. b) a difusão de novas formas de organização do processo de trabalho, fundadas na rigidez e na produção em massa. c) a difusão de novas formas de organização do processo de trabalho, chamadas de “modelo japonês” ou “toyotismo”, fundadas na flexibilidade. d) a difusão de novas formas de organização do processo de trabalho, chamadas de “modelo toyotista” fundadas na rigidez e no trabalho fragmentado.


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