Número 4 - Ano I

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Pássaro da madrugada

Recuperando a façanha do francês que há 100 anos construiu e voou no Brasil o primeiro avião da América Latina

Editora Aleph

Mirian Paglia Costa

Os autores, Susana Alexandria e Salvador Nogueira, no lançamento e, no alto, seu herói, Dimitri Sensaud de Lavaud

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DEFESA LATINA

Santos-Dumont realizou peripécias aéreas na França; o francês Dimitri Sensaud de Lavaud (1882-1947) fez no Brasil suas artes com o mais pesado que o ar e, como o brasileiro, seu talento não se limitou ao avião. O fato é pouco lembrado e precisou esperar 100 anos para ser conhecido em detalhes tanto no Brasil quanto na França, onde só em 2009 apareceu um livro sobre o inventor. Aqui, resgataram a história com profusão de informações e ilustrações os jornalistas Susana Alexandria e Salvador Nogueira, que lançaram pela editora Aleph 1910: O primeiro voo do Brasil. Caprichosos na reconstituição, eles começam explicando a presença do francês em Osasco, cidade da Grande São Paulo que antes da capital, amealhou reputação de industrial e industriosa. Ali foi criado, por exemplo, o maior frigorífico do país no início do século XX – obra do empreendedor americano Percival Farquhar, fundador do Continental Products Co., depois Frigorífico Wilson. E também a cerâmica do fundador de Osasco, o italiano Antonio Agu, que, tentou a agricultura, criou a olaria, tornou-se colonizador e empreiteiro na construção civil, implantou fábricas e, durante a crise do café na virada para o século XX, convidou o engenheiro cerâmico francês Evaristhe Sensaud de Lavaud para assumir a fabricação de tijolos, telhas, manilhas e tudo o mais que seu know how pudesse. E podia, pois era filho de técnico ceramista de Limoges, terra da porcelana fina francesa, e fora proprietário de uma cerâmica em Valladolid, Espanha. E foi assim que o francês nascido em território espanhol chegou ao Brasil em 1898, aos 16 anos, acompanhando pai e mãe. Apontado como sucessor do pai na gerência da sociedade em caso de falecimento de Evaristhe, o moço não continuou os estudos iniciados na Espanha e na Suíça, mas aprendeu as artes da cerâmica, interessou-se pela construção de barcos, mergulhou na mecânica. Todos os detalhes da vida do inventor e seu entorno, inclusive a história de Osasco, estão no livro, de leitura agradável e primorosamente organizado – com destaque para a linha de tempo que atravessa os capítulos. Dos desenhos do aeroplano São Paulo, montado por Dimitri totalmente com materiais nacionais, e da ampla cobertura jornalística do voo, realizado às 5h50 da manhã de 7 de janeiro de 1910, Susana e Salvador acompanham seu herói até o sucesso em Paris como construtor de automóveis com transmissão automática. Não poderiam ter feito melhor para comemorar os 100 anos do primeiro voo no Brasil e na América Latina.

Acervo de Pierre A. Camps

1910 cultura.livro


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