Introdução à reologia

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EDSON JOSÉ SOARES

LUCAS HENRIQUE PAGOTO DEOCLECIO

INTRODUÇÃO À REOLOGIA

Escoamento e caracterização de materiais complexos

Conteúdo 1Introdução13 2Cálculotensorial17 2.1Vetores ......................................... 17 2.1.1Produtoescalar 18 2.1.2Produtovetorial ............................... 19 2.2Otensordastensões 20 2.2.1Intensidadedotensordastensões ..................... 22 2.3Operador ∇ 23 2.3.1Gradiente .................................. 24 2.3.2Divergente .................................. 27 2.3.3Rotacional 29 2.4Teoremadadivergência ............................... 31 2.5TeoremadeStokes 32 3Equaçõesdeconservação37 3.1OgradientededeformaçãoF 37 3.1.1Tensortaxadedeformação ......................... 39 3.1.2Intensidadedataxadedeformação .................... 41 3.2TeoremadostransportesdeReynolds 42 3.3Equaçãodacontinuidade .............................. 46 3.4EquaçãodeCauchy 49 4Ofluidonewtoniano57 4.1EquaçõesdeNavier-Stokes 57 4.2Escoamentodesenvolvidoemtubos ........................ 61 4.3OnúmerodeReynolds 62 5Fluidonewtonianogeneralizado71 5.1Aspectosgerais .................................... 71 5.2Fluidospseudoplásticosedilatantes 73 5.2.1Omodelo power-law ............................ 77 5.2.2Omodelo Carreau-Yassuda 81 5.2.3Outrasfunçõesdaviscosidade ....................... 84 5.3Fluidosviscoplásticos 85 5.3.1FluidoplásticodeBingham ........................ 86 5.3.2ModelodeHerschel-Bulkley ........................ 90 5.3.3ModelodePapanastasiou 93
................................ 95 5.3.5Númerosadimensionaisparamateriaisviscoplásticos 100
5.3.4ModeloSMD

6Fluidosviscoelásticos107

6.1Aspectosgerais

6.2Modelosviscoelásticoslineares

6.2.1ModelodeMaxwell

6.2.2ModelodeKelvin-Voigt

6.2.3ModelodeJeffreys

6.2.4ModelodeMaxwellgeneralizado(espectroderelaxação)

6.3Testesoscilatórios

6.3.1Testeoscilatóriodebaixaamplitude

6.3.2Testeoscilatóriosemaltasemédiasamplitudes

6.3.3Estimativadatensãodecedênciacomtestesoscilatórios

6.4Modelosviscoelásticossimples

6.4.1Modelodofluidodesegundaordem

6.4.2ModeloDiferencialdeMaxwellConvectadoSuperior

6.4.3ModeloDiferencialdeJeffreysConvectadoSuperior

6.5NúmerodeDeboraheWeissenberg

8.3.1Modeloelasto-viscoplásticotixotrópicoMendes

9.2Métodosdemediçãodastensõesnormais

12 IntroduçãoàReologia:escoamentoecaracterizaçãodemateriaiscomplexos
107
112
...........................
112
........................... 115
116
117
.................................. 120
120
............. 131
133
........................... 136
138
140
.......... 142
143 7Fluidoselasto-viscoplásticos147 7.1Aspetosgerais 147 7.2Modeloselasto-viscoplásticos ............................ 149 8Tixotropia159 8.1Definiçãoeaspectosgerais ............................. 159 8.2Parâmetroestrutural ................................. 162
165
8.3Modeloselasto-viscoplásticostixotrópicos
............. 167 9Reometria175 9.1Reometriarotativa .................................. 175 9.1.1Controledetensãoecontrolededeformação 176 9.1.2Geometriasrotativas ............................ 183 9.1.3Critériosdeescolhadegeometrias 189
199
................................ 202 Referências209
9.3Reometriaextensional

Introdução

Estelivroédedicadoàiniciaçãodeengenheiros,físicos,químicosematemáticosà reologia,ciênciaqueestudaoescoamentodosmateriaisemestadolíquidoousólido.O termo reologia foicunhadoporEugeneC.Bingham1 em1920,inspiradonoaforisma grego pantarhei (����������������)− "tudoflui" ,atribuídoaHeráclito,filósofogregoprésocrático.Oleitorinteressadoporumaperspectivahistóricadareologiaencontraráem TannereWalters(1998)umaboaleitura.Areologiatemsidotratadacomoumaciência própriaporquase100anos,reunindodiversasáreasdoconhecimento,principalmente relacionadasaquímica,física,engenhariaematemática.Éclaroquealiteraturasobre otemaévasta,eestelivronãoousaabordartodaspeculiaridadescomprofundidade. Aqui,oquesefazéapresentarumaintroduçãoaalgunsaspectosfundamentaisque possibiliteaoestudantefinalistadegraduaçãoedepós-graduaçãoiniciarumtrabalho depesquisa,numéricaouexperimental,emreologia.

Aexperiênciaeamotivaçãoparaescreverestelivroveioaolongode20anosministrandoadisciplinadeIntroduçãoàMecânicadosFluidosnãoNewtonianos,noprogramadepós-graduaçãoemengenhariamecânicadaUniversidadeFederaldoEspírito Santo,eorientadomonografias,dissertaçõesetesesemreologia.Umadasprimeiras dificuldadesfoiencontrarummaterialdidáticoecompactoqueatendesseàsnecessidadeseàspeculiaridadesdosalunos.Apesardevasta,aliteraturaemreologiaémajoritariamenteescritaeminglêspornãobrasileiros.Éfatoquealínguahojenãoéum grandeempecilhoàdivulgaçãodaciência,masumtextoescritonapróprialínguatorna oassuntomaisfamiliare,portanto,maispróximodosjovensestudantes.Éevidente, porémnuncademaislembrar,queestelivrotemoconteúdoeformacaracterísticosdos autores,comsuaslimitaçõesepreferênciasestéticaseconceituais.Porserumaciência tãojovem,areologiatemmuitascontrovérsiasquedividemacomunidadeemgrupos comtendênciasdistintas,eestelivronãoétotalmenteimparcial.Convenientemente, algumascontrovérsiassãoapresentadas,eoposicionamentodosautoresficaclaro,embasadoemsuaprópriaexperiênciaeproduçãocientífica.

Estelivroédivididoemdoisgrandesblocos.Noprimeiro,comosCapítulos2,3e4, faz-seumarevisãodocálculotensorialedesenvolvem-seasequaçõesdeconservação 1 EugeneCookBingham,dezembrode1878anovembrode1945,foiprofessordodepartamentodequímica emLafayetteCollege,EstadosUnidos.

CAPÍTULO1

IntroduçãoàReologia:escoamentoecaracterizaçãodemateriaiscomplexos

paraaplicá-lasaofluidonewtoniano.Osegundobloco,comosCapítulos5,6,7,8e9,é, defato,voltadoaosmateriaiscomplexos.

EspecificamentenoCapítulo2,sãorevisitadasasdefiniçõesdevetor,tensor,operadores(gradiente,divergenteerotacional)eosteoremasdadivergênciaedeStokes.São apresentadasinterpretaçõesgeométricasefísicasparacadaumdositensmencionados, nemsempretriviaisaoalunoiniciante.Todasasoperaçõescomesseselementossãodesenvolvidasemnotaçãoindicial,umaalternativaàsimbólica,maisconcisaecompacta. Exercíciosdefixaçãosãopropostosaofinaldessecapítulocomoobjetivodefacilitarao estudanteaderivaçãodasequaçõesdeconservação,nocapítuloseguinte.NoCapítulo 3,partindo-sedadefiniçãodegradientededeformação,deriva-seoTeoremadosTransportesdeReynoldsechega-seàequaçãodaContinuidade,conservaçãodamassa,ea equaçãodeCauchy,conservaçãodaquantidadedemovimentoparaummaterialqualquernolimitedocontínuo.Finalmente,conclui-seobloco1comadefiniçãodefluido newtonianonoCapítulo4.ApartirdaequaçãodeCauchy,chega-se,então,àequação deNavier-Stokes,ambasaplicadasaoescoamentodesenvolvidoemtubos.Nesseponto, faz-seumarevisitaaosconceitosdonúmerodeReynolds,que,apesardeclássicoem mecânicadosfluidos,aindageramuitascontrovérsias,principalmentequandosetrata deescoamentodefluidosnãonewtonianos.Essadiscussãoéumamarcaimportante destelivroeodistinguedosoutros.

OsegundoblocodolivroseinicianoCapítulo5,emqueéapresentadooFluido NewtonianoGeneralizado(FNG),omodelomaissimplesdefluidonãonewtoniano.A única(entrevárias)manifestaçãonãonewtonianacontempladapelomodeloFNGéa variaçãodaviscosidade �� comataxadedeformação ��.Diversasformasdevariaçãosão apresentadaspormeiodediferentesequações ��(��) divididasemdoisgrupos:a)fluidos pseudoplásticoseafinantes;eb)fluidosviscoplásticossimples.Aofinaldocapítulo, discute-secomodevidocuidadoarespeitodosnúmerosadimensionaisparamateriais viscoplásticos.Esseéosegundopontocontroversoabordadopelosautores.Háduas tendênciasbemdistintasdacomunidadedepesquisadoresemescoamentodemateriais viscoplásticos;osautoresaquiseposicionamclaramenteedefendemumadelas.O Capítulo6discutebrevementeosmateriaisviscoelásticosapartirdeseusconceitosmais básicos.Asideiasdeviscoelasticidadelinearsãoapresentadas,antesdesechegaraos modelosclássicosefundamentaisparacompreensãodaviscoelasticidadedeMaxwelle Kelvin-Voigt.Doismodelosnãolinearestambémsãoapresentadosediscutidos:omodelo deMaxwellConvectadoeomodeloOldroyd-B.OCapítulo7fazumaintroduçãoaos materiaiselasto-viscoplásticos,queapresentamcomportamentotantoplásticoquanto elástico.Nessecapítulo,mostramosquemodelosviscoplásticosinelásticos,normalmente empregadosparaasoluçãodeescoamentosdemateriaiscomtensãodecedência,não sãocapazesdecapturaralgunsfenômenosfísicostípicosdessesmateriais,mesmoque qualitativamente.Ocapítuloseencerracomumabrevediscussãosobremodeloselasto-

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Cálculotensorial

Oselementosbásicosdonossoarcabolçomatemáticotensorial,propriamentenosso vocabulárioparticular,sãorevistosnestecapítulo.Vamosrecordarossignificadosde vetores,tensoresedasprincipaisoperaçõesassociadaseosteoremasdadivergência edeStokes.Aolongodocapítulo,vamosintroduzirosconceitoseregrasda notação indicial.Estaferramentaéextremamenteútilparaderivaçãodeidentidadestensoriais eseráusadaaolongodotextonasdemonstraçõesdasequaçõesfundamentais,aqui chamadasdeequaçõesdeconservação.Algunsautoresnãogostamdotermo equações deconservação,porentenderemqueaquantidadedemovimento(QM)nãoseconserva. Outrosautores,grupoemquenosincluímos,entendemqueaQMtambémpodeser escritanaformaconservativa.Portanto,oreferidotermoaquiusadocontemplatodas asequaçõesfundamentaisdestetexto.

2.1VETORES

Alémdasvariáveisescalares,asvetoriaisetensoriaissãofundamentaisparaarepresentaçãodasgrandezasfísicas.Vamos,brevemente,recordarnestaseçãoadefinição devetor,introduzindo,aomesmotempo,anotaçãoqueseráusadaaolongodotexto. Comoosproblemastratadosnestelivrosãoexclusivamentedemecânicaclássica,nossosvetoresnuncaterãodimensãomaiorquetrês,dimensãomáximasuficienteparaarmazenarastrêsvariáveisespaciaisparacadainstantedetempo.

Figura2.1 Sistemadecoordenadasretangulares.

CAPÍTULO2
x y z ex ey ez a

IntroduçãoàReologia:escoamentoecaracterizaçãodemateriaiscomplexos

Porquestãodesimplicidade,vamossempreusarosistemadecoordenadasretangularesparaodesenvolvimentodosteoremaseequaçõesdeconservação.Asequaçõesou operadoresnossistemascilíndricoouesféricosãosempredisponibilizadosaofinalde cadacapítulo.OsistemadecoordenadasestárepresentadonaFig.(2.1),emquex,ye zsãoasvariáveisindependentese e�� , e�� e e�� ,seusrespectivosvetoresunitários.Frequentemente,vamosrepresentarasvariáveis ������ como ��1 ��2 ��3 eosvetoresunitários como e1 e2 e3 .Ovetor a podeentãoserescritocomo:

Onde ���� e�� éarepresentaçãodovetor a emnotaçãoindicial,sendo ���� seuscomponentes. Comotodososnossosvetorestêmnomáximotrêscomponentes,oíndice �� variasempre de1a3.Vistoqueoíndice �� serepetenaEq.(2.1),eleéchamadode índicemudo edesigna umasoma.Dessaforma,deagoraemdiante,vamosomitirosomatórioerepresentar qualquervetoremnotaçãoindicialsimplesmentecomo:

2.1.1Produtoescalar

Pode-sefazerdiversasoperaçõesentredoisvetores,sendooprodutoescalaruma delas—etalvezamaisfrequente.Considereentãoosvetores a e b.Oprodutoescalar entreelespodeserobtidopelaequaçãoEq.(2.3):

Onde“a”e“b”são,respectivamente,asintensidadesdosvetores a e b,comfrequência chamadasasnormasdosvetores,e �� éoânguloentreeles.Oproduto (����) cos(��) éa projeçãodovetor a nadireçãodovetor b.Portanto, a · b éoprodutodasintensidades dosdoisvetores,mascomefeitoemumamesmadireção.Pode-seobteresseresultado multiplicandoescalarmenteosdoisvetorestermoatermo,comomostraaEq.(2.4):

Multiplicandodeformadistributivatodosostermos,chega-seàEq.(2.5):

18
a = ��1 e1 + ��2 e2 + ��3 e3 = 3 ∑︁ ��=1 ���� e�� . (2.1)
a = ���� e��
(2.2)
a b = (����) cos(��) (2.3)
a · b = (��1 e1 + ��2 e2 + ��3 e3 )·(��1 e1 + ��2 e2 + ��3 e3 ) (2.4)
a · b = ���� �� �� e�� · e �� (2.5)

Equaçõesdeconservação

Nestecapítulo,deriva-seotensortaxadedeformação �� apartirdadefiniçãodo gradientededeformação F.Emseguida,deduz-seoteoremadostransportesdeReynolds, antesdesechegaràequaçãodacontinuidade(conservaçãodamassa)eàequaçãode Cauchy(conservaçãodaquantidadedemovimento),paraumreferencialeuleriano,6 de volumedecontrole.Asequaçõesdesenvolvidasaquisãoválidasparaqualquermaterial, desdequerespeitadaahipótesedocontínuo.

3.1OGRADIENTEDEDEFORMAÇÃOF

Umcorponãorígidosubmetidoaumcampodetensõesnãoisotrópicasobviamente sedeforma.Aentidadequeguardaasinformaçõesdedeformação,relativasaumaconfiguraçãoinicial,écomumentechamadade Gradientededeformação,aquirepresentado pelaletra F.AFig.3.1mostraumcorpomaterialemsuaconfiguraçãoinicial,oudereferência, ������ esuatransformaçãoparaaconfiguraçãoatual ������.Ascoordenadasdo elementonasuaconfiguraçãoatualpodemsermapeadaspormeiodeumafunção,representadanafigurapor ��

Figura3.1 Transformaçãodecoordenadas.

6 ReferenteaLeonhardPaulEuler,abrilde1707asetembrode1783,matemáticoefísicosuíço.

CAPÍTULO3
F X Y Z x y z L H P l h p

IntroduçãoàReologia:escoamentoecaracterizaçãodemateriaiscomplexos

Demodogeral,seconsiderarmos �� = �� ( ��,��,��), �� = �� ( ��,��,��) e �� = ��( ��,��,��), podemosescreverodiferencialtotaldascoordenadasatuaiscomo:

Emnotaçãomatricial,podemosreescreveraEq.(3.1)como:

Emnotaçãovetorial,escreve-se:

F éotensorgradientededeformação.Essaentidadenãoésóimportanteporquecomputa adeformaçãodeummaterialemrelaçãoaoseuestadoinicial,queéessencialparao desenvolvimentodasequaçõesconstitutivasdosmateriais,mastambémporquefaz omapeamentoentrecoordenadas.Defato,paraodesenvolvimentodasequaçõesde conservação,comcertarobustezmatemática,aideiadetransformaçãodecoordenadas éessencial,poisémuitoútilrelacionarovolumedoelementomaterialnoestadoatual ������ comseurespectivovalornoestadodereferência ������ .Então,vamosconsideraros vetores l, h e p queformamovolume ���������� noestadoatualeguardamrelaçãodireta comosvetores L, H e P doestadodereferência,devolume ���������� .Ovolumeelementar doestadoatualpodesercomputadopelaEq.(3.4):

Agora,parafazersurgirovolumedoelementonodomíniodereferência,precisamos escreverascoordenadasdosvetores l, h e p emfunçãodascoordenadasde ������.Issoé obtidoatravésdogradientededeformação F,daseguinteforma:

38
���� = ���� ���� ���� + ���� ���� ���� + ���� ���� ���� ���� = ���� ���� ���� + ���� ���� ���� + ���� ���� ���� ���� = ���� ���� ���� + ���� ���� ���� + ���� ���� ���� (3.1)
      ���� ���� ����       =             ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ���� ����                   ���� ���� ����      
(3.2)
��x = F ��X = ������ ���� �� e��
(3.3)
���������� = (l × p)· h = �������� ���� ℎ �� �� �� = �� �� (ℎ�� �� �� ℎ�� �� �� )+ �� �� (�� �� ℎ�� ���� ℎ�� )+ ℎ �� (���� �� �� �� �� �� �� ) (3.4)

Ofluidonewtoniano

Oobjetivoprincipaldestecapítuloépartirdadefiniçãodefluidonewtonianopara chegaràsequaçõesdeNavier-Stokes,naseção4.1,queserefereàconservaçãoda quantidadedemovimentoparaumfluidonewtoniano.Emseguida,naseção4.2,defineseoqueéumescoamentodesenvolvidoeestuda-secasosparticularesemtubos.Na últimaseçãodessecapítulo,4.3,vamosdiscutironúmerodeReynolds,principalnúmero adimensionalemmecânicadosfluidos.

4.1EQUAÇÕESDENAVIER-STOKES

AequaçãodeCauchydescreveodeslocamentodeummaterialqualquerquese deformacontinuamentecomotempo.Aúnicacondiçãolimitanteéqueahipótese docontínuosejaválida.Dopontodevistaprático,aequaçãonãorepresentanenhum escoamentoreal.Oreflexodissoéqueosistemadeequaçõesdiferenciaisresultantenão éfechado,poisexistemmaisvariáveisqueequações.Acondiçãofísicanecessáriaparao fechamentodosistemaéadefiniçãodomaterialemestudo,desuaspropriedadesfísicas. Emlinguagemreológica,ummodeloconstitutivodematerialénecessário.Nestaseção, vamosabordarocasodeescoamentodefluidonewtonianoincompressível,cujomodelo constitutivoédadopelaEq.(4.1):

Onde �� éaviscosidadecisalhante.Observequecomootraçode �� énuloparaumfluido newtonianoincompressível, �� édeviatórico.

Inserindo-seaEq.(4.1)naequaçãodeCauchy,representadapelaEq.(3.50),chega-se àequaçãodemovimentomaispopulardareologia,achamada EquaçãodeNavier-Stokes:

Aqui,otensordatensõesédivididoentreumtermodepressão ∇�� eastensõesviscosas, aquelasmultiplicadaspelaviscosidade.Sendoaáguaeoarfluidostipicamentenewtonianos,aequaçãode ���� representaumnúmerovastíssimodefenômenosnaturais

CAPÍTULO4
�� = ���� (4.1)
�� ��u ���� + u ·∇u = −∇�� + ��∇2 u + ��g (4.2)

IntroduçãoàReologia:escoamentoecaracterizaçãodemateriaiscomplexos

eprocessosindustriais;portanto,suaimportânciaparaaengenhariaquasedispensa comentários.OsistemadeequaçõesdiferenciaisassociadoàEq.(4.2)éparcial,nãolinearedependentedotempo,oquetornasuasoluçãocompletaextremamentecomplexa. Soluçõesanalíticassósãopossíveisparacasoslimites,porexemplo,escoamentoscom umasériedeparticularidadessimplificadoras.Problemascomplexossãoresolvidospor meiodeabordagemnuméricae,aindasim,comrelativalimitação.AsTabs.4.1,4.2e4.3 mostramoscomponentesde ���� emcoordenadasretangulares,cilíndricaseesféricas parafluidosincompressíveis.

Tratando-sedefluidosnewtonianos,asequaçõesdeNavier-Stokessãoincontestáveis.Elasjáforamtestadasinúmerasvezesecomparadascomexperimentos,demodoa torná-lastotalmenteaceitas.Émuitocomum,inclusive,usarN-Sparacalibrarinstrumentos,principalmenteaquelescomunsemestudosdeescoamentosturbulentos(SUZUKI;KASAGI,1992;VUKOSLAVCEVIC;WALLACE,2013).

Tabela4.1 EquaçõesdeNavier-Stokesemcoordenadasretangulares(������).

58
��) �� ���� ���� + �� ���� ���� + �� ���� ���� + �� ���� ���� = ���� ���� + ������ + �� �� 2 �� ���� 2 + �� 2 �� ����2 + �� 2 �� ����2 + (4.3) ��) �� ���� ���� + �� ���� ���� + �� ���� ���� + �� ���� ���� = ���� ���� + ������ + �� �� 2 �� ���� 2 + �� 2 �� ����2 + �� 2 �� ����2 (4.4) ��) �� ���� ���� + �� ���� ���� + �� ���� ���� + �� ���� ���� = ���� ���� + ������ + �� �� 2 �� ���� 2 + �� 2 �� ����2 + �� 2 �� ����2 + (4.5)

Fluidonewtonianogeneralizado

Aquidiscutimosaprimeiraclassedefluidosnãonewtonianos.Vamosprimeiramente analisarosefeitosafinantesedilatantes,suascausaseosprincipaismodelos.Emseguida, introduziremosoconceitodeviscoplasticidadeeapresentaremososmodelosmais simpleselargamenteutilizados.Aofinaldestecapítulo,vamosfalardeadimensionais paramateriaisviscoplásticoseapontaralgumascontrovérsias.Essepontoaindanãoé pacíficonacomunidadedereologiaemerecemuitaatenção.

5.1ASPECTOSGERAIS

Aprimeiraclassedefluidonãonewtonianoeamaissimplesaserapresentadaneste livroéade fluidonewtonianogeneralizado (FNG).Oquedifereessaclassedematerial dofluidonewtonianoéofatodesuaviscosidadedependerdataxadedeformação.A viscosidadepodevariaremváriasordensdegrandezaentretaxasdecisalhamento próximasdezeroetendendoaoinfinito;portanto,qualquerprojetodeengenharia envolvendotaismateriaisdeve,obrigatoriamente,consideraressadependência.Alista defluidoscomviscosidadedependentedataxadecisalhamentoéenorme.Elesestão naturalmentepresentesemdiversosfenômenosnaturaiseemumextensonúmero deatividadesindustriais,envolvendodiferentessetores.Petróleo,neve,lama,lava vulcânicaesanguesãoalgunsexemplosdefluidoscomessanatureza.Portanto,o estudodefenômenosnaturaisenvolvendoessesmateriaispassa,obrigatoriamente,por umainvestigaçãodeseusaspectosreológicos.Há,naindústriaalimentíciaecosmética, umasériedeprocessoscomescoamentodefluidosnãonewtonianos,comomaionese, chocolate,sorveteeketchup.Aanálisereológicadessesmateriaiséessencialpara umadequadocontroledequalidade,principalmentenoquetangeacaracterizaçãoe uniformidadedosprodutos.Tratando-sedecosméticos,como shampoo ecremes,as propriedadesreológicassãocontroladascombastantecuidadoparaaadequadafunção doproduto.Vamosdiscutirissocommaisdetalhesquandofalarmosdemateriais viscoplásticos.NaTab.5.1háumalistadefluidostipicamentenãonewtonianoscuja viscosidadevariaaltamentequandoataxadecisalhamentoéalterada.

CAPÍTULO5

IntroduçãoàReologia:escoamentoecaracterizaçãodemateriaiscomplexos

Tabela5.1 Fluidostipicamentecomcomportamentonãonewtoniano.

GruposimilarFluidos

FluidosbiológicosSangue,saliva,mucopulmonar

Granulados

Alimentos

Derivadosdepetróleo

Cosméticos

Soluçõespoliméricas

Argila,lavavulcânica,neve,areiaúmida, polpadepapel,pastadecimento,lamasde perfuração

Sorvetes,chocolate,maionese,ketchup, queijos,iogurtes,manteiga,geleias,gelatinas

Óleopesado,betume,parafina,piche,graxas,lubrificantes,plásticos

Cremes, shampoos,espumadebarbear, pastadedente

MaterialderevestimentoTintas,vernizes,colas,adesivos

OutrosEmulsões,espumas,borrachas

NomodeloFNG,otensorextra-tensãotemformasemelhanteaocasonewtoniano, comaparticularidadedaviscosidade �� ser,agora,umafunçãodataxadedeformação ��, ouseja, �� = ��(��).Desprezandootermodecompressibilidade,omodeloFGNédado pelaEq.(5.1):

AEq.(5.1)contemplatodososfluidospuramenteviscosos,cujasparticularidadesestão naformadafunçãoviscosidade.SeriapertinenteperguntarporqueaEq.(5.1)égeral parafluidospuramenteviscosos.Naverdade,emumaóticapuramentematemáticaa formamaisgeralde �� emfunçãode �� éadaEq.(5.2):

Pode-semostrarcomajudadealgumaspropriedadestensoriais(verteoremadeCayley Hamilton)7 queostermosdeordemmaioresouiguaisatrêspodemserescritosem

7Bird,ArmstrongeHassager(1987),Rivlin(1955).

72
�� = ��(��)��
(5.1)
�� = ��1 (��)�� + ��2 (��)�� 2 + ��3 (��)�� 3 +··· (5.2)

Fluidosviscoelásticos

Atéaquisótratamosdefluidospuramenteviscosos.Oúnicoefeitonãonewtoniano abordadofoiadependênciadaviscosidadecomataxadedeformaçãoeatensãolimite deescoamentoemmateriaisviscoplásticossimples,aquelestotalmenteindependentes dotempo.Agoravamosanalisardeformasucintaocomportamentodemateriaisviscoelásticos,maisparticularmenteosfluidosviscoelásticos.Ocapítuloseiniciacomuma brevediscussãosobrealgunsaspectosgeraisdemateriaisviscoelásticos.Nasequência,vamosapresentaralgunsmodelosviscoelásticoslineares,antesdefalardetestes oscilatórios,muitodifundidosemreologia.Ocapítuloseencerracomapresentaçãode algunsmodelosnãolinearessimples(modeloscomderivadaconvectada)eumabreve discussãosobrenúmerosadimensionaisemescoamentodemateriaisviscoelásticos.

6.1ASPECTOSGERAIS

Vamosapresentarediscutirnestaseçãoalgunsefeitosviscoeláticoseacomplexidade adicionalàformulaçãofísicaesoluçãodeproblemasqueabordamescoamentodefluidos comnaturezahíbrida:viscosaeelástica.Trêsmanifestaçõesreológicasimportantes comumenteobservadasemmateriaisviscoelásticossãoasdiferençasdetensõesnormais, viscosidadecisalhanteafinanteeviscosidadeextensionaldilatantequeapresentaremos emseguidadeformasucinta.Essasgrandezasreológicasserãomelhorcompreendidas naseção6.4quetratademodelosviscoelásticosnãolinearessimples.Outroaspecto importantedemateriaisviscoelásticoséadependênciatemporalqueseráintroduzida naseção6.2,demodelosviscoelásticoslineares.

Ograudeelasticidadedeummaterialviscoelásticopodeserinferidopormeio dachamada diferençadetensõesnormais emcisalhamentosimples,comoilustradona Fig.6.1.Imaginequeseapliqueumatensãocisalhante ������ emummaterialqualquer, comorepresentadonareferidafigura.Asdireções ��, �� e �� correspondemàdireção doescoamento,direçãodavariaçãodavelocidadeedireçãoneutra(oudireçãoda vorticidade),respectivamente.Oscomponentesdevelocidadesão �� �� = ����; �� �� = 0; �� �� = 0.Onde �� éataxadecisalhamento.Seomaterialtivernaturezaelástica,tensões normais(������ ,������ e ������ )surgirãoespontaneamente.Emreologia,costumam-sedefinir duasdiferençasdetensões:

CAPÍTULO6

108

IntroduçãoàReologia:escoamentoecaracterizaçãodemateriaiscomplexos

Emque ��1 éachamada primeiradiferençadetensõesnormais e ��2 a segundadiferença detensõesnormais.SeomaterialcisalhadoforNewtoniano, ��1 e ��2 sãoiguaisazero, enquantoemfluidosviscoelásticos,asdiferençassão,emgeral,nãonulas.Émuito comumdividirastensãonormaispor �� 2 edefiniroschamadoscoeficientesdetensões normais:

Onde ��1 édenominadode primeirocoeficientedetensõesnormais e ��2 de segundo coeficientedetensõesnormais ��1 e ��2 ,eaviscosidadecisalhante, �� = ������ /��,sãofunções materiaisobtidasemescoamentosviscométricos.Parabaixastaxasdedeformação, ��, ��1 , e ��2 sãoaproximadamenteconstantesesurgemnaturalmentedomodeloCEF(CriminaleEricksen-Filbey)(CRIMINALE;ERICKSEN;FILBEY,1957),discutidonaseção6.4.1.

Figura6.1 Diferençasdetensõesnormais.

. ��1 = ������ ������
��2 = ������ ������
(6.1) e
(6.2)
��1 = ������ ������ �� 2
e ��2 = ������ ������ �� 2
(6.3)
(6.4)
τxy τxx τyy τzz N1 = τxx τyy N2 = τyy τzz

Fluidoselasto-viscoplásticos

Nestecapítulo,discutiremososmateriaiselasto-viscoplásticos(EVP),que,comoo nomeindica,apresentamtantocomportamentoplásticoquantoelástico.Umgrande númerodemateriaisreaiscomtensãodecedênciaseenquadramnessacategoria.Aqui, mostramosquemodelosviscoplásticosinelásticosnãosãocapazesdecapturaralguns fenômenosfísicostípicosdessesmateriais,mesmoquequalitativamente.Aofinal, faremosumasucintaintroduçãoaosmodeloselasto-viscoplásticoseossepararemosem duascategorias.

7.1ASPETOSGERAIS

Háumaabundânciademateriaisencontradosnanaturezaeemprocessosindustriaisqueapresentamcomportamentosaltamentenãonewtonianos,comoafinamento, dilatação,plasticidadeeelasticidade.Umaimportanteclassedetaismatareissãoosfluidosestruturados(MENDES,2011;MENDES;ABEDI;THOMPSON,2018),eexemplos incluemargilas,ligasmetálicasleves,lava,produtosalimentícios,produtosfarmacêuticos,cremes,géiseloçõescosméticas,tintas,fluidosbiológicos,lamadeperfuração, cimentofresco,petróleobrutogelificado,algunslubrificantes,emulsões,suspensões, espumaseváriostiposdepastas.Embaixosníveisdetensão,essesmateriaissecomportamcomoumsólidoviscoelástico.Quandosubmetidosaumatensãoacimadatensão decedência,ocorreumgrandecolapsodesuamicroestrutura,resultandoemquedas significativasdeviscosidadeeelasticidade(MENDES,2011).Taismateriaissãoditos elasto-viscoplásticos.Umadependênciadaviscosidadecomotempodecisalhamento tambéméfrequentementeobservada.Nessecaso,aquedadeviscosidadenãoocorre instantaneamente,eosmateriaissãoditostixotrópicos(MENDES,2011).Atixotropiaé discutidanoCapítulo8,eaanálisedesenvolvidanopresentecapítuloéabaseparao desenvolvimentodosmodeloselasto-viscoplásticostixotrópicos.

Porcontadasváriasmanifestaçõesnãonewtonianaspossíveis,acompreensãoe modelagemdeescoamentosdemateriaiselasto-viscoplásticoséumatarefacomelevadograudecomplexidade.Emcertoscasos,osefeitoselásticospresentesemmateriais viscoplásticosreaissãoconsideradospequenose,portanto,sãocomumentedesprezadosparasimplificaramodelagem.Modelosviscoplásticosinelásticos(discutidosno Capítulo5)demateriaisidealizadoscomoomodelodeBinghamsãonormalmenteem-

CAPÍTULO7

IntroduçãoàReologia:escoamentoecaracterizaçãodemateriaiscomplexos

pregados.EsseéocasodoCarbopol,umasoluçãoamplamenteutilizadaparaimitaro comportamentodeummaterialviscoplásticoideal.OCarbopolapresentaalgumascaracterísticascomobaixocusto,facilidadedepreparação,transparênciaepouquíssimo comportamentoelásticoabaixastaxasdecisalhamento(BALMFORTH;FRIGAARD; OVARLEZ,2014;POURZAHEDI;ZARE;FRIGAARD,2021).Contudo,algunsresultados observadosexperimentalmentecomCarbopolnãosãoprevistos,nemmesmoqualitativamente,commodelosinelásticos,comoéocasodaascensãodebolhasemCarbopole oescoamentodeCarbopolporumaexpansão/contração(LOPEZ;NACCACHE;MENDES,2018;POURZAHEDI;ZARE;FRIGAARD,2021).

Nocasodasbolhas,oformatodelágrimainvertidaobservadoemfluidosviscoelásticos(BIRD;ARMSTRONG;HASSAGER,1987)tambémécomumenteobservadoemCarbopol,masnãoemfluidosinelásticos(DUBASH;FRIGAARD,2007);portanto,simulaçõesnuméricascommodelosviscoplásticosinelásticosnãosãocapazesdereproduzi-lo, nemmesmoqualitativamente(DIMAKOPOULOS;PAVLIDIS;TSAMOPOULOS,2013).O formatodelágrimainvertidaobservadoemCarbopolédevidoàsuaelasticidade,mesmo quepequena(POURZAHEDI;ZARE;FRIGAARD,2021).

AFig.7.1esquematizaoformatodeumabolhaascendendoemumfluidonewtoniano, emumviscoplásticoinelástico,emumviscoelásticoeemumelasto-viscoplástico.No casodofluidonewtoniano(primeiraimagem),osefeitosinerciaistornamabolhaoblata. Nosoutroscasos,osefeitosplásticoseelásticostornamabolhaprolata.Oformatode lágrimasóéobservadoemcasosnosquaisefeitoselásticosestãopresentes(terceira equartaimagens).Noscasosemqueomaterialapresentaumatensãodecedência (segundaequartaimagens),aregiãoempretoindicaaregiãonãocisalhadadomaterial externo,enquantoqueaembrancoindicaacisalhada.Observequeaelasticidade influenciatantonoformatodabolhaquantonoformatodaregiãocisalhada.

Figura7.1 Ascensãodebolhaemummaterialnewtoniano,viscoplásticoinelástico,viscoelástico eelasto-viscoplástico.

148
Newtoniano Inelástico Viscoplástico Viscoelástico Elasto-viscoplástico Região não cisalhada Região cisalhada

Nestecapítulo,vamosdiscutirumfenômenoextremamenteimportanteemreologia: a tixotropia,queimpõeaomaterialumafortedependênciacomotempo.Inicialmente, vamosabordaralgunsaspectosgeraisantesdediscutircomumpoucodemaisdetalhes aestruturademateriaistixotrópicos.Porfim,vamosbrevementefalardemodelosde materiaistixotrópicos—naverdade,osprimórdiosdamodelagemdetixotropia.

8.1DEFINIÇÃOEASPECTOSGERAIS

Diversosmateriaismanifestamocomportamentonãonewtonianoconhecidocomo tixotropia,que,deformabemsimples,estárelacionadoàquedadaviscosidadecomo tempoenquantosemantémataxadecisalhmentoconstante.Umadasprimeirasobservaçõesdessefenômenonosremontaa1923,quandoSchalekeSzegvari(BAUER;COLLINS,1967)observaramqueumamisturadeóxidodeferroemágua,umgelemrepouso, tornava-secompletamentelíquidaquandoagitadalentamenteesesolidificavadenovo quandoemrepousoporumtempo.Éimportanteenfatizarqueessecomportamento cíclico,reversível,équecaracterizaatixotropia.

UmaboarevisãodosconceitosbásicosemtixotropiaestáemBarnes(1997).Segundo oautor,otermotixotropiafoicunhadoporPeterfiem1927(vejacitaçãonoreferido artigo),noprimeirotrabalhoquedescrevepropriamenteofenômeno.Otermovemdo grego thixis,quesignifica chaqualhar,e trepo,quesignifica mudar.Maisdetalhadamente, pode-sedizerquetixotropiasecaracterizaporumamudançareversíveldeummaterial inicialmenteemestadodegel,quandosubmetidoaumataxadedeformaçãoconstante, paraummaterialmaisfluido,commenorviscosidade,eretornaàcondiçãoinicialde gel,maisviscoso,quandoemrepouso.

Emgeral,ummaterialtixotrópicoéumasuspensão.18 Nanatureza,sãováriosos materiaiscomessacaracterística,comoneve,lama,lavavulcânica,pastadecimento, fluidosabrasivosetc.Comumente,osmateriaisqueexibemcaracterísticasviscoplásticas tambémsãotixotrópicos.ModeloscomodeBinghameHerschel-Bulkley,porexemplo, caracterizariamapenasocomportamentodomaterialemregimepermanente.

18 Umamisturadelíquidocomalgummaterialparticulado.

CAPÍTULO8 Tixotropia

Figura8.1 Quedadaviscosidadecomotempocomimposiçãodetrêstaxasdecisalhamento.

AFig.8.1ilustraocomportamentodaviscosidadedemateriaistixotrópicos.Quando ataxadecisalhamentoémantidaconstante,aviscosidadecaicomotempoatéatingirum regimepermanente.Otemponecessárioparachegaraoregimepermanenteaumentaà medidaquesereduzataxadecisalhamento.NaFig.8.1, ���� estáassociadoa ����.Noteque ��1 > ��2 > ��3 e ��1 <��2 <��3 .Vamosdiscutircommaisdetalhesaestruturadosmateriais tixotrópicos,emgeralviscoplásticos,maisadiante,masjápodemosadiantarqueo temponecessárioparaoregimepermanenteseratingidoestárelacionadoàacomodação estruturaldomaterialque,comoveremos,normalmenteémodeladacomoumafunção fortedataxadedeformação.

Rigorosamente,algunsautoresdefendemqueaestruturaéfunçãonaverdadeda tensão(MENDES;THOMPSON,2012),apesardeamaioriadosmodelosaconsiderarem umafunçãodataxadedeformação.Esseémaisumtemainteressanteemconstante discussãonaliteraturaatualemreologiaeserábrevementeabordadonaseção8.3.

Figura8.2 Quebraereconstruçãodeestrutura.

160
IntroduçãoàReologia:escoamentoecaracterizaçãodemateriaiscomplexos

Acaracterizaçãominimamenterigorosadosmateriaisnãonewtonianosnãoé,na maioriadasvezes,umatarefatrivial,mesmocomequipamentoemboascondiçõesde trabalho—diga-sedevidamentecalibrado.Oreólogodeveestaratentoaosdiversosaspectosimportantes,comodependênciadaspropriedadesdomaterialcomotempoe deslizamentodaamostra,sóparacitardoispontosfundamentais.Veremosnestecapítulo,deformabrevemascuidadosa,algunsdetalhesfundamentaisparacaracterização reológicademateriaiscomplexos.Discutiremossobreosdiferentestiposdereômetrose geometrias,bemcomoalgunsdetalhesdecontroledetesteecuidadoscomapreparação dasamostras.

9.1REOMETRIAROTATIVA

Semdúvidaoprincipalequipamentodeumlaboratóriodereologiaéoreômetro rotativo,doqualseextraemasdiversaspropriedadesreológicasdefinidasemescoamento simplesdecisalhamento(cisalhamentoemapenasumplanoelivredeextensão).Um esquemadereômetrorotativotípicoestárepresentadadonaFig.9.1.

Figura9.1 Esquemadeumreômetrorotativo.

CAPÍTULO9 Reometria

IntroduçãoàReologia:escoamentoecaracterizaçãodemateriaiscomplexos

Oprincipalelementodoequipamentoéacabeçacomcontroledevelocidadeangular, torqueeforçasnormais.Diferentesrotorespodemserconectadosàcabeça,queémóvel paraocontroledoespaçamento �� entreorotorebasedoreômetro,ondedeposita-sea amostra.Ostestessãoemgeralconduzidoscomcontrolerigorosodetemperatura,com ajuda,porexemplo,deumbanhotérmicoe,àsvezes,deumacélulaPeltier.

Comomencionado,comoreômetrorotativo,medem-seaspropriedadesreológicas, tambémchamadasdefunçõesmateriais,emcisalhamentosimples.Valeapenalembrar aquique,emumescoamentocisalhante,oscomponentes21 dadiagonaldotensortaxade deformaçãosãonulos.Nocasoespecial,decisalhamentosimples,noqualamaioriada reometriaseenquadra,sóhádeformaçãoemumúnicoplano.Paraocasoparticularem coordenadascilíndricas(������),esquematizadasnaFig.9.1,otensortaxadedeformaçãoé comosesegue:

Onde �� ���� = ���� �� /���� �� ,sendo �� �� = ����(��) ocomponentedevelocidadenadireção ��,perpendicularaoplanodafigura.Usandoapenasgeometriassimples,queserão discutidasnaseção9.1.2,sabe-se apriori arelaçãoentreaintensidadedataxade deformação �� comavelocidadeangular �� e,ainda,atensão �� naamostracomotorque cisalhante, �� ,aplicadonorotor.Emresumo,tem-se:

Conhecendoatensãosobreaamostraeintensidadedataxadedeformação,pode-se mediraprincipalfunçãomaterialemcisalhamento,ouseja,aviscosidadecisalhante, ��, definidacomo:

Medindoessasduasentidadesfundamentais,tensãoetaxadedeformação,pode-seconduzirdiversostestesemreometriarotativa.Osmaiscomunssãocurvasdeviscosidade outensãoemfunçãodataxadecisalhamentooutempo.

9.1.1Controledetensãoecontrolededeformação

Éinteressantedestacarqueostiposdecontroledividemosreômetrosemduascategorias:a)reômetroscomcontroledetensão;b)reômetroscomcontrolededeformação.

21 Nosistemadecoordenadastípico,oqualestáalinhadocomadireçãodavelocidade,direçãovariação davelocidadeedireçãoneutra.

176
�� =       000 00 �� ���� 0 ������ 0      
(9.1)
�� = �� (��,������������������) ; �� = ��(��,��,������������������) (9.2)
�� ≡ �� �� (9.3)

Introdução à reologia: escoamento e caracterização de materiais complexos é dedicado à iniciação de engenheiros, físicos, químicos e matemáticos à reologia, ciência que estuda o escoamento e deformação dos materiais em estado líquido ou sólido.

A motivação para escrever este livro veio da experiência do prof. Edson Soares ao longo de 20 anos ministrando a disciplina de Introdução à Mecânica dos Fluidos não Newtonianos no programa de pós-graduação em engenharia mecânica da Universidade Federal do Espírito Santo, além da condução de pesquisas relacionadas à reologia.

Este livro, um dos raros textos em reologia em língua portuguesa, é dedicado aos estudantes de graduação e de pós-graduação com experiência básica em mecânica dos fluidos, capacitando-os para se engajarem em pesquisas numéricas ou experimentais no campo da reologia.

É importante ressaltar que a obra reflete a perspectiva e estilo únicos dos autores, influenciados por suas próprias limitações e preferências conceituais e estéticas.

A reologia é uma ciência relativamente jovem, com menos de um século de existência, e há ainda muitas controvérsias que dividem a comunidade em grupos com tendências distintas.

O Introdução à reologia não é totalmente imparcial e aborda algumas das controvérsias existentes, claramente comunicando a posição dos autores, alicerçada em suas próprias vivências e contribuições científicas.

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