As Aventuras Psicanalíticas do Inspetor Canal

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impulsiva, e ele encontrava-se

Há um novo detetive na cidade que não apenas soluciona crimes – ele muda vidas! As aventuras psicanalíticas do Inspetor Canal inclui três intrigas que misturam questões psicanalíticas, mistérios históricos e questões contemporâneas. Por exemplo, em “O caso do objeto perdido”, o maestro da Filarmônica de Nova York fica obcecado com o roubo do movimento lento de uma valiosa partitura original em seu escritório no Lincoln Center. Já “O caso da fórmula pirateada” relata como uma durona mulher de negócios está determinada a não deixar que uma falsificação chinesa do famoso licor verde Chartreuse, que sua companhia distribui, inunde o mercado americano. Os temas psicanalíticos amor, desejo e perda se entrelaçam na medida em que relacionamentos importantes se estabelecem entre Canal e aqueles que ele assiste.

PSICANÁLISE

à beira de colocar para fora tudo o que estava sentindo quando algo começou a pulsar em seu peito. No início ele pensou que suas emoções estavam brotando com tanta força que seu coração estava saindo de controle, mas a periodicidade da pulsação

Bruce Fink PSICANÁLISE

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“ Sua natureza era

As aventuras psicanalíticas do Inspetor Canal

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É psicanalista lacaniano praticante e supervisor formado na França pelo instituto psicanalítico que Jacques Lacan criou pouco antes de sua morte, a École de la Cause freudienne de Paris. Traduziu várias obras de Lacan para o inglês, incluindo Écrits: the first complete edition e On feminine sexuality, the limits of love and knowledge, e é autor de numerosos livros sobre Lacan, incluindo A clinical introduction to lacanian psychoanalysis, Lacan to the letter, Against understanding e Fundamentos da técnica psicanalítica.

Fink

Bruce Fink

As aventuras psicanalíticas do Inspetor Canal

lembrou-lhe que tinha ajustado seu telefone para vibrar, e que provavelmente alguém na central estava ligando para ele.

Excerto “O caso do aperto de liquidez”


As Aventuras Psicanalíticas do Inspetor Canal

Bruce Fink Tradução

Patrícia Fabrício Lago


Authorised translation from the English language edition published by Karnac Books Ltd. As aventuras psicanalíticas do Inspetor Canal Título original: The Adventures of Inspector Canal © 2010 Bruce Fink © 2017 Editora Edgard Blücher Ltda. Imagem da capa: iStockphoto Equipe Karnac Books Editor-assistente para o Brasil Paulo Cesar Sandler Coordenador de traduções Vasco Moscovici da Cruz Revisão gramatical Beatriz Aratangy Berger Conselho consultivo Nilde Parada Franch, Maria Cristina Gil Auge, Rogério N. Coelho de Souza, Eduardo Boralli Rocha

F I C HA C ATA L O G R Á F I C A Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4o andar 04531-934 – São Paulo – SP – Brasil Tel.: 55 11 3078-5366 contato@blucher.com.br www.blucher.com.br Segundo o Novo Acordo Ortográfico, conforme 5. ed. do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Academia Brasileira de Letras, março de 2009. É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios sem autorização escrita da editora. Todos os direitos reservados pela Editora Edgard Blücher Ltda.

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Fink, Bruce As aventuras psicanalíticas do Inspetor Canal / Bruce Fink ; tradução de Patrícia Fabrício Lago. — São Paulo : Blucher, 2017. 432 p. ISBN 978-85-212-1154-9 Título original: The Adventures of Inspector Canal 1. Ficção norte-americana 2. Psicanálise – Ficção I. Título. II. Lago, Patrícia Fabrício. 16-1470

CDD 813.6

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção norte-americana

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ConteĂşdo

O caso do objeto perdido 7 O caso da fĂłrmula pirateada 133 O caso do aperto de liquidez 293


O caso do objeto perdido

“O homem roubado que sorri rouba alguma coisa do ladrão; O que chora, a si mesmo rouba outra porção.” Shakespeare

Chovia muito e as luzes já haviam vacilado duas vezes quando o telefone tocou no amplo escritório do apartamento do inspetor Canal em Manhattan. Após dois toques, a frase jamais deux sans trois ocorreu a Canal. Ele refletiu que a expressão mais próxima em inglês, “a terceira vez é a mágica”, era otimista. Já a expressão francesa era definitivamente pessimista: se algo aconteceu duas vezes, estava condenado a acontecer uma terceira. Os franceses e os americanos, Canal refletia enquanto o telefone continuava tocando, eram uma aula de contrastes, tão opostos como poderiam ser. Não somente em suas assim chamadas características nacionais – a diferença forjava-se já em seus idiomas.


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o caso do objeto perdido

Tocqueville, Canal refletiu, poderia ter se poupado de uma longa e perigosa viagem de barco e gasto o tempo de forma mais proveitosa estudando as expressões idiomáticas norte-americanas… Quando Canal acordou de seus devaneios e deu-se conta de que o mordomo que geralmente atendia ao telefone estava de folga, a ligação já havia caído. Mas no momento em que o supostamente aposentado inspetor do Serviço Secreto Francês voltou a sentar-se para se concentrar no curto artigo sobre negação que analisava, o telefone começou novamente a tocar. Dessa vez ele sem demora apanhou o aparelho. “Dr. Canal?”, perguntou a voz. “Sim?” “É o Olivetti”, afirmou a voz. “Está desaparecido! O–.” “Olivetti está desaparecido?” A comunicação entre Canal e Olivetti, o inspetor do Departamento de Polícia de Nova York, sempre foi levemente dificultada pelo forte sotaque francês de Canal, em que “x” geralmente soava como “cz”, e “e” como “é”. Mas hoje o inspetor divertiu-se à custa de Olivetti, fingindo entender que o “está” referia-se ao próprio. O francês sempre instava o americano a prestar atenção à forma como as pessoas se expressavam, em oposição ao que elas tentavam comunicar. Mas Olivetti prestava pouca atenção às explicações de Canal, considerando que a forma como algo era dito não tinha importância. “Não, não Olivetti”, respondeu o americano, inquieto, “Aqui é o Olivetti”. “Enton quem está desaparecido?”, perguntou Canal.


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“Ninguém. É um movimento”. “O que é um movimento?” “Um movimento está desaparecido”, Olivetti tentou explicar. “Um movimento?” Canal perguntou confuso. “Movimento de quem?” “Se eu soubesse, não estaria ligando para o senhor”. “J’y perds mon latin”, Canal resmungou. “O senhor bebeu, inspetor?” “Não, claro que não.” “Então talvez devesse beber. Fale com algum sentido, homem! De que tipo de movimento estamos falando?” “Um movimento em uma peça, me disseram”, Olivetti respondeu. “Uma o quê?” “Uma peça: P-E-Ç-A”. “Que tipo de peça?”, perguntou Canal, mais confuso do que nunca. “Uma peça de teatro? Peça de algum equipamento?” “Equipamento? Não, nada assim!”, lamuriou o americano. “É algum tipo de peça musical, uma partitura”. “Ah, uma partitura!” Canal começou a ver a luz. “O que o senhor quer dizer, está faltando um movimento?” “Alguém tomou”.


O caso da fórmula pirateada

“Palavras podem ser distorcidas, mas chegam ao âmago. Coisas ostentam e escondem.” O Livro das Mutações

Não era como se Canal, o supostamente aposentado inspetor do Serviço Secreto Francês que vivia nos Estados Unidos havia vários anos, não tivesse sido avisado. Ferguson, seu criado, havia deixado muito claro que Olivetti, agente da polícia de Nova York, telefonara várias vezes declarando que estava preparado para acampar na porta do francês, se necessário. Tendo acabado de voltar de uma semana revigorante esquiando por trilhas na Nova Inglaterra, o vivaz inspetor não estava muito ansioso para ver o detetive sisudo, cuja aparência pálida e doentia remetia a escritórios sem janelas, iluminados apenas por luzes fluorescentes, ruas abarrotadas de veículos poluentes de diversos tamanhos e toxicidades – em resumo, Nova York no auge do inverno. Se as notícias que passavam na televisão eram confiáveis, nevava muito nos Alpes, e não fosse pelo


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o caso da fórmula pirateada

número recorde de esquiadores nos picos cobertos de neve, Canal poderia ter sido tentado a deixar Olivetti em apuros. Naquela situação, pensar em resorts de esqui abarrotados, em que teria que entrar em filas para conseguir um bom copo de vinho do Porto pós-ski, ajudou Canal a resignar-se à ideia de passar fevereiro em Manhattan, apesar do som horrivelmente estridente das sirenes de polícia que invadiam seu apartamento. “Seria bom tomar alguns dedos de vinho do Porto agora,” Canal pensou consigo mesmo, e com isso encheu um copo pequeno e afundou melancolicamente em um confortável sofá de couro Chesterfield.

I Quando, alguns minutos depois, Ferguson abriu a porta do escritório de Canal e anunciou a chegada dos convidados, o francês tomava sua bebida, perdido em pensamentos. Contra todas as probabilidades, Olivetti apareceu com uma belíssima consorte a reboque. Canal imediatamente se levantou, e Olivetti apresentou como Sra. Errand sua curvilínea companheira com cabelos loiros avermelhados. Ela estendeu sua mão direita coberta de joias em direção a Canal que, percebendo com uma olhadela seu vestuário austero, profissional, optou por um simples aperto de mão, em vez de seu habitual baisemain. Ao apertar a mão de Olivetti, proferindo o costumeiro “Prazer em vê-lo novamente, inspetor,” observou o contraste marcante do refinamento e qualidade das roupas de Errand em comparação com as do inspetor, e concluiu que aquela mulher requintada provavelmente não era amante de Olivetti. Convidando seus visitantes a acomodarem-se no sofá em frente à mesa de café, perguntou, como era de praxe – no universo do


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Canal, hospitalidade sempre tinha precedência sobre os negócios –, se gostariam de juntar-se a ele em um copo de vinho do Porto ou alguma bebida similar. Nenhum deles aceitou sua oferta, e como eram quase quatro horas, ele rapidamente propôs que poderiam tomar um pouco de chá. Errant de imediato aceitou, e Olivetti a seguiu. Canal chamou Ferguson. “Chá para três, por favor,” pediu, e voltou-se para seus visitantes declarando-se todo ouvidos. Olivetti abriu a boca, mas Errand adiantou-se. “Vim vê-lo,” começou, “porque não consigo obter qualquer resultado do Departamento de Polícia de Nova York ou da Alfândega no Departamento de Segurança Interna.” Ao ouvir isso, Olivetti revirou os olhos, implorando indulgência de Canal. Canal acenou com a cabeça, o que foi interpretado de forma diferente pelas duas partes sentadas lado a lado no sofá. “Sou vice-presidente de vendas para a América do Norte da YVEH Distribuidores,” continuou Errand. “Importamos vinhos e outras bebidas finas de todo o mundo, incluindo o licor Chartreuse, da França. O senhor já ouviu falar dele, Canal?” “É Dr. Canal, não Canal tout court.” “Canal o quê?” ela perguntou. “Asenhora. não fala francês?” Canal perguntou, fingindo incredulidade. “Un petit peu,” Errand respondeu, com um sotaque muito forte. “Não apenas Canal,” explicou Canal. “Não estamos em um vestiário de futebol ou em sua sala de reuniões na OY-VEY.” Errand


O caso do aperto de liquidez

“Onde eles amam, não desejam, e onde desejam, não podem amar.” Freud

A comoção em torno do prefeito de Nova York ainda estava forte quando o inspetor Ponlevek, que estava investigando as  acusações fiscais contra o político, entendeu que o caso estava além da sua capacidade. Seu colega mais velho no Departamento de Polícia de Nova York, o inspetor Olivetti, estava investigando as acusações sexuais contra o prefeito Trickler, e o próprio Ponlevek fora designado para determinar se grandes quantidades de fundos públicos tinham ou não sido desviadas. Mas as contas municipais acabaram por ser tão complexas – e, na realidade, tão bizarras – que, depois de incontáveis horas ​​ gastas com contadores e tesoureiros até a alta madrugada, ele havia jogado a toalha e feito a ligação.


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o caso do aperto de liquidez

Uma ou duas vezes no passado ele estivera inclinado a fazê-lo, mas nunca o fez – por preguiça, disse a si mesmo. Algum tempo antes, o inspetor Olivetti lhe dera o cartão de visitas de um excêntrico francês que vivia em Nova York, supostamente aposentado do serviço secreto francês, um certo Quesjac Canal. Esse maluco inteligente e abastado ajudara Olivetti a resolver alguns casos que, do contrário, teriam se provado insolúveis. No entanto, houve algo de estranho no teor da recomendação de Olivetti, como se alguma coisa no inspetor aposentado o perturbasse. Mas para onde mais Ponlevek poderia recorrer sem parecer um tolo perante o chefe do escritório? Era uma fria quarta-feira de inverno quando o inspetor Ponlevek discou o número. Um inglês, que pareceu um mordomo aos ouvidos atônitos do inspetor, atendeu primeiro, e saiu em busca do homem da casa. Alguns momentos mais tarde, alguém veio ao telefone. “Allô, oui?” “Inspetor Canal?” Ponlevek perguntou. “Sim, o prrrróprio,” a voz respondeu com um forte sotaque francês. “Cê teria um tempin’ pra falar comigo hoje di manhã?” Ponlevek perguntou, com seu igualmente forte sotaque de Nova York. “Sou amigo do inspetô Olivetti.” “Olivetti, oui je me souviens de lui. Por que você não vem imediatamente? Eu estava me perguntando quando vocês ligariam.”

I Minutos depois, Ponlevek estava a caminho, esperando pelo pior. Pelo menos ele não teria que contar toda a história a Canal,


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já que estava em todos os noticiários: o Prefeito Trickler tinha sido visto deixando uma luxuosa academia de ginástica que era bem conhecida pela polícia como sendo uma “casa de massagem” para a alta classe. Os menos lascivos falavam discretamente sobre as supostas massagens feitas no local, prescritas por médicos, que terminavam com uma pressão lubrificada, como era chamada, enquanto os mais esclarecidos ou escabrosos faziam referências pouco veladas às inúmeras atividades e cenários sexuais disponíveis na casa por uma ampla gama de altos preços. Ponlevek poderia, é claro, dizer ao francês algo que poucas pessoas sabiam: o departamento de polícia de Nova York nunca tinha obtido provas suficientes para fechar o lugar, mas eles estavam convencidos de que jovens mulheres estrangeiras estavam sendo trazidas para o país e forçadas a prestar serviços na casa. A polícia suspeitava que algumas delas “trabalhavam” por anos para pagar seu voo para os Estados Unidos e sua documentação de trabalho – documentação que nunca era realmente entregue para as infelizes mulheres, mas mantida em segurança na academia de ginástica, onde podia ser obtida sempre que um mandado de busca exigia que fosse apresentada. Uma operação policial estava em andamento quando Tobias Trickler, o queridinho prefeito de Nova York, inesperadamente deixou o local. Isso levou o inspetor Olivetti, que estava dirigindo a operação, a uma espécie de pânico, já que o prefeito fora um chefe bastante generoso para ele durante os últimos sete anos. Em vez de pegar o funcionário público no local e arriscar um escândalo, Olivetti decidira, em uma fração de segundo, manter documentada em vídeo a visita do prefeito e discuti-la com ele mais tarde, talvez a utilizando para persuadir o prefeito a ajudar a polícia a descobrir quem gerenciava a suposta academia de ginástica e a fechá-la de uma vez por todas.


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impulsiva, e ele encontrava-se

Há um novo detetive na cidade que não apenas soluciona crimes – ele muda vidas! As aventuras psicanalíticas do Inspetor Canal inclui três intrigas que misturam questões psicanalíticas, mistérios históricos e questões contemporâneas. Por exemplo, em “O caso do objeto perdido”, o maestro da Filarmônica de Nova York fica obcecado com o roubo do movimento lento de uma valiosa partitura original em seu escritório no Lincoln Center. Já “O caso da fórmula pirateada” relata como uma durona mulher de negócios está determinada a não deixar que uma falsificação chinesa do famoso licor verde Chartreuse, que sua companhia distribui, inunde o mercado americano. Os temas psicanalíticos amor, desejo e perda se entrelaçam na medida em que relacionamentos importantes se estabelecem entre Canal e aqueles que ele assiste.

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É psicanalista lacaniano praticante e supervisor formado na França pelo instituto psicanalítico que Jacques Lacan criou pouco antes de sua morte, a École de la Cause freudienne de Paris. Traduziu várias obras de Lacan para o inglês, incluindo Écrits: the first complete edition e On feminine sexuality, the limits of love and knowledge, e é autor de numerosos livros sobre Lacan, incluindo A clinical introduction to lacanian psychoanalysis, Lacan to the letter, Against understanding e Fundamentos da técnica psicanalítica.

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lembrou-lhe que tinha ajustado seu telefone para vibrar, e que provavelmente alguém na central estava ligando para ele.

Excerto “O caso do aperto de liquidez”


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As aventuras psicanalíticas do Inspetor Canal Bruce Fink ISBN: 9788521211549 Páginas: 432 Formato: 14x21 cm Ano de Publicação: 2017


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