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A FORMAÇÃO DO LEITOR NA PRIMEIRA INFÂNCIA

A primeira infância, que compreende os primeiros seis anos da criança, é uma fase de descobertas infinitas, em que o cérebro cria milhares de conexões por segundo e se desenvolve como em nenhuma outra fase da vida. É o período inicial de identificação e pertencimento, de autoconhecimento, do conhecimento do outro e do mundo que o cerca. Dentro dessa fase, há a subdivisão primeiríssima infância, que contempla até os três anos e onze meses de vida. Aqui, as descobertas são ainda mais intensas, a criança passa de um período extremamente dependente do outro para os seus primeiros atos de autonomia, como segurar objetos, rolar, engatinhar, andar, sair das fraldas, falar. E sobre os livros e a literatura para essa faixa etária, como tudo isso se reflete?

Os livros para a primeiríssima infância

No mercado editorial, há uma variedade de livros para crianças bem pequenas, nomenclatura usada na Base Nacional Comum Curricular para classificar as crianças com idade de um ano e sete meses a três anos e onze meses. Dentro desse grupo, estão diversos livros-brinquedo, livros com suporte cartonado, de pano, de banho e com outras características específicas. Todos esses objetos são interessantes do ponto de vista lúdico e sensorial; contudo, os livros tradicionais, com capa e folhas de papel, também devem ser oferecidos às crianças desde a mais tenra idade, para que elas conheçam o objeto livro tal como ele se apresenta socialmente e se familiarize com ele, sem que haja a confusão de que tal objeto é um brinquedo (ainda que, entre outras características, o livro também é feito para divertir, e essa é uma de suas características principais). Para melhor compreender a importância do contato da criança bem pequena com um livro de papel, é possível fazer um paralelo com a alimentação. Ninguém duvida da importância de deixá-la pegar a comida com as próprias mãos: trata-se de um estímulo para o desenvolvimento da autonomia e também do paladar. A criança fica com o rosto todo sujo e as mãos enlambuzadas; suas roupas manchadas; a cadeira, a mesa, o chão... Tudo em volta parece ficar cheio de pedacinhos de comida. E a reação das pessoas?

Pura alegria!

Mas, quando se trata de deixar uma criança pequena pegar um livro de papel com as próprias mãos, muita gente ainda hesita. E se rasgar uma página? Colocar na boca e babar em cima? Cortar a mãozinha? Comer o papel? Amassar o livro? Pois é, embora os livros sejam o alimento da alma, ainda existem aqueles que acreditam que livros e crianças bem pequenas não combinam. Afinal, elas nem conseguem entender o que está escrito, não é mesmo?! Não, não é. No processo de literacia, é fundamental que as crianças bem pequenas sejam expostas a livros de papel, com todas as suas características reais. Livros de plástico, de pano e até livros-brinquedos podem fazer parte da biblioteca da criança. Mas é com o livro de papel que a criança terá as melhores oportunidades para perceber-se como um leitor ativo inserido em uma comunidade leitora. Ao estimular o contato frequente com um objeto social real, tal como ele existe concretamente em nosso dia a dia, a criança aprenderá, gradualmente, a manipulá-lo com segurança, reconhecendo desde o início os cuidados necessários para a sua conservação. Mas o suporte do livro para a primeira infância não deve ser o único ponto a ser levado em conta: juntamente com a ilustração e o texto formam a tríade perfeita para um livro de qualidade. As cores, as formas representadas, as imagens que complementam o texto chamam a atenção das crianças que veem o adulto mediador segurando o livro, ou quando já possuem a independência de folhear os livros por si sós. Da mesma forma o texto, quando lido em voz alta, convida às crianças a entrarem no universo apresentado pela história, auxilia na construção do vocabulário, estimula a capacidade de concentração e, mais importante do que tudo isso, diverte e forma futuros leitores, contemplando o conceito de literacia. Inserir a leitura na rotina da criança, independentemente da idade, é um fator preponderante para que os pequenos aprendam a reconhecer o valor da leitura e para que a criança tenha a consciência de que esse é também um momento de diversão, mas também de aprendizado e até de reconhecimento. Por isso, é importante que sejam lidos livros de diversas temáticas, com características diferentes e que podem ora se focar em um objeto, ora na rotina, ora em um lugar, ora em uma pessoa ou um animal... as possibilidades são muitas. Com o passar do tempo, as crianças perceberão qual tipo de história e de temas preferem e passarão a eleger seus livros favoritos a partir de seus gostos pessoais.

Livros de plástico, de pano e até livros-brinquedos podem fazer parte da biblioteca da criança.

LÊ DE NOVO?!

Durante a primeira infância, as crianças gostam da repetição. Para elas, repetir um mesmo passeio, comer uma mesma comida, ouvir várias vezes uma mesma história e ler e reler o mesmo livro é uma estratégia de aprendizagem emocional e cognitiva. Por isso é muito importante reler o mesmo livro várias vezes. As crianças sempre poderão fazer uma interpretação diferente do que foi lido, observar um novo detalhe na ilustração e se sentir mais segura ao saber que já conhece o texto. Esses são pontos que podem estimular a concentração dos pequenos e fazer toda a diferença em suas vidas como leitores.