O Amor de Deus

Rodrigo Santos

O Amor de Deus

Coleção Renascer

Rodrigo Santos

O Amor de Deus

Rod rig o S a n tos

O Amor de Deus

C o o r d e naç ão G e r a l

Filipe Cabral

C o o r d e naç ão E d i t o r ia l

Carolina Fernandes

A S SI STENTE DE EDIÇÃO

Amanda Cividini C a pa

Kelly Cristina P r oj e t o G r á f ic o e D iag r a m aç ão

Everton Sousa de Paula Pessoa REV I S ÃO

Eunice dos Santos Sousa Silvestre

E d iç õ e s Sha l om Estrada de Aquiraz – Lagoa do Junco CEP: 61.700-000 – Aquiraz/CE Tel.: (85) 3308.7405 www.edicoesshalom.com.br suportecomercial@comshalom.org

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ISBN: 978-857784067-0 © EDIÇÕES SHALOM, Aquiraz, Brasil, 2013 (1ª edição)

SUMÁRIO Introdução.......................................................................................... 9 Capítulo 1 Criados pelo amor..................................................................... 13 Capítulo 2 Ah!! O amor de Deus................................................................ 21 Capítulo 3 O amor de Deus é diferente do amor dos homens............... 27 Capítulo 4 O amor de Deus e a crise de paternidade.............................. 33 Capítulo 5 Um amor sentido...................................................................... 61 Capítulo 6 O amor de Deus é paciente...................................................... 67 Capítulo 7 O amor de Deus é pessoal........................................................ 75 Capítulo 8 Um amor apaixonado............................................................... 83 Capítulo 9 Um amor misericordioso......................................................... 89 Capítulo 10 Um amor eterno e constante................................................... 95

Capítulo 11 O amor de Deus é fiel e atual................................................... 99 Capítulo 12 Amor de Deus é gratuito........................................................ 105 Capítulo 13 O amor de Jesus....................................................................... 111 Capítulo 14 No amor de Deus descobri minha felicidade!..................... 119 Capítulo 15 Parábolas do amor de Deus................................................... 127

A P R E S E N TA Ç Ã O “Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?”

(Jo 3, 4)

A

pergunta de Nicodemos não espera de Jesus simples resposta humana, seria estupidez de sua parte. Na verdade, espera preencher o espaço que o seu conhecimento ainda não havia completado. Ele quer receber o dom da fé que vem pelo anúncio do kerigma. O kerigma não é uma simples mensagem, ele vem impregnado de uma graça que dilata o coração do homem para uma experiência pessoal com Jesus Cristo, que traz como fruto o renascimento.

O conteúdo que você irá ler não tem o mesmo propósito de um curso de Teologia, nem de Bíblia, nem de doutrina, mas abre espaço para tudo isso. Propõe-se a criar um ambiente favorável para um encontro com uma pessoa viva: Jesus Cristo, a partir do qual somos introduzidos na vida nova, exatamente a mesma assumida pelos apóstolos de Jesus, santos e mártires.

Os livros da Coleção Renascer são de linguagem fácil, acessível e profunda. Os primeiros volumes apresentam os principais temas abordados nas pregações do Seminário de Vida no Espírito Santo: “Amor de Deus”, “Pecado e Salvação”, “O Senhorio de Jesus”, “Serás inteiramente do Senhor, teu

Deus” e “A Promessa do Pai”. Os escritores adquiriram a competência de escrevê-los pela experiência pessoal, o que torna cada livro um mergulho no conhecimento vivencial do amor de Deus.

Os livros são indicados para todos! Tanto para pregadores ou para quem quer começar a trilhar um caminho de vida cristã, quanto para quem precisa reacender a chama do primeiro amor, pois “Deus é a eterna novidade”.

Que o Senhor encontre espaço em você para esta apaixonante aventura no seu amor rumo a uma vida nova.

Franco Michel Galdino Assistência Apostólica da Comunidade Católica Shalom

Introdução

C

erta ocasião, tive a graça de fazer um retiro pessoal num mosteiro. Ao término do retiro, pude trocar algumas palavras com a priora, que me deixaram profundas impressões, de tal modo, que até hoje suas palavras ecoam dentro de mim.

Na época, essa religiosa tinha 60 anos de vida consagrada. Entre outras coisas, ela me disse que a maior tentação que uma pessoa pode ter, depois de anos de experiência com Deus, é achar que Deus não é mais novidade para ela, é achar que tudo que era para ter visto e ouvido da parte de Deus já viu, já ouviu e já experimentou. Como se Deus fosse um ser decodificado para ela, um livro que já leu, ou um filme que já assistiu.

As palavras da irmã foram a causa de longas reflexões sobre o tema do amor de Deus. Quando cedemos à tentação de que Deus não é mais novidade para nós, corremos diversos riscos. Nossa oração perde o fervor porque começamos a nos relacionar com um personagem do passado e não com um Deus que me ama de forma atual.

Se for um evangelizador, isso compromete o anúncio, a evangelização perde a unção e a Palavra de Deus vira um livro de literatura como qualquer outro. E o que é pior, se o amor de

Deus não for essa eterna novidade na vida, podemos buscar novidades em outros lugares longe do Seu amor.

Por outro lado, se o amor de Deus for o “novo” por excelência, a oração tem o frescor dos primeiros dias, a evangelização ganha força, unção e vida. A Bíblia vira verdadeiramente a Palavra de Deus, “luz para meus passos e lâmpada para meus pés”. O velho pode encontrar repouso na velhice e o jovem construir seu futuro.

O objetivo desse livro não é doutrinar ninguém a respeito do amor de Deus. Não é passar um conteúdo denso e sistemático sobre Ele. Não é um tratado do amor de Deus, mas um esforço desesperado de comunicar uma experiência. Nisso empreendi minha oração, imaginação, inteligência e vontade.

Como se trata de uma experiência, o livro de modo geral tem um tom testemunhal. Por isso, como você poderá ver, é recheado de experiências pessoais que vivi com o amor de Deus, bem como as que presenciei na vida de outros.

Não sei se isso é um defeito ou virtude minha como escritor, a verdade é que não sei me esconder atrás das palavras, porém, em se tratando de um livro com o objetivo de comunicar uma experiência, essa minha limitação se torna uma necessidade. Isso porque um evangelizador que deixa sua vida fora do anúncio, tem esse mesmo anúncio comprometido.

Fui tentado a pensar assim: “Acho que estou me expondo demais”. Depois disse a mim mesmo: “Se for preciso plantar bananeira, para comunicar aos outros a experiência com o amor de Deus, eu o farei. Para isso só estou usando as palavras, Jesus o fez morrendo numa cruz”. São Paulo sempre ao pregar o Evangelho, o amor de Deus manifestado em Jesus,

não deixava de fazer alusão à estrada de Damasco, onde esse amor acolhido deu novos rumos à sua historia. O apóstolo falava do que experimentou.

A linguagem do livro é simples, como simples é o amor de Deus. Ele é destinado a pastores e ovelhas de grupos de oração, bem como a todas as pessoas que desejam renovar sua experiência com esse amor gratuito, atual, eterno e misericordioso de Deus.

Caminho com o Senhor há 18 anos, de lá para cá, li muitas coisas sobre Ele, conclui um curso de Filosofia, fiz diversos retiros e aprofundamentos, porém depois de tudo isso, descobri uma coisa: Deus, ou se experimenta ou não se sabe nada sobre Ele. Talvez por isso grandes pensadores ficaram dando voltas, com altíssimas reflexões e terminaram “mudos como peixes”, ou caíram no ridículo. Tudo porque faltou a experiência, que deve ser diária e pessoal.

Tinha diante de mim, ao escrever esse livro, dois tipos de rosto. O primeiro é o daqueles que vivem errantes e não conhecem o amor de Deus. A esses quero, por meio deste livro, abraçá-los e dizer-lhes: Deus os ama! Vinha-me também insistentemente o rosto de outras pessoas: aquelas que acham que sabem muito de Deus. Elas costumam dizer: “Essa história de amor de Deus é para iniciantes, eu já sou maduro”. A essas pessoas gostaria de dizer só uma coisa: tudo que vocês experimentaram até hoje do amor de Deus não é ainda um grão de areia perto daquilo que Deus é e pode lhes dar de experiência com Ele. Se existir, depois do que você leu nessa introdução, algum resquício de preconceito, convido você a despojar-se só por alguns instantes de sua grande bagagem, de seus mui-

tos conhecimentos sobre Deus, sentar-se no chão como uma criança e deixar-se amar por Ele. Sugiro que após cada capítulo você se coloque diante de Deus e suplique a experiência daquilo que leu. Tenho certeza, Deus vai surpreender você e superar todas as suas expectativas acerca do amor dele. Boa leitura!

CapĂ­tulo 1

Criados pelo Amor

C

omo a própria Palavra de Deus se inicia falando da Criação, vamos iniciar nossa aventura em busca de uma experiência real, profunda e pessoal com o amor de Deus, falando do amor que cria. Partamos de uma belíssima citação do Catecismo da Igreja Católica:

“O desejo de Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus.

Deus não cessa de atrair o homem para Si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que procura sem descanso”.

(CIC 27)

Deus é infinitamente perfeito e num ato de total liberdade cria o homem para fazer parte de sua vida bem-aventurada.

Esta é uma revelação magnífica: Deus é infinitamente perfeito e bem-aventurado em si mesmo. A palavra bem-aventurado vem da língua grega, Macarios, que quer dizer: feliz. Deus é perfeito e feliz em si mesmo.

Deus sempre foi feliz em si mesmo, não precisa de nada, nem de ninguém para ser mais Deus, mais santo, mais perfei-

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to, mais poderoso. Podemos ingenuamente pensar que Deus é um velho mal-humorado que, cansado de ficar só, resolveu criar o homem para assim fazer companhia aos seus longos dias de eternidade.

Outro dia conversava com um pequeno grupo de crianças, quando uma perguntou-me: “Tio, Deus nos vê?” Respondi: “Claro que sim”. Ela insistiu: “Como?” Uma menininha interrompeu e disse: “Eu sei, eu sei!” “Pode dizer”, encorajei-a.

Ela começou assim: “Imagine que o mundo é uma televisão, nós somos as pessoas que passam nela, Deus é aquele que assiste, entendeu?” Não aguentei e caí na gargalhada. Posso dizer que tirei muito proveito da reflexão dessa pequena teóloga.

Fiquei pensando, não é que há mesmo pessoas que pensam assim, que Deus criou o mundo como uma grande televisão, com milhões de personagens que somos nós, em seguida passivamente fica assistindo, sem se envolver com as dores e inquietações dos homens que ele mesmo criou. Ficando ali apenas como aquele que dá audiência aos programas, por vezes, dramáticos da nossa vida.

Tradicionalmente um telespectador não pode interferir num programa, mudar o final de um filme, por exemplo; pode no máximo desligar a televisão ou mudar de canal, caso não esteja satisfeito. O telespectador sempre foi um passivo, não por opção, digo assim, por que no fundo todos gostariam de ser um deus e interferir nos finais das histórias, não deixar o mocinho morrer, matar esse deixar viver aquele. Enfim, ter a última palavra sobre o curso da história.

Nas últimas décadas, os grandes produtores de televisão perceberam esse oculto desejo no interior de cada um, e

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começaram a fazer programas que dão essa possibilidade ao telespectador. Ser um deus sem levantar-se do sofá de sua casa. Quem não se lembra daquele famoso seriado brasileiro, que teve tanta audiência em todo o país? “Você decide” era o nome do tal programa.

Muitas pessoas ligavam durante a exibição de cada episódio e votavam decidindo o destino das personagens. No dia seguinte, as pessoas comentavam nas ruas e em todos os lugares sobre o final escolhido.

Atualmente vemos os “Realities Shows”, também sucesso em todo o mundo. Cada telespectador se sente o senhor da vida e da morte. Elimina, manda para o “paredão”, diz quem fica e quem sai.

Esse recurso de manipulação das massas é antigo. Alguns imperadores romanos o usavam com maestria nas arenas de gladiadores. Quando um lutador era subjugado pelo outro, o vencedor olhava para o imperador e este fazia um gesto pedindo ao povo para decidir. Cada homem em Roma, livre ou escravo, patrício ou não se sentia, ainda que por um instante, o governador de Roma. O imperador esticava o braço, esperando o alarido da multidão ensandecida, se ela decidisse a morte, o imperador virava seu polegar para baixo e o sangue jorrava, a multidão ia a loucura vendo sua vontade obedecida como a de um soberano.

As duas visões de telespectador, o passivo que nada pode fazer, bem como o neo-telespectador, que opina, interagindo com o programa, podem ser usadas como analogia para compararmos o modo como Deus nos vê. Ele não é passivo, mas também não é um jogador que manipula as peças de um jogo segundo seu bel-prazer. Seu agir é motivado pelo amor.

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Ao contrário dos antigos imperadores romanos, não é o grito da multidão enlouquecida que condiciona o modo de Deus agir, mas seu amor. Voltemos ainda à razão pela qual Ele o criou. Você deve estar se perguntando: “Ora, se Deus não precisa da minha oração, nem da minha fidelidade, nem de mim mesmo, por que Ele me criou?” A resposta é simples e não poderia ser de outra forma. O Pai o criou por amor e deseja lhe fazer feliz porque o ama.

Quem viu o filme “Fúria de Titãs”1, e tem o sadio hábito de pensar criticamente sobre o que vê na televisão, tirou muitos entendimentos. Vemos ali deuses com aspectos humanos, inclusive com fragilidade e vícios humanos, e como se não bastasse, esses deuses precisavam das orações dos homens, pois do contrário ficariam tão fracos que poderiam morrer como qualquer mortal.

Existia, então, entre deuses e homens uma relação de troca. Os homens rezavam e os deuses retribuíam com dádivas. Porém, os mesmos deuses que agradavam com dádivas, providenciavam calamidades, para que os homens necessitados recorressem a eles. Os homens eram escravos dos deuses.

Tudo que você possa fazer não aumenta nem diminui um milímetro da santidade e divindade de Deus. Você não precisa fazer nada para ser amado, o amor de Deus é gratuito e incondicional.

Deus o ama não por tua vasta inteligência, por teus lindos cachinhos dourados ou teus olhos cor de mel. Nem por tua bela voz ou dons espetaculares, mas tão somente por aquilo que você é.

1. Clash of the Titans (2010), refilmagem feita em 2010, lançada no Brasil como Fúria de Titãs. Direção: Louis Leterrier.

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Um sonho concretizado Você pode todas as manhãs se olhar no espelho e dizer, sem medo de ser orgulhoso: eu sou um sonho concretizado de Deus. Mesmo antes de existirem o céu, as estrelas, o mar, as plantas, você já existia nos planos e sonhos Dele. É claro que essa explicação é só para deixar o tema mais didático, porque o pensamento de Deus já é um ato criador. Deixemos essa problemática para os teólogos e continuemos a nos enamorar do Seu amor, usando comparações simples como a de uma criança tentando explicar o pôr do sol.

Você já viu como um pai e uma mãe preparam-se para o nascimento do seu filhinho, o bem-estar da mãe, o pré-natal, o enxoval, o quarto? A espera vai como que dilatando o coração dos dois, o amor vai crescendo por essa pessoinha que eles nem viram ainda, mas que já amam. A espera antecipa a alegria pelo bem que aguardamos.

Quando o bebê nasce é uma celebração, e toda aquela potência de amor que foi acumulado na espera é liberado sobre o pequenino que nasce. Deus do mesmo modo foi preparando o mundo para você. Deu um pai e uma mãe, ou alguém que te criou e te deu uma sexualidade numa ordem que o realizaria.

Diferente do amor de um pai e de uma mãe humana, o amor de Deus não cresce e não se fortalece, ele simplesmente é. Deus só sabe te amar de um jeito: totalmente, inteiramente, com tudo que Ele tem e é.

No dia do seu nascimento, houve uma festa no céu, concretizou-se o sonho de Deus. Imagine o olhar de contemplação de Dele sobre você. Obra prima de suas mãos, coroa

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da criação. Você não nasceu de improviso como semente que cai descuidadamente à beira do caminho. Você não é um acidente, não nasceu fruto de uma explosão nuclear. Deus parou para criar você, como um artista que se entrega à contemplação, antes de pôr mãos à obra.

Alguém pode pensar: “comigo foi diferente, não nasci por vontade de Deus, nasci de um estupro, sou fruto da violência do meu pai e da dor da minha mãe. Eles não me desejaram”. Aqui, entra um mistério profundo do amor perfeito de Deus e este amor é tão pleno, tão intenso, que pode tirar a vida mesmo de onde aparentemente só há ódio, sofrimento e violência. Se você nasceu de um estupro e por alguma razão se vê rejeitado, faça comigo essa oração: “Obrigado, meu Deus, por me haver criado. Obrigado por que meu nascimento me dá a certeza de que a dor, o ódio, a violência, mesmo a rejeição dos homens não têm a última palavra. Teu amor é mais forte que a morte, venceu no meu passado, vence hoje e vencerá sempre. Obrigado, meu Deus, por que fui muito, muito desejado por ti. Ainda que os homens tenham me jogado no rio, na lata de lixo, ou mesmo tenham tentado me abortar, teu amor venceu. Amém”.

Sabendo que Deus o criou por amor, você não pode viver senão com Ele. Não há felicidade fora dessa relação. Você foi criado por Deus. Você é o sonho de Deus. Ele o ama.