Desaforismos - Flávio Viegas Amoreira

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DESAFORISMOS

Ao mestre de sempre Mill么r Fernandes

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A presente edição é inspirada nos trabalhos desenvolvidos na América Latina através de Sereia Ca(n)tadora (São Vicente, Santos – Brasil), Dulcinéia Catadora (São Paulo – Brasil), Eloisa Cartonera (Argentina), Sarita Cartonera (Peru), YiYi-Jambo (Paraguai), Yerba Mala (Bolívia), Animita (Chile) e La Cartonera (México). Edições Caiçaras é uma realização do Instituto Ocanoa, Projeto Canoa, Imaginário Coletivo de Arte e Percutindo Mundos. Capa feita a mão com material reciclado. Contato: Márcio Barreto mb-4@ig.com.br 13-91746212 13-34674387

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Flávio Viegas Amoreira

DESAFORISMOS

Edições Caiçaras São Vicente /SP Outubro de 2012

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© Flávio Viegas Amoreira

Capa, projeto gráfico, diagramação e editoração: Márcio Barreto Conselho Editorial: Alessandro Atanes Flávio Viegas Amoreira Marcelo Ariel Amoreira, Flávio Viegas Desaforismos / Flávio Viegas Amoreira – São Vicente: Edições Caiçaras, 2012. 66p. 1. Literatura brasileira I. Título Impresso no Brasil

2012 Edições Caiçaras Rua Benedito Calixto, 139 / 71 – Centro São Vicente - SP - 11320-070 www.edicoescaicaras.blogspot.com mb-4@ig.com.br

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13-34674387 / 13-91746212 Pequenos Prefácios e Sentimentos Atlânticos

O que me impressiona em Flávio Amoreira, além, naturalmente, da qualidade, originalidade e a bela natureza oceânica de seus escritos, é o dom que ele tem de viver a época que ele pesquisa. Por exemplo, se eu relembrar, com ele, o tempo em que eu via no cinema e ouvia nas rádios, nos anos 1930, a deliciosa música alemã dessa época, cantada por Zarah Leander, Marika Rökk, Adolf Wohlbrück, ele corre para o computador e descobre as imagens e sons de todo esse maravilhoso momento, que ele passa a reviver, como se realmente também o tivesse vivido. Não como se tratasse de uma busca histórica acadêmica. Podemos dizer que Flávio é um homem de hoje, de ontem, amanhã, de todos os tempos. Um Flávio eterno. Gilberto Mendes (compositor – Santos /SP)

Flávio Viegas Amoreira em uma entrevista para a jornalista e ensaísta Márcia Costa na Revista Pausa, compara o espaço imaterial da “rede interna” ou “rede mundial de computadores” e o espaço geográfico, no fundo ambos são “espaços mais interiores do que exteriores”. A própria obra de Flávio Viegas Amoreira se alimenta de uma geografia que inclui a subjetividade dos signos, a objetividade do corpo e a poética dos espaços, autor de textos que dialogam com a obra de João Silvério Trevisan, Roberto Piva, Ricardo Domeneck, e Walt Whitman, para citar apenas alguns que, como ele, ampliaram o campo das poéticas para o universo da afetividade homoerótica, Flávio parece estar sempre mergulhado nessa dimensão erótico-poética que para ele é como que um “mar de Tadzios” e uma “catedral de nostalgias

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do futuro”. Amoreira é um Aschembach mais real do que o personagem de Thomas Mann e sua relação com a cidade de Santos é paradoxal, em seus textos a cidade aparece como um “devir nostálgico”, me permitam dizer isso para tensionar essa questão, este “ Desaforismos” em seus melhores momentos é um tensionamento e uma meditação sobre a cidade, o corpo e as relações afetivas, mas as tensões inconciliáveis estão dentro e fora do livro, cada vez mais vivas. Marcelo Ariel (escritor e dramaturgo – Cubatão /SP)

A alma sensível de Flávio Viegas Amoreira pede tempo e convivência para se revelar. Às vezes, manifesta-se através de palavras ácidas, especialmente quando diante da inércia mental a que se acomodam seus contemporâneos. Revolta quase sempre contundente, como a querer acordar corações e mentes embrutecidos. Ao mesmo tempo, permanece incansavelmente atento aos caminhos por onde passa a cultura, acolhendo-os, apontando-os. Defensor oceânico das artes, fez desta luta sua bandeira, que é também minha. Nos intervalos, escreve. Madô Martins (escritora e jornalista – Santos /SP) O que faz aqui um cara que mal sabe escrever de carreirinha? No livro deste cara estranho, chato às vezes, inquieto, meio maluco, às vezes estressado, briguento, incansável, destemido, intrépido, exagerado,visceral, complicado, muitas vezes nem entendo o que ele escreve... Talvez porque por toda minha vida me apaixonei por artistas, de todas as formas de arte, que são exatamente como o Flávio. Estes adjetivos todos juntos só servem para os gênios. Wagner Parra (DJ e músico – Santos /SP)

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Creio que todo extremo tem oposto proporcional intensivo, volumétrico, conteúdal. Por esse viés, Flávio Viegas Amoreira mostra-se como dilúvio intelectual em período seco idiotizante: um contraponto criativo à massa alienada: uma supernova erudita cuspindo luz no breu das imbecilidades simplificadoras. Euler Santi (ator e diretor de teatro – São Paulo /SP)

Um dia, ventos. Devastador furacão que varre qualquer possibilidade de entendimento. Um dia, águas. Um rio de lágrimas que escorre na sarjeta virtual, levando consigo os dados e emoções dos plugados. Um dia, o Sol. Um calor a preencher de magia esta rede de vidas frias e irreais. Uma emoção quente entre o sopro e as águas do rio. Um dia, o espaço vazio. A insana presença do invisível, a solidão turbulenta dos reais a mexer no inconsistente. E, as insólitas e vazias projeções da mente, ganham espaço no compartilhamento tresloucado desta rede de distantes cruzamentos. Flávio Amoreira é a perfeição descomunal, é a clareza, que faltava em nossa literatura! Guhga Benício (jornalista – Rio de Janeiro /RJ)

Senhor do kaos literário, Flavio Viegas de Amoreira poderia usar para si o aforismo inventado por Lucio Cardoso para descrever a densidade do próprio trabalho, onde ele avisava não ser um escritor, mas uma atmosfera. A cada silaba de Flávio a língua se decompõe num laço, num enigma, num xeque-mate. Nunca antes desses blocos de sintaxe acelerada o nosso idioma tinha sido usado como a arma de uma vingança tão sanguinária. Cláudio Nigro (escritor e roteirista - Roma)

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Nada confere mais exatidão a situação das artes e cultura na cidade de Santos quanto os depoimentos digitais de Flávio Viegas Amoreira. Fabricio Lopez (artista plástico – São Paulo /SP)

Aforismos, novelas, poemas. Flávio Amoreira será sempre autor de uma espécie rara de poesia, decantada e cerebrina. “Quando escrevo fraseio lançando ao supercondutor propagação de catálises. Intuo escrevendo, anexo ao texto uma fenda, oferto cataclismos quânticos; pode ser verso ou noveleta, sempre abro-me em brecha à ser re-escrito pelo lido”. Schiller, que se considerava poeta sentimental, nas suas próprias palavras: emocional, porém reflexivo, admirava também o poeta ingênuo, os que escrevem poesia espontaneamente, quase sem pensar não se dando ao trabalho de considerar as conseqüências intelectuais ou éticas de suas palavras. Flávio Amoreira na sua já extensa obra desvela-nos hipérboles do poeta reflexivo de Schiller e migalhas do poeta ingênuo. Nessa interconexão podemos imaginá-lo nem ingênuo, nem sentimental, mas hipermoderno. E se o removemos da companhia de Sterne, Dante, Shakespeare, Cervantes e Goethe – todos considerados ingênuos por Schiller – podemos vê-lo confundir-se no bloco de Lobo Antunes, David Lynch, Samuel Becket, James Joyce, Glenn Goud, W. G. Sebald e Gilberto Mendes. Edson Amancio (médico, neurocientista, escritor - São Paulo /SP)

Entrincheirado nesta guerra chamada facebook, entre os tiros, aplicativos, semi-analfabetismo, banalidades e demais sintomas da democratização total da informação, que flui suspensa na “nuvem” e armado de sua metralhadora poética, devidamente municiada de conhecimento político, amor, cultura, sabores e saberes ele atira o tempo todo. O exército de um só poeta. Sua fábrica de

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munição situada em Santos, trabalha à todo vapor para produzir com tamanha constância e atender a demanda da infinita inspiração. Flávio sempre surpreende, esbofeteia, transgride, expressa, derrama, vaza, corrige e concerta. A motivação deste “general das letras” está sempre estampada em sua bandeira: um Brasil mais sabido, mais curioso, mais consciente de si mesmo. No front, sempre uma bala, perdida ou encontrada, acerta-te o alvo e o que faz reagir. Um alento no mural. Domingos Meira (ator e cineasta – São Paulo /SP)

Admiro Flávio Viegas Amoreira, não somente pelo fato do mesmo saber como poucos que a função da arte é também esconder o artista, através da máscara do dandismo esnobe caminhando lado a lado com um comportamento despojado, visceral e de rara e comovente empatia. E esse agridoce paradoxo, entre tantas outras razões e delírios, fazem do homem e do artista uma seta afinada que atinge o alvo da vanguarda da vanguarda. Talles Machado Horta (poeta – Rio de Janeiro /RJ) Gozosa, a escrita de Flávio Viegas Amoreira é um estuário que se espalha para fora da Literatura. É um manancial que fecunda a música, as artes plásticas e até a moda. Seus livros deixam este porto do Atlântico Sul carregados de uma linguagem que tem o oceano por metáfora. Alessandro Atanes (escritor, músico e jornalista – Santos/SP) Para desconstruir primeiro erigir na Alma. Como um arauto nestes tempos confusos de consumo desenfreado e valorização de aparências, Flávio Viegas Amoreira segue atento a

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tudo, nos advertindo dos perigos da ignorância contemporânea, mas ao mesmo tempo nos lembrando de que há possibilidade de redenção. Basta lermos mais, vermos mais filmes, ouvirmos mais e melhores músicas, assistirmos ao bom teatro. Ou seja, não importa a manifestação artística, ele nos alerta para que nos apropriemos e façamos dela alimento e alma das nossas vidas. Assim é Flavio Viegas Amoreira, um Davi na estatura, mas na verdade, um gigante no conhecimento que dispersa pelo mundo. De mantra em mantra, de frase em frase, de pensamento em pensamento segue adiante, incansável na sua missão de nos fazer enfrentar o Golias dessa modorra cultural onipresente. Marcos Piffer (arquiteto e fotógrafo – Santos /SP)

Flávio Viegas Amoreira – é uma dessas raridades sobre as quais temos o privilégio de tropeçar. Dinâmico, possui a fertilidade vibrante das idéias, que não cessam, baseadas - se percebe - em erudito conhecimento das artes, da literatura, da filosofia. Amante da cultura propugna em altos brados por sua preservação. Inquieto, instigante, humanista e justo - um poeta que não se aliena diante das ignomínias do mundo e combate indignadamente pelo direito ao saber e à distribuição democrática do conhecimento. Um cult! Flanar sobre sua página é puro prazer. Luiz AfonsoCosta de Medeiros (diplomata – Brasília /DF) Olhar no caleidoscópio me da a sensação de multiplicar o entendimento, de descobrir outros pontos de vista. Se girar um pouco mais o brinquedo, todas as mesmas imagens

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se transformam e novas formas aparecem, assim, posso ficar horas girando e girando o brinquedo. Descobri o Flávio no facebook e não parei mais de brincar. Salve o meu amigo caleidoscópio das letras! Leopoldo Pacheco (ator e diretor teatral – São Paulo/SP)

O anjo desaforado. Por que os aforismos de Flávio Viegas Amoreira são cândidos? Por que eles têm um tom naïf? Porque Amoreira é um ser e estar franco, direto, para quem o caráter importa tanto quanto a arte. Nesse período longo de desliteratura da poesia brasileira, de desmaterialização e previsibilidade dos textos e autores, Amoreira adota, neste livro, a forma da sentença e do aforismo, da anotação incontida, sincera, sem medo de ser o que ela é, para fugir exatamente do poema ornamental e do pseudopoema. Sua franqueza não poupa temas que seriam considerados banais, interage com eles, criticando-os como o anjo iconoclasta. Leia-se: “Um homem culto é tomado como desagradável, evitado como ameaça ao clã cada vez mais numeroso dos cafetões da superficialidade”. Nesse desaforismo, que é um desaforo e, por isso mesmo, sem meias palavras pseudopoéticas, Amoreira capta o momento acultural da vida brasileira e de suas práticas: o triunfo da superfície, para dizer com os termos de Philip Roth. Amoreira é o anjo feroz e civilizado que anota: “A praça de alimentação dum shopping é cenário revelador do declínio de qualquer civilização”. Mas não é o anjo ingênuo, quando aponta seu dedo para questões inescapáveis de direitos humanos como: “A homofobia não é tópica, é endêmica e correspondente ao grau de visibilidade das afetividades libertas... "O Estado precisa ter uma ação firme para Criar meios de coibir, de modo exemplar, a intolerância e educar novas gerações à alteridade”. Amoreira é um ser e estar também Debussy, quando

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descobre no clichê da estação verlainiana seu lado áspero, duro: “o outono não tem nada de ameno, ele é intenso com a sutileza dos ritos de passagem entre extremidades”. Amoreira é o anjo desaforado, principalmente no sentido de deslocado, daquele que procura outro lugar para as coisas. Regis Bonvicino (poeta, crítico literário e editor da Revista Sibila)

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Vou ao mundo, volto ao mar Chuva no mar é desejo ... Sou o espaço onde estou estou onde me re-invento ... Porque somos estranhos ao mundo nos entendemos profundamente... ... Eu estou em mim mudo mas tecendo o novo a partir de dentro ... Somos mentiras sordidamente urdidas com esmero de artesão nunca saímos de nada pensando transitar no que chamamos vida ... A flor regada com empenho das esperas não se perde nem com a poda do Tempo ... Houve o vento a febre

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as cordas esticadas ao som improvável passou o Tempo agora a Vida esperada tornou-se o que já pressentia ser Você ... Pensar é não fazer idéia do que se elabora rebubino quando penso e escaneio rizomas ... Eu não entendo nada da Vida tudo que sei eu pressinto... O poeta intui verdadeiro inventa o real para espanto do absurdo ... O Tempo é uma convenção do Espaço ... Contaminações virtuosas... ... Admiro por demais o belo: quando humano e bom leva-nos ao paraíso! ... Não basta ser bom é preciso fazer bem ... Toda representação é um atalho: seja na literatura ou no palco

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... O simbólico é o real lírico ... Nada me revela mais a natureza de nossa existência nada reflete melhor nossa passagem terrena que a imagem dum plácido cemitério à beira do Oceano tornar-se pó diante o mar é o Sétimo Selo ... O que traz sorte na Vida é a perseverança. ... Um homem culto é tomado como desagradável, evitado como ameaça ao clã cada vez mais numeroso dos cafetões da superficialidade. ... Vou ao mundo...Volto ao mar... Em Sampa minhas vísceras e cérebro o mar útero e meu sexo: a serra é meu istmo ... Eu sou sempre o mesmo até quando mudo para inverso... ... A opressão é estratégia do controle

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... Se as coisas dadas ao mundo não são esperadas como posso suportar pessoas forçosamente previsíveis?! ... O Eu é definição mais sem garantias... Eu é nebulosa de partículas precariamente aglutinadas... O escritor e o ator são raros senhores dum Eu na sua fugacidade consequente... ... A coisas e pessoas que nunca existiram ou deixaram de existir tem a dimensão do que criamos: nos apropriamos do Eterno ao seguir a lembrança do nunca visto ou do extinto... ... O sagrado e o artístico tem a mesmo fonte. Que não cesse... É nossa luz... Amo o crepúsculo: é o coito do céu, do sol e do mar com a noite ... Existem dois motivos para desdenhar um escritor hermético: ignorância sem esforço de aprimoramento ou ressentimento do raso ... Detesto os homens de princípios. Prefiro os parciais afetados pelo encantamento ...

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A solidão é um experimento para profunda alteridade ... O facebook pode ser suporte literário, revista cultural, resistência estética. Alguém questiona automóveis numa cidade com metrô decente? As mídias tradicionais patologizam as redes sociais por temor da primazia! ... O que difere os homens é “qual a melhor ilusão para se viver”. Uns tem a droga, outros as religiões, alguns se apegam ao sacrossanto casamento e vidinha familiar, alguns (os raros!) elevam ao real a mais nobre delas: a ARTE! ... O melhor presente que me concedo na Vida é ter bom gosto... O bom gosto é uma benção sem preço... E que me impõe sempre maior aprimoramento... Vibrar com Mozart e Pixinguinha... O que aprendi com Andy Warhol: “Eu gosto de gostar das coisas”... E que coisas! As sutis e cultivadas ... quebrar o gelo que cobre nosso rosto... sorrir nem que dentro de modo luminoso... ... A humanidade por vezes me faz crer que foi um desaviso na colisão de moléculas ... O ser humano chegou ao limite da insensatez. Espero não ultrapasse além do que temos visto!

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... A vida tem duas visões básicas: uma melancólica doçura ou a detestável amargura... Amo demais, percebo demais o mundo e as pessoas, sinto uma melancolia que adoço com vinho de sempre... Mas abomino a amargura: a inveja “passiva”: a vitimização... A vida é o que fazemos. É o fato da alma: sofra, grite ao vento mas nunca se queixe... Amargura é ódio passivo ... O budismo é a Fé dos sem Fé no humano e no Eterno! A Fé dos poetas e dos físicos com visão ampla do Cosmo! ... Todo jogador é prisioneiro do tabuleiro, assim como o labirinto é presa de quem nele se enreda ... Vida é uma sucessão de takes para uma única tomada ... Sempre amei o crepúsculo hoje no mar ontem no mar: as idéias borbulham como um Bach das esferas na hora do angelus ... Atmosfera é um vento com sentido de eterno ... Vida é fazer ponte... Lançar pontes a outras almas: sair do estado de insula: afeto é moldar um continente

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... Se não fosse Flávio Viegas Amoreira gostaria ser Flávio Viegas Amoreira do contrário gostaria de ser GORE VIDAL

... Vivermos nossas próprias vidas, esse grande desafio. Estarmos prontos para lançarmos pontes a partir de nosso próprio porto seguro... Tudo está em nós. O mundo é como somos com lastro no momento da partida... ... Em Sampa todos os poemas são esparramados em prosa buscando um horizonte: nenhuma aurora boreal fascina tanto quanto uma epifania ao fim de tarde na Rua Augusta ... Diante da ARTE por ela me persigno ... Os mitos suprem nosso vácuo de Poesia. Se colocamos o encantamento a serviço dos mitos o dignificamos. Um ator só se mitifica tanto quanto um escritor se erige sua Lenda em algo que se desdobre do instante! ... Antecipar não é apressar o provável, mas antecipar na alma o possível

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... O sonho do poeta é tornar indissociável o sublime do corriqueiro... Tão sagrado o barbear numa manhã de outono como a queda de um meteoro num atol da Polinésia ... Procuro salvar minha solidão na companhia daqueles que a enriqueçam, do fato de ser sozinho de modo mais consciente que os demais que se pensam acompanhados ... Eu divago: o que pensa voa criando nas nuvens o céu da boca ... Toda grande Fé surge nos espaços onde o homem não possa atuar racionalmente: no deserto ou diante o mar... O sertão que dá cantadores e conselheiros sabe que é dia de São José pela carruagem de nuvens... O poeta é um descrente que reinventa no que acreditar: encanto ou delírio... É um maldito que louva ... Não percamos Tempo. Essa frase de efeito que vai na contramão do nexo. O Tempo é da velocidade de nossos passos na esteira da profundez das veredas... A toada dum violão vale para o Eterno todos os pregões de Wall Street! ... O outono não tem nada de ameno, ele é intenso como a sutileza dos ritos de passagem entre extremidades

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... Assim vai o poeta entre a corda bamba das certezas ... Transgredir é fácil, foda é pagar o preço de sua subversão e delírio ... Nada adianta fazer yoga e não cumprimentar o porteiro ... A síndrome de pânico é terrível! Um making off da morte elaborada no poderoso inconsciente dum moribundo fake medicado por um iniciado em abismos... ... A Rua Augusta é a prova viva de que o glamour vence até a falta de encantos evidentes ... Como discípulo duma causa laica transcendente, o artista visceral deve deixar de lado tudo que seja bagagem excedente ao ofício sagrado e lançar-te ao rito criativo! ... Escrevo para alimentar-me de silêncios, enriquecer-me de fracassos, aquecido de indagações inconclusas...

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Seu mutismo eu tomo como desafio para que me aquiete de certezas

... Às vezes dá enorme vontade de ter nascido / isso que não alcanço por irreprimível lembrança ... O prazer sensual de descascar laranjas, o excitante silêncio de quartos de hotéis, um rádio fora de sintonia trazendo ondas sonoras de Buenos Aires, o olhar fugaz nos vagões de metro, poesia é detalhe: desde abrir uma lata de sardinhas até a perícia de sorver um vinho tinto alentejano para reler o “Livro do Desassossego” ... Não há rubra rosa que não detenha com poesia o ardil dum punhal ... Para uma vida ampla? Vede a bula: vide verso! ... Todo desejo é uma realidade que, sem forças de colocar-se de pé, engatinha no delírio ... Quando pousar a idéia, não serei mais esse que detinha a pena

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... O profundo em relevo sugere ao olhar a delicadeza do pássaro em atingir o Tempo do Espaço mergulhando no Oceano ... Uma fotografia é sempre o registro cúmplice do vento com o instante ... A Poesia é a ligeireza do pensamento em passar a perna na razão

... O esforço de não encontrar com ninguém da medida foi a ventura de achar-me comigo no esforço do que mais me pareço comigo ... O fatídico não é quando algo morre, mas quando surge o que estava pronto diferente ... As madrugadas são gatos nada pardos luzindo o dourado de suas verdades clandestinas

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Privilégio teu nome é Brasil Pela economia o português torna-se tão importante quanto o mandarim, mas cadê o conteúdo para a forma? Cultura é commoditie como arroz-feijão ... Cada país tem o George Clooney que merece - sobre Pedro Bial ... Desconfie das facilidades... O mundo tornou-se torpe porque a ignorância vem se tornando imposição darwiniana ... Por que a burguesia brasileira é burra? Se o elo forte para uma civilização seria uma burguesia progressista? Como pode elite econômica culturalmente indigente? (saudades de Yolanda Penteado / Ciccilo Matarazzo) ... Nada mais antigo no Brasil que programa de auditório: a mediocridade parece mesmo invencível: Faustão e Gugu são provas de que em TV nada se inventa, tudo se piora (saudades de Chacrinha) ... Sofisticado não é o contrário de popular. Intelectual não é oposto de popular. O anti-intelectual é o mainstream .Cartola é tão cult quanto

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Winton Marsalis. O mal é o empacotado como se o consumidor fosse previamente cretino ... O mal não é a ignorância e truculência da burguesia cretina que vai à Itália pensando na “Torre de Pizza”... A burguesia quando cretina é nefasta para décadas! Ela inviabiliza povos, civilizações... Todo burguês Mama Mia e Família Adamms sabese cretino! Mas dá voltas sofismáticas... Enredos para justificar-se: italianos do Bexiga nos anos 50 ouviam Callas, seus descendentes vibram com sertanejo sem raízes ... Kassab é o inimigo número 1 do pensamento paulistano, da cultura paulistana. Ele faz de Sampa sua Gotham City... tenta ser um Jânio sem seu sabor e glamour etílicos... ... Enquanto ouço espanto com baixaria na apuração do carnaval, sorrio cético: mas o que esperam da massa ignara? De Narcisas, Neymar & torcidas organizadas... Horda é horda! Volto aos meus aposentos ouvir ler Rimbaud e ouvir Debussy... Não existe baixaria entre monges da Arte: eruditos só lançam farpas piedosas à estupidez! ... A Europa faliu, será um delicioso museu e bosque... O Brasil só carece ser potência cultural! Nada mais patético que subestimar este “Quinto Império” Enquanto isso dekaseguis largam ilusão nipônica... E os que vilipendiavam a terrinha como atraso tupiniquim já não suportam mais o fim do império ianque... Com

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que cara voltarão os que fizeram do mundo Governador Valadares? ... Holocausto nas sombras! Hipocrisia na questão do Aborto, falta de políticas públicas para gestação integralmente assistida e governos reféns do atraso canalha das bancadas “religiosas”! ... “Vai que é sua”, na tela desse povo o Brasil segue sofrendo da doença infantil do capitalismo: a estupidez de rebanho de compra e venda de coisas e sensações ... O mundo já está saturado de diagnóstico, as soluções são tão óbvias que desmoralizam o tratamento ... A praça de alimentação dum shopping é cenário revelador do declínio de qualquer civilização... ... Temo muito quando uma mamãe paulistana ou carioca faz enxoval para o baby na Flórida. Vem aí um monstro comportamental! ... São Paulo precisa de Políticas Públicas para Literatura e Dramaturgia. Por favor! Somos o centro do continente em grana! Mas estamos sem rumo em Cultura!

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... Entro na luta contra o salário dos deputados... Mas e a luta contra o salário de cretinos como Robinho, Neymar, Luan Santana, Michel Teló, Ivete Sangalo, Faustão & Companhia Ilimitada? Quem topa? ... Brasileiro diz que cultura custa alto preço, mas não falta grana para academia de ginástica, macaquear as filhas de Lady Gaga ou durante décadas manter o homem do Baú da Felicidade... Querem é BBB estilizado! ... Você segue o “senso comum”? Administra uma vida para sua família ou grupo? Imagina corresponder seus anseios postergando o melhor de ti? Triste, mas a mentalidade burguesa te fez de refém! ... A indignação não vem da Oscar Freire! A corrupção e opressão não são duma elite brasiliense, são dum Sistema! Para ser indignado é preciso ser digno dela! Faltam Darcy Ribeiro e Glauber Rocha! Indignação na boca de atorzinho e jornalista burguês é escrotice travestida de bom-mocismo! Para ser indignado pede-se trajetória indignada! Não confundam indigno com indignado ...

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Um país urbano diante o mar que tenha um poeta como Vinícius não pode amanhecer ouvindo sertanejo... O Brasil urbano é maresia ... Dos efeitos climáticos à crise européia, até os descaminhos de nossas vidas, um fator é guia sem ser visto: o DOUTOR IMPONDERÁVEL ... O Brasil antes de ser potência econômica energética precisa encontrar sua matriz ANÍMICA. Somos multi-pluri-culturais, das vilas operárias aos terreiros. O Brasil é de Vinícius ou será do mercado (2013 centenário de Vinicius de Moraes) ... A cultura de massa na ausência de “reposição de estoque” à altura vai se tornando uma sucessão de obituários, comentaristas de entretenimento se tornam “necrófilos culturais”. Não rastreiam o que surge de novo e só pranteiam o que se vai ... O Sr. Kassab banca Jânio sem charme histriônico de Jânio: espertinho sem carisma, populista sem povo... A causa popular e libertária não pode dar argumento ao alckimismo e seu desdobramento “temerista”: o “chalitismo” ... Quando perguntam a um brasileiro mediano se ele curte “música clássica” ele logo vem: “Claro! Adoro João Carlos Martins e André

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Rieu!” É a senha para perceber que não conhece porraaaaa!!! nenhuma de erudito ... Síndrome de Odette Roitman - sertanejos: o que farão com ativos, passivos e fundos de renda imprecisa em dólar e euro? O Brasil não era um lixo sem rumo? Agora tornou-se o B de BRIC! ... Nada mais jeca que brasileiro com mentalidade colonizada ... O que esperar quando o governo de São Paulo adota Harry Porter na rede escolar? E aquela criatura de mini-saia jeca vira estrela fashion? E vemos astros do futebol com pinta de trombadinha sendo incensados pela mídia, com boné para trás, fazendo churrasco e pagode em condomínio fechado? Horror!!! Apocalipsy Now!!! ... O esnobismo nada tem a ver com classe social ou econômica: é um esgar de indiferença ao vulgo, ao senso comum, ao prosaico sem profundidade... o erudito é um ser com excesso de imunidade ao ordinário ... Ou pensamos Cultura como envolvimento social, estratégia de Estado ou seguiremos patinando com editais e o mercado conduzindo ovelhas ao matadouro do mero entretenimento!

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... O Brasil é verde, mas amarela ... No Brasil, jornalista é funcionário de um agente do capital: um feitor de interesses de construtoras, oligopólios energéticos e agora de “teocracias dirigidas por bandidos para desesperados”, a mídiapentecostal ... O transporte coletivo no Brasil é o elevador de serviço do pobre no atacado ... O futebol é tão febril que consegue provocar algo mais desagradável que ele: as mesas redondas sobre futebol! ... O Brasil neo-pentecostal , sertanejo fake, o Brasil prepotente de Eikes e cretinos globais não é o meu Brasil mesmo... ... O Capitalismo é um Nazismo em conta gotas ... Admiro Dilma! Não quero Geisel de saias: desenvolvimentismo é Vida! Belo Monte não pode ser sua “trans-amazônica”

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O que nele sentia antes pensava 3D, parafernália da Broadway, besteirol techno-matrix. O que nos falta é uma boa estória, o humano demasiado humano, a interpretação contagiante sem imposição de mercado: o filme é mudo em preto e branco - não é não ! É multicolorido pela magistral atmosfera e mais eloquente que toda estupidez dum seriado norteamericano falastrão... O ARTISTA (filme) põem a prova à inteligência do público em perceber que o bom é atemporal ! ... É feio tomar o mundo por si. Se poucos conhecem hoje Lawrence Olivier, pior para o mundo, mas quem conta cultiva Lawrence Olivier. ... Eles não “trepam”, se conheceram há pouco tempo, mas ninguém completa tanto um ao outro “Encontros e Desencontros” é demais. ... Andrucha, Dhalia, Meirelles, quem mais? O Brasil não tem cinema porque perdeu teatro, perdeu teatro porque perdeu voracidade cultural e deixou outras artes como literatura falando sozinhas... Quem tem uma TV avassaladora nunca terá densidade cultural... É simples: sem investimento orgânico e denso em cultura não superaremos o PROJAC... ...

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Durante um ano os comentaristas de vestido que cobrem o Oscar passando por críticos da sétima arte se calam. Cinema exige cultura: literatura, apreensão, cultivo psicológico. O corte de cabelo de Meryl Streep não faz verão: é papo para Ana Maria Braga... Ignorantes militantes aviltam o sentido de cinema, falta Paulo Emílio. ... Um ator só se mitifica tanto quanto um escritor se erige sua Lenda em algo que se desdobre do instante! ... Vocês podem passar uma semana amestrando uma dessas jovens do PROJAC que circulam nas noveletas das seis: elas nunca vão conhecer a sutileza de Vivien Leigh, tão british, tão natural e sem método além da técnica de alma para interpretar ! Quem nasceu para Deborah Secco nunca chega a Nathalia Timberg. ... Melodia, harmonia, atmosfera, erudição... Se o mundo conhecesse Os Sete Pilares da Sabedoria, não viveríamos esse descalabro de Sarkosy & Berlusconi. Lawrence tinha todas respostas, morreu de tristeza... Mas inspirou Churchill. ... Não se come pipoca ou latão de coca para assistir Bergman como não se assiste Beckett de bermudas... ... Vinte anos de exílio, expulso da América. Tudo perdoam, menos o talento. O mundo é governado pela mediocridade por vezes ela

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concede por ruborizar por tanta mesquinhez... Chaplin recebe seu único OSCAR, prêmios estavam aquém da sua estatura... ... Ela nunca ganhou ou pisou numa noite de Oscar .... Viveu até 1990. Estava acima de premiação. - sobre Greta Garbo. ... O OSCAR para o cinema, como o carnaval para o samba: um evento que só amadores cultivam... ... Arqueologia digital: Anton Walbrook - genial ator alemão foragido do horror nazista! Um mito esquecido! Amo! O diretor solta seus atores no palco... Permite movam-se durante dias de ensaio... Até que pela observação incisiva e precisa rouba-lhes para o espetáculo seus instintos. ... Um filme, um livro, um quadro que amamos é muito referência de nossos desejos, amores e inconsciente. Deuses e Monstros é um desses que revejo deliciosamente! ... O que nele sentia antes pensava. – sobre Marlon Brando

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Era essa nossa subversão Maior compositor erudito brasileiro pós Villa-Lobos, introdutor da Música Nova no Brasil: dodecafonismo, atonalismo, minimalismo: aos 90 anos maior figura da composição de vanguarda latinoamericana: um dos mais influentes pensadores da musicologia na USP e criador do mais antigo Festival de Musica do Brasil: Gilberto Mendes, um artista de generosidade comovente e genialidade interdisciplinar: ícone dum Brasil cosmopolita ainda possível! ... Brasil sabe tudo do que não precisa. Deletou de modo quase irremediável o que teve de melhor - sobre Aracy de Almeida ... Marisa nasceu cult - sobre Marisa Monte ... Nasceu em Montevideu? Teria passado por Santos a caminho da França? Sumiu em Paris! Quem foi Isadore Ducasse Lautréamont: a figura mais maldita da literatura ocidental? Lautréamont é o Rimbaud sem Abissínia a ser descoberto

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... O mestre diz tudo. O amor por alguém e amizade deve estar na apropriação sensorial de seu grau de demência! - devoção a Deleuze ... Ô menino... escuta! Você foi último dos poetas da burguesia progressista ouvir o morro! e era essa nossa subversão! - sobre Cazuza ... O Brasil do qual faço parte culturalmente é tão ordinário que se esquece forças da natureza. Gal Costa vai além de estúpidos esquecidos ... É algo assim: triste país louvando vagabundo comum se esquecendo algo tão... tão... tão... É GAL como um vento! – sobre Gal Costa ... Uma spnosista sem nunca ter lido Spinoza. Estamira, minha diva! ... A “Garota de Ipanema” faz aniversário. Representa um Brasil que se pretendia vanguardista no social e cultural, veio o golpe e depois a idiotização burguesa. A Bossa é sempre uma saída, sempre, para o sertanojo e mulheres ricas ...

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Se fosse pensar em Camille Claudel no Brasil, listaria Pagu, Nise da Silveira, Dona Yayá e a escritora Maura Lopes Cançado, além de Hilda Hilst e Oride Fontella. ... Se eu pintasse anjos moldaria o primeiro com o rosto de Sting

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Sou amantíssimo do amor Uma das maneiras mais serenas dum homem se apaixonar por outro é quando um deles está blindado por uma resistente heterossexualidade ... Todo homofóbico é um enrustido doentio: teme sua sombra ... Os machos politicamente incorretos que curtem piadinha sobre gays e lésbicas são em sua maiorias “tiozinhos” em crise de afirmação: são os ex-garanhões de boteco que entraram na andropausa ... As categorias gay e hetero não são estanques, rígidas: a nova afetividade implodiu conceitos ortodoxos: ama-se e se deseja almas e corpos, desde que de modo adulto e legítimo... Não sou gay nem hetero, sou amantíssimo do amor! ...

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Todo homofóbico esconde um gay enrustido... Esses jovens da Paulista temem suas sombras que vem projetadas nos espancados...Egodistônicos. ... A homofobia é extremamente dissimulada, assim como dissimula muito da sua real motivação. ... Mulher não é para ser “possuída”, ser amada... Possuir é emprego, carro, sabonete para lavar a possessividade que nos domina. ... Muitas pessoas não sossegam enquanto não mudam o ser amado. E, quando conseguem, percebem que ele perdeu a graça ... O peso do amor por vezes não se mantêm por mais doces sejam os frutos ... Quando ainda espero ansioso sei que amo e nisso que aguardo num arrastado encantado chamo o durável do Amor ...

Perder um amor não é nada perto de perder a vontade de sonhar novos amores...

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... Toda palavra a mais do que um sentimento real é um desaforo ao amor ... O verdadeiro amor é dos insatisfeitos. A consumação mata o amor pelas mãos do desejo ... Antes do Amor, angústia. Com sua descoberta, esperança... E o que é a esperança se não a angústia com ilusão de ser cumprida? ... A natureza inventou o desejo antes de impor sua procriação o amor da alma dá um vôo rasante sobre o corpo: ele se abriga no afeto perpétuo do espírito ... O verdadeiro amor é um luxo para iniciados, o que a maioria de amadores cumpre é uma convenção combinada de personagens amestrados ... Passar dos quarenta é aprender com melancólico gosto que já não se morre por amor ...

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Alguns dias são os que abraçamos muitas vontades e não amamos nenhuma: amar é tão raro que só deveria se pronunciar em poesia

... O único sentido de amar é saber-me acompanhado na tua ausência: quando falo sozinho sem prenome e objeto indireto

... Os beijos são verídicos à medida que os pés se intercalam bem juntos aos rés da cama depois das imposturas dos orgasmos ... Eu queria uma casa imaginária na proa dum navio fantasma para juntar-me a ti como náufrago na ilha onde fosses o tesouro do pirata ... Amar é um risco bom ... A Arte é a linguagem das sensações, o Amor ? É o idioma dos afetos ... O erro é que não amamos como as flores que polinizam sem dar conta onde vão dar em frutos

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Onde possa espreitar o mundo feliz Adoro essas festas e feriados coletivos - dos quais não participo, onde possa espreitar o mundo feliz e eu com meu contentamento muito personalíssimo... ... O carnaval não impõem compromissos... E pode ser sereno, como as grandes alegrias são ... O Carnaval é deliciosa festa coletiva para quem não curte: não existe imposição de participar , obrigações além de desconhecêlo. É o Nirvana dos ensimesmados na prática do conhecimento ou dos afetos contidos em delicadezas silentes... Os livros separados para as noites de Momo são ungidos com detalhe de quem faz do recolhimento cultivado uma folia dos sentidos mais apurados

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Amor no Silêncio Perdoa se a ti, Amor dedico tanto na incerteza de retribuído afeto tenho a pena e o vinho desse amor sereno outrora insano poderoso repouso é a memória do teu reconstruído semblante eu que re-invento a proximidade de teu sorriso. E se só houvesse palavras... Seus olhos miram o que tenho de pior na hora da despedida essa constante maldita Até marca os instantes de dizer adeus Preciso viver o próximo instante E só sei amontoar palavras estrelas errantes / azul ou vazio verde Se eu pensasse dura uma mentira Se faria enraizada uma ilusão soberba E conto é porque aprendi ir fundo Ao cajado Desdobra o cerzimento Falta a noz que doura na carnação dos escaninhos De planta fruto gomo candente do hábito de colher no pomar Paciente do semeio Ao fim da espera será ainda tu meu advento

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cruz eterna inconcebível silenciamento do nada luz infinda só os loucos tem um só motivo para sempre pega-se o que se encontra ao agrado mal supondo ser o mítico ofertado / lances causticantes azula a vista mesmo o que por ti pranteio veste-se de brocados ardentes magnânimo clarão que na minha Fé de amor me alumia tua presença é um espasmo sem reparo ao permanente da minha entrega Meu bom amigo, amado, Vivem nas herdades muitas mulheres que poderão escutar-te sem compreendido dilacerante que nos une Deixai pensar que o que é nosso seja delas na impossibilidade disso Fortalece nosso destino Brilhamos nessa onda sob o luar em firmamento Aquecida brasa em mesmo fogo ao abrigo de dúvidas só a incerteza nos assegura de persistência poeta escolho a múltipla tua e minha seiva nunca finda a urdidura do enigmático gozo teias vicejando o experimentamos longo que só inicia com a existência esse amor que guardo reflete-se muito depois muito depois volatiza como a brisa que diamante etéreo , fractal , amor, amor , se cristaliza a prosa alitera poeticamente o exercício de reconhecer-me em ti túrbido num leito incerto faz-nos lago rio oceano e torna ‘a fonte nascente num ciclo incessante entre nossos traços afluentes estávamos também no princípio , sou por ti em Verbo

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corrijo-me inflexiono rumino o Tempo nos sacia de espaço: acode pelo ocaso oportuno dos ponteiros a vida triste as coisas mórficas despem-se tornar é irreversível não se entristecem somos tristes e o mundo nada sabe disso damos nomes tristes ao que ocorre o maior nome é mundo então chega momento imperceptível que amar não dói sentimos enorme impenetrabilidade diante de nosso reflexo perpassado é desejo e desejo é tudo que suporto

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SUMÁRIO

Pequenos Prefácios e Sentimentos Atlânticos

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Vou ao mundo, volto ao mar

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Privilégio teu nome é Brasil

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O que nele sentia antes pensava

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Era essa nossa subversão

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Sou amantíssimo do amor

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Onde possa espreitar o mundo feliz

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Amor no silêncio

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Flávio Viegas Amoreira - escritor, crítico literário e jornalista; já lançou dez livros entre poesia, contos e romance; colabora com diversos jornais, revistas literárias e sites especializados em Arte. Faz parte da denominada “Geração Zero Zero”, autores de vanguarda surgidos no começo do século. Foi traduzido e adotado por universidades européias e norte-americanas. Fundador com Gilberto Mendes do “Fórum Santos Cultural”, de resgate das tradições de vanguarda e cultura do Litoral Paulista e do “sentimento atlântico do mundo”. EDIÇÕES CAIÇARAS São Vicente Brasil

A Edições Caiçaras é uma pequena editora independente artesanal inspirada nas cartoneras da América Latina, principalmente na Sereia Cantadora de Santos e na Dulcinéia Catadora de São Paulo. Nasceu pela dificuldade homérica e

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labiríntica em publicar meus livros em uma editora convencional. É uma forma de reavivar o ideal punk do “faça você mesmo”, incentivando a auto-gestão e o uso da habilidade manual, algo que está se perdendo em nossa sociedade tecnocrata. Assim, de fato, começa a tomar forma a filosofia da Edições Caiçaras, mais do que um caráter social, nos interessa, ousar na forma e no conteúdo. Na forma é um aprimoramento das técnicas das cartoneras - os livros são feitos com capa dura, costurados com sisal e presos com detalhes em bambu, e no conteúdo, priorizamos um diálogo profundo com a Internet e com as literaturas locais do Brasil. Márcio Barreto CATÁLOGO COMENTADO

O Novo em Folha (poesia) - Márcio Barreto

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“Pode-se ler O novo em folha, de Márcio Barreto, como parte de um todo maior relacionado à Arte Contemporânea Caiçara, proposta que relaciona imagens, palavras e sonoridades numa ótica que mescla fontes da literatura, música e filosofia, sustentando o diálogo entre o ancestral e o contemporâneo. Também é possível ler cada volume como uma manifestação artística dentro das experiências no Brasil e no exterior de realizar obras únicas com capas feitas à mão e com material reciclado. Ressalta-se assim o valor do artífice na construção de cada livro que chega às nossas mãos. No entanto, talvez o mais fascinante esteja em deixar um pouco de lado esses dois fatores e mergulhar numa poesia que tem como principal característica justamente uma provocação permanente. As palavras se articulam para gerar indagações constantes no sentido de não aceitar saberes instituídos, estabelecendo dúvidas. O poema”Quando o mar” (“Vivamos/Que a vida passa/Célere como a onda// Que faz do recuo seu avanço”) encerra, por exemplo, uma poesia que traz o novo em folhas de papel, mas amparado por uma concepção da realidade que se propõe a sempre oferecer surpresas.

(Oscar D’Ambrosio) - doutorando em Educação, Arte e História da Cultura na Universidade Mackenzie, é mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp. Integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA-Seção Brasil). Atro Coração (dramaturgia) Márcio Barreto “Um retrato do amor que mistura os textos Romeu e Julieta e Otelo (Shakespeare), Lua na Sarjeta (David Goodis) e partes dos filmes O Colecionador (baseado na obra de John Fowles) e Cenas de um Casamento (Ingmar Bergman). Assim é Atro Coração, peça escrita por Márcio Barreto que coloca dois personagens míticos em uma

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situação limite: Lilith após ser expulsa do paraíso invade os sonhos do anjo Gabriel e o seduz. Para puni-los Deus os lança a Terra como homem e mulher. Destituídos de suas memórias vagam separados até que o acaso os une novamente. De um lado o amor não correspondido, do outro o amor que nasce do medo da morte. Uma peça que discute os limites do amor através das relações de medo, desejo, sonho, posse, loucura e realidade. Uma história que nos faz pensar que não importa o que é o amor, mas o que fazemos com ele.” (O Autor) Nietszche ou do que é feito o arco dos violinos (poesia) Márcio Barreto "A loucura, não em seu contexto patológico, mas como um campo propício para novas inspirações e idéias, onde valores e costumes são facilmente rompidos e a genialidade e a sabedoria misturam-se com universos muitas vezes desconhecidos. Nietzsche, importante filósofo alemão do séc. XIX, possuía grande paixão pela música, como vemos em O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música, O Caso Wagner, um Problema para Músicos e Nietzsche contra Wagner (dezembro 1888). De certo modo, a filosofia encontra na música um riquíssimo campo para reflexão. Poderíamos comparar, como faz a física quântica, a gênese do universo às cordas do violino quando vibram tocadas pelo arco. Acredita-se que as menores partes do universo agem assim, vibrando e criando a sua volta. Nietzsche enlouqueceu em janeiro de 1889, em Turim, quando seus olhos enevoados pela miopia se chocaram com o espancamento de um cavalo. Aos prantos deixou-se ficar abraçado comovido com seu sofrimento. Nunca mais esteve lúcido. O arco do violino é feito da crina do cavalo; antes da loucura Nietzsche era veemente contra a compaixão."

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(O Autor) Pequena Cartografia da Poesia Brasileira Contemporânea (poesia) Marcelo Ariel (Org.) "Pequena Cartografia da Poesia Brasileira Contemporânea (São Vicente: Edições Caiçaras, 2011) é uma antologia organizada por Marcelo Ariel que reúne sete autores jovens, que vêm publicando seus poemas em blogues, sites e revistas eletrônicas comoGermina, Pausa e Zunái. A Internet é o veículo mais atualizado e pluralista para a divulgação da poesia, e nela encontramos as vozes criativas e inquietantes de nossa produção literária, que chegam aos leitores sem a mediação dos cadernos culturais da imprensa diária, cujos critérios de escolha são influenciados pelo lobby das grandes editoras e pelas tendências hegemônicas na política literária. Não encontramos hoje veículos como o Jornal do Brasil dos anos 50, que contava com críticos como Mário Faustino, ou o Folhetim dos anos 80, que publicava resenhas de Paulo Leminski. Quem estiver em busca de informação estética nova ou de reflexão crítica atualizada perderá o seu tempo folheando as páginas da Folha de S. Paulo ou da revista VEJA, mas encontrará diferentes vozes, estilos, temas e mitologias criativas no ciberespaço. Na apresentação da Pequena Cartografia, objeto artístico artesanal com o belo projeto gráfico elaborado por Márcio Barreto, o organizador da antologia diz: “A Internet possui muito do artesanal e se harmoniza com práticas de edição como a desta Edições Caiçara, a Internet é um esboço dos circuitos telepáticos do cérebro, trata-se da costura de fios visíveis e invisíveis. Nesta seleção que é uma pequena tentativa de realizar um recorte pessoal do que considero o mais representativo da poesia brasileira contemporânea, poemas de Marceli Andresa Becker, Katyuscia Carvalho, Lucila de Jesus, Ângela Castelo Branco, Maiara Gouveia e Daniel Faria formam este pequeno

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livro, pequena tessitura, que na verdade é a construção de um pensamento sobre a poética dos autores selecionados e sobre a minha própria poética, porque esta fronteira entre nós e os Outros foi a primeira a desaparecer quando alguém disse a palavra ‘Poeta’ pela primeira vez”. (Cláudio Daniel) - poeta, tradutor e ensaísta, nasceu em São Paulo /SP, em 1962.

Obras Cadáveres -Arthur Bispo do Rosário, Estamira, Jardelina, Violeta e o Deus do Reino das Coisas Inúteis (ensaio) Ademir Demarchi “Instigante ensaio sobre os paradigmas entre arte e loucura através da análise da obra de Arthur Bispo do Rosário, Estamira, Jardelina e Violeta, figuras que personificam o inconsciente popular e rompem nossas certezas acerca da lucidez. É antes de tudo uma reflexão sobre a sociedade em que vivemos, seus valores e seu incrível “reino das coisas inúteis”. (Márcio Barreto) Perdas & Danos (poesia) Madô Martins Belíssimo livro de poemas onde o lirismo da perda, do amor que acaba mas não finda, faz com que o avesso emudeça o silêncio para não perder a razão, o chão que tão incertamente pisamos quando o mundo parece estar de luto. Poema à poema Madô revira as delicadas nuances do sentimento que envolve a perda repentina do amado, a

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perda definitiva e atroz, sem chances ou esperança, nesse momento nos revela a sutileza de travesseiros repartidos pelas lembranças das dúvidas, sonhos e fragmentos da vida amorosa. Soube da tua morte / por amigos. / Eu, que há muito / te sepultara, sete palmos abaixo da memória Estranhamente a morte renasce o sentimento e o amor aflora como quem "descostura pregas e bainhas" para depois recosturá-las palavra por palavra. Perdas & Danos é um mergulho em noites onde "vestimos a dor pelo avesso", onde o feminino se mostra em suas mais contundentes contradições: No coração de tuas mulheres, / tantas, / pulsam amor e ódio E ainda assim ser capaz do perdão, essa característica tão feminina e infinitamente superior. Um livro para viver e reviver grandes amores. Um livro dentro de outros livros onde o leitor é levado por uma interessante correlação das palavras nos poemas que funcionam como links de sensações.

(Márcio Barreto) Mundocorpo (poesia) Márcio Barreto

Uma percepção da arte como uma experiência inventiva, fundadora e identitária, parece ser o vetor do trabalho do músico e escritor Márcio Barreto, algo que ele mesmo denomina, arte

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contemporânea caiçara, arte no sentido do fazer e da manufatura vistos como expressões da vida interior. A escrita, fragmento essencial do registro da imaterialidade da música, a partitura, a letra e o poema, são vistos por ele como partes de um mesmo todo sígnico, seus poemas aqui impressos, como não poderia deixar de ser, estão profundamente ligados ao processo de pensamento que em sua filosofia da composição ele tenta unir ao modo de improvisação criado pela necessidade de expressão vital e pela perplexidade diante do mar ou seja pelo chamado ‘pensamento caiçara’, sim, é um pensamento filosófico que o Sr. Márcio Barreto procura desenvolver ao unir conceitualmente música e literatura dentro de uma ideologia genesíaca e antropofágica. Desde “O novo em folha” até esse “Mundocorpo” passando pelo inclassificável e gigantesco “‘Totem”, Márcio Barreto atualizando o “Do it yourself” do movimento punk e agregando a esse “faça você mesmo” uma sensibilidade cada vez mais voltada para o coletivo e suas irradiações nômades prossegue em sua obra-vida o que vejo como uma provocação contínua. Márcio nos poemas e textos deste “mundocorpo” elabora uma tentativa de reflexão sobre a dança e sobre o papel do corpo. Existe um didatismo maiakovskiano acompanhado de uma profunda musicalidade em seus poemas, Oswald de Andrade se vivo estivesse veria no Sr. Márcio Barreto, um de seus continuadores.

(Marcelo Ariel) - escritor e dramaturgo Teatrofantasma: O Doutor Imponderável contra o onirismo groove (romance) Marcelo Ariel

O autor Marcelo Ariel se mostra como um agente da poesia, um atuante nos modos de circulação da matéria literária – do livro à

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página volante da web onde ele mantém o blog TeatroFantasma. Atinge, assim, a materialidade escritural e os campos discursivos em que se lançam a literatura hoje e, em especial, aqueles decorrentes do compósito poético-situacional em combustão traçado no território de Cubatão. Seus poemas variam na expansão do dado ambiental (no sentido de ambiência, ampliado da questão imediatamente ecológica, de uma acepção unidimensional a esse respeito). Dado decisivo para a forma que tomaram seus textos em livro e se atualizam através da teatralidade com a qual Ariel concebe suas performances, desdobramentos das leituras feitas em recitais. Curiosamente , ele se refere aos eventos em que participa de corpo presente, como realizações de seu clonefantasma, numa espécie de prótese conceitual referente à sua atividade como escritor de máquinas em rede, assim como criatura subsistente, testemunha deambulante da tragédia-motiv que define sua trajetória como ser e produtor de poesia, uma vez que rege sua produção o evento-acidente (com a pregância da imagem em torno da criança morta) de Vila Socó, em Cubatão, ocorrido na década de 1980, onde foi dizimada a favela sob a qual passava um oleoduto da maior petrolífera nacional. Inevitável se mostra um paralelo com a irrupção de outro artista seminal, vitalizado pela abertura de um raio de correspondências criadoras e culturais, tendo em mira a condição saturada, supurada da socialidade. É o que se descortinou no início dos anos 1980 com o, também, paulista Itamar Assumpção. Tinha ele clonado a si a figura de Beleléu, uma persona da indigência nacional em que se lê, simultaneamente, a perspectiva postmortem ou a extrema, crescente, desmaterialização da existência cotidiana tomada como premissa da arte em trabalho. Como frisa a gíria tornada corpo, nome e pessoa, vem da morte em

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vida do social – Beleléu – esses fragmentos -entidades testemunhais apreendidos num andamento de performatividade. Cultura mediática, música negra e sublevação comunitária criam um potente elo real com a tão almejada transdisciplinaridade e a nacionalidade em tempos globais. (Mauricio Salles Vasconcelos) - Escritor e ensaísta, é autor, entre outros livros, de Rimbaud da América e outras iluminações (2000) , Stereo (2002) e Ela não fuma mais maconha ( 2011). Realizou os vídeos Ocidentes (2001) e Blanchot: Para onde vai a literatura? (2005). Atualmente, prepara a edição de O arvoredo, criação videográfica em torno da poética de Marcelo Ariel. É professor da área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa (USP) Peixe-palavra (poesia caiçara) Domingos Santos O livro, registro poético-histórico de nossa ancestralidade, esmiuça através da memória e da vivência os dias passados a beira mar, mais precisamente em Ubatuba, litoral paulista, onde nossas raízes se alargam em direção ao horizonte e traçam os limites de nossos hibridismos. (Márcio Barreto) Meu namoro com o cinema (crítica) André Azenha Tal qual um namoro longo, de altos e baixos, essa é a relação entre o crítico e a arte, e os casais mostrados nos filmes aqui abordados. “A comparação é mais do que coerente: crítica de cinema e relacionamentos amorosos têm tudo a ver. Tanto em um, quanto no outro, não existem fórmulas que funcionem sempre. Pauline Kael, da revista New Yorker, talvez a maior crítica norte-americana, disse uma

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vez que ‘você deve usar tudo o que é e sabe’ em uma crítica. Ou seja: se doar, se colocar sempre, se mostrar por inteiro”, escreve o jornalista Gustavo Klein – editor de cultura do jornal A Tribuna, principal diário do litoral paulista - no prefácio. “Claro que, dentro desse conceito, sempre haverá os galinhas, que traem sua preferida com outras artes e deixam a sensibilidade de lado, e os românticos incorrigíveis. André Azenha demonstra, neste ‘Meu Namoro Com o Cinema’, que faz parte do segundo grupo. Um apaixonado eterno pela sétima arte, que enxerga a sua magia e a reverencia. É uma paixão que compartilho. O bom, aqui, é que não a precisamos disputar. O cinema é de todos...” (Gustavo Klein) – Jornalista e editor do caderno de cultura “Galeria” do jornal “A Tribuna”

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O IMAGINÁRIO COLETIVO O Imaginário Coletivo de Arte agrega artistas do litoral paulista em suas diferentes linguagens e tem como proposta fortalecer e propagar a “Arte Contemporânea Caiçara”, valorizando nossas raízes e misturando-as à contemporaneidade. Formado em fevereiro de 2011, é resultado de anos de pesquisas desenvolvidas em diferentes áreas que culminaram na busca de uma nova sintaxe através da reflexão sobre os processos criativos na Arte Contemporânea Caiçara. Seus integrantes convergem da dança, eutonia, teatro, circo, música, literatura, história, jornalismo, filosofia e artes visuais. Estão diretamente ligados à experimentação através de núcleos de pesquisas desenvolvidos no grupo Percutindo Mundos – música contemporânea caiçara (2008), Núcleo de Pesquisa do Movimento dança contemporânea (2011), no Espaço de Consciência Corporal Célia Faustino - eutonia (2003), no Projeto Canoa e Instituto Ocanoa – pesquisa da Cultura Caiçara (2007). Em seu repertório constam “Ácidos Trópicos – uma livre criação sobre a obra de Gilberto Mendes” (teatro), “Atro Coração – uma livre adaptação sobre o amor” (teatro), “Homo Ludens – fluxos, lugares e imprevisibilidades” (dança contemporânea), “Percutindo Mundos – universo em Gentileza” (música) e “Percutindo o samba – história e poesia” (música). Ao longo do tempo realizou encontros, oficinas e palestras, tais como o "Sarau Caiçara" - Pinacoteca Benedito Calixto - Santos /SP, "Mostra de Arte Contemporânea Caiçara" - Casa da Frontaria Azulejada - Santos/SP, "Itinerâncias - Encontros Caiçaras" - Casa da Cultura de Paraty - Paraty /RJ, "Sarau Filosófico" - SESC Santos - Santos /SP, "Virada Caiçara" - São Vicente /SP e “Vitrine Literária” – SESC Santos – Santos /SP. Seu trabalho está presente em universidades, escolas públicas e instituições de cultura através de cursos, apresentações e palestras, além de inserir sua proposta artística em espaços públicos.

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www.edicoescaicaras.blogspot.com www.youtube.com/projetocanoa www.percutindomundos.blogspot.com www.soundcloud.com/percutindomundos

Desaforismos foi impresso sobre papel reciclado 75g/m² (miolo). A capa foi composta a partir de papelão e sacolas de papel doadas pelo Espaço de Consciência Corporal Célia Faustino. www.celiafaustino-conscienciacorporal.blogspot.com

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