NOBEL DE PHYSICA

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NOBEL DE PHYSICA

NOBEL DE PHYSICA

São Paulo

Casa de Ferreiro

Glauco Mattoso

Nobel de physica

© Glauco Mattoso, 2023

Revisão

Lucio Medeiros

Projeto gráfico

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

FICHA CATALOGRÁFICA

Mattoso, Glauco

NOBEL DE PHYSICA/Glauco Mattoso

São Paulo: Casa de Ferreiro, 2023

156p., 14 x 21cm

CDD: B896.1 - Poesia

1.Poesia Brasileira I. Autor. II. Título.

NOTA INTRODUCTORIA

Um premio não ganhei nem ganharei, mas, como todo bardo, dou palpite naquillo que me toca, si irmanado estou com opprimidos os mais varios, na cega condição em que me encontro. Versão abbreviada dos volumes que tractam duma physica mais quantica, até mais metaphysica, aliaz, vem esta collectanea, como livro impresso ou digital, attender aos leitores que queriam folhear poemas allusivos ao mysterio da vida no universo, ou multiverso, conforme designar tal mundo queiram. Suppondo que philosophos se tornem, miragens lhes desejo, ja que enxergam.

DISSONNETTO DOS DESMANDOS DA NATUREZA [1131]

Ninguem peidar consegue emquanto mija, ou viceversa. Então, por que será que, quando ao vaso vou, vontade dá que, ao mesmo tempo, urgente, tudo exija?

Tambem depois que exporro, a rolla rija suggere a mijaneira, mas não ha maneira de o chichi sahir de la até que a urethra, emfim, ceda e transija.

Que raio de organismo bagunçado nós temos! Não é mesmo? Si não pode fazer, por que a natura envia o brado?

Por que nosso corpão não nos accode?

Não ha como fugir ao resultado:

Pau molle não penetra e, assim, não fode!

Pau duro não urina! Triste fado!

bexiga cheia, gazes, pau de bode!

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DISSONNETTO DA PERDA DE TEMPO [1263]

Cagar ja é problema de soltura, prisão, e até logar certo e seguro. Limpar a bunda envolve novo appuro: papel, ou falta, ou rasga, ou gruda, ou fura. A mim, o que incommoda é que perdura sujeira mesmo quando ha cocô duro.

E como ficar sujo não atturo, preciso tomar banho, outra tortura. Mal saio do chuveiro, vem vontade, de novo, de cagar! E tome banho! É como enxugar gelo! Retro vade!

Mais tento ficar limpo, mais appanho! De tanto conviver com sujidade, às vezes me pergunto: o que é que eu ganho cuidando da hygiene? Ninguem ha de lamber-me! E eu lambo o alheio e nem extranho!

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DISSONNETTO DA PARTICULA RIDICULA [1459]

Será que este universo, ao telescopio visivel, não está todo contido num atomo que, visto ao microscopio dum outro mundo, até passa battido? E o tal mundo, inteirinho, nem entope o minusculo furinho no encardido sapato do habitante! Caso ensope-o na poça colossal, teremos ido. Si tudo é relativo, o micro e o macro são kosmos transitorios, e o que é sacro prophano ja se torna na poeira da quantica materia passageira. Que faço de meus livros si descubro que, em annos-luz, não dura o mez de outubro trilhões com lua cheia em sexta-feira? Gozar acho melhor. Quanta besteira!

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INSEGURA CONJECTURA [1459-B]

Materia, que de “escura” foi chamada, preenche do universo mais de oitenta por cento. Um telescopio novo tenta saber por que razão la não ha nada que possa reflectir a luz. Mas brada, na minha cabecinha, a barulhenta questão: Por cento oitenta? Quem sustenta tal numero? Que compta calculada foi essa? Por acaso os cem por cento do kosmo teem medida? Mediu quem? Depois desse limite, ja não tem mais nada? Que parede, que cemento tão quantico, tão mystico, tão bento faz muro, para alem do qual ninguem mais sabe que é que exsiste? Nunca alguem achou “terraplanismo”? Entender tento!

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DISSONNETTO PARA UM DEJEJUM DESADJEITADO [2137]

Café na cama é commodo, porem tem contras, mais que prós: quando a torrada na qual a faca passa (e vae, e vem) geléa, quebra-se antes da dentada... Migalhas se exparramam, pois não tem bandeja que as appare! Derramada, do assucar a colher rolla, tambem, por sobre o cobertor! Bastou? Que nada!

Por mais que eu tenha as coisas de mim perto, da mão a faca excappa com manteiga, e até si em leis de Murphy a gente é leiga percebe que o negocio não deu certo. Eu cada vez naquillo mais me apperto. Entorna, de repente, no final, a chicara, encharcando meu jornal! Quem manda não estar eu bem desperto?

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DISSONNETTO PARA UM AZAR ELEMENTAR [2138]

É lei: o pão do pobre sempre cae co’o lado da manteiga para baixo. Nós disso ja sabiamos, mas ai de quem se queixa, e nisso eu ca me encaixo! Bem sei que algum leitor fallar ja vae na tal da “lei de Murphy”, mas eu acho que sempre foi assim: a coisa sae errada porque o Demo quer, diacho!

A roupa que do advesso a gente veste, a acção que em alta estava e cae a zero, roubando o que na Bolsa a gente investe, o taxi que passou quando eu não quero, a chuva que só cae si estou na rua, o radio quando o ligo e só tem lero, o pau que brocha quando ella está nua...

O azar sempre tem sorte! Acaso mero?

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DISSONNETTO PARA UM ENUNCIADO AMMANTEIGADO [2142]

Com muitas variantes se enuncia a velha lei de Murphy: “Si haver pode a probabilidade, uma fatia que seja, de foder, a coisa fode.” Por outras palavrinhas: “Quem se fia na chance de dar certo, tire o bode da chuva, ou o cavallo!” Ja dizia o calvo: “Quem faz barba, faz bigode!”

Inutil discutir: o pão do pobre, excasso ja na mesa dum christão, do lado da manteiga que o recobre, na certa cahirá, voltado ao chão!

Duvidam? Quantas vezes for jogado, ainda que se inverta a posição, de novo vae cahir do mesmo lado e a Murphy accabará dando razão!

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DISSONNETTO PARA UMA LIGAÇÃO INOPPORTUNA [2148]

Não toca o telephone uma só vez emquanto no banheiro não entrei, mas basta eu me sentar, vejam vocês, e alguem de me chamar se lembra... É lei!

A lei tem nome: Murphy! Appós uns trez ou quattro toques, para o phone, eu sei, e perco outra viagem! Sou freguez do trote e, si attender, ja me ferrei! Do banho ou da privada, bobo, eu corro e escuto: “Vem lamber, vem, seu cachorro!” Mas, quando ja me animo, cae a linha. Sim, claro que era mera pegadinha. Ja, quando estou torcendo p’ra que seja a voz do tal troteiro, alguma egreja me pede um donativo à creancinha. Da physica a lei tem que ser. Não tinha?

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DISSONNETTO PARA UMA RISOPHYSICA MURPHOLOGICA [2156]

Depois da “pathaphysica” em Jarry, da quantica, da scientologia, definem-se “antileis” para quem ri: Millôr, como Arthur Bloch, as enuncia. Nenhum laboratorio fez, aqui ou la, qualquer analyse, mas, via de regra, duma fructa o sumo, eu vi, nos olhos vae saltar, p’ra que alguem ria.

Não, nada de sanctinho que interceda!

Adduz Millôr que, sendo a fructa azeda, ainda é mais provavel que proceda a lei, visando os olhos como regra.

Porem não ficará só nisso, não! Tambem o detergente, ou o sabão da esponja, ao nos lavarmos do limão, se nos expirrará! Tudo se integra!

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DISSONNETTO PARA UM BANHO ANTILEGAL [2157]

Ao cego, a lei de Murphy mais aggrava seu negro quotidiano. O cego tenta saber a posição das coisas: grava, decora... mas a logica é “marrenta”. Si cae-lhe o sabonete emquanto lava o sacco, o cego abbaixa, appalpa... Lenta, a mão percorre o piso. Onde elle estava? Jamais onde suppunha a mente attenta! Num cantho. Noutro cantho. No terceiro. Até que emfim! No quarto cantho! Arteiro! Na proxima, estará de novo alli, si esteve, na anterior, mais por aqui? Depende. Caso o cego alli directo procure, o sabonete está, bem quieto, no cantho opposto, como quem se ri da physica, das leis nas quaes ja cri.

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DISSONNETTO PARA O QUE SE ACHA PERDIDO [2158]

Si alguem, legisla Murphy, anda à procura dum troço pela casa, elle estará naquelle logar onde a gente jura que nunca estar podia, e raiva dá. Peor: leva um tempão e, a certa altura, podemos desistir... e, quando ja não era mais preciso, a diabrura do troço é apparescer! Ah, porra, va...!

Peor ainda: quando urgente, a gente correndo compra um novo. Então, na frente do nosso nariz, surge o troço antigo!

Precisa accontescer justo commigo?

Peor, muito peor: comprado um novo, sem uso fica e, como diz o povo, “Desgraça pouca...” Eu nunca contradigo alguma lei da physica... Ha perigo!

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DISSONNETTO PARA UM CEGO PÊ DENTRO DA ROUPA [2159]

O cego pelo advesso a roupa veste, invariavelmente. Então, desvira, rogando praga contra aquella peste de lei, dicta “de Murphy”: é ziquizira! Às vezes, só percebe que vestira na frente o que era attraz si um cafageste, ao vel-o, racha o bicco e sarro tira. Não tem um dissabor que eu mais deteste!

Me enrosco, não importa o que eu fizer!

Cueca, camiseta, meia... Nada que o cego pegue está de jeito: cada buraco achado é aquelle que não quer!

Um methodo offeresça quem souber! Si quer pegar na manga, pega a golla; si tenta a golla, a roupa entorta, enrolla, e a manga à mão lhe volta, onde estiver.

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DISSONNETTO PARA UM ULTIMO QUE NÃO RI [2160]

Appenas Murphy explica: a outra fila mais rapido andará do que esta minha. A coisa vale para uma tranquilla espera ou quando o publico se appinha. No banco ou no correio, onde se oppila meu figado, anda a fila que é vizinha à minha, mas a minha até seguil-a demora: aqui mais lento se caminha.

Diria alguem: então de fila troque!

Ahi que a lei funcciona: si a reboque daquella eu me puzer, vae ser batata!

De physica, amigão, é que se tracta!

A fila em que eu estava passa a andar, emquanto que esta para ou, devagar, meu passo advança... e o tempo assim se empatta. Da physica a lei passa por exacta.

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DISSONNETTO PARA UMA HILARIA CULINARIA [2161]

Tambem se encontrará murphologia na mesa e na cozinha: uma receita, testada e ja approvada, não podia falhar quando um convite o amigo acceita. Mas falha! La na casa da tithia ficou uma delicia! Desta feita não pode dar errado! Que haveria de ser, si a gente a formula respeita?

Depois que o convidado está servido, percebe-se o fiasco! Até duvido, agora, do meu proprio paladar!

Que mais posso fazer para aggradar?

Diz elle que gostou, mas ficou chato. Sozinho, outra vez tento, e então o pratto me aggrada novamente! É de amargar! Da physica será lei... ou azar?

22

DISSONNETTO PARA AQUELLE ARTIGO SOBRE A LEI DE MURPHY [2162]

Si a gente uma materia acha importante guardar, mas não recorta logo e deixa, é tiro e queda: que ninguem se expante si foi pro lixo, sob a podre ameixa. Agora é tarde! Caso alguem levante a voz para a empregada, a inutil queixa se perde em meio a tantas que, na estante das obras murphologicas, se enfeixa. Si algum amigo tinha um exemplar guardado da revista, de jogar no lixo o dicto accaba, elle tambem. É claro que você vae ficar sem! Aquelle que você certeza tinha que o texto guardaria... Ja adivinha: rasgou-se nas mãozinhas do nenen. Da physica lei pode ser, que nem...

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Jogar fora uma coisa que tenhamos ha muito tempo é drastica attitude. Só quando analysei todos os ramos da logica formal, tomal-a eu pude. Mas, immediatamente appós, notamos que falta algum principio que se estude, provando que a tal coisa, que jogamos no lixo, era-nos util ammehude.

Será possivel? Temos algo e não usamos! Não estando mais à mão, notamos quanta falta nos fazia!

Da physica lei nova ja seria?

A Murphy isso não basta: caso eu va comprar outra, novinha, faltará motivo para usal-a todo dia. A logica, assim, sempre se desvia.

24 DISSONNETTO PARA UMA DESCHARTABILIDADE DISCUTIVEL [2163]

Vocês ja repararam? Si a questão é grave, a coisa é simples: não tem jeito. E o que não tem remedio (era o refrão) está remediado. Um bom preceito. Si é superficial, porem, virão correndo os palpiteiros, que o defeito detectam, o problema e a solução estudam e equacionam, e eu acceito!

Acceito theorias que se embutem! Acceito e até paguei aos que discutem, bem caro, por signal, para que chutem hypotheses plausiveis, mas inuteis! Bem feito! O meu fiasco se revela! Bem feito! Quem mandou dar tanta trella a falsas theorias, si é ballella, segundo Murphy, atter-se a questões futeis?

25 DISSONNETTO PARA UMA DISCUTIBILIDADE DESCHARTAVEL [2164]

DISSONNETTO PARA O CONTRATEMPO ROPTINEIRO [2167]

Horario, para Murphy, imprevisivel será: com um relogio, o cara apposta que sabe as horas, mas, com dois, fallivel se torna a precisão de que elle gosta. Divergem nos minutos ou, no nivel suisso, nos segundos: a resposta exacta, essa jamais será possivel saber, e tanto faz a joia e a josta. Si tem hora marcada e chega em cyma, os outros é que attrazam; caso o clima lhe cause o attrazo, a turma é ponctual. Então, p’ra que relogios, affinal?

Accertam-se os poncteiros, mas, no dia seguinte, elle não sabe em qual confia, si a hora certa nunca é tal nem qual. Na physica, seria a lei normal.

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Relogios, aliaz, são pratto cheio às antileis de Murphy: ao consertal-os, jamais uma engrenagem la do meio retorna a seu logar sem pisar callos. Não é como esses pendulos, badalos ou cucos de parede: o manuseio requer um olho clinico. Intervallos são sempre millimetricos, bem sei-o. Como se explica, então, que uma pecinha minuscula daquellas, que la tinha funcção, possa sobrar, feito o reparo?

Eu pago p’ra saber, pois sou ignaro! Si for recollocada é que o poncteiro, que estava funccionando, bem certeiro, encrenca novamente: é Murphy, claro! Será sempre, na physica, mais caro.

27
DISSONNETTO PARA O MYSTERIO DO RELOJOEIRO [2168]

DISSONNETTO PARA UM QUADRO DYSFUNCCIONAL [2169]

Meu chefe é sempre um chato. Meu collega, que está em departamento differente, tem chefe mais legal, que nunca pega no pé nem fica patrulhando a gente. Tolera attrazos; decisões delega; cerveja, no final do expediente, convida p’ra tomar; musica brega nem curte, só rockão de antigamente.

Será? Não é bem isso o que me diz um outro funccionario, que até quiz pedir p’ra trabalhar no meu sector. Será mesmo verdade? E si não for?

Segundo o que la dizem, nosso chefe é gente fina... Caso um de nós blefe, a Murphy sempre presta algum favor. Na physica, tem isso um professor.

28

DISSONNETTO PARA UM EXPERTALHÃO PASPALHÃO [2170]

Quem gosta de levar vantagem, tem, na dicta “lei de Gerson”, campo aberto a tudo que é “jeitinho”. Mas tambem se expõe às leis de Murphy mais de perto. “Experto é o brazileiro em tudo, certo?”, dizia Gerson, mas notar convem: às vezes, a experteza engole o experto, que sempre quer ganhar, por cento, cem.

Achamos que lucramos pechinchando ao maximo, na compra. Eis sinão quando, na loja ao lado, aquillo é mais barato!

De nada addeantou poupar sapato!

Achamos que podemos furar fila, mas era a fila errada: ao preferil-a, perdemos o navio, o trem, o jacto.

Na physica ha preceito bem exacto.

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Aquella dor de dente, aquella crise de estomago ou pulmão que, volta e meia, retorna, sem que previamente advise, é tudo que este cego mais receia!

Costuma apparescer, feito reprise, na vespera da data em que passeia o medico, o dentista: quem precise de rapidos soccorros experneia!

Batata: é feriadão, ou sexta-feira à noite, quando, na cidade inteira, fecharam as pharmacias! Ai de mim!

Doente justo agora a ficar vim!

É claro que do Murphy, então, me lembro!

Quer seja Paschoa ou Septe de Septembro, Natal ou Carnaval, é sempre assim!

Em util dia, as dores terão fim!

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DISSONNETTO PARA UMA DOR DE BARRIGA EMPURRADA [2173]

DISSONNETTO PARA UMA DOR DE CABEÇA EMBURRADA [2174]

Estomago, pulmão, cabeça, dente: symptomas são communs. Quando elles veem, [vêm] a gente, emfim, assume estar doente e marca uma consulta: urgencia tem. O facto de marcar ja nos faz bem, accalma a consciencia: o paciente se sente medicado, mesmo sem tomar nenhum remedio, só na mente. Não fica nisso a coisa, todavia. A dor retorna, e a gente não addia mais: tracta de correr ao hospital. Quem é que não faz disso um carnaval?

De Murphy a lei funcciona nessas horas: na vespera, ja sinto umas melhoras; na frente do doutor, ja estou normal. Dum physico tal caso tem aval.

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DISSONNETTO PARA UMA REUNIÃO CONVOCADA [2175]

É grave a situação! Da enorme mesa em volta, todos temos uma phrase plausivel para o caso. Nossa empresa paresce estar vivendo a peor phase. Arriscam-se palpites, mas surpresa não causa que a noticia má ja vaze e, em nossa freguezia, haja fregueza temendo que o serviço todo attraze.

Naquelle clima tenso, alguem sorri e achamos que dirá: {Ja descobri um jeito de sanarmos o problema!

“Não tema!” será sempre esse meu lemma!}

Mas Murphy é lei vigente! Elle lembrou de alguem em quem botar a culpa! Estou com medo de que alguem diga: “Não tema!”

Ninguem contra a maré da sorte rema!

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DISSONNETTO PARA UMA DISCUSSÃO PROVOCADA (1/2) [2176]

(1)

Em publico, quem batte bocca arrisca, alem da propria pelle, seu conceito. Ainda que só seja gente arisca a physico desforço, é mau o effeito. Qualquer dos dois accaba por ser isca de erroneas impressões dos que direito não sabem discernir: nem odalisca distinguem duma bisca! É um povo estreito!

Com typos imbecis eu não discuto nem gasto com bossaes o nhenhenhem, sinão é discussão de padre e puto: capaz de não saberem quem é quem. Não falha a lei de Murphy: si eu evito na rua batter bocca com alguem, accaba por sahir o meu attrito nalgum jornal, que é publico, tambem.

(2)

Em publico, quem batte bocca arrisca, alem da propria pelle, seu conceito. Ainda que só seja gente arisca a physico desforço, é mau o effeito. Qualquer dos dois accaba por ser isca de erroneas impressões dos que direito não sabem discernir: nem odalisca distinguem duma bisca! É um povo estreito! Com typos imbecis eu não discuto, sinão é discussão de padre e puto: capaz de não saberem quem é quem, quem possa ter razão e quem não tem. Não falha a lei de Murphy: si eu evito na rua batter bocca, meu attrito sae no jornal, que é publico, tambem. É lei da Natureza, disso alem.

33

DISSONNETTO PARA QUEM SAE NA CHUVA [2177]

“Jamais eu entraria (disse o Groucho) num clube que me acceite como socio”. Tambem na lei de Murphy nada frouxo paresce esse argumento, nem beocio. Millôr pode ser quem melhor esboce-o em termos allusivos ao arrocho no credito bancario. É o tal negocio: mais leva quem ja está com olho roxo. Você consegue a grana caso prove que della não precisa. Não commove ninguem no banco o appello dum fallido. Na physica a lei sempre faz sentido. Do pobre todo emprestimo é cobrado. O banco offertará valor dobrado só para algum politico... ou bandido. Si estou fallido, nunca me endivido.

34

DISSONNETTO PARA QUEM CHOVE NO MOLHADO [2178]

Você, si for poeta creativo (não digo “original”, que isso é besteira), difficilmente passa pelo crivo dum editor que fede ou dum que cheira. Quem brilha na mais alta pratteleira é sempre aquelle auctor repetitivo, que abusa do clichê, que se ammaneira ao rotulo vigente e appellativo. Até na poesia a lei de Murphy, naquillo que, na practica, arredonda, accaba sendo a mesma que, no surfe, vigora: o que dá fama é pegar onda. Emquanto estiver vivo, o gajo fica à margem, não importa o que responda à midia. Si a cannella cedo estica, a fama impedirá que elle se esconda.

35

DISSONNETTO PARA UM PROCEDIMENTO PADRÃO [2179]

“Independentemente dos appellos rhetoricos de Roma, o que na Terra se vê conduz appenas a modellos do bellico estatuto, que odio encerra.

O Estado impõe-nos excessivos zelos, impavido, implacavel com quem erra: aos inimigos, temos de vencel-os...” Resumo da operetta: guerra é guerra.

O que foi dicto accyma exemplifica aquella lei de Murphy: qualquer dica, mais simples, ficará mais complicada. Na physica, peor fica a parada.

Si dicto de outra forma, o mais complexo e grosso manual é o mais sem nexo: o excesso de instrucções adjuda é nada! Esteve toda regra sempre errada.

36

(1)

“Que sorte a nossa, hem, cara? Nem siquer tivemos que usar mascara ao voar!

Nem houve incendio a bordo, nem mulher gritando, si cahissemos no mar!

Estamos, accredite si quizer, illesos, a cabeça no logar!

Podiamos estar ja sem qualquer controle! Nos restava só rezar!”

Em pleno voo, alguem sempre nos falla, bem alto, dessas coisas. Tem o dedo do Demo nessas horas. Uma escala a mais será motivo de mais medo.

Está na lei de Murphy: quando attraza, de grave algo accontesce nesse enredo. Alguem jura que ha fogo, que foi asa, ou panne no motor, si chega cedo.

(2)

“Que sorte a nossa, hem, cara? Nem siquer tivemos que usar mascara ao voar!

Nem houve incendio a bordo, nem mulher gritando, si cahissemos no mar!

Estamos, accredite si quizer, illesos, a cabeça no logar!

Podiamos estar ja sem qualquer controle! Nos restava só rezar!”

Em pleno voo, alguem sempre nos falla, bem alto, dessas coisas! Uma escala a mais será motivo de mais medo.

Eu, nessas horas, sempre retrocedo. Está na lei de Murphy: quando attraza, alguem jura que ha fogo, sim, numa asa, ou panne no motor, si chega cedo. Humor, nas leis da physica, haja, azedo!

37
DISSONNETTO PARA UM PASSAGEIRO ESTRESSADO (1/2) [2180]

DISSONNETTO PARA CADA COISA FORA DO LOGAR [2182]

Da lei de Murphy o cego é bom refem: é facil contra o gajo conspirar si está sozinho em casa, sem ninguem que enxergue alli por perto p’ra adjudar. Depende elle do tacto. As coisas teem, comtudo, que ficar no seu logar, na mesma posição, sinão dá azar: pensando ser tostão, cata o vintem. Não é que a faxineira o sacaneia, mas elle proprio exquesce onde está a meia, a pillula, o vermifugo, o veneno, um pote de estrychnina, alem dum Eno. Do advesso ou com um pé de cada cor, a meia lhe dá trote. Mas si for veneno por remedio, o azar é pleno! A physica não faz effeito ameno.

38

DISSONNETTO PARA UM MEDALHÃO MALPASSADO [2183]

Virtude é o meio termo? Às vezes, não. Depende do que a gente pensa ou sente. Depende até do Murphy: entre estar são e morto estar, o meio é estar doente. Às vezes sae mais cara a solução (que extremos concilia) que a que tente seguir só numa ou noutra direcção: “democradura” é exemplo convincente. Aqui vae outra nota pequenina: Si, numa empresa, em vez de haver cantina interna ou de comer alli na exquina, trouxer o funccionario o proprio almosso, no ranking das marmitas, o ovo fricto, que nada tem de feio nem bonito, não causa tanta inveja, ou tanto attrito, quanto um filé “minhão”, sem nervo ou osso.

39

DISSONNETTO PARA UM SACCO MAL PUXADO [2184]

Quanto mais puxasacco o gajo for, maior chance terá de promoção. Mas isso tem limite: um superior não quer o incompetente a dar-lhe a mão. De Peter ou de Murphy, o cumpridor da lei será quem chega à posição mais alta na carreira. De favor, porem, ninguem ascende à direcção.

Só vale, no ambiente de trabalho, à parte qualquer methodo mais novo, em parte a theoria: eu nunca valho o mesmo que quem sabe babar ovo.

Serviço eu faço certo. Eu nunca attrazo. Eu tracto bem da firma todo o povo. Eu lavo as mãos. Descarga eu dou no vaso. Mas, si não bajular, não me promovo.

40

DISSONNETTO PARA UMA COBRA QUE NÃO MORDEU [2186]

Mudar de roupa é sempre um troço chato. Seria bem melhor andar pellado! Mas mesmo quem é cego tem recapto, ainda que vivendo enclausurado. Pois bem: abro a gaveta e, pelo tacto, procuro meu pyjama, ja lavado, que eu mesmo alli guardei... Então constato a falta delle e fico appavorado. Mas como? Onde estará? Tenho certeza que estava la! Será? Procurei tanto! Que faço, então? Perdido na indefesa cegueira, a Murphy rezo, como ao sancto. Na machina? No tanque? No varal? Do armario a pratteleira até levanto. Mas nada? Na gaveta ao lado? Em qual logar? Melhor procuro... Acho... e me expanto!

41

DISSONNETTO PARA UMA NUVEM NEGRA [2189]

Si o guardachuva de levar exquesço, é certo que eu me molhe no aguaceiro. Porem, si aquelle incommodo addereço eu levo, faz bom tempo o dia inteiro. De Murphy a lei nos cobra um alto preço que não seria expresso por dinheiro, mas por um baixo astral, um clima advesso, peor que o prejuizo financeiro.

Fazendo sol, o taxi até buzina chamando, e ha bar aberto em cada exquina. Chovendo, tudo muda de figura e duras condições a gente attura.

Só vejo bar fechado em todo lado.

Não passa um taxi, ou passa ja occupado. Si perto para um carro, é viatura. Na physica, tal zica não tem cura.

42

DISSONNETTO PARA UM GAZ FUGAZ [2194]

Poetas, da antilei de Murphy, são tambem refens e victimas: um verso feliz, a rhyma rica, a accentuação correcta, é tudo advesso, tudo adverso. Si tempo têm, papel, canneta à mão, é a coisa mais difficil do universo a idéa; si ammeaça o cagalhão sahir, nem tudo é vago, nem disperso. Sentado na privada, a idéa vem mais facil que o cocô! Quando, porem, estou frente ao teclado, ja se exvae. Não volta nem que eu peça a bença ao Pae. Emquanto limpo a bunda, acho a perfeita metaphora, que encanta e que deleita, mas volto ao micro e perco até um haikai. Na physica a graphia, até, me trae.

43

DISSONNETTO PARA UM HILARIO ITINERARIO [2196]

Expanto é o que me causa a lei: o attalho será, segundo Murphy, o mais distante caminho entre dois ponctos! Quebra o galho de prompto, mas retarda, mais addeante. É a typica “antilei”: si um mappa expalho na mesa e appanho a regua, quem garante que aquillo que medi não dá trabalho maior p’ra percorrer? Ha quem se expante?

Na physica não ha lei menos dura. Fugindo à linha recta, se procura do trafego excappar, mas é loucura, pois todos ja terão a mesma idéa.

Na physica não ha regra bonita. Accaba que a avenida que se evita mais livre está que a contramão maldicta: um becco na favella mais plebéa.

44

DISSONNETTO PARA A SIMULTANEIDADE SEM PIEDADE [2197]

Na sancta paz está tudo. Mas vae sinão quando apparesce algum problema. Normal, dirão vocês. Talvez. Mas sae de baixo: outro apparesce... Que dilemma! Qual delles resolver primeiro? Cae a ficha quando Murphy, com extrema maldade, acha um terceiro, um quarto... Dae coragem a quem contra a maré rema!

Mas sancto nenhum vale quando o rollo está nas coisas practicas: ao pol-o em ordem, tudo volta à sancta paz.

Na physica só temos fadas más.

Por que não apparesce um só por vez? É tudo ao mesmo tempo! Então vocês percebem do que Murphy foi capaz.

Na physica não ha fada, aliaz.

45

Peor coisa não ha que um erro grave tardiamente achado. Ao corrigil-o, pensamos que foi gol, mas foi na trave: não era um erro, appenas um vacillo. Depois de corrigido, caso lave as mãos quem commettera tudo aquillo, percebe-se que a falha foi suave, talvez inexsistente... Eu logo estrillo: Na physica não valem os porquês. Apposto que foi Murphy quem nos fez perder tempo arrhumando o que talvez nem fosse necessario pôr em ordem! Da physica as razões eu nunca sei, mas todos nós subjeitos a tal lei estamos: os que foram, mais que o rei, zelosos, mais a isca agora mordem.

46
DISSONNETTO PARA QUEM SE ARREPENDA DA EMENDA [2198]

DISSONNETTO PARA QUEM CULPA A CHAVE DE FENDA [2199]

Até que emfim! O technico ja veiu mexer no equipamento avariado! Paresce competente, mas não creio que a lei de Murphy esteja do seu lado. Elle desparafusa (e accerta em cheio, suppõe ingenuamente) a tampa: achado o foco do problema, ja no meio do adjuste, nota o equivoco, coitado!

São tantos parafusos! E essa porra de tampa a qualquer um fará que incorra em erro: era outra a tampa a ser aberta! Na physica, não temos mente experta. E toca a começar tudo de novo! Eu, ca commigo, nunca me commovo com technicos: nenhum jamais accerta. Na physica é que o callo nos apperta.

47

E quando installa um technico a novinha e cara apparelhagem que comprei?

Está toda testada, mas a minha festança dura pouco, reza a lei.

Que lei? Ora, a de Murphy! Ja adivinha você meu drama: mal eu dispensei o technico (e de longe o gajo vinha), defeitos verifico... Me ferrei!

Agora, só agendando outra visita!

O gajo volta, testa, e esta maldicta tranqueira então funcciona direitinho!

Da physica as leis sempre eu ca sublinho: Foi só virar as costas o subjeito, de novo verifico que o defeito perdura, e inutilmente me abbespinho. Na physica ninguem é coitadinho.

48
PARA QUEM CULPA
CONTRACTO
VENDA [2200]
DISSONNETTO
O
DE

DISSONNETTO PARA UM PRATTO PREMIADO [2204]

Um gajo diz: “A coisa que eu odeio é achar algum espinho no filé de peixe!” Diz um outro: {Si, no meio da carne acho algum nervo, eu brigo, até!}

Não é que a lei de Murphy ja lhes veiu mostrar quem é que manda? No café de quem não quer assucar, um sorteio fatal joga um tablette a mais! Pois é!

Não ha quem, desse jeito, um prazer goze! No almosso, acharam todos bom o bife, excepto quem quiz carne com mais griffe, em cujo pratto surge a aponevrose!

Não ha quem de gastronomo, assim, pose! No pratto do “espinhophobo” cae tudo que os outros nem notaram! Bem ponctudo, um grande no gogó lhe para! É dose!

49

DISSONNETTO PARA UM ILLUSORIO ACCESSORIO [2205]

Funcções demais tem essa ferramenta: perfura, corta, entorta, desentorta... Àquelle canivete ella accrescenta mais umas dez funcções, e outras comporta. Desdenha Murphy desse tal que inventa taes typos de utensilio: não lhe importa que em todas as funcções a ferrugenta tranqueira mal funccione e pese, morta. Fallando em mil mais uma utilidades, não vi nenhum ladrão que a lei attinja. Jamais se viu parar attraz das grades quem vende a collecção de facas “Ninja”. Tem uma pro tomate, outra pro aspargo, mais outra p’ra cenoura... Ora, restrinja a duas ou trez, porra! Sem embargo, que ao menos corte tanto quanto finja!

50

DISSONNETTO PARA UM ROPTEIRO BRAZILEIRO [2206]

Não fallo de Brazil, é claro, mas normal nos é voar si o voo attraza. Mais hora, menos hora, tanto faz, comtanto que cheguemos bem em casa. Sem panne nos controles, aliaz, nem fogo na turbina ou rombo em asa. Normal, emfim, é quando tudo em paz transcorre e nada aborta, feito a NASA. Mas, quando o nosso voo soffre attrazo e perco a connexão, seria o caso de ver na lei de Murphy a causa disso. Um physico não fica, nisso, ommisso. Por que é que a connexão sahiu na hora, si sempre, ella tambem, falha e demora? Só para que eu desmarque um compromisso! Ah, Murphy só nos presta desserviço!

51

DISSONNETTO PARA QUATTRO GATTOS RESPINGADOS [2209]

Errar humano é, diz o dictado. Mas quando o Manoel, que muito ganha só para calcular, erra num dado de calculo, o patrão, severo, extranha. E si, de Manoeis, for um boccado?

Uns quattro ou cinco? É confusão tamanha que ja ninguem mais sabe si é culpado o Manoel da Sylva ou o Saldanha.

“Eu lavo minhas mãos!”, diz o Mané de Souza, e quem garante que não é o proprio o responsavel pela falha?

Lhe parta um raio, ou coisa que lhe valha!

Jamais se saberá: de Murphy a lei me salva si no calculo eu errei no meio dessa estupida gentalha. Na physica, não erra quem attalha.

52

DISSONNETTO PARA DOIS VINTENS EXCAMMOTEADOS [2210]

Errar no troco é coisa que accontesce nas boas e melhores padarias. Por que será, porem, que o caixa exquesce de dar-nos um tostão todos os dias? Vem sempre troco a menos, reconhesce o proprio funccionario, o Malachias. Um troco a mais, jamais, nem que uma prece eu faça àquelle Murphy, que é Messias. Assim, de falha em falha, o Manoel que, claro, é proprietario brazileiro de estirpe lusitana, faz papel mais de banqueiro que dalgum padeiro. Quem é que não se lembra dos centavos que o banco “arredondava” com inteiro e solido consenso? Jamais bravos ficavamos, tão pouco era o dinheiro...

53

DISSONNETTO PARA UMA TRANSMISSÃO OMMISSA [2211]

Si foi de futebol uma partida narrada pelo radio, me estrepei, pois nunca o ligo a tempo: que valida o escore uns quattro a trez, agora, eu sei. Mas não sei quem marcou! Ja transcorrida metade do segundo tempo, a lei de Murphy se confirma: toda a vida repetem o placar que decorei.

Caralho! Quanto está não interessa!

Quem são os artilheiros, porra? É dessa exacta informação que necessito!

Caralho! O narrador meresce um pito!

Não é que o jogo accaba? Ninguem falla os nomes dos que fazem ser de gala o classico espectaculo, e eu me irrito!

Na physica se explica meu conflicto.

54

DISSONNETTO PARA UM PASSEIO QUE ODEIO [2212]

Andar de elevador, Murphy sancciona, mais pune quem reside em alto andar, pois, quando o de serviço não funcciona, demora o social para chegar. Não deu outra: appertei o botão, dona Chlothilde, dez accyma, de appertar accaba! O elevador, que dá carona aos vandalos-mirins, vem devagar.

Passou, claro, directo pelo meu: parou primeiro la, depois desceu até aqui, lotado... E eu me apporrinho. Sim, foi do Capitão algum sobrinho! Agora vae parando, de um em um, pois fez a molecada o mais commum: em todos os botões mette o dedinho e Murphy me sorri, sempre excarninho.

55

DISSONNETTO PARA UMA TARDIA TRAVESSIA [2215]

Quem sae à rua encontra, a cada passo, um caso a mais que o delle corrobora. Si for attravessar, faça o que eu faço: não ponha da calçada o pé p’ra fora. Bem antes olhe: pelo largo espaço, não vem carro nenhum naquella hora. Mas, quando me decido, aquelle excasso e calmo movimento ja peora. Do nada, surge carro attraz de carro, em fila accelerada! Eu, solitario que estou, como pedestre, então exbarro, na beira da calçada, em outro otario. Tambem elle deixou de attravessar no poncto em que parei, qual visionario, emquanto a pista expressa era o logar mais hermo e o mais tranquillo itinerario.

56

DISSONNETTO PARA UM INTESTINO INTEMPESTIVO [2217]

Está na lei de Murphy: a caganeira vem sempre inopportuna em seu momento. Eu passo uma manhan, folgado, inteira em casa, e nada, nem siquer um vento. Sabendo que a vontade é costumeira, às vezes eu me sento e cagar tento. Ao recto facilito, caso queira sahir, bem grosso e solido, o excremento. Suppositorios ponho, exforços faço, mas canso de esperar, si o tempo passo pensando que, hoje à tarde, ha agenda urgente. Não posso me fingir de indifferente!

Nem bem à rua saio, e os signaes sinto num omnibus, na fila, ou num recincto em cujo sanitario ouço: “Tem gente!”

Da physica as leis eu que entender tente!

57

DISSONNETTO PARA UMA ROPTA ABBARROTADA [2218]

Está na lei de Murphy: quanto mais nós temos pressa, mais vae devagar o meio de transporte. São normaes alguns attrazos, nunca tanto azar. Metrô é exemplo classico: ja faz tempão que, deste lado, sem passar nenhum, agguardo em meio ao povo, mas na plataforma opposta, vou comptar: Passou um, dois, e agora ja o terceiro, vazio até! E eu, deste lado, beiro a furia, impaciente e revoltado. Na physica, ninguem olha meu lado! E quando, finalmente, o trem de ca nos chega, está tão cheio que nem dá p’ra todo mundo entrar, e sobra gado de fora. Murphy goza, feito um sado.

58

DISSONNETTO PARA UM LIQUIDO EM LIQUIDAÇÃO [2219]

Está na lei de Murphy: a gente faz mais compras do que pode consumir. Banana, por exemplo: o preço assaz barato não nos deixa resistir. Si vemos “em offerta” um elixir do somno, ou capillar, caro, aliaz, achamos que é vantagem. Si subir o preço, ninguem dorme mais em paz. Então sobra a banana, que appodresce ao lado de laranjas ou mammões. Cabello não terá queda que cesse por causa de elixires ou poções.

O somno, como a merda, só vem quando quizer, não quando eu quero. Taes licções jamais apprenderei e, agora, mando à puta que pariu as promoções!

59

DISSONNETTO PARA UM CHEIO VERANEIO [2220]

Está na lei de Murphy: quando à praia vão todos num feriado, não descansa ninguem, nem se diverte, pois quem saia de casa ja estressado, exquesça: dansa! Que a estrada engarrafada não attraia ladrões em arrastões, é uma festança!

Que haja agua na caixa e que não caia a dicta como chuva, outra esperança!

Emfim, caso voltemos ‘inda inteiros do “baita programmão”, e os malloqueiros não tenham nos roubado, damos graças.

Não, folgas não são coisa para as massas!

Melhor não nos seria ter ficado, tranquillos, desfructando do feriado em casa mesmo, juncto com as traças?

A physica legisla taes desgraças.

60

DISSONNETTO PARA QUANDO O AFFECTO AFFECTA [2221]

Está na lei de Murphy: o que começa até que bem, accaba mal; o que começa mal, nem reza, nem promessa dá jeito, nem ha magica que dê. Namoro, por exemplo: si você está appaixonadissimo, interessa ir logo para a cama. Ja se vê que, si ella topa facil, tem boi nessa.

E quando ella não topa? O tempo passa, você perde o tesão, e sae à caça de novas adventuras, coisa e tal. É physica a carencia sexual.

Ahi que ella o procura, e se offeresce. Talvez até com outro ella estivesse, você suppõe, e a duvida é fatal. A physica a tal lei ja deu aval.

61

DISSONNETTO PARA UM DOIS A DOIS [2222]

Está na lei de Murphy: o futebol devia ser do povo uma alegria, mas, seja o sabbadão de muito sol ou chova no domingo, é triste o dia. Ao menos quando falla portunhol o “pibe” que, artilheiro, tripudia no escrete canarinho: morde o anzol o nosso time, e acceita a aguinha fria. Ainda que nem sempre nós percamos, é como si perdessemos: passamos nervoso o jogo inteiro, a tarde inteira! De Murphy isso me cheira a brincadeira. Si dois marcamos e a Argentina nada, tememos que a Argentina, de virada, por trez a dois nos vença, a catimbeira! A physica aval deu a tal besteira.

62

DISSONNETTO PARA UMA TARDIA ALLEGORIA [2223]

Depois que a charta é posta no correio, occorrem-nos idéas e a sentença mais propria a cada idéa, que não veiu à mente emquanto a charta ‘inda se pensa. Tambem na poesia tal receio tem justificativa: na presença do auctor, o verso achado não faz feio, mas mau paresce quando sae na imprensa.

Ficava bem melhor assim, assado, julgamos, si o poema é publicado.

Por que não surge a tempo o termo exacto?

Por que não dei ao verso melhor tracto?

Resposta: Murphy explica. Quanto mais eu quero ver meus versos nos jornaes, mais erros saem, que antes não constato. É physico um problema tão ingrato.

63

DISSONNETTO PARA UM JANTAR DE GALA [2224]

Está na lei de Murphy: uma toalha carissima, e que raro usamos, não excappa do accidente; uma que valha pouquissimo jamais soffre um borrão. Aquella que vovó deixou bem calha na mesa de jantar, occasião em que não convidamos a gentalha, appenas gente amiga do patrão.

Assim não ha quem sirva algo “de gala”!

Emquanto aquella mesa foi forrada com pannos mais baratos, nunca nada de sujo accontescera a conspurcal-a.

Mas sempre convidamos alguem “mala”!

Foi só servir a janta nessa, a cara, que a sopa, o vinho, o molho derramara a mais chique madame alli na salla.

64

DISSONNETTO PARA UM EMPECILHO A DOMICILIO [2225]

Está na lei de Murphy: solucione algum problema, e um novo surgirá, creado pelo velho, como um clone gerado por alguem que morto está. Pedindo pizza pelo telephone, accabo desistindo, porque ja demora alem da compta. Um cannellone então peço, e cancello a pizza la.

O tempo vae passando... O tempo passa... Peor a emenda: agora leva a massa mais tempo do que a pizza, uma desgraça da qual me sinto appenas o joguete.

O tempo vae passando... Uma agonia! Emfim chega a encommenda: pizza fria, seguida doutro pratto, que seria de massa, e mais paresce ser sorvete.

65

DISSONNETTO PARA UMA OCCUPAÇÃO PREOCCUPANTE [2226]

Um hobby nos distrae, pois não occupa la muito tempo: appenas meia horinha por dia. E pouca coisa exige: a lupa, a colla, uma tesoura, a escrivaninha. Mas vae crescendo, a coisa: a gente aggruppa mais hobbies ao primeiro, e ja exquadrinha revistas, livros, uma catadupa de dados... Quanto tempo a gente tinha! Agora, o passatempo secundario, com sellos, discos, algo assim, embargo se torna, obrigação: ha quem compare-o a um vicio, à dependencia, ao gosto amargo. O tempo livre, que era bem maior, ao somno ou ao lazer sempre mais largo (quem collecciona cita ja de cor), ficou todo tomado pelo encargo.

66

DISSONNETTO PARA A LOGICA MURPHOLOGICA [2227]

Millôr advisa: Murphy nada tem a ver com pessimismo. A lei ignora que typo de attitude adopta alguem perante a vida, si sorri, si chora. Si Murphy é imprevisivel, sou refem dos factos, simplesmente. Não melhora si for eu optimista e, com desdem, peora o que achei pessimo ‘inda agora.

É physico o fatidico factor.

Tentar burlar é inutil: si alguem for levar o guardachuva, ha de suppor que sae ganhando, chova ou faça sol.

É como um talisman, mas de mentira!

É foda! Si chover, o vento o vira; si sol fizer, leval-o é ser caypyra, pois Murphy faz que mordam seu anzol.

67

DISSONNETTO PARA A PREVISÃO NA REVISÃO [2228]

Terror dos escriptores, “gatto” ou “gralha” é aquillo que “misprint” o inglez traduz: o tal erro de imprensa. Quem trabalha revendo provas nunca lhe faz jus. O auctor é quem percebe a grave falha que excappa à revisão: quando eu suppuz que esteja tudo certo e o livro valha o nome do editor, ai! Credo em cruz! Passei e repassei... E não vi nada! De Murphy a lei puniu quem escrevinha! Tambem o revisor, na papellada, deixou passar a troca da lettrinha. Só quando sae o livro, lindo, impresso, e à midia um exemplar ja se encaminha, a lei se manifesta e a Murphy peço que nunca mais me puna... Illusão minha!

68

DISSONNETTO PARA O CHINELLO DO CEGO [2229]

À rua pouco saio e em casa fico calçando só chinellos. Quando saio os troco por sapatos, cujo bicco de pato seja e não de papagayo. Fui claro? Não? Depois explico o bicco. Agora é nos chinellos que eu ensaio um caso, e a lei de Murphy exemplifico, qual praga que nos parte feito um raio. De volta, eu, que sou cego, então procuro o raio do chinello no logar deixado certa feita. Alguem, no escuro, consegue? Em quaes logares pode estar?

São varios! Num primeiro, nunca está. Tambem não no seguinte. Elementar. Num ultimo, é certeza, notei ja. Si inverto a ordem, logico, dá azar!

69

DISSONNETTO PARA O SAPATO DO CEGO [2230]

De papagayo, o bicco do sapato, ao qual me referi, mais tem a ver com dores na columna. Seu formato influe, claro, na dor ou no prazer. Aquelles com os quaes baratta eu macto no cantho da parede, evito os ter. Só tenho biccos largos, mesmo chato não sendo meu pé: gosto de excolher. Ainda assim, a lei de Murphy pega no pé duma pessoa que está cega: descalço em casa, a sola nunca coça. A sorte não seria nunca nossa. Mas basta que eu, calçado, à rua saia, e o raio da coceira ja se expraia do dedo ao calcanhar de casca grossa, de modo que coçar-me eu nunca possa.

70

DISSONNETTO PARA UMA MISSA ENCOMMENDADA [2231]

Ao padre, a lei de Murphy um mandamento mais forte que o sagrado representa. Si faz um tempo bom, poucos por cento irão à missa, é sempre o que elle enfrenta. Si faz tempo ruim, o movimento será ‘inda menor, logo se adventa. E o padre, accostumado, a passo lento caminha nessa tarde tão cinzenta.

É claro que attrazado chega à egreja e expanta-se que, à espera delle, esteja ja tanta gente alli, rumor correndo.

Não pode haver transtorno mais horrendo!

Então elle se lembra e até celebra a missa para Murphy, a quem não quebra promessas... Seu bom senso eu comprehendo. A physica até disso faz addendo.

71

DISSONNETTO PARA O TENNIS DO CEGO [2232]

Em busca do chinello, o cego exbarra, depois de percorrer o apê todinho, em certo par de tennis, que elle aggarra com raiva, porque o facto é-lhe excarninho. Chinello, elle não acha! Mas, na marra, teria que encontrar pelo caminho o que não procurava! É tão bizarra aquella lei de Murphy, o saphadinho! Emquanto aquelles tennis procurara, jamais os encontrou. Eu nunca appello ao sancto nesse lance. Está na cara que assim succederá com o chinello!

O cego anda descalço por bom prazo, pisando na migalha e no farello, até que, já exquescido desse caso, tropeça nelle... Como o mundo é bello!

72

DISSONNETTO PARA A MYSTICA MURPHOLOGICA [2233]

Agora ja nem rezo a São Longuinho! Recorro, curto e grosso, ao padroeiro da lei que mais vigora no caminho dum cego: o proprio Murphy, um sancto arteiro. Nem Pedro Malasartes, que, adivinho, ja foi canonizado, é tão herdeiro do machiavellismo comezinho por entre cujas pedras eu me exgueiro. Portanto, para Murphy agora eu rezo, sim, quando em desamparo mais extremo, pedindo piedade... Não desprezo, comtudo, a intercessão do proprio Demo!

Estou tão escholado, appós a vista perder, que contra as ondas ja não remo. Me guardo e, mesmo sendo masochista, não subestimo um Murphy, a quem mais temo.

73

DISSONNETTO PARA UM BUFFET DE BUFAR [2234]

Provoca o bandejão chance frequente às antileis de Murphy. Para mim, accaba sempre aquella sopa quente por cuja causa a esta fila eu vim. Nem chega a minha vez, e alguem na frente serviu-se do restinho e deu-lhe fim. Mas resta a sobremesa! Infelizmente, percebo que pegaram meu puddim.

Va la que isso nem custa tantas pilas!

Eu sempre chego tarde e perco as frictas, as carnes, o torresmo! Essas maldictas, fatidicas, terriveis, tristes filas!

Jamais as circumstancias são tranquillas! Às vezes, chego cedo, na esperança de achar taes iguarias, mas a pança não encho, pois demoram a servil-as!

74

DISSONNETTO PARA A BOTA DO CEGO [2235]

Dizer que “quem tem bota, tem trabalho” pertence à popular sabedoria, porem na lei de Murphy me attrapalho mais do que quem enxerga supporia. São muitos os ilhozes e me valho dos dedos ao aptar a porcaria daquelle cadarção, mas fica falho o laço, no cothurno, que eu queria. Accabo desistindo, e a bota ammarro a esmo. Saio puto e, num excarro, no mijo, ou no cocô, sei que pisei. A physica me explica, saberei.

Retorno, ‘inda mais puto, ué! Da sola quem é que um cagalhão desses descolla? Só quem de Murphy duvidou da lei! Da physica jamais eu duvidei.

75

DISSONNETTO PARA UM SAPATO MARCA “MURPHY” [2236]

Você gostou bastante do modello? Não tem justo o seu numero, ja soube. E quando você gosta do modello e o numero confere, não lhe coube. Si tudo está de accordo, vae perdel-o: recusa o preço por achar que roube. Emfim, si o vendedor logra vendel-o, não cante ‘inda victoria, não se arroube, pois, mesmo que o modello bem lhe aggrade, que seja o seu tamanho e, na cidade inteira, ninguem venda mais barato, o azar lhe será sempre mais ingrato. Ainda assim, você não o terá, devido à forte chuva que ja está cahindo e encharcará o novo sapato, formando mais chulé no seu pé chato.

76

DISSONNETTO PARA UMA FUMAÇA MAÇANTE [2237]

Quem gosta que lhe soprem pela cara fumaça de cachimbo, ou de charuto? Quem menos sacco tem, mais se depara com isso, em seu espaço e em seu reducto. Si o gajo for fumante, nem repara, mas o antitabagista fica puto, pois vive reclamando e até declara que, caso irado, appella ao jogo bruto. Inesperadamente, a baforada attinge, si o tabaco desaggrada, narinas mais sensiveis, Murphy advisa, na sua lei provavel e precisa. Depois que ja tossiu, nem addeanta brigar, pois, si é passiva uma garganta, effeitos soffrerá, diz a pesquisa que sempre a midia cynica reprisa.

77

DISSONNETTO PARA UMA SYMPHONIA SEM SYNTONIA [2238]

Diz Murphy: si você chegar na hora, cancellam o espectaculo, é batata.

Tardando a começar, lamenta e chora si, a tempo, p’ra chegar, você se macta.

Emfim, quando é você quem se demora, o show já começou... Que coisa chata!

Alguem a quem culpar? Sua senhora, que é lerda quando de sahir se tracta.

“Depressa! Que molleza! Assim perdemos o raio do concerto, com os demos!”

Retruca a dona: {Va você na frente, si pensa que isso é mesmo tão urgente!}

Malvado é Murphy: irritam-se por nada! A musica é moderna e desaggrada quem curte a orchestração de antigamente.

Você entendeu? De physica nem tente!

78

DISSONNETTO PARA UM FREGUEZ DESCORTEZ [2239]

Diz Murphy: quem mais chora e mais reclama é aquelle que não paga, ou que se attraza. Cliente ponctual, de boa fama, com todos os direitos, poupa a Casa. O cara é caloteiro e “mala”: mamma nas tetas do governo, é mente rasa, estupido, bebum, ruim de cama, e como cidadão nobre extravasa.

Fiado sempre leva, mas commenta que, aqui, as mercadorias são noventa por cento de segunda, e de terceiro provem o seu bagulho costumeiro.

“Bem feito!”, pensa o chefe. “Accaba nisso dar credito a subjeito irritadiço, pois quanto mais luxento, mais fuleiro!”

Na physica ha argumento mais certeiro?

79

Fallando em chefe, Murphy o caso cita do pobre funccionario, que se estressa e encargos mil assume, mente afflicta, temendo que erro minimo o despeça. Mais cedo chega a cada dia. Evita motivos dar ao chefe e se confessa fanatico por trampo. Não attrita com quem um favorzinho a mais lhe peça. Depois dum dia cheio, em que despacha dezenas de encommendas, só relaxa num unico momento, e se expreguiça. Sentindo o sacco preso, presa a piça, estica a perna. Expõe, p’ra descansal-a, a sola sobre a mesa... E então, na salla, o chefe, às pressas, entra... Que injustiça! Na physica tal facto foi premissa.

80
PARA UMA PAUSA EM CAUSA [2240]
DISSONNETTO

DISSONNETTO PARA UM VERDADEIRO ALLARME FALSO [2243]

O allarme do automovel só dispara si a porra não está sendo roubada. Ladrão trabalha bem, nem se compara a um troço que faz tanta palhaçada! É machina importada, coisa cara, mas faz o nosso ouvido de privada: o treco só funcciona, está na cara, quando ha silencio, em plena madrugada! Na lei de Murphy consta um corolario fallando em como é besta um proprietario de carro, em como teme o prejuizo. A physica affirmou. Eu nem preciso. No entanto, a tanta raiva nos convida por causa desse allarme, que a torcida da gente é que lhe roubem gatto e guizo. A Murphy isso provoca muito riso.

81

DISSONNETTO PARA UMA SEMANTICA DA SYSTEMANTICA [2244]

De Murphy o punk é victima, podendo levar na cara aquillo que mais tema: porrada. Eu ca confesso que o defendo, si ao punk é tudo culpa do Systema. P’ra systematizar qualquer problema, não basta transformal-o em lei: dizendo que a lei ainda é falha, chore ou gema o povo, os doutos fazem-lhe um addendo.

Mais logico seria rejeital-a, si a lei não presta. Mas quem disso falla? Preferem emendal-a eternamente.

Quem acha que tem jeito, mudar tente!

Não quer saber o punk a quantas anda o tramite: na musica da banda, melhor ser, do Systema, independente. Que seja. Mas a quantica não mente.

82

DISSONNETTO PARA UM PÊ DEFERIMENTO NESTES TERMOS [2245]

Talvez a lei que Murphy mais assigne e endosse seja aquella que à barreira, ao custo e ao embaraço se destine: a da burocracia brazileira. Xerox authenticado, que ao fanzine não serve, é claro, a fila costumeira, carimbo, formulario... O que define melhor que a lentidão aduaneira? Na physica não ha maior azar. Seus termos são: “Si pode complicar, p’ra que simplificar?” E um lupanar, de attrazo e papellada, nos estupra. Carecas nós estamos de saber: Crear difficuldade p’ra vender falsa facilidade, eis o poder cruel, chartorial, do “vide supra”.

83

Reserva a lei de Murphy, aos que à dieta pretendem dedicar-se, a mais frustrante das considerações. Quem carnes veta e come só verduras, não se expante: Verdura, appenas, come um elephante! Quem peixes quer comer e como meta tem logo emmagrescer, antes que jante seu pratto de pescado, isto lhe affecta: Baleias comem peixe, appenas peixe! Retruca um optimista: “Ora, não deixe que um pappo de humorista o dissuada!”

Na physica, de extranho não ha nada. Pois faça como queira o natureba: da morte nada excappa, nem ameba, por causa da ração que foi mudada. A physica previu a marmellada.

84
DISSONNETTO PARA QUEM ESTÁ REDONDAMENTE ENGANNADO [2249]

DISSONNETTO PARA A CREANÇADA ADVANÇADA [2250]

Creança é bicho arisco. Caso alguem queira photographal-a, ella não para quietinha um só minuto. Não dá nem p’ra ter um instantaneo só da cara. Por outro lado, quem appenas tem vontade de filmal-a, ja a compara à estatua de pedra, porque “zen” se torna de repente, a peça rara.

Creança é exquisitona, Murphy conta: na nossa frente é muda, não affronta ninguem, e um palavrão não se lhe escuta. Na physica, se explica tal conducta. É só chegar visita, ella desanda, bem alto, a praguejar, e a todos manda tomar no cu, foder-se, ou ir à puta... Nem Murphy tal conducta lhe refuta.

85

DISSONNETTO PARA O PAPEL DO PAPEL [2251]

É só você sentar-se na privada, si, emfim, sentiu vontade não sentida faz tempo, e se dá compta de que nada que o limpe resta, e a tira era comprida. Os rollos de papel nos deixam cada vez mais damnados e mais pês da vida: accabam logo, fica pendurada appenas a ponctinha retorcida.

E agora? Murphy sabe como é suja a bunda de quem caga molle, cuja fedida merda excorre pela perna. Commum é tal problema na caserna.

O jeito é levantar, passar o dedo e, rapido, lavar-se... Um gosto azedo nos fica no gogó, repulsa eterna. Explica-se, na quantica moderna.

86

O chefe explica: “A culpa não é minha!”

E é cynico: “Fui pego de surpresa!”

A culpa não será da vovozinha materna, que gerou a baroneza? Extoura-lhe no collo a comezinha, prevista podridão e, com certeza, explicará o barão que jamais tinha supposto um appagão na luz accesa! Num predio ou num governo, egual modello. Exacto, é para isso, a vida adverte, que exsiste uma chefia. Caso accerte, dirá, nisso, que errou, com todo o zelo. A Murphy tal assumpto faz appello: É dura a vida: quanto mais vital o cargo, mais inepto o eventual e ephemero occupante a preenchel-o.

87 DISSONNETTO PARA O CONFESSIONARIO DO FUNCCIONARIO [2252]

DISSONNETTO PARA O TORTO POR LINHAS TORTAS [2253]

A estrada está deserta. Ao longe, vem, em cada poncta, vindo um caminhão. No meio, a ponte estreita, e Murphy tem certeza: ao mesmo tempo chegarão. De carro você chega em casa e não ha vaga em frente ao predio. Mais de cem metrinhos logo addeante, é contramão, mas estaciona o carro. Diz alguem:

“Olá, doutor Godinho! A caminhada faz muito bem, não é?” Você, que nada responde, pensa: {Ah, va tomar no cu!}

Mais sujos palavrões ha no bahu. Chegando ao predio, nota você, puto, que agora ha varias vagas. {Não discuto}, pensa você, {com Murphy e Belzebuth!}

Ja Murphy lhe sorri do jeito cru.

88

Si Murphy no hospital uma visita fizer, constatará que a lei vigora em toda a plenitude. A tal da fita usada em curativos corrobora: São dois esparadrappos, Millôr cita, os typos disponiveis alli: ora aquelle que não gruda, e agente evita, ora o que não desgruda, e a gente chora. Tal thema você pede que eu expanda?

As pillulas que o medico nos manda tomar antes do almosso e propaganda expalha dos effeitos, são fataes:

São justamente aquellas taes que mais estragam nosso amargo paladar e para sempre temos que tomar. Na physica se explica tal azar.

89
DISSONNETTO PARA UM APPROMPTUARIO MURPHOLOGICO [2254]

DISSONNETTO PARA A BANANA QUE SE DEU [2256]

Banana, para Murphy, é fructa boa na applicação da lei: si não estão maduras, come todas a pessoa que as compra, verdolengas, por tostão. Si, antes que ammaduresçam (que nos doa a pança) as devoramos, nunca vão ser todas consumidas quando excoa o tempo e ja passadas ficarão.

Em summa: fructa a gente sempre traz p’ra casa em quantidade que capaz não é de consumir sem que appodresça. Ninguem tem, para a physica, cabeça.

Si compra pouco, accaba, e alguem reclama; si compra muito, sobra, e qual a dama que come? Até mendiga foi condessa! Ninguem espera que ella, agora, desça.

90

DISSONNETTO PARA UM NOTORIO FINORIO [2257]

Freguez do Murphy é um certo Godofredo Godinho: por ser gordo, elle adivinha olhares sobre si. Como tem medo de ver-se demittido, se apporrinha. Jamais pelo escriptorio elle caminha de mãos vazias, si é apponctado a dedo: trez folhas de papel, uma pastinha traz sempre, attarefado de arremedo.

Num corredor, só anda pelo meio.

Na rua, ao lado delle, outro bem cheio caminha, e os dois bloqueiam a calçada.

Na quantica se explica a palhaçada.

A chance de que o vejam com alguem com quem não quer ser visto serão bem maiores si seu nome, alto, outrem brada e Murphy desse lance dá risada.

91

DISSONNETTO PARA UM IMPASSE NA LEI DO PASSE [2258]

Athleta é mesmo grosso, e Murphy adora nos ver contrariados com um craque. Si nosso time o compra, elle, na hora, começa a não valer tanto destaque. Tractava bem a bolla, mas agora paresce que exquesceu e, caso emplaque um gol, foi sem querer. Era, la fora, um idolo; virou galan de araque. Por causa, até, da physica acho rhyma...

Si a camera, isolada, lhe approxima a imagem, não ha griffe que o redima: excarra, coça o sacco, tira monco. Na quantica se explicam taes extremos: O cabeça-de-bagre que vendemos, no entanto, noutro time agora o vemos brilhando, e nem paresce ser tão bronco.

92

“Virtude, em vez de premio, tem castigo”, dizia Sade, “e o vicio é premiado...”

Concorda Murphy: {A mesma coisa digo, embora num discurso não tão sado...}

Practique a boa acção: pague ao mendigo o almosso, dê-lhe mais do que um trocado; empreste seu dinheiro a algum amigo que esteja na peor... Depois, cuidado!

Uma vezinha só que você dê, a mesma coisa esperam de você dalli por deante, sempre, eternamente. Na quantica se explica tal semente.

Virtude que a si mesma se castiga: mostrar benevolencia attrae a intriga, a inveja, a ingratidão do “irmão” carente.

Você que leis testar experimente!

93
DISSONNETTO PARA OS INFORTUNIOS DA VIRTUDE [2259]

DISSONNETTO PARA AS PROSPERIDADES DO VICIO [2260]

Tambem Godinho soffre, no serviço, o effeito negativo da virtude: às vezes elle assume compromisso maior, sem que ninguem appoie e adjude. Por que não allegou: {Fiz o que pude...}?

O gordo se exhibiu mais que o magriço, agora cobram delle uma attitude egual: “Você já fez melhor do que isso!”

E sua o gordo, sua e passa o lenço na testa, arrependido desse immenso, enorme abacaxi... Virtude ou vicio?

Na quantica, são ossos dum officio. Ensigna Murphy: nunca faça bem aquillo que, fazendo mal, ninguem repara nem censura. É desperdicio. A physica testou esse exercicio.

94

DISSONNETTO PARA A EXPERTEZA NA BURROCRACIA [2261]

É facil, muito facil, summamente facil difficultar as coisas para obter vantagem disso. Murphy mente si assim affirma? A coisa está bem clara. Reciproca veridica: si a gente tentar facilitar, nem se compara! É muito mais difficil, coherente com tudo que na lei ja se affirmara. Da physica a lei vige, é o que eu suspeito. É na burocracia que o preceito tem mais applicação: famoso é o jeito, “jeitinho”, como dizem, que o confirma. Aquella “commissão” mais comezinha, um simples cafezinho, uma “caixinha”, melhor que “Abre-te, Sesamo!”, encaminha papeis e reconhesce qualquer firma.

95

DISSONNETTO PARA UMA COCEIRA TRAIÇOEIRA [2262]

Nervoso é que Godinho mais se coça: nas costas e na sola, a comichão se torna insupportavel quando engrossa a fila à sua espera no balcão. Por que será que, justo quando nossa mãozinha está occupada na funcção mais suja e gordurosa, nos accossa o accesso de prurido? Extranho, não?

A quantica define essa enrascada?

Si Murphy explica, não adjuda em nada na hora em que se está, de mão molhada, sentindo uma coceira bem no sacco, coceira que, aos pouquinhos, fica mega. Na frente dum freguez ou dum collega, Godinho se controla, tosse, offega, e diz com seus botões: “Não seja fracco!”

96

DISSONNETTO PARA A CORRESPONDENCIA SEM URGENCIA [2263]

O attrazo, no correio, é relativo. Segundo Murphy, a charta, si é de amor, o cheque que nos é dinheiro vivo, papeis, não contra nós, mas a favor... Ah, levam trez semanas! E eu me privo de coisas importantes, do que for urgente e necessario... Um outro crivo regula os documentos sem valor... Convites, propaganda, emfim a “mala directa” que nos enche e que assedia a todos (“mala” calha bem chamal-a) não tardam, chegarão no mesmo dia! Si for cobrança, então, é bem capaz, emquanto cochilamos nós na salla, de vir batter à porta algum rapaz folgado, que comnosco grosso falla!

97

DISSONNETTO PARA UMA RECLAMAÇÃO POR ESCRIPTO [2264]

Quem fez uma encommenda, prompto esteja: segundo Murphy, irá passar nervoso. Vencido ha muito o prazo, elle exbraveja, comsigo mesmo irrita-se, choroso. Godinho foi a victima: despeja a raiva numa charta e, pressuroso, despacha sua queixa malfazeja, de chulo estylo e effeito duvidoso.

A physica bedelho mette nessa!

Naquelle mesmo dia, em que regressa da agencia dos correios, uma expressa remessa empacotada elle recebe.

Da physica a lei sempre foi atroz! Chega a mercadoria sempre appós cansados de esperar estarmos nós e o termos dicto em termos, como a plebe.

98

DISSONNETTO PARA A NOSTALGIA DA MELODIA [2265]

Recorda-se Godinho, com pesar, de sua adolescencia: desde então reconhescia um Murphy a boycottar prazeres corriqueiros, sem razão. Ligava o radio e, sempre, na estação que mais syntonizava, ao escutar appenas o final duma canção de sua preferencia, dava azar.

Até que, emfim, comprava o amado disco!

Não é que, justamente, achava um risco naquella mesma faixa favorita?

Na physica se explica tal desdicta.

Não tinha jeito: o gordo sempre foi marcado pela lei... Por mais que soe cruel, hoje é só nisso que accredita: na physica, na quantica maldicta!

99

DISSONNETTO PARA AS LINHAS DESCRUZADAS [2266]

Elevador quebrado. Pela escada Godinho sobe e, como é gordo, sua em biccas. Ja procura a chave em cada bolsinho, e vê que Murphy está de lua. Escuta o telephone. Uma affobada mão abre a porta e, rapido, recua, por ter cessado o toque. O gordo brada sonoro palavrão que ouviu na rua. Se affasta, e novamente a porra toca. Attende. Escuta um clique: alguem colloca no gancho o telephone. O gordo estrilla. Na physica se explica, sem quezila. Se lembra de ligar para quem ama, mas disca errado e, quando o phone chama sem que ninguem attenda, ja se grilla. Obeso, mais seu figado se oppila.

100

DISSONNETTO PARA UM HOTEL BARULHENTO [2267]

Quem rhoncha sempre dorme mais depressa que aquelle que não rhoncha e que, na cama, irá se revirar, damnado à bessa, sem que no somno pegue: a Murphy a fama! Godinho, por exemplo, soube dessa verdade, ja hospedado e de pyjama, no quarto dum collega, que não cessa do rhoncho e nem escuta quem reclama. Godinho duvidou. Eu não duvido.

Foi por economia... Arrependido de dividir o quarto, faz ruido bem alto, a ver si accorda o companheiro. O hotel inteiro accorda, excepto o peste, o bocca-de-serrote... Ha quem conteste? Das leis a Natureza se reveste! Quem rhoncha, o gordo ouviu, dorme primeiro.

101

DISSONNETTO PARA OS OCULOS DO CEGO [2268]

Millôr: “Toda particula que voa encontra sempre um olho”. Eu digo mais: {Um olho sem os oculos dá boa, melhor, optima chance p’ra leis taes...}

Os oculos escuros, na pessoa do cego, são adviso aos mais “normaes” que o gajo nada vê. Não é à toa, porem, que as lentes são descommunaes.

Tambem de protecção contra os tais ciscos funcciona aquelle escudo, pois os riscos que corro ao exquescel-o são batata!

De physica, leitor, é que se tracta!

Appenas uma vez, uminha só que à rua fui sem elle, e um grão de pó, maior do que um torrão, quasi me macta!

À quantica não faço uma bravata!

102

DISSONNETTO PARA UMA MOEDA MEHUDA [2269]

Na quotação do dollar, Murphy deita e rolla: quem viaja ao exterior não pode pechinchar que não acceita comprar quando é mais alto seu valor. Na volta, quer vender e, desta feita, encontra o cambio em baixa. Quando for de novo viajar, outra desfeita dos factos: ja subiu... Nunca a favor! Da physica a lei logo se colloca: Si, para variar, Godinho troca, com muita antecedencia, a massaroca de notas que guardou, e lucra nisso, verá que é Murphy cumplice de Sade! Na certa nem terá opportunidade de usar esse dinheiro, pois lhe invade a casa o “amigo” e nelle dá sumiço.

103

DISSONNETTO PARA UMA CONFERENCIA CONFERIDA [2270]

No artigo publicado, ommitte o auctor a fonte mais citada em que baseia seu thema. Arrisca, adapta-lhe o teor, torcendo que o leitor no texto creia. Mas Murphy estava allerta! Algum leitor mais especializado irá, na teia, pegar justo a tal falha, e está a propor que faça a mesma critica quem leia. Si for um tal Godinho quem escreve o artigo, não será, por certo, breve o espaço do jornal para a resposta. Ja Murphy curte: é disso que elle gosta. Mais chance então terá o leitor attento de falhas apponctar no documento, provando erronea a these alli proposta. Na physica se explica aquella josta.

104

DISSONNETTO PARA A IMAGEM DA EMBALLAGEM [2271]

O frasco de remedio deveria à prova de creanças ser, mas quem garante? Aquelle adviso, em theoria, bastava estar no rotulo. Porem não pensa Murphy assim: caso a tithia, tentando, não consiga abrir, e nem consiga a vovozinha, o frasco cria a idéa de que a tampa veda bem.

Bobagem! Vira as costas um adulto e logo a filharada faz o insulto que à industria pharmaceutica mais dóe. O frasco não resiste ao menor boy!

Xaropes, gottas, pillulas ou pós, é tudo violavel, tudo! Appós romper o frasco, um filho ‘inda o destroe. Na physica se explica bem, hem? Ói!

105

DISSONNETTO PARA UNS OVOS NOVOS [2272]

Um ovo, diz Millôr, é commummente bom alvo para Murphy. Uma saccola que rasgue, entre outras compras, logo a gente constata, é justo aquella em que elle rolla. Si quebra onde não deve, um ovo mente, por fora, si está podre. Quem controla, olhando, a qualidade, nem presente [pressente] o estrago quando a casca se viola. O chato é que só vemos que não presta depois que foi quebrado, e nada resta sinão jogar do bollo a massa fora. Na physica se explica bem, senhora. Quebrar directamente um ovo em cyma dos outros alimentos desanima, mas, si o testamos antes, não nos gora. Assim é que, na physica, vigora.

106

DISSONNETTO PARA A VALIDADE VENCIDA [2273]

Si houver, para um producto, garantia da technica assistencia por um anno, ou da reposição, Murphy advalia: em treze mezes surge-lhe algum damno. A Murphy é indifferente si confia você na qualidade que Fulano de Tal ou que Beltrano promettia no annuncio da tevê, garboso e uffano. Chamar de “obsolescencia programmada” é cynico euphemismo: aquillo é, nada mais, nada menos, que clichê fuleiro. Na physica se explica por inteiro. O troço autodestroe-se em treze mezes, deixando putos todos os freguezes e rico o fabricante trappaceiro. É quantica na veia, companheiro!

107

DISSONNETTO PARA O ESPIRITO DO PÃO [2274]

Não basta repetirmos nós que o pão do pobre sempre cae tendo voltado seu lado ammanteigado para o chão: detalhes outros pedem mais cuidado. Exemplo: si é manteiga mesmo e não geléa ou margarina, o resultado da queda differença faz; si são só taccos, si é carpete ou cementado. E mesmo que não caia o pão da mesa, será mais molle quanto mais dureza tiver nossa manteiga, ‘inda gelada. Da physica ninguem ha que se evada. A Murphy, é mais provavel que, ao passal-a, você perfure o pão, que estica, estalla, se parte, e cae-lhe a solida camada.

À quantica, contrario não ha nada.

108

DISSONNETTO PARA O PÃO DO ESPIRITO [2275]

Um livro, advisa Murphy, sempre pede extrema paciencia a seu auctor. Forçoso lhe será que não arrede em nada e nunca ceda ao revisor. Coitado do poeta si elle cede! Achando que lhe faz algum favor, o cara altera as tonicas e impede que o “se” se torne enclitico... É um censor!

Maior erro é mandar originaes sem erros, impeccaveis, para os taes bossaes da revisão, que vivem disso. Na physica se explica todo o enguiço.

Melhor é commetter um erro crasso, grosseiro, de proposito: é o que faço, deixando o babacão mostrar serviço. Mas, ‘inda assim, meu tempo desperdiço.

109

DISSONNETTO PARA UM VACILLO NO SIGILLO [2276]

Godinho, no escriptorio, experimenta momentos de tensão. Graças a quem?

A Murphy! Eis, pois, o gordo, em marcha lenta, que, para tirar copias, vindo vem. Na machina pesada e barulhenta xeroca um documento que contem seu “confidencial” teor. Se ausenta um pouco e, quando volta, ficou sem...

Si fosse algum papel desimportante, jamais o exquesceria, quem garante é Murphy, auctor da lei, que não perdoa. Na physica ha, tambem, lei firme e boa. Depois de procurar por toda parte, emfim Godinho o encontra! Um quasi enfarte soffreu ao ver que, ao vento, elle ja voa. Melhor cuidar que um ratto não o roa...

110

DISSONNETTO PARA A INVERSÃO DOS PAPEIS [2278]

Godinho olha, perplexo: duma pilha enorme de papeis, os que lhe estão por cyma repetiram a armadilha na qual cahira ha pouco, o bobalhão. Algumas folhas elle desvencilha das outras; umas tende sua mão a logo desvirar; as que elle pilha de costas e ao contrario o assustarão.

Ja tenso, o coração teme que imploda. Emfim, elle conserta a pilha toda! Mas eis que Murphy quer que elle se foda, pois, feita a arrhumação, ella se inverte. Na physica se explica tanta zica: Papel que estava certo, torto fica! Mostrava antes o cu, e agora a picca lhe mostra o documento mais sollerte!

111

DISSONNETTO PARA UMA PAULADA CALCULADA [2279]

Apponcta bem Millôr a differença que exsiste entre uma lei da natureza e a lei de Murphy: nesta a gente pensa emquanto o pão do pobre cae da mesa. A lei da natureza, em sua immensa e astral sabedoria, dá a certeza de que tudo dará, sem desadvença, errado, e Murphy causa-nos surpresa. Do mesmo jeito, sempre, é como a lei se mostra natural quando eu errei naquillo que errarei: dá na cabeça. Na physica a lei sempre é mais advessa. Varia, todavia, em Murphy a setta: si estou desprevenido, ella me affecta; si allerta estou, agguarda que eu a exquesça. De Murphy essa noção é mais travessa.

112

DISSONNETTO PARA UM CAUDILHO EXPERTALHÃO [2281]

Millôr descreve bem o que seria um lider charismatico: “A melhor maneira de guiar, com maestria, a plebe, a multidão, a sei de cor. Bastante é reparar para qual via a massa se dirige ou, na peor hypothese, de quem se refugia, qual medo lhe provoca mais suor...”

Depois, é só correr na frente della, brandindo ou agitando uma amarella bandeira, ou qualquer coisa semelhante. Na physica, a lei sempre se garante.

Que digo? Amarellar não acconselha sinão a minha rhyma! Si é vermelha a cor, Murphy consagra o commandante do novo movimento que se implante.

113

DISSONNETTO PARA O EXCESSO DE BAGAGEM [2282]

Voltando de viagem, vem Godinho de malas carregado. No saguão do predio, elle, na falta dum carrinho, segura immensa mala em cada mão. Cansado de esperar que o comezinho ranger do elevador o traga ao chão, o gordo, sobre o piso cor de vinho, descansa, arfando, o fardo pesadão. No mesmo instante, chega o elevador. Mal entra, elle se vira, prompto a pôr o dedo no botão do seu andar, cansado, ja sabemos, de esperar. Frustrado, vê que o lado para o qual virou-se é errado: Murphy acha fatal que opposto haja um botão a quem entrar. Na physica se explica tal azar.

114

DISSONNETTO PARA UMA CASA LOTADA [2284]

Si forem numeradas as poltronas, é certo que o espectaculo dará ensejo à lei de Murphy, pois nas zonas vazias da platéa o caso está. É justo onde as senhoras mais gordonas deviam se sentar, que ‘inda não ha ninguem, quasi na hora em que as cafonas cortinas vão se abrindo, la e ca.

Então chegam as ultimas pessoas: por mais que de maneiras sejam boas, provocam grande incommodo às demais e uns tantos palavrões serão fataes.

Occorre que é no meio da fileira que fica o logar vago de quem queira sentar: quem ja sentou se irrita mais. Na physica as razões são naturaes.

115

DISSONNETTO PARA O DOMINIO PRIVADO [2285]

No campo das idéas, Murphy fica sentindo-se à vontade. Quando um cara achou aquella rhyma, rara e rica, que estava procurando, alguem a usara. O cara um trocadilho bolla, applica aquillo a um bello titulo e compara o achado (como em “épica”, que “é pica”) às obras-primas que um Millôr creara.

Descobre, então, que alguem o “psychographa”, alguem que, si accusado, bem se sapha, dizendo que do povo se utiliza e pensa que isso tudo suaviza.

Roubar alguma idéa dum subjeito é “plagio descarado”; si for feito o mesmo plagio a muitos, é “pesquisa”. De physica se explica a coisa, à guisa.

116

DISSONNETTO PARA UM EQUIPAMENTO MARCA “MURPHY” [2286]

Faz tempo que Godinho percebeu que aquella velha machina é uma droga: {O dono não sou eu. Ah, si fosse eu, jogava fora...} Mas ninguem a joga. A machina é da firma. {No museu é que devia estar!} E dialoga

Godinho com alguem que se attreveu a delle duvidar e que o interroga:

“Verdade? Não funcciona? Pois eu acho que é só mexer com jeito!” Que esculacho!

Godinho rindo está: {Não me provoque! Duvido que você por mim se troque!}

Tentando demonstrar que a traquitana de facto está quebrada, elle se damna, pois ella liga, e ja ao primeiro toque. Na physica as razões terão enfoque.

117

DISSONNETTO PARA DEPOIS [2287]

Não ha melhor momento do que o dia de hoje p’ra deixarmos p’ra ammanhan aquillo que ninguem, de facto, iria fazer jamais, em consciencia san. Assim se diz de quem nunca foi fan de encargos e problemas, quando addia indefinidamente aquella van e inutil decisão que tomaria.

Millôr, que, como Murphy, o caso apponcta, sinão dalgum “nadista” mais uffano, do gajo preguiçoso alem da compta, paresce suggerir que elle é bahiano.

Mas elle é brazileiro: eu mesmo, cego que nunca se conforma com tal damno, do suicidio nunca me encarrego e vou deixando... Nem marquei um anno.

118

DISSONNETTO PARA O SEGREDO DO POLICHINELLO [2288]

Millôr diz que o segredo do successo é de sinceridade usarmos, mas explica: só fará grande progresso quem conseguir fingir-se de veraz. Me faço de sincero si confesso que, às vezes, de mentir serei capaz, mas, mesmo si desculpas a alguem peço, irão dizer que o faço em tom mordaz.

Poeta é mesmo assim, Murphy resalta: fazendo da mentira sua falta maior, finge chorar, mas exaggera, ainda que sob ovos da gallera.

Accaba gargalhando, e sua dor provoca appenas riso, si alguem for levar a serio a magoa mais sincera. Na physica se explica tal chimera.

119

DISSONNETTO PARA UMA COLHER TORTA [2289]

Nas brigas, sobra para quem apparta a parte mais difficil: dar razão às duas partes. Nunca se descharta, comtudo, a lei de Murphy na questão. Exemplo: caso um bronco a cara parta dum cara bem mais fracco, você não consegue demovel-o com a farta dosagem de argumentos mais à mão. Você lhe diz “Não batta nelle! Pense na sua mamãezinha!” e não convence aquelle troglodyta, cuja cuca miolo mal contem, que lhe retruca: {Fallou commigo, otá? Tu tá querendo xingar a minha mãe? Quando eu me offendo, peor é p’ra quem entra na muvuca! Com vara curta a onça tu cotuca!}

120

DISSONNETTO PARA AS BODAS DE OURO [2290]

Suppõe-se, a duração dum casamento inverte a proporção do que se gasta na festa. Sendo um grande e quente evento de midia, dá-lhe um “Corta!” o cineasta. Si for casorio pobre, ‘inda se arrasta aquella relação por meio cento. Mas, quando a “socialite” não é casta, o escandalo é mais rapido que o vento.

Famoso jogador que, num castello francez, com a modello formou bello par, logo mais, nas nupcias, se separa e a midia tudo delles excancara.

Aquelle peão velho que fez pouca comida, só pãozinho e carne louca, ainda della aguenta ver a cara por muito tempo e diz, feliz: “Tomara!”

121

DISSONNETTO PARA QUEM PRECISA DUMA MÃOZINHA [2292]

Alguem ja percebeu que a maioria das coisas que fazemos, seja a urgente medida, seja o affan do dia-a-dia, exige muita practica da gente? Trabalhos manuaes? Nem só seria dos mesmos que eu lhes fallo: experimente alguem organizar a theoria de Murphy de maneira efficiente. Annote em pedacinhos de papel aquella casuistica cruel conforme na lembrança nos pullula, em termos quasi eguaes aos duma bulla!

Trez mãos precisariamos ter para fazermos tudo aquillo que separa um homem dum macaco... ou duma lula! Na physica tal regra se calcula.

122

DISSONNETTO PARA UM BRINQUEDO QUE DÁ MEDO [2293]

Um brinquedo inquebravel é perfeito e tem sua maior utilidade, segundo Murphy, para dar um jeito nos outros brinquedinhos dessa edade. Que jeito? Ora, quebrando-os! Seu conceito está precisamente no que Sade pregava sobre o orgasmo do subjeito que goza si outro soffra e se degrade. Me entende quem entende do meu ramo. Principio da gangorra, é como chamo aquella lei de Murphy que meu amo invoca no momento em que me fode:

“Podendo, outrem eu faço de refem! O mundo foi creado para quem dispõe do que outrem põe! Resta, a quem tem juizo, obedescer: manda quem pode!”

123

DISSONNETTO PARA UMA REPETITIVA “MURPHILOSOPHY” [2294]

Nem com o fatalismo deve a lei de Murphy confundir-se, nem siquer com mero pessimismo. Constatei na pelle o que versejo por mester. É com o cayporismo, mesmo, eu sei, que está relacionado o que vier de bom ou de ruim: jamais serei feliz, nem quando a sopa for no “mer” e nunca dum prazer eu fique à mingua. Si a sopa vem quentinha, ou queimo a lingua, ou acho alguma mosca, quando pingo-a na bocca aos poucos, morta na colher. Na physica se explica qualquer dado e, caso venha fria, está provado: o lado positivo occulta o lado real de qualquer coisa, de qualquer...

124

DISSONNETTO PARA UM LENTO ATTENDIMENTO [2295]

Godinho foi ao medico. Quizera jamais necessitar duma consulta!

Mas sente-se pesado: ora, pudera!

Não é do seu problema a causa occulta. Assim como em qualquer salla de espera, naquella a lei de Murphy logo advulta na mesa das revistas: nem a Vera na cappa em algo orgastico resulta.

Tal como a bella actriz, que já não é novinha, as taes revistas são até mais velhas do que um satyro impotente. Tesão sentir por ellas? Alguem tente!

O gordo se chateia: elle terá bastante que esperar, pois alli ja estão outros gordões na sua frente e inquieto Godofredo ja se sente.

125

DISSONNETTO PARA QUEM CORRE “RISCO DE MORTE” [2296]

Suspeitem dos philologos! Talvez quem seja muito sabio saiba, alem do proprio nome, em puro portuguez dizer que tem “diproma” e “crasse” tem. Um gajo “especialista” é sempre alguem que estuda, estuda, e sabe cada vez mais sobre cada vez menos, e vem naquillo progredindo: é o que elle fez, nos termos dum discurso nada practico. Refiro-me ao estupido grammatico que, só porque se torna “midiatico”, pretende cagar regra e ser oraculo. Nem “caga” regras: culto, ja as “esterca”. Sabe absolutamente tudo accerca de simplesmente nada e, antes que perca o bonde, traduz “Múrfi” pro vernaculo.

126

DISSONNETTO PARA UM PAPPO TELEPHONICO [2297]

“Alô! Doutor Godinho? Aqui quem falla é Rocha, o despachante! O documento não deu p’ra ficar prompto! Estou na salla do Esteves, o assessor... Olhe, eu lamento...”

{O que?! Cê tá brincando! Minha mala tá feita! Ammanhan mesmo eu represento a empresa no exterior! Faço uma escala no Rio, mas de la não dá, nem tento!}

“Eu sinto muito, amigo! Até a semana passada, estava facil! Mas nem grana por fora pode dar um jeito agora na coisa, pela lei que ja vigora!”

{Ah, va tomar no cu! Só pode ser a tal da lei de Murphy! Que prazer o Demo tem commigo! Elle me adora! Um dia, ja me disse: Senta e chora!}

127

DISSONNETTO PARA UMA MURPHOLOGIA DO VESTUARIO [2298]

No dia em que Godinho põe gravata e veste paletó, cae de pigmenta o molho e faz estragos, é batata, do punho ao collarinho, e alguem commenta. Deu brilho no sapato? Ja constata o gordo: vae chover! E se lamenta, prevendo um temporal que caia e batta no couro, alem da lama, que é nojenta. Da physica as regrinhas são ruins, pois, caso o gordo vista appenas jeans, pode expirrar a calda dos puddins da mesa inteira, e a calça fica limpa. Na quantica nós temos que ter fé: Si está de camiseta, pode até cahir torrão de assucar no café, que ainda ella, branquinha, se repimpa.

128

DISSONNETTO PARA UMA MURPHOLOGIA DO ITINERARIO [2299]

{Que tal cortar caminho por aqui?}, pergunta Godofredo. Quem está com elle no automovel nem sorri, pois todos estressados estão ja. O transito é terrivel. “Nunca vi um congestionamento desses! La no Rio não tem disso!”, diz, de si para comsigo, um velho, ja gagá. Si fossem pela via principal, teriam ja chegado, pois o tal attalho os attrazou ainda mais. A physica tem normas usuaes: Na lei estava escripto: “Quem tem pressa ignore o gordo e pegue a via expressa, em vez de vir por vias transversaes.” Somente duvidar vão os bossaes.

129

DISSONNETTO PARA A TEIMOSIA NA UTOPIA [2300]

Si, mesmo na peor, um optimista quizer contrariar o que aqui vim tentando demonstrar, talvez insista fingindo que “nem tudo é tão ruim”. Ao cego, que perdeu, alem da vista, os brios e o cabaço, é nada assim tão pessimo que appague qualquer pista de que ‘inda não peore: é foda, emfim. Si um supersticioso na madeira quizer batter e a Murphy ainda queira tentar neutralizar, está fodido, pois Murphy tem character de bandido. Sim, tudo, neste mundo, actualmente, de plastico ou de latta, é resistente a humanos. Melhorar? Eu, hem? Duvido! Nos falta até consolo na libido...

130

DISSONNETTO SOBRE O INCONSCIENTE COLLECTIVO [3059]

Ninguem se lembra disso! No momento exacto em que eu versejo, quanta gente trabalha, anda na rua, passa em frente do predio, da vitrine, ao sol, ao vento? E quanta gente (agora, que eu commento, vocês vão se lembrar) está presente sentada, onde é preciso que se sente quem caga... Quantos? Dez, quinze por cento? Difficil calcular isso. Porem, digamos que uma hypothese eu levante: Si pelo menos cinco em cada cem pessoas defecarem neste instante, milhões estão cagando, hem? Eu tambem! Si o troço fosse um unico, gigante seria... Que tamanho? Acho que bem maior que algum Camões, Petrarcha ou Dante!

131

MIXTOS MYTHOS [3093]

Papae Noel? É claro que accredito! E até no lobishomem, no vampiro!

Você não crê nos astros? Eu prefiro ainda mais da lua cheia o mytho!

Não dizem que ha galaxias no Infinito?

Não dizem que ha bacteria, germe, viro?

Podia eu responder que não adhiro, que lendas são tambem, que as não admitto!

Exsiste, sim senhor! Exsiste tudo: sacy, buraco negro, homem da neve, a charta que é um espirito que escreve, a quantica, o dragão, o ogro pelludo!

Si nada disso houvesse, da mais breve piada, do mais serio e novo estudo, dos quadros que retractam Deus desnudo, ninguem se lembraria! Exsistir deve!

132

TRIPLA DISPUTA [3171]

Insisto neste poncto, que me irrita: Ninguem, ao mesmo tempo, caga e mija. Mas, caso preferencia o mijo exija, não ha cocô nenhum que isso permitta. Nenhum dos dois, aqui, jamais recua! Battalha corporal! Naturalmente, no rhythmo physiologico, evacua primeiro e, no fimzinho, mija a gente. Em sendo, porem, preso um intestino e estando uma bexiga muito cheia, a gente ja não sabe onde se freia e indago: o que é que eu antes elimino?

Que mais posso dizer que a verve inclua? Si o mijo está sahindo, o cu se sente tambem auctorizado a fazer sua funcção... E eu suo, eu bufo, eu ranjo o dente! Emfim, desabbafei! Prisão maldicta! Suffoco findo, agora, que eu redija sonnetto novo exige a rolla rija, mas esta qualquer vate em odes cita...

133

HYGIENICO PANICO (1) [3521]

Outro methodo não ha de limpar certo logar.

O melhor jeito será tomar banho appós cagar. Com papel, só, nunca dá para tudo eliminar ao redor do que está la nessa fenda capillar.

Temos asco, temos medo!

O buraco, propriamente, tanto nojo dá, que a gente mal lhe enfia o medio dedo!

Nos limpamos, tarde ou cedo, mas aos pellos é que adhere a sujeira! Ha quem tolere?

Ja a cheirei... Meu, como eu fedo!

134

INCOMPATIBILIDADE DE NECESSIDADES (1) [3597]

A bexiga com o grosso intestino sempre briga! Quer sahir primeiro o troço, mas encontra uma inimiga: Sim, a urina! Que um colosso de cocô seu curso siga, não é facil, si um endosso della falta, e impera a intriga! É de lua a coisa, creia!

Si eu me sento na privada, cagar tento e não sae nada, é fatal: bexiga cheia!

Passo o tempo, caso leia, mas, depois que eu solto o mijo, o intestino está tão rijo que a cagada, agora, freia!

135

MARRON SOBRE AZUL (1) [4807]

Quando um cego limpa a bunda, logo appós uma cagada, accredita, na segunda vez, que a limpa. Limpa nada! Quem enxerga, vê que immunda continua. Outra passada de papel. Mais uma. Affunda com o dedo... e mais dedada! Suja até seu pollegar.

Sujo, ainda, o papel sae. Si está vendo, o gajo vae repetindo até cansar.

Só os normaes vão se limpar. O ceguinho, não: ja lava a mão suja. Mas restava muita merda no logar.

136

PERSEVERANTE PERFECCIONISMO [5561]

Finissimo perfume em meu cuzinho passando vou durante o banho, quando de espuma as suas pregas vão ficando cobertas, com cuidado, com carinho. Gastando sabonete, eu exquadrinho o rego e meus escrupulos expando do rabo ao sacco, em toque lento e brando, até lavar as partes direitinho.

Os dedos, do mindinho ao pollegar, eu ponho a trabalhar! Não sou verdugo, de esponja não farei dildo ou sabugo que exfolle! Metto os dedos devagar!

Depois que aquelle sordido logar ficou cheiroso e limpo, ja do jugo diario me livrando, então me enxugo... e sinto outra vontade de cagar!

137

LEI DA PALMADA DE MURPHY [5589]

Mamãe, que seu filhinho não maltracta, com todo o jeito pede. Mas, por mero capricho, o filho grita com voz chata:

“Não quero, mãe! Não quero, mãe! Não quero!”

Fingindo não ouvir sua bravata, com toda a paciencia nesse lero insiste ella, mas ouve a phrase ingrata:

“Não quero, mãe! Não quero, mãe! Não quero!”

Papae, que julga aquillo ser mammata, quer ordem e intervem num tom severo.

O filho, mais gritando, o pae destracta:

“Não quero, pae! Não quero, pae! Não quero!”

Si filho meu assim me desaccapta, sabendo que tal coisa não tolero, a chance de que nelle eu nunca batta será, naturalmente, egual a zero.

138

POLITICA QUANTICA [5602]

Fallei ja, no DOBRABIL, que cagar é um acto, sim, politico, um humano direito, ou de mijar. Delles me uffano, tal como deste nosso linguajar. Cagando estou, aqui neste logar que chamam “solitario”, mas me irmano a todos que cagando estão. Insano será quem pretender nos regular. Cagar, um dia sim, um dia não, não pode ser imposto por alguem que caga sempre e nunca lava a mão, que, porco, cagar regra ainda vem. Si duro me sahir o cagalhão não é porque poder sobre isso tem quem mande e sim por causa da prisão de ventre: em tal prisão cago, tambem.

139

LAVAGEM PORCORAL [5658]

Você, terraplanista? Não consigo crer nisso! Não consigo crer que alguem consiga crer num troço assim tão sem sentido! Falla serio, meu amigo? {Sim, fallo. Por que não? Não dão abrigo vocês ao lobishomem, ao “alem sepulchro” dos zumbis, aos monges zen buddhistas, ao vampiro? Ouça o que digo!} Mas pense ca! Depois daquelle Antigo Mundinho, o pensamento ficou bem mais culto, scientifico! Se tem noção do Kosmo! Pense ca commigo! {Na physica, ja “quantica”, me instigo a ver como illusão tudo que vem do olhar mais astronomico. Ninguem provou que de morrer não ha perigo...}

140

INIMIGAVEL VESTUARIO [5931]

A roupa se rebella contra a gente! Quem curte leis da physica, confere-a:

é “Lei da Teimosia da Materia”! Na duvida, vestir-se experimente! Jamais a camiseta quer de frente ficar para você! Faz tambem seria, tenaz opposição, ou faz pilheria a meia, a sunga, a blusa renitente!

As mangas ao contrario querem, por pirraça, se enfiar pelo meu braço e, sempre que meu pé no furo passo, a perna se inverteu, quer se indispor!

Ja sei que pelo advesso, quando for calçar a meia, a appanho, mas eu faço questão de me vingar si, suadaço depois de usal-a, adspiro-lhe o fedor!

141

MEME DO DESASSEIO [6046]

Podia tambem eu fallar assim: “Tomei a decisão, e não me accanho: emquanto não cagar, não tomo banho!” Mas não fui eu quem isso disse e sim a dona Esther, que soffre, alem do rim, das tripas constipadas. Nem extranho a sua posição. Sei do tamanho que ganha o cagalhão, si sae, emfim. Está sempre enfezada, a dona Esther! Disfarsa com perfume aquelle cheiro suado, faz trez dias, mas não quer lavar-se, por pirraça, sem primeiro fazer o seu cocô! Dessa mulher tão grande é o mau humor quanto o trazeiro. Eu mesmo só consummo o meu mester de bardo si feliz sou no banheiro.

142

FRIORENTA [6286]

Não, Glauco, o meu chuveiro não exquenta! No frio, não ha meio! Resolvi!

Não vou tomar mais banho! Só daqui a mezes, no verão! Dias? Noventa! Que xinguem! Que me chamem de nojenta! Boceta ja só limpo si chichi accabo de fazer! Si piriry eu tive, limpo o rabo! Quem attenta?

Alguem presta attenção nas minhas partes pudendas, que não dispo p’ra ninguem? Alguem vae perceber que cheiro tem aquillo que escondi de immoraes artes?

Não, Glauco! Si quizeres, que te fartes com partes masculinas! Minhas, nem pensar que tel-as visto possa alguem!

Banhar-me? Não, jamais! Tu que deschartes!

143

TERRACUBISMO [6572]

Sem essa de ser plana a Terra! Ah, cada bobagem que se escuta, Glauco! Mais embaixo está o buraco! Esses bossaes não sabem que será a Terra quadrada? Qual circulo! Qual orbita! Qual nada! Planura no planeta? Não, jamais! É tudo geometrico! Teem taes celestes corpos solida camada!

São trez as dimensões, Glauco! Portanto, um cubo, só, será nosso planeta! Qualquer terraplanista, que se metta a besta, padroeiro nem tem sancto!

Mas, Glauco, p’ra ser franco, nem me expanto com tanta estupidez! Basta a gaveta olhar! Ja viu gaveta, sem ser peta, redonda? Nunca vi, Glauco, garanto!

144

EMPIRICO ONIRICO [6911]

Acaso ja sonhaste que sonhavas? Ou sonhas que não sonhas, que é verdade aquillo que tu sonhas? E quem ha de jurar que não mandou a jura às favas? Nos sonhos, tu, Glaucão, mais te depravas que como de costume? Não te invade aquella sensação de seres Sade, de estares a punir tuas escravas?

Accordas de manhan com a bexiga a poncto de extourar? E quando o mijo, por causa dumas dores no pau rijo, sahir não quer e com o peido briga?

Sonhando, para nada a gente liga, mas com os pesadellos não transijo e corto ja de cara, pois exijo sonhar que nenhum Sade me castiga!

145

HYGIENICO PANICO (2) [7169]

É logico! Outro methodo não ha, seguro, de limpar certo logar. Entendo que o melhor jeito será tomar um bello banho appós cagar. Inutil! Com papel, só, nunca dá direito para tudo eliminar daquillo que grudado ficou la nas pregas dessa fenda capillar. Sim, Glauco! Temos asco, temos medo!

O raio do buraco, propriamente, nos choca! Tanto nojo dá, que a gente se encolhe e mal lhe enfia o medio dedo!

Emfim, nós nos limpamos, tarde ou cedo, mas veja, cara: aos pellos é que adhere a fetida sujeira! Ha quem tolere?

Confesso, ja a cheirei... Meu, como eu fedo!

146

INCOMPATIBILIDADE DE NECESSIDADES (2) [7171]

Notaram? A bexiga com o grosso (ou colon) intestino compra briga! Sahir primeiro sempre quer o troço, mas pela frente encontra uma inimiga: Sim, ella, a atroz urina! Que um colosso daquelles de cocô seu curso siga, não é nadinha facil, si um endosso cordato della falta, e impera a intriga! Notou, vate? É de lua a coisa, creia!

Si eu, soffrego, me sento na privada, cagar tento, mas ‘inda não sae nada, percebo que é fatal: bexiga cheia!

Alli passo o meu tempo, caso leia, porem, depois que eu solto todo o mijo, está meu intestino ja tão rijo que aquella cagadinha, agora, freia!

147

MARRON SOBRE AZUL (2) [7179]

Confirmo: Quando um cego limpa a bunda, appós a conclusão duma cagada, às pressas accredita, na segunda vez, que ella ficou limpa. Limpa, nada! É facil! Quem enxerga, vê que immunda a bunda continua. Outra passada nós damos de papel. Mais uma. Affunda a gente com o dedo... e mais dedada!

O gajo suja até seu pollegar.

Tambem o papel sujo ainda sae. Si está tudinho vendo, o gajo vae seu gesto repetindo até cansar.

De facto, só os normaes vão se limpar. No caso do ceguinho, não: ja lava a sua mão borrada. Mas restava ainda muita merda no logar.

148

MANIFESTO SCIENTIFICISTA (1/2) [7961]

(1)

“Odeio gente supersticiosa, odeio, Glauco! Odeio essa mania de tudo pelo sobrenatural querer justificar! Está na cara: vampiro, lobishomen ou phantasma, é tudo só crendice! Não exsiste! Qualquer parapsychologo exclaresce phenomenos do typo! Um lycanthropo, um simples hematophago, qualquer de nós identifica de maneira methodica, com technicas de poncta! Odeio gente estupida, Glaucão! Odeio, odeio, odeio! Ou ‘tou por fora?”

(2)

-- Melhor reputação um sabio goza si for um scientista. Quem se fia no Alem, porem, achar sempre normal irá toda figura que compara a alguma apparição que os olhos pasma. Por mais que um padre ou medico despiste taes crenças, uma lenda sempre cresce. Mas noto que você, no seu escopo moral, perdeu a calma, né? Não quer um chymico composto? Ou talvez queira algum tranquillizante mais em compta... Relaxe! Está tão tenso! Um odio não resolve o que a razão não corrobora...

149

NOBEL DE PHYSICA [8606]

Ganhou, tambem na physica, quem viu que está a nossa desgraça mais global no tal de “effeito extupha”, “acquescimento” que só tende a augmentar, na proporção inversa à do “calor humano”. Ou eu não pude entender tudo o que se estuda nas areas scientificas, acaso? Sim, vejo que quem ganha algum Nobel tem sempre convicções humanitarias. Ou é minha cegueira que distorce os factos em razão dum illusorio e ingenuo sentimento de que irão dar creditos a um cego, um bello dia?

150

HOMEM PREDESTINADO? [9558]

Você não ganha nada, Glauco, nem um premio na lotteca! Vae querer ganhar, na vida, premios litterarios?

Lottericos, os premios azar trazem...

Talvez os litterarios tambem tragam...

Talvez predestinado um cego seja, poupando-se de sorte ‘inda peor!

151
SUMMARIO DISSONNETTO DOS DESMANDOS DA NATUREZA [1131] ........... 9 DISSONNETTO DA PERDA DE TEMPO [1263] ................. 10 DISSONNETTO DA PARTICULA RIDICULA [1459] .............. 11 INSEGURA CONJECTURA [1459-B]....................... 12 DISSONNETTO PARA UM DEJEJUM DESADJEITADO [2137] ....... 13 DISSONNETTO PARA UM AZAR ELEMENTAR [2138] ............. 14 DISSONNETTO PARA UM ENUNCIADO AMMANTEIGADO [2142] ..... 15 DISSONNETTO PARA UMA LIGAÇÃO INOPPORTUNA [2148] ....... 16 DISSONNETTO PARA UMA RISOPHYSICA MURPHOLOGICA [2156] ... 17 DISSONNETTO PARA UM BANHO ANTILEGAL [2157] ............ 18 DISSONNETTO PARA O QUE SE ACHA PERDIDO [2158] ......... 19 DISSONNETTO PARA UM CEGO PÊ DENTRO DA ROUPA [2159]..... 20 DISSONNETTO PARA UM ULTIMO QUE NÃO RI [2160] .......... 21 DISSONNETTO PARA UMA HILARIA CULINARIA [2161] ......... 22 DISSONNETTO PARA AQUELLE ARTIGO SOBRE A LEI DE MURPHY .. 23 DISSONNETTO PARA UMA DESCHARTABILIDADE DISCUTIVEL ..... 24 DISSONNETTO PARA UMA DISCUTIBILIDADE DESCHARTAVEL ..... 25 DISSONNETTO PARA O CONTRATEMPO ROPTINEIRO [2167] ...... 26 DISSONNETTO PARA O MYSTERIO DO RELOJOEIRO [2168] ...... 27 DISSONNETTO PARA UM QUADRO DYSFUNCCIONAL [2169] ....... 28 DISSONNETTO PARA UM EXPERTALHÃO PASPALHÃO [2170] ...... 29 DISSONNETTO PARA UMA DOR DE BARRIGA EMPURRADA [2173] ... 30 DISSONNETTO PARA UMA DOR DE CABEÇA EMBURRADA [2174] .... 31 DISSONNETTO PARA UMA REUNIÃO CONVOCADA [2175] ......... 32 DISSONNETTO PARA UMA DISCUSSÃO PROVOCADA (1/2) [2176] .. 33 DISSONNETTO PARA QUEM SAE NA CHUVA [2177] ............. 34 DISSONNETTO PARA QUEM CHOVE NO MOLHADO [2178] ......... 35 DISSONNETTO PARA UM PROCEDIMENTO PADRÃO [2179] ........ 36 DISSONNETTO PARA UM PASSAGEIRO ESTRESSADO (1/2) [2180] . 37 DISSONNETTO PARA CADA COISA FORA DO LOGAR [2182] ...... 38 DISSONNETTO PARA UM MEDALHÃO MALPASSADO [2183] ........ 39 DISSONNETTO PARA UM SACCO MAL PUXADO [2184] ........... 40 DISSONNETTO PARA UMA COBRA QUE NÃO MORDEU [2186] ...... 41 DISSONNETTO PARA UMA NUVEM NEGRA [2189] ............... 42 DISSONNETTO PARA UM GAZ FUGAZ [2194] ................. 43 DISSONNETTO PARA UM HILARIO ITINERARIO [2196] ......... 44 DISSONNETTO PARA A SIMULTANEIDADE SEM PIEDADE [2197] ...45 DISSONNETTO PARA QUEM SE ARREPENDA DA EMENDA [2198] .... 46
DISSONNETTO PARA QUEM CULPA A CHAVE DE FENDA [2199] 47 DISSONNETTO PARA QUEM CULPA O CONTRACTO DE VENDA... 48 DISSONNETTO PARA UM PRATTO PREMIADO [2204]......... 49 DISSONNETTO PARA UM ILLUSORIO ACCESSORIO [2205].... 50 DISSONNETTO PARA UM ROPTEIRO BRAZILEIRO [2206]..... 51 DISSONNETTO PARA QUATTRO GATTOS RESPINGADOS [2209]. 52 DISSONNETTO PARA DOIS VINTENS EXCAMMOTEADOS [2210]. 53 DISSONNETTO PARA UMA TRANSMISSÃO OMMISSA [2211].... 54 DISSONNETTO PARA UM PASSEIO QUE ODEIO [2212]....... 55 DISSONNETTO PARA UMA TARDIA TRAVESSIA [2215]....... 56 DISSONNETTO PARA UM INTESTINO INTEMPESTIVO [2217].. 57 DISSONNETTO PARA UMA ROPTA ABBARROTADA [2218]...... 58 DISSONNETTO PARA UM LIQUIDO EM LIQUIDAÇÃO [2219]... 59 DISSONNETTO PARA UM CHEIO VERANEIO [2220].......... 60 DISSONNETTO PARA QUANDO O AFFECTO AFFECTA [2221]... 61 DISSONNETTO PARA UM DOIS A DOIS [2222]............. 62 DISSONNETTO PARA UMA TARDIA ALLEGORIA [2223]....... 63 DISSONNETTO PARA UM JANTAR DE GALA [2224].......... 64 DISSONNETTO PARA UM EMPECILHO A DOMICILIO [2225]... 65 DISSONNETTO PARA UMA OCCUPAÇÃO PREOCCUPANTE [2226]. 66 DISSONNETTO PARA A LOGICA MURPHOLOGICA [2227]...... 67 DISSONNETTO PARA A PREVISÃO NA REVISÃO [2228]...... 68 DISSONNETTO PARA O CHINELLO DO CEGO [2229]......... 69 DISSONNETTO PARA O SAPATO DO CEGO [2230]........... 70 DISSONNETTO PARA UMA MISSA ENCOMMENDADA [2231]..... 71 DISSONNETTO PARA O TENNIS DO CEGO [2232]........... 72 DISSONNETTO PARA A MYSTICA MURPHOLOGICA [2233]..... 73 DISSONNETTO PARA UM BUFFET DE BUFAR [2234]......... 74 DISSONNETTO PARA A BOTA DO CEGO [2235]............. 75 DISSONNETTO PARA UM SAPATO MARCA “MURPHY” [2236]... 76 DISSONNETTO PARA UMA FUMAÇA MAÇANTE [2237]......... 77 DISSONNETTO PARA UMA SYMPHONIA SEM SYNTONIA [2238]. 78 DISSONNETTO PARA UM FREGUEZ DESCORTEZ [2239]....... 79 DISSONNETTO PARA UMA PAUSA EM CAUSA [2240]......... 80 DISSONNETTO PARA UM VERDADEIRO ALLARME FALSO [2243] . 81 DISSONNETTO PARA UMA SEMANTICA DA SYSTEMANTICA [2244] . 82 DISSONNETTO PARA UM PÊ DEFERIMENTO NESTES TERMOS... 83 DISSONNETTO PARA QUEM ESTÁ REDONDAMENTE ENGANNADO.. 84 DISSONNETTO PARA A CREANÇADA ADVANÇADA [2250]...... 85 DISSONNETTO PARA O PAPEL DO PAPEL [2251]........... 86 DISSONNETTO PARA O CONFESSIONARIO DO FUNCCIONARIO.. 87
DISSONNETTO PARA O TORTO POR LINHAS TORTAS [2253].. 88 DISSONNETTO PARA UM APPROMPTUARIO MURPHOLOGICO [2254] . 89 DISSONNETTO PARA A BANANA QUE SE DEU [2256]........ 90 DISSONNETTO PARA UM NOTORIO FINORIO [2257]......... 91 DISSONNETTO PARA UM IMPASSE NA LEI DO PASSE [2258]. 92 DISSONNETTO PARA OS INFORTUNIOS DA VIRTUDE [2259].. 93 DISSONNETTO PARA AS PROSPERIDADES DO VICIO [2260].. 94 DISSONNETTO PARA A EXPERTEZA NA BURROCRACIA [2261]. 95 DISSONNETTO PARA UMA COCEIRA TRAIÇOEIRA [2262]..... 96 DISSONNETTO PARA A CORRESPONDENCIA SEM URGENCIA [2263] . 97 DISSONNETTO PARA UMA RECLAMAÇÃO POR ESCRIPTO [2264]. 98 DISSONNETTO PARA A NOSTALGIA DA MELODIA [2265]..... 99 DISSONNETTO PARA AS LINHAS DESCRUZADAS [2266]..... 100 DISSONNETTO PARA UM HOTEL BARULHENTO [2267]....... 101 DISSONNETTO PARA OS OCULOS DO CEGO [2268]......... 102 DISSONNETTO PARA UMA MOEDA MEHUDA [2269].......... 103 DISSONNETTO PARA UMA CONFERENCIA CONFERIDA [2270]. 104 DISSONNETTO PARA A IMAGEM DA EMBALLAGEM [2271].... 105 DISSONNETTO PARA UNS OVOS NOVOS [2272]............ 106 DISSONNETTO PARA A VALIDADE VENCIDA [2273]........ 107 DISSONNETTO PARA O ESPIRITO DO PÃO [2274]......... 108 DISSONNETTO PARA O PÃO DO ESPIRITO [2275]......... 109 DISSONNETTO PARA UM VACILLO NO SIGILLO [2276]..... 110 DISSONNETTO PARA A INVERSÃO DOS PAPEIS [2278]..... 111 DISSONNETTO PARA UMA PAULADA CALCULADA [2279]..... 112 DISSONNETTO PARA UM CAUDILHO EXPERTALHÃO [2281]... 113 DISSONNETTO PARA O EXCESSO DE BAGAGEM [2282]...... 114 DISSONNETTO PARA UMA CASA LOTADA [2284]........... 115 DISSONNETTO PARA O DOMINIO PRIVADO [2285]......... 116 DISSONNETTO PARA UM EQUIPAMENTO MARCA “MURPHY” [2286] . 117 DISSONNETTO PARA DEPOIS [2287].................... 118 DISSONNETTO PARA O SEGREDO DO POLICHINELLO [2288]. 119 DISSONNETTO PARA UMA COLHER TORTA [2289].......... 120 DISSONNETTO PARA AS BODAS DE OURO [2290].......... 121 DISSONNETTO PARA QUEM PRECISA DUMA MÃOZINHA [2292] 122 DISSONNETTO PARA UM BRINQUEDO QUE DÁ MEDO [2293].. 123 DISSONNETTO PARA UMA REPETITIVA “MURPHILOSOPHY” [2294] . 124 DISSONNETTO PARA UM LENTO ATTENDIMENTO [2295]..... 125 DISSONNETTO PARA QUEM CORRE “RISCO DE MORTE” [2296]. 126 DISSONNETTO PARA UM PAPPO TELEPHONICO [2297]...... 127 DISSONNETTO PARA UMA MURPHOLOGIA DO VESTUARIO [2298] . 128
DISSONNETTO PARA UMA MURPHOLOGIA DO ITINERARIO [2299] . 129 DISSONNETTO PARA A TEIMOSIA NA UTOPIA [2300]...... 130 DISSONNETTO SOBRE O INCONSCIENTE COLLECTIVO [3059]. 131 MIXTOS MYTHOS [3093].............................. 132 TRIPLA DISPUTA [3171]............................. 133 HYGIENICO PANICO (1) [3521]....................... 134 INCOMPATIBILIDADE DE NECESSIDADES (1) [3597]...... 135 MARRON SOBRE AZUL (1) [4807]...................... 136 PERSEVERANTE PERFECCIONISMO [5561]................ 137 LEI DA PALMADA DE MURPHY [5589]................... 138 POLITICA QUANTICA [5602].......................... 139 LAVAGEM PORCORAL [5658]........................... 140 INIMIGAVEL VESTUARIO [5931]....................... 141 MEME DO DESASSEIO [6046].......................... 142 FRIORENTA [6286].................................. 143 TERRACUBISMO [6572]............................... 144 EMPIRICO ONIRICO [6911]........................... 145 HYGIENICO PANICO (2) [7169]....................... 146 INCOMPATIBILIDADE DE NECESSIDADES (2) [7171]...... 147 MARRON SOBRE AZUL (2) [7179]...................... 148 MANIFESTO SCIENTIFICISTA (1/2) [7961]............. 149 NOBEL DE PHYSICA [8606]........................... 150 HOMEM PREDESTINADO? [9558]........................ 151
São Paulo Casa de Ferreiro 2023

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