DISTANTE INSTANTE

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DISTANTE INSTANTE

Glauco Mattoso

DISTANTE INSTANTE

E OUTROS SONNETTOS

São Paulo

Casa de Ferreiro

Distante instante

© Glauco Mattoso, 2025

Editoração, Diagramação e Revisão

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

Fotografia: Akira Nishimura

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Mattoso, Glauco

DISTANTE INSTANTE / Glauco Mattoso. –– Brasil : Casa de Ferreiro, 2025. 144 Páginas

1.Poesia Brasileira I. Título.

25-1293 CDD B869.1

Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia brasileira

NOTA INTRODUCTORIA [10.100-F]

A cada novo livro, me questiono accerca do que posso compor como prefacio si, na practica, só sommo sonnettos e sonnettos collecciono.

Digamos que eu não diga que num throno sentei do sonnettismo, mas que eu domo o verso decasyllabo, pois tomo logar de quem nariz tem, sendo dono.

Em tempo de editar anthologia me vejo, quando somma meu trabalho, talvez, onze milhares. Quem diria?

Tem tudo o que compuz um vario talho thematico, mas tudo, todavia, demonstra que, na verve, eu jamais falho.

SONNETTO

DUM DISTANTE INSTANTE [13.171]

Amor a gente teve, sempre, por alguem que ja comnosco não está. Si está comnosco sempre, então não ha o mesmo sentimento? Que suppor?

Casaes que envelhesceram ‘inda amor estão sentindo? Caso um dos dois ja partido tenha, amor exsistirá mais forte na saudade? Só si for!

Amei perdidamente quem perdi, depois de ter perdido uma presença que, emquanto não notei, estava alli…

Amarmos só na ausencia não compensa. Mais vale estarmos junctos, mesmo si persiste essa afflictiva differença.

SONNETTO DOS PECCADOS PAGOS [13.172]

Daquella vez, passou-se em plena rua. Mal fui desbengalado, bengalado ja fui. Me rasteiraram e, jogado ao chão, escutei vozes: “Senta a pua!”

Risadas davam: “Batte! Continua!” E vozes juvenis em cada brado ouvi: “Rasteja ahi, seu desgraçado! Tá cego? Que se foda! Culpa tua!”

Disseram que cegueiras são castigo. Alguem, ou filho ou paes, terá peccado. Peccado por peccado, o que é que eu digo?

Disseram: “De joelho, seu veado! Agora chupa! Paga ahi!” Consigo chupal-os, mas o sonho foi cortado.

SONNETTO DO RELATO FIDEDIGNO [13.173]

À noite, ninguem pode sahir, pois a rua fica ao lado dum temido e velho cemeterio. Nem duvido do nome que foi dado, um dia, aos bois.

Chamavam de eskeleto, mas depois só mesmo de caveira. Quem tem ido, de dia, por alli, nenhum ruido escuta desses corpos. Ja vi dois.

Talvez um casal, Glauco, pois o par caminha, chacoalhando os ossos, por aquellas alamedas, devagar…

Sim, Glauco, sou contista de terror, mas à realidade fiel! Ar não faço de que invento! Por favor!

SONNETTO DUNS FEITOS SUSPEITOS

[13.174]

Achei extranho, Glauco, pois deixei os oculos na mesa, mas ja não os pude encontrar… Só mais tarde, então, achei-os na caveira… Ah, ja nem sei…

Caveira, sim, Glaucão! Ja lhe fallei que tenho um eskeleto no porão, de enfeite me servindo! Os ossos são branquinhos! Delles sempre bem cuidei!

Mas coisas minhas somem de repente! Caveiras não precisam enxergar com lentes! Ou precisam? Não invente!

Até ja achei, Glaucão, meu velho par de botas nos pés della! Ah, não commente taes factos com ninguem! Vão me gozar!

SONNETTO SEM BRINCADEIRAS [13.175]

Commigo, não, Glaucão! Não accredito que espiritos adjudem um poeta naquellas situações em que interpreta o martyr, o malefico, o maldicto!

Você ja commentou que, sem conflicto, convive com demonios! Nada affecta, na sua producção, essa selecta e excelsa companhia? Ah, não admitto!

Que tenha se inspirado num defuncto poeta, até que pode ser verdade! Mas elle lhe apparesce? -- é o que eu pergunto…

Em forma de caveira? Ah, não me enfade, Glaucão! Si quer brincar, melhor assumpto arranje! Com caveiras, não, cumpade!

SONNETTO DO CLIENTE DESCRENTE [13.176]

Dormi, Glaucão, na casa desse hippie que tinha chulé forte e de freguez me fez. Depois da transa, seu cortez convite me instigou. Senti-me VIP.

Porem, no colchonette, eis que uma equipe de pulgas se installara! Cada vez que eu, louco, me coçava, dos michês mais dava raiva! Ah, typica “bad trip”!

Por causa dum chulé, dum som de rock maneiro, tanta pulga não compensa! Não caia nessa, Glauco, ouviu? Se toque!

Chulé muitos michês teem! Differença não acho si for hippie! Meu enfoque no flower power vejo com descrença!

SONNETTO DUM CLIENTE INTRIGADO [13.177]

Scismei, Glaucão, com isso. Toda vez que estive em popular supermercado, notei que sempre está malconservado o frango, o camarão, o pão francez…

O frango tem uns pessimos buquês de sobra accarniçada. Si me evado dalli, mais fedentina desaggrado me causa… Camarões? Não sou freguez!

O pão, que deveria tostadinho ser, mostra-se bastante embolorado… Pergunto-me quem compra… Ah, ja adivinho!

Alguem que envenenar quer seu cunhado, seu sogro, seu patrão ou seu vizinho… Só pode ser, Glaucão! Fiquei scismado!

SONNETTO DUM CORPO LOCALIZADO [13.178]

Começa a chover. Velha ja, coitada, não pode mais depressa andar. Tropeça na pessima calçada. Teve pressa, agora nem se mexe, extatellada.

A chuva apperta. A velha pode nada fazer. Ninguem soccorre. Ja começa a valla a se encher. Foge quem, hem, dessa crescente e, sem limites, enxurrada?

Alguem, duma janella, advista aquella senhora, ja arrastada, num boeiro entrando devagar. Ainda appella…

Soccorro que não chega… Quem primeiro encontra aquelle corpo, na favella, nem mora alli: chegou só pelo cheiro…

SONNETTO DUM UFFANO VARZEANO [13.179]

Glaucão, de futebol fui jogador! Eu era aquelle estupido zagueiro que fica assediando o tempo inteiro um craque, mesmo craque si não for!

Quarenta e septe eu calço, mas ja beiro um oito ou nove! Chanca, só na cor todinha preta! As travas metto, por tesão, em quem for muito cavalheiro!

Fair play, Glaucão? Que nada! Questão faço que minha sola attinja, bem na cara, quem quer que me paresça folgadaço!

Os arbitros me expulsam? Ora, para taes typos, faço um gesto com o braço, ou fallo um palavrão que se equipara…

SONNETTO DO PEOR RISONHO

[13.180]

O video viraliza. Nelle, está bancando o palhacinho um cego lindo que, pelos rapazelhos, é malvindo naquelle quarteirão, notorios ja.

Os jovens commentaram: “KKK… Que trouxa! Se fodeu e tá sorrindo! Precisa appanhar mais!” Alguem, brandindo um relho, no ceguinho uns golpes dá.

Agora, ja açoitado, o cego berra, implora piedade e, rastejante, exfrega a sua cara pela terra.

Alguns pivetes mettem o pisante no rosto machucado. Ninguem erra si entende que ja triste é seu semblante.

SONNETTO DOS PATRIOTARIOS PRESIDIOTAS [13.181]

Glaucão, pense commigo: si ninguem fallasse mal das urnas, ninguem ia ficar inelegivel! Que euphoria! Quem manda achar que golpes vingam? Hem?

A faixa quem passasse estava bem tranquillo! Opposição, então, faria! Não ia nem pensar em amnistia! Se candidataria, anno que vem!

Do jeito que essa porra de governo se encrenca nos escandalos, bastava manter a fé, fazer mais cara brava!

Agora até ficou facil batter no governo! Da justiça a forte clava não salva quem, faz tempo, ja roubava!

SONNETTO DOS INEXQUESCIVEIS DESAFFECTOS [13.182]

Um odio cultivamos, mesmo quando o nosso cultivado rival ja nem seja tão feliz quanto foi la nos tempos em que estava no commando.

Um dia, nos pegou, com todo o bando, e então nos humilhamos. Não está ahi mais nem quem longe ficará daquillo que estivermos desejando.

Um odio que, reciproco, possamos, ao longo duma vida, cultivar meresce com champanhe ser lembrado!

Escravos não se exquescem de seus amos, ainda que ja fora do radar esteja quem queiramos ver ferrado…

SONNETTO DOS HOLOPHOTES NOS FILHOTES [13.183]

Fofissimo, o bebê mamma de banda na teta da mamãe. De banda nana, tambem, appós mammar. Elle nem anda, ainda. As orelhonas, ja as abbana.

Ninguem num bebezinho desses manda, pois, desde cedo, mostra-se sacana. Mal fica desmammado, ja desanda, nas carnes, a morder com toda a gana.

Às vezes, mais de septe, na ninhada, precisam da mamãe sugar a teta. Mais lindos que esses anjos não ha nada!

Emquanto salsichinhas são, sem treta, carinho ganham. Quando cresce, cada bassê que comportar-se nos prometta!

SONNETTO

DA SCENA DO CRIME [13.184]

Daquella vez, disseram que eu teria que estar de bocca aberta, bem disposto a dar umas chupadas, mas com gosto, sentindo o paladar da porcaria.

Foi duro de engolir, naquelle dia, o queijo dos prepucios. No meu rosto pisaram de proposito, meu posto mostrando, sem pudores, qual seria.

Odor senti, bem nitido, do mijo que fica, nos pentelhos, adherido, emquanto degustava algum pau rijo.

Gostoso não chupasse, nem duvido que iriam, nesse impune esconderijo, mactar-me… Hem? Só num sonho faz sentido…

SONNETTO

DO INTERLOCUTOR SEDUCTOR [13.185]

Daquella vez, perguntas elle fez: “Ficaste cego? Porra! Foi ruim? Enxergo bem! Inveja tens de mim? Te sentes mal, agora que não vês?”

“E então? Pés ja lambeste de michês? Com elles gastas todo o teu dindim? Precisas nesse vicio pôr um fim? É facil! Ser não queres meu freguez?”

“Tu queres chulé forte? Sabes quanto eu calço? Ora, que esperas? Achas que eu irei te explorar? Não! Nem cobro tanto!”

“Meu tennis a cor branca ja perdeu! Me pagas um novinho? Te garanto o cheiro mais podrão dum pé plebeu!”

SONNETTO DA LENDARIA OBRA PAPAL [13.186]

Glaucão, da MERDA IN BUCCA ando à procura! Não acho tal encyclica na lista que tenho! Quem se diz vaticanista garante que inexsiste essa escriptura!

Encyclicas ha sobre coisa pura ou suja, nós sabemos, mas quem vista aquella carapuça mais sarrista ainda não surgiu, elle assegura!

Qual Papa assignaria algum tractado versando sobre fezes via oral? Talvez fosse em sentido figurado…

Não, Glauco, nunca tive these egual à tal de MERDA IN BUCCA! Nenhum dado achei sobre esse classico fecal!

SONNETTO

DA DIPLOMACIA MACIA [13.187]

O que é que foi fazer esse bossal na Russia, menestrel? Ahi, me diga! Qualquer nação será nação amiga, mas vamos e venhamos! É normal?

Ficarmos cultuando Stalin mal disfarsa alguma antiga, podre intriga! Quem é que em themas taes ‘inda se liga? Nós temos que visão ter mais global!

Não, Glauco, o communismo ja não faz nenhum sentido! Não! Qual guerra fria, qual nada! Só quem rege é Satanaz!

Ninguem tem que invocar democracia, nem mesmo dictadura! Fadas más em tudo se installaram! Não sabia?

SONNETTO DUMA IDENTIDADE SUPERFLUA [13.188]

Glaucão, meu viralatta caramello ganhou green card! É serio! Tem até a photo delle, embora na ralé seus paes origem tenham! Sim, é bello!

Tem cara de malandro, lhe revelo, mas, ‘inda assim, otario ninguem é a poncto de chamal-o de Mané! A raça tem verbete, ja, no Lello!

E então? Não vae pedir que seu bassê tambem um documento desses tenha? Não mesmo? O que se passa com você?

Siquer seu passaporte nem se empenha você que se renove? Não que dê mais para viajar alem da Penha…

SONNETTO DA DEGUSTADORA DE PREPUCIOS [13.189]

Ai, Glauco! Nem te conto! Quando eu era aquella prostituta mais rampeira, chupei, fora a piroca costumeira, a rolla mais immunda que se espera!

Alem de immunda, alem de ter, à vera, signaes de gonorrhéa, tal porqueira fedia tanto, tanto, que quem queira cheiral-a nem exsiste! É só chimera!

Verdade? Tu querias esse sebo provar na tua lingua, menestrel? És mesmo um psychopatha, ja percebo!

Não, gosto não achei, nella, de fel nem sal, siquer de mel! Urinas bebo mais doces, mais salgadas, no quartel…

SONNETTO DA BANAL VAZÃO NASAL [13.190]

Glaucão, que tempo secco! Uma rhinite terrivel ja retorna, nessa phase! Me excorre esse catarrho, fico quasi sem mesmo respirar! Nem me visite!

Você pode pegar isso! Quem cite doenças perigosas ha! Se embase, Glaucão, nesses advisos! Fique em paz e não tente me enrollar com seu palpite!

Meu ranho tanto fica amarellado que gemma até paresce, bem caypyra si fosse, Glauco, um ovo nesse estado…

Você, do seu nariz, tambem não tira a placa de catarrho? Desaggrado não causa? Ah, não me diga tal mentira!

SONNETTO

DO ELEITOR CALLEJADO [13.191]

Politicos dividem-se entre más e boas figurinhas, mas é cada um delles, eis que eleito, uma roubada. Se salva quem não anda para traz.

Um rouba; ainda assim, bastante faz. Um outro, ja, roubando, não faz nada. Terceiro, sem roubar, faz de empreitada. Um quarto, sem roubar, vê-se incapaz.

Aquelle que não rouba mas que deixa roubar, por connivencia, se incrimina. Inuteis as virtudes que elle enfeixa!

Ninguem se elegerá si gente fina for, livre de qualquer injusta queixa. Em summa, quem votou ja se vaccina.

SONNETTO DO DELIRIO ONANISTA [13.192]

Me excita, admitto, quando me imagino lambendo os pés de gente que eu odeio e, quanto mais odeio, mais em cheio me vejo, orgasmos tendo… Que destino!

Nem sempre isso me causa algum menino mimado, que me esnoba nesse meio artistico, vaidoso… Sem receio, confesso que, tambem, quem não é fino.

Os typos antipathicos demais provocam-me desejos de chupar seus paus… Imaginaram taras taes?

Chulé forte supponho que quem ar exhiba, até, terá… Dos mais bossaes eu sonho que salivo o calcanhar…

SONNETTO DO MENINO ESTRAGADO [13.193]

Então não mais eu brinco! Quero minha bollinha, ja, de volta! Para casa irei e, si commigo ninguem casa, não deixo nem que brinquem de casinha!

Ja tenho uma mobilia de cozinha, alem duma de quarto! Quem attraza meu lado ficará de fora! A braza eu puxo para assar minha sardinha!

Quem não acceita as minhas condições, altissimas tarifas soffrerá! Separem seus vintens e seus tostões!

Na America, maior que eu, ninguem ha! Não querem brincar? Ora, seus bobões! Estou de mal! Alguem tambem está?

SONNETTO DUM PEDIDO DE URGENCIA [13.194]

Desculpe, excellentissimo collega! Desculpem os demais, tambem! Agora eu tenho que sentar, e sem demora, alli no meu throninho! O bicho pega!

Depois que eu me limpar e minha prega parar de verter sangue, para fora eu volto! Ouvirei, ja, quem assessora a Casa, nesse caso um tanto brega!

Na pauta tal proposta vae entrar?

Então, papel hygienico, si for aos homens, será azul? Estou a par…

Mulheres terão rosa? Ah, bella cor! Na practica, marrons irão ficar, mas vale legislar, hem, relator?

SONNETTO DUM ATTEMPTADO MAL PENSADO [13.195]

Os ovos estão caros! Não dá para jogal-os, sem errar, no presidente! Hem? Torta de cocô? Jamais! Nem tente! Difficil accertal-o bem na cara!

Comtudo, si disposto se declara você, suggiro, para coherente ser, uma ponctaria competente com essa arma, que tiros mil dispara!

Assim que elle estiver a discursar, dos ovos ou tomates em logar, melhor é chumbo grosso, mesmo, uai!

Cocô seria caso de exemplar, geral repercussão, mas só vae dar motivo para, appenas, algum ai…

SONNETTO DA EX-ESPOSA ENCIUMADA [13.196]

Ai, Glauco, mas que raiva que me dá! Aquelle meu ex-macho, hoje, namora meu proprio pae! Mas, ai, que não demora a forra que terei! Você verá!

Appós se separar de mim, está fazendo pirracinha! Ai, só peora si faço uma carinha de quem chora! Ahi que elle me zoa! Ai, basta, ja!

Ai, Glauco! O que farei? Porra, ja sei! Direi a todo mundo que elle é gay passivo, que comido foi seu rabo!

Papae só quer chupal-o, mas direi que está meu ex-marido, pela lei de Murphy, brocha! Assim, vingada accabo!

SONNETTO DUMA INFESTAÇÃO SEM SOLUÇÃO [13.197]

O cego desviou daquella aranha sem mesmo perceber que em seu caminho tamanho bicho vinha, direitinho, na mesma direcção. Uma façanha!

Soubesse elle que esteve essa tamanha bichana assim tão perto, ja adivinho que iria appavorar-se e, então, Glauquinho, estava fricto! O bicho obstenta a sanha!

Agora, até maiores do que um pratto, aranhas cabelludas pela rua transitam! É banal, eu ja constato!

Si desse jeito o drama continua, inutil será quando uma ja macto, pois logo outra me segue e, experta, accua!

SONNETTO

DUMA AMIGA QUE SE LIGA [13.198]

Glaucão, o meu marido falla mal dos cegos, mais ainda de ti! Sim! Diz elle que tu fazes um ruim papel, de gente estupida, abnormal!

Fiquei chateadissima! Affinal, adoro o teu trabalho! Para mim, és mesmo o maior bardo, no chinfrim scenario da cultura nacional!

Desdem tem elle, Glauco, de quem seja ceguinho mas não tenha pudor nem vergonha, sem virtude e sem egreja…

Deseja que quem pecca assim refem se torne da afflicção mais malfazeja! Sei que essa angustia sentes, ja, porem…

SONNETTO DUMA MÃE COMPREHENSIVA [13.199]

Glaucão, o meu filhão adolescente desdenha de ti, sabes? Elle diz que um cego do teu typo ser feliz não pode, que meresce isso que sente!

Meu filho não tem pena dessa gente malsan, deficiente! De imbecis chamou todos os bardos! Sem subtis maneiras, elle falla claramente!

Peguei-o, certa feita, todavia, relendo um de teus livros, com a mão no penis… Eis que, então, se divertia…

Não posso censurar esse filhão, pois mostra-se immaturo! Qualquer dia, irá te visitar, hem? Queres, não?

SONNETTO DUM SCENARIO LATRINARIO [13.200]

Daquella vez, mandaram que eu pedisse perdão, adjoelhado bem em frente dum vaso mal lavado. Certamente, fiz tudo o que o mandão delles me disse.

Tentei argumentar, mas foi tolice, pois tive que lamber o repellente vestigio, quer de mijo, quer do olente cocô que, sem descarga, achei mesmice.

Estou accostumado com um sonho bem sadomasochista, no qual ponho a cara na bacia mais immunda…

Não acho tal scenario tão medonho… Peor é quando mandam que eu, tristonho, de todos que cagaram lamba a bunda…

SONNETTO DA ASSISTENCIA ESPIRITUAL [13.201]

Espiritos nos cercam. Uns do bem, mas outros mui maleficos, Glaucão. Estou tranquillo. Quando fallo, não os temo. Não os temes tu, tambem?

Então és assistido? Que te deem um sopro nos ouvidos eu, então, nem posso duvidar. Inspiração não passa disso: um sopro que nos vem.

Te cuida, todavia, pois, no meio dos optimos espiritos, alguns demonios se mixturam, eu receio…

Parescem creaturas bem communs, assim como sou: bello, jamais feio. Mas desde que não mostrem seus bumbuns…

SONNETTO DA ASSOMBRADA NOITADA [13.202]

Glaucão, sahi do corpo! Sim, durante o somno! Sou somnambulo, mas ando appenas em espirito! Foi quando notei que caminhava, ja, bastante…

Cheguei ao cemeterio! Quem garante que espiritos não formem bello bando, assim como os moleques? Fui chegando e logo me enturmei, qual estudante!

Alguns de nós, ainda presos aos seus corpos, se junctavam para dar um susto nos noctivagos bohemios…

Junctei-me, então, a taes meninos maus e, longe do sossego tumular, tornei-me balladeiro nesses gremios…

SONNETTO DA CATHEDRAL IDEAL [13.203]

Os gothicos estylos me suggerem scenarios que, sombrios, servem para historias de terror. Nem se compara alguma cathedral recente! Esperem!

Os arcos ogivaes ou, si quizerem, as torres ponctudissimas, dão rara e rica chance para quem achara alli toda a attracção. Que mais preferem?

Na crypta de granito, uma cappella preserva, subterranea, a tumba dum vampiro, mas por elle ninguem vella…

Appenas eu, que soffro de incommum insomnia, toda noite venho, nella, buscar inspiração, quebrar jejum…

SONNETTO DOS TEMORES E TREMORES [13.204]

À noite, eu escutava a gargalhada que vinha dum andar abbaixo, mas às vezes parescia vir de traz da porta do quartinho de empregada…

No quarto, si eu a porta abrisse, nada havia, nem ninguem! Por Satanaz! Andei a digerir leituras más demais, pensei commigo. Que roubada!

Aquillo não cessava, até que, certa vez, ouço o som que vinha da caveira de enfeite, cuja bocca fica aberta…

Fechei aquella bocca! Ah, ninguem queira ouvir essa risada! Agora allerta ja fico, sinão volta a tremedeira…

SONNETTO DA MORTE DO MEDIUM [13.205]

Morreu aquelle espirita famoso. Em transe, elle induzia a multidão. A morte commoveu toda a nação. Louvou Jesus. Morreu bastante edoso.

Mas elle não me illude, não, Mattoso! Aos gays elle só soube dizer não. Nas photos, se encostou no capitão. Achava prohibido termos gozo.

À noite, elle virá puxar o pé da gente, que peccou, só por ser gay. Que venha meu pezão puxar, ué!

Não foi por causa delle que deixei de gozo ter. Faltou quem tenha fé nas taras fetichistas, ao que sei.

SONNETTO

DO PROPHETA APOCALYPTICO [13.206]

Aquelle sacerdote está fallando que, todos os peccados resumindo, lamber pés se tornou o mais malvindo aos deuses. Continua, assim, pregando.

Peor que esse peccado, tão nefando, chamado sodomia, nosso lindo prazer elle condemna ao mais infindo inferno. Segue, emfim, infernizando.

Mas elle se exquesceu, Glaucão, de tudo que Christo nos ensigna, ao beijar pés de todos os apostolos! Me illudo?

Inferno? Ora, que encare elle, entre dez ou vinte mandamentos, um marrudo Satan, sem trella às tabuas de Moysés!

SONNETTO DO JUIZO INDECISO [13.207]

Aquelle que peccou, si tiver filho, o filho nascerá cego, ou irá, aos poucos, ficar cego. Quem está descrente disso? Eu mesmo me encruzilho.

Sou filho de quem nunca peccou. Pilho a minha consciencia, attenta, ja, ao facto de que pecco sempre e má me fica tal noção de peccadilho.

Beijar pés é peccado? Mas, si for, Jesus Christo peccou para caralho! Não posso ser, tambem, um peccador?

Não, mestre, em taes questões eu jamais falho! Prefiro duns pezões sentir fedor a crimes practicar! Não sou paspalho!

SONNETTO DO SACRIFICIO DE OFFICIO [13.208]

Mamãe, vejo um phantasma alli! Sim, juro! Paresce essa fumaça branca, que é do typo que sae pela chaminé! Se torna mais visivel neste escuro!

Não diga, não, mamãe, que sou eu puro e simples mentiroso! Bote fé naquillo que estou vendo bem, ué! Não basta me chamar de dedo duro?

Mamãe, si continua a duvidar das minhas visões, acho que será melhor que você mesma va checar!

Checou? Não advisei? Phantasmas ha! Suggiro que derrame, em seu altar, um sangue, em offerenda àquelle la!

SONNETTO DOS VINGATIVOS MORTOS VIVOS [13.209]

Em forma de eskeleto, os zumbis ja occupam, pela noite, toda a rua defronte ao cemeterio. São a nua imagem, entre noias, dessa pá.

A nova crackolandia tomará espaço progressivo. Quem recua? Os outros moradores, com a sua pesada consciencia, rude e má!

Hem, Glauco? Quem mandou desamparar menores infractores e carentes? Agora são, ja mortos, um azar!

Caveiras sorridentes esses entes exhibem, mas teem raiva tumular da gente! São ponctudos os seus dentes!

SONNETTO DOS RECEPTADORES DE HORRORES [13.210]

Glaucão, é minha thia feiticeira! Te juro! Mas não topa ser chamada de bruxa! Só de maga! Não lhe aggrada a fama que é, das bruxas, costumeira!

À noite, ella (a segui, Glaucão) se exgueira por entre velhos tumulos e nada impede que exhumar tente essa arcada dentaria que, dourada, acho na feira!

Sim, Glauco! No meu bairro, os camelôs revendem ossos, membros e caveiras, quer tenham algum ouro, quer não tenham…

Tithia até vendeu videos pornôs na feira, mas mais enchem as charteiras taes restos, que evangelicos desdenham…

SONNETTO

DUMA BOCCA INDEFESA [13.211]

Cahido o goleirão, appós jogada difficil, se contorce no gramado. Fingindo soccorrel-o, um do outro lado lhe chuta a cara. Ainda dá risada.

A poncta da chuteira teve entrada bem facil pela bocca do coitado. Da lingua a molle poncta sentirá, do chancão, um paladar que não aggrada.

Em casa, vendo o lance, esse goleiro degusta, de memoria, aquella chanca. Chupou, sim, do rival, um pé certeiro…

Nenhuma serie erotica desbanca tal scena. Ah, que goleiro punheteiro! Gozou. Ah, que risada a porra arranca!

SONNETTO DO REMETTENTE INEXSISTENTE [13.212]

Fallei, ja, desse historico occorrido. Abrindo um electronico correio, algum destinatario vê que veiu dum gajo, ja faz tempo, fallescido.

Assusta-se, é normal. Não faz sentido um sobrenatural recado, meio ironico: “Ora, agora, amigo, creio na vida appós a vida!” Assim foi lido.

Talvez algum parente do defuncto usasse sua compta. Respondido, voltou aquelle email com assumpto:

“Directo dos infernos…” Não duvido. Mensagem verdadeira? Até me juncto àquelles que em Satan ja tenham crido.

SONNETTO DO SUPERLOTADO COLLECTIVO [13.213]

Glaucão, entrei num omnibus que estava lotado! Muita gente em pé, bastante suor e exfregação! Ninguem garante que esteja a sua bunda livre e brava!

Mais gente entrando, o rollo ja se aggrava! Alguem, que por traz chega, tem gigante caralho, que me empurra mais addeante! Mas finco o pé! Nem ligo! Que va à fava!

Notando o gajo que eu indifferente fingia me encontrar, fez mais pressão, ainda mais! Quem é que isso não sente?

Magina! Appertadissimo, o tesão se impunha! Appós sentir uma semente molhando-me, exporrei! Quem é que não?

SONNETTO DO HORARIO DE PICCO [13.214]

Glaucão, vou te contar! Eu no metrô estava! Sempre em pé, porque ninguem consegue se sentar! Não é que vem um gajo me pisar no pezão, pô?

Não era aquella scena mais pornô, do typo que, num omnibus, mantem bumbuns e paus em lubrico vaevem, mas, ‘inda assim, fui feito de pivô!

Emquanto olhava para a mulherona que estava à sua frente, elle fazia pressão, pisando firme! Isso funcciona…

Em clima de total podolatria, gozei! Me molhei todo! Numa conna será que esse sacana pensaria?

SONNETTO DO PASSAGEIRO APPRESSADO [13.215]

Glaucão, entrei num trem superlotado! Estava do meu lado, sempre em pé, um typico mendigo da ralé mais baixa, morador dum elevado!

Sujissimo, fedido, desaggrado causava! Bem, nos outros mais até que em mim, eis que pensei no seu chulé, por dentro do velhissimo calçado!

Nem pude perceber si elle fedia mais forte no pezão ou no restante do corpo… Mas entrei em agonia!

Ah, quasi que propuz esse pisante comprar, pagar-lhe um novo! Todavia, nem tempo deu! Sahiu logo, offegante!

SONNETTO DA PASSAGEIRA ROPTINEIRA [13.216]

Ai, Glauco, pô! Ninguem respeita mais mulher nenhuma nesse trem lotado que eu tenho de tomar! Sempre do lado me fica algum machão, desses brutaes!

O gajo vae forçando os sexuaes contactos e nem liga si me evado ou não do corpanzil quente e suado que encosta, que se exfrega! Ai dos meus ais!

Embora de indignada me fingindo, não posso disfarsar que estou molhada! Hem? Claro que esse gajo não é lindo!

Um ogro mais paresce! Bem, ja nada importa, pois o gajo vae sahindo depressa, antes d’a porta ser fechada!

SONNETTO DO PASSAGEIRO

MANEIRO [13.217]

Glaucão, todo garoto que se sente, num omnibus, quietinho, do meu lado, me causa agitação e não me evado daquelle tesãozinho que se sente!

Sim, sinto o seu corpão suado, quente, e penso no chulé que, num calçado bastante encardidão e detonado, tresanda duma sola adolescente!

Não é que esse moleque logo nota que estou excitadissimo? Ora, ahi que pisa no meu pé com a tal bota!

Não é que me cochicha, bem aqui no ouvido, que elle fundo mette e bota na cara do freguez seu pé? Cê ri?

SONNETTO DUMA DAMA COLHERUDA [13.218]

Glaucão, minha mulher é palpiteira demais! Nós num almosso, convidados, estavamos… Eis que ella, aos altos brados, começa a criticar a cozinheira!

Fallou que exsiste coisa, alli na feira, melhor e mais barata! Ai, meus peccados! Agora todo mundo pensará, dos meus gostos, tudo quanto, mal, se queira!

Na frente do gentil amphitryão a minha esposa, estupida, dizia que tinha achado um ratto no pheijão!

Magina, Glauco! Um ratto! Só seria, talvez, um cocozinho, um simples grão de bosta! Ah, dar palpites nem cabia!

SONNETTO DUM MASCOTTE NO CONVESCOTE [13.219]

Mattoso, que eu lhe conte me permitta… Faziamos um bello piquenique, no bosque, eu e collegas… Claro fique: Levava cada qual sua marmita!

A minha até que estava bem bonita, com ovos e linguiça! Quem critique tal rango que consuma algo mais chique! Fallar dum nutrichato só me irrita!

Não é que essa linguiça defumada o faro despertou dum bassezinho? Dos olhos num piscar, não sobrou nada!

De todos os collegas excarninho juizo recebi, mas, adoptada, me trouxe essa fofura seu carinho!

SONNETTO PARA “CORAÇÃO CHEIO DE SANGUE” [13.220]

Romances, quem os urde tem noção de enredo, de suspense e personagem que seja verosimil. Assim agem auctores como o desta densa acção.

Contar quer Okiyama a relação dum orpham com alguem que tem imagem do charme e das luxurias. A abbordagem nos leva a desejal-os como são.

Mas elles não são esses que parescem… Leitores são romanticos. Se exquescem, porem, que tem mysterios nossa vida…

O principe encantado que esperamos nem sempre é como os servos ou os amos… Perigos, sim, nos rondam… Quem duvida?

SONNETTO DAS MEDIDAS CAUTELARES [13.221]

Vehiculos de luxo, lanchas, grana em cofres, joias, sitios e fazendas, acções valorizadas, altas rendas, emfim, vida abbastada, bem mundana.

O gajo tem poder, do qual se uffana, adora receber umas commendas, uns titulos. Successo tem nas vendas. Sorri quando um rival qualquer se damna.

Mas, quando, na mansão, se vê cercado, attira na policia, bombas joga, até que, preso, posa de coitado…

Tem cancer, anxiedade, toma droga de tarja, declarou seu advogado… Sim, foi “humanitario” quem tem toga…

SONNETTO DOS ALIENIGENAS EXVERDEADOS [13.222]

Astronomos disseram que essa bolla de fogo, pelos céus às vezes vista, é “lixo espacial”. Tambem despista a NASA, que o phenomeno controla.

Mas, Glauco, sei de tudo! Sei que rolla, nas midias, o climão mais pessimista! Agora mais nenhum especialista ignora que é, ja, cacos a viola!

Estão os marcianos signaes dando! É gente extraterrestre quem invade a Terra, menestrel! Estão chegando!

Chegaram ja faz tempo, na verdade, Glaucão! Sim, juro! Os vejo, sempre em bando, vagando pelo centro da cidade!

SONNETTO

DUM CONFUSO PARAFUSO [13.223]

Mamãe assegurou que quem está vivendo sob a minha fofa cama não passa dum monstrengo que se chama “espirito maligno”, camará!

Não tenho medo delle! Cresci, ja! Disseram, no Partido, que quem ama taes entes é burguez, que fazem drama accerca do sacy, do boytatá!

Glaucão, mesmo que puxem o meu pé, nenhuma bolla dou aos monstros, nada! Com manos, só, me juncto, lé com lé!

Mas, quando grana ganho, camarada, nem ligo si é phantasma quem chulé deseja de mim, satyro, ogro ou fada!

SONNETTO DO SENSUAL CANAL ANAL [13.224]

Estive eu a cagar, ultimamente, pensando no seguinte: si está duro, o troço nunca sae. Fica seguro no meio do caminho. O que se sente?

Se sente, Glauco, um puta tesão! Mente quem nega que, na prega, sente puro tesão! É como um pau mettendo, juro! Faltava que ejacule! Isso, somente!

Ahi, que faço? Forço um pouco, mas, assim que está sahindo, prendo! O troço recua para dentro! Pô, rapaz!

Aquelle toletão, comprido, grosso, fazendo um vae-e-vem -- Por Satanaz! -melhor é que pagar o pau dum moço!

SONNETTO DO CLIENTE IMPRUDENTE [13.225]

Glaucão, fiquei com pena do coitado! Borrei a cara toda do rapaz! Fui pago para nelle cagar, mas não era para ser tão ensopado!

Fiquei com diarrhéa, não me evado da culpa, mas, no fundo, tanto faz, pois, si é para sujar, eu trago más noticias: molle eu tenho, só, cagado!

O gajo tem mania de ficar debaixo dum assento de privada se pondo, da bacia, no logar!

Mas, quando o michê caga a merda aguada, não dava para, appenas, apparar na bocca: até nos olhos entra… Ah, cada…

SONNETTO DO SATANICO SOCCORRO [13.226]

Fiz força, mas, Glaucão, não sahiu nada! Nem gazes eu soltava, havia ja um tempo! De repente, camará, sahiu a coisa toda na privada!

Exsiste explicação, sim, pois, a cada semana, a Satanaz a gente dá um credito! O Cappeta não nos ha de falhas commetter! É da pesada!

Mas temos que pagar-lhe da maneira mais practica: lambendo cada prega dum anus que está sempre podre e cheira…

Hem, Glauco? Sei que toda gente cega padesce dessas coisas! Caso queira, Satan lhe recommendo! O Mestre entrega!

SONNETTO DA FECAL PENALIDADE [13.227]

Castigo singular eu, na prisão, notar pude, Glaucão! Na minha cella, pegaram um novato na barrella por causa da recusa do cuzão!

O gajo não queria chupar, não! Pedante, era do typo que ‘inda appella só para as orações e, na cappella, pedia a Deus a plena salvação!

Fizemos que pagasse, sem comptar as rollas que chupou, a penitencia maior: do boi expor-se no logar!

De bocca para cyma, ninguem vence a porção de merda molle que entra! Azar! Quem manda à fellação ter resistencia?

SONNETTO DUM DIVINO DESTINO [13.228]

Divine (Você lembra, Glaucão?) era aquella nojentissima figura filmada a saciar-se com a dura bostinha de cachorro! Sim, à vera!

Comia mesmo! Um dia, alguem fizera comer, mas de castigo, uma mixtura do mijo com a merda, a creatura mais torpe e desprezivel da gallera!

O gajo, de gattinhas, foi forçado, perante esse potinho repellente, àquella refeição! Que triste fado!

Quem manda antipathia ter à gente? Frescura nós punimos, para aggrado dos sadicos, com merda ainda quente!

SONNETTO DO MICTORIO PUBLICO [13.229]

Que exsiste isso nas praças é notorio! Evito usar, mas, quando necessario, eu tenho que mudar de itinerario e entrar num nojentissimo mictorio!

Entrou, ja, Glauco? Falle, corrobore o que digo, menestrel! Hem? Que precario scenario! Que fedor! Ninguem que encare o logar o odor dirá que não deplore-o!

Naquelles urinoes ja vi, Glaucão, um gajo ser punido pela atroz gallera aqui da rua! Ah, brutos são!

Forçado, de joelhos ante nós, bebeu bastante mijo! Fiz questão de tudo filmar… Scena vista a sós!

SONNETTO DO SACCAL PAPPO PAPAL [13.230]

Só pode casar homem com mulher, Glaucão! Fallou o Papa, ainda agora! Quem é que essa postura commemora? Caretas e reaças, por mester!

Eu, hem? Ora, accredite quem quizer no pappo desse Papa! A qualquer hora casaes estão trepando, uma senhora com outra, dois rapazes num affair!

Coitado de quem seja sacerdote em tudo quanto typo for de egreja! Satan acha até graça em quem o enxote!

Um homem com mulher? Va la que seja! Mas desde que se glose este bom motte: Prazer não se prohibe, se deseja!

SONNETTO DUM PARESCER ABBALIZADO [13.231]

E então? Vocês ouviram o que disse aquelle especialista? Vejam só! Depois de certo tempo -- Mas que dó! -nos vamos deparar com a velhice!

E então? Que descoberta! A meninice se exgotta, não é mesmo? Ja chodó não somos da mamãe nem da vovó! Quizera Deus que pena alguem sentisse!

Ninguem meresce, né? Minha cegueira tambem se deu assim: quando começa se faz irreversivel! Ninguem queira!

Pergunto-me: Por que é que me interessa saber quem foi que disse tal asneira? Aguenta alguem bobagens typo dessa?

SONNETTO DO SENHORZINHO RANZINZA [13.232]

Depois de velho, Glauco, me tornei azedo, resmungão, malhumorado! Não venha a rir ninguem para meu lado, que eu viro uma ararona! Ah, virou lei!

Não gosto de piadas! Ja nem sei contar aquellas todas de veado, judeu ou portuguez! Não! Que dirá do sacana papagayo, que era gay!

Si escuto, no boteco, uma fofoca gostosa, appigmentada, sobre nosso valente ex-presidente, isso me toca!

Si tento defendel-o, sempre engrosso, accabo na porrada! Na malloca me chamam de caduco! Não endosso!

SONNETTO DE QUEM FICA COM A ZICA [13.233]

Mattoso, me permitta que eu redija algumas linhas para me expressar accerca da velhice. Para azar da gente, que envelhesce, mal se mija…

Se mija mal, Mattoso, porque rija não fica a nossa picca appós gozar, mas nunca appenas isso, pois brochar ficou banal. Tesão ninguem exija!

A prostata se inflamma! Ja sem prosa de gallo nós ficamos, menestrel! Peor é quando fica cancerosa…

Em summa, ficar velho um mau papel é para todo mundo! Quem nos goza um dia babará la no bordel!

SONNETTO DO SOLITARIO SOLIDARIO [13.234]

Preciso me irmanar, Glaucão, com essa immensa multidão de velhos, ja que estou no mesmo barco, camará! Fallemos do que, emfim, nos interessa!

Estive num bordel… Penei à bessa, pois nunca que, entesada, a rolla la consegue entrar, Glaucão! Appenas dá p’ra gente entrar de lingua, alli, sem pressa!

Os labios separando fui da puta, mas, sendo muito molle, esta linguona aquillo não vencia! Ah, que labuta!

A puta, ao me ver frouxo, de mandona posou! Virei cachorro que se chuta! A muitos me irmanei naquella zona!

SONNETTO

DUMA BREGA COLLEGA [13.235]

Glauquinho, meu querido, que saudade! Faz muito tempo, mesmo, não é? Puxa! Mas deixa que eu te conte, pois de bruxa estão, ja, me chamando! Que maldade!

Bullyingam, só, com gente ja de edade! Taes chistes d’agua fria são a ducha na nossa triste estima! Desembucha, querido! Me consola! Ah, rir? Quem ha de?

Somente por ser velha, feiticeira me chamam! Não é justo, pois o cego não chupa só por causa da cegueira!

Concordas tu commigo? Não sossego emquanto não rever-te! Mais besteira ao vivo trocaremos, meu “collego”!

SONNETTO DA GAGUEIRA E DA CEGUEIRA [13.236]

{Gagá, Glaucão! Me chamam de gagá! Gagueira, até, me dá, de tão cabreiro que fico! Fo-fodeu, com-companheiro! Ga-gago fa-fallando vo-vou, ja!}

-- Sossegue! Quem assim não fallará si fica tão carente? Eu mesmo beiro o panico si chego num puteiro, levado pelos manos, meu xará!

{Me-mestre, é differente! Vo-você chu-chupa na ma-marra pi-pi-picca à be-bessa, pa-pagando um mi-michê!}

-- Mas velho sou, tambem! A gente fica, assim, mais vulneravel a quem dê porrada, alem de rir da nossa zica!

SONNETTO DAS VELHOTAS DESTRAVADAS [13.237]

Nós todas solteironas somos, mas, no baile dos edosos, noite certa, achamos um irmão de cuca aberta que soube destravar-nos e… Zaz-traz!

Agiu como si fosse esse rapaz fogoso que tesão sempre desperta até nas bem casadas! Mais allerta fiquei, depois daquella acção fodaz!

O velho (o chamarei de velho) fez miseria! Nos lambeu, pela boceta affora, aonde escondam-se os buquês!

Ah, Glauco! Mais ninguem que se intrometta assim encontraremos! Não nos dês conselhos! Nossos cheiros nem dão treta!

SONNETTO DOS CUIDADOS PALLIATIVOS [13.238]

Vovó vive entrevada, Glauco! Nós nem temos esperanças! Esperamos appenas o desfecho! Só comptamos com Deus, que jamais deixa alguem a sós!

Nós todos ja perdemos os avós, mas sempre sobra alguma avó que ramos ainda representa, si pensamos nas arvores, em vez de sermos pós!

Sou netto de immigrantes italianos, Glaucão, como você, que está a lembrar dos seus antepassados, ja faz annos…

Em breve, de infecção hospitalar, derrame, infarcto, ou tantos outros damnos, junctamo-nos na casa tumular…

SONNETTO DOS PLAUSIVEIS PALAVRÕES [13.239]

Que velho desboccado, trovador! Precisas desse estupido fallar nalgum de teus sonnettos, exemplar que seja desse incrivel despudor!

À merda, a depender delle, si for a gente, certamente, para azar, ainda tomaremos no cu, par fazendo com algum estuprador!

Si fosse por vontade do subjeito, iriamos à puta que da gente mamãe teria sido, ja suspeito…

Talvez pela velhice, esse indigente nos xinga, a todos, desses nomes, feito um louco, ou mesmo certo presidente…

SONNETTO DA QUITUTEIRA NA TERCEIRA [13.240]

Glaucão, a minha avó, mesmo velhinha, ainda faz coxinha! Ah, cara, cada empada, cada torta… Não se enfada de estar, eternamente, na cozinha!

Alem da mais incrivel empadinha de frango ou de palmito, nos aggrada com optimos bollinhos… É, sim, fada de todos os quitutes dessa linha!

Faz kibbe, faz croquette, faz esfiha… Nos doces, ah, tambem ella capricha! Ainda que cansada, não faz birra!

Emquanto os seus gambitos não espicha, a velha nós amamos! Porem, irra, gagá ja, poz “custarda” na salsicha!

SONNETTO

DA PIEDADE NA ANXIEDADE [13.241]

Da fama ha curandeiro que bem goza, por isso procurar um fui. Me inteiro que exsiste solução, la no terreiro, praquillo que me afflige: estou anxiosa…

Você, na poesia; alguem, na prosa, fallaram desse drama corriqueiro que tantos ja attingiu, tanto dinheiro custou e traz sequela tão damnosa…

Não fallo nem do vinho da jurema, nem mesmo do chazinho doutra planta, Glaucão! Fallo da cura do problema!

Quem é que vem? Quem é que nos encanta? Sim, elle! Elle que impede que eu mais gema de dor que de prazer! Tem força sancta!

SONNETTO

DA PROVIDENCIA NA IMPOTENCIA [13.242]

Não, Glauco! De remedios nos attocha o medico, mas, quando o curandeiro a scena addentra, prompto! Ja me inteiro da sancta solução p’ra quem é brocha!

No couro não dei nunca, mas a tocha da cura, agora, vejo! Um putanheiro virei e não serei mais punheteiro, appenas! Meu pau lembra a dura rocha!

Qual succo da jurema! Qual chazinho dos satyros! Qual nada, menestrel! De Baccho o que funcciona, mestre, é vinho!

Aquelle do terreiro, mais que mel, é doce p’ra caralho! Ja adivinho a fama que terei la no quartel!

SONNETTO DA CURA DA GASTURA [13.243]

Na bocca dum estomago opprimido por tanta afflicção, Glauco, o que é que sente a gente? Essa gastura aguda, ardente! Com ella, ha tanto tempo, mestre, eu lido!

Na falta dum pozinho ou comprimido que seja a solução efficiente e rapida, achei, Glauco, uma vidente que, emfim, viu meu problema de libido!

Faltava aquelle estimulo que dá tesão, que nos inflamma, quer na cama, quer mesmo no terreiro, camará!

Agora, si nervoso fico, o drama affasto, um philtro magico, xará, tomando! Só quem toma, Glaucão, ama!

SONNETTO DA REMISSÃO DA DEPRESSÃO [13.244]

Glaucão, p’ra depressão sabe você qual seja a melhor arma? Agora sei! A magica poção! P’ra mim é lei! Agora não dependo de michê!

Entravam e sahiam! Meu apê virou o roptativo poncto gay mais louco da cidade! Eu dispensei aquillo! Não estou mais na deprê!

Então, que é que tomei? Aquelle cha maluco? Qualquer antidepressivo? Magina! Só cheirei! Ahi que está!

Ha cheiros, Glaucão, magicos! Eu vivo dizendo: um chulezinho melhor dá tesão, mas a poção me deixa activo!

SONNETTO

DA MILAGREIRA DA CEGUEIRA [13.245]

Ah, Glauco! Milagreira mesmo, ouvi dizer, é minha thia! Sim, é bruxa! Quem olha nem crê que essa tal gorducha poderes tenha: “Bruxa? Aquella alli?”

Mas ella faz milagres, sim! Sacy segunda perna ganha! Quem repuxa a perna agora pulla, dansa! Puxa! Dispensa a velha gaze e bisturi!

Ja cegos a visão de volta teem!

Você não quer tentar, Glaucão? Não vem soffrendo, ja faz tempo, da desgraça?

Tithia cobrará barato! Nem precisa ser à vista! A dor, porem, só mesmo com a morte é que, emfim, passa!

SONNETTO DA INTERESSEIRA NA CEGUEIRA [13.246]

Ai, Glauco! O que você precisa não será nenhum chazinho para aquillo que cause depressão ou intranquillo o deixe! Nem precisa de poção!

Precisa de carinho! Uma affeição eu tenho por você, damnada! Asylo? Hospicio? Manicomio? Sem vacillo lhe digo: nada disso, meu irmão!

Da cuca, alem de cego, sei que está soffrendo, mas sou boa companheira, querido! Não farei appenas cha!

E então? Nem quer saber de quem só queira fazer-lhe companhia? Ah, porra, va tomar no cu, veado! Que toupeira!

SONNETTO DA CHUPETA E DA CHUPADA

[13.247]

Não, Glauco! Nada disso! Não sou essa mulher appaixonada, affectuosa, que esteja assediando, desejosa, você, ja que está cego, trouxa à bessa!

Fallar vou do que, em summa, me interessa! Sou puta mesmo! Puta! Sou quem prosa dispensa, quem de boa fama goza como optima ao freguez que prazer peça!

Farei, si necessario, um desses chas de plantas poderosas que, sagradas, irão deixar você bem mais capaz…

Mas, como nem das bruxas nem das fadas eu faço parte, fallo mesmo das chupetas, como fallo das chupadas…

SONNETTO DO PÉ BACCHICO [13.248]

Carissimo poeta, aqui quem falla é Baccho! Sim, eu mesmo, Dionyso! Seguinte, meu amigo: si preciso, darei uma adjudinha! Posso dal-a!

Estás estressadissimo? Nem galla tens posto para fora? Mau juizo ja fazem de ti, nesse paraiso das putas mais polacas da senzala?

Sossega, meu querido! Do meu vinho irás beber, inteiro, um garrafão! Garanto que te entesas rapidinho!

Preferes outro orgasmo? Um chulezão? Contentas-te com, mesmo, um chulezinho? Então meu pé te serve, meu irmão!

SONNETTO DUM LITRO DE PHILTRO [13.249]

Glauquinho, sou eu mesma, a tua fada madrinha! Sim, daqui mesmo te fallo, do proprio Paraiso! Vou chamal-o assim, de Paraiso! Mais aggrada!

Mas fallo porque vejo que estás cada vez menos conformado com o phallo que te entra pelo rabo, o mau regalo que encaras como cego, uma roubada!

Um philtro de jurema adjudaria, sabias? Preparar-te vou inteira garrafa da poção! Em mim confia!

Não, Glauco, tal bebida da cegueira a cura não será, mas euphoria trará para quem só pense em besteira…

SONNETTO DOS HALLUCINOGENOS E DOS SOMNIFEROS [13.250]

Glaucão, no meu boteco offerescendo estou ja toda sorte de bebida que entesa, que euphoria traz à vida, que empresta, aos psychodelicos, addendo!

Aqui podes beber algo que, entendo, fará total effeito! O suicida impulso ja bloqueia! Até convida a coisas prazerosas! Vem correndo!

Que esperas? Quer que eu mesmo va buscar-te? Preferes que eu te leve estes enormes e inteiros garrafões, que enchi com arte?

Sciente estou que insomnia tens e dormes bem pouco! Ora, antes mesmo dum enfarte, infarcto, ou coisa assim, que tu te informes!

SONNETTO DA SINISTRA BEBEDEIRA [13.251]

Não creio nos phantasmas, Glauco, não, mas hontem occorreu extranho facto… Mamãe apparesceu-me, sabe? Exacto, faz tempo que morreu! Sim, pois então!

Jamais imaginei apparição egual, mas, appós vel-a, ja constato que estive eu a beber… Esse insensato costume evoca as scenas que virão…

Certeza tenho, Glauco! Mamãe vae surgir de novo, um poncto repetindo: “Mais ‘inda você bebe que seu pae!”

Phantasma nenhum, Glauco, me é bemvindo, ainda menos quando ja me cae a ficha, ai, esta ficha, ai, ja cahindo…

SONNETTO DO ALCOHOLATRA DESNUDADO [13.252]

Eu, bebado? Um bebum? Glaucão, que está commigo se passando, por Jesus? Accabo me excedendo! Se deduz que, em breve, dormirei no chão! Será?

Serei, como o Leminski, visto la, cahido na calçada? Ah, tantos cus de bebados, sem dono, passam nus a noite toda! Christo Jesus, ah!

Não quero ser lambido, na boquinha que minha mãe beijou, por um cachorro de rua, menestrel! Não me convinha…

Me dizem que, de bebado, não morro, mas acho que mamãe, sim, razão tinha, temendo ver-me ao léu e sem soccorro…

SONNETTO DO CIDADÃO PREVENIDO [13.253]

Não, Glauco, só tomei um espumante fraquinho, um ou dois calices! Magina! Não era jamais para, alli na exquina, ficar desaccordado! Não, por Dante!

Roubaram minha calça, meu pisante, alem do meu dinheiro… Ora, termina assim o caso: um tanto fescennina, a scena rendeu risos, e bastante!

Filmaram, inclusive, eis que, do nada, uns noias me enrabaram facilmente, até se revezando… Que enrascada!

Agora, prevenido, ninguem tente abrir uma champanhe, camarada, e calices encher na minha frente!

SONNETTO DA SINCERIDADE NA INTIMIDADE

[13.254]

Depois duns trez ou quattro coppos desta champanhe espumantissima, Glaucão, eu deito o verbo! Fallo tudo, não me pejo de estragar, mesmo, uma festa!

Mas, como só dois somos aqui, resta appenas a você tal confissão fazer… Sou, caro Glauco, um veadão! Meu rabo dei! A turma me detesta!

Você quer me comer, Glaucão, tirar vantagem si, indefeso, estou de porre? Prefere meu chulé poder cheirar?

Então, ora, approveite! Que se exporre chupando meu dedão, meu calcanhar, que eu bronha batto! O lance entre nós morre!

SONNETTO DUMA DAMA QUE MAMMA [13.255]

Quem disse que mulher não pode encher a cara, menestrel? Eu bebo, sim! E fico tão de porre, em tão ruim estado, que você tinha que ver…

Mas sabe que esses recos teem prazer de ver uma senhora alli, no fim da rua, ao chão deitada? Até ja vim, por elles, a ser vista a me foder!

Usando um corriqueiro cellular, filmaram-me, dum noia, a chupitar sujissimo caralho, menestrel!

Mas claro que, Glaucão, eu tenho um lar! Appenas, descuidada, a cochilar pegaram-me, nos fundos do quartel…

SONNETTO

DOS ENSIGNAMENTOS PAROCHIAES [13.256]

Eu, antes, só da pessima cerveja bebia, aquella tal que, no boteco, se vende, mas agora appenas secco um coppo do bom vinho, o tal de egreja!

O padre me ensignou, Glaucão! Sim, veja si tenho ou não razão! Mais um caneco accabo de tomar, comendo um teco de queijo, sem que mal jamais esteja!

Tá certo que esse padre vive em porre total, só que elle varios litros toma! Nem sei como do figado não morre!

Mas elle que se ferre, que entre em coma! Eu, com moderação, estou bem! Corre que quem sabe beber cem annos somma!

SONNETTO DA VOCAÇÃO SACERDOTAL [13.257]

Glaucão, tornei-me padre, mas estou frustrado totalmente com a vida que levo! O bispo, veja, até duvida que eu possa proseguir dando meu show!

Sim, minhas missas mostram como sou bastante popular! Porem, quem lida com vinhos à vontade se convida a toda temptação, Glaucão! Sacou?

Accabo sendo como Frei Thomaz: Só façam o que diz, não o que faz! A todos ensignei moderação…

É vinho vagabundo, mas, rapaz, me deixa doido! Veja, até por traz me comem, sem fallar na fellação!

SONNETTO DA COR DO LICOR [13.258]

Aquelle teu licor, Mattoso -- Uau! -é mesmo uma delicia! Aonde, porra, tu foste encontrar esse, hem? Em Gomorrha? Sodoma? Achei potente em alto grau!

Azul é, mas jamais foi curaçau, nem mesmo la na China! Que concorra, até, para augmentar a nossa zorra na cama, nem duvido! Macta a pau!

Si verde fosse, eu, claro, ja appostava tractar-se dum absintho da mais brava especie, menestrel! Vae, Glauco, conta!

Contar não queres? Bah! Mandei à fava qualquer indagação! Ja não bastava deixar nossa cabeça assim tão tonta?

SONNETTO DA BEBERAGEM E DA SACANAGEM [13.259]

Um vinho vermelhinho, trovador, me foi offerescido pelo tal poeta, alli na Villa! Foi fatal! Meu rabo dei, sem mesmo sentir dor!

Estavamos em quattro, mas, si for comptar, oito ja numero normal será, pois a cabeça pode, mal e mal, lembrar daquelle ebrio sabor!

Da cor me lembro bem: era vermelha!

Nem sei si era tal vinho uma poção que, magica, accendeu essa scentelha…

Que importa? No logar ja não estão as minhas pregas, mestre? Hem? Acconselha você que eu compre, inteiro, um garrafão?

SONNETTO DO INSECTO ABJECTO [13.260]

Baratta apparesceu e, quando voa, não vejo o que fazer, Glaucão! A gente não fica appavorada? De repente, na cara a sinto! Não é coisa à toa!

Se choca contra tudo! Uma pessoa, illesa, não excappa! Nem que eu tente mactal-a! Aquelle insecto repellente não pára! Quem tem nojo que se doa!

Aquella que cahiu dentro da taça de vinho -- Tu te lembras? -- estragou a festa! Que é que esperas que se faça?

Sim, gosto de beber, mas ja não dou nenhuma chance! Emquanto o bicho passa, eu bebo no gargalo! Vivo sou!

SONNETTOS

DA MINHOCA DORMINHOCA (1) [13.261]

Memoria, agora creio, significa a basica noção de que exsistencia teremos. Me pergunto: o que convence a humana mente em torno dessa dica?

Fallei ja: não nasci, pois não me fica bem clara, na lembrança, a consciencia daquelle nascimento. Consequencia: não posso ter morrido dessa zica.

Lembrança não terei do nascimento? Lembrança não terei, tambem, da morte? Então eu não nasci. Siquer morri.

Alguma conclusão, si tirar tento, jamais noção será que me comforte. Persiste este dilemma, de persi.

SONNETTOS

DA MINHOCA DORMINHOCA (2) [13.262]

Das duas, uma simples conclusão. Só posso deduzir tal coisa disto. Ou creio que sou deus, ou não exsisto. Si exsisto, sou eterno. Si não, não.

Paresce elementar e todos vão achar cartesiano demais. Mixto ficou o raciocinio, ja que Christo tambem pregou eterna salvação.

Sem sermos philosophicos nem crentes, podemos concluir que nossas mentes dependem, meramente, da memoria.

Do nosso nascimento conscientes estamos? Não? Da morte nossos entes queridos que dirão? Morte illusoria?

SONNETTOS

DA MINHOCA DORMINHOCA (3) [13.263]

Ser deus não é difficil. O problema está nessa vidinha tediosa que vive esse immortal. Mesmo quem goza de toda a gloria vive em crise extrema.

Ser deus é desejar que quem nos tema não possa revidar, com poderosa coragem, toda a sua desdictosa miseria demoniaca. Ah, que thema!

Mysterio dos mysterios: essa gloria divina, anthropomorphica, seria, talvez, monotheismo? Ou irmãos tenho?

Ja vejo uma questão contradictoria: Si somos muitos deuses, haveria um unico demonio? Franzo o cenho…

SONNETTOS

DA MINHOCA DORMINHOCA (4) [13.264]

Nem tudo o que queremos accontesce. Nem tudo o que se passa nós queremos. Vivemos de inverter alguns extremos. Mandar, quem mais deseja, só faz prece.

Mais coisa se conhesce, mais se exquesce. Subir si desejamos, nós descemos. Aos nossos inimigos somos demos. Amor quem nos terá nos abhorresce.

Si nada que queremos conseguimos e tudo o que queremos não nos vem, pergunto-me: quem fica com os mimos?

O pão só nos ammassa, affinal, quem? De tantos deuses somos irmãos, primos ou orphans, meramente, em trevas? Hem?

SONNETTOS

DA MINHOCA DORMINHOCA (5) [13.265]

Então ja concluí. Não tenho tudo que quero. O que desejo nunca tenho. Portanto, não sou deus. Meu desempenho é nullo. Nada movo. Nada mudo.

Aquelle deus que, masculo, barbudo, nos quadros apparesce, mais ferrenho será no mandamento? Ora, desdenho de imagem tão paterna. Não me illudo.

Não quero ser jamais esse deus tão humano, tão mundano, tão terreno. Não posso ser seu filho ou seu irmão.

As ordens não me cumprem quando ordeno. Às minhas orações recebo um não. Sou nada. Não sou grande nem pequeno.

SONNETTOS

DA MINHOCA DORMINHOCA (6) [13.266]

Estou philosophando ou simplesmente em circulos vagando nesses termos inuteis da razão? Si, para sermos, teremos que pensar, quem nos desmente?

É simples: não exsisto. Nossa mente não pensa, appenas sonha. Conhescermos a nossa consciencia, para termos sciencia, a nada leva. Sou descrente.

Voltamos, na materia, ao mesmo poncto de inicio: não me lembro, pois, de nada. Tamanho raciocinio me põe tonto.

Si não exsisto, fica deschartada a minha poesia. Ja não compto siquer com estes versos de empreitada.

SONNETTOS DA MINHOCA DORMINHOCA (7) [13.267]

É falso o raciocinio de quem anda a tantas conclusões vans a chegar. Memoria si não temos, do radar nos fogem as noções. Tudo debanda.

Ninguem nos obedesce. Ninguem manda nas nossas vidas. Vamos vegetar até que, sob a lage tumular, appenas a caveira, a rir, se expanda.

Amnesia philosophica: até posso o nosso pensamento baptizar assim, si termos lyricos endosso.

Um dia saberei, si em meu altar Satan não me faltar, qual foi o nosso papel aqui na Terra, appós obrar.

SONNETTO ONIRICO EMPIRICO [13.268]

Mattoso, reparaste tu que nós sonhamos com aquillo que, mas nem, em sonho quereriamos? Alguem sonhou com o que quiz, dormir appós?

Me exforço, me concentro, fallo a sós commigo si, na cama, sou refem de idéas pessimistas, sem, porem, lograr que Morpheu ouça a minha voz!

E tu, poeta, acaso conseguiste sonhar com alguem, algo, que quizeste? Jamais? Nem com bassês? É muito triste…

Bah, sempre que sonhei, foi com a peste, a fome… Mas a gente não desiste! Eu, antes de dormir, refaço o teste…

SONNETTO DO IRMÃO ENLUCTADO [13.269]

A gente, quando perde ente querido, de Lucto fica, até por tempo largo. Eu acho natural que, em tão amargo momento, nos fechemos. Faz sentido.

Mas, Glauco, o meu irmão, por ter perdido a sogra num desastre, do lethargo não logra mais sahir e, sem embargo, terá que proseguir! Assim tem sido!

Algumas sogras, mestre, eu comprehendo que, como mães, nos tractam com carinho! Mas elle eternamente está soffrendo…

Não quero maldizer, mas ja adivinho… Mamãe tractou o mano com horrendo desdem… Era adoptivo, coitadinho…

SONNETTO DA DOÇURA E DA AMARGURA [13.270]

Mamãe só me tractava a pão de ló, Glaucão! Fazia até doce de leite, de coco, chocolate… Hem? Que deleite! Até melhor fazia que vovó!

Eu era, na verdade, seu chodó. Meu mano, não. Entendo que elle deite veneno nesse lance e não acceite que della nós tenhamos algum dó…

Me lembro… Mamãe delle tanto ria que, quando, ja de cama, lhe pedia adjuda, recebia aquelle não…

É triste recordar essa agonia da velha, mas agora vejo, fria, a cara de vingança desse irmão…

SONNETTO DUM SURRADO SOLADO [13.271]

Pisei numa baratta, num cocô, bem molle, de cachorro, num excarro de bebado, naquillo que dum carro jogaram, mastigado… Um nojo, pô!

Pisei, tambem, no mijo que vovô gotteja no banheiro, no bizarro annel de camisinha que não varro, grudento da punheta mais pornô!

Pisei naquelle resto de comida que excappa da marmita do peão, lambida por sarnento viralatta…

Agora a minha bota te convida, Glaucão, a lamber tudo o que, do chão, à grossa sola adhere, em dose exacta!

SONNETTO

DA CRISE SANITARIA [13.272]

Que nojo, menestrel! O que essa suja pombinha a comer fica, na calçada, é tudo o que, insalubre, nos invada a vida na cidade! Hem? Ha quem fuja?

Nem mesmo uma carniça a dicta cuja se peja de engolir, a desgraçada! Ninguem jamais consegue fazer nada e nossa nausea a pomba sobrepuja!

Problema até maior é quando secca o verde cocozinho que, na rua, se expalha! Sim, aquella ave defeca…

Adspire esse pozinho, mestre, e sua sahude levará, depressa, a breca! Sim, morre gente, eis toda a crise, nua!

SONNETTO

DUM VELHOTE SEM MASCOTTE [13.273]

Vovô vivia a dar, aos pombos, milho. Achava natural alimental-os, coitados! Se exquescia até dos callos que tanto lhe doiam, andarilho…

Ficava revoltado quando um filho da puta assassinava as aves: gallos não eram contra bichos que, dos rallos, grudavam no mendigo maltrappilho…

Um dia, respirando o sujo pó que estava no cocô desses pombinhos, o velho morreu… Delle sinto dó…

Entendo o commentario dos vizinhos: “Si estava aquelle velho ja tão só, ficasse em casa, ao lado duns gattinhos!”

SONNETTO DA FOFOCA DE FANZOCA [13.274]

Quem conta, Glauco, um conto sempre augmenta um poncto. Fofocaram que Epstein tinha chupado o pau do Lennon! Que historinha piccante, hem, menestrel? Isso me tempta!

Até fui pesquisar… Macca, aos septenta, fallou, em entrevista, que mesquinha não era, tambem, sua rolla! Vinha bem esse que a chupasse! Hem, Glaucão? Guenta!

“Nós eramos tão jovens! Quem não ia topar esse boquette, essa follia, si Brian propuzesse? Elle era gay…”

Hem, mestre? Eu acho que Epstein putaria propoz a todos elles! Certo dia, chupou o pau do Jagger! Hem? Ja sei!

SONNETTO DUMA VERSATIL REPUTAÇÃO [13.275]

Fallando na fofoca que se faz em torno de quem suja fama tenha, conhesço um rapazola, alli na Penha, que, para a putaria, gasta gaz!

Curriculo bem grosso o tal rapaz exhibe, Glaucão! Elle desempenha papel activo, caso um gay lhe venha, mas pode, sim, tambem levar por traz!

O gajo fode em pé, fode sentado, na cama, no chuveiro, na poltrona, nos fundos, ou dum templo, ou dum quartel…

Na Lapa, até, pimpão, ja foi flagrado fodendo um sacristão ou, pela zona, alguem que tenha sido coronel…

SONNETTO DUMA HISTORIA DE PEGADOR [13.276]

Zumbis, Glaucão, não sentem fome, não precisam se hydratar, não seccam uma caneca de cerveja? Alguem assuma que estão aqui, no meio do povão!

Não, cerebros não comem! Comerão, talvez, uma coxinha! Com espuma, um choppe beberão! Ja vi, na bruma, um delles devorando ovo no pão!

Mentira que elles nunca fazem sexo! Eu mesmo ja trepei com cadaverico rapaz, que me deixou, Glaucão, perplexo!

Chulé tinha, fortissimo! Um homerico pau tive que chupar e, para nexo ter, esse encontro digo que é lotterico!

SONNETTO DO PUTANHEIRO JUSTICEIRO [13.277]

Você ja trepou, Glauco, com alguem ja morto, com cadaver decomposto, ou mesmo um eskeleto ja sem rosto, sorrindo, na caveira, com desdem?

Não? Nunca? Pois eu posso dizer, sem mentir, que ja trepei! A contragosto não foi, eu lhe garanto! Mas, proposto por elle, só paguei mero vintem!

Foder cu cadaverico não é tão facil, nem chupar pau de carniça… Tampouco lamber ossos desse pé!

Mas topo o desaffio, pois attiça a minha tara aquelle Zé Mané que, morto na favella, quer justiça…

SONNETTO DO CADAVER PROPHANADO [13.278]

Aquelle bandidão, assassinado depois de, na favella, ser detido, ficou por muitas horas extendido na rua! Ah, mestre, eu ‘tava alli do lado!

Levaram tudo delle: seu calçado, seu typico bonné, seu exhibido blusão… E levariam, não duvido, até sua cueca… Foi gozado!

Inveja me deu, Glauco, do cachorro que, vendo o pé descalço, foi lamber a sola chulepenta! Ah, quasi morro!

Não tive, nem em vida, tal prazer, mas sei que quem lambia, sob exporro, foi uma auctoridade com poder…

SONNETTO

DO EXORCISMO [13.279]

Num rito de exorcismo, o padre estava achando que tirava dum coitado a porra desse encosto, um mau olhado damnado que, no tempo, mais aggrava.

De subito, o demonio cara brava fez, para desespero do prelado. Urrou e vomitou. Teve excarrado o rosto um exorcista. Puta trava!

A cara do possesso se deforma, transforma-se num ogro horrendo. Os dentes ponctudos rangem, quebram-se, eis a norma…

Não, Glauco, nunca tive, entre parentes, alguem que precisasse dessa forma de culto! Satan dá-me costas quentes!

SONNETTO DO PROCEDIMENTO ESTHETICO [13.280]

É facto que, veridico, ninguem contesta, menestrel! A minha thia, que é bruxa, quiz obter physiognomia de bella moça! Aquillo não foi bem…

Deu tudo mais que errado: ficou sem orelhas, sobrancelhas… A agonia da velha augmenta, agora, dia a dia, pois ja virou caveira! Azar não tem?

Usou tantas poções, como direi, kosmeticas, que sua antiga cara virou o que? Cratera? Ah, ja nem sei!

Coitada da tithia! Se mascara, agora, de mulher fatal! A lei de Murphy não adjuda: mais a azara…

SONNETTO DA PROVOCAÇÃO [13.281]

Apposto que esse Glauco não resiste ao classico formato do meu pé que, grego, de dedão bem menor, é chatissimo! Mais chato não exsiste!

É como offerescer, de sobra, alpiste ao cego passarinho! Vou até temptal-o, provocal-o! Meu chulé podolatra nenhum vae deixar triste!

Onde é que elle perfil, nas redes, tem? É facil contactar esse imbecil? Vou delle caçoar como ninguem!

Achei! Instagrammavel, seu perfil demonstra que tem cara de refem pisavel facilmente! Serei vil!

SONNETTO

DO CERCO [13.282]

Daquella vez, sonhei com um marrento pivete, cujo sujo pé seria, talvez, o que tivesse essa macia e plana planta pela qual me tempto.

Cercou-me elle na rua, no momento em que eu, nesta diaria correria, estava a bengalar. Ninguem havia, por perto, que viesse em salvamento.

Immediatamente, esse sacana, jogando-me no chão, poz-me na cara, descalça, aquella sola rude e plana.

Depois de ter tragado o pó que entrara na bocca, ainda pude sua gana supprir, dando boquette. Hem? Puta tara!

SONNETTO DO PÉ TRACTADO [13.283]

Fui ao orthopedista, Glauco, para tractar duma dorzinha ao caminhar. Pensei que fosse só no calcanhar, mas elle me sorriu, até, na cara.

Fallou que minha sola ja acchatara ao maximo o que pode um cavallar pezão ser acchatado. Fiz um ar de expanto, pois pensei na tua tara…

Glaucão, eu nem suppunha que meu pé tão chato fosse! Porra, si soubesse, teria te pisado muito, ué!

Mas deixa assim, que em breve tua prece attendo! Por signal que meu chulé, que tanto mediquei, não arrefesce…

SONNETTO DO SUMOKA [13.284]

Daquella vez, meu sonho um pé suppoz bem chato, mas bem chato mesmo, qual madeira que, na tabua, faz egual papel da linha recta. Alguem propoz:

“Você, que está ceguinho e que pornôs contactos apprecia, sensual na certa achar irá meu colossal formato, só visivel nos sumôs!”

De facto, pesadão me parescia aquelle gordo gajo que na cara me punha a prancha. Achei nada macia…

Pensei commigo: Porra, quem sonhara com algo tão bizarro? Uma agonia tamanha real pode ser? Tomara!

SONNETTO

DO PÉ PUXADO [13.285]

Meu pae foi recusado no serviço da patria, só por causa do pé chato, Glaucão! Elle queria ser, de facto, soldado! Se importava assaz com isso!

Herdei delle este pé… Não, não attiço você! Somente digo que constato que pode hereditario tal formato ser, saca? Mas fallei sem compromisso…

Nem passa pela minha cabecinha pisar na sua cara com a sola mais plana do planeta! Não convinha!

Mas, caso você deste rapazola tal coisa queira, alguma gorgetinha propondo, com certeza até que colla…

SONNETTO DO ESBOÇO [13.286]

Daquella vez, num livro de gravuras, desenho vi dum pé bastante plano, sem arco. Quem traçou, si não me enganno, alguem foi entre historicas figuras…

Da Vinci? Portinari? São obscuras as minhas referencias. Nem Fulano, comtudo, nem Beltrano tão insano proposito tiveram! Almas puras!

Eu mesmo sou quem, nesses bellos traços, supponho putarias que talvez expantem até bardos mais devassos…

Mas acho que, entre muitos de vocês, qualquer um pode, dentro desses lassos pisantes, ter taes pés! Serei freguez!

SONNETTO DO PAE DO GAROTO [13.287]

Poemas teus eu leio, Glauco, onde és tarado por uns chatos pés! Talvez meu filho os tenha… Sim, elle ja fez dezoito! Não dará quaesquer migués!

Me disse que michê quer ser! Tem pés enormes e chatissimos! Não dês detalhes! Nem precisa, pois freguez fez muito! Do teu typo, mais de dez!

Sim, elle sabe, experto que é, que taes clientes não desejam só pés chatos… Tambem uns tennis lambem: pagam mais…

Sim, delle lhe dou todos os contactos! Careta não sou, como os outros paes! Tomara que elle lucre com taes actos…

SONNETTO DO SUBJEITO SEM PREDICADOS [13.288]

Daquella vez, sonhei com um subjeito horrivel, bem mais feio que Satan. Sonhei que me tornara delle fan, mas, para meus botões, fallei: “Bem feito!”

O gajo tinha tudo de imperfeito que eu possa suppor: cara de tantan, disforme corpanzil, uma malsan imagem de bandido o mais suspeito.

Orelhas abbanando, nariz torto, dentuça de vampiro, olhos bugrinos, emfim, mais parescendo um vivo morto.

Mas chatos são seus pés, como os meninos de rua que eu cobiço. Descomforto me causa só que tenha dons divinos…

SONNETTO

DO GORDO INCOMMODADO [13.289]

Meus chatos pés, Glaucão, nunca serão motivo de comforto para mim! Me causam sensação assaz ruim por causa da columna! Sacou, não?

Sou muito gordo, mesmo um ballofão! Com rango gasto todo o meu dindim! Você diz que deseja, ainda assim, lamber as minhas solas? Que illusão!

Garanto que você não ia nem chegar o nariz perto do meu pé, de tanto que elle fede, Glaucão! Hem?

Por isso mesmo nelle quer até passar a lingua? Serio? Chiste sem, eu topo! Me pagar vae um café?

SONNETTO DO VESTIARIO [13.290]

Daquella vez, sonhei que estava alli, em pleno vestiario, depois duma partida varzeana. Quem assuma não falta, que nos gays faça chichi.

Mijado pelo time, então, me vi. Appós essa sessão, por mais alguma proposta lhes paguei. E quem me estruma primeiro? O zagueirão! É quem mais ri.

O time inteiro, pois, se divertia. Porem o melhor lance, em tal orgia, foi minha lingua nesses pezões chatos…

É sonho, sei bem disso. Mas un dia ainda a lingua passo -- Que euphoria! -nos pés de quem nem jogue em campeonatos…

SONNETTO

DA MAMÃE BRUXA [13.291]

O filho duma bruxa não queria seguir da mãe os passos, nem beijar o rabo do Diabo. Seu altar só tinha figurinhas de Maria.

Mamãe não quiz, porem, tal teimosia topar. Forçou o cara a se prostrar, lamber do Demo os cascos e, com ar de supplica, a borrar-se, em agonia.

Satan riu como nunca ao sentir essa linguinha adolescente em suas pregas. Appenas commentou: “Não tenha pressa!”

A bruxa, agora, quando das collegas é thema de fofocas, faz promessa de, pelo filho, um cu chupar às cegas.

SONNETTO

DO PAPAE BRUXO [13.292]

O filho que, dum bruxo, os passos não queria seguir, não topava, nem por sombra, trocar sua crença zen por outra, a satanista, a lei do Cão.

Um anus diabolico o pagão garoto repelliu. O pae, porem, forçou-o. Bem, na marra agindo, quem não lambe taes preguinhas? Hem, Glaucão?

O joven, humilhado, passou sua linguona à volta toda desse cu, alem de enfiar fundo! Quem recua?

Quem ousa recusar? Nenhum tabu supera aquella scena nua, crua, dos labios mergulhados num angu…

SONNETTO DA FAMILIA [13.293]

Aberto, um cemeterio clandestino mostrou scenas grottescas. Ha quem queira, sem sustos, assistir? Que tremedeira causou, em quem ouvia, a voz do sino!

Achado foi o corpo dum menino ao lado de seus paes. Sua caveira sorria tristemente, da maneira mais tragica, qual alma sem destino.

Comtudo, o que impressiona toda a gente é, perto, de cachorro um eskeleto, tal como si dormisse em cama quente…

Glaucão, nesses assumptos não me metto, mas acho que seria, simplesmente, um thema familiar para sonnetto…

SONNETTO DO ESPELHO [13.294]

Olhando-me ao espelho, Glauco, fico bastante impressionado, pois da minha boccarra (para não dizer boquinha) os dentes me suggerem thema rico!

Emquanto não estou fazendo bicco francez, eu arreganho os labios… Tinha, Glaucão, que ver! Perplexo, uma ponctinha maior nos meus caninos verifico!

Será que sou vampiro, menestrel? De sangue não tolero nem o cheiro! Si for para sugar, prefiro o mel!

De dia, todavia, quasi beiro o mystico delirio! Sou fiel, então, dentro da tumba, ao travesseiro…

SONNETTO

DA FILHA REBELDE [13.295]

Não posso tolerar alguem que diga tamanha asneira, Glauco! Minha filha virou ovelha negra da familia, tal como Ritta Lee, rebelde, instiga!

Scismou essa menina duma figa que bruxa quer virar! Ella me pilha! Não basta ter entrado na quadrilha dos manos satanistas? Quer é briga!

Deu para, às sextas-feiras, sahir toda vestida com aquella roupa preta! Si estrillo, me responde: “Que se foda!”

Ah, falta pouco para que eu commetta, Glaucão, um desattino! Gosto, pô, da menina, mas jamais dessa veneta!

SONNETTO DO LATIFUNDIARIO [13.296]

Aquelle intolerante presidente dum clube de empresarios do café sentou-se na poltrona. Poz o pé descalço para cyma, sorridente.

Passando viu, na tela à sua frente, o tragico massacre da ralé sem terra, que invadira algum chalé. Artelhos flexionou, todo contente.

Gostava de ver scenas dos sem terra soffrendo, da policia, a repressão. De subito, um peão, por perto, berra…

Extranha. Vae olhar. Alguem ja não estava alli. Mais tarde, elle se ferra. De susto vae morrer… Assombração?

SONNETTO

DO ENCOSTO [13.297]

Eu, quando possuido, sinto o rosto arder e, por soccorro quando peço, ninguem attende! Sou, Glauco, um confesso exemplo de quem soffre desse encosto!

É duro, menestrel! Não foi por gosto que dei a bunda ao Demo! Ja regresso não vejo! Por Satan fiquei possesso! Nem queira, mestre, estar neste meu posto!

Às vezes, o Demonio vem por traz e mero gay passivo de mim faz, a fundo me enrabando, sem ter dó!

Mas, uma vez, chupei do Satanaz aquelle pau de bode que -- Rapaz! -inteiro nem me cabe no gogó!

SONNETTO DO BATTEPAPPO [13.298]

Talvez Duvivier não corrobore o que digo totalmente, mas no seu programma até que emprega algo do que eu escrevo. Ora, achei muito meritorio…

Vejamos o que falla, alli, Gregorio: Allega ter chulé, feito um plebeu, que feda gorgonzola. Bem que deu vontade de testar seu palavrorio…

Teria Greg um grego pé? Só posso dizer si tactear me for possivel, à vera… Ah, si elle fora amigo nosso!

Daquelle bom debatte estou no nivel? Me chamem, que eu prometto: não engrosso e só meus dedos uso, si for crivel…

SONNETTO DA SELECÇÃO NATURAL [13.299]

Não posso ser, Mattoso, um homicida, mas, sim, assassinei algum insecto damninho, reconhesço… Não ha veto da tua parte, certo? Quem duvida?

Baratta, mosca, abelha… Alguma vida daquellas meresceu o teu affecto? De minha parte, digo: o que interpreto da propria Natureza me convida…

Nós somos predadores! Ou não somos? Si eu não mactar algum, elle me vae mactar! Não comerei amargos pomos!

Não ha, na Natureza, mãe nem pae!

Não ha, siquer, a culpa dos mordomos! É cada qual por si, Mattoso, uai!

SONNETTO DO DESFECHO [13.300]

A cada novo livro que termino de, celere, compor, me indago si, de facto, para ainda andar aqui, motivos haverá desde menino.

Por que não me mactei? O que imagino se prende, na cegueira, ao mimimi do qual sou accusado por quem ri da victima dum tragico destino.

Nos livros, macto o tempo, para não mactar minh’alma, alem do corpo, um fardo que, em trevas, não vislumbra a salvação…

Quem ri do meu azar é felizardo? Talvez seja, mas clamo: os “normaes” hão, um dia, de entender por que fui bardo…

Casa de Ferreiro

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