BRINCADEIRA DE CASERNA

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BRINCADEIRA

E C A S E R N A

Glauco Mattoso

BRINCADEIRA DE CASERNA

E OUTROS SONNETTOS

Casa de Ferreiro

São Paulo

Brincadeira de caserna

© Glauco Mattoso, 2025

Editoração, Diagramação e Revisão Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

Fotografia: Claudio Cammarota

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Mattoso, Glauco

BRINCADEIRA DE CASERNA E OUTROS SONNETTOS / Glauco Mattoso. –– Brasil : Casa de Ferreiro, 2025. 114 Páginas

1.Poesia Brasileira I. Título.

25-1293 CDD B869.1

Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia brasileira

NOTA INTRODUCTORIA [10.100-F]

A cada novo livro, me questiono accerca do que posso compor como prefacio si, na practica, só sommo sonnettos e sonnettos collecciono.

Digamos que eu não diga que num throno sentei do sonnettismo, mas que eu domo o verso decasyllabo, pois tomo logar de quem nariz tem, sendo dono.

Em tempo de editar anthologia me vejo, quando somma meu trabalho, talvez, onze milhares. Quem diria?

Tem tudo o que compuz um vario talho thematico, mas tudo, todavia, demonstra que, na verve, eu jamais falho.

SONNETTO DA BRINCADEIRA DE CASERNA [13.301]

De facto filho só serei si meu irmão puder commigo de quartel tambem brincar tal como brinco de manobra militar com minha mana, appós total occupação.

Meu mano sendo, como os outros manos são, refem, appenas, serviria de exemplar subjeito disso que se chama, no radar da guerra, caso natural de escravidão.

A propria mana de casinha não irá poder brincar, e sim de “sadico oppressor”, conforme escripto por theoricos foi ja.

Comtudo, quando de refem eu mesmo for na marra feito, um outro mano me fará a mesma coisa que papae nos fez: amor.

SONNETTO DO JOVEN HITLERISTA [13.302]

O filho dum nazista general ganhou, ao completar os seus dezoito anninhos, uma Luger. Quiz, affoito, num alvo practicar. Calculem qual…

Exacto: num judeu, que, por signal, estava ammarradissimo. Um biscoito em bocca de creança. Mental coito em bronha adolescente, por egual.

Deleite por deleite, esse menino podia ser, agora, algum suino devoto da direita aqui de casa…

Assim é que, sem pappas, imagino quem queira se tornar um assassino local ou mundial: Capão ou Gaza…

SONNETTO DA MEMORIA NACIONAL [13.303]

Na salla de tortura, ao lado dum cagueta, assisti, mudo. Um militante de esquerda appanhou muito… Riu bastante aquella atroz platéa. Algo commum.

Brutal foi! Lhe exfollaram o bumbum! Usaram choque electrico durante mais tempo do que um medico garante. Seu recto não deixaram em jejum.

Um frango, num espeto, parescia o gajo, nu, naquelle pau de arara… Nem para descrever dá, num sonnetto!

É disso que me lembro. Si der para narrar tal lance em versos, eu prometto que conto o que rollou com outro cara.

SONNETTO

DO CANCELLAMENTO [13.304]

Augusto me endossou. Tambem Millor. Perrone, Foster, Butterman tambem. Caetano opina, até, que soa bem meu nome na canção. Que irei suppor?

Supponho que estou vivo e que, si for alguem olhar o canone, vê quem será Glauco Mattoso: um bardo sem visão, mas sonnettista com louvor.

Aqui cabe, inclusive, perguntar: Por que me esnobam tanto no mercado das lettras e, das midias, no radar?

Os cegos invisiveis são? Cortado sou como cego? Ou, sendo um exemplar pornographo, os caretas não aggrado?

SONNETTO DOS ESCRUPULOSOS [13.305]

São todos bons meninos, irmão, ora! Por causa dum mendigo? Só porque puzeram fogo nesse demodê exemplo de pobreza? Ah, ninguem chora!

Magina! Minha tropa commemora manobras recentissimas, você bem sabe! Então! Queimamos vivos -- Vê? -os nossos inimigos! Foi agora!

E então, viu? Meus rapazes diversão tiveram, a valer, com lança-chammas! Por que é que esses moleques não terão?

Frescura dos reporteres! Escamas da turma progressista! Ahi, me’rmão! Você tambem tem parte nessas tramas?

SONNETTO

DO VIDEO CASEIRO [13.306]

Eu, para apparescer num marginal exemplo de cinema, lambi dum collega fanzineiro o mais commum sapato. Uma sujeira até normal.

Mas elle, impressionado, ligou, mal chegou em casa, appós ficar bebum: “Você lambeu a minha sola! Algum nojinho não sentiu? Achei legal!”

“Pensou si o director fosse pornô? Hem? Elle quereria que você chupasse meu caralho! Pensou, pô?”

“É mesmo? Chuparia? Quer que eu dê mais uma passadinha ahi? Cocô não faço ‘ocê comer! Não sou michê!”

SONNETTO

DO BOYCOTTE [13.307]

Com Jorge Schwartz eu fiz a traducção do livro que, de Borges, inaugura a fertil obra. Mas, a certa altura, trocou-se de editora. Normal, não?

Normal não foi, comtudo, o que o mandão da vez fazer quiz. Elle não attura meu nome entre os que estão nessa factura. Reedita a minha parte. Faz questão.

Um outro traductor é convidado e estou fora daquillo que rendeu, ao gruppo, um Jaboty. Deu resultado?

O tempo dirá. Creio, neste breu de duplo symbolismo, que a meu lado esteja quem o senso não perdeu.

SONNETTO DO SOLDADO [13.308]

Cansado das manobras, o recruta descalça seu cothurno. Desaptado o laço, puxa a perna para o lado. Affrouxa, affoito, o cano. Os ares chuta.

Lhe sae emfim do pé, depois de lucta intensa, a bota preta. Para aggrado seu, pode desgrudar, do mui suado pezão, a grossa meia desenxuta.

Neblina que, invisivel, ja se expande nos ares, seu chulé tudo defuma. Adspira aquelle cheiro. Pensa grande.

Calcula quanto paga alguem por uma chapante cafungada. Achar quem ande em busca delle é facil. Um arrhuma.

SONNETTO DA LISTA [13.309]

Na lista dos melhores é Camões, de facto, o primeirão? Então redundo si digo que Pessoa no segundo logar vem? E Gregorio? Onde é que o pões?

No rock, hem, quaes achaste primeirões? Os Beatles? Mas tem gente, pelo mundo affora, que acha Dylan mais profundo ou troca por Ramones, mais podrões!

Na lista de quem vota, ahi, sim, pega o bicho! Nenhum “critico” ou “jurado” cacife tem! É roda de collega!

Na tua, Glauco, quaes do teu aggrado se salvam? Só bons versos gente cega compoz? Puxas as brazas ao teu lado?

SONNETTO DO LOCUTOR [13.310]

Agora toda radio resolveu que deve contractar locutor fanho! Então, ca me pergunto: O que é que eu ganho com isso? Lhes dar chance? Eu não! Não eu!

Os fanhos que trabalhem num plebeu commercio, num negocio de tamanho pequeno ou popular! Achei extranho um delles anchorando! Quem cedeu?

Não basta aquelle chocho nhenhenhem em todas as chamadas? Ja me vem alguem que só se exprime em nhanhanham!

Não, Glauco! Só dicção boa quem tem devia, ao microphone, seu vintem com meritos ganhar pela manhan!

SONNETTO

DA BURRICE ARTIFICIAL [13.311]

É meu computador intelligente à bessa, menestrel! Quando um commando eu dou, ja vae pensando… Vae pensando… até que se decide e, emfim, consente!

Não, esta minha machina não tente ninguem desprogrammar! Ella faz, quando está de lua, aquillo que implorando eu fico, menestrel, humildemente!

Si peço que ella clique em certo link, julgando que com ella a gente brinque, a machina, teimosa, me resiste!

Mas, quando desligal-a quiz eu, só de birra, ligadissima, deu nó na cuca virtual e ficou triste…

SONNETTO DA BARREIRA NA PARREIRA [13.312]

De fora, fico olhando os meus collegas de edade entrarem para a Academia. (Olhar foi expressão.) Do Gruppo, um dia, expulso fui. Na rua, andei às cegas.

Nas theses, Heloisa achou os bregas poetas, mais que eu, dignos de empathia. Ruffato me excluiu da anthologia de contos. Nos listões, nunca fui Degas.

No premio Jaboty só fui segundo. Fui quarto no Oceanos, por um triz. Ficar devo jocundo ou gemebundo?

Me dizem os amigos que feliz jamais serei nas lettras, mas, no fundo, questão das verdes uvas nunca fiz…

SONNETTO DA CONVIDADA [13.313]

Respeito? Quer respeito uma senhora da sua laia? Ah, tenha paciencia! Nem como mulher acho que pertence a senhora a algum sallão de elites, ora!

Ministra? Que ministra? Condecora alguem uma mulher de intelligencia tão rasa? Ah, só bordel em decadencia a acceita! Dos bons clubes está fora!

Nem venha me exigir algum respeito! Mulher nenhuma aqui pode ter peito, sinão para mostrar, desnuda, a teta!

De gente empoderada não acceito que, em altas tamanquinhas, tenha feito de escravo quem com viboras se metta!

SONNETTO DA PRECE DESCRENTE [13.314]

Mamãe morreu soffrendo no hospital. Catholica, jamais perdeu a fé. Papae morreu de cancer. Foi até mais rapido. Mas morte é sempre egual.

Pergunto-me, ‘inda agora: Affinal, qual a crença que supera a dor? Qual é a força que sustenta alguem em pé emquanto não esteja assim tão mal?

Elle era kardecista. Ao centro não deixava de, fiel, comparescer. Mamãe o terço sempre tinha à mão.

Não creio como creram. O poder maligno me cegou. Em oração, mais nelles penso, perto de morrer.

SONNETTO DOS MENINOS RECRUTADOS [13.315]

Na frente de battalha, a meninada dá tiros de verdade em tudo quanto se mova alli por perto, sob o manto das cores inimigas. Dão risada.

Pegar um homem vivo lhes aggrada. Melhor que metralhal-o, sem expanto dos velhos habitantes, é rir tanto ou mais, causando morte prolongada.

Torturam o opponente guerrilheiro, à vista do povão, tal como quem é frango contra aranha em gallinheiro.

Piccando vão, aos poucos, o refem na poncta dos punhaes. Pisam, primeiro, com gosto no seu rosto, os olhos sem.

SONNETTO PREMONITORIO [13.316]

As malas estão promptas. Desperdiça um tempo precioso quem addia a morte programmada. Mais um dia e estou, com meu esposo, na Suissa.

Dependo de euthanasia, agora. A liça perdi para a cegueira. Só queria livrar-me duma vez por todas. Ia alguem menosprezar minha premissa?

Fez bem Antonio Cicero. Me resta seguil-o nessa trilha. Façam festa aquelles que enxergar podem ainda…

A quem enxergar possa não molesta um drama desse typo. Mas eu, nesta viagem, rememoro o que se finda…

SONNETTO DA POSTERIDADE [13.317]

Soffrer de depressão ninguem queria. Ja basta a paranoia, sempre digo. Ou, como diz aquelle meu amigo: “Comtigo o que se faz é covardia!”

Viver em ostracismo de euphoria não enche ninguem. Quasi não consigo, às vezes, versejar, mas ja me ligo: É tudo o que me resta, a poesia.

Alem de me esnobarem como cego, me esnobam como fertil creador do genero, mas nunca que eu sossego…

Si para a cremação, em breve, eu for, ao menos uns milhares a mais lego aos posteros. Futuro promissor…

SONNETTO DA RATTOEIRA [13.318]

Ouviu fallar, poeta, do Commando de Caça aos Communistas? Sou michê por elles contractado! O que você suppõe que eu faça? Adjudo aquelle bando!

Aos alvos do Commando me chegando eu vou! Sim, de isca sirvo! Caso dê, attraio o gajo! Quando ja se vê rendido, será tarde! Hem? Sou nefando!

Glaucão, esses communas são tarados por jovens prostitutos! É por isso que caem na arapuca, assassinados!

Bem pago sou, Glaucão, pelo serviço! Jamais, para nenhum desses dois lados, votei! Papel não faço de submisso!

SONNETTO DO DEDO CHUPADO [13.319]

Achou, Glaucão, que iria ganhar? Ledo enganno! Nem será classificado!

Achou que estava alguem, hem, do seu lado? Coitado! Vae ficar chupando o dedo!

Achou que iria alguem, mais tarde ou cedo, fazer justiça ao cego ostracizado?

Achou que ‘inda será valorizado? Coitado! Vae ficar chupando o dedo!

Achou que excapparia, até, de intriga egual? Ao seu trabalho fazem figa! Coitado! Vae ficar chupando o dedo!

Lhe deram só banana? Ah, ninguem liga a minima ao ceguinho? Nem prosiga com isso! Nem de praga alguem tem medo!

SONNETTO

DA LYRA ORGANIZADA [13.320]

Senhores, nós prendemos o funkeiro! Sim, elle é quem fazia a apologia do crime! Elle compõe a poesia bandida, vagabunda! Age certeiro!

Propaga aquelle traffico que, inteiro, domina nosso urbano centro! Um dia teria que ser pego! De euphoria, agora, na policia, sinto o cheiro!

Seu cynico causidico opinou que é tudo uma ficção, uma “persona poetica”! Que “eu lyrico”! Brincou!

O gajo obstenta a droga, direcciona estupros e exterminios em seu show! Só falta achar que egreja seja a zona!

SONNETTO PERSECUTORIO [13.321]

Me entrego, mas estive foragido porque não concordava, mas de jeito nenhum, em ficar preso. Não duvido que irá meu advogado ter proveito.

Sim, isso mesmo. Tive muito peito. Jamais acceitarei ficar detido por causa dum peão. Não me subjeito a leis tão populistas, sem sentido.

Mactei meu operario porque deu vontade, porra! Achei que elle offendeu a minha mãe, alem da minha avó!

Não venham, só por causa dum plebeu, querer que eu entre em canna! Não sou eu irmão dum diplomata? Ah, tenham dó!

SONNETTO VIBRATORIO [13.322]

Ai, mestre! Eu, quando ponho um vibrador la dentro, não consigo mais parar! No orgasmo, não exsiste patamar, limite nem excesso! Não, senhor!

Você nunca testou? Ah, quando for usar, vae ter um ecstase sem par! Sim, deixe que entre tudo no logar aonde entrar devia alguem, sem dor!

Mas, caso o trepidante bastão doa por dentro la das tripas, ‘inda assim verá que, emfim, compensa! A porra voa!

Na minha não achei nada ruim, excepto um cocozinho que, de boa, bem molle me excorreu… Mas eu me vim!

SONNETTO ILLUSORIO [13.323]

Contei aos meus amigos, mas ninguem levou a serio, Glauco! O cemeterio estava assombradissimo! Confere o que digo, menestrel! Ouve-me bem!

Sozinho me encontrava alli, ja sem aquelles que, do morto (um deleterio politico), vieram ao funereo serviço. De repente, vejo quem?

Dezenas de eskeletos das pessoas que, em vida, aquelle crapula affligira! Ainda bem que disso não caçoas…

Te juro! Quem fé ponha que confira! Curraram o cadaver, dando boas risadas! Com os punhos, sim! Com ira!

SONNETTO MERENCORIO [13.324]

Nos mortos da familia, às vezes, penso com grande dor de espirito, mas nem por isso, nos meus sonhos, elles veem allivio dar ao breu que me põe tenso.

Supplico-lhes, humilde, neste immenso deserto de esperança: Venha alguem fallar commigo! Venha aqui, sim, bem baixinho, dizer algo de bom senso!

No fundo desta astral melancholia, preciso de soccorro… Basta a voz serena, sussurrada… Ja allivia…

Da minha mãe, do pae, nem dos avós escuto uma só phrase! Eis que, de dia, me lembro das conversas entre nós…

SONNETTO MERITORIO

[13.325]

Não quero parescer que sou censor. Por isso não discuto si é culpado alguem, nem collocar-me irei dum lado. Fazer não vou juizo de valor.

No merito não entro. Vão suppor que estou analysando sem cuidado. Prefiro me eximir dum appressado palpite. Não serei accusador.

Não, Glauco! Conclusões tu não me peças! Preciso me informar melhor! Mais tarde, talvez, eu nisso opine… Nunca às pressas!

Estás, ora, a julgar que sou covarde? Jamais! Não me intrometto, porem, nessas conversas! Meu ouvido, depois, arde…

SONNETTO CENSORIO [13.326]

Tu sabes! Tu bem sabes, menestrel, que eu nunca censurei ninguem, nem ia teus versos prohibir! A poesia precisa ao seu auctor ser bem fiel!

Que falles duma alcova, dum bordel, de tudo quanto envolva a putaria! Que cites todo penis que se enfia a fundo numa vulva, ao prazer bel!

Appenas não admitto que componhas poemas sobre certos themas mais nojentos, que te emballam nessas bronhas…

Não podes te privar dos abnormaes fetiches e tesões? Não te envergonhas? Insistes em tocar nestes meus ais!

SONNETTO PREDATORIO [13.327]

Fallando da Amazonia, por que não pararmos com discursos e frescuras? Emquanto “sustentavel” tu me juras ser, elles vão mettendo sua mão!

Tu ficas levantando uma questão de flora aqui, de fauna alli… São puras as tuas intenções, mas serão duras as minhas objecções! Molles não são!

Petroleo tirarão, de “equatorial” ou la que porra for a “margem” disso! Inutil, esse thema ambiental!

Si queres, a valer, prestar serviço, melhor será chamares a fatal questão de “discutivel compromisso”!

SONNETTO GYRATORIO [13.328]

Nem isso, nem aquillo! Nem a Terra tem jeito duma grande bolla, nem é plana, totalmente recta, sem limites de infinito! Ninguem erra!

É tudo uma minhoca que se encerra nas nossas cabecinhas! Ninguem tem certeza do que esteja a ver! Ninguem consegue deduzir! A mente emperra!

Não viste, menestrel? Cada pessoa enxerga, sob um angulo qualquer, as coisas ao redor! A mente voa!

A nossa mente roda! Si estiver chapada, mais ainda! Não à toa mettemos no universo uma colher!

SONNETTO NOTORIO [13.329]

Aqui vim, meritissimo, só para dar justo testemunho sobre quem estejam a accusar! Elle não tem, jamais teve, intenção assaz ignara!

Por elle corto o braço, dou a cara a tapa, meritissimo! Ninguem dirá que elle incitou as tropas, nem que esteve conspirando! Quem ousara?

Jamais, excellentissimo! Quem ia conter todo um paiz? Democracia não pode ser tão fragil coisa, não!

Está na cara! Todo mundo via que nunca aquelle encosto, qualquer dia, retorna à presidencia da nação!

SONNETTO MIGRATORIO [13.330]

Não! Chega de estudantes extrangeiros! As universidades cheias ja estão desses alumnos e não dá mais para aguentar tantos novos cheiros!

Está nosso paiz, como os primeiros do mundo, saturado! Quem irá encher tantas barrigas, camará? Não bastam os milhões de prisioneiros?

Alem disso, os alumnos baderneiros demais são! Sempre fazem arruaça! Prefiro os meus soldados! São ordeiros!

Melhor seria, Glauco, si essa raça de ignaros immigrantes, costumeiros causões, não occupassem mais a praça!

SONNETTO INDECISORIO

[13.331]

Mas sabe, menestrel? Depois que li seu optimo sonnetto, ja nem sei si delle desgostei ou si gostei… O proprio thema falla, ja, por si.

Pensei que choraria, mas eu ri. Curtir deve quem seja macho ou gay? Em termos pessoaes, que é que direi? Dizer coisas demais, é o que temi…

{Então vou responder como o Diniz. Dizendo mais ou menos o que diz, direi que ja nem sei si isso compuz…}

{Assim, dirá você si fui feliz ou, caso nós sejamos imbecis, diremos que tiramos nossos cus…}

SONNETTO SIMPLORIO

[13.332]

É mesmo? Você jura que porá appenas a cabeça? Tem certeza? Irá minha garganta sempre illesa ficar? Você garante? Hem? Veja la!

Sim, nauseas sinto! Claro que fui, ja, fodido pela bocca! Alguem ja fez a tremenda sacanagem, a torpeza de entrar a fundo! Um outro não fará!

Você promette? Então a lingua passo de leve pela grossa chapelleta até que você goze, bem devasso…

Não vale me irrumar! Vamos, prometta! Então vou confiar, pois questão faço de sempre estar de boa, aqui, sem treta.

SONNETTO PERFUNCTORIO

[13.333]

Por honra foi, da firma, que esse pau chupei, só como parte da roptina dum servo cujo trampo não termina tão cedo. Meu destino é mesmo mau.

Estou accostumado com o grau dos rispidos commandos, pois me ensigna a vida a aguentar essa dura signa de escravo que sustenta algum vagau.

O gajo não trabalha nem estuda. Appenas faz papel do gigolô que irruma a minha bocca, sempre muda.

Faz parte do serviço o mais pornô scenario. O gajo fode e diz: “Caluda!” E engulo, no papel de seu robô.

SONNETTO PEREMPTORIO

[13.334]

Na marra foi -- Bem feito! -- que meu pau chupou elle. Faz parte da roptina, mas, ‘inda assim, alguem que determina preciso ser. Então eu banco o mau.

Ficou accostumado com o grau dos rispidos commandos, pois lhe ensigna a vida a aguentar essa dura signa de escravo que sustenta algum vagau.

Exacto: não trabalho nem estudo. Só faço o meu papel de gigolô que irruma aquella bocca. Sou marrudo.

Faz parte do serviço o mais pornô scenario. No boquette, empurro tudo. Exijo que elle seja meu robô.

SONNETTO PROVISORIO [13.335]

Vejamos… Por emquanto, vou rhymar “rhymar” com “singular”, eis que essa rhyma comprova meu rigor. Inda por cyma, verei si é meu sonnetto singular.

Não creio. Elle é banal, mantem um ar de mera forçação. Não sinto um clima de escripta vanguardista, pois não prima o rhythmo pelo gosto de impactar.

Usar um sapphico, talvez, me seja melhor para romper este compasso formal… Não deu… O ouvido ja fraqueja…

Bah! Deixe estar! Depois vejo o que faço do raio do sonnetto… Quem deseja ler isto, ora? Accabou o meu espaço.

SONNETTO SATISFACTORIO [13.336]

Agora, sim! Paresce que componho um optimo sonnetto, com eschema rhymatico perfeito, pondo o thema formal em scena. Nada de enfadonho…

Será que, emfim, verei meu velho sonho poetico ultimar-se? Esse problema maior ja superei, e com extrema pericia, até! Pois é, não me envergonho…

Será que meus leitores saberão que estive superando uma barreira difficil de transpor? Acho que não…

Que importa? Alguem que tente, caso queira, meus passos seguir! Tudo foi questão de exforço: um lenitivo na cegueira.

SONNETTO INSATISFACTORIO [13.337]

Será que deu? Será que, emfim, componho um optimo sonnetto, com eschema rhymatico perfeito, pondo o thema formal em scena? Nada de enfadonho?

Será que, emfim, verei meu velho sonho poetico ultimar-se? Esse problema maior nunca supero, nem que exprema ao maximo os miolos! Me envergonho…

Será que meus leitores saberão que sempre desejei essa barreira transpor? Alguem se importa? Acho que não…

Talvez nenhum poeta ainda queira meus passos seguir! Tudo foi questão de exforço, sempre inutil, na cegueira.

SONNETTO DIVISORIO [13.338]

Glaucão, eu encerrei, mesmo, uma phase difficil nesta vida de casado! Emfim, me separei! Deu resultado o lance do divorcio! Mas foi quasi…

Lhe digo, meu amigo: Não se case! Sim, posso confirmar! Nenhum veado aguenta com mulher ficar deitado a vida toda! Annote minha phrase!

Repito: Não se case! Finalmente estou recomeçando! Ser feliz meresço! Quem casou, descase! Tente!

Ninguem jamais feliz foi como quiz, sei disso, menestrel… Mas cama quente ja tenho p’ra chorar, como se diz…

SONNETTO CIVILIZATORIO [13.339]

Condemna-se a morrer, de sede e fome, um povo todo. Qual o nome disto? O nome é genocidio? Não de Christo, porem de Satanaz, se faz em nome.

Quem mortes taes commette jamais some da chronica das eras. Nesse mixto de guerra com sadismo, um nunca visto terror deshumanista a paz consome.

Milhões de mortos vivos vão, em Gaza, vagando. Um breve e celere exterminio, em fornos crematorios, este embasa…

A morte inspira a morte e, em tal declinio, o cyclo humanitario mais attraza que impelle. Isso tem nome? Quem define-o?

SONNETTO PROBATORIO [13.340]

Sim, posso provar tudo o que está alli, nas horas e mais horas de conversa jogada fora. Della não dispersa ninguem que esteja preso. Tudo ouvi.

Agora falla cada qual por si. Estão os advogados quem malversa tentando defender, mas a perversa politica só gera mimimi.

Não fosse esse amplo escandalo bastante, ainda apparesceu o sujo pappo que eu cito. Quer questão que mais expante?

Admitto que eu tambem ja não excappo de estar nisso mettido. Quem garante, em bocca alheia, algum esparadrappo?

SONNETTO SECTARIO

[13.341]

O lado dois, em ABBEY ROAD, está num nivel tão accyma, que eu opino: Tem clima apotheotico! Que fino trabalho de suite, camará!

Mas acho que nem tudo dicto ja foi desse disco, Glauco. Vaticino que veiu uma sequencia a tão supino momento que, dos Beatles, restará!

Refiro-me, Glaucão, ao album RAM do Macca. Aquelle disco representa egual sonoridade ao tom da banda!

Algum dos outros trez fez algo? Não! O proprio Lennon tenta, tenta, tenta, mas delle o que restou foi propaganda…

SONNETTO UTILITARIO [13.342]

Fallou-se muito disto, mas insisto que todos os invalidos teem sua funcção na sociedade. Quem actua de escravo? Quem servindo não foi visto?

Os cegos, por exemplo… O proprio Christo fallou que, na verdade nua e crua, serão obedientes. Continua valendo tal palavra. Pensem nisto.

Quão util pode ser um invidente? Foi dicto que será bom fellador. Se exforce, então. Practique. Elle que tente…

Hindus confirmarão. Cego quem for na marra apprenderá, forçosamente, que deve se curvar ao superior…

SONNETTO IMAGINARIO [13.343]

Daquella vez, pensei num truculento soldado que, depois duma battalha, occupa toda a aldeia que se expalha na zona conflagrada. Ah, que momento!

Fui feito prisioneiro. Me contento appenas em ser mesmo uma gentalha aos pés desse soldado, que me malha a bocca com seu penis fedorento.

Sou cego, o que, de facto, o fez suppor que eu faça meu papel de fellador e engula a sua rolla até que goze…

Estou quasi engasgando, mas, si for ver, tudo que engoli foi superior a um coppo de yoghurt… Hem? Que overdose!

SONNETTO PRIORITARIO [13.344]

Mulher tem preferencia? Acho que não. Na frente estão os velhos? As creanças? Os pobres? Os pedintes? Tu me cansas com tuas objecções, ora, Glaucão!

Ja disse eu, pô, que faço, sim, questão de estar sempre em primeiro nas festanças politicas de elite e que mudanças não quero nos programmas da nação!

Insistes tu que eu deva me tocar por todo o miserê dessa gentalha? Ah, Glauco! Vae tomar no tal logar!

Odeio uma fofoca que se expalha, dizendo que estou louco p’ra chupar caralho de peão! Gente canalha!

SONNETTO ATRABILIARIO [13.345]

Não gosto de ninguem! Meu mau humor tu, Glauco, nem calculas! Quando perco as minhas estribeiras, jogo esterco em tudo quanto for ventilador!

Sou curto de pavio! Queres pôr à prova meus colhões? Queres um cerco fazer ao meu sossego? Queres ter c’o demonio um bello pappo de calão?

Do figado, sim, acho que ja peno, pois vivo, Glauco, sempre no veneno, a pique do mais rispido rompante…

Somente não te exquesças dum pequeno detalhe: quando à morte alguem condemno, da atroz exsecução sou o mandante!

SONNETTO HUMANITARIO [13.346]

Um cego que conhesço foi dum frade escravo sexual. Era fodido na bocca todo dia. Não duvido que sempre se engasgasse. Quem não ha de?

Alem de exsecutar tudo que aggrade ao penis, que é que a bocca dum punido ceguinho fazer pode? Faz sentido pensar em pedicure? É crueldade?

Magina! Aquelle frade exigiria da lingua bello tracto numa sola bem aspera, cascuda, todo dia!

O frade considera até que esmolla ao cego dando esteja quando enfia a glande na goela! A these colla?

SONNETTO EMBRYONARIO [13.347]

Ouvi fallar, Glaucão, que extraterrestres costumam foder boccas! Se semeia assim, sendo de porra a bocca cheia, a nova descendencia desses mestres!

Escravos somos delles! Qual sylvestres macacos nos parescem! Essa feia figura seu tesão jamais refreia! Nos montam qual si fossemos equestres!

Pensou, Glaucão? Um chucro chimpanzé mettendo em sua bocca aquelle pau fedido! Obediente quem não é?

Ah, como o chimpanzé sabe ser mau! Diverte-se fodendo! Ponha fé! Assim procrearão! Ahi, babau!

SONNETTO DEMISSIONARIO

[13.348]

Ao Trump estou pedindo demissão. Fiz tudo o que queria aquelle encosto, mas acho que perdi, ja, todo o gosto de, em transe, infernizar esta nação…

Sim, drogas, as que tomo muitas são. Ja deixam até marcas no meu rosto, das crises de hysteria. No meu posto que ponham outro noia. Ahi, verão…

Pensavam que eu estava bem doidão emquanto planejava a falcatrua mais grossa? Maior loque encontrarão!

Assim que elle estiver, mesmo, de lua, na certa appertará, rindo, o botão que explode este planeta… Alguem recua?

SONNETTO ILLITTERARIO [13.349]

Glaucão, não é possivel aguentar tamanha marmellada! Quem premia, excolhe e edita a turma da “sadia leitura” só bossaes tem no radar!

Filhinhos de papae, todos um ar exhibem de idiotas! Algum dia ainda affirmarão que poesia não passa de papel para limpar…

Que é que esse editor pensa, affinal, dessa local litteratura? Acha que está formando gerações bossaes à bessa?

Que coisa aquelle encosto quererá fazer? Analphabetos lhe interessa crear? Mas tantos delles temos, ja…

SONNETTO VOLUNTARIO [13.350]

Fiz tudo de proposito, Glaucão! Eu sempre me disponho, com total fervor, a promover a nacional cultura! Mais leitores surgirão!

Não quero que elles leiam o calão que escreves! Entendeste? Dou aval appenas aos auctores de moral mais alta, mais sem macula! A ti, não!

Farei o que puder para que, em breve, tenhamos a censura aqui de volta! A gente melhorar os livros deve!

Pedir aos direitistas vou que excolta me façam, menestrel! Sim, quem escreve que escreva coisas bellas! Sem revolta!

SONNETTO INVOLUNTARIO [13.351]

Fiz tudo de proposito, Glaucão! Eu sempre me disponho, com total fervor, a promover a nacional cultura! Mas não houve solução…

Não, elles ler só querem o calão que escreves! Entendeste? Dão aval appenas aos auctores sem moral nem ethica! Te seguem! A mim, não!

Fiz tudo o que podia, mas, em breve, censura nem teremos mais! Que pena! Emfim, o que é que a gente fazer deve?

A adjuda da direita foi pequena, ninguem se convenceu… Ja quem escreve só para assumptos chulos tem antenna!

SONNETTO AUCTORITARIO [13.352]

Quem manda aqui sou eu! Escutou bem? Ninguem que esteja accyma de mim pode pensar em exsistir! Ninguem accode quem queira achar que força alguma tem!

Delego, sim, poderes, mas ninguem faz nada que bagunce meu pagode! Quem tenta apparescer logo se fode! Affasto quem mandão quer ser tambem!

Glaucão, a minha tactica consiste em contra collocar dois entre si, que estejam pretensões alimentando…

Nenhum dos dois, poeta, a mim resiste! Repito, pois: sou eu quem manda aqui! Satan, só, não attende ao meu commando…

SONNETTO PARASITARIO [13.353]

Discordo, menestrel, de quem me cita só como um gigolô sem empathia por esses cegos todos que, sem guia, desejam companhia tão bemdicta!

Alguem ja me chamou de parasita, mas acho uma tremenda covardia!

Appenas porque exijo putaria daquelles que me pagam? Hem? Reflicta!

Os cegos que rastejam aos meus pés não fazem nada mais que seu dever! Não passam duns coitados, duns manés!

Você mesmo verseja que poder tem, Glauco, quem enxerga! Fodo uns dez, um para cada artelho me lamber…

SONNETTO PRECARIO [13.354]

No posto de sahude está a parede tomada por bolor! O piso cheira a mijo! Quem de vós tanta sujeira tolera? Que miseria, amigos! Vede!

Siquer nem agua para quem tem sede alli se encontra! Leitos? De maneira nenhuma! Algum doutor ou enfermeira? São poucos para toda aquella rede!

Na maca, a senhorinha verde ja ficou, appós soffrer mais um infarcto! Na certa, sem cuidados, morrerá…

A gravida sozinha fez o parto! Vaccina, p’ra tomar alli, não dá! Si disso depender, olhae, eu parto!

SONNETTO USURARIO

[13.355]

Me chamam de sovina, mas eu não admitto! Um avarento, falla alguem? Magina, menestrel! A gente tem pouquinho! Não! De vacca não sou mão!

Suei para junctar cada tostão! Difficil foi ganhar cada vintem! Si juros cobro desses que me veem pedir, acho justissimo, Glaucão!

Agora, só por causa da ammeaça àquelle caloteiro, que fiz, eu sou tido como um sordido reaça?

Não! Nada a ver, Glaucão! Não sou judeu, nem tenho nada contra aquella raça que, experta, algum milhão jamais perdeu!

SONNETTO FUNERARIO

[13.356]

Ao tumulo descido outro caixão, ficou, emfim, sozinho quem primeiro chegara ao cemeterio. O tal coveiro estava assustadissimo, Glaucão!

Sei disso porque estive de plantão na rua, alli pertinho. Ouvi berreiro de varias vozes… Delle, o costumeiro chamado, mas, das outras… Não sei, não!

Não era voz humana! Aquelle grito tão rouco, tão maccabro, só podia ser mesmo das caveiras, eu admitto…

Cruzei com o coveiro, ja, de dia, mas elle desconversa… Que bonito assumpto para a tua poesia!

SONNETTO URINARIO

[13.357]

O gosto do chichi jamais provei, Glaucão, pois eu sou sempre quem mais mija na bocca dos veados. Rolla rija nem tenho. Ja sou velho, disso sei…

Mas elles me procuram! Ja mijei em toda a molecada! Quem exija tal coisa não encontram… Hem? Redija algum poema, cara! Algum bem gay!

Escreva sobre cada veadinho que fica adjoelhado bem ao lado do vaso, sem perder nem um pouquinho…

Me pagam, cara, appenas um trocado. Que importa si é cerveja, si foi vinho aquillo que bebi? Tá recyclado…

SONNETTO UNIVERSITARIO

[13.358]

Não vejo um bom motivo, Glauco, para os trotes prohibirmos. Um novato precisa seu pedagio pagar. Macto alguem? Mutilo alguem? Nem se compara!

O trote não é coisa assim tão rara e sempre exsistiu. Claro que eu constato que deve, sim, lamber o meu sapato um bicho desses! Quem negar ousara?

Não podem prohibir que meu calouro rasteje, todo humilde, e exfregue sua linguinha, do sapato, pelo couro!

O trote é tradição, Glaucão! Na rua veremos sempre uns bichos, sem desdouro nenhum, lambendo! O rito continua!

SONNETTO SANGUINARIO [13.359]

De guerra prisioneiros, para mim, precisam soffrer muito, mestre, emquanto não são exsecutados! Para tanto, usamos uns facões! Simples assim!

Os vamos extripando, por tintim, até que, bem sangrados, nosso bando esteja satisfeito! Vou gozando à bessa ao ver, Glaucão! Sempre me vim!

Chacinas desse typo nós filmamos e expomos pelas redes! A gallera adora quando disso gargalhamos!

É foda! Alguns causões, na actual era, costumam protestar, mas seus reclamos inuteis são! É guerra, porra! À vera!

SONNETTO PUBLICITARIO

[13.360]

Glaucão, a propaganda não tem nada de extranho nem fajuto! Ora, assumimos que, para promovermos nossos mimos, teremos que mentir! A coisa aggrada!

Partimos do principio de que cada producto tem defeitos e seus primos, da nossa concorrencia, tambem! Rimos da propria mentirinha deslavada!

Fallamos da vantagem engannosa e, claro, ommittiremos sempre, em nosso annuncio, que não tinha aroma a rosa…

Era artificial, mas eu não posso contar, sinão algum poeta glosa o motte e estragaremos todo o troço…

SONNETTO CARCERARIO [13.361]

Os presos ammontoam-se na cella. Cocô fazem no chão, por um buraco. Alguns dormem deitados, pois no tacco confiam do xerife, que é quem zela.

Às vezes, um ou outro ao Cão appella e vira satanista. Lambe o sacco do lider duma seita. Tal velhaco se impõe, mais tarde, em torno da favella.

De dentro do presidio, seu commando se expande externamente e todo um bando de noias e soldados organiza…

É tudo commentado, menos quando se falla de quem lambe e está chupando os pés do bambambam, pois nem precisa…

SONNETTO CONCENTRACIONARIO

[13.362]

Confina-se num campo o povo inteiro que estava alvo tornando-se da seita satanica que, em guerra, não acceita as raças que de bichos teem o cheiro.

Na guerra, vale tudo. O carcereiro diverte-se estuprando, se deleita pisando na cabeça de quem deita por terra. São milhões em captiveiro.

As scenas, hoje em dia, não são mais secretas como outrora. Pela tela podemos ver humanos animaes…

Ao Papa, a Satanaz, alguem appella, mas, sendo só rhetoricos taes ais, o crime impera. Alguem a sunga mella…

SONNETTO TORCIONARIO [13.363]

Aquelle que interroga algum bandido detido não tem muita paciencia com gente que se nega a contar. Vence a razão de quem indaga, não duvido.

Mas, caso o preso teime, decidido a nada revelar, uma sciencia se impõe: a da tortura. Havendo urgencia, respostas surgem. Mas… resta a libido.

Trabalham os agentes, mas tambem divertem-se e bom sarro tiram, ora! Quem foi que não chupou, si soffreu? Hem?

Os methodos variam, mas quem chora no pau, pau chupará. Mais tarde, sem chiar, implora a rolla. Até decora.

SONNETTO ARBITRARIO [13.364]

Quem é que irá chupar? Eu que decido, pois, sendo o carcereiro, si de lua estou, excolho o mano que, na rua, mais crimes commetteu. É divertido.

Da cella, appós tirar o tal bandido, obrigo que se deite, expondo sua carinha para cyma. A sola nua lhe empurro pela bocca, assim mantido.

Por isso, no serviço, uso chinello de dedo: fica facil descalçal-o si para certas practicas appello…

O mano chupará frieira, callo, chulé forte e, sem pejo, lhe revelo, Glaucão: chupa, depois, um sujo phallo.

SONNETTO FERROVIARIO [13.365]

Em vez dum viaducto, uma porteira. Um trecho da avenida, assim parado, fazia a divisão, de cada lado, dos engarrafamentos. Que canseira!

O trem era de carga. Alli na beira ficavam esperando, com enfado, os muitos motoristas. Mas coitado, tambem, dalgum pedestre! Ninguem queira!

Um bebado, opinando que tem pressa, os trilhos perigosos attravessa e, claro, foi colhido pelo trem…

Na photo, o sangue expalha gotta à bessa. As visceras expirram. Quem com essa visão ainda almossa hamburger? Hem?

SONNETTO VISIONARIO [13.366]

Um cego me explicou o que seria vidente ser, ja que elle tinha dom. Bastante impressionado fiquei com a sua descripção da dystopia.

Me disse que este mundo poderia ser pelos chimpanzés tomado, um bom exemplo do que seja aquelle tom ironico da absurda theoria.

Dos conspiracionistas a versão suggere que teremos o tesão daquelles macaquinhos que supprir…

Não basta nelles bronha com a mão tocar, mas com a bocca. Com razão, será, de nós um cada, algum fakir…

SONNETTO ORDINARIO

[13.367]

Não vejo, menestrel, nada de mais na vida dum soldado. O gajo tem que, em tudo, obedescer de prompto quem commanda aquellas forças nacionaes.

Não pode levantar tarde. Dos paes em casa, accordaria por si, sem ninguem dando o signal. Comia bem, jamais aquelle rancho. Não, jamais!

Só marcha, carregando o seu fuzil pesado. Seu cothurno os dedos moe. Faz tudo pela gloria do Brazil.

Levava aquella vida de playboy… Agora não tem whisky no cantil nem pode calçar tennis esse heroe…

SONNETTO EXTRAORDINARIO [13.368]

A vida dum soldado será mais gostosa appós o golpe, menestrel! Jamais essa roptina do quartel será tão enfadonha. Não, jamais!

Manobras que eram tão habituaes serão mais divertidas, pois, ao bel prazer, torturará quem foi rebel nos meios esquerdistas nacionaes!

Não marcha, nem carrega seu fuzil pesado… Seu cothurno os dedos moe? Alguem os lamberá, nesse canil…

Levava aquella vida de playboy… Agora, mais ainda, acha seu vil brinquedo, ou, como dizem, o seu toy…

SONNETTO TEMERARIO

[13.369]

Herdei, Glaucão, dos paes um dinheirão! No banco, fiquei pasmo! O meu gerente me disse que eu podia, de repente, comprar uma mansão, um avião…

Quem é que não tem planos? Hem? Quem não? Em fundos investi, pois dica quente me deu esse gerente intelligente! Mas eram cryptofundos, meu irmão!

De inicio, fui ganhando mais dinheiro naquellas quotações, todas sem base! Aos poucos, não restava nem o cheiro…

Entrei, sim, no vermelho! Fiquei quasi sem calças! A miseria, até, ja beiro! Glaucão, vou michetar! Estou na phase…

SONNETTO AEROVIARIO [13.370]

Irmãos, fiquei sabendo que bassês não podem viajar num avião, excepto na bagagem! Isso não! Jamais acceitarei! Não sei vocês!

Eu sempre desses voos fui freguez, mas, hoje, só viajo com meu cão! “Supporte emocional”, dizem… Então, precisa vir commigo! Sem talvez!

Si fico com medinho na viagem, eu ganho mil lambeijos do bassê! Cachorros bem treinados assim agem…

Vocês viajam sem alguem que dê lambidas de carinho? Foi bobagem aquillo que fizeram! Quem não vê?

SONNETTO PERDULARIO

[13.371]

Glaucão, divida antiga a gente exquesce! As dividas mais novas, ora, a gente as deixa que envelhesçam! Meu gerente no banco ja deixou de fazer prece!

Eu gasto, vou gastando… Me paresce que nunca no vermelho, de repente, a gente vae ficando! Que se invente alguma alternativa! Não deu, desse!

Credores meus que percam o seu somno! Eu durmo -- Ouviu, Mattoso? -- muito bem! Ainda do nariz me sinto o dono!

Poupar acham que irei algum vintem? Cahiu algum na compta? Ah, si eu detono! Mais gasta -- Ahi, Glaucão! -- quem menos tem!

SONNETTO INFLACIONARIO [13.372]

Você ja reparou, cara? A torrada menor está ficando no pacote! Alguem acha normal, hem, que se bote no sacco menos ballas? Que roubada!

Assucar, ovos, leite, café, cada producto, hoje, está caro, mano! O trote consiste em botar menos, cara! Annote o preço, o peso! Veja si lhe aggrada!

Assim não é possivel! Chocolate em barra vae ficando cada vez mais fino, mais levinho! Um disparate!

Mas, ‘inda assim, consigo ser freguez frequente! Esta charteira ninguem batte! Papae paga! Fortuna à bessa fez!

SONNETTO RODOVIARIO [13.373]

No meio da viagem, faz parada um omnibus, num hermo local. Cae a noite e, nessas horas, hem, quem sae à caça? Lobishomens! Que enrascada!

Temor de que, do nada, algum invada aquelle collectivo, logo um ai causou nos passageiros. Um ja vae limpar-se da fatidica cagada.

Por causa do conserto, que demora, a noite passarão alli, morrendo de medo. Uma creança, afflicta, chora.

De subito, ouvem todos um horrendo, uivante berro. Quando uma senhora infarcta, vae o sol apparescendo.

SONNETTO IDENTITARIO [13.374]

Coitada de mim, mestre! Estou confusa! Mestiça sou! Terei logar de falla? Fallaram que quem teme é quem se cala! Serei, Glauco, uma lesbica cafuza?

Acaso discrimina alguem quando usa uns termos meio vagos e, na salla, me chama de sapata porque mala pequena diz que tenho? Sou intrusa?

Ai, Glauco! Só você me dá razão! Não fosse seu conselho, não sei, não… Mas acho que mulher jamais serei!

Disseram que eu seria sapatão, mas outros ja me chamam de machão… Só falta me chamar alguem de gay!

SONNETTO CULINARIO

[13.375]

Um mestre escutei, Glauco, que dizia receitas conhescer p’ra que se faça um optimo sanduba (Que chalaça!) daquella mortadella da Sadia!

Receita? Que receita? Alguem confia no pappo dum subjeito que não passa dum bello charlatão? Ora, acho graça na cara de pau dessa gente fria!

O cara, na maior desfaçatez, affirma que sanduba tambem fez de queijo, de salame e de presuncto…

Diz elle que só cobra do freguez a taxa de serviço, pois, cortez, affirma que promove seu assumpto…

SONNETTO SALAFRARIO [13.376]

Me chamam, menestrel, de piccareta! Eu acho desleal! De cafageste tambem chamam! Ninguem ha que conteste quem essa covardia atroz commetta!

Affirmo, menestrel: é tudo peta! É justo que ninguem se manifeste si dizem que jagunço sou da peste? Nem dollares eu tenho na gaveta!

Honesto sou! Appenas porque ja mactei quem offendeu a minha linda imagem, me condemnam, camará?

Si eu fosse do governo, cara, ainda havia quem xingar de marajah ousasse! Essa aggressão é, mestre, infinda!

SONNETTO INTERMEDIARIO [13.377]

Hem? Attravessador? Não, isso não! Sou muito honesto, Glauco! Jamais fiz negocios clandestinos no paiz! Caminhos eu enchi de caminhão!

Aquelles que me xingam, todos são hypocritas, Glaucão! Uns imbecis! Affirmam que comprei cada juiz que julga as minhas culpas! Não, irmão!

Si está a mercadoria bem mais cara, é culpa do governo, que não zela nem pelos seus estoques! Tá na cara!

Ha menos alimentos na panella do povo? Ora, votaram! Não dá para comprar piccanha? Ah, comam mortadella!

SONNETTO PARTIDARIO

[13.378]

Aquillo ja chamou de “pedalada fiscal” quem empichou a presidente! Te lembras, menestrel? Ha quem sustente de novo o mesmo thema! Que roubada!

Crear mais um imposto lhes aggrada, mas sabes tu que imposto deixa a gente putissima da vida! Quem invente taes truques nunca falta na bancada!

Na Camara, accordamos que não passa nenhuma lei que imponha novas taxas, por mais que esse governo força faça!

E tu, Glaucão? O que é que da lei achas? Si contra mim tu fores, de reaça te chamo! Mais commigo não despachas!

SONNETTO JUDICIARIO [13.379]

Glaucão, não é possivel! Estou cheio de tanto responder, ja, na justiça! Qualquer coisa que eu diga, cara, attiça os animos! Processam-me sem freio!

Si digo que veados eu odeio, processam-me! Si digo que é preguiça a manha nordestina, tambem! Piça me mettem si fallei que bugre é feio!

Caralho! Todo mundo me processa! Gastei com advogados uma grana! Faltava me inventarem só mais essa!

Até ceguinhos querem que eu em canna me veja, porque eu disse, porra, à bessa, que para chupar rolla, só, teem gana!

SONNETTO BITRIBUTARIO [13.380]

Pô, Glauco, ja pagamos um imposto por tudo que fazemos, como disse o George, mas ainda a cretinice politica mais um cria? Ah, que gosto!

Que gosto de taxar! Paresce encosto! Agora me inventaram a chatice da taxa de eleição! Quem desperdice seu voto pagará mais, foi proposto!

Você votou naquelle fidaputa?

Pois bem! Si elle ganhar, cê vae pagar mais quando for comer, da cobra, a fructa…

Mais pelo pão, mais pelo caviar ou pela mortadella! Mais fajuta será cada maconha que fumar…

SONNETTO LIBERTARIO [13.381]

Me chamam, ja accusei, de libertino. Melhor será que digam libertario. O sexo, hoje sabemos, é de vario adspecto, do mais limpo ao mais suino.

Meu verso será sempre fescennino, alem de, muitas vezes, ser hilario. Defendo, pois, meu estro litterario, malgrado quem achou que ja declino.

Confrades meus, tambem, eu os defendo si fazem poesia que, pornô, alguem menosprezou. Os sigo lendo.

Bocage é pae. Gregorio foi avô dos nossos bons pornographos. Lhes rendo tributo libertario. Um brinde, pô!

SONNETTO MILLIONARIO [13.382]

Ganhei na lotteria, menestrel!

Sahir vou do serviço militar! Agora não preciso mais marchar, ja desde manhanzinha, no quartel!

Mas ‘inda amigos tenho, de fiel convivio, com quem posso conversar accerca dum paiz tão singular tal como o nosso, um typico bordel!

Aqui, quem tenha grana, como tenho, contracta as prostitutas mais polacas, aquellas que melhor teem desempenho…

Glaucão, que com mulher tu não emplacas bem sei, mas só te conto que rouquenho estou, de tanto orgasmo! Gozei pacas!

SONNETTO REVOLUCIONARIO [13.383]

À noite, no local allojamento, pappeiam os recrutas sobre como jogar a culpa toda no mordomo no caso de gorar o movimento.

Mas, caso o golpe vingue, que tormento irão elles impor! Gommo por gommo, farão alguem que coma, como como, a merda que cagarem! Eu aguento?

Ah, como creativos elles são! Que sonhos! Os communas comerão cocô todos os dias, como rancho…

Tambem eu sonho, claro. Meu tesão consiste em lhes lamber, desd’o dedão até no calcanhar! Ah, me excarrancho!

SONNETTO REACCIONARIO

[13.384]

Os jovens, no local allojamento, à noite só cochicham sobre sua idéa de governo. Não recua ninguem do mais careta movimento.

No pappo dos recrutas, tudo lento e tudo devagar muda, na rua, nos paços, nos quarteis. Quem substitua um lider tem que estar, à tropa, attento.

Não devem os governos concessão fazer aos progressistas de plantão, sinão a nação toda degringola…

Nas horas de lazer, quando o pezão puzerem para cyma, algum peão terá que lhes lamber a grossa sola…

SONNETTO SOLITARIO [13.385]

Não, Caio. Fico honrado, mas convite nenhum para taes pappos mais acceito. Só querem perguntar que tenho feito por tantas causas, querem que eu as cite…

Que eu falle de politica, palpite dê sobre militancia, sobre pleito local e nacional, sobre prefeito, governo, quem é povo ou é de elite…

Sou torpe e masochista. De incorrecto me chamam quando fallo sobre mim. Poeta sou. Assim eu me interpreto…

Não quero mais fallar de quem eu vim citando no passado. Fico quieto. Nos versos é que exbanjo o meu latim.

SONNETTO SOLIDARIO [13.386]

Não, Glauco! Não me eximo si convite me fazem e, qualquer que venha, acceito! Me querem perguntar que tenho feito por tantas causas? Querem que eu as cite?

Que eu falle de politica? Palpite dê sobre militancia, sobre pleito local e nacional, sobre prefeito, governo, quem é povo ou é de elite?

Sim, quero me expressar! Não fico quieto! Me chamem, e direi por que é que vim a tantos adjudando com affecto…

Sei como todo o clima ja ruim ficou, porem ao poncto vou directo: Masoca sempre fui. Simples assim…

SONNETTO DISCRECIONARIO

[13.387]

Terá que ser do jeito que eu quizer! Farei como os collegas que, de farda, estão neste quartel, Glaucão! Não tarda a marcha triumphal, dê no que der!

Depois que triumpharmos, meu mester será deter a marcha da vanguarda de esquerda! Ahi, Glaucão, te cuida! Agguarda só para ver quem faço de mulher!

Farei que communistas usem sua boccarra qual si fora a bocetinha mais funda da parochia, à minha pua!

Irei sentar, com gosto, nelles minha piroca auctoritaria, nua, crua, tal como nas putinhas eu ja tinha!

SONNETTO IMMOBILIARIO

[13.388]

Si temos bons immoveis, Glaucão, é por causa da patente que exhibimos! Civis sempre nos deram esses mimos, com medo das revoltas da ralé!

Agora a lei nos blinda! Vou até vender algumas casas aos meus primos! Lucrei tanto com ellas, que sahimos ganhando! Temos, mesmo, um bom filé!

Até de escholas sendo proprietario, concordo que me torno um millionario, mas tudo, nesta vida, achei bem justo…

Você, por ser um cego, tem precario apê para morar, claro! Um hilario problema, ja que é seu, não meu, o custo…

SONNETTO MOBILIARIO

[13.389]

Valores mobiliarios, menestrel, são como o vento. Podem soprar para ca como para la. Nem se compara às casas, aos apês, qualquer papel…

Acções se valorizam, mas, ao bel prazer do capital, alguem azara seu bolso numa bolsa… Vira arara, mas logo se conforma, às leis fiel…

Excepto quem, nas bolsas, especula. Aquelle, de repente, em grana, pulla do zero para a casa do milhão…

Nos bancos, sem cabeça, até tem mula rondando nossas comptas… Fica fula a gente, mas preju levei… Quem não?

SONNETTO HEBDOMADARIO [13.390]

Um tempo no PASQUIM collaborei. Tambem no LAMPEÃO, que era mensal, às vezes bimestral. Perguntem qual o zine em que impressões não publiquei!

Manter um semanario, seja gay ou não, é trabalhão monumental, mas meu JORNAL DOBRABIL nem signal de prazo teve, eis que era a minha lei.

Não é que uns esquerdistas meu jornal curtiam? Na verdade, era fanzine… Tambem uns direitistas, por egual.

Ainda agora, agguardo quem opine si tive meu momento, ou, affinal, só mesmo o sonnettismo me define.

SONNETTO SEXAGENARIO [13.391]

Glaucão, dizem que estou ja na terceira edade, mas me sinto um meninão! Precisas ver que incrivel! Meu tesão ainda segue sendo de primeira!

Va la que de maneira punheteira eu goze commummente, mas me são tambem communs os lances na questão daquelles que desejam que eu os queira…

Sim, Glauco! Nem calculas quanta gente prefere ter com velhos um affair! Será que é minha cama bem mais quente?

Não tive muita sorte com mulher, mas varios molecotes que eu sustente seus habitos me pedem… Quem não quer?

SONNETTO GREGARIO [13.392]

Não falta quem divida allojamento à noite pappeando, num cochicho, contando o que faria caso um bicho pegasse bem de jeito. Os ouço, attento.

O bicho os fellaria, claro. Tento ouvir melhor. A lingua até que espicho, suppondo que lhes chupo o pau. Qual lixo lhes fede cada pé, mais chulepento.

De longe, me imagino delles perto, da cama ao pé, lambendo cada artelho que, dentro do cothurno, unctam, decerto.

Um delles tem pé chato que, parelho à tabua de passar, exhala aberto fedor de peixe podre… E eu de joelho!

SONNETTO PETICIONARIO

[13.393]

Por meio deste, venho promptamente pedir, doutor, que Vossa Senhoria favor me faça -- Ah, bem que poderia! -de estar longe e voltar aqui nem tente.

Si digo “longe” estou, logicamente, dizendo que ir à merda até podia, mas quero reforçar a putaria, propondo que se foda. Attenda a gente!

Tentei ser, meu senhor, protocollar, mas nunca que consigo. Logo um ar assumo do pornographo que sou…

Vulgar, pois, empregando o linguajar, eu, neste ensejo, peço que tomar no rabo o senhor va, doutor. Sacou?

SONNETTO PREVIDENCIARIO [13.394]

Glaucão, me descomptaram, veja só, metade do salario sem a minha escripta permissão! Era pouquinha quantia, até menor que a da vovó!

Mas essa associação, Glaucão, sem dó, tirou-me, da maneira mais damninha, a grana que reserva, alli, ja tinha por compta da pharmacia! Ah, foi um nó!

Eu nunca desse falso syndicato fiz parte, menestrel! Não fui vigario e só como umbandista trabalhei…

Um rombo, de repente, então constato na folha! Ah, mas si pego o salafrario que rouba a gente, sei o que farei…

SONNETTO SEDENTARIO [13.395]

A bunda da cadeira manda a gente tirar, aquelle filho duma puta? Não sae da sua salla! A gente lucta na rua, todo dia, bravamente!

Eu ando, por kilometros! Nem tente alguem acconselhar quem ja labuta num trampo tão difficil! Nem discuta commigo quem tem facil seu battente!

O filho duma puta só viaja de carro ou avião, si da cadeira levanta aquella bunda! Banhas haja!

Magrella sou, Glaucão! Ah, ninguem queira fallar em malhação, si não se engaja! Que malhe, então! Está de brincadeira!

SONNETTO PLANETARIO [13.396]

Exercito nenhum tem força para deter aquelles seres, eis que irão tomar compta da Terra! Qual nação resiste aos taes verdinhos? Diga, cara!

Hem, Glauco? Me responda! Quem ousara, com armas regulares, ter acção de guerra contra tropas que questão não fazem de poupar nem ave rara?

Sim, pelo que entendi, só venenosas serpentes pouparão, ja que são ellas identicas às caras dos etês…

Não pense que com mimos e com rosas irão se commover! Si não teem bellas feições, escravizar-nos vão, talvez…

SONNETTO AGRARIO

[13.397]

Glaucão, medo não tenho da direita! Sou membro dos Sem Terra! Força temos até para adoptar actos extremos! Iremos occupar qualquer colheita!

Fazendas productivas? Não acceita a gente taes desculpas! Nós fazemos questão de invadir tudo, pois teremos poderes de barganha a valer! Eita!

Um dia, ainda a gente irá addentrar as terras dalgum desses generaes reaças do regime militar!

Então é que veremos quem tem mais café no bule, Glauco! Ou vão mactar nós todos, ou chorar irão seus ais!

SONNETTO INSANITARIO

[13.398]

Banheiros, quando publicos, Glaucão, são uma aberração! Que fedentina! Sim, focos de doenças, pois urina à bessa ao chão derramam! Porcos são!

Exsiste, todavia, a tal questão mais sadomasochista, que elimina contrarios argumentos! Se destina qualquer micção a alguem, por servidão!

Um servo, quando humilde, irá, na frente de todo mundo, o mijo degluttir dum mestre repressor e experiente…

Portanto, taes banheiros vão servir, ainda que insalubres, para a gente testar quem é, de facto, um bom fakir…

SONNETTO PORTUARIO

[13.399]

Antigamente, Glauco, um porto tinha em volta aquelle intenso movimento de gente nos puteiros. Inda tento lembrar daquellas scenas… Uma vinha…

Ficou-me na memoria a tal putinha polaca, que serviço mais nojento fazia, accostumada: no momento da foda, não bastava a chupetinha…

A puta nossas partes todas, sem nenhum nojo, lambia, até lavar virilhas e testiculos, bem zen…

Mas ‘inda havia asseio mais vulgar, num anus e num penis, que tambem sujissimos estavam, por azar…

SONNETTO PENITENCIARIO [13.400]

Sim, fui um presidiario, cara! A gente não tinha nem direito de chiar! Nós eramos só mesmo, para azar, as victimas do mais cruel agente…

Comtudo, não bastava a repellente tarefa de lamber, até rallar a lingua, algum pisante de vulgar modello… Outro detalhe era frequente…

Os proprios occupantes duma cella fodiam-se entre si, como si fosse normal todos gozarem na barrella…

Chupei, amarga, cada picca doce que entrasse pela bocca… Não foi bella a scena que a memoria agora trouxe…

SONNETTO DO DESFECHO [13.300]

A cada novo livro que termino de, celere, compor, me indago si, de facto, para ainda andar aqui, motivos haverá desde menino.

Por que não me mactei? O que imagino se prende, na cegueira, ao mimimi do qual sou accusado por quem ri da victima dum tragico destino.

Nos livros, macto o tempo, para não mactar minh’alma, alem do corpo, um fardo que, em trevas, não vislumbra a salvação…

Quem ri do meu azar é felizardo? Talvez seja, mas clamo: os “normaes” hão, um dia, de entender por que fui bardo…

Casa de Ferreiro

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