"Instrumentos", de Ismail Bahri

Page 121

vídeo, que parece ter sido feito “voando”, também é uma espécie de “esboço” (esquisse em francês). Este trabalho foi co-produzido por Youssef Chebbi e Ismaïl Bahri para a exposição de Bahri no Jeu de Paume e, especialmente concebido como forma de manter um diálogo nas salas de exposição com o trabalho Foyer. Ele chega no final da exposição e marca o início de um futuro projeto de pesquisa.

SONDAS [Sondes] — 2017

Vídeo HD 16/9, cor, sem som, 16 min Produção: Jeu de Paume, Paris Destacando-se contra um fundo de ladrilhos avermelhados, uma mão anônima, que se imagina ser marcada pelos anos, está estendida sem se movimentar, a palma e os dedos abertos, na posição receptiva. Gradualmente, percebemos que esta mão está ficando cheia de grãos de areia que caem de um ponto em algum lugar fora da vista. O material granular da areia forma uma cavidade na palma, acentua os contornos, espalha-se pela superfície e, eventualmente, contido pela mão, que atua como molde, forma um pequeno montículo. Os dois sujeitos parecem revelar um ao outro, esculpir um ao outro, enquanto um terceiro ator, a luz, se reflete no conteúdo em expansão. É a luz que, criando um atraente tremeluzir luminoso – fazendo o fluxo de grãos brilhar como tesouro ou estrelas – nos permite vislumbrar o processo de empilhamento. Ismaïl Bahri inspirou-se no paradoxo de Sorites, que questiona o fato de que um grão solitário pode ser responsável pela existência de um amontoado ou pode desfazê-lo, apontando, assim, a aparente inadequação da razão como ferramenta para apreender a realidade e, ao mesmo tempo, a fragilidade semântica de nossas definições. O que ele está tentando enfatizar aqui é “a impossibilidade de determinar quando as coisas começam e quando terminam e, ao mesmo tempo, manter uma atitude nuançada em relação à expressão imperceptível do que pode ser observado”.7 A areia, que é formada por minúsculos pedaços de rocha e conchas, é volátil e instável, e tem a peculiaridade de poder continuar indefinidamente a adotar diferentes formas, e depois se dispersar. Aqui, sujeito à lei da gravidade, ela cai como chuva, no ritmo regular de uma ampulheta marcando a passagem do tempo. O artista aqui destaca seu interesse pelo molecular, o infinitamente pequeno. Como a gota d’água no filme Linha, o grão inerte de areia se torna ativo quando está conectado com outros elementos. O molecular também faz referência ao átomo, à célula; nos faz lembrar do corpo e de sua constituição, mas também do quebra-cabeças de ladrilhos de terracota no chão, que se encaixam harmoniosamente um no outro. A mão, a areia, a câmera e até o olhar do espectador, todos parecem operar, em vários graus, como funis, como instrumentos para provocar e explorar os efeitos da superfície e do movimento, como sondas projetadas para explorar os tons infinitesimais da realidade. 7 Trechos de uma conversa com o artista, março de 2017.

117


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.