ECOS - #5 - Vozes do Capibaribe

EXPEDIENTE

Reportagem

Geylla Lira Gustavo Militão José Paulo Ferreira Julia Aguilera Juliana Dias Leonardo Magalhães Raissa Chiarelli Sarah Rachel Meneses Thaynna Mendes Projeto Gráfico

Breno Batista Caio Lira Débora Seabra Colaboração

INCITI - Pesquisa e inovação nas cidades Jonathas Vieira Lucas Andrade Edição

Cecília Almeida Coordenação do Curso de Jornalismo

Talita Rampazzo ISSN: 2447-763X

CARTA

DOS

EDITORES

“A cidade é passada pelo rio como uma rua é passada por um cachorro; uma fruta por uma espada”. Os versos de João Cabral de Melo Neto por muitas vezes dedicaram-se a descrever e explorar um elemento marcante da paisagem recifense: o Rio Capibaribe. Desde sua nascente, na Paraíba, até o mar do Recife, a trajetória do rio das capivaras é cenário para diversas vidas e histórias. A urbanização da capital pernambucana, no entanto, fez com que a cidade mudasse sua relação com o capiba. Perdemos o contato com o rio. Viramos nossas casas para as ruas, onde correm os automóveis, e a ele demos as costas. O Capibaribe, para muitos, passou a ser sinônimo de lixo, de incômodo. Um rio supostamente morto, que apenas divide a cidade.

Mas há vida no Capibaribe. Vidas humanas, com histórias e vivências, que merecem ser contadas. A turma de Oficina em Jornalismo de 2016 encarou o desafio de realizar reportagens que tivessem como tema os vários aspectos do Capibaribe. Cinco textos foram selecionados e estão disponíveis nesta edição do Ecos, num especial que busca dar visibilidade a um debate tão necessário ao Recife: como fazer a população voltar a relacionar-se com o rio?

A realização deste trabalho contou com o apoio do INCITI - Pesquisa e Inovação para as Cidades, grupo transdisciplinar vinculado à Universidade Federal de Pernambuco que está por trás do projeto Parque Capibaribe, em convênio firmado com a Prefeitura do Recife. O grupo contribuiu com dados e entrevistas concedidas aos nossos jovens repórteres, que, em seus textos e fotografias, discutiram aspectos sociais, naturais e humanos acerca do Capibaribe.

Além do especial sobre o Rio, esta edição do Ecos traz reportagens sobre juventude, cultura e esportes. O repórter Gustavo Militão traz uma entrevista exclusiva com Lindinalva Correia, atleta que integra a equipe de futebol feminino do Sport Club do Recife. Além de futebol, uma modalidade esportiva nada tradicional está presente nesta edição: os chamados eSports, jogos eletrônicos que têm sido palco de campeonatos milionários.

Por ocasião do aniversário de 50 anos do lançamento de um dos álbuns mais disruptivos da história do rock, o Sgt. Peppers, dos Beatles, a repórter Thaynna Mendes fez uma investigação sobre as inovações promovidas pelo quarteto, para além das canções. A reportagem analisa como a banda modificou a indústria musical e suas estratégias de publicidade. Finalmente, a matéria de Julia Aguilera explora o universo dos jovens que precisam sair de sua cidade natal para fazer um curso superior.

As páginas seguintes são atravessadas pelo rio e, como ele, têm ritmo próprio e irregular diversos gêneros textuais e estilos diferentes se reúnem para fazer deste um percurso mais leve.

Esperamos, então, que a navegação seja tranquila e prazerosa.

Cecília Almeida, professora do curso de Jornalismo da Faculdade Boa Viagem (FBV/DeVry)

Í N D I C E Conto: Pensamento em trânsito .............................................................. 03 Quantos quilômetros vale um sonho? ....................................................... 04 Um drible no preconeito ........................................................................ 08 Que E-Sport é esse? ...............................................................................12 Imagem e música no oração dos corações solitários ....................................16 O olhar do recifense sobre o Rio Capibaribe .............................................. 20 Os dilemas do Capibaribe ...................................................................... 22 Navegar, é preciso! ................................................................................. 26 Reconstruindo o coração do Recife .......................................................... 30

As produções culturais e de gênero opinativo são de responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do ECOS

Capibaribe: As águas que contam história ................................................ 32 Ilustração: Lula vs Moro ........................................................................ 34 Fotografia: Cleiton e Juliana .................................................................... 35

CONTO

Pensamentos em trânsito Lucas Andrade

Foto: Valeria_aksakova/Freepik

Tempo de leitura: 2 minutos, 11segundos Era para ser só mais uma viagem no ônibus que rotineiramente pego, mas daquela vez aconteceu algo. De repente, vejo você adentrar no ônibus em que estou. Aquilo foi como uma luz, clareando a imensidão escura que é a minha solidão. Fiquei atônito. Você me parecia um ser encantado. Como não notar aquilo? Seu sorriso recatado, aquele tão meigo olhar de criança, seus cabelos longos, lisos e pretos, e, para completar, vestia aquele vestido com estampas de flores (flores que realmente ganharam vida, com a fragrância do seu perfume).

Bom, você está aqui! Por um capricho dos céus. Vejo que está procurando um lugar para sentar, uma cadeira à frente do meu lado esquerdo. Você me viu. Realmente ia se sentar ali? Bom, eu não sei o porquê, mas sentou do meu lado... Você agora está aqui, bem pertinho de mim, está dormindo bem ao meu lado, enquanto o ônibus anda e balança pelas estradas esburacadas da cidade...

Sinceramente, espero pegar um congestionamento daqueles e que o ônibus demore a chegar no destino. Como você é linda... Tentei dormir também, mas não consegui, fecho os olhos e minha cabeça involuntariamente cai para o lado que você está. Alguns segundos com os olhos fechados e pronto! Como de relance, abro os olhos e me deparo com sua face angelical; tenho tanta vontade de falar contigo.

Gostaria de ter uma daquelas conversas longas, onde quanto mais se fala, mais se quer falar, mais se quer ouvir. Mas alguma coisa não me permitiu! Eu não consegui falar, até tentei, falei alguma bobagem referente à sua bolsa e só. Logo eu? Que falo tanto! Que sou tão expressivo! Me vi encurralado, não sabia mais falar, e por isso comecei a escrever. Talvez este não seja o meu melhor texto, mas como eu vou conseguir definir você com palavras? PALAVRAS! Quanta mediocridade de minha parte, um sentimento que tanto bate, que tanto arde, resumido em palavras.

Isto não é uma declaração, mas, se puder, sinta no meu silêncio, minha mais pura emoção! Outra vez, olhei para você... como é linda, minha bela adormecida, gostaria de ter sua cabeça deitada sobre meus ombros.

Será que isso é o mais próximo que ficarei de você? Será que vai ser só isso? Um sorriso acanhado, uma frase solta, comentários sobre uma bolsa. Até acho melhor assim, porém quão bom seria se você decifrasse a minha mais pura arte, arte que você mesma causou e pintou. Pintou em mim este quadro, que nem Da Vinci ou Picasso poderiam pintar; nem mesmo o grito poderia expressar a poesia contida no meu olhar.

Quantos quilômetros vale um sonho?

A rotina de quem precisa sair de casa para buscar oportunidades na capital.

Julia Aguilera Tempo de leitura: 6 minutos, 26 segundos

Para o estudante Henrique Teixeira, 21 anos, 143 km é a distância que ele precisa percorrer a cada 15 dias para visitar Catende, cidade em que cresceu e onde vive sua mãe.

Bacharelando do curso de Gestão da Informação na UFPE, em Recife, ele é mais um em meio a tantos outros que estão vivendo a experiência de sair do lar pela primeira vez.

Centenas de jovens em todo o país, que assim como Henrique precisaram sair do interior para morar na capital, vivem essa realidade para conseguir cursar o ensino superior. A cidade do Recife é um dos destinos para quem deseja formação profissional. Por ser a capital do estado e exercer grande influência - principalmente econômica - sobre os demais municípios, a capital pernambucana é ponto certo para a maioria dos estudantes que pretendem ingressar na faculdade.

A liberdade pode ser tanto um problema quanto uma motivação para esses jovens. A mudança não é nada fácil e tanta novidade pode acabar atrapalhando no rendimento e na determinação.

Esse não é o caso de Henrique. “Isso me mantém focado no meu objetivo, estou fazendo todo esse esforço por um motivo, mudar minha vida através da educação, ela é o único meio”, afirma.

Morando há três anos na capital pernambucana, sua rotina foi bruscamente modificada pelo funcionamento da cidade.

Apesar de sempre ter sido um jovem ativo, estudando durante a adolescência em escola de regime semi-integral e engajado com música e poesia, o estudante pontua que “a primeira dificuldade que todo mundo do interior deve enfrentar é se habituar com o ritmo frenético da cidade: distâncias, ônibus para todos os lugares que se deseja ir, poluição, trânsito...” e frisa que isso comprometeu inicialmente seu rendimento devido ao cansaço e estresse.

Apesar de levar em consideração as oportunidades acadêmicas que a mudança para Recife o trariam, não foi só isso que fez com que o filho de Dona Zezé abraçasse a cidade. O caso de amor com a cultura fez com que o estudante deixasse para trás sua casa e seus amigos e optasse por arriscar-se nesse mundo novo. “Sair de Catende e vir estudar no Recife foi ‘enxerimento’ meu”, diz. Segundo ele, pela vontade da mãe, o jovem continuaria morando com ela e estudando em Caruaru - Agreste do estado. “Mas, por amar a cultura pernambucana, senti que aqui entraria em contato com isso de maneira mais forte, além de ter a oportunidade de crescer enquanto pessoa e amadurecer minha forma de pensar”, sublinhou.

O estudante, que divide um apartamento com uma colega de curso, reconhece o quanto essa experiência foi engrandecedora: “Morar só foi a atitude que mais contribuiu para o meu crescimento enquanto pessoa, ter responsabilidades com uma casa, contas para pagar, atividades domésticas, aprender

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Foto: Cleide Isabel cozinhar... Tudo isso fez com que me tornasse mais independente. Além disso viver em comunidade me trouxe algumas novas visões sobre convivência e aprendizado em colaboração e participação”.

Esse também é o relato de Mariana Rodrigues, que, em busca de sua formação acadêmica, também precisou mudarse de Palmares, a cidade onde vivia. Aos 19 anos, a jovem já mora há dois no Recife e destaca que a mudança ajudou no seu amadurecimento: “foi preciso que eu saísse da minha

zona de conforto para que eu pudesse, de fato, crescer”. A estudante de psicologia ressalta que, enquanto morava com os pais, não precisava assumir tantas responsabilidades.

“Quando vim pra cá tive que aprender a lidar com tudo.

Descobri o mundo de um jeito novo, pelos meus olhos. Me tornei independente”.

A palavra independência sempre está na lista de desejos de todo adolescente. Mas, quando ela chega, nem sempre é como imaginamos. Ter seus próprios horários, ser responsável

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por você mesmo e viver sem tanta cobrança dos pais pode parecer um sonho, no entanto, a vida de universitário requer do estudante muita dedicação e disciplina para manter o foco e fazer o esforço valer a pena. “Apesar de sempre ter me considerado responsável, agora vejo que as escolhas e consequências serão responsabilidades minhas, não há quem se responsabilize por estas, além de mim”, conta.

Mariana mudou-se para a casa da sua avó na capital pernambucana. Diferente de Henrique, a jovem não adaptou-se tão facilmente à nova realidade: “Foram muitas dificuldades. No final do primeiro ano morando na capital, pensei até em desistir do sonho acadêmico, para que pudesse voltar pra casa”. A jovem também comenta o quanto a violência da capital pernambucana a assusta e dificulta o bem-estar: “o medo da violência é uma das coisas que eu ainda não consegui lidar. Ando sempre muito assustada, o que não me permite, muitas vezes, apreciar as belezas da arte e da cultura recifense”.

Foto: Pexels

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Apesar de também pontuar que o ritmo da metrópole e a saudade da família foram as maiores dificuldades desde o início, a estudante afirma que isso foi motivação para não fugir do foco: “se eu estava tendo que enfrentar tantas dificuldades, eu precisava fazer valer a pena, dando resultado na vida acadêmica”. Comparando com sua antiga cidade, Mariana via a capital como intensa, por ser agitada e com trânsito caótico. Hoje, já está acostumada e diz que isso passa despercebido, tornou-se parte de sua rotina.

Ainda que alcançada de forma dura, como nestes casos, a independência e a maturidade são pilares essenciais na construção de um adulto/profissional pronto para lidar com sabedoria em qualquer ocasião. Mesmo com tantas dificuldades iniciais de adaptação, viver em uma cidade grande, mesmo que por um curto período de tempo, traz uma nova visão de mundo, o que é ainda mais enriquecedor quando se trata de jovens buscando realizar seus sonhos.

“

Aprender a lidar com as alteridades faz com que todos nós cresçamos, as dificuldades existem como possibilidades de reflexão para tomada de decisões e com elas vem a mudança e o crescimento.

Para entender como essas mudanças de rotina e ambiente atuam no comportamento dos estudantes conversamos com a Psicóloga Juliana Martins, formada na Universidade Católica de Pernambuco e pós-graduada no Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem.

ECOS - A distância de casa e da família, assim como as diferenças entre morar na capital e no interior, podem influenciar de que maneira no rendimento dos alunos?

Juliana Martins – Influencia de duas formas.

Positivamente, no amadurecimento para vida adulta, profissional, nos relacionamentos. E negativamente, desviando do propósito que veio, se envolvendo com farras, drogas e até mesmo prostituição.

”

de casa. De que forma? Amadurecendo bastante a ideia através de conversas no seio familiar. É muito importante levar em consideração o ponto de vista do estudante. Os que de fato optam pela saída, requer uma manutenção do cuidado familiar, no sentido do apoio e visitas regulares, acompanhando mesmo. Quanto a questão do foco, ele pode ser mantido com ferramentas de auxílio, disciplina, planejamento de horários de estudo, como também, participar de grupos de estudo, iniciação científica, estágios, monitorias... Assim como a psicoterapia que é também, com certeza, uma ferramenta auxiliar.

ECOS- Por outro lado, como esse tipo de experiência ajuda no crescimento tanto pessoal, quanto profissional dos estudantes?

ECOS- Quais são as maiores queixas feitas pelos estudantes aos psicólogos quando se deparam com esta situação?

JM – Aprender a lidar com as alteridades faz com que todos nós cresçamos, as dificuldades existem como possibilidades de reflexão para tomada de decisões e com elas vem a mudança e o crescimento.

JM – A distância da família e da cultura, que é bem diferente, apesar de toda a tecnologia existente.

ECOS - Como os pais podem ajudar nesse primeiro momento de adaptação dos jovens?

ECOS- Na sua opinião, de que forma os jovens podem lidar com essa nova realidade pessoal? E como se manter focado em seus objetivos apesar das distrações encontradas nas grandes cidades?

JM – Estando disponível, alerta, cuidando... Enfim, desempenhando o papel de pais, sempre perguntando e aconselhando. Muitas vezes os pais ajudam só pelo fato de estar ali do lado.

JM – Se faz necessário um preparo para a saída desse jovem

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Um drible no preconceito Lindinalva Correia é uma das jogadoras do Sport que buscam, através do futebol feminino, uma oportunidade de superar as barreiras da prática do esporte e da pouca visibilidade.

Gustavo Militão Tempo de leitura: 8 minuto, 2 segundos

Foto: Assessoria de imprensa do Sport É através do esporte que Lindinalva Maria Correia, 28 anos, está tendo a oportunidade de realizar o sonho de muitas garotas apaixonadas por futebol no Brasil: jogar em uma equipe profissional de futebol feminino e, ainda mais, no seu clube do coração. “Pintinho”, como é conhecida, é uma das jogadoras do time feminino do Sport Club do Recife, que está disputando a primeira divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino, organizado pela CBF. Para sua edição de 2017, o Brasileiro Feminino foi totalmente reformulado. A partir deste ano, a competição conta com 32 equipes, divididas em duas divisões de 16 clubes, visando dar um maior calendário aos clubes e, finalmente, trazer o espaço que o futebol feminino tanto busca no Brasil. Apesar de todo o sucesso da Seleção Brasileira nos últimos anos, com grandes participações em torneios como o vice-campeonato na Copa do Mundo da China (2007) e as duas medalhas de prata olímpicas em Atenas (2004) e Pequim (2008), o esporte ainda não tem uma liga nacional organizada e competitiva, como em outros centros. Isso força as grandes jogadoras brasileiras,

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Lindinalva, nascida em Jaboatão dos Guararapes, é uma das 23 jogadoras do elenco leonino. Com apenas 1,54m de altura, “Pintinho” é polivalente, pois atua tanto na lateral quanto como atacante. Com passagens por outros clubes locais, como Santa Cruz e Desportiva Vitória, ela concedeu uma entrevista ao Jornal ECOS para falar sobre vários assuntos relacionados à vida de uma jogadora. Ela relatou as dificuldades na carreira, falou sobre a estrutura do futebol feminino, sobre a Seleção Brasileira e o Sport, clube a qual demonstra orgulho em poder defender numa competição que busca, assim como o futebol feminino num todo, driblar o preconceito e se consolidar no gosto dos torcedores brasileiros.

ECOS - Quando você começou a se interessar pelo futebol? Houve muita influência da família ou dos seus amigos?

Lindinalva Correia – Com 20 anos de idade. Comecei a jogar por escolha própria. Minha mãe nunca me disse que não era para jogar futebol. Nem foi contra e nem a favor e me deixou livre para escolher.

ECOS- E qual foi a primeira reação quando souberam que você decidiu seguir a carreira de jogadora?

como Formiga, Marta e Cristiane, a jogar em outros países, em busca de mais visibilidade e de um salário melhor.

Apesar do maior tempo de disputa e da garantia de pelo menos 14 jogos para cada clube num período de aproximadamente seis meses, o abismo entre as modalidades masculina e feminina não vai diminuir com este novo formato do Brasileirão, principalmente no quesito financeiro. Para exemplificar isso, o clube campeão da Série A vai dividir uma premiação de R$ 120 mil. Em 2016, o Palmeiras, campeão brasileiro masculino faturou R$ 17 milhões, 141 vezes a mais.

O Sport foi convidado para participar desta edição, junto de equipes tradicionais do futebol do Brasil como Corinthians, Flamengo, Grêmio, Santos, dentre outras, como uma forma de atrair mais público a competição.

Comandada pelo técnico Jonas Urias, a equipe pernambucana – representante do estado junto com o Vitória de Santo Antão – buscará se firmar como uma nova força no cenário do futebol feminino nacional.

LC – Foi tranquilo. Minha mãe me apoia em tudo o que eu faço. Seja profissionalmente jogando futebol ou em trabalhar fazendo outra coisa, ela me apoia sempre, em tudo.

Os amigos também, principalmente quando eu comecei a jogar pelo Sport. Tenho muitos amigos rubro negros, que gostaram muito também.

ECOS – Você tem jogado como lateral no Sport.

Mas no começo da sua carreira você atuava como atacante. Como tem sido essa adaptação?

LC – Tem sido boa, pois eu sou uma lateral ofensiva e estou sempre chegando ao ataque. Então tem sido quase a mesma coisa para mim, jogar de lateral ou de atacante.

ECOS- Nos primeiros passos da carreira, é normal que qualquer atleta se depare com dificuldades para atingir seus objetivos. Qual foi o maior obstáculo para você dentro do futebol feminino?

LC – Foi a questão da visibilidade. Foram poucas oportunidades [para jogar]. Comecei jogando não no campo, mas no futsal. Depois foi que eu vim para o Sport jogar no campo. Minha maior dificuldade era a questão de ter

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passagens para ir treinar. Não trabalhava e a minha mãe não tinha condições.

ECOS- E como você conseguiu se manter motivada a jogar, mesmo com as dificuldades que a prática do futebol feminino traz para as jogadoras no Brasil?

LC – Acho que foi uma questão de “secura” também [risos]. Eu era muito “securenta” em jogar bola. Treinava de manhã, jogava bola de tarde com meus amigos, ia para a pelada a noite... Sempre estava jogando bola, de manhã, tarde e à noite. Nunca tive isso de treinar e descansar não.

Estava sempre jogando. Nunca corri atrás de outra coisa a não ser de bola.

ECOS – Este ano, o futebol feminino pela primeira vez contará com um Campeonato Brasileiro de média duração, com duas divisões e 32 times envolvidos. Como as jogadoras estão vendo essa mudança na estrutura do futebol feminino nacional, tentando dar mais visibilidade às jogadoras?

LC – Acho interessante. Principalmente para as meninas mais novas. Muitas meninas aqui [em Pernambuco] tem qualidade para estar em uma seleção brasileira. E como só tínhamos o Campeonato Pernambucano aqui e os times não tinham condições de jogar um Brasileiro, muitas meninas se “perdiam”. Achavam que não tinham condições de chegar à seleção e desistiam de jogar.

ECOS - O mesmo campeonato vai pagar uma premiação ao time campeão um valor de menos de 1% do que é pago ao campeão brasileiro masculino. Como você vê esse distanciamento financeiro?

LC – Eu acho um absurdo. Porque os homens jogam, são profissionais, ganham muito bem... a gente está começando agora e começa ganhando muito pouco. Mas para nós, jogadoras, este “pouco” já é muito. Antes era só uma ajuda, passagem aqui, passagem ali... E agora a gente vem tendo uma ajuda grande. No Sport, temos carteira assinada, um salário... coisa que em outros clubes no Nordeste não se tinha. Eu acho que este 1% já é “muito”, pois acaba sendo melhor que nada. Mas poderia ser bem mais!

ECOS - Apesar dos resultados expressivos que a seleção Brasileira feminina registrou em torneios como Olimpíadas e até na Copa do Mundo feminina, por que o futebol feminino apenas é lembrado próximo ao período destas competições e não durante todo um ciclo de preparação?

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Foto: Assessoria de imprensa do Sport

LC – Acho que é também pelo fato que antes não se tinha muitas competições para o futebol feminino. Quando surgiu a Copa do Brasil [torneio que foi disputado até 2016], muita gente não sabia quais eram os times femininos que jogavam esse torneio. E agora como alguns clubes estão colocando times femininos e a visibilidade está sendo maior, muitos torcedores têm passado a acompanhar. Ficamos impressionadas quando jogamos aqui contra o Grêmio [na estreia do Sport no Brasileirão, jogando na Ilha do Retiro, no dia 19/03] e vimos um público grande. Antes só iam para o estádio os parentes, os amigos... não tinha tanta torcida, mesmo jogando em casa. Quando fui jogar em São Paulo, contra a Ferroviária, só havia familiares assistindo. Agora, os públicos são maiores. Antes, a gente falava no campo e ouvia o nosso próprio eco, porque não tinha quase ninguém no estádio. Agora, você sabe que tem gente torcendo por nós.

ECOS- Como você vê a Seleção Brasileira feminina agora passando a ser treinada por uma mulher (Emily Lima), um fato até então inédito? Motiva mais o trabalho da jogadora brasileira?

LC – Eu acho bacana. Pelo fato de que uma mulher entende a outra, por exemplo, em relação a treinamentos. Para mim, por exemplo, vejo que será melhor. Quando jogamos em São Paulo contra o Audax [na estreia do Sport pelo Campeonato Brasileiro, em 12/03], uma das auxiliares dela já chamou algumas meninas do Sport para fazer uns exames e se pesarem. Eu acho que a seleção deveria ter mais renovação, com mais meninas de fora. E ela está tentando fazer isso.

ECOS - Quem são suas grandes referências no futebol feminino?

LC – No início, eu não tinha nenhuma referência. Agora, tenho algumas amigas que já jogaram na seleção também...

E elas são a minha referência. Por exemplo, a Regiane, Franscismara, que jogou na seleção... Mas eu tenho mais referências no futsal, pois comecei a jogar faz pouco tempo no futebol de campo. Tenho referências de técnicos. Um deles foi meu treinador no Cabo de Santo Agostinho, o Jaques e também o Aloísio, que é aqui do Recife. Trabalhei com ou-

tros treinadores e agradeço a eles, pois aprendi muito. Tanto a jogar bola quanto a ser quem eu sou hoje. Como respeitar o próximo, mesmo jogando futebol ou não.

ECOS - E como tem sido a experiência de jogar o Campeonato Brasileiro defendendo o Sport?

LC - Tem sido muito boa, pois sou torcedora do Sport. É muito bom jogar e honrar a camisa do clube que você torce. Eu joguei pelo Santa Cruz... o time que eu jogar, eu sou aquele time. Mas, fora dali, sempre torci e fui fanática pelo Sport. Tem sido uma motivação extra.

ECOS – Você faz faculdade de Educação Física (6º Período). Como tem sido para você conciliar futebol com os estudos, o que é muito raro entre jogadores de futebol?

LC – A gente está treinando apenas de manhã e não de tarde. Ainda bem que as aulas começaram depois. Então saio, vou descansar e à noite vou para a faculdade. Tem sido um pouco cansativo, mas por enquanto não tem me atrapalhado.

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Que E-Sport é esse?

Os jogos eletrônicos agora são palcos de campeonatos milionários, que consagram jogadores pelo planeta e atraem fãs por todo o mundo.

Gustavo Militão Tempo de leitura: 7 minutos, 52 segundos

Foto: Youtube Foi na década de 70 que os primeiros aparelhos de videogame e jogos de computador começaram a ser desenvolvidos. Destinados para a diversão doméstica, devagarinho foram se tornando objetos de sonhos das crianças e adolescentes mundo afora, iniciando uma revolução no mercado do entretenimento. O hábito de se divertir por meio do videogame passava a fazer parte da cultura das pessoas.

Quatro décadas depois, esses aparelhos são protagonistas de uma nova febre. É a explosão dos chamados eSports (abreviação para Eletronic Sports ou esporte eletrônico), que têm chamado a atenção da mídia e de muitos patrocinadores.

Essa nova modalidade de competição está transformando jogadores de videogame em “atletas”. Alguns deles até com fama mundial, recebendo altos salários para jogar games de estratégia, lutas, tiro e esportes diversos. Mesmo não sendo um fenômeno relativamente novo, houve um crescimento exponencial das competições e de suas premiações a partir dos anos 2000. Muito disso foi graças à difusão de jogos como Counter Strike, Dota 2, League of Legends, Starcraft, Street Fighter, entre outros.

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A disputa do primeiro campeonato de esporte eletrônico de que se tem notícia foi nos Estados Unidos, em 1972, com estudantes da Universidade de Stanford. Eles disputaram uma competição num jogo chamado Spacewar, um dos primeiros jogos de computador. O prêmio foi uma assinatura de 01 ano da revista Rolling Stone. Como efeito de comparação, em 2016, o vencedor do League of Legends World Championship, que foi a equipe sul coreana SK Telecom T1, dividiu um prêmio de mais de US$ 2 milhões.

Somente em 2016, os eSports movimentaram uma receita de US$ 463 milhões pelo mundo. A previsão é que ele vá movimentar em torno de US$ 1 bilhão até 2019, de acordo com estimativas da empresa holandesa Newzoo, especializada em análise do mercado de jogos eletrônicos.

Outro dado que chama a atenção é que os campeonatos tiveram uma audiência média global de 131 milhões de pessoas, também de acordo com a Newzoo.

Uma nova modalidade esportiva?

popularização da internet e da gradativa melhoria das conexões via banda larga, que permitiu que a combinação jogos online e transmissões via streaming arrebatasse um número significativo de jogadores e fãs. Em países como na Coréia do Sul, já é considerado uma modalidade esportiva.

Esta é uma das polêmicas que mais rendem discussões no meio virtual atualmente. O E-Sport já pode ser considerado um esporte de verdade?

Para o administrador Marcelo Chaves, de 32 anos de idade e fã do jogo League of Legends, a resposta é afirmativa. “É uma competição de alto nível que exige bastante de cada jogador.

Assim como o atletismo e outros vários tipos de esportes que exigem muito do físico, temos os eSports, com vários jogos que exigem muito da mente”, comenta. A preparação desses novos atletas tem evoluído gradativamente, acompanhando a evolução dos campeonatos. As equipes chegam a montar “Gaming Houses”, que são centros de treinamento, onde os jogadores podem se dedicar integralmente a preparação para as competições e receber todos os cuidados necessários, até de nutricionistas e psicólogos.

A febre mundial dos eSports começou através da

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Algumas empresas já começam a identificar o jogo não só como um ‘joguinho’ e começam a respeitar o público e seus hábitos.

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Counter Strike: Das lan houses para os grandes torneios

Foto: Youtube

Um dos primeiros jogos online a fazer grande sucesso entre os fãs foi o FPS (abreviação de First Person Shooting) Counter-Strike. O jogo de tiro, da produtora norte americana Valve, é baseado em rodadas nas quais equipes de “contra-terroristas” enfrentam “terroristas”, até que haja a eliminação completa de um dos times. O objetivo principal no CS é, além de derrotar o inimigo, plantar e desarmar bombas ou sequestrar e salvar reféns. CounterStrike foi um dos responsáveis pela massificação dos jogos por rede no início do século XXI, sendo considerado o grande responsável pela popularização das lan houses no Brasil. Tanto é que CS é considerado o jogo que oficialmente deu início a febre dos eSports.

Atualmente, o principal torneio de Counter-Strike no mundo é o ESL One, que, em 2016, foi vencido pela equipe SK Gaming, da Alemanha, ficando com uma premiação total de US$ 500 mil. Apesar de ser alemão, o time era composto por jogadores brasileiros, cujos alguns são considerados entre os melhores do mundo. São os casos de Gabriel “FalleN”, Lincoln “fnx” Lau e Epitácio “TACO” de Melo. Os torneios têm uma audiência maior que várias partidas importantes de futebol e já vêm sendo exibidos pela TV no Brasil, em canais de TV por assinatura, o que é motivo de alegria para o universo do CS. “Fico feliz, pois é algo de que gosto, sempre joguei e hoje tenho oportunidade de assistir na televisão e não só ver no computador”, exalta Danyel.

O corretor de imóveis Danyel Carvalho, 27 anos, pegou o início dessa moda nas lan houses do Recife, onde havia até fila de espera para jogar nos fins de semana e os famosos “non-stop”, que eram partidas que acabavam entrando pelas madrugadas. Danyel se reúne com seus amigos na internet todas as semanas para treinar e participar de alguns campeonatos online mensais, mas sem a rotina rigorosa de uma equipe profissional. “Já pensei em virar um pro player, mas não hoje, pois não tenho tempo e dedicação para isso.

Também não tenho coragem que alguns tiveram, de largar tudo para se dedicar”, diz.

O fenômeno mundial do “Lolzinho”

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Um dos casos mais bem sucedidos da popularização dos eSports no mundo está retratada é no jogo League of Legends, da Riot Games. “LoL”, como é chamado pelos fãs, é um jogo de computador estilo MOBA (abreviação para multiplayer online battle arena). Ou seja, jogos onde dois times se enfrentam e o objetivo é destruir a base do adversário, em um mesmo mapa. Uma mistura de estratégia em tempo real misturada com elementos de RPG (Role Playing Games).

Tornou-se um fenômeno, com campeonatos espalhados pelo

Brasil, o que trouxe dificuldades iniciais. Ele atua no time como Ad Carry, ou seja, o capitão do time, responsável por literalmente “carregar” e comandar as ações da equipe dentro do jogo.

Francisco aponta a união dentro da equipe como uma arma nos campeonatos. “É uma equipe que estamos provando aos poucos que o Nordeste tem sim qualidade e que podemos ser temidos”. Jogador profissional desde os 14 anos de idade e defendendo a Neo Llamas desde 2015, ele considera que a popularização do LoL tem elevado o nível das disputas. “Isso possibilita, não só no Brasil, como no resto do mundo, o surgimento de novas equipes, o que acaba aumentando a competitividade do jogo”, complementa o jogador.

Os esportes de olho no E-Sport Games de esporte, como os de basquete e de futebol, também estão convergindo para o mundo do esporte eletrônico. A NBA, liga norte-americana profissional de basquete, foi a pioneira e já anunciou a criação da NBA 2K eLeague, a primeira liga de eSports que será totalmente organizada por uma liga esportiva profissional no país.

mundo inteiro e surgimento de times com superestruturas de organização para os pro players, que embolsam gordas premiações jogando, pelo menos, durante um fim de semana.

Marcelo Chaves foi um desses que se encantou pelo “Lolzinho”, há cerca de quatro anos, quando buscava um novo jogo no computador para se divertir. Não parou mais de jogar. Ele não atua em nenhuma equipe ou disputa campeonatos, mas acompanha os principais jogadores e eventos. Ele diz que se tivesse começado mais cedo, até poderia tentar se tornar um profissional. “Gosto bastante de viver esse momento como torcedor e jogador ‘amador’ de LoL”, diz ele, que é fã do jogador espanhol Enrique “xPeke” Cedeño-Martinez, campeão do primeiro campeonato mundial de LoL, disputado em 2011.

Pernambuco não poderia ficar de fora desta onda. Já existem no estado times competitivos, disputando campeonatos pelo Nordeste e buscando chegar no nível dos melhores times do Brasil. “Algumas empresas já começam a identificar o jogo não só como um ‘joguinho’ e começam a respeitar o público e seus hábitos”, explica Marcelo “Marcelinho” Francisco, jogador da equipe recifense Neo Llamas, criada em 2011. Para Francisco, essa evolução do Nordeste no cenário das competições foi lenta comparada ao Sul do

Outra franquia que está de olho nesse mercado é o aclamado jogo de futebol FIFA, da EA Sports. Torneios como o Fifa Interactive World Cup, disputado desde 2010, pagam boas premiações ao campeão (Em 2017, o campeão levou um prêmio de US$ 200 mil) e já tem atraído até transmissão pela TV. Jogador de FIFA desde 1999, o estudante de Direito Victor Peixoto da Silva, 23 anos, tem buscado participar de forma frequente de competições. “Acredito que tenho capacidade de chegar longe nos torneios e vejo nos eSports um potencial para transformar em um hobby ou até em uma renda extra futuramente”, conta ele, apesar dos torneios de FIFA ainda estarem num estágio de popularidade inferior aos de outros games no Brasil.

Existe uma grande variedade de níveis entre os jogadores que jogam FIFA. “Desde pessoas que possuem videogame apenas para jogos de futebol, pessoas que nem sequer possuem um videogame até os gamers propriamente ditos, os que levam o negócio mais a sério”, explica o estudante.

Mas será que em algum dia veremos um jogo “virtual” de futebol ter uma audiência na TV equivalente a uma partida real de futebol? “O futebol real acaba fazendo uma grande sombra nos jogos eletrônicos. Muito dificilmente o público que ama futebol iria assistir uma partida num jogo digital com a mesma frequência de jogos reais”, afirma Victor.

Enquanto isso, jogos como LoL crescem em público, pois não são a representação de algo “real”. Eles são o que são.

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Imagem e música no clube dos corações solitários

Thaynna Mendes Tempo de leitura: 5 minutos, 2 segundos

No início dos anos 60, surgia em Liverpool, Inglaterra, aquela considerada a maior banda de todos os tempos.

Sucessos como “Help’’, “We Can Work It Out”, “Yellow Submarine” e “Lucy in The Sky With Diamonds” são celebrados até hoje, além de tantas outras canções que marcaram décadas e serviram de inspiração para vários grupos musicais de sucesso. Mas os Beatles não mudaram o rumo da indústria musical apenas por suas composições.

O quarteto formado por John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr também inovou nas suas estratégias de imagem e comunicação.

“Eles foram os primeiros a trazer a carga publicitária que conhecemos hoje para a música”, considera o professor e mestre em comunicação Diogo Xavier Saes, autor da dissertação “A Retórica dos Beatles: a visualidade e as relações multissensoriais entre música, imagem e o contexto sessentista nas capas dos discos dos Beatles de 1965 a 1968”.

Os garotos de Liverpool alcançaram o mundo do cinema e viraram até desenho animado. “Os Beatles transformaram o lançamento de um disco em uma maratona, algo que as bandas de hoje fazem cotidianamente”. Até hoje, arquivos e documentos inéditos da banda são disponibilizados, como o documentário The Beatles - Eight days a week - The touring years, lançado em Outubro de 2016.

A “Beatlemania”, que se revigorou nos Estados Unidos, em 1964, foi um fator decisivo para a forte presença da banda na mídia. Para a jornalista Bruna Paulin, mestre em comunicação, é necessário analisar a transformação que essa tendência provocou no mercado musical da época.

“Temos que pensar que até o sucesso de Elvis Presley, nos anos 1950, não existia um mercado de produtos que se desdobravam do produto seminal – a imagem do artista, e neste caso, o disco, a música. O merchandising de produtos, leis de direito de imagem, direito autoral, royalties, tudo isso vem depois da beatlemania”, comenta ela, que estudou a construção midiática da banda em sua dissertação de Mestrado pela PUC-RS. Entre as heranças e inovações deixadas pela banda, Saes destaca a disseminação do conceito de videoclipe: “O primeiro videoclipe foi Jailhouse Break, do Elvis, mas foi

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com a agenda lotada dos Beatles que se viu a necessidade de gravar conteúdo para poder ser exibido posteriormente - ou seja, os videoclipes”, aponta. Uma outra novidade curiosa provocada pelo sucesso da banda foi o surgimento de fones de ouvidos para auxiliar a comunicação de operadores de câmera. Isso porque quando os Beatles participavam de programas de televisão, os gritos eufóricos das fãs eram tantos que os câmeras não conseguiam entender as instruções.

Música para olhar No início da carreira, as composições da banda eram românticas e basicamente retratavam o amor juvenil.

Esse período ficou conhecido como a era do “Yeah, Yeah, Yeah”, fortemente caracterizada pela música “She loves you”. O Rubber Soul, de 1965, é o álbum que apresenta características diferentes e revela um pouco do tom musical que a banda adotaria mais tarde. Os discos começaram a ganhar uma nova perspectiva a partir do álbum seguinte, Revolver, de 1966, que traça a linha psicodélica que as canções dos Beatles passaram a incorporar.

De Please Please Me (1963) a Let It Be (1970), o quarteto lançou 13 discos de estúdio no total. Os primeiros, no entanto, continham capas espontâneas, promocionais e sem nenhum significado especial. Foi a partir do sexto álbum, Rubber Soul (1965), que a banda passou a investir em capas mais artísticas e conceituais. Do Revolver em diante, “as capas ganham uma carga mais expressiva, tanto em legado como em composição. Isso tem relação direta com a maturidade da banda: no início, era o yeah yeah yeah, depois ficou mais politizada e principalmente reflexiva”, destaca Diogo.

A capa do Sgt. Pepper’s Heart Club Band é um grande exemplo desse aspecto. Lançado numa época em que a banda já estava cansada de fazer turnês exaustivas e do fardo associado à própria Beatlemania, o álbum apresentou a banda fictícia do Sargento Pimenta, com os quatro integrantes vestidos em roupas coloridas, bastante distantes da conhecida imagem de bons meninos ingleses.

A arte foi criada pelo artista visual Peter Blake e possui uma ilustração marcante, trazendo a imagens de inúmeras pessoas conhecidas na história, como Karl Marx, Marilyn

Monroe, Oscar Wilde, Albert Einstein e Bob Dylan, junto aos próprios Beatles, “disfarçados” de banda marcial. O disfarce os deu a liberdade de fazer coisas diferentes e experimentar musicalmente.

“Os Beatles trazem em 1967 um tom que curva da trajetória da banda, sendo um vetor para um novo caminho, um novo estilo musical que surgia nos anos 1960: o rock psicodélico”, escreve Saes em sua dissertação. O Pimenta é classificado por muitos críticos como o mais importante álbum de rock’n roll de todos os tempos. A imagem da banda precisava acompanhar o salto musical que foi dado neste álbum. A apresentação visual do disco é tão intensa e carregada quanto suas músicas.

Aquela que é considerada a capa mais polêmica dos Beatles é a do disco Yesterday and Today, de 1966, lançado nos EUA e Canadá. Na arte da capa, os integrantes da banda aparecem vestindo jaleco branco, com pedaços de carne e bonecas decapitadas sobre eles. As críticas começaram a aparecer e gravadora logo mandou recolher as cópias do mercado.

Contudo, muitas pessoas haviam adquirido o disco àquela altura, então resolveram colar adesivos com outra foto do grupo por cima da capa original. Essa controversa capa ficou conhecida como “Capa do Açougueiro”, e é muito rara.

A partir da segunda metade dos anos 60, os Beatles utilizaram suas obras para fins de crítica social e política, expressando o espírito da década com gritos por paz, amor e reflexão. Cada disco o fez de forma específica, desde a sobrecarga visual de Sargent Pepper’s e Magical Mystery Tour ao minimalismo do Álbum Branco, que, segundo Diogo Saes, “trouxe na capa a leveza do pensamento que se procurava estabelecer”. O fim da banda, em 1970, não foi suficiente para apagar o legado que os Fab Four deixaram no mercado fonográfico - e suas criações vão muito além do som.

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vozes do

capibaribe

As ĂĄguas do rio Capibaribe cortam todo o Recife. O capiba ĂŠ um elemento estruturante da paisagem da cidade. Em torno dele, tantas vidas, tantas histĂłrias que merecem ser contadas.

ESPECIAL- VOZES DO CAPIBARIBE

O olhar do recifense sobre o Rio Capibaribe

Uma cobradora, um artesão, um vendedor e uma pessoa do armazém falam sobre o nosso rio.

Juliana Dias e Sarah Rachel Meneses Tempo de leitura: 4 minutos

Paisagens banhadas de rios, canais e dezenas de pontes que ligam um bairro ao outro fazem da cidade do Recife a Veneza brasileira. Os belos cenários arborizados complementam o contraste do verde das árvores com a cor dos rios, que se encontram entre as pontes refletindo o azul do céu. Tudo isso, acompanhado de prédios históricos que protagonizam os cartões postais da capital pernambucana.

A referência que liga Recife à cidade italiana está na beleza das pontes sobre os rios, que fazem a capital uma das cidades mais belas do país. Um dos rios que se destacam por correr entre as principais avenidas da cidade é o Rio Capibaribe.

O seu nome tem origem no Tupi, e tem como significado o rio das Capivaras ou dos Porcos Selvagens. Na época da colônia, era denominada rio-ponte, por ligar a cana-deaçúcar da Zona da Mata e os currais do Agreste e Sertão.

Diariamente milhares de pessoas veem o rio, seja das janelas dos ônibus, dos carro, bicicleta ou até mesmo a pé. Faz parte do caminho do trabalho, faculdade e é caminho para lojas, prédios e residenciais. Aonde se vai, o Rio Capibaribe está fazendo companhia. O Capibaribe também é cenário para fotografia dos turistas recebidos durante o carnaval e no resto do ano. Porém o local, muitas vezes, é despercebido por aqueles que vão ao Recife frequentemente, pois, apesar de toda sua beleza paisagística, nota-se que muitas das pessoas que passam pelo rio e não param admirá-lo.

Todos os dias a cobradora de ônibus Neide Paiva faz o mesmo percurso. Para levar os passageiros até o Cais de Santa Rita, a linha do ônibus qual trabalha passa pelas margens do Rio. A rotina faz com que a cobradora de 37 anos não observe tanto a beleza do lugar, para ela é algo que não chama a atenção. “Sou cobradora de ônibus há quase dez anos e para ser sincera nunca presto atenção ao que está a minha volta durante o percurso, todos os dias faço este caminho e as vezes é indiferente pra mim. Quando vejo um programa de televisão falando sobre as belezas do Recife, até consigo ver com outros olhos, mas nunca parei para admirar o Rio e como ele deixa a cidade mais bonita”, destacou.

O Desenvolvedor de Software Sandemberg Santos trabalha em um dos armazéns do Porto há quatro anos. Da janela da sua sala de trabalho, é possível ver o rio Capibaribe passar.

Com esta visão diária durante esses anos, o desenvolvedor se diz admirador do Rio, mas acredita que a população nem sempre se dedica a valorizá-lo, porque o rio e a cidade hoje fazem caminhos inversos. “Quanto mais a cidade cresce, mais doente o rio fica com a poluição. Visualmente, o rio e a cidade parecem duas coisas que se completam bem,

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embora no fator sustentável, o rio parecer sofrer um prejuízo fatal decorrente da poluição”, lamentou.

Segundo o biólogo da Pesquisa e Inovação para as Cidades – INCITI, Leonardo Melo, trabalhos como o Parque Capibaribe possibilitam as pessoas a se encontrarem com o rio. “Somente com essa ideia de que isso me pertence é que vou me apropriar do rio”, comentou Melo. Para o biólogo, também é necessário provocar o cidadão para refletirem sobre as questões do Capibaribe, como a poluição e a ligação do rio com a população. “Evidentemente, a chave para isso é você fazer construir de forma inclusivo, de modo colaborativo”, avalia o biólogo. Nesse processo, o cidadão precisa decidir, junto com as organizações, o que será feito nos parques próximos ao Rio. A ponte da Boa Vista, uma das mais conhecidas do Recife, tem uma linda visão do Rio que segue às margens da Rua da Aurora, um lindo cenário para uma foto, ou para

simplesmente curtir a paisagem, mas é uma raridade isto acontecer. “As pessoas passam por aqui com pressa, nunca param, sempre andando muito rápido. Deve ser por causa dos assaltos que já ocorreram aqui na ponte, não dá pra admirar a paisagem ou o Rio se as pessoas não se sentem seguras”, destacou o artesão Edvaldo, que vende quadros pintados à mãos desde 1982 ao lado da ponte.

O Rio que já serviu de inspiração para o poema “O Rio”, de João Cabral de Melo Neto, que viveu nas margens do Capibaribe durante a infância, hoje passa despercebido pela maioria das pessoas que passam por ele. Apesar de toda escassez, e poluição, o rio vive, e contempla com muita beleza a capital pernambucana. O olhar das pessoas sobre o Capibaribe traz à tona o quanto o rio vem sendo ignorado e associado à poluição. Quantos recifenses conhecem o rio Capibaribe? Quantos sabem de sua importância para o Recife? Você conhece o rio? Tem feito algo para mantê-lo vivo?

Foto: Geylla Lira

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ESPECIAL-RIO VOZES DO CAPIBARIBE ESPECIALCAPIBARIBE

Os dilemas do Capibaribe

Histórias de pescadores e de sua relação com o rio.

Geylla Lira e José Paulo Ferreira Tempo de leitura: 5 minutos

José de Morais. Foto: Geylla Lira Do município de Poção, agreste de Pernambuco, até desaguar no Oceano Atlântico, são 250 quilômetros de extensão. O Rio Capibaribe corta diversas cidades e municípios até chegar ao mar. Ele pode ser estudado pela forma de transporte utilizada nele, formas de lazer, a questão ambiental e a poluição, acontecimentos em suas margens e, não menos importante, a pesca.

Desde os primórdios já havia quem pescasse no Capiba. Os pescadores têm longa jornada, sem dia certo para descanso.

Convivem com o impacto ambiental e todos os riscos que suas águas podem ter.

A pesca como fonte de renda Sob o sol forte de um dia de domingo, um grupo de amigos conversam na calçada, ao pé da ponte Maurício de Nassau, no Centro do Recife. Sentados em baldes que servem de assentos improvisados, esperam o tempo passar, para só depois lançarem suas redes.

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O relógio marca 9h, mas os três homens chegaram bem cedo

para dar início a uma tarefa que faz parte da vida deles há anos: a pesca. Perto dali, as águas turvas de um rio que já serviu de inspiração para a composição de músicas e poemas resistem ao tempo. O rio Capibaribe vai sobrevivendo em meio à poluição e à ação degradante do homem.

filhos, dos quais apenas oito estão vivos. Para garantir o pão de cada dia da família, seu José costumava sair de casa antes de o sol nascer. Morava no bairro de Peixinhos, em Olinda. O pescador vinha ao Recife todos os dias para pescar, e segundo ele, nunca voltava para casa de mãos vazias.

“A maré está seca. Vou esperar subir um pouquinho para conseguir alguma coisa”, diz José de Morais, 62 anos. Antes de ir para a pesca, José precisa fazer alguns reparos na rede.

As mãos calejadas são sinal de anos dedicados ao trabalho. É sinal também de que a vida não foi fácil para ele. A pesca não era um hobby e sim seu principal meio de sustento.

No alto do céu, o sol mostra o seu esplendor. Enquanto conversa, ele olha timidamente para o Rio e percebe que é hora de ir trabalhar. Na mão direita, ele segura a rede e, na outra, o balde que servirá para colocar os peixes pescados.

Caminhando lentamente, ele vai se dirigindo para o meio da ponte e se debruça sobre o parapeito. Pega a rede e a lança sobre o rio. Em seguida, vai puxando até a superfície. Logo, a frustração: nada de peixe. Porém, ele não desiste: “A maré está subindo e os peixes ficam presos na lama. Depois que o Capiba estiver cheio, aí pegamos alguma coisa”.

“O rio sempre fez e até hoje faz parte da minha vida.

Comecei a pescar aqui no Capibaribe. Desde criança eu vinha sempre com meu pai. A pessoa que sou hoje, devo muito a ele”, conta.

Os anos foram se passando e o corpo franzino do menino foi ganhando forma. Tornou-se adulto. Casou-se aos 19 anos e até hoje mora com a mesma mulher. Na vida do casal, o rio Capibaribe foi quem supriu as necessidades dos 16

Entre um intervalo e outro, ele vai contando sua história.

Cursou até primeira série do ensino básico. Não sabe ler e nem escrever. “Eu fui apenas uma semana para a escola. Não conseguia aprender nada e agora eu me arrependo de não ter tido os estudos”, lamenta.

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A venda dos pescados A Avenida Martins de Barros, no bairro do São José, centro do Recife, é onde Wellington Soares, 41 anos, trabalha vendendo os peixes que alguns pescadores retiram do rio Capibaribe.

De terça a sábado, o senhor de pele já bem queimada do sol chega ao seu ponto de venda por volta das 4h. O trabalho que ele exerce veio de herança do pai, que revendia os pescados naquele mesmo lugar.

Debaixo de uma árvore, uma tábua de madeira se encontra em cima de uma mesa. Os peixes estão expostos sob ela, sem refrigeração alguma. Tem arenque, tainha e boca mole.

Arenque é o peixe mais barato que Wellington vende, custa cinco reais o quilo. Mas o que mais sai é o carapeba. Outros peixes estão em um plástico, dentro de uma caixa de isopor, sem os cuidados necessários para armazenamento.

Enquanto conversava sobre os peixes que vendia, seu telefone toca. Quando questionado, responde: “Sauna não tem não.

Tem tainha”. Na linha, ele conversa com um dos poucos clientes fiéis. Ele nos explica que a maioria das pessoas tem preconceito com os peixes que ele vende por conta da sua origem, “falam que o rio é sujo, poluído”.

Mas, desde sempre, essa foi a maneira que Wellington usou para sustentar sua família. Pai de quatro filhos, diz que não é fácil sobreviver da venda de pescados do Capibaribe, mas dá para viver. “Antigamente era fácil, eu até tinha carro. Mas parece que a crise atingiu até o rio”.

A pesca como recomeço Recife é também conhecida como a Veneza brasileira. Mas o encanto dos rios e pontes que cruzam a cidade serve também de cenário para ilustrar histórias da vida real.

O palco de uma dessas histórias é a ponte Buarque de Macêdo.

Debaixo de um sol forte, numa manhã de terça-feira, Juliana e Cleiton pescam siri para sobreviver. É do Capibaribe que vem o sustento. Massacrados pelas circunstâncias da vida, eles nos contam seus dilemas.

Debruçados sobre o parapeito da ponte, está o casal. Juliana Lima, de 38 anos, e, Cleiton Guedes, de 35, são moradores do Alto Santa Terezinha, Zona Norte do Recife. Eles vêm todos os dias, exceto aos domingos, pescar siri para vender na feira de Beberibe. Saem de casa às 5h30 e retornam somente à noite.

Os instrumentos de trabalhos limitam-se apenas a dois

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baldes, duas facas de cortar pão, que servem para retirar os crustáceos presos na rede. Para aliviar a sede, uma garrafa d’água de dois litros. No coração, a esperança de que dias melhores virão.

Aguardam o momento certo para trazer à tona o jererê que foi lançado no Capibaribe para pescar os siris. Os dois não se importam com a nossa presença, muito pelo contrário, ficam à vontade. “Estamos aqui há pouco tempo, acho que uns três meses. Eu e ele não estamos empregados. Minha mãe me expulsou de casa e fui acolhida por ele. Não temos apoio de ninguém”, conta Juliana, que também é mãe de uma adolescente. Já Cleiton é pai de três filhos do primeiro casamento: o mais velho tem 10 anos e o mais novo, apenas 2.

Antes de o casal ter o rio como fonte de sustento, as coisas eram diferentes. Cleiton trabalhava como porteiro e zelador, ela era ambulante. Mas, devido à crise econômica que afeta o país, ele perdeu o emprego e está desempregado há mais de três anos. “Decidimos vender churros, aqui no centro do Recife mesmo. Mas tínhamos sempre a nossa carroça e mercadoria apreendida pelo pessoal da Prefeitura. Eles levavam tudo. Para eles, a gente estava trabalhando errado”, conta ela.

De cabeça baixa, a mulher vai narrando a sua história.

Não esquece dos maus momentos que passou. Quando perguntamos qual foi a maior dificuldade que ambos enfrentaram, Juliana baixa cabeça, olha para o rio e, com a voz baixa, quase inaudível, responde: “Quando fui morar na rua. Essa foi a pior experiência que tive em toda a minha vida. Passei fome, frio e sede. Não desejo para o meu pior inimigo o que eu passei. Hoje eu estou aqui, mas eu queria apenas que alguém me desse uma oportunidade”, desabafa.

Juliana, Cleiton, José Paulo e José Morais. Personagens com o mesmo cenário, mas com histórias de vida tão distintas.

Já dizia João Cabral de Melo Neto, que os rios que correm aqui têm água vitalícia. Refletindo na citação do autor consagrado registra-se a verdade. Deve ser por isso que até hoje, mesmo em meio à poluição, o Capibaribe tem sido a fonte de sustento para eles e tantos outros.

Foto: Geylla Lira

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ESPECIAL- VOZES DO CAPIBARIBE

Navegar, é preciso!

Enquanto os projetos voltados para a navegabilidade pelo Capibaribe seguem parados, os barqueiros seguem navegando pelo rio, transportando passageiros e convivendo com a degradação ambiental.

Gustavo Militão e Leonardo Magalhães Tempo de leitura: 7 minutos

Foto: Leonardo Maglhães

Recife, julho de 2012. O então governador Eduardo Campos anuncia um projeto revolucionário para o Rio Capibaribe, na tentativa de transformar o principal rio da Região Metropolitana do Recife como o mais novo modal de transporte público, por meio de suas águas.

O projeto orçado pelo Governo de Pernambuco em R$ 289 milhões, batizado de “Rios da Gente”, fazia parte do Programa Estadual de Mobilidade (PROMOB), voltado para a Copa do Mundo, em 2014. Prometia finalmente tirar do papel um velho projeto, que já se arrastava por décadas: Tornar o Capibaribe um rio navegável e uma opção de transporte público na capital, cada vez mais sofrendo com os engarrafamentos nas ruas e avenidas. Frutos da ausência de uma política de planejamento que não acompanhou o crescimento do Recife, no tocante a mobilidade urbana.

Junho de 2014. A Copa chegou a Pernambuco e o projeto,

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do projeto previam um impacto de 80 mil usuários por mês sendo beneficiados com o “Rios da Gente”. Um projeto que buscaria não só a melhora na infraestrutura dos transportes, mas também outros benefícios como a preservação de suas margens e frear o açoreamento, melhorando assim a qualidade do leito do Capibaribe.

Tantos atrasos, promessas e discursos fazem o sonho de tornar o “Rio das capivaras” uma rota de navegação voltada a população, se tornar uma das “lendas urbanas” do Recife, tal qual a lenda do “boi voador”, que todos aguardam voar sobre a ponte Mauricio de Nassau desde 1644.

Distanciamento do população preocupa

Capibaribe

com

a

O crescimento urbano desordenado e a prioridade pelo uso do automóvel ao longo dos anos, fez a população do Recife perder parte da sua identificação com o Capibaribe, anteriormente visto como um ponto conector da cidade do Recife. Se antes morar ou navegar pelo rio era necessário e importante, passou a ser visto como uma barreira para o crescimento da cidade e até como segregador social. A cidade vem dando as costas para o rio, quando anteriormente crescia em torno de suas margens. Com a ausência de projetos revitalizadores e de ações voltadas para a mobilidade, o rio passou a condição de um status secundário para a população.

não. Atrasos e as burocracias costumeiras impediram mais uma vez de se executar o projeto. Obrigando o governo do Estado a esticar para o final de 2016 o prazo de início da operação do sistema.

Com isso, as obras foram paralisadas e o mato, junto com o lixo, tomou conta dos locais previstos pela Secretaria das Cidades para serem as estações de atracação dos 13 barcos previstos no projeto, projetados para transportar 86 passageiros a 18 km/h, todos climatizados e com acessibilidade a portadores de necessidades especiais. Algumas destas estações até se transformaram em criadouros do Aedes aegypit, o mosquito transmissor da dengue e do zika. A dragagem do Capibaribe, que foi iniciada em Janeiro de 2013 e previa tirar o lixo de uma área de 17 km do seu leito, também foi interrompida.

Desde então, a obra segue estagnada.

Estimativas da Secretaria das Cidades na época do lançamento

No século XIX, era comum o deslocamento das pessoas através de barcos pelo Capibaribe. Haviam 13 portos de embarque para mercadorias e passageiros, espalhados em localidades como Boa Vista, Coelhos, Madalena, Poço da Panela e Torre.

Atualmente, só há dois pontos de travessia pelas margens do Capibaribe – localizados nos bairros da Jaqueira e no Poço da Panela – além do Marco Zero, mais voltado para a travessia turística em direção ao Parque das Esculturas.

Existem soluções a médio prazo com custos de investimentos bem mais baixos e de fácil execução. Para a arquiteta Ana Raquel Meneses, do projeto INCITI (Pesquisa e Inovação para as Cidades), grupo transdisciplinar vinculado a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), uma alternativa interessante para a questão da mobilidade fluvial no Recife seria propor a implantação de “barcos-taxi”, ou seja, embarcações de menor porte que sirvam ao transporte de pessoas nos pontos já existentes além da criação novos portos de atracação ao longo do Rio Capibaribe.

“A nossa intenção é propor uma melhoria dos pontos de travessia já existentes e propor a criação de novos. E que estes

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pontos de atracação não sejam voltados só para as travessias de barco, mas também possam permitir a população que se desloque pelo Rio Capibaribe em pequenos barquinhos e descer num local”, explicou Ana. A tentativa de projetos como este do InCiti é fazer do Capibaribe uma grande avenida, retomar o rio como um grande conector do Recife, como ele já foi no passado, um eixo central ligando os bairros e sendo um condutor importante para a mobilidade urbana.

Os barqueiros e o Capibaribe Para tentar resgatar este sentimento de proximidade entre a população com o Rio Capibaribe, a Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Turismo, criou em 2014 o projeto Olha! Recife. São passeios gratuitos de barco oferecidos à população, além da bicicleta, ônibus e a pé, percorrendo pontos históricos em roteiros pré-definidos. Os passeios pelo rio são feitos de catamarãs, que buscam fazer a população refletir sobre as questões do cuidado com a cidade e também com o Capibaribe.

Foto: Geylla Lira

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Mas existe a opção de recorrer aos barqueiros particulares para quem quiser conhecer o Capibaribe. Eles fazem a travessia pelo rio através de barcos que cabem no máximo sete pessoas, como manda as regras de segurança da Capitania dos Portos.

Todos são cadastrados pela Prefeitura, através da Secretaria de Turismo, fazendo rotas específicas, como a travessia do Marco Zero até o Parque das Esculturas, custando R$ 5.

Trechos mais longos, onde os passageiros podem conhecer as pontes do centro da cidade e também toda a margem, custam em média R$ 30.

Felipe Douglas, 27 anos, desde os tempos de criança tem uma relação pessoal com o Capibaribe, quando costumava tomar banho no local. Ele trabalha como barqueiro há 13 anos e é um dos 11 proprietários de barcos particulares ancorados no Marco Zero, fazendo travessias pelo leito do rio. Felipe conta que os passageiros, sejam turistas ou moradores locais, apreciam o passeio pelo rio, cuja procura aumenta durante as férias. “Mas também reclamam muito da sujeira e da poluição”, observa. “Está cada dia mais poluído”, reclama o barqueiro, enquanto se preparava para transportar mais um grupo de pessoas para o Parque das Esculturas.

A profissão de barqueiro pode ser familiar, onde os mais experientes vão dando o lugar aos mais novos. É a história de Pomposo Firmino, 51 anos. Ex-manobrista, Pomposo começou a trabalhar com o barco “Mestre Vitalino” há dois anos, fazendo a travessia de passageiros pelo Capibaribe, seguindo os passos do irmão, com dez anos de profissão.

Simpático e prestativo, Pomposo questiona as autoridades que deem mais apoio aos barqueiros e tragam melhorias para beneficiar o turismo na área do rio. “Falta iluminação no Parque das Esculturas. O povão quer variar, os casais e as famílias querem visitar o local durante a noite, para terem uma outra visão”, lamenta Pomposo, que também gostaria de ver o projeto “Rios da Gente” sair do papel, fazendo o rio um novo modal de transporte urbano. “Pelo rio não tem trânsito, não tem sinal e isso traria muito benefício a toda população do Recife”, diz.

Com simplicidade, o barqueiro define o significado do rio para ele e, também, para todos os outros colegas de profissão. “O Capibaribe é um meio de sobrevivência. Também tem uma paisagem linda, que não tenho palavras para descrever. A população que trabalha durante a semana, nos fins de semana vem aqui para passear e apreciar o mar, as esculturas... e

voltam mais revigoradas. O rio representa essa qualidade de vida, para mim e para quem visita”.

Qualidade que tem piorado constantemente com o crescimento da poluição. Principalmente, de despejos clandestinos de esgotos no local, que vem degradando um dos cartões postais mais famosos da “Veneza Brasileira”.

Felipe e Pomposo, mesmo sem saber dos detalhes técnicos dos projetos de navegabilidade, tanto da iniciativa pública como de órgãos independentes, têm a experiência de saber da importância da preservação do rio, e também o enxergam com potencial para ser novamente eixo de ligação da cidade, que se perdeu com o passar dos anos, mas ainda tendo sua importância para a vida cotidiana do Recife.

Um local no qual muitos recifenses diariamente viram as costas e tratam como sem vida, sujo ou um divisor de realidades.

Porém, o rio se oferece como uma solução viável numa cidade que corre o risco de parar, se a sua mobilidade urbana não for repensada a tempo.

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ESPECIAL- VOZES DO CAPIBARIBE

Reconstruindo o coração do Recife O Capibaribe e sua importância como elemento estruturador para a recuperação ambiental do Recife.

Raissa Chiarelli e Thaynna Mendes Tempo estimado de leitura: 3 minutos, 17 segundos

O Capibaribe tornou-se protagonista para muitos poetas pernambucanos e seus versos, por suas muitas histórias e beleza natural. Porém, a realidade de poluição e descaso está mudando esses versos. O que antes era sinônimo de vida e natureza vem sendo negligenciado, esquecido e corre o risco de sumir.

Segundo o biólogo Leonardo Melo, do INCITI (Pesquisa e Inovação para as Cidades), grupo vinculado a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), antes da virada do século XIX, o Capibaribe era utilizado como ponto de recreação, um lugar para lazer. Quando a cidade avançou em seu crescimento, com a construção de ruas e os carros que passaram a predominar o cenário, o rio perdeu sua importância dentro da conjuntura urbana. “A gente passou a dar as costas para o rio e ele foi vulnerabilizado a esse ponto”, lamentou.

Diante da carência da cidade em seus espaços ambientais e o crescimento rápido de um certo modelo de urbanismo, o rio grita por socorro pela necessidade de preservação. Com essa busca de reforma, o INCITI tem discutido novos projetos, que consigam superar essa vulnerabilidade e que proporcionem uma maior compreensão das pessoas sobre a importância do Capibaribe.

“Todo esse trabalho, todos os aspectos de restauração ambiental que a gente está propondo vai invariavelmente possibilitar que a gente tenha mais fauna chegando. Um macaquinho, um ratinho ou um bicho preguiça, borboletinhas, umas abelhinhas. Esses elementos, essas expressões da natureza são capazes de promover a sensibilidade nas pessoas”, finalizou o biólogo.

Pensando por todos os ângulos que precisam ser atendidos, no Recife, foram criados projetos diversos de urbanização e preservação. Em nível governamental, são projetos conduzidos por entidades como a Secretaria do Meio Ambiente e a Emlurb. O Parque Capibaribe, que busca a revitalização das áreas que rodeiam o rio, é um projeto da Secretaria do Meio Ambiente junto à Prefeitura do Recife, e teve início em 2013.

O projeto busca resgatar o rio como o coração da cidade, reestruturando sua paisagem. Mais de um terço da capital pernambucana terá a intervenção. A intenção é que, até 2037, o Recife se torne uma cidade-parque.

O chefe do setor de unidades de conservação e equilíbrio ambiental da Secretaria do Meio Ambiente, Eduardo Lins, comenta também que o Parque Capibaribe é uma intervenção urbanista, mas que contempla a preservação de

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várias áreas do rio. “O ponto positivo do projeto é voltar a atenção da população, do cidadão, à presença do rio e os seus beneficios”. Eduardo comentou também que o projeto tem um propósito paisagístico: “Algumas pessoas nunca viram o rio de certo ângulo e essa apropriação de beleza cênica e natural reforça muito a questão de preservação ambiental”.

A arquiteta do projeto Parque Capibaribe, Ana Raquel Meneses, explica que o rio é o elemento estruturador fundamental para a recuperação ambiental da cidade. Além do fator ambiental, o Capibaribe também pode recuperar o transporte não motorizado e promover a reintegração socioespacial. Essas são as três diretrizes-chaves do projeto. “A gente tem uma massa verde que hoje está muito maltratada ao longo do rio. A gente tem pequenos pontos verdes

desconectados. E a gente entende que para esse sistema se fortalecer ele tem que estar conectado. Não adianta a gente ter um pedacinho aqui, um pedacinho ali, que ele não tem força. Ele tem que ter alguma ligação. E aí a gente propõe que essas vias de conexão urbanas também sejam vias de conexão ambiental. A gente colocar a vegetação e aproveitar esses riachos seria uma forma de fortalecer esse sistema”, ressaltou Ana Raquel.

Muitos passam pelo Capibaribe e não sabem que estão diante da maior riqueza do Recife. O rio é a vida da nossa cidade, que deve assumir a responsabilidade por ele. A concepção de preservação ambiental está ganhando forças, é necessário que hajam mais projetos específicos para a preservação do Capibaribe, e para isso a sociedade precisa unir forças para defender essa causa.

Foto: Henry A.Y.N/ Flickr

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ESPAÇO

ECOS

CULTURAL

RESENHA

Capibaribe: as águas que contam história “O rio das capivaras em verso e prosa” Jonathas Vieira Tempo estimado de leitura: 3 minutos Responsável por banhar o centro histórico do Recife, o Rio Capibaribe também foi inspiração dos poetas da terra, sendo como personagem representante de sua beleza, mas também da penúria da seca. Em ‘O Cão Sem Plumas’, João Cabral de Melo Neto caracteriza o rio da seguinte forma: “O rio ora lembrava a língua mansa de um cão, ora o ventre triste de um cão, ora o outro rio de aquoso pano sujo dos olhos de um cão”.

A onipresença do Capibaribe no estado de Pernambuco é observada por João Cabral de Melo Neto em sua obra mais famosa, ‘Morte e Vida Severina’. No poema, João Cabral viaja na linha tênue entre a miséria e riqueza, entre a beleza e feiura do rio. Pela perspectiva de um retirante acompanhamos a extensão de um Capibaribe que nos mostra suas facetas até, finalmente, nos revelar o mais belo da vida, que por vezes nos falta. Um texto impressionista e tão simbólico quanto o próprio rio.

Outro autor a falar sobre o Capibaribe foi Manuel Bandeira, que descreveu a beleza do rio em seu poema ‘Evocação do Capibaribe’: “Lá longe o sertãozinho de Caxangá Banheiros de palha Um dia eu vi uma moça nuinha no banho Fiquei parado o coração batendo Ela se riu Foi o meu primeiro alumbramento Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu E nos pegões da ponte do trem de ferro, os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras”.

A memória do Capibaribe é viva naqueles que vivem dele.

Principalmente os mais velhos, que presenciaram o antigo

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Manuel Bandeira Foto: wiki/Ficheiro rio. As famílias de pescadores configuram uma cultura que se vê ameaçada pela degradação do rio. O médico e escritor Josué de Castro, por volta da década de 1930, observou a relação entre as doenças e a condição de vida dos operários de grandes empresas. Desenvolvendo uma pesquisa geográfica e antropológica, Josué de Castro foi

um dos fundadores da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, onde ensinou geografia humana. No seu conto ‘O Ciclo do Caranguejo’, o autor escreve sobre uma família que vivem na área de mangue, na margem do rio: “Os mangues do Capibaribe são o paraíso do caranguejo.

Se a terra foi feita pro homem, com tudo para bem servi-lo, também o mangue foi feito especialmente pro caranguejo.

Tudo aí, é, foi ou está para ser caranguejo, inclusive o homem e a lama que vive nela”.

Assim como as águas correntes de um rio, o século XX chegou com mudanças que afetaram diretamente o Capibaribe. Como era de se esperar, o uso inadequado do rio, como despejo de esgoto doméstico e industrial, foi responsável por sua extensa poluição. Dejetos de matadouros, lixões e o assoreamento, que é o acúmulo de sedimentos em sua foz, afetaram o Capibaribe. Com isso, também, ocorreram as enchentes pluviais, já comuns ao recifense. “A cidade começou a crescer loucamente, de modo regular e irregular. O crescimento trouxe as vias das ruas, os carros da cidade, então o rio passou a ser esquecido”, relembra o biólogo Leonardo Melo, do INCITI – Pesquisa e Inovação para as Cidades, um membro associado do World Urban Campaign.

Como forma de mudar essa situação e melhorar a vida de quem mora em suas proximidades, novos projetos são propostos. O INCITI já iniciou junto à Prefeitura o

projeto do Parque Capibaribe e visualiza uma nova forma de evolução para o transporte urbano. A arquiteta Ana Raquel Menezes, explica como funciona: “O que a gente propõe é que tenhamos o rio como um conector, como ele já foi no passado”.

Assim esperamos escrever uma nova história para o rio, que além de rio, é amigo da cidade, ou amante, como diz João Cabral de Melo Neto, em ‘O Rio, ou Relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife’ (1953): “A gente da cidade que há no avesso do Recife tem em mim um amigo, seu companheiro mais íntimo.

Vivo como esta gente, entro-lhes pela cozinha; como bicho de casa penetro nas camarinhas.

As vilas que passei sempre abracei como amigo; desta vila de lama é que sou mais do que amigo: sou o amante, que abraça com corpo mais confundido; sou o amante, com ela leito de lama divido”.

Foto: wiki/File:Rio

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ESPAÇO

ECOS

ILUSTRAÇÃO

Moro vs Lula Lucas Andrade

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CULTURAL

FOTOGRAFIA

Cleiton e Juliana Geylla Lira

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