Com trabalho baseado principalmente nos desenhos e nas pinturas, busca inspirações no “estádio do espelho”, de Jacques Lacan, médico, psiquiatra e psicanalista francês, para o qual as características dos outros são externadas no próprio indivíduo. Travando uma guerra cromática, Ebert Calaça busca esculpir as pinturas como se fossem objetos. Nesse processo, deixa as evidências das marcas do material escolhido como cicatrizes, trazendo à tona seus guardiões, como são chamados seus personagens. Esse exercício visceral é o que o artista chama de pintura. Formado em Design Gráfico, pela Universidade Católica de Goiás, especialista em Cinema pela Faculdade Cambury, trabalha também com fotografia. “Iniciei minha carreira nas ruas, realizando grafites nas cidades de Goiânia, Brasília e posteriormente pintando em cidades como Recife e Barcelona. Tenho gravada na memória a música de minha infância, Aquarela, de Toquinho, que até hoje me faz viajar e pensar que sou dono do mundo, o meu mundo, onde eu posso ser mil seres diferentes.”

Ebert Calaça nasceu em 20 março de 1981, último dia do signo de Peixes. um animal sem fronteiras e que se desloca com facilidade pelos mares da imaginação.
Robert de Nigre, alter ego do artista





Quando se analisa a obra de um artista, é comum procurar ali um tema central, um norte, algo que oriente a nossa leitura e nos aponte um caminho para o que aquela pessoa pretende expressar. Desde 2001, a obra de Ebert Calaça nos leva por um estádio repleto das mais diversas criaturas – reais ou fictícias –paramentadas e adornadas, como se máscaras e enfeites as encantassem, as protegessem. Escondidos atrás de seus rostos e revelados por suas armaduras, as personagens apresentadas por Ebert nos convidam a decifrá-las. Máscaras, armaduras e enfeites encantam e protegem as criaturas, mas também o seu criador. Ao longo de sua história, o artista transpõe para telas, muros e outros meios as batalhas e cicatrizes de sua jornada interior. Medo, dúvidas e sentimentos aparecem agora transformados, travestidos, num jogo que sugere ao mesmo tempo que oculta, pela simples razão de que tudo merece consideração. Ebert nos apresenta a alguns de seus amigos, representações que o acompanham, provocam, questionam e o protegem em suas batalhas.

Se oriente, rapaz
Sou seu guardião
Te levo pra guerra
Te trago a Paz
@tarikhermano




























Uma vez comentei com o Ebert sobre ele ser mais reservado, ponderado; ele disse que, ao contrário, tem uma personalidade forte e é uma pessoa bastante articulada e se expressa de maneira efusiva na intimidade, por isso faz esse exercício de se manter contido no dia a dia. Faz isso, inclusive, na minha observação, a ponto de permitir que sua arte fale mais alto. E fala! Ebert Calaça grita em cores as pulsões humanas, se expondo de uma forma metafórica, travestido em personagens ora lúdicos, ora inquisidores, os quais nominou “guardiões”. Essas figuras – em geral, quase ternas - nos remetem a um lugar de pensamento inusitado, que desconstrói as métricas da literalidade e arremessa ao alto a linearidade, subvertendo a fruição lógica. Esses guardiões criam para o indivíduo artista uma redoma de proteção onde cabe, não apenas seu salvaguardo pessoal, mas também um lugar não é uma experiência errática: Ebert sabe o que está fazendo.
Não à toa, vários contemporâneos seus o tem como um mestre (ou “monstro”) da técnica e dos temas.

E dessa proclamação espontânea de admiradores e colegas artistas, concordamos que essa maestria se manifesta em vários aspectos de sua obra, mas talvez o mais importante traço seja o magistral colorismo, conferindo aos seus trabalhos uma condição rara de conseguir acessar praticamente todos os públicos Outra feliz colocação do artista, quando diz que “os guardiões são fotografias dos esquecidos nos lugares inexistentes”, faz alusão às questões íntimas do ser humano, às batalhas individuais que travamos e de como desbravamos nossas questões e o que disso se torna residual e tangencia nossas vidas e nossos afetos. Temos todos nossas defesas psicológicas internas, nossos guardiões; os do Ebert são multicoloridos e olham de volta quando os fitamos.

Ebert Calaça pintou um pujante conjunto de trabalhos, em quantidade e qualidade, forte e representativo o bastante para que o público se familiarize com sua pesquisa plástica e com seu universo criativo e reativo como profissional das artes e como cidadão pertencente a um mundo repleto de injustiças e batalhas inglórias. Que esse outro lado e seus guardiões emanem a leniência almejada e que encontrem lugar no antagonismo à principal batalha humana de converter angústias em algo tolerável e, principalmente, em aprendizado.
Sandro Torres - Me. História da Arte
