Comunicare 270

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Rios e lagos de Curitiba doentes Estudo aponta poluição nas águas da “Capital Ecológica”.

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Cerco aos fura-catraca Projeto quer multar quem não pagar passagem em Curitiba.

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Curitiba sediou 1º “Mundial” de Bets Participantes se divertiram na Praça dos Menonitas.

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Curitiba, 26 de Novembro de 2015 - Ano 18 - Número 270 - Curso de Jornalismo da PUCPR
Cultura para todos os gostos Corrente Cultural movimentou diversos espaços de Curitiba.
e 05
O jornalismo da PUCPR no papel da notícia
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Cidades Expediente

Projeto Pró-Vida apoia gestantes

Obra de caridade auxilia mães a acolher a maternidade

Giovanna Martins

2º período

P esquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicada em agosto deste ano, aponta que mais de 8,7 milhões de brasileiras com idades entre 18 e 49 anos já fizeram ao menos um aborto na vida, o que faz com que movimentos como a Casa Pró-Vida Mãe Imaculada, tentem combater esse índice.

A Casa Pró-Vida Mãe Imacu lada é uma obra de caridade que opera desde 12 de de zembro de 2012, oferecendo proteção e divulgação da vida, amparando de forma espiri tual, psicológica, material e jurídica mulheres grávidas em risco de abortar; àquelas que já deram a luz e àquelas que optaram pelo aborto.

Além do auxílio, a Casa PróVida oferta cursos sobre assuntos que contribuem para o conhecimento e promoção de vida, como exemplo a bio política. O local conta também com o programa “Sim à vida”, na TV Evangelizar, apresenta do pelo diretor e idealizador do movimento, padre Silvio Rodrigues Roberto, que apresenta histórias, situa ções, informações e aponta projetos sociais de Curitiba que promovem e valorizam a temática da vida.

Coordenadora da obra, Jane Maria, conta que o movimen to em favor da vida surgiu inspirada em organizações do exterior, quando padre Silvio, no seu período de formação, estava nos Estados Unidos, local em que o aborto é legalizado há 40 anos, rezan do em frente a uma clínica abortiva, e uma jovem entrou para realizar o procedimen

to. “Uma mulher passou por nós, entrou na clínica e saiu uns minutos depois. Ela disse que estava indo fazer um aborto, mas assim que nos viu percebeu que era errado e não podia ir adiante com aquilo”, conta o sacerdote, que nesse momento, sentiu que esse era um chamado de Deus para ele: promover a vida, evitando a cultura da morte, especifica mente o aborto.

“É uma grande alegria. Tudo o que fazemos é pela interven ção da Virgem Maria, somos apenas um instrumento nas mãos dela. É uma alegria quando a mulher aceita o presente de Deus na vida dela, deixando de abortar. Mas quando elas decidem abor tar sinto como se fosse uma derrota, e tenho que tratar meu lado emocional”, afirma o padre Roberto.

Suelen, 26 anos, foi uma das atendidas pelo projeto, que optaram por não abortar. Ela conta que ao saber da gravi dez, muitos a aconselharam a não ficar com a criança, até mesmo o pai de sua filha, que se ofereceu para pagar meta de do procedimento, tratando o aborto com naturalidade. Suelen diz que se sente muito agradecida pelo apoio da Casa Pró Vida e à sua família, que hoje cuida de sua filha en quanto ela faz faculdade e que não imaginou a felicidade que poderia ter com uma criança. Para ela, com o ato de abortar, visando a facilidade, as pes soas esquecem de sua capa cidade e cedem à cultura da morte. “Atualmente eu tenho uma filha linda e me orgulho de ter escolhido o mais difícil em meio a tanta praticidade que eu teria”, conclui.

Jornalismo

02 Curitiba, 26 de Novembro de 2015
PAUTEIROS Amanda Mann 2º período Gabriella Bacinelo 2º perído Guilherme Almeida 2º perído Maria Cecília Terres 3º período Michel Moreira 2º período Natalia Filippin 3º período Pedro Freitas 2º período EDITORES Angélica Klisievicz Lubas 3º período Gabriel Witiuk 2º período Luiz Felipe Elias 2º período Mayara Schade 2º período Vanessa Gavilan Mikos 3º período Vinicius Scott 2º período
Edição 270- 2015 O Comunicare é o jornal laboratório do Curso de
PUCPR jornalcomunicare.pucpr@gmail.com http://www.portalcomunicare.com.br Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) R. Imaculada Conceição, 1115 - Prado Velho - Curitiba - PR REITOR Waldemiro Gremski DECANA DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES Eliane C. Francisco Maffezzolli COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Julius Nunes COORDENADOR EDITORIAL Julius Nunes COORDENADOR DE REDAÇÃO/ JORNALISTA RESPONSÁVEL Miguel Manasses (DRT-PR 5855) COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO Rafael Andrade MONITORIA Luciana Prieto FUNDADOR DO JORNAL Zanei Ramos Barcellos FOTO DA CAPA Fernanda Yumi

Rios e lagos de Curitiba sofrem com degradação

Nove de 10 parques ana lisados têm águas poluí das. IBGE aponta Iguaçu como segundo rio mais poluído do país

a medida em que os anos passam, fica cada vez mais difícil chamar Curiti ba de “Cidade Modelo” ou “Capital Ecológica do Brasil”. A mais atual prova disso é a situação dos rios que passam pela cidade e dos lagos dos parques curitibanos. Um es tudo finalizado este ano pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) mostrou que, dos 10 la gos analisados na capital, sete foram considerados poluídos e dois muito poluídos. Apenas

também tem projetos para evitar a poluição das águas da capital paranaense.

um dos locais examinados, o lago do Parque Tanguá, se encaixou na classificação de qualidade regular da água, em uma escala que vai de um a seis, está a um nível de ser considerado poluído.

Elis Regina Colferai, diretora do IAP, acredita que, apesar dos resultados do estudo parecerem alarmantes, a qua lidade das águas de Curitiba não está piorando. “O começo das análises dos 10 lagos foi em 1998 e, de lá para cá, a cidade cresceu muito. Como, apesar do crescimento da cidade, os níveis de poluição desses lagos mantiveram certa estabilidade, não vemos esses números de forma tão alarmante”, afirma. No en tanto, Elis ressalta que o IAP vem fazendo a sua parte, que é, principalmente, fiscalizar as atividades com impacto ambiental desenvolvidas no Paraná e executar projetos de recuperação. Quanto às expectativas para o futuro dos rios e lagos de Curitiba, a diretora do IAP está otimis ta, já que agora a Prefeitura

Já Adriana Marques Canha, representante da Mater Natura, uma organização sem fins lucrativos engajada em causas ambientais, afirma que principalmente nos últimos 20 anos, os bens naturais de Curitiba, neles inclusos os rios, vêm sendo negligen ciados. Adriana acredita que os principais causadores da poluição de rios e lagos em Curitiba são casas e prédios antigos cujas tubulações nun ca foram ligadas ao sistema de saneamento da cidade. Fora isso a ativista também culpa sistemas de esgotos mal feitos e o lixo jogado direta mente nos canais. Quanto aos títulos de “Capital Ecológica” e “Cidade Modelo”, Adriana afirma que Curitiba “não está perdendo este posto, por que Curitiba nunca foi exatamen te um exemplo”. Para ela, os títulos da cidade, mais do que por realizações efetivas, foram ganhos por causa de projetos de marketing e campanhas eleitorais.

Segundo Marcos Vinícius Pius, chefe do Departamento de Pesquisa e Monitoramento da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), a Prefeitura dividiu os princi pais rios e afluentes de Curi tiba em 123 sub-bacias e está realizando monitoramentos periódicos e todos os canais que abastecem os lagos dos parques serão vistoriados até o final deste ano. De acordo

com Pius, a Prefeitura está tomando as medidas cabíveis para despoluir as águas de Curitiba e garante que foi fei to o mapeamento das sub-ba cias e já estão sendo planeja das futuras intervenções.

Para Lucas Pazda, 19 anos, que pratica corrida toda semana no Passeio Público –um dos dois locais com águas consideradas muito poluídas pelo IAP – a situação é triste. “O chato é que é um lugar bonito e seria muito mais agradável se não tivesse esse cheiro vindo da água. Só a visão dessa água escura já tira um pouco do charme do lu gar”. O estudante também la

menta o fato de que, apesar de Curitiba ter diversos parques e vários deles serem grandes e bons para a prática de espor tes, essa situação com a água se repete em quase todos eles. Pazda relata que recentemen te foi ao Parque Tingui – cujo lago é considerado poluído pelo IAP – e viu a mesma coi sa. Para o estudante tudo isso é fruto do esquecimento e da má administração da cidade. “Como não se gasta direito o dinheiro e a cidade está cheia de outros problemas, não sobra nada para gastar com este tipo de coisa, que na visão de alguns talvez seja um problema secundário”, finaliza Pazda.

03 Curitiba, 26 de Novembro de 2015
Cidades
“Só a visão dessa água escura já tira um pouco do charme do lugar”
N
Poluição no Canal Belém antes de desaguar no Rio Iguaçu Guilherme Almeida

Cidades Corrente Cultural agita Curitiba com várias atrações

Em seis dias de festival, Curitiba recebeu cen tenas de eventos em praças, teatros, parques, palcos e ruas espalhados pela cidade

Fabíola Junghans

Fernanda Yumi

2ª período

E ntre os dias 03 e 08 de no vembro foi realizada em Curitiba a Corrente Cultural, uma semana de vasta progra mação cultural promovida pela Fundação Cultural (FCC) e pelo Instituto Curitiba de Arte e Cultura (ICAC), em parceria com a Prefeitura de Curitiba. Cerca de 134 shows, exposições, mostras, peças e manifestações atraíram milhares de pessoas nos diversos espaços espalhados pela cidade.

O palco Hard Rock Café Curitiba - Boca Maldita, no Centro e o palco Mundo

Livre FM - Ruínas, no bair ro São Francisco, exibiram os principais shows. Ainda foram realizados eventos nas Praças da Espanha e 29 de Março, no Memorial de Curitiba, no Teatro Univer sitário de Curitiba (TUC), no Museu Metropolitano de Arte de Curitiba (Muma), Cinema teca de Curitiba e teatros da cidade. A organização contou com o patrocínio de diversas empresas, como o Hard Rock Café, a rádio Mundo Livre FM, a Coca Cola, o Banco do Brasil e a 99 táxis.

A responsável pelo marketing

do Hard Rock Café Curitiba, Claudia Lucca, afirma que a melhor maneira do restauran te chegar à cidade é em um evento gratuito. Claudia conta que lançar a marca em um evento como esse é mostrar que ela foi feita para todos.

GislaineSukewski, da Mundo Livre FM, disse que além do patrocínio, que teve apoio de clientes como Hospital das Nações, a rádio indicou algu mas bandas para se apresen tarem no palco TUC.

Porém, a respeito da seguran ça, foram registradas algumas

reclamações no entorno de palcos como Ruínas e Boca Maldita. De acordo com a FCC, por meio de sua asses soria de imprensa, os respon sáveis eram a Polícia Militar (PM) e a Guarda Municipal (GM). A PM informou, através de sua assessoria de impren sa, que ofereceu apoio à GM, mas, que a divisão municipal era a principal encarregada, além de não ter sido regis trada nenhuma ocorrência. Segundo a assessoria de im prensa da Guarda Municipal, foram disponibilizadas três viaturas para atendimento em ambos os lugares.

Ópera e festival de cinema na programação de sexta-feira

Com atrações concentradas basicamente no Centro, quase todos os eventos foram gratuitos e em horários acessíveis

Fabíola Junghans

Ana Lucy Fantin

2ª período

programação da Corrente Cultural na sexta-feira (06) contou com diversas atrações por toda a cidade. Entre eles, a exposição fotográfica Perfil, a mostra de cinema Huesca, a peça Beijo na Nuca e a Ópera Orquestra de Curitiba Noites de Gala Lírica.

As fotos, exibidas na Casa Ro mário Martins, deram nome à exposição fotográfica Perfil. Composta de imagens feitas por jornalistas da Gazeta do Povo e pelo colunista José Carlos Fernandes, a exibi ção retratou o cotidiano de pessoas comuns em situações específicas de suas rotinas.

O Paço da Liberdade também participou da Corrente dando espaço para a mostra de cine ma Huesca, que exibiu vários curtas, incluindo o brasileiro

“Tomou Café e Esperou”, ga nhador do concurso ibero-a mericano de curta metragem. A competição está vinculada ao instituto Servantes da Es panha, que liberou a exibição do filme exclusivamente para o Paço durante a semana que começou no dia 02 de novem bro. A técnica de atividades do local, Jussara Batista disse que, em sua opinião, a divulgação do evento foi fraca por parte do Paço e também da Fundação Cultural de Curitiba (FCC).

A peça Beijo na Nuca, de Dal ton Trevisan, ficou em cartaz no teatro Novelas Curitibanas. Dirigida por João Luiz Fiani, o único diretor autorizado pelo próprio autor para reproduzir suas obras. A peça, que está em cartaz desde outubro, foi exibida gratuitamente para o

público na Corrente Cultural. “A peça conseguiu reproduzir com perfeição o lado sombrio de Dalton Trevisan”, disse o fotógrafo Gabriel Pauleto, que acompanhou a peça.

E a Opera Orchestra Curyti ba realizou a primeira Gala Lírica da Corrente Cultural na sexta-feira. Foi uma apre sentação de ópera na Capela

Santa Maria que contou com artistas curitibanos e a par ticipação do barítono austrí aco Norbert Steidl, para um público de aproximadamente 100 pessoas. A aposentada Adriana Casagrande e seu marido Volnei de Sá, disse ram que o espetáculo merecia uma divulgação e produção maiores do que recebeu.

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Peça dirigida por Fiani apresenta o enredo de Dalton Trevisan Rafaela Cortes Bruna Bonzato

Shows de sábado animaram o público

Com músicas para todos os gostos, as atrações do quinto dia da corren te conseguiram atingir espectadores variados

No quinto dia da Corrente Cultural, 07 de novem bro, os palcos: Rádio Mundo Livre FM – Ruínas; TUC – Te atro Universitário de Curiti ba; Praça da Espanha; 29 de Março; receberam diferentes vertentes musicais, todas com shows gratuitos para promo ver a cultura em Curitiba.

A respeito de como ocorreu a seleção das atrações musicais que participaram da Corrente, Rodrigo Chavez, baixista da banda Trombone de Frutas, disse que eles já tinham par ticipado das viradas culturais de Guarapuava e Cascavel. “Quando as inscrições foram

abertas nós mandamos o nosso material e pelo critério de pontuação e populari dade nós felizmente fomos escolhidos”, finaliza.

Contudo, os espetáculos no palco Rádio Mundo Livre FM – Ruínas começaram com 40 minutos de atraso, isso mudou o cronograma e prejudicou as pessoas que pretendiam assistir atrações da Corrente que estavam em outros locais da cidade. Fernanda Gomes, que chegou às 12h para assistir ao show da banda Djoa, e às 13h para aproveitar a apresenta ção do Nomad Magush no

palco eletrônico, o qual não conseguiu assistir.

Outra reclamação do palco Ruínas foi a falta de fiscaliza ção para a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos e a grande quantidade de drogas no ambiente. Amanda

Frio não atrapalhou o último dia de Corrente

Os principais shows de domingo aconteceram com poucos minutos de atraso e tiveram duração de aproximadamente uma hora

A Corrente Cultural 2015 se encerrou com frio e chuva no domingo (08), mas, se engana quem acredita que o clima instável prejudicou a animação da galera. De acordo com a Fundação Cultural de Curitiba (FCC), por meio de sua assessoria de impren sa, as atrações do palco Hard Rock Café – Boca Maldita, no centro da cidade, atraíram mais de 65 mil pessoas.

O rapper Emicida abriu os shows do dia no local às 11h15 da manhã com a música auto ral “Boa Esperança”, trazendo referências ao 20 de novem bro, dia Nacional da Consci ência Negra.

A Big Time Orchestra relem brou o passado iniciando o

seu show com “Crazy Little Thing Called Love” da banda Queen. O octeto também tocou a autoral “Boca Maldi ta” e fez covers de músicas nacionais, entre elas “Sonífera Ilha”, dos Titãs. A sueca Sophia Wallim, que está em Curitiba a trabalho, acompa nhava o show e achou ótimo que as pessoas estejam apro veitando a cidade juntas.

Pontualmente, às 16h, a ban da Relespública subiu ao palco Mundo Livre FM – Ruínas, no São Francisco. Marcos e Roberta, fãs dos roqueiros há aproximadamente 15 anos levaram a filha Isis, de 13, para assistir ao show. Para Rober ta, o diferencial da Corrente Cultural é ser um evento de faixa etária livre.

De volta ao palco principal, na Boca Maldita, as calçadas e um trecho da Avenida Luis Xavier ficaram lotados de pes soas esperando pelo sambista Diogo Nogueira e a Orquestra a Base de Cordas que se apre sentou com ele.

O pouco espaço que ainda tinha na Boca Maldita foi ocu pado por quem queria ver a baiana Pitty Leone. Hóspedes de hotéis do entorno foram

Figueira, que estava com o marido e dois filhos aprovei tando os shows no período da tarde, demonstrou sua insatisfação com a segurança e afirmou que esse problema é o que a impediu de ficar para o show da banda Suricato, que começou meia-noite.

às sacadas e prédios histó ricos que ficavam próximos ao palco foram escalados. Sucessos como “Anacrônico”, “Equalize”, “Teto de Vidro” e “Me Adora” foram interpretados pela cantora. A falta de espaço levou o público a um empurra-empurra que resultou em briga. A 1h20 de show foi finalizado com o hit “Serpente”, quando bexigas brancas foram soltas pelos fãs da roqueira.

05 Curitiba, 26 de Novembro de 2015
Cidades
Julyana Dal’ Bó Banda Trombone de Frutas agradece aos fàs no palco ruínas Show da Pitty marcou o encerramento da Corrente Cultural 2015 Fernanda Yumi Ana Luiza Moraes 2ª período Bruna Bonzato
2ª período

Economia Reação em cadeia

Aumento no preço da gasolina causa impacto no bolso do consumidor e reflete na valorização do etanol

L ogo no início do mês de outubro, o consumidor teve um gasto a mais pesando nas contas. No dia 29 de setembro, a Petrobras anunciou que os preços de venda da gasolina e do diesel passariam por reajustes. Os aumentos, de 6% e 4%, respectivamente, começaram a ser repassados pelos postos já no início do dia 30 de setembro, incenti vando o aumento não apenas desses combustíveis, mas tambémdo álcool.

Essa reação em cadeia, que a diferença de aproximadamen te R$ 0,20 causou em toda a estrutura de venda dos com bustíveis, vem preocupando tanto quem trabalha com a revenda, quanto o consumi dor. De acordo com Claudio Tavares, assessor da distribui dora e dos postos Santa Lucia, é grande o temor de que o etanol continuará subindo de preço e, nas próximas sema nas, acabe forçando um novo aumento da gasolina, que possui 27,5% de etanol anidro em sua composição.

Segundo Tavares, o início da entressafra da cana pode ser responsável por ocasionar esse aumento. Com a alta do dólar, as usinas fabricam mais açúcar para exportação e re duzem a produção do etanol, visando aumentar o lucro.

A Petrobras, justificando a forma como esse novo valor se configura no mercado, anunciou também que os preços sobre os quais inci dem o reajuste não incluem tributos federais, como Cide e PIS/Cofins. Isso quer dizer que a alíquota dos impostos incidirá sobre o novo valor, o que pode gerar um impacto

ainda maior na bomba de ga solina. Devido a isso, Tavares acredita ainda que a gasolina passará dos R$ 4,00 o litro em 2016, quando o ICMS subir, podendo chegar até R$ 4,30.

Na visão do economista Pedro Martins, “a Petrobras aumentou os combustíveis devido à alta do dólar, visto que boa parte da dívida dela (Petrobras) está indexada em dólares, logo a dívida explo diu”. O economista ainda afirmou que atualmente está mais rentável abastecer com gasolina, já que o preço do álcool também subiu.

Com a disparada do dólar a defasagem do preço da gasolina no país praticamente dobrou. Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraes trutura (Cebie), a diferença entre os preços praticados no país e a cotação interna cional subiu de 3% no dia 21

de setembro para 5,8% no dia 23, considerando o dólar a R$ 4,10. No caso do Diesel, a Petrobras ainda tem margem de lucro com a venda do produto importado, mas a diferença caiu de 11,7% para 8,4%.

A situação se complica ainda mais quando analisada junto ao histórico de lucratividade da empresa. Dados divulga dos por meio do balanço anual da Petrobras indicam que, no ano de 2014, o prejuízo gerado pelo exercício foi de R$ 21,58 bilhões. Esse valor representa praticamente o inverso do apurado em 2013, quando a estatal teve lucro de R$ 23,6 bilhões. Com o intuito de aumentar a arrecadação, em junho desse ano a companhia anunciou a redução de 37% nos investimentos até 2019, e logo em setembro já recorreu também ao reajuste dos pre ços dos combustíveis.

Histórico

Aumentos anteriores feitos pela Petrobras

• Em novembro de 2014, a gasolina so freu aumento de 3% e o diesel de 5%.

• Em janeiro de 2015, a tributação incidente sobre a gasolina e o diesel foi elevada. De acordo com o Fisco, o impacto seria de R$ 0,22 por litro para a gasolina e de R$ 0,15 para o diesel.

06 Curitiba, 26 de Novembro de 2015
Aumento do preço da gasolina faz motoristas pensarem duas vezes antes de abastecer Julia Favaro Linhares

Alta das mensalidades escolares preocupa pais e alunos

Reajuste da conta de luz é um dos fatores que pressionam o valor

Com o atual cenário econô mico do país, o reajuste anual das mensalidades vem preocupando pais e estudan tes, que muitas vezes têm dificuldades para se manter em instituições particulares de ensino.

A projeção de inflação de 2015, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), é de 9,04% e, para 2016, é de 5,45%. Além disso, o reajuste da conta de luz, que, neste ano, já subiu 48%, são fatores que devem contribuir para o aumento das mensali dades. Flora Guedes, assesso ra de imprensa do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe-PR), justifica que esse reajuste é feito com base nas planilhas de custo de cada escola e, por conta disso, cada instituição tem autonomia para estabelecer o acréscimo necessário. São le vados em consideração nessa planilha o número de alunos e as despesas da escola.

De acordo com a diretora e proprietária da escola Projeção, Leda Dalpiaz, o número de inadimplentes aumentou, em média, 30% em 2015. Nes ses casos, a escola entra em contato com os pais e tenta fa zer um acordo – como parce lar a mensalidade, isentar um pagamento para que o acerto seja feito no mês subsequente ou negociar com cheques pré -datados, mas sempre visando não prejudicar o aluno.

Em alguns casos, a escola oferece bolsas parciais de estudo. Para isso, são conside radas as condições financei ras, o desempenho do aluno e a participação e interação

dos pais com a escola. Leda afirma que, do ano passado para este, cerca de 5% dos seus alunos se transferiram para alguma escola pública. “É uma pena, em função de tudo que a escola oferece, como aulas de natação, judô e ginástica artística, e de todas as possibi lidades que a criança tem aqui dentro”, completa.

está no terceiro ano do ensino médio e possui bolsa integral no colégio Nossa Senhora da Assunção, afirma que se não tivesse conseguido esse bene fício, a filha estaria estudando em uma instituição pública. Já a filha mais nova, Maria Vitoria Christoval, segue em uma escola municipal, pois até agora não conseguiu uma bolsa. Para conceder esse

– auxílio que permite aos estudantes pagarem metade do valor do vale transporte.

Uma das condições impostas pelo ProUni é que o aluno tenha 75% de rendimento no semestre. Caso isso não aconteça, um primeiro aviso é mandado e o estudante tem que assinar um termo de ciên cia de que está correndo risco

Devido ao aumento dos gas tos, principalmente com as contas de luz, será necessário aumentar o valor da mensali dade. O reajuste deve ficar en tre 8% e 10%, mas, para quem já é aluno da escola e fizer a rematrícula até novembro, o valor será mantido, justa mente para não perder esses alunos, conclui Leda.

Medo do reajuste

A advogada Idamara Rocha diz estar preocupada com o reajuste da mensalidade da faculdade de seu filho, prin cipalmente pelo fato de não ter previsão de quanto será o valor do acréscimo.

Andreza Christoval, mãe da aluna Bruna Christoval, que

benefício, o colégio avalia a situação financeira da família e o histórico escolar do aluno. No entanto, impõe condições para esses alunos bolsistas: frequência acima de 80% e rendimento escolar acima da média 7,0.

A estudante do 4º período de engenharia de produção da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Camille Zanette, conseguiu a bolsa integral por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni) e afirma que não tem gastos elevados com materiais, pois seu curso não exige muito xerox, mas, mesmo assim, tenta reduzir as despesas evitando comer na faculdade. E, ainda assim, é beneficiária do passe escolar

de perder o benefício e se, novamente, ele não conseguir atingir a média, a bolsa de estudos é cancelada.

Lys Leme, que também cursa engenharia de produção na PUCPR e está no 3º período, teve que assinar o termo pela primeira vez. E, por medo de perder a bolsa, já que não estava conseguindo conci liar faculdade com trabalho, trancou um semestre do curso. Uma reclamação das duas estudantes é que, por terem estudado em colégios públicos, tiveram um ensino médio precário, o que impli cou na dificuldade de acom panhar as disciplinas, já que não estavam preparadas, por consequência do déficit em matemática básica.

07 Curitiba, 26 de Novembro de 2015 Economia
Esse reajuste é feito com base nas planilhas de custo de cada escola e, por conta disso, cada instituição tem autonomia para estabelecer o acréscimo necessário”

Política

Minha Casa Minha (Dí)Vida

Único programa habita cional do governo federal não cumpre a Constituição, que define a mora dia como um direito de toda população

O programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) foi criado pelo governo federal em abril de 2009 com o obje tivo de tornar a aquisição de imóvel acessível às famílias de baixa renda.

O MCMV, no entanto, não atinge toda a população que deveria ser contemplada, pois para participar do programa é necessário ter uma renda mí nima. De acordo com o artigo 6º da constituição brasileira são direitos sociais a moradia, a segurança, a previdência so cial, a assistência aos desam parados, entre outros.

com uma altíssima taxa de juros para ter um lugar para morar, uma vez que o MCMV se trata do único programa habitacional fornecido pelo governo federal.

Questionada sobre a cobrança de renda mínima para partici par do programa, a advogada explicou que essa política assistencialista praticada pelo governo atual prevê a renda mínima para obtenção de re sidência porque isso é neces sário para suprir os encargos do programa. Caso contrário, a verba destinada a ele seria insuficiente para a construção de tantas casas.

Flávio Osten participou do programa em julho de 2011 e contou que se inscreveu diretamente na Caixa com seu gerente de relacionamento. Segundo Osten, o banco cum priu o prazo estabelecido de entrega do imóvel e o MCMV correspondeu às suas expec tativas, e a casa adquirida foi suficientemente boa para ele e sua família. “Eu precisei fazer financiamento, o qual foi muito bom e teve juros muito melhores do que as demais opções do Brasil”.

Já Elizabeth Mann tentou se inscrever no programa em 2010, mas como pretendia

Como funciona o programa

As casas, sobrados e apartamentos produzidos em função deste convênio têm comercialização diferenciada, conforme a faixa de renda.

Faixa I

Até R$ 1.600,00

Subsídio de até 96% do valor do imóvel. As famílias beneficiadas pagam 5% da renda durante 120 meses.

Faixa II

R$ 1.600,00 - R$ 3.2750,00

Considerando o texto cons titucional, a advogada civil Flávia Weber afirmou que o programa MCMV não supre direito à moradia da popu lação brasileira. Trata-se de uma política governamental que atinge apenas parcela da população que possui uma renda média familiar mínima, não abrangendo moradores de rua que ficam desampa rados, apesar de o direito à moradia ser uma garantia constitucional.

Flávia ainda apontou que quem não tem condições de associar-se ao programa pela falta de renda tem que continuar pagando aluguel ou financiar um imóvel

Mário Meira, funcionário da área de financiamento da Caixa Econômica Federal, diz que o programa funciona bem e tem ajudado muitas pessoas a realizar o sonho de ter casa própria. No entanto, ele tam bém afirmou que para os par ticipantes terem mais sucesso no convênio, é necessário que eles sejam bem orientados sobre como funciona o MCMV e os planos de financiamen tos, para que “seu sonho não se torne pesadelo”. Pois, segundo Meira, apesar de a Caixa sempre tentar orientar os participantes, algumas vezes acontece de alguém não ter a informação correta e se endividar.

entrar com seu fundo de garantia, não pôde participar da redução de custo com o MCMV. “No MCMV para com provar renda é complicado, a bonificação depende disso, é muito difícil. Quanto menos renda mais bonificação é rece bida, mas o preço da entrada é muito alto. E quanto maior a renda menos bonificação, mas o custo da entrada é mais baixo”, explicou.

Nessas circunstâncias, Elizabeth preferiu entrar com o plano do fundo de garantia, pois além de ser mais vantajoso, ela não se enquadrou em nenhuma das faixas do MCMV.

As famílias podem conseguir até R$ 25 mil de subsídio do governo.

Faixa III

R$ 3.2750,00 - R$ 5.000,00

Não oferece nenhum tipo de subsídio. Há desconto no valor dos seguros obrigatórios e uma baixa taxa de juros, de 6% a 8% da renda.

08 Curitiba, 26 de Novembro de 2015
No MCMV para comprovar renda é complicado, a bonificação depende disso, é muito difícil”

Política

Projeto de lei pretende combater os fura-catracas em Curitiba

Proposta tramita na Câmara e prevê multa para quem for flagrado entrando nos ônibus sem pagar

O s chamados fura-catra cas são os passageiros que utilizam o transporte coletivo, mas não pagam pelo serviço, eles passam pelos tubos e catracas de ônibus sem desembolsar o dinheiro da passagem. Para combater esses infratores, o vereador Rogério Campos (PSC) propôs na Câmara Municipal de Curi tiba um projeto de lei para puni-los. A proposta é que a multa seja equivalente a 50 tarifas, que atualmente soma ria R$ 165,00, e que os valores arrecadados sejam destinados ao Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC).

O político, que já foi motorista de ônibus, afirma ter passa do por essa situação várias vezes e se preocupa com o quanto a ação é recorren te. Para Campos, algumas pessoas se deixam influenciar e cometem a mesma infração dos fura-catracas. “Algu mas pessoas tem ‘entrado na onda’, pois veem que os fura-catracas que cometem a infração não são penalizados. Tem que haver uma punição”. Se aprovado, o projeto terá o suporte da Urbanização de Curitiba (URBS), da Guarda Municipal (GM) e Polícia Mi litar (PM) para que haja maior fiscalização e punição para quem desobedecer.

Segundo a URBS, o sistema de transporte público de Curitiba transporta diariamente 1,7 milhão de passageiros e são registrados 750 casos de fu ra-catracas por dia, conforme um levantamento feito pelo órgão em março deste ano. A orientação dada é que, ao perceberem um fura-catraca, os motoristas devem parar o veículo, acionar o Centro

de Controle Operacional (CCO) e a GM e aguardar a chegada dos agentes com as portas fechadas.

De acordo com a GM, a fiscali zação não é algo simples como parece pois, quando uma estação-tubo está sendo mo nitorada, consequentemente a pessoa que pretende furar a catraca se desloca ao tubo à frente e faz o embarque sem pagar a tarifa. Segundo dados disponibilizados pelo órgão, em 2014 foram registrados 350 denúncias e dois flagrantes e até setembro deste ano 499 denúncias e seis flagrantes.

Mauro Jorge Magalhães, téc nico de operações do Sindi cato das Empresas de Trans porte Urbano e Metropolitano de Passageiros de Curitiba e Região (Setransp), relata que os fura-catracas costumam atuar próximos às escolas e bairros em situação de vulne rabilidade social. Magalhães apresenta uma pesquisa, que ainda não está fechada, mas que norteia a quantidade de cidadãos que burlam o sistema das tarifas de ônibus em Curitiba. “A pesquisa

funciona da seguinte manei ra: a gente distribui formulá rios para os cobradores, eles respondem de acordo com os momentos que ocorrem as in vasões e quais são os tipos de invasores. Os resultados são de 700 estudantes por dia, 400 usuários comuns por dia e 190 infratores em dias de jogos”, explica o técnico.

Maria Gruska, coordenadora de serviços gerais e usuária do transporte coletivo, considera que os infratores desrespei tam quem paga passagem todos os dias. “Eu vou para o serviço de ônibus e volto também, gasto R$ 6,60 todo dia. Quando eu vejo alguém não pagando eu falo para o cobrador mesmo, é nosso dever cobrar nossos direitos. Eu acho que esse vereador fez um projeto bom, só precisa arrumar um jeito eficiente de fiscalizar”, disse.

Para o motorista Odair José Fernandes, que hoje trabalha na linha Interbairros e já fez a linha Alferes Poli, que liga o Centro de Curitiba ao Parolin e é a mais afetada pelo problema dos fura-catracas, a pro

posta do vereador é urgente e necessária. “Um colega, amigo meu, apanhou. Enquanto um menino o segurava, o outro o batia. Ficamos em um im passe porque se não fizermos nada somos multados. É um absurdo, isso é dever da polí cia, não nosso”, desabafa.

Medida Prévia

De acordo com a URBS, o incentivo a não cometer in frações no transporte coletivo pode começar nas escolas.

Em setembro do ano passado, iniciou-se um programa de conscientização que o órgão fornece e viabiliza. Todos os meses uma turma de alunos da primeira e quinta série do ensino fundamental munici pal é recebida na URBS, eles acompanham a operação do transporte, inclusive, vendo imagens dos fura-catracas e vandâlos. Segundo a entidade, os quase 600 participantes que já passaram pelo projeto, se mostram sensibilizados e dispostos a colaborar com a preservação do bem público.

09 Curitiba, 26 de Novembro de 2015
Giulie Carvalho O autor do projeto afirma que muitos usuários se aproveitam dos fura-catracas para também cometer a infração Giulie Carvalho 6º período

Polícia Casos de desaparecimentos vivem às sombras

Famílias buscam alter nativas na esperança de reencontrar parentes

T odo ano, centenas de pessoas desaparecem em Curitiba, e parte dos casos permanece sem solução. Até o dia 30 de setembro deste ano, a Polícia Civil do Paraná re gistrou 810 casos de desapare cimento na cidade. Em 2014, houve registro de 930 casos. Estes números incluem, além dos registros por boletim de ocorrência e pelo site da polícia, dezenas de casos que são recebidos diretamente das varas da infância e das pro motorias de justiça dos idosos e pessoas com deficiências.

De acordo com dados forne cidos pela assessoria de im prensa da Polícia Civil, foram localizados 761 desaparecidos em 2014. Já em 2015, o número chega a 679 até setembro, en fatizando que os desapareci dos ficam no banco de dados até serem localizados e que as investigações são constante mente atualizadas através de contatos com familiares e ou tros serviços. Mesmo assim, as famílias sofrem com a falta de informações.

A Organização Não Governamental (ONG) Mães da Sé, surgiu em 1996 em parceria com a Associação Brasileira

de Busca e Defesa à Crian ça Desaparecida (ABCD), e abrange todo o país. A ONG aponta que a falta de informatização e de políticas de comunicação entre as polícias estaduais brasileiras torna difícil a apuração do número anual de desaparecimento de pessoas no país, quais os principais motivos e um perfil do desaparecido. A última grande pesquisa aprofundada sobre o assunto foi em 1999, e revela que cerca de 200 mil pessoas somem no Brasil todos os anos. O Movimento Nacional de Direitos Huma nos, com o apoio do Ministé rio da Justiça, foi responsável pelo trabalho.

Uma classificação realizada pelo Ministério da Justiça, aborda os tipos mais frequen tes de casos registrados em delegacias de polícia espa lhadas pelo país: fuga do lar; conflitos de guarda; rapto consensual (fuga com namo rado(a) por exemplo); perda por descuido, negligência ou desorientação; situação de abandono; vítima de acidente ou calamidade; tráfico para fins de exploração sexual; sequestro; fuga de institui ção; suspeita de homicídio

e extermínio; envolvimento com drogas.

A Polícia Civil, por meio de sua assessoria de impren sa, alerta que as primeiras horas decorridas após o desaparecimento são as mais importantes, e que identificar testemunhas, o local provável de deslocamento, mudança de rotina, tentativas de contato sem êxito, mostram a necessi dade de comunicação imedia ta com a autoridade policial em qualquer delegacia, mas de preferência, na Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

O caso de João Rafael

João Rafael Kovalski desa pareceu em agosto de 2013, na cidade de Adrianópolis, Região Metropolitana de Curitiba, poucos dias antes de completar dois anos. O me nino foi visto pela última vez quando brincava com a irmã gêmea no quintal da casa dos avós. O casal de amigos da família, Rafaela dos Santos Ferreira e Diego Roberto dos Santos Rosa, conta que os vizinhos e familiares ajudaram a procurar, mas não encon traram vestígios. “Diego viu o João poucos dias antes dele desaparecer. São primos de consideração”, conta Rafaela.

As investigações nunca pa raram, mas Rafaela diz que a mãe do menino, Lorena Ko valski, sofre muito com a falta de apuração de informações por parte da polícia. “Lorena nota certo descaso. Todos quiseram ajudar na época, mas agora não se fala muito no assunto”, afirma. Lorena procurou outras alternativas,

e além de divulgar o perfil do filho em vários meios de comunicação, a mãe de João também contatouw a Mães da Sé para buscar mais apoio sobre o caso.

A Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros e o Serviço de Investigação da Criança Desa parecida (Sicride) trabalham no caso e o inquérito corre sob sigilo de justiça.

Por mais eficiência

O texto-base do projeto de lei de iniciativa popular, criado pelo movimento “Mães da Sé”, em 2012, exige principalmente delegacias especializadas, criação de um sistema in tegrado em todo território nacional e maior divulga ção em meios de comu nicação. O projeto precisa de mais de 1,4 milhão de assinaturas, sendo que no Paraná, são necessárias pelo menos 23 mil. Até se tembro deste ano, pouco mais de 17 mil brasileiros aderiram ao movimento. O abaixo assinado pode ser acessado pelo site “abaixoassinadobrasil. com.br/site/assine/”.

10 Curitiba, 26 de Novembro de 2015
Carolina Piazzaroli Falta de divulgação é um dos fatores que intensificam o problema

Surfistas urbanos

Curitibanos saem da capital em busca de lazer em alto mar

O surfe, esporte trazido ao Brasil pelos norte-ameri canos, tem crescido em todo o país nos últimos anos. Essa popularização se reflete no ce nário nacional do esporte, que atualmente conta com quatro brasileiros entre os 10 melho res do mundo. Inspirados por nomes como Gabriel Medina e Miguel Pupo, curitibanos de todas as idades, saem da capital constantemente para treinar no litoral em busca de lazer.

O estudante Mateus Mengat to, que surfa em Pontal do Paraná, diz que escolheu a praia devido à pouca distância de Curitiba, cerca de 100 km, porém, afirma que a quali dade das praias do estado de Santa Catarina é melhor em comparação com as do

1h30 de distância, tempo que demoramos a chegar em casa após a faculdade, às 18h, ou seja, morar em Curitiba não é nenhuma desculpa para quem realmente gosta de surfar”, disse o jovem surfista.

Já para o estudante de direito, Caio Bezerra, as dificuldades de morar em uma cidade sem praia são manter a evolução, os gastos e a dedicação neces sária ao deslocar-se de uma cidade a outra para surfar. Para ele, além destes pontos negativos, a manutenção do condicionamento físico para o esporte é também uma gran de exigência, uma vez que morar longe do mar impede o treinamento diário. Além disso, Bezerra conta que, às vezes, outros imprevistos como acidentes na estrada e

o chamado bate-volta, é co mum. Normalmente vão cerca de quatro amigos, o custo da gasolina é divido entre todos e, nesses casos, o valor gasto em toda viajem não passa de R$ 20,00.

escola está aberta o ano todo e há pacotes de aulas oferecidos com duração de um dia.

Paraná, devido à limpeza e à altitude das ondas. É o caso do aluno de medicina, Lucas Benatti, que para surfar se desloca a Guaratuba por ser mais perto e também à Balne ário Camboriú, em razão da condição da região.

Para Benatti, morar em Curitiba não traz dificuldades para a prática do surfe, pois ele leva pouco tempo para chegar às praias. O estudante relata que até mesmo para o litoral catarinense, o trajeto dura menos de 3h até já estar dentro do mar. “As praias do litoral paranaense estão a

erros na previsão do tempo também o atrapalham.

A rotina dos dois estudantes, nas datas que escolhem para surfar, é muito parecida. No dia anterior à viagem, eles preparam o café para o dia seguinte e dormem cedo. Pela manhã, acordam por volta das 4h, se reúnem com os amigos e prendem as pranchas no carro, dessa maneira, estão prontos para partir às 5h da manhã. Em seguida, ao chega rem à costa, surfam das 7h às 11h e antes das 14h, já estão de volta à capital. Segundo os jo vens, ir e voltar no mesmo dia,

Além de pessoas que saem da cidade para se divertir em alto mar sem a ajuda de profissio nais, há aqueles que procuram investir em um aprendizado mais completo no esporte. Se gundo o fundador e professor da escola de surfe Prainha, em São Francisco do Sul, em Santa Catarina, Marcos José Ribeiro, muitos alunos vêm da capital paranaense para aprender a surfar. Ribeiro conta que a maioria dos seus alunos em alta temporada são crianças e durante o resto do ano são adultos. Porém, é difícil citar um número exato de alunos curitibanos, já que a

Já para aqueles que se inte ressam pelo esporte e prefe rem não sair da Curitiba, é possível encontrar escolas que ofereçam aulas dessa modali dade esportiva na cidade. É o caso da academia e escola de natação Mobi Dick, localizada no Centro Cívico, que oferece aulas de surfe para iniciantes e treinamento para quem já possui experiência. Segundo o professor responsável pelas aulas, Luís Fernando Martins, formado em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), as aulas são feitas em uma piscina comum, na qual se aprende toda a técnica necessária, começando pelas remadas até ficar em pé nas pranchas. Mas, Martins admite que nada se compara a estar realmente no mar, por isso passeios até praias di versas são feitos uma vez por mês. São cerca de 70 alunos e a mensalidade varia entre R$ 200,00 e R$ 300,00.

11 Curitiba, 26 de Novembro de 2015
Polícia
“Morar em Curitiba não é nenhuma desculpa para quem realmente gosta de surfar”
Thomaz Bosquetto pronto para surfar em Pontal do Paraná Ana Lucy Fantin

Esportes Dois tacos, uma bola e uma lata de azeite

Campeonato “Mundial” de Bets contou com a inscrição de 122 atletas vindos de vários estados brasileiros, e até um alemão

C uritiba sediou, nos dias 14 e 15 de novembro, o 1º Campeonato “Mundial” de Bets. As partidas aconteceram na Praça dos Menonitas, no Boqueirão e contaram com 56 duplas participantes. Com a transferência das datas para o segundo final de semana do mês, devido ao tempo chuvoso, houve uma redução no número de inscritos, que inicialmente era de 64 times.

Os jogos foram separados em três categorias: femi nino, masculino e misto. Cada uma delas partindo do mata-mata por oitavas de final, seguindo até a premiação dos campeões.

Os competidores foram responsáveis pela elaboração das camisetas representantes de cada dupla e a organização se encarregou da personalização dos tacos utiliza dos nas partidas para que ficassem padronizados.

O idealizador do campeonato, Glauco Silveira conta de que forma surgiu a ideia de orga nizar o evento: ‘’veio de um post que vi na internet de dois

pedaços de pau e uma lata de azeite, que dizia ‘’se você sabe a relação desses objetos, você teve infância’’. Inicialmente, a intenção era aprontar algo en tre amigos e família, mas após uma breve divulgação em uma rede social, o Mundial obteve sucesso. No entanto, apenas dois anos depois, o evento de fato aconteceu.

Ao enviar o projeto da competição e conseguir a liberação para o uso da Praça dos Menonitas com a Prefei tura de Curitiba, a mesma publicou em sua página do Facebook que as inscrições para o Mundial estavam, finalmente, abertas. A procura foi uma surpresa para Silveira, que não esperava tamanha visibilidade.

Ele ainda aponta algumas falhas na inscrição e na orga nização, por ser a primeira edição do Campeonato Mun dial de Bets, mas já conta com a ideia de fazer uma segunda em abril de 2016. Os locais vi

sados para o próximo projeto são Jardim Botânico, Parque Barigui ou o Estádio do Tries te, em Santa Felicidade.

Silveira comenta que o evento é considerado de nível Mundial, pela presen ça de um amigo nascido na Alemanha que vive no Brasil e tem dupla cidadania. Além disso, participantes vieram de outras cidades como Londrina, Castro e São Paulo, caso de Daniel Bolda, integrante da dupla Bets Richa, que logo foi eliminada na primeira rodada.

Os membros da equipe Cabe ça Dinossauro, Tiago Ferraz e Aline Pirez contam que jogam bets desde a infância e decidi ram inscrever-se no cam peonato pelas memórias de quando criança. Ferraz ainda conta que foi fácil participar do evento e descobriram tudo pelas redes sociais.

Bruno Vieira, convidado a participar do campeonato

após um amigo inscrito não ter podido ir ao evento, conta que joga bets desde criança e apoia a iniciativa da orga nização do Mundial. E ainda acrescenta que a escolha da Praça dos Menonitas para sediar o evento foi adequada.

Um dos espectadores dos jogos, Ivan Luiz, disse que o evento poderia acontecer mais vezes e que futuramen te pretende participar do campeonato. Luiz conta que não se inscreveu nessa edição, pois ‘’foi a primeira vez que eu vi essa divulgação em massa, e pensei em ver como seria, até relembrar algumas regras’’. Ainda comenta que alguns aspectos como a estrutura, patrocinadores e equipes deverão ser aprimoradas com o tempo.

Os campeões não estavam contando com a chuva no fi nal do segundo dia, mas o mal tempo não foi empecilho para a finalização dos jogos.

12 Curitiba, 26 de Novembro de 2015
2º período Vitória Gabardo Partidas foram disputadas na Praça dos Menonitas, no Boqueirão Vitória Gabardo
Confira as classificações • 1º lugar categoria masculina - Metal Flex; • 1º lugar categoria feminina - Elisabet’s; • 1º lugar categoria mista - Monison.

Determinação e superação

A vida de um adolescente que não se deixou abalar por uma deficiência física

E ric Tavares dos Santos é um garoto de 19 anos que já ganhou diversas competi ções de natação brasileiras e mundiais. Muito simpático e alegre, luta muito todos os dias para alcançar o seu objetivo: ser um grande atleta paralímpico.

Nasceu com uma má forma ção congênita no membro inferior direito, por isso, aos nove meses de idade, Eric teve que passar por uma cirurgia para amputar sua perna. Co meçou a utilizar sua primeira prótese com um ano de idade.

De família muito boa e dedicada à sua boa criação, nunca teve problemas no seu crescimento. Apesar de algumas vezes sofrer algum tipo de preconceito isso nunca foi motivo para abalá-lo. Sua deficiência sempre foi um motivo de orgulho.

– Meus pais sempre me cria ram como uma criança que não tem deficiência, nunca tive problemas, graças a isso eu não tenho preconceito hoje em dia.

Um menino bem resolvido e com sua família sempre o apoiando, Eric cresceu como uma criança comum, como qualquer outra descobrindo o mundo.

– Nunca impuseram um limi te pra mim, eu ia lá e desco bria o que eu queria fazer, o que eu podia fazer e como eu podia fazer.

Na escola tinha muita resis tência aos estudos, nunca se adaptou aos métodos de ensi no. Fugia dos estudos para se dedicar ao esporte.

Voltado para as atividades físicas, sonhou em ser joga dor de futebol, mas não era possível se tornar um jogador profissional paralímpico, pois apenas cegos participam do esporte. E assim a natação entrou em sua vida.

Na escola praticou diversos esportes, futsal, handebol, vo lei. Até que certo dia sua professora de natação e educação física o convidou para nadar com sua equipe, e Eric topou. Sabendo nadar os quatro estilos, a professora o chamou para uma competição e as medalhas foram surgindo.

Em sua primeira competição, nos jogos escolares, ganhou todos os estilos de natação. Com sua determinação e foco, o garoto foi surpreendo. Após tantas vitórias, foi convocado para participar dos jogos esco lares representando o Paraná. Nadou m bem, representou o estado com muito orgulho e atingiu a classificação que

barreiras do dia a dia

todo atleta paralímpico preci sa obter para ter uma qualifi cação internacional.

Depois de conquistar a clas sificação, conheceu uma das mulheres que classificam os nadadores conforme sua defi ciência, que lhe indicou o seu atual técnico, Rui Menslin, um dos treinadores da seleção brasileira, que possui cerca de seis paraolimpíadas. E, desde então, Eric pratica apenas com ele.

- Meu dia a dia é cheio de treinos, eu treino todo dia de manhã e as vezes a tarde. Eu treino sempre e cada vez mais, meu foco é essencial.

Graças à sua dedicação, já subiu ao pódio em diversas competições. Em 2011 recebeu a convocação para compor a Seleção Brasileira Paralímpica de Natação Júnior. Eric foi campeão mundial Júnior nas categorias 50 e 100 metros livres, em 2013. Além disso,

o garoto sagrou-se campeão Parapan-Americano Júnior nas categorias 50, 100 e 400 metros livres, no mesmo ano. Atualmente, ocupa o 5º lugar no ranking mundial de paratletas nos 50 metros bor boleta e é o segundo colocado das Américas.

– A minha primeira vitória foi em um campeonato escolar e hoje participo de campeo natos brasileiros e mundiais, panamericano, entre outros. Tenho certeza que vou longe.

Pensar em desistir nunca passou pela cabeça do atleta, sempre focado Eric tira forças de sua família para seguir no esporte e colocar uma meda lha paralímpica no pescoço, deixar não só seus pais orgu lhosos mas um país inteiro.

- Todos os dias são colocados à prova e provam que para alcançar qualquer objetivo só depende de nós mesmos, e é isso o que eu faço sempre.

13 Curitiba, 26 de Novembro de 2015 Literário
Apesar da deficiência, Eric supera cada vez mais as Renata Martins

Cultura 150 Anos de Alice e o desafio de reler clássicos

Principal obra do escritor inglês Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas completa um século e meio de publicação em 2015

N o ano de 2015, um dos maiores clássicos da literatura universal completa nada mais, nada menos que 150 de anos de publicação. Alice no País das Maravilhas, escrita por um professor in glês de matemática chamado Lewis Carroll, é até hoje uma obra de difícil definição. A história conquistou um lugar privilegiado no imaginário de várias gerações, tendo o non sense e a fantasia como suas principais características. Em Curitiba, rodas de leitura ce lebraram em outubro o ano de aniversário de Alice, retornan do à obra de Carroll através do trabalho de mediadores das Casas da Leitura da Fundação Cultural de Curitiba (FCC).

A personagem Alice, mesmo com um século e meio de idade, continua sendo uma menina e reverbera em tem pos atuais, tornando-se objeto de estudos e de inúmeras adaptações literárias, teatrais e, mais recentemente, versões para o cinema. Para o escritor italiano Ítalo Calvino, em seu livro Por Que Ler os Clássicos, “toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira”.

Ao pensar em um clássico, percebe-se que existem mui tas informações soltas sobre ele, especialmente aquelas relacionadas às versões cinematográficas. É aqui que entra o desafio de professores de literatura e profissionais voltados ao incentivo à leitura ao buscarem atrair a atenção de crianças e jovens para a história em seu formato origi nal, ou seja, o livro.

Para a mediadora de leitura Fabiane de Cezaro, da Casa de

Leitura Manoel Carlos Karam, o grande poder do clássico é a capacidade de se renovar através de realidades, tanto históricas, quanto pessoais. “Quando leio Alice no País das Maravilhas com crianças e jovens, em sua maioria não -leitores, estou propondo uma novidade, apesar de muitos deles já possuírem algum tipo de referência da personagem ou da história em suas memó rias”, pontua ela.

Ainda segundo a mediadora, as rodas de leitura dos 150 anos de Alice, promovidas nas Casas de Leitura distribuídas pela cidade e vinculadas ao programa Curitiba Lê - inicia tiva da FCC -, estão promo vendo a aproximação com mais intimidade do público com o texto literário. “Cada roda é uma surpresa, eles adoram o mundo da fantasia que envolve o livro. Já ouvi comentários do tipo: ‘ela (Ali ce) é muito esperta, pergunta sobre tudo’; ‘ela se sente sozi nha, pois mesmo encontrando outros personagens para conversar não tem nenhum amigo’, ou ainda ‘comer bolo tem resultado no tamanho da

vida real, a gente engorda’. São inúmeras as percepções de uma primeira leitura, mes mo sendo a primeira leitura de uma história tão falada e conhecida”, relata.

Para o professor de história e literatura, Cláudio Rodri gues, pode-se entender o que é a guerra, por exemplo, por meio da leitura de um livro de história, mas só é possível sentir o seu peso através da literatura. “O contato com livros clássicos vai muito além de uma contextualização his tórica: há sempre uma função humanizadora, e talvez seja essa uma das funções não-de claradas da literatura em si”, diz Rodrigues.

Um pouco mais de Alice Alice no País das Maravilhas não é propriamente um conto de fadas, os quais têm origem na tradição oral e, geralmente, carregam um conteúdo moral. Tampouco é uma obra surrea lista, pois o absurdo lida com valores humanos. O livro de Carroll se situa no campo da lógica. O autor questionava poeticamente, por meio do

nonsense, os jogos de pala vra e sentidos, assim como os paradoxos.

Outra questão que se repete ao longo do livro é a identida de de Alice. Tantas coisas es tranhas acontecem a sua volta que a menina passa a duvidar de si mesma e se pergunta: Será que o mundo mudou, ou fui eu? E, para ter certeza de que continua a mesma, Alice tenta se lembrar do que cos tumava saber: a tabuada, as capitais. Mas não acerta nada. Ao recitar um poema conhe cido de cor, para seu espanto, as palavras saídas de sua boca recitam outra poesia.

Segundo Gilles Deleuze, filósofo francês, a perda do nome próprio é a aventura que se repete em todas as aventuras de Alice. A incerte za sobre si mesmo está ligada aos acontecimentos exteriores e o que se passa. Alice no País das Maravilhas é um livro eterno, leitura convidativa não apenas para as crianças, mas para qualquer pessoa que consegue enxergar o questio namento de mundo presente nesta obra.

14 Curitiba, 26 de Novembro de 2015
Fernanda Maldonado Público atento nas rodas de leitura: momento de encontro com os livros

“Curto Circuito” mostra o lado político da Bienal de Curitiba

O artista chileno Ivan Navarro conta, por meio de exposição com luz, a história por trás das tor turas durante a ditadura de Augusto Pinochet no Chile

2º período

Começou no último dia 03 de outubro, no Cen tro Cultural Sistema FIEP, localizado na Rua Cândido de Abreu, no Centro Cívico, a exposição “Curto Circuito”, do artista chileno Iván Navarro. A instalação é um dos tra balhos do circuito da Bienal Internacional de Curitiba, que se estende até dia 06 de de zembro. A exibição, seguindo a proposta do tema da bienal“Luz do mundo” -, é composta por instalações que exploram a luz de variadas formas, como lâmpadas, neon, refle xos e vídeos. A exposição tem entrada franca e fica aberta ao público de quarta-feira a domingo, das 10h às 19h.

A mostra conta a história do general francês Paul Aussa resses, que ao longo do século XX, aprimorou e utilizou avançados métodos de tortura na guerra da Indochina e na batalha de independência da Argélia, além de ter repassado seus métodos para os milita res comandados por Augusto Pinochet e Emílio Garrastazu Médici nos regimes ditato riais de Chile e Brasil.

Navarro passou a infância no Chile sob a ditadura de Pinochet, tendo inclusive familiares torturados pelo regime. Estes acontecimentos motivaram o artista a bus car uma abordagem política em seus trabalhos, a fim de conscientizar seu público a respeito deste período escuro da história chilena, mantendo uma postura bastante crítica em relação a todo tipo de regime ditatorial. A curadora da exposição, Leonor Ama rante, defende que é muito importante que uma exposi ção como a de Navarro seja

exposta no Brasil, devido ao momento político do país, com protestos e manifesta ções, nos quais muitos pedem a volta da ditadura militar. “A exposição pode ajudar quem a visita a compreender a história e todos os momentos tristes pelos quais o Brasil passou durante a ditadura, para que possam entender que isso não pode se repetir”, explica Leonor.

Instalada inteiramente em sala escura, a exposição é composta desde cercas de neon, que representam os apagões utilizados como toque de recolher no regime de Pinochet, a uma entrevista fictícia com Aussaresses, que a partir da junção de diversas falas do general chileno ao longo da vida, ele mesmo con ta como fazia seu trabalho.

A obra principal da exposição de Iván Navarro é a instalação “Cara metade”, feita em par ceria com seu irmão, Mário Navarro, que conta com seis mesas que trazem notícias an tigas e atuais, além de livros, filmes e objetos que remetem à época da ditadura do Chile e ao trabalho desempenhado pelo general Aussaresses.

Leonor explica que a exposi ção, apesar do viés político, é um trabalho de extrema sensibilidade e beleza, que consegue abordar um tema complexo como a ditadura de maneira original e poética. “Sua instalação reúne peças de períodos diferentes e o que as une é uma poética lumi nosa que lida com a distância entre vazios, silêncios, carên cias, na tentativa de reinter pretar uma história obscura”, finaliza a curadora.

A Bienal e a “Luz do mundo”

em foco

Sob a curadoria geral de Teixeira Coelho, a 5ª edição da Bienal Internacional de Curi tiba traz a luz como grande guia. Nas palavras de Coelho, a Bienal busca mostrar que a luz por si mesma é suficiente para que exista arte. Explo rando a luz em diferentes as pectos, da política à religião, a Bienal conta com trabalhos de 162 artistas, distribuídos em 16 espaços na cidade. Os artis tas vêm dos cinco continentes e vão de nomes consagrados da arte da luz, como Julio Le Parc e Dan Flavin, a artistas

locais como Eliane Prolik, Vilma Slomp e Orlando Azevedo.

Coelho aponta que obras com luz proporcionam ao observa dor uma experiência extrema mente direta, e ainda aponta o diferencial da luz em relação a outros temas, indicando como as obras feitas a partir dela conseguem aproximar os artistas do público em geral.

“A maior tragédia da situação artística é a quase sempre insuperável distância entre as perspectivas e expectativas do artista e do observador.

Na arte da luz, essa distância tende a desaparecer”, explica.

15 Curitiba, 26 de Novembro de 2015 Cultura
Bernardo Vasques Neon e espelhos de Navarro buscam transmitir profundidade Bernardo Vasques

Ensaio Corrente na lente

A Corrente Cultural movimentou o centro da cidade no final de sema na nos dias 07 e 08 de novembro, em Curitiba. De Fora Cunha a shows paralelos à Corrente, as pessoas ocuparam o espaço delas: a rua

16 Curitiba, 26 de Novembro de 2015
Artistas da corrente aderem ao movimento “Fora Cunha” O trabalho também pode ser divertido O circuito CWB de rimas fez a alegria do palco das ruínas Quem disse que Curitiba não tem escola de samba?

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