Comunicare 347

Page 1

Cidades

Animais resgatados do tráfico são maioria em centros de tratamento

Página 10

Economia

Programas promovem capacitação técnica de mulheres em Curitiba

Página 03

Vidas Trans

Apesar das diversas ações para mitigar a violência contra as mulheres trans e travetis, o cenário de vulnerabilidade ainda é preocupante. Em 2023 foram 145 pessoas trans assassinadas, um aumento de 10% comparado ao ano de 2022.

cidades | pag.6

Cidades

Curitiba tem domicílios desocupados tomados por movimentos sociais

Página o9

Pelo 15° ano consecutivo

Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo

População surda de Curitiba

queixa-se de falta

M esmo tendo 80 mil moradores com algum tipo de deficiência auditiva, Curitiba ainda não é referência na inclusão dos defientes auditivos. A diferença que existe entre o português e a língua de sinais não é completamente compreendida por pessoas não-ouvintes, o que leva PCD’s auditivos a terem dificuldades em situações sociais.

Além disso, o mercado de trabalho não é completamente diverso - visto que mais da metade dos postos de trabalho destinados especificamente para esse grupo

Imigrantes em Curitiba

de inclusão

não estão preenchidos - e nem a sociedade; ainda existem muitos estigmas que circundam os surdos, por exemplo, a expressão “surdo-mudo”. Por essa e outras razões, foi criada a Central de Libras - departamento da Prefeitura que oferece serviços de tradução e socialização para deficientes auditivos.

Cidades | pag.08

Sônia Calixto, intérprete da Central, em um atendimento

Imigrantes formados e estudados têm dificuldade em ingressar no mercado de trabalho na sua área de graduação na capital. Os empregos oferecidos aos imigrantes se concentram em sua maioria no setor terciário como

mercados, postos de gasolina e trabalhos no setor de serviços como Uber.

Política | pag.05

Curitiba, 15 de Junho de 2024 - Ano 27 - Número 347 - Curso de Jornalismo da PUCPR O jornalismo da PUCPR no papel da notícia Giovana Tirapelli

Maio Laranja um problema de todos os meses

A campanha maio laranja vem para lembrar a todos sobre a precária situação em que milhares de crianças se encontram atualmente no Brasil. A de abuso sexual e exploração infantil. Porém, não é somente em maio que essa realidade é verdadeira.

Cerca de 18,6 mil crianças sofreram com violação sexual no Brasil, somente nos primeiros três meses de 2024, de acordo com dados do Disque 100. Esse mesmo número nos quatro primeiros meses do ano passado, equivalem a 17,5 mil crianças. Representando 1100 crianças a mais em um período menor de tempo. Em um ano, 500 mil crianças sofrem abuso e exploração sexual no Brasil. A cada uma hora, três crianças são abusadas

sexualmente no país. Cerca de 51% deste número possui entre 1 e 5 anos. Devido a essa realidade foi criada a campanha para a prevenção e combate desse mal que afeta milhares de crianças diariamente.

Maio, escolhido como mês da campanha, tem o dia 18 como data nacional ao combate contra o abuso e à exploração sexual infantil, mas apenas 24 horas ou 30 dias não são suficientes para conscientizar a todos sobre a extensão do problema. A organização divulga que é estimado que os dados compartilhados pelo Disque 100, na verdade, representam apenas 7,5% de todos os casos presentes no Brasil e que a grande maioria dos casos não são denunciados às autoridades.

Apesar da importância do combate contra esses crimes, dados da Polícia Rodoviária Federal revelam que existem 9.745 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes, sendo 1.884 deles classificados como de alto risco. Além disso, esses dados, vindo da nona edição de um projeto de Pesquisa chamado Mapear, de 2023, identificam que 58% destes pontos estão localizados em zonas urbanas, com o restante na área rural.

Ano passado, o número de violações sexuais contra crianças nos primeiros seis meses foi de 1438. Esses dados demonstram que o Paraná, assim como o resto do Brasil, enfrenta um aumento em casos denunciados e que muitas

Opinião Comunitiras

Sandro Mysczak, 34 anos, Educador Social e Líder em Experiência do Cliente, compartilhou suas percepções sobre os desafios e oportunidades para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a arte e a cultura em Curitiba. Apesar da localização privilegiada e do público exigente, “o maior desafio hoje é ter políticos mais envolvidos e dedicados a fazer cultura, a investir em cultura e a entender o quanto ela é importante para todas as classes que temos em Curitiba”, afirma.

Sandro destacou a importância de festivais consolidados, como o Festival de Curitiba, parte do patrimônio cultural da cidade, mas ressalta a necessidade de descentralizá-los para as periferias. Sobre os impactos da pandemia, ele afirma que “é importante a prefeitura recomeçar a apostar mais dinheiro, mais investimento nesse setor”, fomentando iniciativas de grupos pequenos e promovendo eventos diferentes.

Reconhecendo a diversidade cultural de Curitiba, Sandro cita o Festival de Etnias do Paraná como exemplo de evento que celebra essa pluralidade. Sobre os marcos culturais dos 330 anos da cidade, menciona o Museu Oscar Niemeyer, a Ópera de

Arame e o Memorial de Curitiba, mas questiona: “O que mais que Curitiba pode fazer? [...] Se fosse para escolher alguma coisa, com certeza seria ter mais espaços livres de acesso, de lazer, na região sul de Curitiba”.

Ele critica a concentração de investimentos em obras no centro, como a reforma do Mercado Municipal, em detrimento de regiões periféricas. “Se a gente quer ver uma cena cultural mais fortalecida em Curitiba, com mais espaços, a única saída é escolher candidatos que tenham bandeiras, que assumam e que têm na sua prática de vida participar de eventos culturais”, afirma, citando a descontinuidade da Virada Cultural, evento gratuito e de rua que impactava diversas pessoas, especialmente os jovens. “Para que a gente mude alguma coisa, melhore ou que pelo menos tente uma mudança de chave, é apostando em políticos que tenham isso na sua causa. E por ser um ano de eleição, é importante que a gente saiba escolher para colher frutos melhores no âmbito da cultura”, conclui Sandro.

Beatriz

Bruno Coelho

Denise Magalhães Manini

Eduardo Pascnuki

crianças ainda se encontram em estado de vulnerabilidade e perigo. A discussão sobre violência sexual contra crianças e adolescentes deve ser colocado em pauta.

A negligência e a invisibilidade em relação ao tema colocam em risco a vida de milhares de crianças. A luta contra a violência sexual infantil é de todos. A temática não deve ser lembrada apenas no mês de Maio. O combate contra o abuso e a exploração sexual infantil é fundamental para garantir um futuro para as crianças e adolescentes do Brasil. A identificação dos sinais de alerta relacionados ao abuso e a denúncia nos canais DISQUE 100 são as ações fundamentais para o apoio e combate a causa.

Ingrid Poltl

Jeferson Kolscheski

João Pedro Ocanha

Júlia Araújo

Larissa Croisfett

2 Curitiba, 15 de Junho de 2024
Editorial
Expediente Edição 347 - 2024 | O Comunicare é o jornal laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR jornalcomunicare.pucpr@gmail.com | http://www.portalcomunicare.com.br Pontifícia Universidade Católica do Paraná | R. Imaculada Conceição, 1115 - Prado Velho - Curitiba - PR Estudantes 3º Período de Jornalismo Beatriz Dias
Moschetta Santos Breno Zottis Gallina
Rocha Tirapelli Giovanna Romanoff Gustavo Xavier
de
Emilly Kauana Alves Giovana
Heloise Claumann
Almeida
Xavier Laura Kaiser
Beatriz Hamm Luiza Diniz Ferreira
Uniati
Salomon
Letícia
Mariana
Nicole
Pedro Pierdoná Marques
REITOR Ir.
DECANA DA ESCOLA DE BELAS ARTES Ângela Leitão COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO Suyanne Tolentino De Souza COORDENADORA EDITORIAL Suyanne Tolentino De Souza COORDENADOR DE REDAÇÃO /JORNALISTA RESPONSÁVEL Rodolfo Stancki (DRT-8007-PR) COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO Rafael Andrade TRADUÇÃO Breno Gallina Raquel Wrege FOTO DA CAPA Istock
Luiz Mila
Rogério Renato Mateucci

Programas promovem capacitação técnica de mulheres em Curitiba

Cerca de 58% das inscrições em cursos de educação profissional e tecnológica são feitas por mulheres no Brasil

Para ajudar as mulheres a desenvolverem o lado profissional, a independência financeira e a autonomia, diversos projetos sociais têm desenvolvido cursos de formação. Em Curitiba, algumas organizações que cumprem esse papel são “Programa Mulheres Mil”, o “Economia do Reino” e a oficina “Lion’s Queen”

O Programa Mulheres Mil é uma iniciativa do Ministério da Educação instituído em 2011 e procura promover a formação profissional e tecnológica, aumentando o nível de escolaridade de mulheres em situação de vulnerabilidade social. O projeto teve seu foco no início para o Norte e Nordeste do país, mas em janeiro de 2024, houve uma

uma busca ativa de mulheres em situação de vulnerabilidade extrema e risco social, que geralmente são moradoras de locais de infraestrutura deficitária (ocupações, por exemplo).

Quando perguntada sobre como o programa garante que as mulheres que participaram tenham oportunidades depois da conclusão dos cursos, Valéria explica que as estudantes são orientadas a construir um currículo e um portfólio. Porém, ela acredita que o Mulheres Mil é mais do que um meio de entrar no mercado de trabalho ou apenas uma geração de renda. “A formação visa promover o empoderamento dessas mulheres, muitas vezes em situação de violência domés-

Sociais, no Brasil a cada 100 empregos com salário superior a 20

“O curso me deu forças e coragem... também foi como foi dado com amor, carinho e atenção.”

ampliação para a Rede Federal do Paraná. Com isso, 1120 vagas foram efetivadas no estado.

Os cursos foram oferecidos de de março de 2023 até junho de 2025 em diversos câmpus do Instituto Federal do Paraná (IFPR).

As informações da seleção dos estudantes estão ocorrendo via edital no site da instituição com o apoio de órgãos de assistência social como o Centro de Referência da Assistência Social e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social.

Atualmente, o projeto está em operação ou em fase de implantação em pelo menos 100 unidades dos institutos por todo o Brasil. Cerca de 40% das participantes que finalizaram os cursos de capacitação do Programa Mulheres Mil estão trabalhando de forma autônoma, envolvidas na produção e venda de produtos. Aproximadamente 20% estão empregadas no mercado formal, com vínculo empregatício.

A coordenadora geral do Programa, professora Valéria Borges Ribeiro, diz que os cursos disponíveis são escolhidos a partir das características dos municípios onde as mulheres residem. O que significa que se as mulheres de um lugar têm dificuldades básicas os cursos serão de aprendizagem básica. As formações seguem também a recomendação do MEC, que abrange a formação inicial e continuada (FIC) ou qualificação profissional e cursos técnicos.

A professora acrescenta que o Mulheres Mil lida com muitos desafios, como a dificuldade para acesso ao curso. Por isso é feita

tica, dando a elas conhecimento da legislação e devolvendo a elas sua dignidade.”

A capacitação e treinamento de mulheres é o primeiro passo para garantir a entrada no mercado de trabalho. A Lion’s Queen Garage é uma oficina mecânica localizada no bairro Hauer que está no mercado há 5 anos, gerenciada pela empresária Guerda Tiziane.

O curso de treinamento da oficina acontece aos sábados e tem duração de 2 meses (8 dias de aulas). Guerda ensina a parte psicológica e de gestão. Outros dois professores ensinam funilaria e pintura tendo apenas 5 pessoas na equipe e turmas de 4 alunas.

salários mínimos, 30 são mulheres e os demais 70 são homens. O preconceito é latente em diversas áreas. “As meninas iam para as oficinas e os homens apostavam para ver quem ia ser a primeira a sair”, revela Guerda sobre o próprio projeto.

O Economia do Reino é um programa de capacitação e empreendedorismo que oferece aulas e capital para a criação ou fortalecimento de atividades econômicas de 30 mulheres atualmente. O projeto é idealizado e financiado pela organização norueguesa Missão Aliança, que tem o seu escritório de gestão do Brasil em Curitiba.

cursos e o capital disponibilizado pelos parceiros e voluntários, 30 mulheres foram fortalecidas em seus diversos negócios.

Na etapa de acompanhamento, as empreendedoras demonstram não só satisfação com a mudança que o crédito fez em seu negócio, mas veem o projeto como uma transformação completa na vida delas. Cristiane dos Santos tem 39 anos e trabalha com pudins caseiros e produtos de beleza. Ela fala sobre o curso ter a ajudado a se recuperar. “Antes eu ficava travada, não conseguia fazer as coisas. O curso me deu forças e coragem. E o que fez diferença também foi como foi dado: com amor, carinho, atenção.”

Rosemeri Mota, costureira de 58 anos, conta que a humanização que o projeto tem faz toda a diferença na hora de aprender. “Se fosse só o dinheiro, eu iria repetir os mesmos erros. Uma vez eu peguei um empréstimo para abrir a loja e gastei todo o recurso com outras coisas..” Cheguei a tentar abrir a loja 3 vezes e não deu certo.”

A empresária permite que as mulheres que participam do grupo aprendam com os erros porque assim a mudança acontece com mais velocidade. “Elas erram, ele corrige e ensina, elas acertam… Assim, entregamos curva de aprendizagem rápida.”

De acordo com os dados da Relação Anual de Informações

Os workshops de princípios econômicos ocorreram de novembro de 2022 a novembro de 2023. As mulheres foram capacitadas em cursos de educação financeira, inclusão financeira, gestão de negócios e mentoria após a concessão de crédito. O ano de 2024 será o de monitoramento dos resultados do projeto. Com os

Leia mais

Confira o depoimento das mulheres que fizeram os cursos

3 Curitiba, 15 de Junho de 2024 Economia
Professor dando a aula de funilaria na Oficina Lion’s Queen.
portalcomunicare.com.br
Aula de funilaria na Oficina Lion’s Queen. Júlia Araújo Júlia Araújo Júlia Araújo 3º Período

Jovens no Mercado de Trabalho

Durante os últimos anos, o Paraná lidera a geração de empregos entre jovens na região Sul. Os setores que mais empregaram mão de obra jovem foram indústria, serviços, comércio, construção e agropecuária

3º período

4 Curitiba, 15 de Junho de 2024 Economia
Bruno Coelho, Jeferson Kolscheski e João Pedro Ocanha

Curitiba recebeu 7.975 imigrantes em busca de empregos

Paraná ofereceu apenas 850 contratações formais para imigrantes venezuelanos entre 2019 e 2023, a maioria dos empregos oferecidos são no setor terciário e fora da sua área de graduação

C uritiba foi a cidade que mais recebeu imigrantes venezuelanos nos anos de 2018 a 2024, segundo dados do Subcomitê Federal para Acolhimento e Interiorização de Imigrantes em Situação de Vulnerabilidade. O número de imigrantes que chegaram ao município foi de 7.975. Já o Paraná recebeu em sua totalidade 23.654 imigrantes venezuelanos.

De acordo com o Informe de Empregabilidade e Deslocamento da Organização Internacional de Migrantes (OIM), o estado ofereceu neste período apenas 850 contratações formais para esse grupo de imigrantes. A maioria delas na capital paranaense. O número é baixo em comparação ao número de pessoas que entraram no país. Além da Venezuela, o Brasil também recebe refugiados do Haiti, Cuba e Angola.

Diversos imigrantes relatam serem formados em medicina, engenharia, tecnologia da informação e pedagogia, entre outros cursos superiores. Geralmente, há muita dificuldade em conseguir empregos nas áreas de graduação e essas populações acabam trabalhando em mercados, fábricas e comércios, basicamente apenas empregos no setor terciário.

Segundo um estudo da Organização Internacional de Imigrantes (OIM), entre Dezembro de 2019 e Dezembro de 2023 houveram 4.909 contratações totais de imigrantes venezuelanos no Brasil. Desses, 37% foram para a Indústria Alimentícia, 16% para Serviços e os restantes foram divididos em diversos outros segmentos com uma menor porcentagem.

são a falta de conhecimento sobre o processo e a falta de documentação, em conjunto com a dificuldade em relação ao português.

A língua também é um obstáculo para os imigrantes. Um projeto implementado pela OIM, conhecido como Oportunidades - Integração no Brasil promoveu cursos profissionalizantes para 7.567 migrantes. Entre as formações estavam treinamentos de empreendedorismo para 5.961 migrantes e aulas de português para 7.646 pessoas. A medida busca garantir uma maior facilidade de integração na sociedade e na economia do Brasil.

Uma imigrante ouvida pelo Comunicare, que preferiu não ser identificada, é uma médica especialista em Saúde da Família em seu país de origem. Ela também relata grandes dificuldades em sua jornada de trabalho. A profissional esteve no Brasil entre 2016 e 2018, trabalhando no programa Mais Médicos, mas por diversos motivos teve que retornar ao seu país natal. Contudo, a entrevistada relata que as condições de vida por lá se tornaram muito precárias com uma situação econômica complicada e carência de alimentos e medicamentos. Assim, ela retornou.

imigrantes trabalhando O objetivo da Política para a População Imigrante e Refugiada é de garantir a esta população o acesso a direitos sociais e combater a discriminação.

O texto prevê isonomia no tratamento à população imigrante e refugiada e às diferentes comunidades; respeitar especificidades de gênero, raça, etnia, orientação sexual, idade, religião deficiência, neurodiversidade; garantir acessibilidade aos serviços públicos; e promover a participação de imigrantes e refugiados nas instâncias de gestão participativa, garantindo-lhes o direito de votar e ser votado nos conselhos municipais.

Um dos impedimentos que afetam os imigrantes de se encaixarem em sua profissão de formação no país, é a falta de legalização e certificação em relação aos seus certificados de graduação conquistados no seu país de origem. A ACNUR, Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, realizou uma pesquisa para traçar o perfil socioeconômico do refugiado no Brasil. O levantamento constatou que dos cerca dos 166 migrantes entrevistados com ensino superior completo, somente 14 tiveram a oportunidade de revalidar seu diploma e atuar na sua área de formação. A pesquisa indica que os principais motivos para o não reconhecimento da certificação

A chegada do venezuelano Victor Mora ao Brasil não foi fácil. Ele conseguiu entrar durante a pandemia quando os portões abriram novamente para a entrada de migrantes. Ele diz que teve muita sorte no processo. Diversos de seus conhecidos esperaram ao menos um mês para ter seus documentos em mãos. Ele conseguiu em uma semana.

Ao chegar pela segunda vez no Brasil, enfrentou obstáculos e conseguiu um emprego como auxiliar de confeitaria e atualmente está cursando um curso profissionalizante na área. Ela afirma que a experiência é muito positiva, pois está aprendendo uma nova profissão e a considera muito bonita. “Mas gostaria de trabalhar como médica, só preciso passar o exame Revalida.”

“Somente empregos que não exigem muita responsabilidade”

Formado em Construção Civil na Venezuela e com experiência em diversos trabalhos na área de Metalúrgica, Mora afirma não foi fácil sua chegada ao país em questão de trabalho. Ele já exerceu funções como auxiliar de pedreiro, auxiliar de motorista, trabalhou com madeira atualmente exerce a profissão de UBER.“Somente empregos que não exigem muita responsabilidade”. Ele também ressalta sua dificuldade em adaptação em Curitiba, segundo ele é uma cidade cara e com pessoas muito fechadas para convesas.

Políticas Públicas

Com o alto número de imigrantes chegando em Curitiba, a cidade começou a pensar em ideias de projetos para se adequar a demanda de necessidades dos migrantes. Assim, em setembro de 2023, foi reapresentado um Projeto de Lei - Política Municipal para a População Imigrante - na Câmara Municipal de Curitiba.

O projeto tem como autores os vereadores Angelo Vanhoni (PT), Giorgia Prates (PT) e Professora Josete (PT).

O Projeto de Lei ainda se encontra em trâmite na Câmara Municipal de Curitiba.

A Organização Internacional para as Migrações realiza e apoia pesquisas e produção de dados com o objetivo de orientar e informar sobre políticas e práticas migratórias. Entre em contato e saiba mais iombrazil@iom.int

Leia mais

Guia simples para dar oportunidades de emprego para imigrantes portalcomunicare.com.br

5 Curitiba, 15 de Junho de 2024 Política
Supermercado - ambiente de trabalho do setor terciário com um alto número de Letícia Beatriz Hamm

Paraná é o Terceiro Estado com Maior Número de Violência a Pessoas Trans

Apesar de números

alarmantes a violência contra mulheres trans ainda é um assunto

Mariana Uniati

3º Período

c erca de 84,4% da população LGBTI+ de Curitiba e região já sofreu descriminalização, segundo um estudo conduzido pelo Grupo Dignidade. Com isso, a prefeitura junto às ONGs e ativistas trabalham para tentar diminuir esses casos e trazer um ambiente mais seguro e acolhedor para pessoas transexuais. Entretanto, o Brasil seguiu pelo 15º ano consecutivo como o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo, com um aumento de 10% dos casos de violência em 2023 comparado ao ano de 2022, além de liderar também o consumo de pornografia trans nas plataformas de conteúdo adulto. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), o Paraná em 2023 registrou 12 casos de assassinato de pessoas trans, o que configurou o Estado em terceiro lugar no ranking nacional.

Mesmo sendo considerado crime desde 2019 enquadrado na lei 10.948 200, vários casos de LGBTFobia ainda ocorrem todos os dias em Curitiba, o que resulta na baixa expectativa de vida das pessoas transexuais. Na média geral da população alcança os 75 anos, para as pessoas trans, esse número é reduzido drasticamente para apenas 35 anos. É necessário destacar a importância de políticas públicas que desempenhem mas igualdade e que assegurem os direitos da comunidade LGBTQIA+ junto com todos os setores da sociedade.

O Deputado e ativista David Antunes, que também faz parte da comunidade LGBT e tem projetos que viabilizam as mulheres trans afirma que grande parte da violência começa não só dentro de casa, mas também na escola. Muitas jovens são colocadas para fora de casa muito cedo, com idades entre 14 e 15 anos. Em média, 95% dessa população não consegue terminar o Ensino Médio, e acabam indo para a prostituição. Uma

realidade cruel mas que muitas vezes acaba sendo o único recurso para sobreviver.

Ele aponta a necessidade de uma Casa de Acolhimento para essas pessoas, onde disponibilize total suporte, que muitas vezes são negligenciadas pelas famílias, como concluir o ensino médio, iniciar um curso profissionalizante, ter um emprego, e finalmente, reintegrar essa pessoa à sociedade. Já que ainda existe falta de políticas públicas efetivas, apesar dos feirões de empregabilidade voltadas a pessoas trans. A sociedade precisa inserir mais essas pessoas e cobrar os direitos básicos assegurados por lei, como ter a educação, saúde e segurança pública.

“Apesar de todos os perrengues, elas tentam se unir para vencer essa sociedade que é machista, homofóbica e transfóbica”

O engajamento de toda comunidade é necessária para denunciar esses casos e garantir condições dignas à população. Caroliine Silva, mulher trans e ativista, destaca que uma das maiores violências é quando são impedidas de usar o banheiro de acordo com a identidade de gênero, o que leva a violência física e a descriminalização. Resultado de visões preconceituosas que retratam as pessoas trans como ameaças à família. Por isso é necessário separar a questão da influência de ideologias religiosas e garantir a aplicação eficaz das leis contra a LGBTfobia.

Ela também relata que essa situação acontece muito pela falta de abertura para conversar sobre o assunto, por conta da escassez de informação e

também da intolerância de muitas pessoas. Esse preconceito enraizado na nossa sociedade, acaba levando muitas vezes a uma visão errada das pessoas trans. Que acabam sofrendo da falta de apoio até mesmo dentro da própria comunidade LGBTQIA+, perpetuando ainda mais a discriminação.

“A partir do momento que tivermos mais oportunidades para mulheres trans, acredito que vamos ter uma mudança geral no quadro de violência, prostituição e de marginalidade”, afirma Caroline.

No Sistema Único de Saúde (SUS) no Paraná, ainda é um desafio econtrar profissionais capacitados para atender pessoas trans. Mesmo com a instalação de lugares como o Centro de Pesquisa e Atendimento a Travestis e Transexuais (CPATT) e o Ambulatório Municipal que dá o suporte a travestis, mulheres e homens trans, ainda tem problemas enfrentados nesse caminho. São medidas mínimas que poderiam auxiliar o enfrentamento à transfobia.

Projeto que inclui: Autoestima e Confiança

O mês da visibilidade trans tem como objetivo sensibilizar a comunidade, além de fortalecer o empoderamento da comunidade trans. Promovido pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), essa iniciativa representa um

momento histórico na batalha pelos direitos trans e no combate à transfobia. Com isso muitos projetos acontecem ao longo desse mês que promovem união e representatividade.

Corine Verona, uma mulher trans, cabeleireira e ativista da causa, conta um pouco de sua trajetória. Além de sua atuação como cabeleireira e defensora dos direitos trans, ela também tem um projeto que oferece cortes de cabelo gratuitos durante o mês da visibilidade trans e também durante o mês do orgulho em junho, contribuindo para a promoção da inclusão e da autoestima da comunidade.

Somente durante o mês de janeiro, reconhecido como o mês da visibilidade trans, com o dia 29 celebrando essa data, Corine ofereceu mais de 100 cortes de cabelo gratuitos. Além disso, ela também conversa abertamente com seus clientes sobre suas dificuldades e vivências, criando um espaço inclusivo e acolhedor para toda a comunidade LGBTQIA+.

Leia mais

Para ter acesso ao conteúdo extra completo.

portalcomunicare.com.br

6 Curitiba, 15 de Junho de 2024
Cidades
David Antunes, ativista e deputado gay Mariana Souza Acervo pessoal de Caroliine Silva Caroline Silva, ativista e mulher trans

State of Paraná ranks third in murder of Trans People in 2023

The numbers are alarming, but the violence against trans women is still neglected.

Around 84,4% of Curitiba and metropolitan area’s LGBTI+ population has suffered some sort of public discrimination, by their family or in their workplace, according to a study performed by Grupo Dignidade. Due to it, the city hall is working alongside NGOs and activists aiming to lower these cases and create a safer and friendlier place for transsexuals. That being said, Brazil still is, for 15 consecutive years, the number one country in LGBTQIA+ deaths in the world, with a 10% increase in violence against them in 2023, compared to 2022. While also leading in trans pornography consumption in adult content websites. According to data from the National Association of Transvestites and Transsexuals (ANTRA), Paraná recorded 12 cases of murder of trans people in 2023, which ranked the State as the third place in the country.

Although it is considered a crime as seen in the law 10.948 200, there are still plenty of cases of LGBTFobia that still happens in Curitiba, resulting in a lower life expectancy for trans people. On average, people usually live to 75 years of age, but for trans people that number falls to just 35 years. It’s necessary to highlight the importance of policies to ensurethe rights of the LGBTQIA+ community alongside other sectors of society.

Deputy and activist David Antunes, who also is a part of the LGBT community, states that most of the violence doesn’t start just in households, but in schools. Many young folks are expelled from their houses way too early, at ages as low as 14 or 15 years. On average, 95% of the population aren’t able to finish high school, and they end up resorting on prostitution. A cruel reality, which unfortunately can be their only choice to make a living.

He highlights the need for some sort of shelter for these people, where they would receive backing

and aid, who manytimes are neglected by their families and need to finish highschool, get a job, and ultimately, be reintegrated into society. Even though career fairs with a focus on trans people exist, there still is a lack of effective policies for them. Taking that into consideration, society should promote and demand basic rights secured by law, like education, free healthcare and public security.

The engagement of the entire community is necessary to report these cases and ensuredignified conditions for the population.

Caroline Silva, trans woman and activist, highlights that one of the biggest violences is when they are prevented from using the bathroom according to their

“Although the difficulties are many, they stick together to overcome this sexist, homophobic and transphobic society”

gender, which usually leads to physical violence and discrimination. One of the results of prejudiced views of trans people is portraying them as a threat to the idea of a traditional family, which is why it is essential to separate the religious ideology influence, to ensure effective enforcement of anti-LGBTphobia laws.

She also reports that this situation happens a lot due to the lack of space to talk about the subject, due to the scarcity of information and also the intolerance of many people. This

prejudice rooted in our society often leads to a wrong view of trans people, who end up suffering from a lack of support even within the LGBTQIA+ community itself, further perpetuating discrimination.

“From the moment we have more opportunities for trans women, I believe we will have a general change in the picture of violence, prostitution and marginality”, declares Caroline.

In the Universal System of Healthcare (SUS) in Paraná, it is still a challenge to find professionals which are trained to assist trans people. Even with the Center for Research and Care for Transvestites and Transsexuals (CPATT) and the Municipal Ambulatory which gives support to trans people,there are many problems faced in this path. These are some measures that could support confronting transphobia.

Self-esteem, trust and confidence, a project.

The purpose of the trans visibility month is to sensibilize society, and empower the transcommunity. It is promoted by ANTRA, which represents a historical moment in the fight for trans rights and combating transphobia. As a result, many

projects take place throughout this month that promote unity and representation.

Corine Verone, a trans woman, hairdresser and activist, tells a little about her story. She also leads a project that offers free haircuts during the trans visibility month and in June, the Pride Month, contributing to the promotion of inclusion and self-esteem in the community. The month of January is recognized as the month of trans visibility, and the 29th is the date when it is celebrated. Corina offered more than a hundred free haircuts. In addition, she also openly talks to her clients about their difficulties and life experiences, creating a warm and inclusive environment to the LGBTQIA+ community.

portalcomunicare.com.br

7 Curitiba, 15 de Junho de 2024 Editoria
David Antunes, ativista e deputado gay Mariana Souza Acervo pessoal de Caroliine Silva Caroline Silva, activist and trans woman.
extra
Continue reading To access
content.

Cidades

População surda de Curitiba queixa-se de falta de inclusão

Cerca de 20% da população PCD em Curitiba são deficientes auditivos, segundo IBGE 2022

De acordo com o IBGE, existem 400 mil moradores de Curitiba com algum tipo de deficiência, entre esses, 80 mil são surdos, representando 20% desse grupo. Apesar de serem um número expressivo, esses indivíduos ainda sofrem na hora de conversar com pessoas ouvintes, pois, mesmo falando o português, existem outros obstáculos que dificultam a comunicação. O principal deles é a falta de adaptação dos não-surdos às necessidades alheias.

Richard Bylaardt, 44, é servidor público federal e tem perda auditiva neurossensorial profunda bilateral desde o nascimento. Ele comenta que, mesmo sendo fluente em português e Libras, e sabendo leitura labial, enfrenta dificuldades para a comunicação cotidiana. “Nenhum surdo é igual. A maioria não tem conhecimento pleno da língua portuguesa e são mais dependentes da língua de sinais”, afirma Bylaardt. Ele relata que é um privilégio saber ambos idiomas, entretanto não é uma norma.

Além disso, existem diferentes casos de deficiência auditiva que refletem no modo como as pessoas com essas condições se

qual prejudica gradativamente a audição. Por mais que consiga ouvir parcialmente, com a ajuda de um aparelho auditivo, as dificuldades em ambientes sociais são frequentes. “Às vezes preciso fazer leitura labial, e nem sempre as pessoas são compreensivas ou sequer lembram das minhas dificuldades”, afirma.

A dificuldade de comunicação relatada também afeta o âmbito profissional. De acordo com dados do Portal de Inspeção do Trabalho, em 2022, apenas 7.675 das 15.876 vagas empregatícias reservadas para PCDs auditivos em Curitiba estavam ocupadas. Isso conclui que cerca de 52% desses postos de trabalho não estavam preenchidos.

Sandra Mathias é intérprete da Central de Libras de Curitiba, departamento da prefeitura que presta serviços de acessibilidade para deficientes auditivos. Para ela, a presença de pessoas que saibam a linguagem de sinais é essencial em todos os ambientes, principalmente no meio corporativo, já que a falta de comunicação prejudica o entendimento de informações básicas sobre os serviços ou situações. “Que mundo é esse onde eles não entendem

alfabetizados em Libras, o que os faz ter uma percepção diferente do português. “O português pra eles não é como pra gente. O povo tem mania de dizer que eles sabem ler e escrever, mas não é como nós, é muito diferente da nossa realidade”, relata. Mathias também aconselha a utilizar

“Que mundo é esse onde eles não entendem o básico e as pessoas acham que é normal?”

adaptam em sociedade. Nem todos são completamente surdos, o que não os impede de sofrer com os estigmas que abrangem essa parcela da populacão. Izabel Bocatios, 19, estagiária de psicologia, é portadora de otosclerose - uma doença hereditária, a

o básico e as pessoas acham que é normal?”, indaga Mathias.

Em ambientes sociais é comumente utilizada a escrita como forma de comunicação com indivíduos surdos. No entanto, segundo a intérprete, eles são

palavras e frases simples, se a escrita for a única opção.

A falsa inclusão dada pela sociedade aos surdos Alguns estereótipos sociais também dificultam a inclusão de pessoas com deficiências auditi-

vas em situações sociais. A ideia de que todo surdo é mudo, por exemplo, é pejorativa, já que a surdez e a mudez não se relacionam. “É um termo inadequado, uma vez que a surdez é uma deficiência e a mudez é outra [...] os surdos têm voz, gritam, cada um fala de um jeito diferente.” explica Bylaardt.

Em adição a isso, a deficiência auditiva é uma deficiência invisível, o que significa que ela não pode ser identificada visualmente e de forma tão direta. Por isso, foi criado o cordão de girassol, voltado para identificar pessoas com condições invisíveis, e deixar explícito que aquela pessoa talvez vá precisar de alguma ajuda específica.

Bocatios utiliza o cordão e, para ela, projetos como esse são essenciais para uma maior integração dessas pessoas na sociedade. “A popularidade deveria ser dada ao cordão de girassol, que não só surdos podem usar, mas várias outras deficiências invisíveis”, expressa Izabel.

Para Sandra, o interesse genuíno pela língua de sinais também é uma solução. “O que você vai fazer com esse conhecimento? Você vai aprender Libras só porque é bonito? Não, tem que aprender porque essas pessoas precisam do direito de serem atendidas na língua delas”,

8 Curitiba, 15 de Junho de 2024
Leia mais Confira um pouco mais sobre a Central de Libras
Fausto sendo atendido por intérprete da Central de Libras.
portalcomunicare.com.br
Sandra Mathias durante um atendimento Giovana Tirapelli Giovana Tirapelli Giovana Tirapelli , Heloise Claumann e Larissa Croisfett 3º Período

Curitiba tem domicílios desocupados tomados por movimentos sociais

Mobilizações sociais acolhem pessoas em situações de vulnerabilidade na capital, que possui 102,5 mil domicílios desocupados

Beatriz Dias, Eduardo Pascnuki, Giovanna Romanoff 3º período

C uritiba tem 102,5 mil domicílios desocupados. Cerca de 82,8 mil estão vagos, e 19,6 mil são de uso ocasional. Isso representa 55% do total de domicílios desocupados da região metropolitana (RM), que é de 194 mil. O número é suficiente para atender a demanda de moradias da capital, que tem déficit habitacional de 57,3 mil habitações. Os dados são do Censo 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Movimentos sociais têm se apropriado de parte desses domicílios, mas é difícil precisar o número de moradias ocupadas. No final de março deste ano, o Movimento de Mulheres Olga Benário, que ajuda mulheres em situação de vulnerabilidade, tomou um imóvel abandonado no centro da cidade. Segundo

Tayna Miessa, coordenadora da Casa Rose Nunes

Ele atendia mulheres vítimas de violência, oferecendo apoio psicológico, jurídico e social.

“O nosso objetivo principal em organizar essa ocupação é ir

é, direito à habitação, direito ao esporte, direito às áreas de lazer e direito à infraestrutura. Leitão também ressalta a necessidade de políticas públicas eficientes atreladas a um planejamento

“Um centro de cidade não foi feito para ter lote vazio esperando para fazer estacionamento”

Tayna Miessa, coordenadora da Casa Rose Nunes, o propósito da ação é denunciar a ineficiência das políticas públicas do Estado no enfrentamento da violência de gênero.

Profissionais voluntárias fazem o acolhimento de mulheres no espaço, onde foi criada a Casa Rose Nunes. Pouco depois da abertura da casa, o movimento descobriu, durante um patrulhamento, que o Centro de Referência e Atendimento à Mulher em Situação de Violência - operado pela prefeitura - está fechado.

atrás de assegurar o que atualmente é previsto em lei. Que a cada 100 mil habitantes tenha um profissional responsável pelo serviço de assistência à mulher em situação de violência, mas essa conta não fecha nem no estado, nem na cidade de Curitiba”, explica Miessa.

Em entrevista, Sylvia Ramos Leitão, Doutora em Planejamento Urbano e Regional, cita o Estatuto da Cidade. Lei criada em 2001 para regulamentar questões de política urbana e assegurar o “direito à cidade”, isso

urbano. “Um centro de cidade não foi feito para ter lote vazio esperando para fazer estacionamento, é um lugar onde temos concentração de serviços, pessoas, etc. Então, terrenos ociosos nos centros não estão cumprindo com sua função social”, afirmou.

Ela destaca ainda que ter domicílios desocupados faz parte da dinâmica da cidade, que manifesta suas desigualdades de forma específica e recebe influência política. “Temos que entender o fenômeno para compreender

que existem direitos dos dois lados, mas o direito de invadir não existe. Ele é uma solução quando não temos políticas públicas eficientes”.

Na capital paranaense, existem 7 cozinhas comunitárias que recebem o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), comandado pelo Governo Federal. Ele subsidia a entrega da agricultura familiar de produtos, que são distribuídos para as organizações. Além disso, mobilizações populares também contribuem com doações para a produção de alimentos. A Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT) é uma delas.

Pedro Carrano é integrante da coordenação da FORT, responsável pela estrutura da cozinha comunitária da ocupação Vila União, no Tatuquara. O local abriga quase 200 famílias desde 2021 e as refeições servem principalmente as crianças. De manhã, os mais jovens têm reforço escolar e realizam outras atividades organizadas pelo movimento e pela comunidade. Logo cedo, no barracão social, elas têm acesso ao café da manhã e, às 11h, ao almoço.

À reportagem, Carrano comenta sobre a Campanha Despejo Zero, que auxilia comunidades que fizeram ocupações durante a pandemia de Covid-19 na disputa por moradia. “A principal experiência organizativa nas comunidades é a cozinha comunitária, ela agrega o povo, agrega as mulheres, as lideranças e produz em um momento ainda de crise”.

Leia mais

Veja a reportagem fotográfica “Casa Rose Nunes: por dentro da ocupação” portalcomunicare.com.br

9 Curitiba, 15 de Junho de 2024 Cidades portalcomunicare.com.br
Fachada da Casa Rose Nunes Giovanna Romanoff Giovanna Romanoff

Cidades

Animais resgatados do tráfico são maioria em centros de tratamento

Após operação da polícia civil em fevereiro deste ano, mais de 300 espécies de animais silvestres foram apreendidos e encaminhados para instituições de apoio à fauna. Profissionais indicam como são feitos os cuidados e qual será o destino deles

N os últimos anos, Curitiba passou a abrigar diversos centros especializados no cuidado e reabilitação de espécies silvestres vítimas do tráfico ilegal. Esses centros desempenham um papel crucial na recuperação de animais resgatados, proporcionando cuidados veterinários, alimentação e condições ambientais adequadas para sua reabilitação.

Além disso, eles trabalham na preparação para a reintrodução desses animais na natureza sempre que possível. Segundo a prefeitura municipal, o Centro de Apoio à Fauna Silvestre (CAFS) de Curitiba proporcionou uma nova oportunidade para mais de 8,6 mil animais silvestres através de seu atendimento. Essas iniciativas não apenas ajudam a proteger as espécies ameaçadas, como também servem de alerta à população a respeito dos impactos negativos do tráfico de animais silvestres e a importância da preservação da fauna nativa.

9 em cada 10 animais traficados morrem antes de chegar aos consumidores finais.

Os pássaros representam um dos grupos de animais mais explorados por traficantes. O canto suave e a habilidade de imitar sons e vozes atraem a atenção de muitas pessoas, desenvolvendo nelas a vontade de possuir e domesticar essas espécies. A residente e médica veterinária do setor de fauna do Instituto Água e Terra (IAT), Fabiana Baggio comenta que o som das aves envolve muito dinheiro. “Existem torneios de canto e o pessoal gosta, às vezes, de ficar ouvindo dentro de casa.”

O Instituto Água e Terra (IAT) recebe animais apreendidos em operações e investigações da polícia civil e ambiental. Assim como da fauna vitimada, que se machucaram no meio urbano, mas esses representam um número pequeno perto da quantidade de apreensões.

Araras-canindé do Passeio Público.

das ou às vezes em ambientes muito insalubres. Nós recebemos, com bastante frequência, gaiolas extremamente sujas, com água podre, comida com fungo, e um grande acúmulo de fezes no interior.”

Eles frequentemente exibem comportamentos agressivos, se debatendo contra as grades

“Eles tinham uma mansão que era natureza e foram para uma quitinete, dentro da gaiola.”

O comércio ilegal de animais silvestres é uma das principais atividades do crime organizado. Movimenta entre US$ 10 a US$ 20 bilhões anualmente e representa uma ameaça significativa para o ecossistema e as comunidades locais.

O Brasil é um grande alvo para quadrilhas e organizações criminosas. Segundo a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), mais de 38 milhões de animais são retirados da natureza a cada ano. Porém, como também indica a organização,

Desde 2018, após um convênio entre o IAT e o Centro de Apoio à Fauna Silvestre (CAFS), são disponibilizados recursos e insumos para viabilizar a manutenção das espécies. O Centro recebe animais feridos para atendimento pelos mais diversos motivos.

A médica veterinária do IAT Fabiana Baggio explica que as espécies traficadas geralmente chegam no instituto em situações muito traumáticas. “Os bichos ficam em um nível de estresse muito grande por estarem em gaiolas superlota-

das gaiolas na tentativa desesperada de escapar, resultando em ferimentos e até mesmo na perda de penas. Mamíferos, embora menos comuns no tráfico, também podem sofrer, mas em menor escala. Os répteis, por sua vez, chegam desnutridos e com problemas de saúde devido às condições específicas de manejo que requerem, como luz, umidade e temperatura.

Por isso,é muito importante que no processo de reabilitação, os profissionais analisem diferentemente cada espécie e o estado que ela foi encontrada. A veterinária Fabiana Baggio revela que demora muito mais tempo para recuperar espécies que apresentarem alguma fratura ou dificuldade em executar suas atividades. No entanto, alguns animais serão reabilitados com mais rapidez por não estarem tão feridos, e não apresentarem nenhum processo crônico.

A professora de biologia da PUCPR e especialista em conservação da natureza Lays Parolin diz que os cuidados com os indivíduos resgatados são muito delicados. Dependendo do tempo que ele ficou em cativeiro vai ser uma espécie que não consegue se adequar às questões ambientais. “Ele não vai conseguir caçar, não vai conseguir buscar recursos,

nem se proteger. É uma espécie que não teve um aprendizado. Muitas vezes só com um grupo, ou com os seus pais, para que ele conseguisse desempenhar essas funções.”

Ao tratar das aves apreendidas, Fabiana Baggio enfatiza que, embora muitas estejam estressadas e relutantes ao contato humano, serão avaliadas criteriosamente antes da soltura, considerando sua capacidade de voo e ausência de lesões. Então, a soltura na natureza é uma opção viável, especialmente para espécies nativas do Paraná, que têm maior chance de reintegração bem-sucedida.

Por outro lado, a reintrodução de répteis na natureza é altamente desafiadora, devido à maioria dos répteis apreendidos não serem nativos do Paraná, limitando as opções de soltura. O critério principal para decidir sobre a soltura é se a espécie ocorre naturalmente na região. Espécies que não são nativas do Paraná enfrentam barreiras logísticas para retornarem à sua área de origem, tornando o cativeiro a única opção viável.

Quando o animal tem que ficar em cativeiro, eles sempre são levados a empreendimentos licenciados pelo Estado ou espaços públicos, como zoológicos, criatórios comerciais, entre outros. Em Curitiba, além do Zoo Curitiba, um outro exemplo desse tipo de espaço é o Passeio Público, o parque mais antigo da cidade trata de variados tipos de aves. É possível praticar exercícios enquanto escuta o canto de lindos pássaros que foram salvos das mãos de criminosos.

Leia mais

Confira uma reflexão a respeito das redes socias e o tráfico e uma galeria de fotos

10 Curitiba, 15 de Junho de 2024
Funcionária do passeio público alimentando e cuidando das aves
portalcomunicare.com.br
Beatriz Moschetta Santos Beatriz Moschetta Santos Beatriz Moschetta Santos 3º período

Reforma do MAC permanece incompleta há quase meia década

Prédio tombado pelo

Patrimônio Cultural e localizado no coração da cidade se encontra abandonado, sem previsão para sua reforma ser concluída. A obra era realizada por órgão atualmente extinto.

Oprédio histórico que já foi sede da Diretoria de Saúde do Estado e do Museu de Arte Contemporânea está fechado desde 2019 para revitalização. Entre as mudanças previstas estavam a construção de um anexo e a revitalização de pisos, escadas e mármores, que se desgastaram com o tempo. A obra possuía o prazo de conclusão de um ano e meio. A obra, porém, nunca saiu dos estágios iniciais.

Localizado entre a Rua XV de novembro e a Praça Rui Barbosa, o casarão possui um estilo eclético e foi inaugurado em 1918, pelo então governador Caetano Munhoz da Rocha. Além do museu de arte contemporânea, o espaço também era ocupado pelo Museu da Imagem e do Som e pelo Conselho Estadual de Cultura.

A licitação tinha o requisito de ser concluída em 540 dias (cerca de 18 meses) pela construtora vencedora e teria início em 13 de maio de 2019, com um investimento do governo estadual de R$5 milhões. A restauração teria a supervisão e vistoria da Paraná Edificações, órgão do governo que posteriormente foi extinto.

A construtora vencedora da licitação, Infrateco, afirma que o motivo para a paralisação das obras foi um mandado de medidas de segurança, emitido pela empresa de arquitetura PJJ Malucelli, em 2019. O processo foi finalizado três anos depois, no qual a Paraná Edificações não compareceu em nenhuma audiência do processo.

O Paraná Edificações (PRED) era um órgão governamental que administrava obras estaduais. Por conta da Lei da reforma administrativa, que entrou em vigor no segundo mandato do atual governo, a empresa pública foi anexada à secretaria das cidades que ficou responsável por administrar obras que eram do órgão anexado.

A Superintendência-geral da Cultura do Paraná afirma que a Justiça liberou o retorno às obras, mas houve desequilíbrio econômico devido às decorrências do processo. Também disse que essas questões se encaminham para uma nova licitação da reforma, mas não foram detalhados prazos de quando isso ocorreria.

Em nota enviada à reportagem, a assessoria de imprensa do MAC afirma que foi necessário um levantamento sobre o que havia sido feito e uma atualização de valores pendentes à empresa. Nesse levantamento foi alegado que alguns serviços da construtora foram realizados de forma inadequada e fora do projeto, que serão refeitos ao retomarem as obras. Além disso, o texto indica que apenas 11% do contrato inicial foi executado.

No dia 24 de janeiro, foi realizada uma reunião da Diretoria de Edificações da Secretaria das Cidades, em que a retomada das obras foi colocada como uma das prioridades do Governo. “As Secretarias envolvidas estão trabalhando intensamente para essa retomada e entrega do MAC”, diz a nota enviada pela assessoria do museu.

“Estar no MON mantém vivo o museu”

Atualmente o MAC está anexado ao Museu Oscar Niemeyer, ocupando duas salas do espaço e podem ser acessadas através do ingresso do MON, no valor de R$30. Em uma delas se encontra a exposição “Reforma: formas de ver”, que traz um acervo de obras que já foram expostas na antiga sede em seus cinquenta anos de história.

O professor de artes e apaixonado por museus Rafael Mesquita diz que procura ir mensalmente ao MON, tanto para ver peças novas quanto para revisitar exposições que passaram despercebidas, principalmente quando o museu tem entrada gratuita. Ele conta que nunca visitou o casarão do MAC, mas que tem curiosidade de conhecer o local.

O artista considera importante o retorno à sede histórica, pois, além da valorização do local e a exclusividade de um espaço para arte contemporânea, fomenta a arte e a cultura no centro. Trata-se de um lugar da cidade onde o peso histórico e cultural é muito forte.

Assim como o centro da cidade traz visibilidade ao museu, o Museu de arte contemporânea também traz visibilidade aos artistas paranaenses, como diz o estudante de artes, Guilherme Renner. Ele considera importante o retorno, pois haveria mais possibilidades de criação de exposições e mostras, além do acesso gratuito do museu.

Exposições MON

Conheça as exposições em cartaz no Museu Oscar Niemeyer em 2024.

• MON sem Paredes, realizado pelo Museu Oscar Niemeyer (MON), revela outras formas de expressões artísticas

• Coreografias do Impossível, 35ª Bienal de São Paulo, mostra itinerante em Curitiba.

• Ásia: a Terra, os Homens, os Deuses, com a curadoria do professor e diplomata Fausto Godoy.

• África: expressões artísticas de um continente.

• Mario Rubinski, o Espaço Imantado, com a curadoria de Adolfo Montejo Navas e Eliane Prolik.

• Extravagâncias, de Joana Vasconcelos.

• O Mundo Mágico dos Ningyos, com a curadoria de Denise Mattar.

• Antes e agora, longe e aqui dentro, de diversos artistas, com a curadoria de Galciani Alves.

• Pátio das esculturasEspaço expositivo ao ar livre, localizado no piso subsolo do museu, onde estão expostas em caráter permanente 18 obras tridimensionais.

Leia mais

Conheça mais prédios históricos com o estilo do MAC.

11 Curitiba, 15 de Junho de 2024 Cultura
“Sueña fuerte” - Francisco Hallman, 2021.
portalcomunicare.com.br
Prédio histórico do MAC que permanece parado no tempo. Gustavo Xavier Gustavo Xavier Gustavo Xavier 3º Período

Esporte

Futsal Feminino : o esporte como acesso à inclusão social

A cidade de Colombo tem se destacado no cenário esportivo, especialmente no âmbito feminino, graças à parceria entre a Prefeitura Municipal e o Colégio Estadual do Paraná (CEP). Desde 2010, a equipe feminina do Colombo/CEP vem demonstrando um ótimo desempenho nas competições escolares e estaduais em que participa.

12 Curitiba, 15 de Junho de 2024
As atletas Nayara Santos e Thaissa Menon, em treino válido para o Campeonato Paranaense Feminino Adulto contra o Uniguairacá/Guarapuava Treino de futsal feminino realizado no Ginásio Municipal Célia Boaventura da Silva Ceccon, localizado na cidade de Colombo As atletas Thaissa Menon e Nayara Santos, estudantes bolsistas graças ao projeto. Ambas jogam pelo time há nove anos Aquecimento antes do treino válido para o Campeonato Paranaense de Futsal Série Prata 2024 “O esporte me ajudou muito em um momento delicado, então é uma honra poder vivenciar tudo isso”. Afirma Nay, que atua como goleira

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.