revista corpo da matéria CURSO DE JORNALISMO PUCPR

revista corpo da matéria CURSO DE JORNALISMO PUCPR
Artistas curitibanos transformam material descartado em obras
Ano 21 - Edição 62 - Junho de 2024
Revista Laboratório do Curso de Jornalismo PUCPR
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
R. Imaculada Conceição, 1115 Prado Velho, Curitiba PR
REITOR
Ir. Rogério Renato Mateucci
DECANA DA ESCOLA DE BELAS ARTES Ângela Leitão
COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO
Suyanne Tolentino De Souza
COORDENADORA EDITORIAL
Suyanne Tolentino De Souza
COORDENADOR DE REDAÇÃO/JORNALISTA RESPONSÁVEL
Paulo Camargo (DRT-PR 2569)
COORDENADOR DE PROJETO GRÁFICO
Rafael Andrade
Alunos - 5º Período Jornalismo PUCPR
Álefe Nícolas dos Santos de Carvalho, Ana Carolina Martins Ferreira, Ana Clara Bernardi Moraes Gomes Carneiro, Ana Lúcia Sonntag, Ana Paula Virgulino, Andre Blatt Filho, Arthur Correia Zablonsky, Beatriz Mangili, Bernardo William Mariano Rodrigues, Caio Jordão Perez Calderaro e Silva, Davi Ozório Dias, Eduardo Ferreira Borges de Oliveira, Emilay Camili Aguiar de Oliveira, Evelyn Garcia Fagundes, Gabriel dos Reis Rodrigues, Gabrielle Tiepolo da Luz, Gustavo Angheben Ferreira Cardoso Magalhães, Helen Cristina da Silva, Isadora Gomes de Abreu, Isadora Lara Guerra, João Alexandre de Brzezinski, João Pedro Karas Butka, Krissians Gabriel Torres, Lais Caimi Marquardt, Lara Wilsek Pereira, Leticia de Moraes Seixas, Lucas Azevedo Magnabosco, Luiza Schmid Braz, Manoela Gouvea, Maria Fernanda Carvalho Pereira Rodrigues, Maria Gabriele Fachini, Maria Júlia Alves da Silva Neves, Maria Luísa Cordeiro, Maria Luiza Baiense Leite Santos, Mariana Leticia dos Santos Aquino, Mariana Machado de Almeida, Ryan Henrique Minela, Tayná Cauane Machado, Tobias Dietterle.
Imagem de capa: Mariana Machado
Artistas curitibanos fazem arte do lixo, trazendo nova utilidade a materiais descartáveis
Ele gosta de coisas abandonadas. A árvore próxima da sua casa será cortada, mas não sem antes Hélio retirar algumas folhas dos galhos para fazer um colar. Enquanto toma seu café com leite, ele lava, seca e usa uma agulha de crochê para passar a linha e unir o que sobrou da planta.
Desde os 7 anos, José Hélio Silveira Leite ou, como ele mesmo prefere, apenas Hélio, gosta de exercer a criatividade com produtos considerados banais do dia a dia. Ao contrário de outros artistas plásticos, sua matéria-prima é um pouco mais incomum: latas de milho velhas, palitos de sorvete, caixa e palitos de fósforo, entre tantos outros objetos que são considerados lixos.
Assim como Hélio, Naja Kayanna dá valor às “coisas” que a maioria das pessoas descartam - não à toa sua casa está abarrotada de projetos inacabados. Ela vê beleza e poesia em pessoas andando na rua ou até na chuva caindo, “as coisas acontecem, eu só presto atenção”.
Somente na capital paranaense são descartados 1,6 tonelada de resíduo orgânico e reciclável por dia. Em um período de 30 dias, apenas 22,5% do lixo produzido é realmente reciclado (ou seja 11 mil toneladas de material reciclável não chegam nos aterros).
Uma caminhada de Naja com a filha é o suficiente para inspirá-la a pegar gravetos, folhas, papeis amassados, ou qualquer outro material que possa originar uma grande história. “As coisas é que me acham, e eu venho e transformo. Alguns eu nem preciso fazer esforço, a história já está na peça”, conta orgulhosa com uma caixinha de iogurte na mão que agora é o castelo de um mago.
Seu estúdio é em sua casa. O quarto de frente para a rua no segundo andar da casa exala cheiro de incenso. Seu gatinho preto e seu cachorrinho guardam a entrada do espaço mágico.
“Eu não precisava fazer isso, mas eu amo.” Hélio Leites, artista visual
A matéria-prima de ambos é muito fácil de ser encontrada, talvez até fácil demais. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o brasileiro produz, em média, 379,2 quilos de lixo por ano, o equivalente a mais de um quilo por dia.
Ali tem-se carreteis e mais carreteis coloridos pendurados na parede, sacolas abarrotadas de retalhos abertas pelo chão, mas é na estante de madeira escura do lado direito que guarda o verdadeiro tesouro. Pilhas e montes de livros, material reciclável, cola e ferramentas, estrategicamente colocados de forma que apenas Naja sabe mexer sem derrubar.
Artistas visuais: Naja Kayanna e Hélio Leites, unidos pela criatividade.
Ela e Hélio se esbarraram no meio da rua há sete anos. A amizade foi instantânea, eles não sabiam que precisavam da companhia um do outro, mas hoje dão risadas de piadas internas, terminam a frase um do outro, compartilham técnicas e interesses pelas esculturas, além de criar histórias miraculosas juntos.
Com um capacete feito de tampinhas de garrafa, grampos de roupa e partes de boneca, Naja balança a cabeça para que o barulho do acessório ajude a lhe dar boas ideias. Para ela, o lixo ganha vida e ajuda na contação de histórias - em sua maioria religiosas. A lata de sardinha com estrelas no fundo se torna um barco para uma maruja viajar pelo mar agitado da vida. Seu maior orgulho são seus mandos: tecidos usados como aventais com as palavras: “aceita” e “acredita”. Palavras inspiradas nas mais variadas religiões (budismo, hare krishna, islamismo, cristianismo), mas que ela busca propagar a todos.
Para eles, a arte é colaborativa. Não perdem a oportunidade de falar de um colega artista, de uma exposição na
cidade, de trabalhos e inspirações de amigos. No momento que sua filha aprendeu a dar nó, Naja correu para pegar retalhos e estimular a menina a dar enrolar o tecido como quisesse. Os colares feitos por ela hoje enfeitam a árvore da amizade - o ipê colorido em frente de sua casa.
Desde criança, Hélio queria consertar as coisas, “consertar com S, queria fazer música com a vida”. Formado pela Escola de Belas Artes do Paraná (Embap), o artesão universitário, como ele se classifica, pega o lixo ou as pessoas entregam para ele em seu local de trabalho: a Feirinha do Largo da Ordem. Todo domingo, próximo ao Memorial de Curitiba, ele expõe suas artes enquanto conversa com os transeuntes. “Acontece de tudo na feirinha, eu tento vir todos os domingos porque aqui é o meu remédio”.
O ambiente acadêmico também foi o início para Naja. Formada em Serviço Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela mesma universidade, Naja por muitos anos deu aulas até que sentiu que tinha que continuar ensinando, mas de outra maneira, “me tornei uma professora sem classe nenhuma”.
Para os dois artistas, a arte é muito mais do que só a aparência física, o objeto tem que contar uma história (de preferência uma piada ou uma prosa religiosa). Para Hélio, o frasco de conta gotas de remédio com uma mini escultura de Rita Lee dentro se transforma na melhor “rita-linda”; o sapato rasgado é a estrutura do “pé-sépio”; ou ainda garfos amassados se tornam óculos. Para Naja, a vassoura velha é a casa de um mestre; um peixe amassado é o jarro de uma monja; e uma escova com as cerdas de aço serve para aguentar as palavras mais difíceis - ao mesmo tempo que flores que estão coladas no cabo vão caindo
para deixar as palavras mais bonitas, ora sai canção, ora sai poesia.
Uma obra que Naja guarda com carinho é um relógio de bolso com brilhos ao invés dos números, “Atemporal: não marca hora nenhuma, mas lembra a gente de um tempo”. Enquanto nos mostrava, perguntou realmente que horas eram: 15h - a exata hora que os ponteiros do relógio estão parados. Essa coincidência é o que torna a vida de Naja e Hélio mais poética.
A escultura mais recente de Hélio são pedaços de borrachas ligadas a um fio de metal: O brinco do perdão, “para passar uma borracha nas coisas ruins que já passou e ter espaço no nosso coração para escrever sobre as coisas boas que virão”, afirma o artista. Muito mais do que apenas estético, a arte tem um propósito útil: deve-se colocar o brinco para visitar uma pessoa que você tem que perdoar.
Até mesmo seu cabelo pode virar uma obra de arte. Ele puxa, mexe e brinca com as madeixas já esbranquiçadas.
Obra que Hélio Leites fez para a filha de Naja, Sofi.
Enquanto gesticula, os colares feitos de tampas de garrafas que estão em seu pescoço se tornam a trilha sonora de suas histórias.
Valentina e Miguel, de 8 anos, são sua plateia da vez. Seu jeito relaxado e exagerado fascina as crianças que prestam atenção em cada detalhe de sua fala que despertam a curiosidade para ver os objetos expostos.
Entre frases de efeito motivacionais sobre amor próprio e histórias sobre sua juventude, Hélio, que já é aposentado,
Música sustentável
Projeto utiliza de lixo para produção de instrumentos musicais
explica que faz suas artes por amor: “Eu não precisava fazer isso, mas eu amo”. Para ele, o preço das suas obras é muito mais do que números. O valor do ‘desapego’, termo que ele usa para se referir aos reais, não representa o real preço: “Essa peça pode custar R$ 100, mas tem outro valor intrínseco, é muito mais sobre amor próprio e a reflexão”.
O boné velho tomou nova forma. Todo decorado com o tema de teatro de boneco, Hélio conta que fez uma homenagem à sua idola Fernanda Montenegro, e chegou até mesmo a apresentar para a atriz: “Era um jeito de colocar para fora da cabeça aquilo que você não tem dentro”. A embalagem de fermento se torna o ninho para a “galinha otimista” que repousa em cima de ovo 5 vezes maior que o próprio animal.
As histórias que Naja nos conta são divertidas, bem diferentes da sua história pessoal. Após ser separada de sua mãe e nunca conhecer seu pai, Naja foi criada pela avó que se suicidou quando tinha 17 anos. Hoje, ela está casada por 23 anos e conta com o apoio emocional de seu colega. Assumindo quase que um papel paternal, Hélio correu para o hospital - invadin-
do o centro cirúrgico - quando Naja estava há 12 horas em trabalho de parto. Antes de quase ser levado pela polícia, Hélio fez questão que o primeiro som que Sofi, sua filha, ouviria fosse o da obra de arte de Hélio (um fio que ao ser puxado soa como uma galinha). Hoje, essa obra é considerada sagrada e está guardada na oficina de Naja.
Confira os materiais que podem ser reciclados e reutilizados. portalcomunicare.com.br
Quais as restrições da arte? Do que ela deve ser feita? Para Fabio Mazzon, não existem limitações. Por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, ele desenvolveu o Projeto Maracá - O Artesanato de Instrumentos Musicais. Focado em escolas públicas municipais e em áreas de vulnerabilidade, o projeto já auxiliou cerca de 2.000 crianças e educadores. Suas oficinas ensinam a produção de instrumentos musicais com materiais recicláveis e alternativos, mas também a compreensão da produção de som, acústica e funcionamento dos instrumentos.
Além disso, Fábio Mazzon, percussionista e co-fundador do projeto,
enfatiza a importância da consciência ecológica dos participantes. Ao fim da confecção, todo o material foi doado para as escolas envolvidas. ”Foi nítido o interesse, participação de cada uma das crianças, que se sentiram capazes, estimuladas em criar novos instrumentos através de materiais simples encontrados em casa, assim como a empolgação das educadoras e diretoras com a possibilidade de utilizar vários instrumentos nas aulas”. declara o artista.
O movimento é muito mais que a montagem de arte, é um incentivo para o futuro das crianças e quem elas serão quando crescerem.
O termo lavagem verde ou greenwashing, como é mais conhecido, é a prática empresarial de enganar os consumidores que buscam comprar produtos sustentáveis
Você já viu alguma embalagem com um selo afirmando que o produto era vegano, não testado em animais, ou sustentável?
Isso influenciou na sua compra? E como você se sentiria sabendo que isso pode ser apenas uma estratégia publicitária para você gastar mais dinheiro naquele produto?
Carolina Fonseca é advogada em Curitiba, e de uns anos para cá, passou a se preocupar muito mais com a composição e a história das marcas que consome. Ela se viu numa situação em que precisou deixar de consumir produtos que eram do seu cotidiano após descobrir que seriam “falsos verdes”.
Carolina confessa que por muito tempo não via o atestado de cruelty free como crucial para consumir um produto, mas que depois entendeu a importância de apoiar marcas que realmente não testam em animais “De uns anos para cá comecei a entender melhor o quanto era degradante e feria os animais esse tipo de experimento, então comecei a dar muito mais valor para marcas e produtos em geral que realmente fossem cruelty free”.
Pode parecer algo pequeno, mas readaptar nossa rotina a novos produtos, às vezes é desafiador. O desafio está na hora de encontrar uma marca que respeite nossos princípios e, ao mesmo tempo, se adeque ao que o nosso cabelo ou pele necessitam no dia a dia.
Para Carolina, foi um choque saber que marcas que consumia se diziam ecológicas, quando na verdade, não passava de uma estratégia para atrair clientes: “É revoltante, além de ser antiético quando empresas se dizem verdes e na verdade não são, porque fere a confiança do consumidor, que eu acredito ser o principal sentimento que me leva a escolher uma marca ou produto. Além disso, fere os valores e princípios das empresas que estão tentando ser responsáveis e caminhar na direção da conscientização ecológica”.
Isso é, infelizmente, uma prática que ganhou espaço principalmente nas grandes indústrias nos últimos anos, a ponto de receber um nome próprio.
Em inglês, greenwashing. No português, lavagem ou maquiagem verde. É a prática empresarial em que as grandes corporações se dizem verdes e propagam de forma estratégica boas práticas ambientais, e na realidade enganam os consumidores ao não realizarem nada daquilo que dizem defender. Ela pode ocorrer por meio de propagandas enganosas, declarações falsas e aumentadas, rótulos e selos inverídicos ou sem comprovações, ou a não divulgação dos impactos ambientais que a empresa causa.
Na última década, o movimento verde tem tido mais força do que nunca. Com as preocupações em relação ao futuro do nosso planeta, as maiores responsáveis por esses danos, as grandes empresas, têm buscado formas de amenizar esse impacto ao meio ambiente. Como é o exemplo das ESGs – a sigla em inglês significa Ambiental, Social e Governança – e são práticas empresariais que têm como prioridade a sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa. Essas práticas requerem planejamento e integração em todas as áreas da empresa. Assim, evitando a degradação dos recursos naturais, promovendo polítiO segmento que Carolina mais se atenta ao comprar é o de cosméticos.
cas sociais inclusivas e adotando uma gestão íntegra.
Mas o movimento não parte somente das ESGs. Muitos consumidores também procuram fazer o seu papel, comprando majoritariamente ou exclusivamente de marcas que compartilham seus ideais. E é sabendo disso, que muitas empresas acabam mentindo e enganando seus clientes. E essa prática não é singular, de acordo com a Pesquisa Global com Investidores de 2023 da PwC, multinacional de auditoria e consultoria, 98% dos investidores brasileiros percebem que relatórios corporativos de sustentabilidade contém informações não comprovadas, ou com divulgações não suportadas por ações e fatos. Já no contexto mundial, esse índice de percepção de greenwashing é de 94%.
As marcas realizam o greenwashing por dois motivos principais, de acordo com o professor de Publicidade e Propaganda da PUCPR Karlan Müller Muniz, “Primeiro porque existe uma pressão da sociedade, questionando a empresa sobre seus posicionamentos, o segundo pela diferenciação. Percebeu-se que se a empresa possui uma postura a favor do meio ambiente, você tem diferenciação de mercado, então empresas querem embarcar nessa”.
Mas não se preocupe, se você já passou por isso ou conhece alguém que foi vítima da propaganda enganosa de alguma empresa, existe solução, “Os consumidores lesados poderão entrar com ações judiciais contra a empresa por publicidade enganosa, buscando compensação por danos ou prejuízos sofridos como resultado dessa publicidade.”, ensina o advogado.
Conforme explica Galindo, a melhor decisão a se tomar é a de se dirigir até o PROCON da sua cidade quando identificar a prática de greenwashing por parte de alguma empresa. Em casos mais graves de fraude ou publicidade enganosa deliberada, a marca também poderá ser criminalmente responsabilizada e seus responsáveis poderão enfrentar penas possíveis de detenção.
“As empresas que praticam greenwashing e divulgam informações falsas para os consumidores podem enfrentar multas e outras sanções financeiras impostas por agências reguladoras ou autoridades governamentais encarregadas de proteger os consumidores e garantir a conformidade com as leis de publicidade.”
COMO POSSO EVITAR CAIR?
Muniz também acredita que o greenwashing para as empresas nunca valerá a pena: “Você sendo uma empresa responsável, pode até perder no consumo, mas ganharia no vínculo entre a marca e o consumidor”. E, por isso, quando o greenwashing é desmascarado, a principal implicação negativa é a perda da credibilidade e confiança dos consumidores comprometidos com a empresa.
Outra consequência é a responsabilidade jurídica. De acordo com o advogado do consumidor, João Victor de Pauli Galindo, a prática de greenwashing é enquadrada como propaganda enganosa, já que pode induzir os consumidores a acreditarem que estão apoiando uma empresa que se preocupa com o meio ambiente, quando na verdade, estão contribuindo para práticas insustentáveis.
Não cair no greenwashing pode ser um desafio para o consumidor, mas existem algumas dicas que podem ajudar a garantir que você não esteja sendo iludido. A primeira é sempre checar as certificações, no Brasil elas normalmente são: Procel, Ecocert, Instituto Biodinâmico (IBD), Forest Stewardship Council (FSC). A segunda é checar os selos, por buscas na internet. A terceira é verificar se a empresa possui uma política de transparência de dados, pois devido a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), muitas empresas compartilham informações em seus sites.
Buscar confirmações sobre as afirmações das empresas e comparar o discurso com suas práticas também pode ser útil. Por fim, preste atenção em expressões vagas, declarações como “produto sustentável”, que não expliquem por que são sustentáveis, pode ser um sinal.
para essa problemática. “Precisamos insistir na educação, ela depende de gerações, como a atual, que está sentindo um incômodo pessoal com a situação que o planeta está vivendo. E talvez essa crise gere uma mudança de comportamento, antes que a crise se torne mais severa.”
A verdade é que questões ambientais estão há pouco tempo nos principais holofotes, as práticas das empresas ou a forma ecológica com que funcionam (ou deixam de funcionar) nunca foi tão cobrada e fiscalizada como é hoje pela população e grandes mídias. E com os efeitos climáticos batendo à nossa porta, existe uma mobilização por parte dos consumidores para pararem de consumir marcas, especialmente após descobrirem que realizam o greenwashing.
Para a paulista Geovanna Beltrame, não é diferente. Ela relata que tem o hábito de conferir os produtos que consome e também se informar sobre os métodos de produção das empresas que os fabricam, já que infelizmente foi vítima de greenwashing algumas vezes. Para ela, essas empresas desprezam totalmente os consumidores, mas as práticas mentirosas fizeram com que ela abrisse os olhos para esse problema “Foi bem frustrante saber que gastei meu dinheiro em algo que acabou não sendo o que eu fielmente acreditava, porém, ao mesmo tempo, ótimo para despertar minha curiosidade e expandir conhecimento”
Mesma situação para a atriz e professora baiana, Gislane Silva Santos, que precisou cortar o consumo de produtos do seu dia a dia depois de descobrir que estava sendo enganada: “Parei de consumir um produto de uma marca que se dizia vegana, foi em relação a ela ter sido vendida para uma outra marca que testava em animais.”
Vânia Rossetto Marcelino, professora de Engenharia Florestal, passou por um caso parecido recentemente. Ela conta que tinha o costume de comprar filtro de café de uma marca específica, até um dia ter estranhado um detalhe na embalagem e questionar a
O consumidor possui, sim, um papel social no que consome. É o que o termo “pegada do carbono” diz. Ele representa o volume total de gases de efeito estufa gerado pelas atividades cotidianas do ser humano, ou seja, é um indicador ambiental que mede as emissões diretas e indiretas de compostos, por exemplo: um indivíduo em sua vida cotidiana ao se deslocar, consumir, se alimentar e utilizar recursos como a energia.
Há quem defenda a existência de pegada de carbono de produtos, que também podem emitir gases de efeito estufa antes, durante e depois de sua vida útil. Nesse caso, a contaminação ocorre desde a obtenção das matérias-primas, processamento, produção e distribuição até a etapa de uso e transformação em um resíduo que será reutilizado, reciclado ou descartado em aterro sanitário. E é daí que vem a importância do nosso cuidado ao que utilizamos.
“Busquei no rótulo o porquê dessa denominação, não tinha nenhuma.”
Vânia
Marcelino, professora
Mas, apesar de todos os cuidados do consumidor, isso nem sempre é o suficiente. E é aí que iniciativas governamentais e ONGs ajudam no combate ao greenwashing. Com a perspectiva de um lado socioambiental, o diretor executivo da organização não governamental Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Clóvis Borges, realiza um importante trabalho em Curitiba e no Brasil a fora no meio ambiental, e expressa que “o grande desafio é ter um projeto demonstrativo que seja valorizado pela sociedade e seja enaltecido. É o caminho para estabelecer políticas públicas capazes de mudar o cenário”.
O trabalho realizado pela ONG não tem como foco principal o greenwashing, mas Borges conta como tem presenciado o mal que essa prática traz e o que acredita ser a principal solução
empresa sobre isso, mas nunca receber uma resposta. “Vi no mercado um filtro de papel de café dessa marca com a palavra ‘eco’, busquei no rótulo o porquê dessa denominação, não tinha nenhuma informação, apenas uma cor diferente da embalagem, imitando papel reciclado. (...) o produto era mais caro que o tradicional.”
Esses são apenas alguns dos relatos de consumidores que cansaram de ser enganados e testemunharem em silêncio a fraude das empresas. É isso que demonstra o levantamento do Euromonitor International “2024 Consumer Trends”. O combate ao greenwashing está entre o top 6 objetivos dos consumidores neste ano, e as empresas podem esperar uma maior fiscalização e revolta com as falsas narrativas de sustentabilidade.
As embalagens dos produtos vegano devem ter o selo da Sociedade Vegetariana Brasileira, do Certificado Vegano da Organização Veganismo Brasil.
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Além do greenwashing, existem alguns segmentos específicos que possuem um senso comum equivocado sobre sua sustentabilidade, como é o caso do papel reciclável. Apesar de muito menos nocivo ao meio ambiente do que o papel celulose virgem, isso não significa que seja 100% ecológico. As empresas responsáveis por sua fabricação utilizam técnicas como o branqueamento (para tornar as folhas mais brancas), processo que se dá a partir do tratamento de componentes como o cloro e se não for corretamente tratado, se torna muito poluente.
Para os cosméticos, a situação é ainda mais complexa: produtos veganos, naturais e orgânicos são vistos como sinônimos de sustentáveis, o que não necessariamente é verdade, já que são muitas as modalidades em que podem se encaixar.
Os biocosméticos são aqueles feitos com substâncias naturais, como extratos de plantas. Os cosméticos orgânicos são livres de agrotóxicos e agentes químicos na sua
produção e de acordo com o Instituto Biodinâmico de Certificações, devem conter, no mínimo, 95% de matérias-primas certificadas como orgânicas. Por sua vez, os naturais são aqueles que não contém aditivos químicos na composição. Os cosméticos veganos possuem fórmulas sem a presença de insumos de origem animal. Por fim, os biodinâmicos são aqueles que respeitam o ciclo natural da matéria-prima, considerando fatores como estação e fases de lua no desenvolvimento das plantas utilizadas.
Você já deve ter se confundido com isso, mas um produto classificado como cruelty-free não é necessariamente vegano. Cosméticos “livres de crueldade” não testam em animais, mas podem conter produtos de origem animal em sua composição. Se essa já foi uma dúvida sua, não se preocupe, é uma informação que realmente pode ser confusa, já que essas características normalmente vêm juntas nas embalagens dos produtos que consumimos.
Krissians Torres
A comunicação, em totalidade, e o jornalismo, têm um papel fundamental em toda a cadeia de educação e conscientização ambiental. Ao disseminar informações que promovem a conservação da biodiversidade ou expor situações que comprometem o equilíbrio ambiental – como denunciar os problemas do mercado industrial relacionados às práticas sustentáveis –, “o jornalismo gera um benefício, principalmente, social”.
É o que defende a jornalista e ambientalista Claudia Guadagnin. Para ela, além de denunciar os problemas que já ocorrem, é função do jornalismo ambiental indicar os caminhos para a mudança socioambiental. “Acredito muito na importância e no valor da promoção de boas práticas, seja envolvendo projetos de conservação, pessoas que estão fazendo a diferença e também empresas que já estão comprometidas com boas ações que mitigam os impactos que suas operações geram ao ecossistema.”
Um jornalista ambiental deve entender a complexidade do meio ambiente e as relações entre os seres vivos. Sejam eles humanos, animais ou plantas. Indivíduos, populações, comunidades ou ecossistemas. Claudia argumenta que “precisamos de mais ‘pé no chão’, da forma mais literal, na natureza, para nos sentirmos realmente parte dela como sempre fomos”.
Claudia soma mais de 15 anos de estudos e trabalhos relacionados à comunicação nas áreas social, ambiental, educacional e empresarial. Em 2018, idealizou a criação do Observatório de Justiça e Conservação (OJC). O OJC é uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo principal divulgar à imprensa e à sociedade abusos e irregularidades cometidas contra a conservação da natureza, especificamente à Mata Atlântica e seus ecossistemas associados.
Durante o tempo que Claudia atuou na organização, conseguiram produzir e
emplacar centenas de reportagens em diversos veículos de imprensa, brasileiros e até internacionais. Em especial, duas campanhas foram muito marcantes: a Pare. Preste Atenção! e a #SalveAIlhaDoMel. A primeira tornou público os riscos de um projeto de lei que buscava reduzir em 70% a Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana, uma Unidade de Conservação paranaense com grandes e importantes áreas de Campos Naturais e Floresta de Araucária que poderia ser desmatada por interesses do agronegócio. A outra difundiu os problemas que a instalação de um complexo industrial portuário poderia gerar em frente à Ilha do Mel. Tais campanhas mobilizaram a imprensa, o poder público e a sociedade de tal modo que impediram que os dois abusos ocorressem. “A força popular é capaz de fazer as pressões necessárias para que os interesses do bem comum prevaleçam”, reflete.
Uma possível alternativa contrária ao greenwashing é a biomimética. Do grego “imitação da vida”, o termo se refere ao uso da lógica da interação e estratégias dos seres vivos e das dinâmicas da natureza aplicadas em diversas áreas. Empresas como Renault, O Boticário, Volvo, EBANX, SESC e SEBRAE já realizaram dinâmicas adotando conceitos do biomimetismo. Para a jornalista, essas iniciativas são muito valiosas. Por meio dessas experiências, as empresas “podem compreender de que forma são capazes de apoiar esses projetos e, de fato, contribuir com a conservação e a proteção da natureza”.
Se projetos como esses fossem mais valorizados e divulgados pelos veículos de imprensa, outras empresas e instituições poderiam conhecer, incorporar e investir em mais ações que realmente impactam na conservação da natureza. Claudia, por fim, reforça que jornalistas devem apurar ao máximo para não cair na armadilha e promover práticas de greenwashing e, ao mesmo tempo, ter absoluta certeza do que acusam ao denunciar esses casos.
Atualmente, trabalha como jornalista e Assessora de Imprensa de instituições ambientais em Curitiba.
Os catadores de recicláveis com seu trabalho árduo e dedicado contribuem para uma Curitiba mais sustentável
Ana Paula Virgulino
Helen C da Silva
Laís Caími
Maria Julia Neves
Regiane Cristina de 44 anos, catadora de recicláveis em mais um dia de trabalho pela
Vila Torres
Curitiba é reconhecida pela inovação e comprometimento com o meio ambiente, tendo a reciclagem de resíduos como um pilar fundamental de sua política urbana. A cidade ganhou reconhecimento nacional e internacional por suas práticas de sustentabilidade. No entanto, apesar de sua importância, os catadores de recicláveis são verdadeiros heróis invisíveis, que sustentam suas famílias e contribuem para a preservação do meio ambiente.
Regiane Cristina, carinhosamente chamada como Tina, é uma mulher de força notável, cujas feições refletem não apenas o passar do tempo, mas também as marcas do trabalho árduo. Com mais de duas décadas dedicadas à reciclagem, Tina é uma pessoa bastante reservada e necessita de um tempo para se sentir à vontade e começar a conversar.
Apesar da timidez, seu sorriso é genuíno, embora muitas vezes o esconda
devido à vergonha de suas falhas dentárias. Aos 44 anos, Tina nutre sonhos que, embora possam parecer simples para alguns, como uma carteira assinada e tempo para cuidar de sua mãe, são de grande significado e importância para ela.
Tina conta que em alguns momentos é difícil carregar quilos e quilos de materiais recicláveis pelas ruas. Todo sacrifício que faz é em busca de proporcionar uma velhice mais confortável e digna para sua mãe, que enfrenta problemas de saúde. O peso que carrega, o risco de se cortar com os resíduos que são descartados de forma incorreta e o perigo das ruas, são desafios diários que encara, assim como muitas mulheres na mesma situação.
Alexsandro Cecílio é companheiro de serviço de Tina e trabalham juntos há mais de 10 anos. Diferente dela, ele é mais comunicativo, não precisa de muito para que ele comece a conversar. Ele tem o sorriso no rosto, mas o olhar é cansado, usa roupas simples e humildes, e as unhas sujas mostram um pouco das marcas que o trabalho manual deixa.
pela sociedade. Em sua experiência, muitos catadores enfrentam uma realidade cruel, sendo abordados pela polícia diariamente de forma desumana. Em vez de compreensão e apoio, são recebidos com agressão e desrespeito. “Peço que nos olhem com mais empatia e reconhecimento. Estamos realizando um trabalho essencial para o planeta”, declara o catador.
Outro desafio é a ausência de apoio governamental. Ao longo dos anos, esses trabalhadores têm lidado com a falta de infraestrutura adequada, condições de trabalho precárias, ausência de equipamentos de segurança e um sistema de remuneração desigual.
“ Estamos realizando um trabalho essencial para o planeta” - Alexandro Cecílio, catador de recicláveis
Aos 48 anos, ele vivencia em sua pele as consequências de ser invisibilizado
Mesmo sendo responsáveis por 86% da coleta de materiais recicláveis em Curitiba, desde o fim da pandemia, em maio de 2023, enfrentam uma redução significativa na renda devido aos baixos preços pagos pelos materiais. O preço por quilo da latinha, por exemplo, caiu drasticamente, passando de R$7 para R$4,50.
Da mesma forma, o valor do papelão despencou para R$0,30, enquanto o papel misto, que inclui embalagens de leite, ovos e remédios, vale apenas R$0,10 por quilo. Além disso, o plástico, que antes era vendido por R$1,80, sofreu uma queda de aproximadamente 80% em seu valor. “Hoje a gente enche o carrinho e fica triste, porque a gente sabe que aquela quantidade ali não vale mais como antes”, lamenta Alexsandro.
A empresa Reciclagem Capital está alocada em Curitiba, São José dos Pinhais e Morretes. Várias toneladas de resíduos entram e saem de seus galpões todos os dias com diversos tipos de materiais, como pets, papelão, latinhas, plástico, papel. Mas além do trabalho com os materiais, a empresa possui o projeto “Eco-herói” de conscientização nas escolas.
dades, buscamos informar e inspirar os alunos a se tornarem defensores ativos do meio ambiente”, afirma Jeniffer.
No projeto a empresa busca mostrar que o lixo e o resíduo são dois conceitos relacionados e muitas vezes confundidos, mas se tratam de termos diferentes. O lixo é considerado como algo descartado ou sem utilidade imediata, muitas vezes associado a algo sujo, indesejável e/ou prejudicial ao meio ambiente.
Por outro lado, o resíduo é mais amplo, pode incluir materiais que podem ser reutilizados, reciclados ou compostados. Resíduos podem ser vistos como potenciais recursos, enquanto o lixo é ligado à ideia de algo que precisa ser eliminado.
Um dos destaques de Curitiba em sua política de resíduos é o programa de coleta seletiva, que foi implementado há mais de duas décadas. Atualmente,
Jeniffer Rossa, analista de recursos humanos, atua na frente do projeto e tem muito orgulho dos resultados que vêm gerando. “Em nossas atividades, não apenas ensinamos os alunos sobre a importância da reciclagem, mas também os envolvemos ativamente em hábitos sustentáveis. Nossa abordagem inclui atividades práticas, tornando o aprendizado divertido e interativo, com brincadeiras que destacam os diferentes tipos adequados de lixo e a importância de separá-los corretamente. Por meio dessas ativi-
cerca de 85% dos domicílios na cidade participam ativamente do programa, separando materiais recicláveis e orgânicos dos resíduos comuns.
A analista afirma que a reciclagem desempenha um papel crucial na promoção da sustentabilidade em nossa cidade. “Reduzir a quantidade de resíduos enviados para aterros sanitários e promover o uso eficiente dos recursos naturais são aspectos essenciais para garantir um ambiente saudável para as gerações futuras.”
Para o professor Altair Rosa, graduado em engenharia ambiental com mestrado em Gestão Urbana, as políticas públicas funcionam muito bem na cidade, mas ainda existem questões a serem melhoradas, como a infraestrutura em bairros mais distantes. “Na minha opinião, não sei se o título de cidade mais conservada e limpa seria o título certo. Eu acredito que é limpa, se compararmos com outras cidades do Brasil “, afirma o engenheiro.
Ele reforça que o maior desafio é a falta de participação da população em adotar e participar dos programas e enfatiza: “Se todo mundo fizer o seu papel e não ficar transferindo responsabilidades, isso dará mais certo do que tudo”, relembrando que o comprometimento começa dentro de casa. O professor também aponta uma redução nos programas públicos de reciclagem nos últimos tempos, atribuindo esse fenômeno ao descaso do governo e da mídia.
O engenheiro ambiental destaca o papel fundamental dos catadores de recicláveis, também conhecidos como carrinheiros, responsáveis por grande parte da retirada de resíduos do meio urbano, como na Vila das Torres, local onde a economia depende em mais de 80% da reciclagem. “Já existem bairros com o carrinheiro amigo, onde as pessoas já sabem o dia que o carrinheiro vai passar para entregar os recicláveis para ele.”, comenta.
Altair credita firmemente que ao longo dos anos, surgirão mais alternativas para uma destinação adequada dos resíduos. Ele ressalta que a tecnologia desempe-
Lixeiras recicláveis e elementos para reciclar.
nha um papel importante nesse cenário, como o uso de lixeiras eletrônicas já adotadas na Europa. Tais iniciativas não só prometem aprimorar a gestão de resíduos na cidade, mas também têm o potencial de contribuir significativamente para a criação de um ambiente urbano mais limpo e sustentável.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), mais de 90% dos materiais recicláveis coletados são devidamente processados e encaminhados para empresas parceiras. Entre esses produtos, destacam-se:
Papéis - A partir do processamento de papelão e papel misto, podem ser fabricados novos papéis reciclados, utilizados em embalagens, papel higiênico, papel toalha, entre outros.
Plásticos - São matérias-primas essenciais na fabricação de uma infinidade de produtos, como garrafas plásticas, embalagens, tubos, sacolas reutilizáveis e até mesmo tecidos para roupas.
Tecidos - A partir da reciclagem de tecidos, podem ser criados novos produtos têxteis, como roupas, calçados, acessórios e até mesmo móveis estofados.
Entrevista com a designer de recicláveis: Silvana Toledo.
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Capa do álbum “Artaud”, creditado à banda Pescado Rabioso. Obra homenageia artista francês Antonin Artaud. Ligado ao surrealismo, Artaud abordou amplamente o tema da morte em seus escritos.
Tanto o sepultamento quanto a cremação causam impactos ao meio ambiente. Com o surgimento de novas alternativas, a sociedade é chamada a refletir sobre a maneira como lida com a morte
Álefe Nícolas
Evelyn Garcia
João Alexandre Brzezinski
Osepultamento é a opção preferida dos brasileiros quando o assunto é pós-morte. Mas há quem vá na contramão da estatística. A cremação representa uma solução menos onerosa para Elaine de Fátima Ribeiro, 46 anos, moradora de Almirante Tamandaré, município da região metropolitana de Curitiba. Mas além de poupar a família de preocupações e gastos com a manutenção de túmulos, a ideia de que suas cinzas possam ser usadas para plantar uma árvore adiciona um toque de beleza a essa escolha. Da decomposição, a ressurreição como parte da terra.
Elaine reconhece uma verdade que muitos rechaçam: quando morremos, deixamos para trás um mundo ainda vivo. Um mundo que foi afetado pelas decisões que tomamos em vida, como padrões de consumo e de comportamento, mas que também é afetado pelas decisões que tomamos para a hora da morte. Parece que, mesmo após a morte, o ser humano continua a ser um estorvo para a natureza.
A principal dessas decisões é a maneira como nosso corpo vai ser disposto. Ao contrário de outras das preferências que costumam ser ventiladas, como a música que deve tocar quando o caixão descer ou o melhor padre para conduzir o cerimonial, a escolha de ser cremado ou sepultado, ou seja lá o que for, tem grande importância ecológica.
“Existem segmentos religiosos no Brasil que acreditam na necessidade de que ocorra o sepultamento após a morte para que em determinado dia, em um fenômeno chamado parusia, todos os mortos tenham seus corpos regenerados e assim levantem-se e caminhem sobre a Terra, retornando do reino da morte”, explica.
Cloves aponta que o livro ‘A Negação da Morte’, de Ernest Becker, mostra que “até o século 13, nós lidávamos com a morte de uma maneira muito mais tranquila. Na Europa medieval, as pessoas eram enterradas nas praças públicas e as covas eram rasas. Quando tinha erosão, chovia, os crânios e ossos ficavam rolando por aí. As
“E por acaso não são o verde e o amarelo cada uma das cores opostas da morte? O verde para a ressurreição e o amarelo para a decomposição, a decadência?” Antonin Artaud (18961948), escritor francês
Estima-se, segundo dados do Sindicato dos Cemitérios e Crematórios do Brasil, SINCEP, que 90% dos restos mortais dos brasileiros que morrem são sepultados em cemitérios. Segundo Cloves Amorim, professor da PUCPR, psicólogo e doutor em Educação, com estudos na área de luto, suicídio e tanatologia (estudo científico da morte), a preferência dos brasileiros pelo sepultamento é um reflexo cultural e religioso da organização histórica e social do país.
crianças brincavam com os crânios. A morte não era horrível. Com o avanço da sociedade, da tecnologia, a morte passou a ser feia e suja. E, como tal, ela deve ser distante. Nasce o tabu da morte”.
Matheus da Silva Costa, 21 anos, comenta que deseja ser sepultado: “é a referência que eu tenho. Não gosto da ideia de ser cremado”. Matheus, que não gostaria de ser guardado na casa de familiares, relembra de um sepultamento marcante que presenciou. Em
Goioerê, sua cidade natal, um carro fúnebre subia a Avenida Tiradentes, uma via especialmente íngreme. No topo do carro, um caixão sendo levado para o cemitério. Em dado momento, a física ignorou a etiqueta e impôs suas leis: o caixão escorregou. “Foi descendo a rua”, comenta Matheus.
Quando alguém é sepultado, o corpo entra em processo de decomposição. Uma das etapas desse processo é a liberação do necrochorume, um líquido escuro produzido pela putrefação do cadáver. A engenheira ambiental Gabriela Cavion, que já conduziu pesquisas sobre a liberação de gases no sepultamento e na cremação, explica que, quando sepultado, “o corpo fica gerando necrochorume e liberando gases durante todo o processo de decomposição, em torno de cinco anos”. De acordo com Gabriela, um dos grandes riscos do sepultamento é a infiltração desse líquido no solo, que pode contaminar gravemente os reservatórios subterrâneos de água. Além disso, os gases liberados pelo corpo, mesmo que enterrado, poluem a atmosfera.
Tendo em vista o risco que o necrochorume e os gases da decomposição podem causar ao meio ambiente, desde 2003 os órgãos ambientais passaram a fiscalizar a implantação de novos cemitérios, enquanto cemitérios mais antigos enfrentaram dificuldades para se adequarem às novas normas. Alguns critérios foram estabelecidos para prevenir os impactos ambientais do sepultamento, como a implantação do cemitério a uma distância segura de corpos de água.
Mas adaptar os cemitérios à legislação pode não ser suficiente para mitigar os perigos do sepultamento. Na verdade, o próprio cemitério já é um problema: eles utilizam muito espaço e costumam ser construídos em áreas verdes, que poderiam ser utilizadas para manter bosques ou áreas de preservação. “Talvez a gente precise aprender que não vamos mais ter um cemitério no modelo tradicional, por 10 mil motivos. Vamos ter que prestar reverências de um outro jeito”, diz Cloves sobre as tradições de honrar os mortos com flores e tributos em túmulos.
Para quem busca uma alternativa ao sepultamento, seja por considerá-lo pouco sustentável ou para não ter que lidar com as despesas e dores de cabeça de comprar e manter um jazigo, a cremação é a principal (senão única) opção.
O Crematório Vaticano de Curitiba explica como funciona o processo de cremação: antes de tudo, são retirados quaisquer objetos que estejam no caixão, para garantir que apenas o corpo seja cremado. O corpo é então colocado num forno, onde fica cerca de três horas. Após o procedimento, os fragmentos restantes são triturados e as cinzas são entregues à família.
“O corpo entra em combustão a uma temperatura de mais ou menos 1000°C. Toda pele e massa muscular é queimada, transformada em vapor e gás, enquanto os ossos maiores permanecem praticamente inteiros ou em pedaços. Após a finalização da cremação, esses ossos são triturados e juntados com as cinzas”, complementa Gabriela, que já realizou o monitoramento de uma chaminé de crematório.
Em comparação com o sepultamento, é fato que a cremação causa menos impactos graves ao meio ambiente: durante o processo, há pouca emis-
“Os impactos ambientais [da cremação] são baixos em comparação com o sepultamento.”
Gabriela Cavion, engenheira ambiental
A verdade é que já existem novas maneiras bem mais ecológicas de lidar com os mortos. A aquamação, por exemplo, é um dos métodos que mais têm chamado a atenção na mídia: os restos mortais de um indivíduo são banhados numa câmara com água e produtos químicos alcalinos. Então, a câmara é aquecida. Em cerca de 90 minutos, os tecidos são dissolvidos nos líquidos e sobram apenas os ossos, que são secados e cremados.
Ria Munk on her Deathbead (1912), por Gustav Klimt (1862–1918). A morte foi tema recorrente nas obras do pintor austríaco Klimt. Representante do movimento simbolista, ele explorou o pós-vida através de contrastes de ornamentos, aliando o uso de cores vibrantes ao uso de composições assimétricas.
são de gases tóxicos ou liberação de necrochorume, como explica Gabriela: “uma cremação libera gases somente durante o período de uma hora, dependendo do tamanho do corpo”.
Os gases nocivos resultantes da queima do corpo são tratados em câmaras e dissipados: “os impactos ambientais são baixos em comparação com o sepultamento pois os sistemas de cremação são dotados de uma câmera secundária, que faz com que os gases gerados sejam queimados”, esclarece.
Todavia, a cremação ainda peca pelo gasto energético. Os fornos que realizam o processo costumam utilizar combustíveis fósseis como gás natural, que também emitem poluentes, ainda que em baixas concentrações.
Outro aspecto que deve ser levado em conta, porém, é a economia de espaço. A cremação elimina a necessidade de jazigos familiares e a necessidade de ocupar áreas verdes para criar novos cemitérios. Mesmo assim, ela acaba sendo inacessível para alguns estratos da população: muitas famílias pobres costumam utilizar cemitérios públicos, cedidos pelo município, onde o corpo fica no jazigo cerca de três anos até ser exumado e descartado, quando o local dará lugar a um novo corpo.
E ENTÃO?
Existe morte verdadeiramente sustentável? Afinal, tanto o sepultamento quanto a cremação agridem o meio ambiente, mesmo que em medidas diferentes.
Esse processo usa menos energia e, portanto, emite menos gases poluentes que a cremação tradicional: de acordo com a estadunidense Bio-Response, empresa especializada na aquamação, o processo usa 90% menos energia do que a cremação com chamas.
Mas nem só de aquamação se fala mundo afora quando o assunto é ser verde até no pós-morte. A compostagem humana tem despontado no ramo funerário. O nome é autoexplicativo: faz-se com os restos mortais basicamente o que se faz com qualquer resíduo orgânico submetido à compostagem. O corpo é levado a um container e coberto com matéria orgânica, como serragem ou alfafa. Então, as condições de temperatura e umidade são ajustadas para acelerar o trabalho dos organismos decompositores que já existem em nosso corpo, de acordo com a Recompose, a empresa estadunidense pioneira no segmento.
Após cerca de um mês, o container é aberto. Os ossos são triturados e misturados com a matéria orgânica: o que sobra é uma terra muito fértil, que é devolvida para a família do falecido. A compostagem humana revela uma possibilidade animadora para o futuro da morte, pois não utiliza altos níveis de energia nem gera emissão de gases poluentes.
Tanto a aquamação quanto a compostagem humana são ainda mais sustentáveis que a cremação. Todavia, ainda existe um longo caminho para que essas práticas sejam regulamentadas e normalizadas no Brasil. Sobre uma possível mudança de paradigma acerca da morte para que a sociedade aceite novas maneiras ecológicas de
dispor dos mortos, Cloves acredita que essa mudança não está tão distante. “Eu sou bem otimista. Pensando no mundo que queremos deixar para nossos filhos e netos, acredito que essas mudanças podem ser muito rapidamente assimiladas.”
Por enquanto, parece que a opção menos agressiva ao meio ambiente para nós, brasileiros, é a cremação. “Além de causar menos impactos ambientais em relação ao sepultamento, não ocupa espaço após o processo”, explica a engenheira ambiental Gabriela Cavion.
Gosta de música?
Acesse o QR Code e ouça o álbum “Artaud”, creditado à banda argentina Pescado Rabioso, no YouTube. A capa desse álbum deu vida às páginas da reportagem.
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Morte e Vida (1916), por Gustav Klimt (1862-1918).
Nessa obra, Klimt retrata a dualidade entre vida e morte. A pintura representa pessoas de variadas idades, com semblante serenos em face da morte. Klimt veste a vida com tecidos coloridos e padrões alegres. Em contraste, a morte veste cores escuras e símbolos sombrios.
Abrigos de animais de Curitiba são os mais prejudicados pela irresponsabilidade da população
Ocão Xodó tem olhos de criança. Há mais de quatro meses em um abrigo da Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba (SPAC), seu olhar de incompreensão e inocência tem a companhia de nove outros cães - uma parcela pequena dos mais de 200 animais mantidos pela instituição, resgatados dentre os 145 mil animais abandonados na cidade de Curitiba, segundo o Censo Animal 2022. Além do olhar, Xodó compartilha com seus nove companheiros um passado de negligência e maus tratos. Sua pelagem marrom-dourada quase não esconde as feridas de quando, há quatro meses, foi alvo de queimaduras por água fervendo. Xodó é apenas um entre dez - parcela dos 200, resgatados dos 145 mil.
“À beira de um rio…”, “Em uma rodoviária…”, “No meio do mato…”. O abandono é um tema comum às histórias contadas semanalmente nas redes sociais da SPAC, que estima que um cão é deixado nas ruas por dia em Curitiba. Nas esperanças de achar algum adotante, Soraya Simon, voluntária há 23 anos na ONG, elabora as postagens em meio ao trabalho que exerce todos os dias, cuidando dos animais e atendendo pedidos de resgate.
Em uma modesta clínica veterinária, onde mantém dez cães para adoção no pequeno canil acoplado à clínica, Soraya e sua equipe de 6 voluntários lidam diariamente com a indiferença da população - recebem dez pedidos de resgate, para cada animal que é adotado. Mas o que querem, de verdade, é que não tenha ninguém para adotar. Que não tenha mais abrigos. Porque, apesar de seus esforços, garantem que “rua não é casa, mas abrigo não é lar”.
“E a gente fala: não, não procure abrigo, só procure em casos de emergência.”
Soraya Simon, voluntária
“E a gente fala: não, não procure abrigo, só procure em casos de emergência. Porque tão todos lotados, cara. Quem trabalha de verdade tá lotado e tá ferrado”, desabafa Soraya. Em Curitiba, são cerca de dez ONGs de resgate aos animais de rua, segundo levantamento do projeto Eu Quero Ajudar Curitiba. Em suas páginas da internet, quase todas citam terem sido criadas pelo amor aos animais, e se colocam no compromisso de socorrer, proteger e cuidar de seus bichinhos.
Mas é um trabalho árduo, de muita devoção e pouco incentivo - A Associação Vida Animal atualmente conta com apenas dois funcionários para cuidar dos mais de cem animais que mantém em seu abrigo. A Instituição Pró-Bem teve que encerrar suas atividades em 2023 por falta de doações, depois de mais de dez anos de atuação. E a Sociedade Protetora dos Animais tem mais de R$ 3 mil em dívidas acumuladas, e quase sem financiamento para pagar aluguel, luz, salários, água, ração, e a reforma de um muro caído recentemente.
Vivem de doações, mas o que mantém o trabalho é quem as gasta. Quando a cadela Vida foi levada ao abrigo, a dívida já se encontrava em R$19 mil, e, para tirar o cano que estava preso em seu pescoço, precisaram gastar mais algumas centenas de reais. Foi encontrada acuada, e, mesmo hoje, prefere se esconder no telhado da clínica e latir sempre que chega algum visitante.
Mas nunca deixa de descer, e às vezes ficar por perto, às vezes observar de longe a movimentação de pessoas, antes de subir correndo a ladeira que liga a clínica aos canis da SPAC, como se fosse contar aos outros, empolgada, o que acabou de ver. Não é por tanto a animação dos outros cães, como Pluto, que, mesmo com as patas fraturadas e um tumor que o dificulta andar, pula o mais alto que consegue sempre que alguém se aproxima das grades que o separam da vida que quer tanto conhecer. Se Soraya pudesse, levava todos para viver com os outros nove cães e três gatos que já adotou das ruas.
“Se eu pudesse eu levava mais. Mas em casa já é um fervo, chego em casa e é uma pulação e um cheiro que você não tem noção. Eu venho aqui para ajudar, mas a gente tem os bichos da gente, problemas da gente, trabalho da gente. E, na verdade, a situação está como está, porque as pessoas não fazem a parte delas. Abandonam porque vão se mudar ou porque quem cuidava morreu. Mas então cuide do animal, divulgue a adoção, procure castração gratuita na prefeitura. Mas preferem jogar na rua, ou enfiar num canil. Falta conscientização, falta dizer que menos abrigos é mais sustentabilidade”, expõe a voluntária.
Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que, no ano de 2022, existiam cerca de 30 milhões de animais abandonados nas ruas do Brasil, sendo cerca de 10 milhões de gatos e 20 milhões de cachorros. Eles sentem sede, fome, frio, medo e dor e, além do sofrimento animal, eles também representam um risco à saúde pública, uma vez que não têm acesso a cuidados e vacinação, estando suscetíveis à doenças como raiva e leptospirose, que podem ser transmitidas aos humanos.
Em comparação com as idades, um cachorro vira-lata que recebe amor, carinho, cuidados e atenção, com uma alimentação adequada e vacinação, pode ter uma estimativa de vida que ultrapasse os dez anos com muita saúde e disposição. Já os cães abandonados vivem, em média, até dois anos, devido às más condições a que são expostos diariamente.
Em Curitiba, o problema já foi maior. Os 145 mil animais abandonados nas ruas atualmente representam uma queda de 32% em relação a dez anos atrás, quando havia 213 mil animais nas ruas. Mas, considerada a “capital dos pets”, a população de cães e gatos, abandonados ou domiciliados, está se aproximando da população de seus donos. Em 2012, havia um animal para cada quatro habitantes, e, hoje, é um para cada três.
Afetados por essa população de cães nas ruas, moradores do Bairro Alto
relataram à prefeitura um grande número de cães abandonados. A estudante Gabriela Gregório conta que o campus da Universidade Federal do Paraná (UFPR) situado no bairro já foi um ponto comum de abandono de animais - tanto que, hoje em dia, as paredes e muros do local são povoados de cartazes pedindo para cuidar dos animais e não abandoná-los.
Outra moradora, Laís Toews, relata que, em sua região do bairro, muitos moradores deixam seus animais saírem pelas ruas, para depois serem esquecidos. “Antigamente existiam mais animais completamente abandonados, sem donos, sem comida e sem lar. Hoje, principalmente os gatos, são deixados sair pelas ruas, mas muitas vezes não voltam para a casa e acabam pegando doenças”, relata.
A questão das doenças é um problema grave, segundo a veterinária Joyce Aleixo, que aponta que muitas dessas doenças podem levar à morte. Zoonoses, doenças transmitidas de animais para seres humanos, registram, em média, 850 casos por ano em Curitiba, segundo o Centro de Zoonoses de Curitiba. Sendo mais comum em gatos, o Centro recebe, ao mês, 70 notificações de casos de esporotricose felina, dos quais 8,46% dos gatos eram de rua, e, em concordância com o relato de Laís, 36,9% eram semi-domiciliados - davam “voltinhas”, como relatam os tutores.
Para Aleixo, uma medida eficaz que pode ser tomada nas cidades é promover campanhas de vacinação e castração, que evita ninhadas indesejadas, além de incluir na rotina consultas veterinárias e vermifugação periódica. “As campanhas de incentivo à adoção também podem ser um caminho para diminuir o número de animais nas ruas, que podem representar um risco ao meio ambiente e à saúde pública”, acrescenta.
“As ONGs têm uma função. A função delas é resgate, tratamento, acolhimento e adoção, não é pra resgatar e acumular cachorro”, é o que conta Patrícia Yamasaki, coordenadora de
eventos de adoção da Associação Amigo Animal. Todos os sábados, no Pet-Shop Hiperzoo Parolin, ela e um grupo de voluntários juntam dezenas de cães e gatos em cercadinhos de metal, em frente ao estacionamento do local, e passam suas tardes à espera de alguém que possa se sensibilizar. Não é raro ver um movimento grande de pessoas nos eventos, tampouco ver alguns animais no colo de possíveis adotantes, mas é, sim, raro ver algum animal que não espere sua vez de sair do cercadinho, mesmo que seja para ser devolvido, como os outros.
Mas nem sempre foi assim. Ou pelo menos, por um tempo não foi. Durante a pandemia, os números impressionavam: a coordenadora conta que, em apenas um sábado, 43 animais haviam ganho um novo lar, e em todos os outros, pelo menos 30 eram adotados. Ao ver da coordenadora, devido a quarentena e a isolação, para muitos ter um companheiro era a “solução de seus problemas”.
Até que, por precisarem de ração, água, atenção, passeios regulares e que alguém limpasse o que sujam, os animais acabaram se tornando problemas. Depois da pandemia, muitos animais foram devolvidos, e hoje, conseguem doar apenas 1 ou 2, e às vezes nenhum, por semana.
Mas melhor do que doar aos montes, é doar para quem é responsável. Algumas pessoas buscam por animais para cuidar da casa - cachorros para proteção, ou gatos para caçar ratos. Mas o que Yamasaki quer, é que eles tenham uma vida melhor, passeando, fazendo companhia para o dono, e não tendo que realizar tarefas, não sendo “escravos de seres humanos”. É um processo difícil, e além desses problemas, a maior dificuldade é fazer com que os animais mais velhos sejam escolhidos.
Recentemente, havia duas cachorrinhas, Vic e Chantilly, para adoção conjunta nos eventos. Mas apenas a Vic, de cinco anos, foi adotada. Dias depois ela voltou para buscar sua carteirinha, e Patrícia ficou feliz com o que viu: “Eu olhei pra ela e disse ‘Vic, tu é outra cachorra!’. Ela já me olhou,
“O mundo ideal é que cada bairro, cada comunidade, fizesse seu papel. Imagina que lindo seria.”
Ricardo Miike, adotante
ela já abanava o rabinho, ela entrou e saiu do carro dela como se ela fosse a dona, sentou lá dentro assim: “Eu sou a dona.” E isso dá uma felicidade na gente, mas pena que são poucos esses momentos. Não são muitos”. Chantilly, de cinco anos, ainda aguarda em seu cercadinho de metal.
Ricardo Miike, de 56 anos, também trabalha a favor da proteção animal, e mantém o Projeto Violeta Vive, que existe há mais de 11 anos. Seu projeto é consequência de muitas adoções que já fez, na qual, ele conta, já resgatou mais de 50 animais e cuida de mais de 200 em sua chácara. Uma de suas adoções é a cachorrinha de pelos brancos Blanche -“Foi importada do Boqueirão”. Ele a viu andando pelas ruas, e por estar no cio, muitos cães estavam atrás dela, e então decidiu levá-la para não ficar prenha e no meio da rua. De acordo com o dono da Blanche, ele gostaria de ajudar a todos, de ter uma “santuário autossustentável”, mas não tem condições. Ou teria, ele conta, se cada um fizesse sua parte.
“O mundo ideal é que cada bairro, cada comunidade, fizesse seu papel. Imagina que lindo seria. E é impossível? Claro que não! Tem países aqui do lado que estão fazendo esse controle, como o Chile. Na Europa, tem uma multa altíssima se abandonar cachorro na rua. E os que estão na rua, a população cuida. Dá água, comida, e aí o cachorro não ataca, não fica agressivo. É uma outra cultura. E aqui, a gente deve ter essa conscientização para mudar a nossa cultura, não achar que é a ONG que tem a responsabilidade de tirar aquele cachorro da rua”, desabafa Ricardo.
e depois psicologia, por não querer fazer experimentos em animais. Tota também começou cedo, com apenas 19 anos, por uma paixão e apego aos animais. Nesses mais de 40 anos, tenta conciliar seu trabalho como bailarina no Teatro Guaíra, outra paixão de sua infância, com o dever de fazer o trabalho que ninguém quer, e que tantos animais precisam. Nos muitos anos que passaram, contam que já choraram muito com tudo que viram, na luta para dar um lar aos que são deixados para trás.
“O que a gente quer é outra vida para eles. Hoje tem muito bicho que vai morrer na rua e que vai morrer em abrigo, se não tiver prevenção, se não tiver consciência. E são muitos que morrem com a gente, depois de anos. Para alguns, isso aqui vira a vida inteira, a gente sai daqui e vai pra casa, mas os bichos ficam aqui”, expõe Soraya. Xodó é apenas um entre dez - parcela dos 200, resgatados dos 145 mil.
“Animais sem lar” é um documentário que busca alertar sobre o abandono e maus tratos a animais
https://www.animaissemlar.com.br/
Tota, voluntária há 46 anos pega água para limpar o canil.
A eficiência dos medicamentos itoterápicos têm auxiliado o tratamento de diversas doenças
Letícia Seixas
Maria Fernanda Carvalho
Mariana Aquino
Denise Nusdeo, 67 anos, enfrenta o desafio constante da fibromialgia, uma condição crônica que assola suas articulações do corpo com dores e fraqueza. Sua rotina é repleta de medicamentos que fazem parte do tratamento, mas, a longo prazo, alguns desses remédios deixam de fazer efeito.
Após uma de suas aulas de hidroginástica, Denise percebeu que as colegas do seu horário se reuniam em volta de uma árvore, colhiam as folhas e comiam. “A fitoterapia melhorou minha qualidade de vida. As dores nos braços e pernas praticamente desapareceram.” relata. Surpresa com o ato,
ela perguntou o motivo de o fazerem, e descobriu se tratar de uma árvore de ora-pro-nóbis, benéfica para as articulações, ossos e tecido ósseo.
A curiosidade a motivou a investigar mais sobre a planta e consultar um farmacêutico. O que a levou a plantar uma muda em sua casa, e passando também a utilizar um medicamento em cápsulas da folha. Com pouco tempo de uso, Denise já percebeu uma significativa melhora no alívio das dores e passou a sentir mais disposição.
O sucesso não se limitou a ela; um amigo também experimentou resultados promissores ao utilizar o ora-pro-nóbis para evitar um procedimento
de implante ósseo. Essas experiências evidenciam o potencial da fitoterapia como uma alternativa eficaz no tratamento de condições como a fibromialgia, oferecendo uma nova perspectiva de alívio para aqueles que enfrentam desafios semelhantes.
Baseada no uso de extratos de plantas medicinais, a fitoterapia oferece uma abordagem holística para a saúde, reconhecendo não apenas os sintomas físicos, mas também o bem-estar emocional e mental do indivíduo. O médico Luiz Antônio Batista da Costa, um dos fundadores da Associação Médica Brasileira de Fitomedicina (SOBRAFITO), afirmou que a fitoterapia não deve substituir o tratamento convencional e, sim, complementá-la. Os remédios fitoterápicos são obtidos a partir da concentração dos ativos vegetais que são encontrados nas plantas medicinais. Segundo Costa, a junção das práticas fitoterápicas com as convencionais traz resultados muito positivos.
A fitoterapia, embora muitas vezes considerada uma prática alternativa, tem raízes profundas na história da humanidade, remontando a tempos antigos em que ancestrais confiavam nas plantas para tratar uma variedade de condições médicas. Com uma vasta gama de plantas e ervas conhecidas por suas propriedades terapêuticas, a fitoterapia continua a atrair a atenção de pesquisadores e pacientes em busca de soluções naturais e menos invasivas para uma variedade de doenças e condições de saúde.
A terapeuta alternativa Jocitelma Tiepolo vê na fitoterapia uma forma de medicina que busca compreender o paciente como um todo e que, usando uma abordagem mais ampla, tenta entender os motivos que fazem a pessoa desenvolver determinados sintomas.
Jocitelma conheceu a fitoterapia depois que teve síndrome do pânico. Em paralelo com o tratamento convencional, ela usou a fitomedicina e ficou muito satisfeita com os resultados. Assim como Costa, ela também afirma
que a medicina tradicional não deve ser descartada e que a junção das duas é o caminho ideal.
Na visão da terapeuta, o maior desafio de trabalhar com a fitoterapia é o senso comum que muitos pacientes possuem a respeito dos medicamentos naturais. Os remédios fitoterápicos podem ser usados para diversos tipos de doenças, incluindo os transtornos psicológicos. Jocitelma afirma que com o uso da fitoterapia, os pacientes trazem resultados mais acelerados e sentem um bem-estar que não sentiriam usando apenas o tratamento convencional.
“
A fitoterapia melhorou minha qualidade de vida.”
Denise Nusdeo, aposentada
Letícia Seixas
Maria Fernanda Carvalho
Mariana Aquino
medida que as pessoas buscam abordagens mais naturais e holísticas para cuidar de sua saúde, os medicamentos fitoterápicos à base de canabidiol (CBD) emergem como uma opção cada vez mais popular e intrigante. Da ansiedade à
“A responsabilidade dos médicos não é só de informar, mas também estar habilitado para prescrever este tipo de medicamento.”
A planta Cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha, consta de farmacopeias pelo mundo há séculos. Na década de 1920, a comercialização do cigarro de Cannabis sativa era legalizada no país, porém na década de 1930 a história começou a mudar e leis proibicionistas restringiram a venda e a utilização da planta.
Cada tratamento exige um método específico Formas de administração
dor crônica, do estresse à insônia, o CBD está sendo explorado como uma possível solução para uma variedade de condições de saúde, despertando tanto interesse quanto controvérsia.
“A cannabis e a maconha são a mesma planta. A diferença é a genética entre elas. Algumas plantas têm mais CBD enquanto outras têm mais THC, ou ainda CBD e THC em proporções semelhantes”, explica a médica Ana Caroline Santana, pós-graduada em Psiquiatria pelo Hospital Israelita Albert Einstein.
“O resumo medicinal da cannabis no Brasil é a indicação de produtos deri- Freepik
A cannabis terapêutica oferece diferentes formas de administração, como solução oral, extrato artesanal, cápsulas, cremes e loções, e vaporização. Cada método atende às necessidades individuais dos pacientes: a solução oral contém uma base de óleo com canabidiol e baixíssimas doses de THC, enquanto o extrato artesanal oferece uma opção mais acessível. Embora as cápsulas estejam disponíveis, sua absorção no organismo é considerada menor. Para o tratamento tópico, cremes e loções à base de cannabis são utilizados. A vaporização da erva in natura é reconhecida como uma eficaz alternativa para alívio dos sintomas, especialmente para efeitos analgésicos.
vados dela, sejam óleos sub-linguais, spray nasal, spray bucal, pomadas, enfim, diversas apresentações, diversos tipos de produtos com finalidades terapêuticas. No Brasil, a gente só consegue comprar com prescrição médica ou de dentista”, complementa a médica. A aplicação mais referendada pelas provas científicas hoje é a prescrição de canabidiol para o controle de algumas epilepsias que não são resolvidas com medicamentos, pois tem o efeito analgésico imediato.
Segundo o médico Luiz Antonio da Costa, as propriedades da cannabis ajudam a complementar o tratamento, mas não substituem os medicamentos prescritos para a patologia. “A responsabilidade dos médicos não é só de informar, mas também estar habilitado para prescrever este tipo de medicamento. Pois, além de estarem auxiliando no tratamento do paciente, também desenvolvem a parte de científica na busca pela cura de doenças”, explica.
A universitária Mariah Cavalcante utiliza um óleo que contém canabidiol como tratamento para ansiedade, receitado por seu psiquiatra. Desde que começou o tratamento, não sofreu mais com crises de pânico, “Antes eu tinha muita insônia, mas hoje consigo dormir bem. E, também, minhas mudanças de humor diminuíram bastante comparado a antes”, conta.
Entretanto, o acesso ao medicamento não é simples. Além de possuir um valor elevado, é preciso ser importado. Outra alternativa seria comprar diretamente em uma farmácia, mas o custo é ainda maior. Também há dificuldade para conseguir a autorização para a compra. “Foi a melhor alternativa de medicação que já usei, principalmente por não me deixar com uma sensação de ‘dopada’ que outros
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remédios causam”, relata Cavalcante.
A importação de produtos à base da planta cannabis teve significativo aumento no Brasil em 2023. Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em julho, apontavam para uma subida de 93% em relação aos 12 meses anteriores. No Brasil, o uso recreativo da planta é ilegal.
O crescimento da importação ocorre em meio a uma tendência global de redescoberta de princípios ativos para tratamento de diversas doenças. No entanto, a desmistificação dos usos da erva às propriedades terapêuticas enfrentam barreiras para além do preconceito.
“O preconceito enraizado sobre o uso de medicamentos a base de cannabis decorre da falta de informação disponibilizada à população, pois a mídia aca- ba deixando o debate sobre o tema de lado. As políticas de incentivo são um caminho para a desinformação. Relatar a validade da fitoterapia com as estáticas das pesquisas, também é o caminho”, conta Costa.
O estigma em relação à cannabis vai além do senso comum, chegando às esferas de poder. “As pessoas que têm poder de decisão em relação à regulamentação e ao maior acesso aos medicamentos à base de canabidiol acabam impactando a população toda. Infelizmente, as pessoas associam muitas questões relacionadas ao proibicionismo, sendo que muitas delas são mentirosas e fomentam uma guerra às drogas, que a experiências de anos que tivemos, não deu certo”, completa Ana Caroline Santana.
O medicamento à base de óleo é o mais comum.
Aterro do Caximba completa um ano da nova pirâmide solar e se torna polo de eletricidade sustentável na América Latina
De estagiário no aterro, a engenheiro ambiental na Pirâmide Solar, Carlos Guillen presenciou a mudança de um ambiente que, durante 21 anos, recebeu lixo de Curitiba e de outros 14 municípios, e que agora recebe uma nova função, e abriga cerca de oito mil paineis solares.
Até meados dos anos 1980, Curitiba tinha um “lixão” clássico, com muitos problemas sanitários. Com a criação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, em 1986, foi adotada uma postura diferente e o planejamento para a criação do aterro começou.
“Precisávamos urgentemente de uma destinação final, com os padrões ambientais mais rígidos possíveis. Então, nós, engenheiros, tivemos que acompanhar todas as rotas de coleta, classificando os tipos de resíduos e, assim, implementamos a coleta seletiva, em recicláveis e orgânicos.”
Guillen analisa as dificuldades que os engenheiros da época tiveram para fazer com que o aterro fosse o mais sustentável possível. “Como o aterro sanitário do Caximba foi um projeto pioneiro, tivemos que formular os nossos próprios procedimentos, padrões e normativas, buscando sempre um impacto mínimo.”
A vida útil do aterro foi programada para 25 anos de funcionamento seguro, de acordo com os tipos de
resíduos lá depositados. “Em 2010 tínhamos um projeto de nova área para a destinação final, na qual poderíamos desenvolver uma tecnologia mais avançada e eficiente. Desta forma, pudemos encerrar as atividades antes do previsto.”
A estimativa de lixo depositada no aterro durante todos os seus anos de funcionamento é próxima a 10 milhões de toneladas. Esse peso equivale a 1.660 prédios de 20 andares.
De acordo com as normas brasileiras vigentes de manejo de aterros sanitários, dentro do prazo de dez anos após sua desativação, no caso até 2020, não era permitido dar nenhuma finalidade para a área, apenas tratamento, monitoramento e controle.
“Durante esse período, investimos em diversos estudos para o aproveitamento da área, através de diversas parcerias nacionais e internacionais, além de inúmeros estudos acadêmicos.”
Atualmente, os resíduos estão sendo destinados para o aterro sanitário de Fazenda Rio Grande, que se encontra em operação sob as normativas mais rígidas e avançadas que se tem para aterros sanitários.
Após esses 13 anos de inatividade, o Aterro do Caximba foi reinaugurado e tornou-se a primeira pirâmide solar da América Latina situada dentro de um aterro sanitário. Para fins ambien-
“O fechamento do aterro sanitário do Caximba, e sua consequente transformação em Parque Solar, tem impacto direto no desenvolvimento urbano da região sul da cidade.”
Lais Leão, pesquisadora de arquitetura e urbanismo
Carlos Guillen liderando o tour pela pirâmide solar.
tais, o parque solar surgiu como uma forma de utilizar melhor o espaço, gerando energia limpa e renovável, e trazendo benefício para a população.
Laís Leão, pesquisadora de arquitetura e urbanismo, diz que a região sul também sofre grande pressão ambiental, por possuir grandes áreas de preservação vinculadas ao Rio Iguaçu. “O fechamento do aterro sanitário do Caximba, e sua consequente transformação em Parque Solar, tem impacto direto no desenvolvimento urbano da região sul da cidade, e até nos municípios da Região Metropolitana próximos.”
Carlos Guillen comenta que, desde os primeiros estudos para a reutilização da área, o objetivo era o aproveitamento energético. “Um dos projetos, em parceria com a COPEL, era o de aproveitamento termoelétrico a partir do gás metano, resultante da decomposição de matéria orgânica, mas, com o tempo, ele se tornou inviável, tanto econômica quanto ecologicamente.”
Os paineis solares representam cerca de 30% da energia dos prédios públicos de Curitiba. Um dia de energia produzida seria o suficiente para
abastecer cerca de duas mil casas, além de gerar uma economia de mais de R$ 2 milhões para os cofres municipais.
Com esse valor, a prefeitura de Curitiba seria capaz de construir um centro municipal de educação infantil (creche), subsidiar cerca de mil refeições por dia, durante um ano, do programa Mesa Solidária, que oferece refeições gratuitas para pessoas em situação de rua e ainda transformar aproximadamente 700 metros de ruas de saibro em ruas asfaltadas.
Para não ser classificada como uma “unidade produtora” (que seria uma concorrente da COPEL), a Pirâmide Solar precisa seguir o limite de geração de energia, que é de 5 MW (megawatts). Guillen comenta sobre a eventual ampliação da área de placas
“Atualmente, ela produz 3,5 MW, desta forma teríamos a possibilidade de gerar mais 1,5 MW (cerca de 30 novas placas), já que a subestação e a rede de transmissão, suportam esta sobrecarga”, diz o engenheiro.
As placas fotovoltaicas passam por manutenções diárias e semestrais por uma empresa especializada em pai-
Foto em close das placas fotovoltaicas.
neis solares. Caso necessário, drones com câmeras de luz infravermelha, sobrevoam a pirâmide para detectar qualquer irregularidade, como superaquecimento de alguma placa. Guillen
Moldura de Alumínio
Vidro Especial
Encapsulante - EVA
Células Fotovoltaicas
Encapsulante - EVA
Backsheet
Caixa de junção
Parque Barigui e na Fazenda Urbana.
Além disso, os grandes terminais da cidade também irão receber a energia solar, Boqueirão e Santa Cândida
“Um dos projetos, em parceria com a COPEL, era o de aproveitamento termoelétrico a partir do gás metano, mas, com o tempo, ele se tornou inviável, tanto econômica quanto ecologicamente.”
Carlos Guillen, engenheiro ambiental da pirâmide solar
diz que, neste primeiro ano de funcionamento, não houve nenhum registro destas ocorrências.
Devido aos bons resultados da Pirâmide, o Município de Curitiba tem outros projetos de instalação de placas solares em andamento. Já estão em funcionamento os paineis instalados no telhado da sede da prefeitura, no Instituto Curitiba de Saúde (ICS), no Jardim Botânico, no salão de atos do
foram os primeiros a terem os paineis instalados.
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Conheça mais sobre a pirâmide solar e agende uma visita
Como uma família de agricultores curitibanos está trabalhando com um modelo inovador de agricultura sustentável que encerra o potencial de transformar o paradigma da produção agrícola
As atividades começam cedo no sítio Eldorado. Quatro horas da manhã já é tempo de levantar da cama. O agricultor prepara o chimarrão, pega um livro e se senta em uma cadeira sob o alpendre da casa. Ali permanece até o dia clarear. Nesse período, acompanhado de seu mate, mergulha em leituras e estudos ou se dedica a responder perguntas na aba de comentários do @eldoradosintropia, perfil no instagram que já conta com mais de 50 mil seguidores.
Não é difícil encontrá-lo folheando uma obra de Ana Primavesi, engenheira agrônoma e importante pesquisadora da agroecologia e da agricultura orgânica. Ao despontar dos primeiros raios de sol, ele suspende as ocupações intelectuais e se dirige ao campo. É chegada a hora de sujar as mãos de terra. Tem início, então, o trabalho braçal. O agricultor vai para a plantação realizar, a depender do dia, colheita (segundas e quintas-feiras) ou novo plantio (terças e sextas). Seu nome é Felipe Kuhn, tem 29 anos e compartilha com a esposa, Isabelle Lecheta, de 31 anos, e os filhos Miguel, de 3 anos, e Eloá, de 7 anos, a vida no sítio no interior de Tijucas do Sul, município localizado na região metropolitana de Curitiba. A propriedade pertence ao pai de Felipe e tem um nome lendário: Eldorado.
cestas orgânicas. Cerca de 130 cestas, cada uma vendida a R$ 35, são enviadas semanalmente a grupos de consumo, locais onde o cliente vai para fazer a retirada da cesta comprada. O conteúdo de cada uma é constituído por um tempero, duas folhosas e legumes variados. E as plantas inclusas variam de estação para estação, o que permite sempre uma diversidade renovada de itens.
Nota-se logo que a agricultura é
“Muitos chamam a agricultura sintrópica de agricultura alternativa. Para mim, não é alternativa. É imperativa. Ou a gente faz ela, ou não tem outro caminho a longo prazo.”
Antes destinada exclusivamente ao lazer, a área foi convertida em morada e sustentáculo da sobrevivência da família, que extrai quase a totalidade de sua renda (cerca de 90%) da venda de frutas, verduras e hortaliças. O restante é suprido pela criação de gado, apicultura e venda de ovos. Dos 24 hectares que compõem o território do sítio, seis servem ao plantio e quatro à criação bovina. Por mês, a família acumula em torno de R$ 19 mil (valor bruto).
Felipe e Isabelle fazem os produtos de sua colheita chegarem aos consumidores por meio de um programa de
elemento central na vida de Felipe e Isabelle. Mas nem sempre foi assim.
Eles moravam em Curitiba. Felipe estudava Engenharia de Produção e Isabelle, Administração. Ambos na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), instituição em que se conheceram. Com o tempo, os dois ganharam afinidade e começaram a namorar. Conforme a relação amadurecia, crescia neles o desejo de constituir uma família. Foi justamen-
Felipe isabelle e seus filhos.
te em busca de melhor qualidade de vida que resolveram se mudar para o ambiente rural, onde imaginavam que seria o espaço ideal para criar os futuros filhos.
Em 2015, fizeram o movimento decisivo: trancaram os cursos e partiram para Tijucas do Sul. Trocaram o caos urbano da capital paranaense pela calmaria campestre do sítio Eldorado.
O começo, contudo, foi desafiador. Não sabiam ao certo como proceder diante da nova realidade. Procuravam maneiras de se adaptar, fórmulas para sobreviver no campo. As tentativas iniciais foram múltiplas: vinicultura, psicultura, apicultura e agricultura. Das quatro, apenas as duas últimas permanecem. As demais, fracassadas, precisaram ser interrompidas.
dem e à dispersão de energia, a primeira significa organização e acúmulo de energia. Em resumo, a agricultura sintrópica busca o superavit energético do solo. Ou seja: um solo que conjugue riqueza de nutrientes e retenção de umidade e proporcione, assim, um terreno altamente favorável para o desenvolvimento das mais diversas espécies de plantas.
“Sucessão e estratificação são a lógica que organiza as espécies de plantas no espaço e no tempo”
Foi em meio a equívocos e acertos, dúvidas e aprendizados, estudos e experimentações que os dois se depararam com uma forma completamente nova de lidar com a agricultura.
SINTROPIA
Ainda em 2015, Felipe descobre, por meio de um vídeo no YouTube, a agricultura sintrópica. Trata-se de um sistema agroflorestal inovador criado e desenvolvido na década de 1980 pelo agricultor e pesquisador suíço Ernst Götsch.
Regenerativa, essa abordagem agrícola tem o propósito de possibilitar a produção de alimentos nutritivos e abundantes sem degradar o meio ambiente. Além disso, dispensa a necessidade de irrigação e exige baixa quantidade de adubo. “Foi uma virada de chave”, afirma Felipe, ao identificar na agricultura sintrópica um caminho economicamente rentável e ecologicamente sustentável.
Sintropia é o oposto de entropia. Enquanto a segunda se refere à desor-
Felipe e Isabelle viram nesse modelo agrícola, orientado por princípios que respeitam a natureza e os limites dos ecossistemas, a oportunidade de regenerar o meio ambiente enquanto usufruem de seus recursos para autossustento e obtenção de renda.
Uma modalidade de agricultura, como a sintrópica, que permite a isenção de irrigação, pode soar como uma grande promessa para o futuro. Afinal, a maioria da água doce existente é aplicada no setor agrícola: 70%, no mundo, e 72%, no Brasil, conforme a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
O novo método agroecológico desenvolvido por Ernest parte do entendimento da fotossíntese como um pré-requisito básico para a produção. O plantio de árvores junto ao espaço de cultivo de hortaliças ou outras plantas resulta em um resfriamento do ambiente e em produção de energia (biomassa) para as árvores.
Essa energia é utilizada para a formação de frutas, e tem outras árvores mais altas que gerarão folhagem, ou seja, mais matéria orgânica. Porém, não são apenas as árvores que contribuem para a formação de compostos
orgânicos. A poda de capim crescido entre o plantio de alimentos também vai resultar numa cobertura para o solo, tornando-o mais umedecido e nutritivo. Assim, com a incorporação contínua de matéria orgânica, “torna-se viável a produção agrícola com pouco adubo e sem irrigação”, afirma Felipe.
Isso pode germinar plantas saudáveis e frutos bonitos e nutritivos, criando, então, um equilíbrio entre a exploração e a regeneração do meio ambiente.
A jornalista e doutora em Ciências Ambientais e Conservação (UFRJ) Dayana Andrade é estudiosa notável da agricultura criada por Ernst Götsch. Inclusive, teve a oportunidade de conviver e estudar com o próprio pesquisador suíço, no sítio dele na Bahia. “Quando você conhece aquilo [agricultura sintrópica] seu cérebro praticamente explode”, ela brinca.
OS PILARES DA AGRICULTURA SINTRÓPICA
Andrade diz que uma das primeiras quebras de paradigma que Ernst propõe é a da substituição do conceito de competição pelo conceito de colaboração. Na agricultura sintrópica, as plantas “não iam competir, pois iriam respeitar a lógica da sucessão e da estratificação”.
Sucessão e estratificação são os dois pilares da agricultura sintrópica. A primeira diz respeito à diferença de tempo no crescimento das plantas e a segunda se refere aos diferentes lugares e alturas que as plantas ocupam no ambiente. Uma combinação adequada dessas duas categorias resulta em um consórcio de plantas que crescem juntas de maneira benéfica, em vez de competir uma com as outras.
“Sucessão e estratificação são a lógica que organiza as espécies de plantas no espaço e no tempo”, explica Andrade.
ESTRATIFICAÇÃO
A estratificação permite identificar qual é a melhor organização que se pode fazer em um espaço com diferentes
espécies de plantas. Isso porque cada espécie tem diferentes demandas de luz. Algumas exigem luz direta do sol. Outras demandam uma leve sombra. Outras, ainda, necessitam de sombra em uma determinada fase fenológica, isto é, bastante luz no momento do crescimento e menos luz no estágio de amadurecendo dos frutos. As plantas podem se desenvolver de maneira favorável porque estão organizadas em diferentes extratos, conforme suas necessidades.
“Além disso, falar de estratificação, não é falar apenas da altura da planta, mas também da necessidade de luz e da capacidade que cada espécie tem de lidar com sombra”, afirma Andrade.
A sintropia, como modelo agroflorestal, tenta replicar a lógica de uma floresta. Para isso, assim como ocorre em ambientes florestais, é preciso haver uma rica diversidade de espécies que resultará em um ecossistema florestal.
SUCESSÃO
“A agricultura sintrópica é como um quebra-cabeça 4D, porque, além de organizar as espécies nas três dimensões do espaço, a gente também precisa organizar as espécies no tempo”, ilustra Andrade.
A sucessão ecológica é um conceito da ecologia que envolve as etapas de re-
Na agricultura sintrópica, as espécies são plantadas em consórcio.
generação de uma floresta e descreve os ciclos de sucessão das diferentes espécies de plantas. Nessa sucessão, as plantas são cada vez mais complexas e com maior demanda de nutrientes e de água no solo.
A lógica da sucessão se traduz em práticas agrícolas que consideram os consórcios de plantas que ocuparão determinado espaço ao longo do tempo. É preciso garantir que, depois de cada colheita, não se encontre um solo “vazio”. No plantio da agricultura sintrópica, um conjunto de plantas sucede o outro, permitindo que o solo esteja permanentemente ocupado.
RESPEITA A NATUREZA
A agricultura sintrópica não é um pacote tecnológico que se possa simplesmente “copiar e colar”. Não apresenta um design que se encaixa em qualquer lugar, em qualquer modelo ou ecossistema. “Essa agricultura oferece a capacidade de interpretação de ecossistemas e as ferramentas para traduzir as dinâmicas naturais para as práticas agrícolas”, explica Andrade.
Quando o agricultor faz o diagnóstico da área de plantio a partir dos pilares da agricultura sintrópica, ele é capaz de tomar decisões conscientes a respeito de qual será o consórcio de espécies mais adequado para a realidade em questão, considerando os aspectos climático, ambiental e comercial.
“Quando a gente fala de um tipo de
FETRAF
Uma organização em defesa da agricultura familiar e da agroecologia
agricultura que é capaz de recuperar ecossistemas degradados, a gente tá falando de uma inovação tecnológica agrícola muito grande. E a gente também tá falando de uma possibilidade do ser humano se reconciliar com a natureza através da atividade agrícola, o que tem consequências sociais enormes”, revela Andrade.
FUTURO DA AGRICULTURA?
Felipe Kuhn e Dayana Andrade convergem na perspectiva de que a lógica do atual sistema agrícola precisa ser transformada e que a agricultura sintrópica se apresenta como um caminho promissor para essa transformação.
“Muitos chamam a agricultura sintrópica de agricultura alternativa. Para mim, não é alternativa. É imperativa. Ou a gente faz ela, ou não tem outro caminho a longo prazo”, afirma Felipe
“Eu tô dedicando todas as minhas energias pra deixar uma solução pra sociedade viver em harmonia com a natureza. E eu vou dedicar até minhas últimas energias a isso”, completa o jovem agricultor.
“O impacto ecológico das agriculturas convencionais é um dos grandes responsáveis pela destruição dos ecossistemas. Fazendo dessa outra forma [da agricultura sintrópica], a gente pode transformar completamente isso. A gente pode fazer com que a atividade agrícola seja benéfica para o meio ambiente. Se toda nossa produção de comida fosse associada a restaura-
mento da agricultura agroecológica.
. A partir de 6 de dezembro de 2013, quando surge a Fetraf-PR (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Paraná), inúmeros produtores rurais do Paraná passam a integrar a entidade em busca de mais representatividade e direitos para categoria de agricultores familiares. Hoje, são mais de 100 mil deles que são representados e organizados por meio da instituição. Atualmente, a agricultura familiar é responsável por produzir 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros, conforme dados do Instituto Brasileira de Geografia e estatísticas (IBGE). Elizandro Paulo Krajczyk, coordenador da federação, defende a expansão da agricultura familiar aliada ao amplia-
A FETRAF desenvolve um amplo projeto com todos os estados do Sul do país para realizar uma transição para a agroecologia. O método de Sistema de Produção de Hortaliças Diversificadas (SPDH) possui uma abordagem de produção agrícola sustentável que busca a redução de custos e a ampliação de renda junto à diversificação de cultivos e à utilização de práticas agroecológicas.
A iniciativa permite que a entidade discuta modos de tornar a agricultura familiar mais sustentável, colaborando na aproximação entre ela e agricultura sintrópica.
ção de florestas, a gente não ia estar falando sobre mudanças climáticas. A gente não estaria se preocupando com isso. Nós somos parte da natureza. O fato de a gente ficar se achando fora dela faz com que a gente trabalhe contra a natureza, em vez de trabalhar a favor. Se a gente entendesse que, trabalhando a favor da natureza, nós nos beneficiamos também, essa perspectiva mudaria e os debates entrariam numa outra esfera. Em vez de estar disputando terrenos, nós estaríamos debatendo técnicas de trazer a tecnologia para plantar melhor. A gente estaria discutindo soluções, não brigando por causa dos problemas”, aponta Andrade.
“Quando eu não enxergo mais solo exposto, começo a imaginar um futuro melhor”, conta Felipe. A agricultura sintrópica sobretudo é isto: produzir pensando não apenas na rentabilidade, mas também na sustentabilidade e em como “trazer os dois fatores para as produções agrícolas da nossa geração e das próximas que virão”.
Em 2016, Felipe se depara com a possibilidade de fazer um curso de 45 dias no Rio de Janeiro sobre agricultura sintrópica com o próprio Ernst Götsch. Admirado com a oportunidade, embarca no avião para as terras fluminenses.
Durante as aulas, Ernst se impressiona com o potencial de Felipe e o convida para passar um tempo de aprendizado em sua propriedade na Bahia. A experiência é enriquecedora para Felipe, que aprofunda seus conhecimentos e técnicas e chega a descrever o pesquisador suíço como um “mar de sabedoria” e apontá-lo como o “Nikola Tesla da agricultura”.
Felipe também investe em criação de gado, galinha e plantação de araucária.
Acesse o perfil do sítio Eldourado para conhecer mais sobre o trabalho de isabelle e Felipe pelo QR Code portalcomunicare.com.br
Lixo eletrônico é um dos maiores problemas ambientais contempôraneos e vêm do rápido avanço tecnológico
Ana Lúcia Sonntag
André Blatt
Davi Ozório
Isadora Abreu
João Victor Flores (24) é estudante de Administração de Empresas e decidiu abrir mão de substituir dos seus aparelhos eletrônicos por versões mais modernas. Ele conta que até pouco tempo atrás não costumava pensar nas implicações que descartar um aparelho eletrônico poderia ter no meio ambiente, mas na última oportunidade que teve de trocar seu computador, parou para refletir sobre o assunto.
“Meu uso desses aparelhos nos estudos ou trabalho é para situações bastante rotineiras, não preciso rodar programas super tecnológicos, então manter o meu computador antigo ffinanceira, eu iria gerar um lixo totalmente desnecessário e pesado. Ele conta que gosta de usar seus aparelhos até de fato perderem a utilidade, ou quando perdem o uso, como foi o caso de seus vídeogames, presentear seus primos mais novos para estender ao máximo a vida útil desses aparelhos.
À medida em que a tecnologia evolui e introduz na sociedade contemporânea aparelhos que facilitam rotinas de comunicação, trabalho e até entretenimento, o planeta enfrenta um problema simultâneo ao lidar com o descarte de aparelhos eletrônicos que perdem sua vida útil rapidamente após saírem das lojas.
divulgados pelo Monitor Global de Lixo Eletrônico da Organização das Nações Unidas (ONU), recolhidos em 2020. No relatório, o Brasil aparece como responsável pela produção de 2 milhões de toneladas desse tipo de lixo. Resíduos que obviamente não são biodegradáveis, o que nos faz questionar: para onde vai esse lixo?
Produtos eletrônicos ou elétricos quebrados, danificados ou sem utilidade e pilhas descarregadas, compreendem o lixo eletrônico, também conhecido como E-lixo. Esse tipo de material, além de gerar volume de poluição, é altamente tóxico para o solo e seus resíduos químicos podem chegar a contaminar as águas.
O descarte indevido de lixo eletrônico cresceu 50% nos últimos dez anos, dados também do monitoramento global da ONU, indicando que o lixo eletrônico pode não estar recebendo o mesmo tipo de atenção quanto outras problemáticas que envolvem poluição e meio ambiente no século 21. Na América Latina, apenas 3% desse lixo encontra um destino correto, o que demonstra uma preocupação.
“O lixo eletrônico contém toxinas que podem tornar propensos distúrbios como a poluição atmosférica e a acidificação da água.”
José Monteiro, ambientalista
São estimadas 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico produzido no mundo anualmente. Esses são dados
José Marcos Couri Monteiro é ambientalista e explica os principais impactos do descarte incorreto no meio ambiente. “O lixo eletrônico contém toxinas bioacumulativas como o chumbo, mercúrio, cádmio, lítio, bário, e outros, que podem tornar propensos muitos distúrbios como, por exemplo, a poluição atmosférica e a acidificação da água de lagos e rios, que pode resultar na morte da flora e fauna”, diz.
Essas toxinas também representam um risco significativo para a saúde humana, não apenas
dos trabalhadores envolvidos no processo mas as comunidades próximas às áreas de onde aqueles produtos foram descartados incorretamente.
A exposição a essas substâncias pode causar problemas respiratórios, danos neurológicos e hormonais, além de serem cancerígenos.
Combater o descarte indevido e prevenir problemas futuros relacionados ao lixo eletrônico é uma tarefa que deve iniciar dentro das casas da população, como recomenda o especialista em reciclagem de E-lixo Eduardo Lucas, CEO da Sete Ambiental, empresa dedicada a coleta e reciclagem de lixo eletrônico em Curitiba há 12 anos.
Ele acredita que a responsabilidade coletiva é uma chave importante para resolução desse problema. “Curitiba é
uma cidade referência na limpeza e coleta de lixo, mas ainda enfrenta problemas no descarte do lixo eletrônico que muitas vezes é misturado com o lixo comum em casa.”
“Curitiba é uma cidade refêrencia na limpeza e coleta de lixo, mas enfrenta problemas no descarte do lixo eletrônico que muitas vezes é misturado com o lixo comum de casa.”
Funcionários da Sete Ambiental fazendo a separação e recolhimento do lixo eletrônico.
Funcionários da zendo a separação
O que fazer com o lixo que tenho em casa?
As datas são divulgadas na área de Notícias do Portal da Prefeitura.
Para Silva, o encaminhamento do problema do E-lixo está na responsabilidade compartilhada da população. “As legislações demoraram e ainda demoram muito para serem aprovadas, mas a responsabilidade compartilhada é um processo exigido pela população e que tem que ser fortalecido por campanhas e conscientização para que separe seu lixo eletrônico e encontrem pontos de coleta”, diz.
Separar pilhas, baterias e aparelhos eletrônicos obsoletos em uma caixa para que a mesma seja encaminhada para um ponto de coleta apropriado deve ser uma tarefa de rotina. “A partir dos pontos de coleta, esse lixo é distribuído para empresas de reciclagem que são responsáveis por captar, manufaturar e destinar cada peça para um destino apropriado e seguro para o meio ambiente e população. Os materiais pesados são destinados ao exterior, onde serão utilizadas em usinas de energia”.
Caixas e gavetas com aparelhos eletrônicos sem uso e pilhas descarregadas são uma recorrência comum nas casas brasileiras. Aparelhos estão pedindo uma substituição mais rapidamente, esse fenômeno é conhecido como obsolescência programada.
Durante a grande depressão em 1929, aparelhos eletrônicos passaram a ter uma durabilidade muito menor, ao saírem da fábrica com uma data de validade. Essa é uma prática utilizada pelos fabricantes que visa aumentar os índices de consumo. Além desse aumento, há um grande desperdício de recursos e impacto no meio ambiente. Também acaba gerando impactos sociais, uma vz que exclui pessoas com menos recursos financeiros que não tem condiçôes de adquirir novos produto com tanta frequência.
No documentário Comprar, Tirar, Comprar, produzido em 2011 na Espanha, e dirigido por Cosima Dannoritzer, a realidade da obsolescência técnica é explicada quando as condições de uso do produto obrigam uma nova compra. Além desse tipo, existe também a obsolescência psicológica, quando o consumidor, mesmo tendo um produto em bom estado de conservação, resolve comprar um novo e descartar o antigo. A grande questão desse tipo de troca de aparelho está justamente em: o que vai acontecer com o item substituído? Muito provavelmente esse volume de eletrônicos irá eventualmente ser descartado indevidamente, contribuindo para todos esses problemas socioambientais previamente citados.
Em alguns pontos fixos pela cidade, são realizados mutirões municipais, mensais, em parceria com Associações do programa Ecocidadão.
- Administração Regional Cajuru: Avenida Prefeito Maurício Fruet, 2.150.
- Horto Municipal do Guabirotuba: Avenida Senador Salgado Filho, 947.
- Largo Padre Albino Vico - na frente da Paróquia Santuário São José, com acesso pela Avenida
República Argentina.
- Parque Bacacheri: acesso pela Rua Dr. Eurico César de Almeida.
- Parque Barigui: acesso pela BR277, no estacionamento em frente ao Heliponto.
- Parque São Lourenço: Rua José Brusamolin, 125 - acesso pela Rua Mateus Leme.
- Parque Tingui: acesso pela Rua José Casagrande, próximo à ponte.
- Rua da Cidadania Santa Felicidade: esquina das ruas Madre Clélia Merloni e Via Vêneto.
Entre carro elétrico e bicicleta, a melhor alternativa ainda é o bom e velho andar a pé
Oalarme ecoa pelo ar e é acompanhado pelo estridente som da buzina, uma sinfonia de sons que se tornaram comuns na rotina de Claudi Iolanda Affornalli, de 66 anos, e de seu filho, Carlos Eduardo Affornalli, 35, que faz uso de cadeira de rodas, que tentam se deslocar de forma segura utilizando calçadas e rodovias da cidade de Curitiba. Buraco, desvia. Carro, grita. Moto, esquiva. E assim, como um protagonista de ficção científica em um planeta distante, os dois tentam circular por uma paisagem que não foi feita para acomodá-los.
“Se essa rua/Se essa rua fosse minha/ Eu mandava/Eu mandava ladrilhar/ Com pedrinhas Com pedrinhas de brilhante/ Para o meu/Para o meu amor passar.” A cantiga popular de Mario Lago seria o cenário e inspiração ideal para uma cidade feita de pessoas para pessoas.
“Porque é isso, todos nós somos pedestres, você já nasce e vai andar a pé.” -Ivo Reck Neto, engenheiro ambiental
Com o icônico filme De Volta para o Futuro, 2015 o ano foi marcado pelo pensamento de que iríamos ter carros voadores e o pensamento positivo de que cuidaremos melhor do nosso meio ambiente. Porém, deste ano para cá, um outro tipo de veículo marca presença no futuro.
Uma alternativa que, na tentativa de degradar menos o ambiente, vem crescendo para se deslocar entre as cidades são os veículos elétricos. Esses novos modelos estão recebendo atenção sem precedentes, sendo aplaudidos como resposta aos desafios da mobilidade urbana e da preservação ambiental. Mais do que uma simples mudança na forma de locomoção, sua ascensão marca um ponto significativo na história da inovação tecnológica e da conscientização ecológica. No entanto, com essa perspectiva otimista, embora promissora, surge uma questão: estamos depositando uma confiança excessiva nessa tecnologia?
Para o especialista em mobilidade urbana, o engenheiro ambiental Ivo Reck Neto, os veículos elétricos são parte da solução, mas ressalta que eles não são os protagonistas: “A gente não pode esquecer que o carro é um vilão. Mesmo ele sendo elétrico, mesmo ele sendo híbrido, ele é um veículo que ocupa um grandes espaços nobres da cidade [...] a gente tem que, gradativamente, reduzir a dependência do carro. E aí sim a cidade seria convidativa para caminhar, para andar de ônibus e pedalar.
O especialista descreve a cidade com o melhor sistema de mobilidade urbana que ele pode imaginar: “Eu vejo que a gente tem que priorizar o transporte coletivo, em detrimento aos meios individuais motorizados. Que fique claro a prioridade para o ônibus, para o pedestres e para as bicicletas. Porque é isso, todos nós somos pedestres, você já nasce e vai andar a pé.”
Em uma pesquisa realizada pela estudante de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Júlia Almeida mensurou as influências da microclimática da vegetação na escala residencial de Brasília. De acordo com o estudo, na Superquadra 308 Sul, a implementação de vegetação e rua verdes têm uma diminuição de dois graus de temperatura comparada às ruas pavimentadas. É uma solução inteligente baseada na natureza e na necessidade das pessoas, os centros urbanos podem ser lugares agradáveis de se morar e ocupar. Mas, para isso, precisamos primeiro nos desprender dos mitos criados pelo capitalismo verde. Os cidadãos dos centros urbanos deveriam ser capazes de se deslocar pela cidade sem a necessidade de estar dentro de uma bolha de ar condicionado
Como um ciclista ativo há vários anos, Lucas Gomes de Oliveira, 18 anos, é uma entre muitas vozes que pedem por mudanças nas paisagens urbanas, ecoando a necessidade de mais ciclovias apropriadas e de uma conscientização mais ampla entre os motoristas, para que reconheçam a bicicleta como um veículo que merece seu espaço
Arthur zablosky
nas vias: “Nos bairros onde ando de bicicleta até tem ciclovia, porém são mal adaptadas em cima de calçadas, e muitas vezes em estados deploráveis. Gostaria de mais ciclovias apropriadas e conscientização dos motoristas na cidade de que a bicicleta também é um veículo e que merece seu espaço.
Na visão de Lucas, a integração de ciclovias nas ruas emerge como uma solução necessária para harmonizar a convivência entre ciclistas e pedestres, garantindo que cada um possa reivindicar seu território com segurança. Quando questionado sobre os obstáculos que o impedem de abraçar ainda mais a bicicleta em sua rotina, ele revela uma verdade surpreendente: “Na verdade, ela já está bem integrada”. O ciclista ressalta os benefícios físicos e econômicos que acompanham o pedal constante, destacando a economia de custos em relação ao carro e o profundo impacto positivo na saúde física e mental.
Um estudo publicado pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), o setor de transportes foi responsável por cerca de 44% das emissões de dióxido de carbono (CO2) no Brasil em 2022. Esses dados lembram à sociedade que a transição para veículos elétricos é apenas uma peça no quebra-cabeça na busca por cidades mais sustentáveis. Outros fatores, como o desenvolvimento de estratégias urbanas mais inteligentes, o aumento do investimento em transporte público e a promoção de métodos de locomoção ativos, também desempenham papéis cruciais nesse cenário. Isso mostra a importância de abandonar a visão simplista de que a eletrificação dos veículos resolverá todos os problemas ambientais e urbanos.
O engenheiro ambiental Ivo Reck Neto destaca o problema da cidade feita para carros e não para as pessoas: “Não é compatível para um centro urbano que um veículo circule a mais de 40 (quilômetros) por hora, não tem sentido isso. Então, é importante ter esse olhar que preserva o pedestre e outros meios não motorizados. Por exemplo, a Rua XV de Novembro, que é um calçadão para pedestres, foi
criada em 1972, e ali circulam mais de 100 mil pessoas por dia. Que é um fluxo elevadíssimo de pessoas.”
De acordo com o dicionário Aurélio, algo sustentável se define por: 1. Que se pode sustentar. 2. Capaz de se manter mais ou menos constante, ou estável, por longo período. Ao mesmo tempo, algumas centenas de páginas antes, o mesmo dicionário define extrativismo como: 3. Método de extração de recursos naturais sem a preocupação com a conservação das espécies ou do meio ambiente.
A criação de veículos elétricos está diretamente ligada com o extrativismo de recursos finitos. Em algum momento não muito distante, não seremos capazes de construir mais carros. E em algum momento um pouco menos distante, vamos perceber que construímos cidades para seres inanimados que logo não estarão mais conosco. Mas não precisa ser assim.
“Gostaria de mais ciclovias apropriadas.” -Lucas Gomes, estudante
Nos meios urbanos de Curitiba e suas extensões, as histórias de Claudi Iolanda Affornalli, uma aposentada de 66 anos de Colombo, região metropolitana de Curitiba, e seu filho Carlos Eduardo, um homem de 35 anos, que necessita de cadeira de rodas, se escreve em um épico de desafios e superações. Ambos encaram dificuldades significativas de acessibilidade em sua rotina diária. Dependendo da sua rota, eles enfrentam problemas como ônibus lotados, elevadores quebrados e calçadas danificadas. Para Claudi, a falta de preparo dos engenheiros na estruturação dos ônibus e estações de tubo é evidente, sugerindo que consultas a portadores de deficiência seriam essenciais para garantir uma infraestrutura mais inclusiva.
Ela ressalta que, em grande parte da cidade, a falta de acessibilidade é alarmante, especialmente em locais públicos relacionados a lazer e cultura, como parques e teatros. Claudi relembra um episódio angustiante em que seu filho, que teve paralisia cerebral, sofreu um traumatismo craniano devido à falha no elevador do ônibus. A mãe relata a ajuda que recebeu na hora do ocorrido. Porém, ela lamenta a falta de apoio e solidariedade da comunidade em situações como essa, destacando que muitas pessoas preferiram não se envolver quando procurou por testemunhas. “Ninguém quer se envolver porque não aconteceu com eles ou com a família deles.”Em meio a essas adversidades, Claudi expressa preocupação com aqueles que enfrentam essas dificuldades sem o apoio de familiares ou amigos, enfatizando que a situação é ainda mais difícil para eles.
“CIDADE VIVA”
A arquitetura urbana mais amigável pode transformar completamente a experiência de caminhar pela cidade. Ruas arborizadas, áreas sombreadas, bancos para descanso e canteiros separando a calçada da rua não apenas tornam o ambiente mais agradável, mas também promovem interações sociais e reduzem o estresse do ambiente urbano.
“O Centro tem que ser vivo, ter um uso misto, e ter presença permanente de pessoas. Deve haver moradia no centro, tem que ter pessoas circulando. No centro de Curitiba, há inúmeros prédios vazios, que estão integralmente sem uso. Isso gera um custo para a cidade, você não tem moradia ali. Que você tenha ampliação de vias, áreas exclusivas para os pedestres e a gente possa ir para o Centro, independentemente de ter um carro”, diz o engenheiro.
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Paraná vive uma história enviesada politicamente falando, ao se promover como estado mais sustentável do país
Caio Jordão, Eduardo Borges, Gabriel dos Reis e Gustavo Magalhães
As questões envolvendo sustentabilidade e meio ambiente têm se tornado cada vez mais importantes se feito presentes em diversos âmbitos da sociedade e do mundo como um todo. Um dos principais debates acerca desse assunto é sobre a falta de cuidado com o meio ambiente e as consequências que têm sido extremamente prejudiciais para as gerações futuras. De acordo com dados do Global Carbon Atlas, cerca de 36 milhões de toneladas de CO2 são liberadas na atmosfera terrestre, ranqueando os países mais emissores. Nesse ranking, o Brasil aparece como o 12° país mais poluente, sendo responsável por cerca de 1,3% da emissão total de poluentes. Ambientalistas e pautas políticas que defendem a causa têm enfrentado diversas barreiras nessa luta.
Segundo pesquisa da ONG Global Witness, o Brasil é o segundo país mais perigoso para ambientalistas no mundo. Apesar de não se tratar de um país sustentável, no cenário nacional e em comparação aos outros estados, o Paraná se destaca, sendo considerado o melhor na sustentabilidade ambiental do Brasil, tendo a nota máxima de eficiência de 100 pontos - segundo o Ranking de Competitividade dos Estados, divulgado no dia 23 de agosto de 2023.
BETO RICHA E RATINHO JÚNIOR: O MESMO MANDATO?
Entre 2011 e 2024, o estado do Paraná foi governado por apenas dois políticos: Beto Richa, do PSDB, e Ratinho Junior, do PSD. Apesar de possuírem ideologias políticas semelhantes, seus mandatos ficaram marcados por diversas críticas relacionadas ao campo do ambientalismo. Essas polêmicas, puseram em cheque o título carregado pelo estado como o de mais sustentável do país. Apesar disso, ambos tratam do tema constantemente de maneira orgulhosa em relação ao trabalho feito no âmbito da sustentabilidade e meio ambiente, tanto no estado quanto na capital, durante o período de seus governos.
Mesmo que o governador Ratinho Jr., por exemplo, alinhado politicamente com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desde o início do primeiro mandato em 2019, tenha tratado questões ambientais, da mesma forma que o governo federal lidava com essas pautas.
Mesmo sendo “apadrinhado” politicamente por Beto Richa, e sendo entendido como um sucessor do ex-governador do estado, Ratinho Jr se difere de seu antecessor, em relação a questões ambientais. De acordo com Eduardo Miranda, doutor em Ciência Política e sociólogo, pela Universidade Federal do Paraná, “os governos (de Beto Richa e Ratinho) pertencem ao mesmo bloco político por serem muito parecidos no espectro político. Há
“Os governos têm feito uma gestão razoavelmente interessante, os ambientalistas e os movimentos sociais, conseguiram fazer uma legislação nacional, exemplar, reconhecida
internacionalmente e que influencia nos estados.”
Eduardo Miranda, cientista político
diferenças de investimentos, pessoas envolvidas, leis provavelmente, mas no geral é uma das poucas áreas muito bem avaliadas”.
Apesar da semelhança no viés político de ambos, segundo Eduardo Miranda, Ratinho Jr cometeu incongruências nas suas falas e ações no seu mandato em relação ao meio ambiente, algo que de acordo com o cientista político, o tucano não fez. “O Ratinho Jr, diferentemente do Beto Richa, prioriza mais o marketing por conta das grandes obras, como a ponte de Guaratuba, entrando de certa forma em conflito com as questões ambientais. O governador sofre um embate interno. Dentro do seu governo há muitas pessoas que apontam um ‘tiro no pé’. Por fazer uma projeção eleitoral e de imagem muito boa, mas a longo prazo podendo trazer problemas para o litoral paranaense.”
Mesmo com incongruências e debates acerca da gestão desses políticos perante ao estado do Paraná, e suas ações no âmbito da sustentabilidade, Miranda os elogia no aspecto ambiental e sustentável.
“Os governos têm feito uma gestão razoavelmente interessante, os ambientalistas e os movimentos sociais, conseguiram fazer uma legislação nacional, exemplar, reconhecida internacionalmente e que influencia nos estados.” Porém, o cientista ressalta que mudanças de grande impacto dependem do governo federal e de seus governantes. “É muito mais difícil um governador mexer nessas questões, pois tecnicamente elas são da União e nenhum governante vai entrar em conflito com lei federal ou com os órgãos de proteção ao Estado, por não terem competência para isso. Esses pontos positivos são mais méritos do Governo Federal do que dos governantes do Paraná”.
Divulgação/DER
Como visto nos últimos anos, o Paraná, historicamente, vive uma hegemonia política. Desde de 1945, conhecido também como o início da era da Segunda República Brasileira, onde teve o PSD (Partido Social Democrático) à frente do estado com dez políticos diferentes, o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) com oito mandatos e o PSDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) duas vezes.
Como citado por Miranda, a semelhança do viés político é existente entre Richa (PSDB) e Ratinho (PSD), porém a paridade ideológica vai além dos candidatos, os partidos também analisam o meio político de uma maneira semelhante. Como exemplo disso, o PSD e o PSDB anunciaram uma aliança partidária para o pleito em 2024.
Nos últimos anos os paranaenses, sob a gestão de Beto Richa tanto como prefeito Municipal da capital, Curitiba, quanto como governador do Paraná, tiveram a oportunidade de ver na prática como o PSDB lida com as causas ambientais. De acordo com Henrick Loyola, assessor de comunicação do PSDB e de Beto Richa: “a sustentabili-
dade é fundamental para o PSDB porque acreditamos que o desenvolvimento econômico, social e ambiental devem caminhar juntos para garantir um futuro próspero para as gerações presentes e futuras.’’
Loyola comenta também das dificuldades que o partido já enfrentou nos mandatos de Richa no estado do Paraná e os empecilhos que atravessam até os dias de hoje. “Os desafios incluem a resistência de alguns setores econômicos a mudanças em direção para práticas mais sustentáveis, a falta de conscientização da população sobre a importância da sustentabilidade e a necessidade de conciliar interesses divergentes em busca de soluções sustentáveis. Pretendemos superá-los por meio do diálogo, da educação e da implementação de políticas eficazes.’.
Henrick finaliza falando em sobre as propostas que o PSDB projeta para combater essas dificuldades. ‘’O PSDB propõe medidas como a criação de linhas de crédito específicas para investimentos em tecnologias limpas, a implementação de políticas de incentivo à produção orgânica e sustentável, e a promoção de certificações ambientais para empresas e produtores.’’
Por outro lado, apesar da proximidade do paranaense com o PSDB, o estado teve pouco contato com outros partidos. De acordo com Miranda, uma grande referência na frente ambientalista na política é Marina Silva (Sustentabilidade), atual ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil. Marina já foi filiada ao Partido Verde (PV), o qual marcou sua carreira política pelo fato de ter se candidatado à presidência da república pelo próprio em 2010.
Raphael Rolim de Moura, atual presidente do Partido Verde no Paraná, enfatizou a relevância do tema para o PV. “A sustentabilidade é a espinha dorsal do partido desde a sua fundação em 1986. Os verdes entendem que somente unificando o debate ambiental com o social e econômico podemos transformar a sociedade.’’
Além do mais, Rolim cita que apesar da dificuldade de encontrar pessoas engajadas no tema, um dos grandes objetivos do partido é.”O futuro sustentável é a única maneira de termos qualidade de vida. Alcançamos por meio da consciência social e todos os instrumentos que possam educar os cidadãos.’’
Por fim, colocando a frente diferentes partidos é perceptível a diferença ambientalista de cada um. Miranda comenta que o viés político impacta diretamente a visão dos políticos
perante ao rema. “A esquerda possui pontos de vista extremos em relação a intervenção do ser humano no meio ambientes e também possuem um lado menos radical em relação a isso. Numa maneira geral, as visões são diferentes, a direita defende uma visão pró-intervenção de forma que
“Os verdes entendem que somente unificando o debate ambiental com o social e econômico podemos transformar a sociedade.”
Raphael R. de Moura, presidente do PV no Paraná
defende os interesses do mercado em questões da natureza. A esquerda defende uma visão mais de defesa, um posicionamento da não intervenção ao meio ambiente.’’
Porém, mesmo com sua hegemonia política e polêmicas em relação aos últimos governantes, o Paraná, bem como Curitiba, seguem sendo referência de sustentabilidade no país, isso de acordo com ‘Ranking de Competitividade dos Estados’ e do Ranking de Cidades Sustentáveis, da revista canadense Corporate Knights.
Raphael Rolim de Moura, presidente do PV do Paraná em frente ao quadro estampado com araúcarias.
Confira
Confira aúdio da entrevista com o cientista político Eduardo Miranda portalcomunicare.com.br