[pós]CORPOS, Volume 04, Nº 19, Fevereiro/2023

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ISSN 2675-7281 Volume 04 - No 19, Fevereiro/2023

Esta revista leva o selo DUOCU, formado pelos artistas Bruno Novadvorski & Chris, The Red www.duocu.art.br

Direitos e Comprometimento:

As imagens constantes na [pós]CORPOS© são de autoria do seu criador – Chris, The Red –e por outros artistas que, gentilmente, as cederam para serem publicadas com as devidas permissões de direitos autorais.

A [pós]CORPOS© está comprometida com artistas e todos os direitos autorais estão reservados. Nenhuma parte desta revista pode ser reproduzida de forma mecânica ou digital sem autorização prévia por escrito do editor-chefe da [pós]CORPOS ou do artista.

Outras imagens – que possam ser utilizadas –são livres de direitos autorais. No entanto, se houver uso injusto e/ou direitos autorais violados, entre em contato.

São Paulo - SP

Para a primeira edição de 2023 e abrindo o IV ano da revista, trago, pela primeira vez, a putaria artística La Lito completa. Algumas imagens já foram publicadas no meu portfolio; outras, na minha dissertação-manifesto do meu mestrado em artes visuais; por fim, outras fizeram parte da exposição VERMELHO[RED] acessos, excessos e putarias artísticas transbordantes, que aconteceu de 22 a 30

[pós]Corpos© é uma publicação bimestral idealizada e criada pelo designer gráfico, artista visual e fotógrafo Chris, The Red, co-fundador do DUOCU em parceria com o artista visual Bruno Novadvorski. [www.thered.com.br]

Volume 04, No 19, Fevereiro/2023 (ISSN 2675-7281)

Edição e Redação Chris, The Red Capa Chris, The Red (fotografia, 2022) Ensaio Fotográfico

Principal: Chris, The Red (2022) Corpos Falantes: Chris, The Red e Clarissa Aidar Logotipo The Red Studio by Chris, The Red Projeto Gráfico e Direção de Arte The Red Studio by Chris, The Red

editorial

de novembro de 2022, na Pinacoteca Barão de Santo Angelo, do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com curadoria de Elton Panamby.

La Lito, que significa “cama” em Esperanto, é parte das minhas produções feitas para o meu mestrado em artes visuais e mais do que registros fotográficos, é uma mistura de linguagens, transitando entre a fotografia, a performance, o vídeo no que denominei de instalação pornossexualigráfica. Como escrevo na minha dissertação: “[La Lito] me leva a quebrar ainda mais os parâmetros do que é processo e do que é obra em minhas construções poéticas e até mesmo não pensar de forma definitiva e numa separação das linguagens artísticas. Isso realmente não importa, mas ‘ponderar a obra de arte enquanto um espaço de hibridação e fricção entre fatias de mundos na estranheza, é, sobretudo, expandir as possibilidades do pensar artístico’ (Levi BANIDA, 2021, p. 65). La Lito é este meu ponto de pressão dentro da academia, minha proposta a alternativas em nossos processos de poéticas visuais, espaço de expansão. A cultura e a arte são bases para uma sociedade

Nota do editor

Esta é uma publicação de arte e fotografia que contém cenas de nudez, sexo explícito e genitais. Consulte com cuidado caso sinta-se ofendido. Todas as imagens presentes nesta publicação são de autoria do editor/criador Chris, The Red. Assim, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida de forma mecânica ou digital sem prévia autorização.

Se tiver interesse de participar como modelo nos ensaios fotográficos das próximas edições, entre em contato: conexao@duocu.art.br

mais inclusiva e equalitária e não deve ser colocada em zonas de conforto e de tradições ou para interesses privados exclusivamente, mas em uma constante experimentação e conexão com pensamentos-outros e corpas-outras. La Lito é esse espaço experimentacional que acontece no performar das corpas de Dr. Red com as pessoas que convida para sua cama-divã. Se faz no momento em que o público se delicia e olha com desejo a tudo que está acontecendo”. Assim, sintam-se convidadas. Minha cama é de vocês. Deliciem-se!!!.

E na coluna Corpas Falantes, as palavras nada caretas de Ramon Fontes acompanhadas da poderosa obra de Bruna Kury: Bíblia.

Chris, The Red bixa designer gráfico artista visual fotógrafo editor-chefe

Agradecimentos

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[pós]CORPOS: Johnnybigu, Sue, Cláudio, Alex, Paulo, Bruno, BixaPuta, Mauro, Beto, Junior, BrBottom

Fotografia: Chris, The Red

Espaço: São Paulo/SP, Porto Alegre/RS e Rio de Janeiro/RJ, 2021-2022

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CORPAS FALANTES

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O leite mal na cara dos caretas

Ramon Fontes

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Tenho refletido bastante sobre

a solidão. Dia desses ouvi, numa dessas entrevistas cotidianas na rádio fm, que o maior medo da pessoa idosa não é exatamente a morte, mas o abandono, a solidão. Há controvérsias, mas não é objetivo polemizar a querela, porém convém ressaltar a recorrência dessa queixa nas variadas experiências do envelhecimento. Ouvir aquilo parece ter dialogado, em alguma medida, com as questões que tenho pensado, de forma aproximada, sobre a experiência de uma vida atravessada por questões raciais, por uma vivência lgbtqiap+ (evidentemente que na própria sigla essa experiência de solidão cliva-se em trajetórias múltiplas, oriundas das variadas matrizes de opressão que se interseccionam) e, por último, também a partir da experiência de viver com hiv/aid$.

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Me aproximo dos trinta e três anos, a idade que, dizem as línguas – não sabemos se boas ou más (pouco importa) – padeceu a figura histórica de Cristo. Nesse sentido, é impossível não fazer um paralelo sobre o que talvez pensava ele naquela idade: envelhecer era uma questão? Se era, que importância teria, num aspecto de foro íntimo, o ciclo de três décadas e três anos? Será que o ato de arregimentar uma massa de correligionários (ou apóstolos, caso queiram) guardava, no íntimo, uma solução contra a solidão? A tentativa demasiada de levar a palavra a todos, extrapolar infinitamente as fronteiras com a sua palavra, não guardaria no fundo uma vontade, quase que doída de dizer, de sentir que se é ouvido, que não se está só, sozinho, na solidão? A vida de muitas pessoas dissidentes das normas de gênero e sexualidade atravessa diuturnamente esse oco ocasionado pela constante sensação de solidão, quando somada à experiência subjetiva e corporal da racialização e da soroposithividade essa vida é deslocada para um espaço-tempo em suspensão em que o cotidiano dividese basicamente entre: manter-se vivo e afastar, quase que magicamente, toda possibilidade de medo de que a primeira tarefa pode invariavelmente não dar certo para uma vida como a nossa. Nessa vivência paranoica a vida vai acontecendo, o corpo embrutecendo diante das violências reais e possíveis, as possibilidades idealizadas de relacionamentos, tal qual autorizadas e festejadas para as pessoas cisgêneras e heterossexuais, vão sendo desencorajadas e, no mais das vezes, muitas dessas vidas são selecionadas para cuidar dos entes mais idosos da família, justo porque não tiveram “família”, uma espécie de herança ou destino natural por seu comportamento desviado.

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A solidão, como um componente subjetivo ativo, na vida lgbtqiap+ racializada e soroposithiva parece funcionar como um fator de adoecimento, uma comorbidade, digo, aquilo que vai matando junto, matando com, matando ao lado, como idade, devagarzinho. Por isso dói e não tem remédio, não tem como tocar o vazio, não tem como preencher a solidão que é estrutural. Há pouco organizamos e lançamos, eu, Bruno Puccinelli e Fábio Fernandes, uma coletânea de textualidades diversas intitulada Aids sem capa: reflexões virais sobre um mundo pós-pandemia (Editora Devires, 2022), ou seja, três bichas que, atravessando o tempo vão tentando manejar os diálogos sobre os quarenta anos da epidemia de hiv/aid$. Depois de todo o processo de organização fiquei muito mexido em relembrar como, por exemplo, há quarenta anos (e muito antes disso, óbvio) muitas de nós, lgbtqiap+, pessoas negras, povos originários e toda uma multidão de pessoas dissidentes da heterobrancocissaudávelnorma, como nos ensina Bruna Kury, continuam produzindo ruídos, experienciando uma vida ruidosa no compromisso ético de manter-se assentada na vida ou nos processos de bem viver, recusando a solidão como destino infame. Saidiya Hartman, tem fabulado sobre boa parte dessas vidas em Vidas rebeldes, belos experimentos: histórias íntimas de meninas negras desordeiras, mulheres encrenqueiras e queers radiais (Fósforo, 2022); Caetano Veloso em dueto estratosférico com Gal

Costa também documenta essa vida profana, leiteira, estrondosa, perigosa, infectante... Gilberto Gil, também num dueto espiralado com Gal, nos lembra que não se deve ter medo da morte, porque o que a gente quer, mesmo, é viver com plenitude (seja lá em que

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dimensão for). Diante disso tudo, como cintilar, realçar a vida, recusar a solidão degradante, manter a potência vital? Quanto mais purpurina melhor, nos ensina

Gilberto Gil.

Who, idoso? Esse texto continuará, como o tempo, que é Rei, como o abacateiro, como um esotérico, pois o que a gente quer, é viver.

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Ramon Fontes é comunicólogo com habilitação em Relações

Públicas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), mestre em Cultura e Sociedade (PósCultura/UFBA), especialista em Estudos Culturais, História e Linguagens pelo Centro Universitário

Jorge Amado (UNIJORGE) e doutorando em Literatura e Cultura (PPGLitCult/UFBA), professor substituto no Bacharelado Interdisciplinar em Artes (IHAC/UFBA). Multiartista em processo, pessoa vivendo com hiv/aid$, desenvolve reflexões em torno das questões de gênero e sexualidade, nas intersecções entre racialidade/etnia, saúde, território, memória e processos criativos, com particular interesse na literatura enquanto uma linguagem expandida, abarcando as artes performáticas, a música, o cinema e o teatro afrodiaspóricos. Coordena, atualmente, a linha de pesquisa “Artes, Gêneros e Sexualidades”, no NuCuS - Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades (UFBA/IHAC).

@ramon_fontes

ramonfontes.webnode.page/

Obra: Bíblia

Artista: Bruna Kury (bíblia, cera e dildo)

@bruna_kury

Uma bíblia que se derrete e se esvai em porra e cera, a representação de “deus” patriarcado e seu idissociável falo-cis-capital.

Foto Página 254: exposição O dia antes da queda (São Paulo/SP. 2021. Registro: Chris, The Red)

Foto Página 258-259: Clarissa Aidar

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