Cecilia Barros Erismann

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E QUEM FOI QUE DISSE? – E quem foi que disse?

Já não estava mais assim, afastado de si mesmo, mas sentia tanto medo, que banalizava toda a chance de amar... Nada era importante, dizem que é medo de dor, mas não, até ele já sabia que era sim medo de enfrentar a dor, não da dor. Mas a vida, segue sempre se explicando assim, sem palavras. Os maiores dos momentos

ficam

sem

palavras.

Ele

procurou certa manhã, na frente do seu computador, mil palavras para explicar o que andava vivendo, não achou. Achou tudo que escreveu, todas suas palavras,

– Foi ninguém não, dizem que faz parte da vida.

uma merda.

E pegou seu casaco grande de inverno e saiu rápido. Não

– Tá uma merda!

sabia porque tinha dito aquilo, não sabia nem mesmo o que tinha dito direito. A compreensão de suas palavras

– Não tá não, tá tão lindo, tanta vida e

iam além de sua capacidade de compreender, talvez,

paixão em suas palavras...

iam além de toda sabedoria e entendimento humano. Mas ele não achava isso, tava se sentindo Já havia amado antes, mas agora sentia tanto medo de

inquieto. “Porque não consigo escrever?

amar de novo, que em certas horas chegava a tremer

Será que perdi meu Don?” E pensando

e a fingir que nada amava... Amor, aquele sentimento

assim, continuava a escrever... Parava às

que quando finda, se põe como sol, traz tanto dor, que

vezes, olhava ela deitada ao seu lado, seu

às vezes não é nem possível vivenciá-lo, sem se afastar

colo lindo deixando escapar toda sua beleza

de si mesmo.

enrolada em lençóis e mesmo assim, medo.


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