Revista OEUVRE

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LINA BO BARDI

A história da 18ª obra arquitetônica mais importante construída após a Segunda Guerra: Sesc Pompeia pelos olhos da arquiteta modernista

MIUCCIA PRADA

& O LUXO

O nylon nas passarelas e a Miu Miu como precursora do movimento

OSCAR NÃO É A MEDIDA DE TUDO

Atriz demonstra otimismo da indicação mas é realista em relação às expectativas do público brasileiro

OEUVRE E.

Revista-laboratório do curso de Design Editorial da ESPM-SP

Nº 1 - 2º semestre de 2024

EDITORIAL

Editor-chefe

João Manoel

Colaboradores

Ana Carolina Granjo

Duda Travalin

Gabrielle Silveira

Maria Luiza Pimentel

Sophia de Marque

Capa

Gareth Cattermore (IMDb)

Escola Superior de Propaganda e Marketing

Rua Dr. Álvaro Alvim, 123, Vila Mariana

São Paulo, SP (11) 5085-4600

Carol, acumuladora de playlists e filha do pop

Duda, kpoper obcecada por vampiros

>>> Muitas vezes silenciadas pela história e pelo patriarcado, as vozes de mulheres foram impedidas de explorar seu verdadeiro potencial no ambiente artístico e intelectual.

Diante disso, esta edição da OEUVRE busca discutir as diferentes formas de se fazer arte, sob o olhar daquelas reféns de padrões impostos em todas as suas vivências. Desde as vanguardas até movimentos contemporâneos, ao longo dessas páginas você, leitor, encontrará sete das onze artes produzidas por mulheres que carregam lutas e lutos sufocados.

Portanto, expandir a valorização da arte feminina é fundamental não apenas para o reparo histórico, mas também para construir repertório cultural e criativo na sociedade. Ao dar espaço a artistas mulheres, estamos contribuindo na elaboracão de uma narrativa mais inclusiva e representativa.

Boa leitura!

Gabi, esperançosa pela volta da Rihanna

Malu, amante de livros e tudo de terror

,

Sophia
apaixonada por games e histórias fictícias

ÍNDICE

página 11

“Ainda Estou Aqui” e o Oscar Grande destaque do Festival de Cinema de Veneza, Fernanda Torres fala sobre o filme “Ainda Estou Aqui”, lançado dia 7 de novembro. Fernanda reflete sobre a importância de um filme brasileiro estar conquistando espaço e atraindo críticas, independente da decisão final do Oscar.

página 5

E o rococó?

Uma das poucas artistas a conquistar espaço no meio artístico machista do século XVIII, Elisabeth-Louise Vigée Le Brun abriu portas em um periodo que todas estavam fechadas para as mulheres.

página 8

Polka dots gigantes

Yayoi Kusama transformou a maneira de se interagir e apreciar a estética do pop art com suas esculturas e instalações de tamanhos inusitados.

página 21

Sesc Pompeia

Lina Bo Bardi marcou a maneira de se pensar as construções a partir do legado já deixado no espaço. Nesta edição, a chamada arquitetura pobre de Bobardi levanta questionamentos quanto à memória deixada pela ditadura.

página 26

Marginalizados e a memória

Relembre os trabalhos da “anti-humanista” Diane Arbus durante a segunda metade do século 20. A fotógrafa registrava o que ninguém queria olhar e levantou questões importantes sobre quem faz uma sociedade.

página 19

Miu Miu e a reestruturação do luxo

Miuccia Prada comenta o processo de introdução do nylon em artigos e marcas de luxo, além de relembrar momentos marcantes para Miu Miu e seu impacto na indústria da moda.

página 23

A avó da perfomance

Como Marina Abramovich se tornou referência no segmento da perfomance artística, junto com retrospectiva de suas principais intervenções.

página 35 Crônica

A partir da arquitetura e do cinema, Abilio Guerra pensa como a essência da arte é manipular nossos sentidos e nossa apreensão da realidade.

página 29

Mapa

Reunimos os principais centros culturais da cidade de São Paulo com o objetivo de introduzir, apresentar ou relembrar seus vistantes

página 31

Guia

O guia conta com uma diversidade de exposições que enriquecem a experiência urbana pela cidade de São Paulo, dando destaque a artistas femininas.

Retratos de poder e elegância

Filha de Louis Vigée, um pintor de retratos, e Jeanne Maissin, Elisabeth-Louise Vigée Le Brun nasceu em 16 de abril de 1755, em Paris. E desde jovem apresentava um talento precoce para pintura. A partir da influência do pai conseguiu ser aceita na Académie de Saint-Luc, uma das mais importantes academias de arte de Paris, onde começou sua formação. Além dos conhecimentos do pai, ela ainda foi aluna de Gabriel Briard e recebeu incentivo de artistas conhecidos como Joseph Vernet, Hubert Robert e Jean-Baptiste Greuze.

Por ser um prodígio da arte, aos 15 anos pintava retratos de família e amigos para sustentar ela e a mãe após a morte prematura de seu pai. E com o passar do tempo

conseguiu conquistar uma clientela fiel, estabelecer a sua fama e manter o próprio ateliê.

O sucesso também lhe possibilitou abrir uma escola de arte para moças, onde ensinava jovens interessadas em seguir uma carreira artística como a sua. Foi durante esse período que conheceu o negociante de arte Jean-Baptiste Pierre Le Brun, com quem se casou em 1776.

CORTE FRANCESA

Aos 23 anos e já consolidada como uma das retratistas mais renomadas de Paris, Le Brun teve a oportunidade de ingressar na corte de Versalhes, onde conheceu a rainha Maria Antonieta, graças à

recomendação de sua cliente, a Duquesa de Chartres. Onde produziu suas obras mais conhecidas e características.

A artista encantou a corte de Maria Antonieta com suas pinceladas delicadas e a suavidade que transmitia com as obras. A maioria de seus quadros possuíam in fluência do estilo Neoclassicista e durante seis anos, Elisabeth criou cerca de trinta retratos, tornando-se não apenas a artista oficial da rainha, mas também uma ami ga íntima da monarca.

POLÊMICAS ARTÍSTICAS

Todos os seus sonhos de infân cia finalmente se realizaram quando em 1783, ela finalmente foi admitida por solici tação Real na Académie Royal. Sua estreia na Académie veio cheia de emoção por conta do quadro: La Reine en gaulle. A pintura mostrava Maria Antonieta tra jando apenas um leve vestido de musselina, refletindo a visão da artista de uma monarquia mais mod erna e sofis ticada. No entanto, a obra foi dura mente

criticada, sendo considerada ousada, inapropriada e até imoral. Representar a rainha da França em uma chemise — uma peça vista por muitos como íntima — gerou um furor negativo tão intenso que Le Brun foi obrigada a retirar o retrato do Salão de Paris. Em seu lugar, ela obra, Marie-Antoinette à laca aparecia em trajes formais, atendendo -

Polka dots: Yayoi Kusama na revolução da escultura

Aarte contemporânea causa muitas dúvidas quanto ao seu valor artístico e cultural em seus espectadores, mas não há como negar o impacto de Yayoi Kusama na pintura e, principal mente, na escultura. Enormes, coloridos e, o mais importante, cheios de bolinhas - os polka dots -, seu tra balho transcende dois dos mais importantes movimentos artísticos da segunda metade do século 20: o pop art e o minimalis mo.

Nascida em Mat sumoto, província rural do Japão, Yayoi Kusama vem de uma família tradi cional que não aceita va sua vocação às ar tes. Suas experiências e contatos com outras maneiras de pensar a produção artística contribuíram para que

se tornasse um dos grandes nomes da arte contemporânea ao utilizar, desde os dez anos, círculos em suas escul-

A artista iniciou seus estudos em sua terra natal, com o Nihonga, mas sentia-se limitada pelas estruturas artísticas e sociais da técnica.

em sua produção.

Yayoi encontrou na arte uma maneira de lidar com sua condição.

Sua ascensão, então, só pôde ocorrer nos Estados Unidos, onde teve contato com a contracultura emergente, como expressionismo, surrealismo, minimalismo, pop art e os movimentos Zero e Nul, influências notáveis

Durante esse período, ela criou as chamadas “pinturas de rede infinita”, dando início a uma identidade marcante e obsessiva que acabou virando até coleção da Louis Vitton, a convite de Marc Jacobs, solidificando ainda mais seu status como uma das grandes mestras da arte contemporânea.

“Sou uma artista obsessiva. Considero-me uma herege do mundo da arte. Penso apenas em mim quando faço o meu trabalho”, descreve a si e a seu trabalho Yayoi.

Além de sua habilidade técnica, o trabalho de Yayoi Kusama se destaca pela força emocional que transmite, tornando-se uma forma de terapia e, ao mesmo tempo, de

comunicação universal. As bolinhas, que são a característica mais reconhecível de sua produção, não são meros elementos decorativos. Elas representam a ideia da repetição obsessiva, que Kusama associa ao seu TOC, mas também carregam uma simbologia profunda ligada ao infinito e à transcendência. Para ela, a repetição das bolinhas é um meio de se conectar com uma sensação de infinito e de dissolução do ego, algo que reflete seu desejo de escapar das limitações do e da mente, fundindo-se

Suas

“Infinity Rooms”, instalações imersivas que criam uma ilusão de espaço infinito por meio de espelhos e luzes, são um exemplo de como ela quebra as barreiras entre o público e a obra, convidando o espectador a se perder no espaço e a vivenciar uma experiência sensorial única. Essas obras desafiam as convenções da pintu-

ra e da escultura tradicionais, colocando a arte em diálogo direto com o corpo e a percepção do público.

Outro ponto crucial na obra de Kusama é sua exploração da sexualidade e da identidade de gênero. Ao longo de sua carreira, ela desafiou normas sociais e culturais, muitas vezes apresentando a sexualidade de forma explícita e provocadora. Em uma época em que poucas mulheres estavam em posição de destaque no mundo da arte, Kusama quebrou barreiras, tanto no sentido artístico quanto no social, criando um espaço próprio dentro de um mercado dominado por homens.

Apesar de todas as dificuldades que enfrentou ao longo da vida, Kusama nunca se deixou abater pela adversidade. Sua trajetória é um exemplo de resiliência e, paradoxalmente, de como a obsessão e a dor podem se transformar em uma fonte inesgotável de criatividade e inovação.

Em 2018, Yayoi era a artista mais vendida do mundo. Mas antes de chegar a essa posição de destaque, Kusama teve que superar a traumas infantis e assistir a suas ideias serem roubadas por colegas homens - episódios que agravaram um quadro de transtorno mental e tentativas de suicídio.

A obra de Yayoi Kusama é uma meditação sobre o caos, a repetição, a obsessão e a tentativa de encontrar uma conexão com o universo maior. Sua arte não é apenas um reflexo de sua luta pessoal contra a doença mental, mas uma maneira de transformar a dor em beleza, convidando os espectadores a mergulharem em um mundo de sensações, onde o infinito se faz presente em cada ponto e em cada forma. O

Fernanda Torres sobre Ainda Estou Aqui: ‘Oscar não é a medida de tudo`

ernanda Torres reflete sobre a importância de um filme brasileiro estar conquistando espaço e atraindo críticas, indepen-

muito grandes para ‘o tal’ do Oscar, que parece a fronteira final, que teremos que atingir.” A atriz demonstrou otimismo em relação ao filme estar entre os estrangeiros indicados ao Oscar, mas enfatizou a importância de reconhecer o significado que “Ainda Estou Aqui” tem para o cinema brasileiro.

“O filme existir e ocupar esses espaços já é uma porta de entrada para o mundo.”

Durante uma entrevista coletiva para divulgação do longa,

Fernanda reforçou que, embora o Oscar seja importante, “não é a medida de tudo.” Ela também mencionou a indicação de sua mãe, Fernanda Montenegro, ao Oscar: “Quando as pessoas falam do prêmio da mamãe, eu tento explicar que um ator brasileiro falando português, só de ser nomeado, já ganhou.”

Fernanda Torres ressalta que a presença de “Ainda Estou Aqui” em uma premiação tão prestigiada já é uma vitória para o cinema bra-

“O filme é sobre pensar o afeto num mundo de raiva e de ódio”

sileiro, destacando o valor da representatividade e do reconhecimento internacional. Sua reflexão inspira uma visão de que, mais do que troféus, a conquista está em ocupar espaços globais e abrir portas para futuras gerações de artistas brasileiros.

O cartaz do de divulgação do filme resume a personagem interpretada por Fernanda Torres. Enquanto Selton Mello e as crianças, no papel de Rubens Paiva e seus filhos, olham sorridentes diretamente para a câmera, a atriz, encarnando Eunice Paiva, está alerta, mirando o horizonte com um semblante distraído

e preocupado. Os tanques passando pela orla do Rio de Janeiro nos anos 1970 estão ferindo a paisagem e capturando seu olhar.

A trajetória de “Ainda Estou Aqui” nas premiações internacionais reforça a importância do cinema bra-

sileiro alcançar visibilidade e reconhecimento global, e uma afirmação do valor cultural e da resistência criativa do Brasil.

Com uma atuação complexa e um olhar que, em muitos momentos vale mais do que diálo-

gos inteiros, Fernanda Torres faz o público mergulhar na angústia e na resistência de uma figura que se recusa a sucumbir ao esquecimento. “Ainda Estou Aqui” serve como um poderoso lembrete dos horrores de um passado que não podemos esquecer.

As cenas de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro são avassaladoras.

Ali, o verdadeiro poder da arte e do cinema se manifesta, quando a emoção na tela transborda e se transforma em lágrimas quase impossíveis de serem contidas. O

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Reviva a magia da fotografia!

Miuccia Prada reiventa o conceito de luxo ao introduzir nylon na passarela

Desde que ela consegue se lembrar, Miuccia Prada tem sido bastante independente, seja na mente ou no senso estético. Perfomar o básico simplesmente não é de sua natureza e a moda sempre teve papel importante em sua trajetória.

Quando tinha 14 anos, ela foi a primeira pessoa em sua escola a adotar o estilo hippie. Já na faculdade, onde estudou ciência política e engenharia de produção, ela se uniu ao Partido Comunista Italiano — porém,

Será só rebeldia ou algo intencional?

“Seja visto, seja escutado” poderia ser o lema de Prada. Seu desejo em se destacar na multidão é uma forma de se posicionar no mundo. Moda é sua arma e ela sabe como virar rostos em sua direção.

desse “wrong chic” são os vestidos desenhados nos anos 1990, feitos de nylon industrial, um tecido nunca antes utilizado na alta costura. Devido a toda sua peculiaridade, houve uma certa provocação deliberada em seus designs. Uma mulher vestindo Prada não pode ser ignorada.

23.10.2024 por Claudia Croft para British Vogue cia relembra se sentir em conflito sobre sua profissão de fashion designer, porque, segundo ela, “pensava que estava fazendo um trabalho superficial”. O antídoto para isso, era seu processo criativo complexo.

Um dos seus primeiros e radicais atos veio em 1984, quando ela introduz a icônica mochila de nylon. Naquela época, em meio ao endinheirado e marcado por cabelos longos, fabricar uma bolsa de marca em nylon era, Miuccia diz, “relmente uma ideia”. Foi de contramão enquanto seus camaradas vestiam jeans e tênis, Prada preferia saias e visitar manifestações na YSL.

Prada possui o hábito de resgatar o clássico e os clichês do “bom gosto” e transformar em algo estranho. O principal exemplo

“Ser feminista nos anos 1970, você consegue imagina o quão inapropriado era falar sobre moda. Mas eu amava tanto que eu não me importei”, ela admite.

No começo, Miuc-

com tudo que, no momento, era considerado luxuoso.

“Eu estava pesquisando”, explica, “porque eu odiava todas as bolsas que eu via. Elas eram tão formais, tão comportadas, tão tradicionais e clássicas”. Levaria dez anos para que o mundo seguisse a tendência da mochila Prada. Somente em 1990, quando a recessão e o grunge fecharam nos anos 80, que o acessório virou o queridinho das fashionistas. Assim, o nylon de Miucchia desafiou o conceito que se tinha do que ela descreve como “a ideia de luxo tradicional e conservador”. O luxo se permitiu tornar-se abstrato, transformar-se em uma ideia.

Desde então, o nylon fez presença em todas as coleções de Miucchia, mas para a da primavera/verão de 2018, o tecido foi peça central em casacos pretos masculinos estilizados man-

gas propositalmente arregaçadas.

Ela também está muito ansiosa em desmascarar a ideia de “vestir para matar”. “Você pode se vestir com as peças mais chiques e não conseguir sustentar esse papel. E você pode se vestir como uma garota bobinha e causar impacto”, Prada comenta. “Ser sexy está na cabeça, não no que você veste. Pensando assim, acho que roupas são somente que coisas que você usa, não que transformam uma pessoa”.

Ela acredita que ao invés de ignorar a moda como bobagens efêmeras, ela deve ser considerada produçao cultural e intelectual. “Cultura deveria ser atrativa, senão ninguém presta atenção”, comenta Miuccia Prada, a punk e pensadora radical, que sabe tudo sobre criar referências e fazer com que elas sejam disseminadas. O

Das fábricas à arte: o legado cultural do SESC Pompeia

Localizado na antiga fábrica alemã de tambores Mauser & Cia LTDA, a estrutura do SESC Pompeia foi repensado pela Lina Bo Bardi durante a década de 70. A arquitetura da fábrica era baseada em um projeto inglês típico do século XX e havia sido moldada com concreto armado do francês François Hennebique, que foi um pioneiro desse modo de construção.

Em 1977, o SESC pediu para que Lina projetasse uma nova arquitetura para o

local. Porém, ela decidiu que não iria destruir as instalações da antiga fábrica, e sim, adaptar o espaço. Por isso, o seu projeto manteve os tijolos não dos, as tubulações aparentes e não instalar um forro, fazendo com que o teto da antiga fábrica fosse aparente, resultando em um ambiente que

ainda tem um estilo industrial muito presente.

Durante a construção do projeto, o Brasil estava passando pela ditadura

tempos sombrios e cautelosos para a arte. Entretanto, Lina usava de suas obras para marcar e apontar caminhos dos problemas que

estavam acontecendo, usando a sua arquitetura como uma arma de atuação política que poderia mudar o mundo. Por esse motivo, a arquiteta foi vista como uma ameaça para o Brasil e precisou se mudar para a Itália durante sete meses, o que gerou uma pausa no projeto do novo SESC.

O SESC Pompeia, originalmente chamado de SESC Fábrica Pompeia, foi inaugurado em 1982, mas após dois anos teve a adição de dois novos prédios, sendo um em cada

margem do córrego do rio Água Preta, que corta o bairro da Pompéia, em São Paulo. Nos pés do prédio tem o Deck Solarium, que faz alusão a uma praia urbana e representa o correr do rio que corta o bairro.

Lina tem uma forte conexão com o nordeste porque morou em Salvador, Bahia, durante seis anos, e voltou com uma estética chamada de “arquitetura pobre”. Devido a paixão que teve por essa região, ela decidiu colocar elementos da cultura nordestina em suas construções, por exemplo, o espelho d’água, localizado no primeiro pavilhão do SESC Pompeia, é chamado de Rio São Francisco, mesmo nome do rio que corta alguns dos es tados do nordeste do Brasil.

Atualmente, o local conta com aproxima damente 22 mil metros quadrados de área construída que englobam oficinas de arte, teatro, sala multiuso, 3 ginásios poliesporti vos, vestiários, áreas para leitura, choperia, piscina coberta, solário, café, lanchonete,

consultórios odontológicos, espaços de arte e tecnologia entre outros.

Devido a toda história que o ambiente carrega, ele foi indicado para diversos prêmios e honrarias, como por exemplo, a 18ª obra arquitetônica mais importante construída após o fim da segunda guerra mundial, pelo jornal “The New York Times” e 6º lugar na lista das dez melhores construções e estruturas em concretos do mundo pelo jornal “The Guardian”. Em decorrência a toda a sua fama e importância para a história do Brasil, o local hoje é um patrimônio cultural protegido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 2015. O

Os ritmos excêntricos de Marina Abramovich

Mmais sensíveis e rele vantes atuais artistas do mundo. Abramovic pri meiro estudou pintura, mas descobriu que a mídia tradicional meramente atendia a espectadores passivos. Ao atuar com seu cor po, ela é capaz de di minuir a distância entre ela e seu público, a artista sérvia performática é con hecida por usar a dor e os limites físicos como forma de expressão.

Em seu trabalho, explora a intimidade entre o artista e o público, os limites do cor

po e o potencial da mente humana. Considerada a “avó da arte da performance”, a artista iniciou sua carreira na década de 1970 mostrando a sua relação consigo mesma e com os outros: brincadeiras com facas (Rhythm 5), deitar no meio de uma estrela de fogo (Rhythm 5), ficar sob o efeito de drogas controladas (Rhythm 2), se colocar à disposição dos especta-

De 1976 a 1988 foi parceira profissional do artista alemão Ulay. Em mais de uma década realizaram diversas obras em conjunto. Porém, de um jeito muito Abramovic, oficializaram

a separação através de uma performance, a “The Lovers”, na qual partiram de lados opostos da Grande Muralha da China, se encontraram e depois se despediram, seguindo cada um o seu caminho.

Em 2010, no Museu de Arte Moderna de Nova York, realizou uma exposição em retrospectiva sobre a carreira de 40 anos da artista, que ocupou os seis andares do prédio. Durante três meses, executou a performance intitulada “The artist is present”: quem quisesse poderia sentar e passar um minuto olhando para a artista. Abramovic passou mais de 700 horas sentada sem se mexer. E foi na ocasião em que, após um processo judicial e anos sem comunicação, ela e Ulay se reencontraram. Ele sentou-se diante dela, deram as mãos e choraram.

A obra de Marina Abramovic transcende as barreiras tradicionais da arte e oferece uma experiência visceral e transformadora ao seu

público. Sua capacidade de explorar os limites do corpo e da mente, ao mesmo tempo em que estabelece uma conexão profunda com os espectadores, solidifica seu legado como uma das figuras mais importantes da arte contemporânea. Abramovic não apenas redefine o que é performance, mas também desafia cada um de nós a refletir sobre nossas próprias vulnerabilidades, emoções e relações com o outro. Sua trajetória e um testemunho da coragem e da que vive a arte, um impacto no cenário mundial.

Diane Arbus: fotógrafa dos renegados

Diane Arbus, norte-americana nascida no ano de 1923, foi uma fotógrafa ímpar no ramo da fotografia profissional. Criada em uma família judia de

alta, Arbus sempre sentiu incômodo a respeito de algo em sua classe social, pois dizia que a mesma “tinha algo de surreal e confinava a todos”. Diane costumava dizer que sua

pre aprenderia algo que ainda não sabe.

Sua carreira fotográfica começou após o início de seu relacionamento com Allan Arbus, jovem que trabalhava no departamento de artes da empresa de sua família, a loja de peles Russeks.

O interesse de Diane por fotografia começou quando o casal visitou a galeria de arte de Alfred Stieglitz, onde aprenderam sobre diversos fotógrafos da época. Allan foi convocado para ser fotógrafo dos Estados Unidos na Segunda Guerra e, em seu retorno, o casal decidiu fundar uma agência de fotografia

nomeada como Diane & Allan Arbus, onde o foco da agência seria no ramo de moda. Diane e Allan trabalharam para diversas revistas de sucesso como Vogue, Glamour e Harper ‘s Bazaar.

Entretanto, Diane não se contentou mostrando apenas o lado luxuoso. Queria retratar a vida e a sociedade real, sem filtros e não apenas a vida luxuosa em que fazia parte. Dessa forma, em 1959, deixou de ser assistente de seu marido e passou a dar foco em fotografias que retratavam a realidade da sociedade, sem romantização da mesma. Deu foco em fotografar mino-

rias e mais julgados da época, como pessoas com nanismo, prostitutas, portadores de Síndrome de Down e outros.

Por esta razão, Susan Sontag, autora de Diante da dor dos outros denominou-a de anti humanista, porque a fotógrafa mostra “pessoas que são patéticas, deploráveis, assim como repugnantes, mas não desperta compaixão”.

Ao longo dos anos, seu trabalho foi ganhando destaque e visibilidade, sendo a primeira fotógrafa a expor na Bienal de Veneza.

Em 1971, cometeu suicídio no auge de sua carreira. O

A flower girl at a wedding (1964) Identical Twins (1971)
Child with a toy-hand grenade in Central Park (1962)
Transvestite on a couch (1966)
Two Friends in the Park (1965)

mapa.

guia.

I.

MASP (Museu de Arte de São Paulo)

Exposições

Leonilson: Agora e as oportunidades

Lia D Castro: Em todo e nenhum lugar

Arte, gênero e sexualidade: práticas estético-políticas como escrita da história

Lina Bo Bardi Habitar: as revoluções do morar

Corpos Eróticos: a potência do desejo em José Leonilson, Hudinilson Jr. e Rafael

Acervo fixo

Serviço

Horário de funcionamento: quarta a domingo das 10h às 18h, terça das 10h às 20h

Inteira: R$70,00; Meia: R$35,00; crianças até 11 anos não pagam

II.

Beco do Batman

Exposições

Beco Expandido: Uma experiência digital de realidade aumentada

Passeio pelos murais de grafites que se espalham pelos muros,casas, bares etc.

Feira de artesanatosSábado e Domingo: 9h até às 19h

Horário de Funcionamento Aberto 24 horas

Entrada Gratuita

IV.

Paço das Artes

Exposições

Luciano Maia: Desejos guardados sob o rio

Raquel Gandra: Entre tramas e labirinto

Serviço:

Horários de Funcionamento:

Terça a sábados, das 11h às 19h

Domingos e feriados, das 12h às 18h

Ingressos: Grátis

V.

Museu do Ipiranga

Exposições

Onde há fumaça

III.

Pinacoteca

Exposições

Renata Lucas: domingo no parque Era uma vez: visões do céu e da terra

Dan Lie: deixar ir

Horários de Funcionamento

De quarta a segunda: das 10h às 18h

Sábados: Entrada gratuita

Ingressos: Inteira - R$ 6,00 ; Meia - R$ 3,00

Uma história do Brasil

Passados Imaginados

Territórios em disputa

Acervo fixo

Serviço

Horário de Funcionamento: terça a domingo, das 10h às 17h

Inteira: R$30,00; Meia: R$15,00

VI.

Museu da Arte Sacra

Exposições

Caminhos para Belém - o amor que flui como água

Diálogos contemporâneos

Iluminai - A luz na arte sacra

Tradição e liturgia: A coleção de prataria e ourivesaria dos MAS-SP

Arte Sacra através dos séculos

Presépio Napolitano

Serviço

Horário de funcionamento: terça a domingo, das 9h às 17h

Inteira: R$6,00; Meia: R$3,00

VII.

Farol Santander

Exposições

Narcizo - A Beleza Refletida

São Paulo 3024 - arte digital imersiva

Denise Milan - viagem ao centro da terra

Acervo fixo

Horário de funcionamento: terça a domingo, das 9h às 20h

Inteira: R$40,00; Meia: R$20,00

VIII. MIS

Exposições

Exposições:

Bruce Labruce sem censura

Nova fotografia | Gui Marcondes

Além do acervo fixo

Horário de funcionamento: terça a sexta 10h às 20h, sábado das 10h às 21h e domingo 10h às 19h

Inteira: 40R$; crianças de até 7 anos não pagam IX.

Museu Afro

Exposições

Fusão de Gustavo Magalhães

Viajando com tapetes contadores

Acervo fixo

Horário de funcionamento: terça a domingo das 9h às 18h

Entrada gratuita

X. Galeria Raquel Arnaud

Exposições

Acervo fixa de obras

abstratas de artistas diversos

Horário de funciona-

mento: Segunda a sexta das 11h às 19h e sábado das 11h às 15h

Entrada gratuita

XI.

Instituto Tomie

Ohtake

Exposições

Carlito Carvalhosa | A metade do dobro

Mira Schendel – Esperar que a letra se forme

Horário de funcionamento: Terça a domingo das 11h às 19h

Entrada gratuita

XII. MAM

Exposições

38º Panorama da Arte

Brasileira: Mil graus +

Acervo fixo

Horário de funcionamento: Terça a domingo das 10h às 21h

Ingressos: Entrada gratuita

XIII. Museu da Arte

Brasileira

Exposições

Ancestral: Afro-Américas

Acervo fixo

Horário de funcionamento: terça a domingo das 10h às 18h

Entrada gratuita

XIV.

Caixa Cultural

Exposições

Fusão de Gustavo

Magalhães

Viajando com tapetes contadores

Acervo fixo

Horário de funcionamento: terça a domingo das 9h às 18h

Entrada gratuita

XV. Museu da Diversidade Sexual

Exposições

Produção de Quadrinhos LGBTQIA+

Letramento sobre diversidade

Aprendendo PAjub

Horário de funcionamento: terça a domingo das 10h às 18h

Entrada gratuita

XVI.

Casa de Vidro

Exposições

Lina e Zé: trans gerações

Muita/s Lina/s

Acervo fixo

Horário de funcionamento: quinta a sábado, 10h, 11h30, 14h e 15h30

Inteira: R$58,00; Meia: R$29,00; entrada gratuita para crianças de até 10 anos

O QUEBRA NOZES 2024

Teatro Santader 19 - 23 dez

da manipulação

18.05.2017

Dizem amigos e alunos de Vilanova Artigas que ele adorava dizer que cabe ao arquiteto “fazer cantar os pontos de apoio”. Parece que a frase não é dele e sim do arquiteto francês Auguste Perret, mas para além da autoria o que mais causa controvérsia é o seu real significado. Conversando hoje com meus alunos do mestrado, que apresentaram seminário sobre o arquiteto, palpitei que a frase se refere à essência da arquitetura – ao menos na definição de Schopenhauer em seu livro O mundo como arte e representação – de estar fadada a se enfrentar com as forças e leis da natureza, como a gravidade, rigidez, fluidez, luz etc. Assim, à arquitetura na visão do mestre da Escola Paulista caberia o papel estético de contrariar a lei da gravidade fazendo com que o pesado flutue ou se equilibre em apoio estreito e reduzido.

A seguir, me lembrei de filme que assisti há décadas, quando fazia graduação, e que atribuí erroneamente a Marcel Duchámp, mas que pude constatar ao chegar em casa tratar-se de René Clair. Em Entr’Acte, filme de 1924 onde as imagens são associadas de forma onírica, o cineasta modernista francês apresenta uma bailarina com tomadas de baixo. O ballet, que se vende ao público como o universo da leveza e agilidade, é subvertido com o domínio real do peso, revelado pelo impacto doloroso do corpo no solo, pelos músculos retesados, pela carne convulsionada. De forma insidiosa invadiu meu pensamento o depoimento de Alfred Hitchcock a François Truffaut – que comentei na última crônica publicada – que escondia de “forma premeditada a entidade que provoca o medo, pois a imaginação do público é infinitamente maior do que as feras, demônios ou fantasmas que ele poderia inventar”. E, como último elo na cadeia de insights, me ocorreu o quanto os grandes compositores nos enlevam, nos empolgam ou nos entristecem segundo suas próprias conveniências ao escolher o andamento moderato, vivace ou allegro ma non troppo.

A livre associação feita diante dos alunos desaguou em uma sentença desabonadora: a essência da arte é manipular nossos sentidos e nossa apreensão da realidade. O artista nos faz ver e sentir o que ele quer, criando um mundo alternativo onde a ilusão é a regra e a realidade se evapora como éter. Nesse interim, quando professor e alunos conversavam animadamente sobre a natureza escusa da arte, nos chega as últimas notícias da ficção alucinada que se tornou a vida política nacional: o presidente golpista e o candidato derrotado da última eleição presidencial, igualmente golpista, estavam sendo escalpelados pelo Jornal Nacional da Globo.

Voltando para casa, eis que vejo pela janela do coletivo uma multidão se formando diante do Masp pedindo o impedimento do presidente, reagindo com extrema rapidez ao comando dado pela rede de televisão, que seguramente já tinha as informações e as divulgou na hora do seu interesse privado. Não pude deixar de pensar que a vida imita a arte e, como um mágico fazendo sua prestidigitação com dedos ligeiros, a mídia golpista nos mostra com uma mão mais dois corpos no cadafalso enquanto com a outra nos surrupia algo na surdina da noite. Não sabemos ainda o quê, mas não tardará. O

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