Clipping Editora DSOP Maio 2014

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43 Veículo: Gazeta do Povo Data: 25/05/2014 Editoria: Livro Site: http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?id=1471172

Uma paixão difícil É densa e cheia de conflitos a relação do brasileiro com o futebol. Quando vencemos, a glória. Quando perdemos, a vergonha. Não existe meio termo e essa é a crueldade. Agora que a Copa do Mundo se aproxima, a ambivalência se evidencia, mais uma vez, nos preparativos da festa. Paixão, mas também ódio. Adesão, mas também repulsa. Apesar disso, ou por isso, o futebol, esse mito que nunca se completa, está, mais do que nunca, arraigado ao espírito do brasileiro. Dessa paixão difícil, quinze escritores arrancam agora quinze relatos breves. Eles estão reunidos em Entre as Quatro Linhas — Contos sobre Futebol, volume organizado para a editora DSOP por Luiz Ruffato. O futebol devassa e engrandece o humano porque reproduz — na moldura implacável das quatro linhas — um espelho de suas limitações. Mas também de seus sonhos de vitória. É o que acontece com Robertson, o craque decadente de “Uma questão moral”, conto de Cristovão Tezza narrado na perspectiva do juiz João Batista. Atuando em um time da divisão inferior, ele estanca na grande área adversária à espera da sorte. No último minuto, consegue (quase sem saber como) fazer um gol salvador. Robertson é apenas um dos elementos da mente do juiz que, enquanto apita o jogo, divide seus pensamentos entre o que se passa em campo e os impasses de sua vida afetiva.

Coletânea Entre as Quatro Linhas – Contos sobre Futebol Vários autores. Organização de Luiz Ruffato. Editora DSOP, 188 págs., R$ 29,90. O futebol invade o que temos de mais íntimo. Transpõe os limites dos esportes para se instalar em nosso mundo interior. Na mente do juiz, futebol e vida amorosa se mesclam como que feitos da mesma matéria. O brasileiro — e não só ele — pratica o futebol com um espírito passional. Ao ler o livro organizado por Ruffato, recordo minhas experiências de jovem torcedor apaixonado, carregando uma imensa bandeira tricolor, perdido nas arquibancadas do Maracanã. Perdido, mas irmanado — igualado — pela fúria da torcida. Ali o lúdico e o pessoal se misturaram de modo inseparável. Ali aprendi, ultrapassando minhas próprias fronteiras, a me entregar ao rol atordoante das paixões. Durante longos anos, salvo honrosas exceções, a literatura brasileira não soube dar conta do futebol. Fugiu dele. “‘Entre as quatro linhas’ é a prova de que o cenário de rejeição ao futebol como tema, principal ou secundário de boas histórias de ficção está mudando”, diz Ruffato em sua introdução. E por que essa rejeição? Talvez a palavra mais correta seja


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