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O “Diversidade no Feminino” é um projeto da Rede Portuguesa de Jovens para a Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens – REDE, uma associação sem fins lucrativos, fundada em 2000 com o intuito de promover a igualdade de género, através de atividades de informação, formação e educação e cooperação para o desenvolvimento, financiado pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género – CIG. Com este projeto a REDE pretende promover os valores da diversidade e da igualdade de género, sensibilizar o público para a discriminação com base no género e discriminação múltipla, fomentar o debate sobre os problemas sociais que afetam jovens mulheres em Portugal e promover a reflexão sobre a interseccionalidade dos feminismos entre a juventude. Para tal, a associação convidou jovens mulheres, provenientes de diferentes grupos da população portuguesa e imigrante, a participarem numa entrevista e reportagem fotográfica sobre o seu passado, presente e futuro. Os resultados deste trabalho poderão ser visualizados numa exposição fotográfica a inaugurar dia 28 de abril de 2015 no Espaço Cultural das Mercês, em Lisboa, bem como no site que servirá de plataforma online para divulgação do projeto. Para além da exposição e site, a REDE realizará também workshops em escolas, durante o mês de maio, com o objetivo de promover o debate sobre discriminação com base no género e discriminação múltipla. Espera-se que o “Diversidade no Feminino” contribua para uma maior visibilidade das jovens mulheres portuguesas e imigrantes a viver em Portugal e para uma maior consciencialização para as questões da igualdade de género e interseccionalidade dos feminismos. Que mais jovens mulheres se façam ouvir!


Cristina é uma jovem mulher de 23 anos, a mais velha de três irmãos. Tem um filho de 9 meses e vive com o companheiro em Setúbal, Portugal. Atualmente desempregada, Cristina participa num grupo de teatro, pretende completar o ensino secundário e arranjar trabalho na área da Pastelaria, Estética ou Contabilidade.

//Cristina ■

Como foi a tua infância?

É um bocado complicado dizer, porque… Eu quando era pequenina, eu nasci com peso a menos e com um tamanho muito pequenino. E então, a minha mãe e o meu pai não tinham muitas condições para me ter e os meus avós levaram-me para ao pé deles. Vivi com os meus avós até 2001. Em 2001 os meus pais foram a tribunal para me terem de volta, conseguiram, vim para Setúbal. Quando fiz 19 anos, fui morar com o meu namorado na altura e depois, pronto… Houve ali uma parte um bocadinho complicada, porque a minha


mãe não me quis ter com ela e andei um bocadinho perdida e… Pronto, basicamente é isso. ■

Do que é que sentes mais falta?

Sinto muita falta do meu pai, porque já não o vejo há muito tempo. E sempre gostei um bocadinho mais do meu pai, acho que as raparigas, nesse aspeto, são mais ligadas aos pais do que às mães. ■

Porque é que não chegaste a acabar o 12º?

Andei até ao 11º, mas no final do 2º período anulei a matrícula porque precisava de ir trabalhar. Porque na altura eu estava a viver com o meu namorado e já tinha trabalhado antes para ajudar a minha mãe e pronto, precisava de ganhar algum dinheiro para mantermos as coisas pagas, a casa, a água, a luz e essas coisas assim.


Sobre os teus sucessos, do que é que mais te orgulhas?

Acho que foi o fato de eu conseguir ter o meu filho e conseguir lutar para conseguir ter a minha casinha e as minhas coisinhas e estarmos bem e… Pronto, eu acho que… Como é que hei de dizer isto? Eu prefiro ter as coisinhas todas do meu filho e tirar um pouco de mim para lhe dar a ele. Porque às vezes não chega para tudo e eu prefiro que ele esteja bem e acho que esse é o meu maior orgulho. É o meu filho estar bem. ■

Como é que te sentes enquanto Cristina, jovem mulher?

Tem dias. Há dias que me sinto bem, outros dias que me sinto menos bem… Mas acho que isso faz parte da vida, não é? E temos que aprender e estamos sempre a aprender. ■

Como te vês no futuro?

Se nós formos a sonhar assim um bocadinho mais alto… Gostava de ter assim dois trabalhos que me realizassem. Bom, eu gosto de viver aqui, mas como já disse, gostava de viver noutro sítio para experimentar novas coisas. Mas antes disso tudo, gostava de casar, é um sonho desde pequenina. E gostava de ter mais uma menina, mas mais tarde, não agora. ■

Quem és tu? Descreve-te em poucas palavras.

É complicado. São coisas que é um bocadinho complicado dizer, porque eu não me consigo definir muito bem porque tenho as duas vertentes, tenho o 8 e 80. Ou sou muito calma e estou muito bem, sem stresses e tudo normal ou está tudo lá em cima e estou demasiado extrovertida. Sei lá… É um bocadinho complicado definirme. Sou um bocadinho difícil de aturar, às vezes, mas quando estou bem acho que é fácil de me levar.



Vânia, 25 anos, mora na urbanização “Terraços da Ponte” (Sacavém). Nasceu em São Tomé e Príncipe e veio para Portugal com 3 anos, devido a um problema de saúde (anemia falciforme). Depois de 1 ano e meio teve de regressar ao seu país e voltou definitivamente a Portugal, mais a mãe, aos 6 anos de idade. Atualmente, a tirar a licenciatura em Dietética e Nutrição, planeia abrir uma clínica e um dia, regressar a São Tomé e Príncipe.

//Vânia ■

Como foi a tua infância?

Apesar de tudo, foi boa. Eu tive uma boa infância. Porque a vantagem de morar num bairro social é a união, as pessoas conhecemse, têm um à vontade maior, se não vêm a vizinha “Oh vizinha! O


que é que se passa?”, “Olha, fiz um prato típico, vem cá comer” ou então, levam um bocado. E então, temos muita interação. E foi muito bom, porque tinha imensos amigos e muitos colegas de escola e então, quando não estava em casa, estava sempre com eles. ■

Há alguma coisa de que sintas mais falta de São Tomé e Príncipe?

Os frutos. O clima não tanto, porque nós temos cá o Verão (risos), apesar de não ser constante, temos o Verão. Mas essencialmente, os frutos, mesmo. Porque os pratos típicos a minha mãe vai fazendo, de vez em quando, mas os frutos é algo que não tem como. ■

Desde que estás cá, sentiste-te e sentes-te bem acolhida pelas pessoas de Portugal?

Em criança era muito inocente, não via maldade nenhuma. Lembro-me de um


episódio de uma senhora idosa “Oh preta! Vai para a tua terra!”, coisa do género. Quando cresci e entrei no Ensino Superior em Coimbra, aí comecei a sentir que, afinal, ainda existe racismo em Portugal, ainda existe preconceito. Porque cá em Lisboa, nunca tinha sentido… Talvez por ser uma cidade maior, com muitos imigrantes, uma cultura imensamente diversificada, nunca tinha sentido, sempre me sentia acolhida. ■

Quais são as tuas melhores qualidades? O que é que faz de ti uma grande mulher?

Sou positiva, persistente, sou bastante honesta, sincera, amiga, mas… Não sei. Que fazem de mim uma grande mulher? É mesmo a persistência, o positivismo, eu não me deixo ir abaixo. Eu posso cair, mas vou-me levantar e a tristeza não dura muito tempo.

Mudarias alguma coisa? Arrependes-te de alguma coisa?

Quando era mais nova, eu era um bocadinho revoltada. Mas já passou essa fase, pronto, aconteceu. É uma coisa que eu aceitei, eu aceito a minha condição e quando tu aceitas aquilo que tu és, aquilo que tu tens, as coisas ficam mais facilitadas. Eu aceito. E tudo bem que as coisas podiam ser diferentes, eu olho para as pessoas saudáveis, tantas coisas que fazem, não têm isto, não têm aquilo, mas eu aceito e convivo, eu sei conviver, eu aprendi a conviver.

Como te vês no futuro?

Vejo-me uma mulher de sucesso. Sucesso profissional, a nível familiar e a nível social. Não quero ser um ícone (risos), uma celebridade, mas sucesso em termos dos meus objetivos pessoais. Ser uma pessoa bem-sucedida. ■

Quem és tu? Descreve-te em poucas palavras.

Uma menina mulher (risos), uma menina porque tem algumas caraterísticas de menina e outras de mulher. Tem a força e a decisão de uma mulher e tem a ingenuidade e a doçura de uma menina.



Borcsi é uma mulher jovem de Budapeste, na Hungria. Borbala tem 28 anos e tem um mestrado em dramaturgia e teatro da Universidade de Teatro e Cinema de Budapeste. Ela está a viver em Lisboa, em Alfama por um ano e meio e atualmente está a trabalhar no restaurante austríaco, Kaffehaus.

//Borcsi ■

Porque vieste para Portugal?

Há a situação política na Hungria. Agora temos um partido de governo com mais de dois terços do parlamento, que já ganharam pela segunda vez as eleições e têm uma tendência anti-democrático e anti-liberal. Não é uma ditatura mas uma tendência que não promete muito. Quando vivia lá, tinha um grande efeito na minha vida; mesmo agora, que leio as notícias online, mas não fico tão depremida porque já não estou lá, já tenho mais distância dos assuntos.


Do que é que sentes mais falta da sua infância?

Estou a gostar muito de ser adulta e também estou a aprender como é ser adulta e acho que é um processo muito interessante; é um caminho e uma aventura. Não é facil mas não queria voltar a ser criança. Estou a aprender o contrário, como é ser adulta e ainda tenho muitas coisas para aprender. ■

Sobre os teus sucessos, do que é que mais te orgulhas?

Foi uma coisa corajosa imigrar para cá sozinha, sem planos, só com uma mala, sem apartamento, sem trabalho, sem mesmo nada. Normalmente não penso assim sobre mim mas quando penso nisso, posso congratularme. E disse: “Borcsi, tu já fizeste coisas e foste capaz, então força, és capaz de fazer mais ainda.“


Mudarias alguma coisa? Arrependes-te de alguma coisa?

Ter arrependimento também não faz sentido nenhum. Nos últimos anos tomei muitas decisões grandes, posso pensar sobre tudo isso como uma perda. Perdi a minha vida na Hungria, a minha relação com o meu ex-namorado, perdi a ligação com a minha área profissional... Mas não me arrependi porque era o que queria fazer. Perdi estas coisas mas escolhi outras.

O que significa ser uma jovem mulher em Portugal?

Aqui o sexismo e o machismo são um pouco diferente, se calhar sinto-me um pouco melhor. Uma amiga minha disse e eu concordo que o sexismo na Hungria e em Portugal têm uma diferença muito importante. Na Hungria uma mulher forte é uma coisa negativa e de suspeitar - deve ser agressiva, deve ser um animal. Aqui uma mulher forte não é algo negativo. Acho que é mais confortável andar na rua como a mulher jovem aqui.

Qual é o teu maior sonho?

Tenho dois: conseguir ter um trabalho em que posso usar as minhas capacidades e de que gosto, que me satisfaça; e outro, conseguir ter uma relação como adulta e não como criança com alguém.



Isa é uma jovem mulher de Lisboa, tem 25 anos e vive com os pais, naturais de Viseu. Neste momento, trabalha como consultora de comunicação e marketing, uma profissão que a apaixona, e planeia um dia tornar-se especialista em comunicação de marca.

//Isa ■

O que é que querias ser quando crescesses?

Eu quis ser tanta coisa... Eu acho que até astronauta, eu quis ser. Mas se calhar, assim o que teve mais tempo na minha cabeça era ser pediatra e depois disso achei que ser veterinária também ia ser uma coisa engraçada. Não aconteceu nada. ■

Quais são as tuas melhores qualidades? O que é que faz de ti uma grande mulher?

Isso é complicado... Eu acho que um dos meus pequenos poderes é uma capacidade de me empenhar e de me entregar às coisas que faço e acho que é por isso que a nível profissional as coisas têm corrido bem.

Mudarias alguma coisa? Arrependes-te de alguma coisa?

Arrependo-me? Não! Eu não sei como é que seria... Será que estaria melhor? Não sei. Estou bem agora? Estou. Estou porque gosto daquilo que faço, identifico-me e portanto, falar de arrependimentos, não me parece que é a melhor forma de abordar a questão.


Como te vês no futuro?

Vou dizer como gostava de ver-me no futuro. Eu no futuro gostava de ver-me como uma especialista em comunicação de marca. A nível pessoal só te vou dizer que quero ser feliz! Mas neste momento não te consigo definir o que é que vai ser o ’’ser feliz“ daqui a cinco ou dez anos. ■

Quem és tu?

Quem sou eu? Sou uma pessoa extremamente teimosa, mas como o meu pai diz ’’não há um teimoso sozinho’’. Sou uma pessoa responsável, que quando tem algo para fazer, não deixa por fazer. Segundo os meus amigos, sou uma pessoa divertida e sou uma pessoa que, embora possa parecer distante, quando é preciso está lá sempre. Sou uma pessoa que adora a minha família. Sou eu, é isto.


Vanessa tem 20 anos e é uma jovem mulher do interior de Portugal. Vive na aldeia do Canedo (concelho de Mangualde), mais a mãe, o pai e uma das suas duas irmãs. Concluiu recentemente um curso profissional na área do secretariado e encontra-se a fazer um estágio profissional na sua área de formação. Planeia voltar a estudar, mas gostaria de continuar a trabalhar para garantir a sua independência financeira.

//Vanessa ■

O que é que querias ser quando crescesses?

Sei lá, era daquelas alturas que era tudo! Era médica, bombeira, sei lá (risos). Daquelas parvoíces de “Ai quero ser professora”, “Ai quero ser professora de danças e qualquer coisa”. Por acaso, quando andava na escola nunca tive assim grandes expectativas de ser aquilo e seguir aquilo mesmo, não. Acho que são mesmo essas coisas da altura da primária.


Quais são as tuas melhores características? O que é que faz de ti uma grande mulher?

Ui! Melhores características… Eu detesto elogiar-me. Olha, sou uma pessoa muito simples, humilde. Sou simpática para as pessoas que são comigo, claro. Às vezes, até sou boa pessoa de mais para as pessoas que não são para mim. Tento sempre ser o mais sincera possível com as pessoas, tento nunca fazer aos outros o que me fazem a mim. ■

Sobre os teus sucessos, do que é que mais te orgulhas?

Olha, profissional por ter conseguido arranjar o estágio. Ter conseguido arranjar o estágio, sem dúvida. É uma grande oportunidade, nunca tive assim uma oportunidade de trabalho. Mais? Na minha vida, do que sinto mais orgulho? Nunca fiz assim grandes coisas para me sentir assim… Não, nunca fiz assim grandes coisas.


Se pudesses mudar algo em Portugal, o que seria?

Boa pergunta. Sei lá, mudava tanta coisa. Coisas que me revoltam, tipo as portagens (risos), por exemplo. O IRS, que é um abuso no salário, que eu agora comecei a trabalhar e agora é que vi. Por amor de Deus! ■

Qual é o teu maior sonho?

Também não sou daquelas pessoas de ter assim um sonho, sonho sonho. Mas o que eu gostava mesmo, mesmo era de poder ir à América, sem dúvida. Nova Iorque, esses sítios. Tenho lá família, gostava de lá passar uns tempos. Acho que é daquelas coisas que eu, sem dúvida, vou juntar dinheiro para fazer. E hei de concretizar! (risos). Pronto, tirando isso, não tenho assim grandes sonhos. Não, nem a nível de estudos nem nada disso. Não sei, nunca foi daquelas coisas em que eu pensei muito, não. ■

Quem és tu? Descreve-te em poucas palavras.

Então, atualmente… Não sei por onde começar… Sou uma pessoa feliz. Sou uma pessoa de ideias fixas, por acaso, sou um bocado teimosa. Também sou uma feminista, assim, pronto, nesse sentido… Não gosto. Às vezes, até tenho várias conversas com os meus amigos, na brincadeira, do género “Imaginava se um dia vivêssemos juntos, cozinhavas para mim, limpavas e…”, revolto-me! Eu dizia logo que “Não, não e não, porque as tarefas devem ser divididas por qualquer pessoa, as mulheres não têm de fazer o trabalho…”, estás a ver? Há o estereótipo de que as mulheres é que têm de estar sempre a limpar e mais não sei quê. Não, isso cada vez acho que se devia dissolver, as mulheres fazem isto e os homens também fazem isto. Nesse aspeto… Mais? Detesto falsidade, pessoas mentirosas e isso tudo. Quem sou eu? Olha, sou uma pessoa normal, que vive numa aldeia, no interior, Mangualde.



Karen é uma jovem mulher da República Dominicana. Mudou-se para Portugal em setembro de 2014, tem 29 anos e vive em Lisboa. Atualmente, vive com a mãe e está a tirar um mestrado em Estudos Internacionais no ISCTE-IUL. Antes de vir para Portugal, completou um mestrado nos Estados Unidos da América e viveu em Taiwan para estudar chinês.

//Karen ■

Como foi a tua infância?

Eu costumo dizer que tive a melhor infância do mundo, mesmo as pessoas mais ricas do mundo não seriam tão felizes quanto eu fui. Nasci numa pequena cidade chamada La Vega. Cresci a andar de bicicleta e patins e a andar a cavalo. É claro que fui para a escola e fiz natação, pintura, música, teatro e ballet. E parti muitos ossos, tenho cerca de sete ossos que sofreram algum tipo de lesão, mas tive a infância perfeita, foi fantástica.


Do que sentes mais falta?

Sinto falta do fato de quando és criança, não te preocupas realmente com o amanhã ou com o que vai acontecer a seguir, limitas-te a viver a tua vida. Acho que nunca deixei de ser criança, mas agora tenho de me preocupar com onde é que vou arranjar dinheiro. ■

O que querias ser quando crescesses?

Em criança fui muito influenciada pela minha tia, que teve uma grande carreira no setor bancário. Então, estudei administração de empresas, segui esse caminho e trabalhei durante nove anos num banco e pensava que era isso que eu queria para o resto da minha vida, mas agora quero algo diferente.

O que queres fazer?

O que eu adoraria fazer era trabalhar numa organização


que contribua para o desenvolvimento humano, seja onde for. Gostaria de fazer algo um pouco menos egoísta e de ajudar quem precisa.

Como é ser uma jovem mulher em Portugal?

Eu acho que ser uma jovem mulher em Portugal e na República Dominicana é um pouco diferente. As jovens mulheres no meu país têm trabalhar muito. Em Portugal, penso eu, as jovens não têm de sacrificar para ter uma vida decente. Acho que há um pouco mais de liberdade do que no meu país, porque lá tens de estudar muito, tens de ser a melhor, tens de ter um bom emprego, tens de pagar a melhor educação para os teus filhos e isso custa muito. Aqui, acho que há um pouco mais de possibilidades e as mulheres são mais livres para tomarem as suas próprias decisões. ■

Se pudesses mudar algo, o que seria?

Normalmente, no meu país, as pessoas têm medo porque é importante teres alguma segurança e é por isso que as pessoas trabalham tanto, porque não temos uma rede de apoio, então temos de construi-la nós mesmos. E eu diria a muitas raparigas ou qualquer outra pessoa que se sonham com uma vida melhor, se sonham com algo diferente, se acham que merecem mais, não tenham medo. O mundo está lá fora, só para vocês, saiam e explorem-no. E se não há nada que possas fazer e tenhas de voltar para trás, voltarás sempre com uma nova visão sobre as coisas. ■

Qual é o teu maior sonho?

O meu maior sonho? Não sei. Talvez apenas viver o dia a dia, ser feliz e não ficar por um sítio. Isso faz-me feliz – conhecer outras culturas e outras pessoas. Assim, o meu maior sonho seria ser capaz de atingir isso.



Carmo é uma jovem mulher de 26 anos, mestranda em Psicologia Clínica Dinâmica. É de Leiria, mas mudou-se para Lisboa no final do seu estágio, à procura de novas oportunidades. Atualmente, Carmo está desempregada e a fazer uma pós-graduação de sexologia e terapia de casal e outra em marketing digital. Quer aproveitar este tempo para fazer voluntariado em entidades de defesa dos direitos das pessoas LGBT e para se auto descobrir.

//Carmo ■

O que é que querias ser quando crescesses?

Eu nunca soube muito bem e depois tinha uma mãe psicóloga e sempre fui uma pessoa que gosta de construir puzzles, de tentar perceber o que está por trás das coisas, tentar compreender tudo.


Quais são as tuas melhores qualidades? O que é que faz de ti uma grande mulher?

Eu acho que sou uma pessoa easy going, divertida, sou uma pessoa sincera… Normalmente, as pessoas quando me conhecem gostam de estar comigo, não sei explicar. Sou sensível e acho que sou bastante perspicaz. ■

Sobre os teus sucessos, do que é que mais te orgulhas?

Eu tenho pouca experiência de trabalho, não é? E antes de começar a trabalhar eu tinha um medo enorme, um pouco irracional, mas os psicólogos também têm disso, de fazer asneira e de fazer mal a alguém enquanto dava consultas. Tanto que o meu estágio curricular, eu praticamente só observei, mas quando fiz o outro estágio, eu fiquei sozinha, era a única psicóloga da escola, porque a outra psicóloga entrou de baixa por causa


do parto e tive lá um ano sozinha. E eu fiquei muito contente por ter conseguido lidar com aquelas coisas todas, que eram coisas que há meses atrás, quando tinha feito o estágio curricular, eu achei que era impossível e fiquei muito contente com isso. ■

Se pudesses escolher entre viver em Portugal ou noutro país, onde é que viverias?

Eu gostava de viver em Portugal, sim. Eu não gostava de sair daqui, tenho os meus amigos, as pessoas que me são queridas e, por agora, estou a gostar muito de viver em Lisboa e se eu conseguir fazer a minha vida aqui, era por aqui que eu gostaria de ficar.

Se pudesses mudar algo em Portugal, o que seria?

Devido ao meu estado agora, não é? Que é desempregada, eu mudava um pouco o sistema, porque não nos ajuda nem… Esta coisa dos estágios é dar-nos esperança durante um ano e depois mandam-nos para o olho da rua. Pelo menos, em áreas como Psicologia, porque eu sei que há outras áreas, Engenharias e assim, que as pessoas vão ficando nos estágios. Eu mudava isso, um pouco. Mudava um pouco a mentalidade das pessoas. E isso não acontece só em Portugal, mas as pessoas estão cada vez a ficar mais egoístas, só a olhar para o seu umbigo e isso não é bom para ninguém. Era o que eu mudava, não só no país, mas no mundo, que é um bocado o que está a acontecer em todo o lado. Acho que as pessoas estão a deixar de comunicar, estão a deixar de se ajudar.

Quem és tu? Descreve-te em poucas palavras.

Eu sou a Carmo que tirou Psicologia, como eu disse que gostava de desmontar os puzzles nas pessoas e voltar a montá-los, é isso que eu ando a tentar fazer comigo também. A reconstrui-me e a construime e a procurar um bocado quem eu sou a 100%. Claro que eu sei, mas tentar ser uma pessoa mais confiante. E a Carmo é uma pessoa que gosta de estar com companhia, gosta de rir, gosta de beber uns copos, às vezes, de ouvir música, é a Carmo.



Nádia é uma jovem mulher que mora em Odivelas. Ela tem 35 anos e trabalha como psicóloga na Santa Casa de Misericórdia e também num consultório privado em Lisboa. Os seus pais nasceram em Moçambique e mudaram-se para Lisboa em 1975. Ela e a sua família integram a comunidade Ismaili que pertence ao ramo xiita do Islã.

//Nádia ■

Podes falar um pouco sobre a comunidade Ismaili e qual é a tua ligação à comunidade?

Nasci e fui criada em Lisboa, sempre no concelho de Odivelas e com uma vida activa no centro da cidade por causa da comunidade Ismaili. A comunidade Ismaili trabalho e desenvolve muito o sentido comunitário. Tem muita estrutura, há muita organização, as relações são muito incentivadas a apostar na educação. Depois também é uma comunidade que trabalha muito para a integração


e inclusão. Há projectos de voluntariado e iniciativas para todas as realidades que afetam o ser humano. Permite crescermos com um sentido comunitário, com um bom nível de leitura de como é que pode ser uma sociedade civil e que dá-nos claramente uma boa noção de como sermos mais organizados num coletivo. ■

Quais são as tuas melhores qualidades? O que é que faz de ti uma grande mulher?

A minha alegria; a minha vontade de querer conhecer as pessoas e ajudar as pessoas; o meu entusiasmo e a minha paixão pela vida. ■

Quem é que mais admiras na tua vida? Porquê?

É-me difícil escolher uma pessoa. Simbolicamente, se tivesse que escolher uma representação, escolho a minha família. O que cada umas


das pessoas representa faz de mim quem eu sou. Como sou a mais nova aprendi com todos eles, portanto cada característica deles fez-me ser muita coisa hoje. ■

Se pudesses escolher entre viver em Portugal ou noutro sítio qualquer, onde é que viverias? Porquê?

Num país tropical. Por causa do clima, por causa do mar e por causa da boa disposição. Gosto muito de Portugal. A primeira coisa que digo ao nivel da minha identidade é que sou portuguesa mas preciso neste momento de um clima mais quente. ■

O que significa ser uma jovem mulher em Portugal?

Em Portugal, ser mulher permite-nos uma liberdade muito grande. Há sempre zonas com algum risco, mas de modo geral podemos andar onde queremos, à hora que queremos e, na maioria das vezes, da forma que queremos. A mulher encontra-se, sobretudo no ocidente, num papel muito emancipado...a segurança, o à-vontade, a forma como ela pode estar a circular na rua...e Portugal e Lisboa, nesse aspeto, são um privilégio. ■

Como te vês no futuro?

Vejo-me a sorrir, vejo-me a viajar, vejo-me a dançar e vejo-me a viver num país quente numa casa na praia. Vejo-me a participar activamente em inicativas que me permitam descobrir formas para trazer o bem-estar às pessoas. Eu acredito muito nisso. ■

Quem és tu? Descreve-te em poucas palavras.

Sou a Nádia, uma mulher cheia de energia e boa disposição, curiosa sobre ser o humano, disponivel para ajudar. Quero sentir-me bem e quero fazer os outros sentir-se bem. As vezes demais, mas não faz mal. E estou disponivel para viver, para conhecer e para estar.



Daria é uma jovem mulher sérvia com 25 anos. Reside há 5 anos no Porto com o seu namorado Ricardo. Atualmente, está no segundo ano da Licenciatura de Línguas e Relações Internacionais na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

//Daria ■

Onde é que nasceste? Quando é que vieste para cá?

Em 2011, no fim. Vim porque no início de 2010 conheci o senhor Ricardo, o meu namorado. Eu tinha 20 anos, conhecemo-nos num fórum, começámos a falar, depois passámos para o Skype, depois para o facebook e aos poucos acabamos por falar humano (por telefone) e depois decidi vir cá. Foi por causa dele inicialmente e mudei-me logo para o Porto porque ele também estudava aqui. Tudo começou aqui.


Como foi a tua infância?

Difícil, foi difícil. Bem… porque lá está. Até aos seis anos foi tudo perfeito, vivíamos na Croácia, a minha família é da Croácia. Até que veio a guerra e… uma manhã acordamos e era para sair de casa, sem nada. Até esse dia eu tinha brinquedos, roupa, tinha tudo, uma infância perfeita como qualquer outra criança e nesse dia perdi absolutamente tudo. O meu irmão tinha um ano e meio e tínhamos de deixar tudo, literalmente fugir pela vida porque às seis da manhã ouvimos bombas a cair ao lado da nossa casa e por isso mesmo o que podíamos fazer era só fugir, literalmente. E nesse momento, tudo mudou. ■

O que é que queres fazer?

Sim, gostava muito de trabalhar em Direitos Humanos. De trabalhar com minorias, de trabalhar na integração dos refu-


giados, gostava muito que não houvessem refugiados no mundo, nunca mais, mas parece que isso não vai acontecer em breve. Lá está, gostava de trabalhar nisso porque acho que consigo perceber as dificuldades que eles têm e consigo pôr-me nessa posição e media a situação um pouco entre eles e a população residente para eles também perceberem que se vão para um lugar têm que se adaptar de certa forma, mas que também nós compreendemos que existem dificuldades, que há esse choque cultural e que eles (refugiados) precisam de tempo para se adaptar e ultrapassar as dificuldades. ■

Se pudesses mudar algo em Portugal ou no teu país de origem, o que seria?

O que eu mudaria nos Balcãs é o Machismo. O machismo existe em todo o lado, mesmo nos países desenvolvidos, mas gostava de lhes mostrar que é possível, acreditando, mudar esse realidade, se queres mesmo algo, vais conseguir. Que não são os homens que definem o teu valor, não tens de ser subordinada só porque sim, só porque a sociedade o diz, porque te impõe esse estereótipo que mulher vale menos que o homem.

Como te vês no futuro?

Uma pessoa que conseguiu mudar algumas vidas. Acho que vai ser extraordinário.

Qual é o teu maior sonho?

O meu maior sonho era ter segurança, saúde, um emprego estável, uma família estável… Não ter essa incerteza. ■

Quem és tu? Descreve­te em poucas palavras.

Eu? Eu sou a Dária. Sou uma pessoa simples, comunicativa, dinâmica, trabalhadora, honesta, lutadora. Sou isso, sou eu.



df.redejovensigualdade.org.pt




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