Vasos Gregos

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M aria Helena da Rocha Pereira

Dissemos há pouco que têm aparecido na bacia do Mediterrâneo e para além dela. Quem os trazia – se os próprios navegantes gregos, se os fenícios – é questão que ainda se discute, embora a primeira destas conjecturas pareça a muitos a mais provável. Se se destinavam a preencher espaços nas embarcações, é hipótese que se põe cada vez menos, dada a fragilidade do material. Ao passo que a presença, em muitos deles, de marcas comerciais e preços, ou mesmo nomes de artífices, sugere a finalidade de satisfazer encomendas ou promover a sua venda3. Não esqueçamos, contudo, que, se as ânforas serviam sobretudo para o transporte de líquidos, como vinho ou azeite, essas outras formas podiam também ser adquiridas como objectos de prestígio ou de uso pessoal. Muitas, e das mais belas, têm sido encontradas em túmulos, especialmente na Etrúria – circunstância que, até à segunda metade do século XVIII, fez com que essa cerâmica fosse apelidada de etrusca4. Por isso não surpreende que, no nosso País, dos primeiros vasos que apareceram, em Alcácer do Sal, só ficasse definitivamente esclarecida a origem quando Virgílio Correia teve oportunidade de ouvir confirmar em Madrid, em 1925, ao Professor J. D. Beazley, da Universidade de Oxford, que tais vasos eram áticos5. Nos últimos tempos, às descobertas de material dessa origem em numerosos lugares por onde se distribuíam as colónias gregas6, outras vieram juntar-se que demonstraram que esses produtos eram também transportados para o interior, pelos grandes rios, não só os que desaguam no Mediterrâneo, como os que ficam para aquém do estreito de Gibraltar. É significativo que no nosso País já tenham aparecido fragmentos na quase totalidade dos rios maiores, e mesmo a grande distância da respectiva foz7. Mas talvez o exemplo mais notável seja o achado de vasos de um grande pintor, neste caso nada menos do que Clítias, aquele que no segundo quartel do séc. VI a.C. assinou o chamado kratêr François, conservado no Museu Arqueológico de Florença, de quem já apareceram obras no Egipto e no sudoeste de Espanha8. O certo é que os grandes coleccionadores começaram a reunir peças encontradas principalmente na Etrúria,

3 São as chamadas “trademarks”, que aparecem grafadas nas diversas formas locais do alfabeto grego. Sobre este assunto, vide Sparkes (1991: cap. VI) e Johnston (1991: 203-232). 4 Traduzimos de um livro que continua a ser modelar em muitos aspectos, Cook (1972: 290), um passo muito elucidativo a este respeito: “A Etruscomania que ainda visita os crédulos era virulenta nos séculos XVII e começos do XVIII. Ascende às histórias etruscas forjadas que começaram no final do séc. XV e, embora reconhecidas como imposturas por especialistas com espírito crítico, alimentaram o preconceito, conveniente para o orgulho e política toscana contemporâneos, de que no passado os Estruscos tinham sido um povo grande e criador.” 5 Sobre a questão veja-se RochaPereira (1962: 1-10). 6 Sobre a distribuição geográfica das colónias gregas, veja-se Ribeiro Ferreira (2007: 33-46). 7 Quanto ao estado actual da questão, veja-se Arruda (2007: 135-140). 8 Johnston (1991: 213).

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