Revista Doentes por Futebol 1

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ALEGRIAMANCHADA

PELOterror Por Bruno Cassali, Rafael Fasutino e Pedro Spiacci

Pela primeira vez, A CAN foi sediada em angola, Mas infelizmente foi ofuscada pelos ataque aos togoleses

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O

s grandes clubes europeus não gostam, mas a África recebe seus principais jogadores a cada dois anos – diferente de outros campeonatos continentais entre seleções, que são realizados de quatro em quatro anos. A Copa das Nações Africanas tem como destaque a volta dos craques continentais, acostumados a desfilar seu talento nos gramados da Europa, aos campos onde deram seus primeiros passos. O futebol africano evoluiu e para notar isso basta colocarmos nossos olhos sobre as principais ligas do velho continente. Na Premier League, temos Essien, de Gana, e Drogba, da Costa do Marfim, atuando como protagonistas no líder Chelsea. No Sevilha, o marfinense Kanouté é o companheiro do camisa 9 verde e amarelo, Luís Fabiano. O camaronense Eto’o é titular absoluto da Internazionale. E Adebayor, togolês de nascimento, chegou ao Manchester City a peso de ouro. Esses nomes ajudam o torneio a obter destaque no mundo todo. A torcida também fica empolgada com a possibilidade de apoiar grandes ícones esportivos de sua nação. Com muitos desses jogadores vivendo momentos especiais em suas carreiras - a maioria dos atletas que atuarão na Copa Africana são titulares de seus clubes na Europa -, o campeonato ganha importante destaque. Infelizmente, nem todos os atletas tem a qualidade dos principais nomes. Sejamos claros: tem muito jogador com deficiência técnica atuan-

CABINDAsituação política Quando o ônibus da seleção de Togo foi recebido a tiros na província angolana de Cabinda, no ataque surpresa de oito de janeiro que provocou a morte de três pessoas, muitos nunca tinham ouvido falar dessa região angolana, muito menos da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), grupo separatista que assumiu a autoria do atentado. Cabinda é a única das 18 províncias de Angola que está isolada do resto do país. O território foi conferido a Portugal na Conferência de Berlim em 1885, que dividiu o Reino do Congo entre portugueses, franceses e

belgas. A região fazia parte do antigo Congo Português, região ligada a Angola mesmo após a independência do país, ocorrida em 1975. Após o processo de emancipação, os primeiros rebeldes começaram a aparecer, organizando guerrilhas separatistas visando a libertação da região. Assim nasceu a FLEC, que apesar do ataque recente aos togoleses, está bastante enfraquecida em relação a anos anteriores. Uma negociação foi iniciada em 2006 com o “Memorando de Entendimento para a Paz e Reconciliação da Província de Cabinda”, mas isso

não parece ter amenizado o clima na região, que reclama de exploração por produzir mais de 80% do petróleo angolano e receber pouco por isso. Manobras políticas e governamentais ainda tentam vender uma imagem pacífica de Cabinda para o mundo. É provável que, após o encerramento da CAN, a região caia novamente no esquecimento. Mas o fato é que a competição ficou manchada. E de sangue. Fingir que não aconteceu nada só agrava a situação e aumenta a chance de ataques futuros. Ao menos para o governo de Angola, um aviso foi dado: algo tem que ser feito.

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