Revista AECIC - Ed. 04

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Como isso reflete no Brasil?

O Brasil está sabendo se posicionar diante das consequências provocadas pelas crises?

José Luiz Pimenta - Tanto a União Europeia quanto os Estados Unidos são mercados de grande importância para o Brasil. Somados, eles foram destino de pouco mais de US$ 75 bilhões em exportações brasileiras no ano de 2012 (31% do total). Certamente, a facilitação do intercâmbio de bens, serviços e investimento entre estes dois gigantes do comércio mundial poderá trazer impactos para o Brasil. Não seria factível, no entanto, mensurar algum tipo de resultado sem antes conhecer o escopo geral do acordo e o cronograma das desgravações tarifárias entre as partes, os quais deverão ser definidos em um futuro próximo.

José Luiz Pimenta - Especificamente no que tange ao comércio, o Brasil precisa adotar uma estratégia de atuação mais ampla e com vistas ao longo prazo. A despeito dos desafios que a conjuntura internacional impõe ao nosso país, precisamos assinar acordos de comércio extra regionais equilibrados e que nos garantam acesso preferencial a mercados expressivos, tanto em termos de bens quanto no comércio de serviços. A mesma atitude deve ser tomada, com mais premência inclusive, no âmbito regional, com a ampliação do escopo dos acordos já existentes na América Latina e o fortalecimento comercial do MERCOSUL.

Qual a sua análise sobre as crises internacionais?

José Luiz Pimenta - Em termos comerciais, as crises geraram uma forte retração do intercâmbio de bens no curto prazo. Segundo a OMC, a queda no volume de comércio mundial foi de 12,2%, entre os anos de 2008 e 2009. De lá para cá houve, no entanto, um importante processo de recuperação, haja vista o crescimento da corrente de comércio mundial de 13,8% já em 2010, e de 5% em 2011. Se observarmos em termos de valor, o processo é de sensível recuperação, já que a soma da corrente de comércio mundial alcançou US$ 18,2 trilhões em 2011, contra um pico anterior de US$ 16,1 trilhões no ano de 2008, logo antes da crise. Diversos fatores, contudo, ainda interferem diretamente no maior crescimento do comércio entre os países como (i) os elevados índices de desemprego nos países desenvolvidos, que saltou de 5,7% em 2007 para quase 9% no final de 2009, permanecendo na casa dos 8% ainda no início de 2013, segundo a OCDE; (ii) a retração e estabilização da demanda mundial de alguns setores industriais no período pós crise; e (iii) a adoção crescente de medidas restritivas ao comércio nos grandes centros e em alguns países em desenvolvimento.

Como o senhor analisa a competitividade internacional da indústria brasileira?

José Luiz Pimenta - A balança comercial brasileira de manufaturados, que até meados da década passada era superavitária, passou a sofrer, a partir de 2007, déficits expressivos, passando de US$ - 38 bilhões em 2008 para US$ - 93 bilhões em 2012. O aumento das importações relacionase ao aquecimento da demanda interna da economia brasileira nos últimos anos, uma vez que a taxa de variação média do consumo das famílias brasileiras, entre 2009 e 2012 foi de 4,6%, enquanto a indústria permaneceu praticamente estagnada neste mesmo período. Aliado a isso, há outros fatores econômicos, internos e externos (elevados custos logísticos, desvalorização cambial de importantes players do comércio internacional, entre outros) que interferem diretamente na competitividade exportadora da indústria nacional.

”... o Brasil precisa adotar uma estratégia de atuação mais ampla e com vistas ao longo prazo.” 37


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