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INFORMAÇÃO E ESPETÁCULO : DISCORRA Quando o WikiLeaks apareceu na mídia e colocou de ponta cabeça a politica internacional, todos os leitores e telespectadores rapidamente ficaram ávidos por ver seus governantes expostos sem a cortina de fumaça criada pelos seus departamentos de inteligência e relações públicas. O fundador da organização, Julian Assange, foi elevado a um status quase instantâneo de mito e símbolo de um novo mundo em que a era da informação destruiria as arcaicas estruturas de manipulação da informação criadas pelos aparelhos estatais modernos. Evidentemente que toda ação gera uma reação: acusações de cunho sexual (segundo as leis suecas fazer sexo sem camisinha é uma forma de estupro) e respostas virulentas dos principais chefes de estado forçaram Assange a uma batalha de tribunais e trabalhar para manter o sítio do WikiLeaks funcionando. Pouco tempo depois, me digam: o que aconteceu com os vazamentos do Wikileaks? E com Assange? Está preso, foi inocentado, ou o quê? A mídia tradicional simplesmente tirou quase como em um passe de mágica o assunto de evidência e jogou para os rodapés das edições impressas na sessão internacional. Algum tempo depois um terremoto seguido de uma enorme onda atinge a costa japonesa. A usina de Fukushima entra em colapso e um dos seus reatores por problemas de resfriamento entra em colapso e começa a emanar radiatividade na atmosfera, obrigando o governo a criar uma região de isolamento e decretar estado de calamidade em todo o país. O que aconteceu com o reator japonês? Alguma medida foi tomada para enfrentar o problema energético no Japão? E o debate sobre o uso da energia nuclear, acabou? A mídia ao que parece também preferiu escolher outro assunto mais importante… Alguém ainda lembra dos mineiros no Chile? O que será que aconteceu com eles? Não importa se falamos da “Primavera Árabe”, invasão dos morros cariocas, o assassino da escola do Realengo, Guantánamo, Líbia, crise econômica grega e portuguesa, etc… Todos os assuntos tornam-se absolutamente inacabados. Evidente que se dermos um ‘google’ em cada uma dessas questões teremos algum tipo de desfecho e resultado, mas por que a mídia tradicional muda seu foco e atenção com tamanha velocidade? É obvio que cada um dos casos a resposta poderá ser diferente. No caso de Assange, as motivações politicas e de pressão sobre a mídia por parte dos governantes é imensa, mas essa explicação não pode ser completa. A verdade é que a informação virou matéria-prima para criação de shows na televisão e em portais na internet para entreter e não elucidar. Vivemos na sociedade do espetáculo, no qual as imagens de carros sendo arrastados por uma onda me interessam, mas os chatos e monótonos diálogos sobre o uso de energia não radiativa são no mínimo estafantes. A guerra interessa o público até a hora que um terrorista é morto em uma operação épica, com direito a transmissão de imagens em tempo real para seus comandantes. Não é a toa que nos acostumamos a ouvir expressões como “um show de transmissão”. Daniel Coronato


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