Estaleiro Naval de Sarilhos Pequenos

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Estaleiro Naval de Sarilhos Pequenos Câmara Municipal da Moita

que pode ser das Aruores, e portanto sem sospeita / de sua alteração se podem cortar”32, e da Lua, uma vez que “Conuem que nos dous meses apontados «dezembro e Janeyro» se obserue a sua mingoante; para nella se cortarem as madeiras; porque então se deseca muito nellas a humidade (causa da putrefacção) e ficão enxutas e liures de corrupção e caruncho; E asi se tenha por regra geral que as madeiras para esta fabrica / se cortem, nas mingoantes da Lua dos dous meses mais chegados ao principio do Jnuerno, um antes, e outro depois, os quaes nestas partes são Dezembro e Janeyro”33. Em Sarilhos Pequenos também se observa o corte da árvore no período de inverno, no quarto minguante. Não foi aprendido em livros, mas através dos mais velhos, notando Jaime Costa que “Dito pelo meu pai e por esse madeireiro muito antigo que era o Casimiro Ribeiro, ele dizia sempre que em relação à madeira o melhor corte era o do quarto minguante. Eu ainda me preocupo com isso e acredito que assim é porque nós reparamos aqui que as madeiras cortadas no quarto minguante ficam vermelhas na secagem. No período de novembro, dezembro e janeiro, quando estamos a descascá-la a madeira nunca azula, fica sempre vermelha, isso é a certeza que nós temos de que todas essas madeiras cortadas naquele tempo nunca azulam. Se começarmos a cortar a partir de fevereiro ou março essa madeira vai azular. Vai azular e vai estragar-se, porque a madeira começa a florir na primavera e a seiva começa a ir para as ramas. Portanto o que se vê no período de inverno é que toda a rama cai das árvores, praticamente, é que a seiva volta toda. Pelo menos são estes os saberes que têm passado para os filhos (...) Bem nós nunca lemos isso nos livros, mas a certeza porém que o meu pai dizia isso, o meu avô já dizia isso, toda a gente dizia isso”34. Mestre Jaime Ferreira da Costa também nos contou que as madeiras eram cortadas de agosto em diante, com o mês de janeiro como limite para o trabalho: “De agosto em diante já se pode cortar madeira nos pinhais, até ao fim de janeiro, porque a partir daí a resina sobe à rama e depois cria uma «zuna», uma «zuna» entre a casca e a madeira, cria uma «zuna» que até é doce, e não se pode cortar a madeira para a construção naval, porque essa madeira quando for serrada, se for obrigada parte tudo”35. Para o mestre Lopes, do estaleiro do Gaio, o corte da madeira também “devia ser executado, 32 Lavanha, p.30. Oliveira refere também à p.69 que a regra para colher a madeira é “...pella mayor parte he no inuerno, quando o sol estaa mays apartado dellas”. ~ atentar pellos ter33 Lavanha, p.31. Sobre a Lua, Oliveira esclarece, citando Plinio, à p.71 que “...releua muto ~ chea : por q tem ella então mays uigor, & humedece as ~ & guardar de as cortar com lua mos, & dias da lua, prantas, & faz as madeyras dellas mays corruptiueis : & por tanto diz elle, que he milhor colher a madeyra ~ noua, & q assy he o parecer de todos os que isto entendem”. na lua 34 Entrevista a Jaime Manuel Carromeu Costa, 2013. 35 Entrevista a Jaime Ferreira da Costa, 2008.


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