EPIDEMIOLOGIA DO TRAUMA - CoBraLT

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Epidemiologia do

Trauma BRASIL 2015


Paulo Henrique Klein Leonardo Lopes Gloor Caroline Maria Moulaz Luana Henriques Pimentel

EPIDEMIOLOGIA DO TRAUMA

Apostila do ComitĂŞ Brasileiro das Ligas do Trauma. Orientador: Prof. Dr. Paulo Alves Bezerra de Moraes

Brasil 2015


SUMÁRIO

Epidemiologia do trauma ------------------------------------------------------------------- 3 Ações resolutivas ----------------------------------------------------------------------------- 9 Resumo ----------------------------------------------------------------------------------------- 13 Referências bibliográficas ---------------------------------------------------------------- 14


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EPIDEMIOLOGIA DO TRAUMA A palavra trauma (do grego “trauma”) significa “ferida”. É um termo que segundo o Comitê de Trauma do Colégio Americano de Cirurgiões (American College of Surgeons - Committee on Trauma – ACS-COT) se refere a alterações decorrentes de várias formas de energia (térmica, mecânica, elétrica) no âmbito estrutural e fisiológico do organismo. A Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado (SBAIT) também define a palavra como um evento que acarreta alguma forma de lesão ou dano. Neste contexto, a doença trauma possui etiologias, fisiopatologia, manifestações clínicas, possibilidades de prevenção, controle, cura e reabilitação bem definidas. Segundo sua etiologia, o trauma pode ser consequência de causas intencionais (guerras, suicídios, homicídios e violências), não intencionais (quedas, afogamentos, acidentes por veículos automotores, queimaduras, envenenamentos) e acidentais (raios, terremotos, tsunamis, vendavais) que segundo sua biomecânica gera sequelas variáveis e relacionados a diferentes fatores intrínsecos ou extrínsecos ao organismo acometido. Epidemiologicamente, o trauma é um desafio internacional para os sistemas de saúde pública. Segundo a Organização Mundial da Saúde, estimase que até 2020 o trauma decorrente de acidentes por veículos automotores será a segunda causa externa de mortalidade no mundo. No contexto do custo financeiro, as lesões por causas externas promovem um importante impacto na sociedade, subtraindo recursos significativos que poderiam ser utilizados em investimento em outras áreas da saúde (doenças do aparelho circulatório, neoplasias, doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, doenças do


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aparelho respiratório) cujas medidas preventivas não são passíveis de forma tão eficaz como acontece na doença trauma. No Brasil e segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde (MS), o trauma corresponde à terceira causa de morte geral, atrás apenas das doenças do aparelho circulatório e neoplasias (Figura 1) representando ainda a principal causa de mortalidade na população até os 40 anos de idade (Figura 2). Figura 1 – Óbitos por região brasileira segundo capítulos do CID-10 (Período 1996-2013).

Porém, há um retrato parcial da epidemiologia e da assistência ao traumatizado no Brasil devido especialmente à ausência de informações que considerem sincronicamente dados referentes tanto à morbidade quanto à


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mortalidade, cenário caracterizado por alguns autores como epidemiologia negligenciada e agravado também pelo alto índice de sub-registros de mortes. Figura 2 – Óbitos por faixa etária nas principais causas de mortes (Período 1996-2013).

Segundo os dados do SIM/MS obtidos via Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), durante o período de 1996 até 2013, último ano cujos dados estão disponíveis para levantamento, o trauma ou lesões por causas externas (CID 10 - Classificação Internacional de Doenças) predomina epidemiologicamente na população do sexo masculino (83,46%), branca (39,3%), com faixa etária 20 a 29 anos de idade (28.18%), com escolaridade de 4 a 7 anos de estudo (36,39%) e devido principalmente a acidentes de trânsito (carro, motocicleta e bicicleta) ou violência interpessoal (homicídios). Esta parcela da população caracteriza um segmento fundamental para o crescimento e desenvolvimento do País, pois corresponde à população economicamente ativa. Neste contexto, cada morte significa de 30 a 40 anos de vida potencialmente perdidos (Figura 3).


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Figura 3 – Óbitos por causas externas segundo o sexo (Período 1996-2013).

Figura 4 – Óbitos por causas externas conforme a faixa etária (Período 1996-2013).


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Figura 5 – Óbitos por causas externas conforme a escolaridade (Período 1996-2013).

Figura 6 – Óbitos por causas externas conforme a raça (Período 1996-2013).


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Na distribuição por regiões Brasileiras, a região sudeste contribui com aproximadamente 45% dos casos de óbitos por causas externas no período de 1996 a 2013, seguida pelas regiões nordeste (25,6%), sul (14,4%), centrooeste (8,2%) e norte (6,8%). Vários fatores contribuem para estes dados, porém o processo de urbanização, agravamento das desigualdades sociais, aumento da violência urbana, e características histórias e culturas contribuem para o crescimento do número de vítimas por trauma no Brasil. Com exceção do triênio 1997/1998/1999 quando foi constatada uma redução do número de mortes por causas externas no Brasil de forma consecutiva, a mortalidade por trauma representou um crescimento contínuo e alarmante até 2013 quando houve uma queda aproximada de 0,3% em relação ao ano de 2012 (Figura). Como exemplo da gravidade e seriedade do problema, no ano de 2013, a cada hora, cerca de 17 pessoas morriam devido ao no Brasil. Figura 7 – Óbitos por causas externas conforme o ano (Período 1996-2013).


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AÇÕES RESOLUTIVAS No contexto da resolutividade, há medidas de curto, médio e longo prazo que podem ser implantadas para modificar este cenário. Nas últimas décadas, várias sociedades médicas e entidades civis definem a prevenção como o principal meio minimizador para o crescente número de mortes em uma sociedade crescente como a Brasileira. No trauma, enfatizam-se três tipos de prevenção: primária, secundária e terciária. Na prevenção primária, existem ações de educação, mudança de comportamento e estabelecimento de normas e leis. Na secundária, há o controle do agravo, e na terciária, a reabilitação. É certo que entre todas as ações, a prevenção primária gera menos custos e pode ser aplicada a curto, médio e longo prazo, gerando resultados expressivos e animadores para a redução do número de casos de mortes por causas externas. Como exemplo há a Lei Nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 que, além de instituir o Código de Trânsito Brasileiro, torna obrigatório tanto o uso de cinto de segurança para condutor e passageiros em todas as vias do território nacional assim como o uso de capacetes em motocicletas (Figura). Campanhas como o “Movimento Maio Amarelo – Atenção pela Vida”, projetos como o “P.A.R.T.Y.” (Prevenção do Trauma Relacionado ao Álcool na Juventude - Brasil), “Piscina + Segura”, “Criança Segura” e outras ações promovidas por sociedades médicas brasileiras ou entidades civis em parceria com organizações públicas e privadas promovem a conscientização do público leigo em geral sobre o tema trauma e suas consequências, potencializando as medidas de prevenção.


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Figura 7 – Slogan do projeto “P.A.R.T.Y.” (Prevenção do Trauma Relacionado ao Álcool na Juventude - Brasil).

Fonte: P.A.R.T.Y., 2015.

Figura 8 – Slogan do “Movimento Maio Amarelo – Atenção pela Vida”.

Fonte: Maio Amarelo, 2015.

Há também os avanços da tecnologia e engenharia em automotores que podem contribuir consideravelmente para a redução da mortalidade por trauma como exemplo os dispositivos de detecção de fumaça na prevenção de incêndios, cinto de três pontos, airbags, apoios de cabeça, sistema Isofix para assentos infantis, vidro laminado e temperado, sistema ABS (do alemão, “Antiblockier-Bremssystem”) e zonas de deformação.


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A capacitação de profissionais da área da saúde e a instituição de sistemas de atendimento às vítimas de trauma são ações importantes que resultam em sobrevivência às vítimas de trauma e minimizam sequelas ao traumatizado. Neste contexto, diversos trabalhos contribuíram para a melhor compreensão da epidemiologia do trauma e direcionamento dos esforços na prevenção. Segundo Trunkey (1983), o padrão de óbitos ocorre em distribuição trimodal. A primeira fase ocorre logo após o trauma, correspondo à metade das mortes. As ações de prevenção podem ser facilmente aplicáveis neste momento. Posteriormente, segunda fase ou nas primeiras horas após o evento, ocorre aproximadamente 30% dos óbitos. Neste caso, os sistemas de atendimento pré-hospitalar, triagem e os centros de saúde devidamente equipados podem minimizar o número de vítimas fatais. Por fim, o terceiro pico corresponde por 20% das mortes e é caracterizado pelas mortes tardias, geralmente

por

complicações

do

trauma,

como

sepse.

Nos

países

desenvolvidos onde há melhor disponibilidade estrutural, profissional e administrativa, o modelo bimodal caracteriza melhor os principais picos de mortalidade em vítimas de trauma, sendo o primeiro até a primeira hora após o evento e o segundo, um ou dois dias após o trauma. Neste contexto, grandes centros e associações médicas promovem pesquisas e investem em cursos de capacitação e treinamento para os profissionais da área da Saúde visando melhorar o atendimento ao traumatizado. Entre os principais cursos de capacitação e suas respectivas entidades promotoras estão: 

ADMR (Advanced Disaster Medical Response/Resposta Médica Avançada em Desastres): Panamerican Trauma Society;


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DSTC

(Definitive

Surgical

Trauma

Care/Cuidados

Cirúrgicos

Definitivos em Trauma): International Association for Trauma Surgery and Intensive Care (IATSIC); 

BTC (Basic Trauma Course): Panamerican Trauma Society

Trauma Nursing: Panamerican Trauma Society;

ATLS® (Advanced Trauma Life Support®/Suporte Avançado de Vida no Trauma): ACS-COT;

PHTLS® (Prehospital Trauma Life Support®/Suporte Pré-Hospitalar de Vida no Trauma): National Association of Emergency Medical Technicians (NAEMT);

ATCN® (Advanced Trauma Care for Nurses®): Society of Trauma Nurses (STN);

TEAM® (Trauma Evaluation and Management®): ACS-COT.


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RESUMO O trauma é uma doença que merece atenção especialmente em sua epidemiologia, ceifando principalmente a população economicamente ativa. No Brasil, há carência de um sistema confiável para o exato dimensionamento do problema e da assistência ao paciente vítima de trauma dificultando o melhor direcionamento das políticas públicas. Assim como em várias doenças, o trauma possui prevenção e pode ser realizada de forma efetiva de baixo custo por meio de ações comportamentais e legislativas. A capacitação de profissionais que atuam na área do trauma por meio da parceria de sociedades médicas nacionais e internacionais promove o melhor e adequado atendimento ao paciente vítima de trauma.


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