Caderno de olfação n°6

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Laranjeiras! Laranjeiras!

Fonte: Biblioteca Nacional de França (BNF)

C ADERNO DE OLFAÇÃO – n°06

A laranja não é fantasia.

Monteiro lobato dizia que “é a mais generosa dádiva com que nos enriqueceu Pomona (a deusa da abundância e dos pomares). Se o país ainda não o percebeu, culpa não cabe à deusa nem à fruta. Já o norte-americano a levou daqui para constituir na Califórnia o paraíso da laranja.” (Mundo da Lua).

Coisa de confeitaria. Ar triste de fruta caída. Bosque de laranjeira. Quem viu? “Para bem compreender as frutas e seu perfume, precisamos tê-las visto em seu habitat. Lá é que elas são bonitas!”

“Em Paris, as laranjas tem ar triste de frutas caídas, apanhadas ao pé da árvore. Na época em que elas não chegam, em pleno inverno chuvoso e frio, sua casca brilhante e seu perfume excessivo para uma gente de gostos delicados, dão-lhe um aspecto estranho, um pouco extravagante, Nas noites de nevoeiro, elas se estendem ao longo das calçadas, amontoadas nos depósitos sobre rodas, à luz mortiça de uma lanterna de papel vermelho. Anuncia-se um pregão monótono e longo, que se perde no ruído do trânsito e no barulho dos ônibus.

- a dois sous, laranja de valência.

Para três quartos da população de Paris, essa fruta colhida longe, banal em sua forma arredondada, não conservando da planta mais do que um pequeno talo verde, parece coisa de confeitaria. O papel de seda que as envolve e as festas em que são exibidas contribuem para dar esta impressão. Sobretudo nos últimos dias do ano, os milhares de laranjas disseminadas pelas ruas, as cascas boiando na água enlameada das chuvas, fazem pensar numa árvore de Natal gigantesca sacudindo sobre Paris seus ramos carregados de frutas artificiais. Não há um canto onde não a encontramos: estão enfeitadas as vitrines; na porta das prisões e nos hospitais, no meio dos pacotes de doces e dos montes de maças, na entrada dos bailes e dos espetáculos domingueiros. E o perfume requintado mistura-se com o cheiro de gás, com o ruído das rebecas mal tocadas, com a poeira dos bancos da galeria. A gente até esquece de que, para produzir laranjas, são necessárias laranjeiras, porque enquanto a fruta nos chega diretamente do sul às carradas, a árvore, podada transformada, desfigurada, somente sai da estufa, onde passa o inverno, para uma curta aparição no ar livre dos jardins públicos.” (1957:137-138.)

Imaginando algo de concretamente certo

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“Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para entro... Espantem-se à vontade, podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a alma exterior de uma pessoa; - e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira.” (O espelho, Esboço de uma nova teoria da alma humana, Machado de Assis.)

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“VI

Talvez sejam tão exigentes como os moradores da rua das Laranjeiras, que estão a bradar que a mandem calçar, como se não bastasse morar em rua de nome tão poético.

É certo que, em dias de chuva, a rua fica pouco menos lamacenta que qualquer sítio do Paraguai. Também é verdade que duas pessoas, necessitadas de comunicar uma coisa à outra, com urgência, podem vir desde o Cosme Velho até o largo do Machado, cada uma de sua banda, sem achar lugar em que atravessem a rua.

Finalmente, não se contesta que sair do bonde, em qualquer outra pare da dita rua, é empresa só comparável à passagem do mar Vermelho, que ali é escuro.

Tudo isso é verdade. Mas em compensação, que bonito nome! Laranjeiras! Faz lembrar Nápoles; tem uns ares de idílio; a sombra de Teócrito deve por força vagar naquelas imediações.

Não se pode tudo, - nome bonito e calçamento; dois proveitos não cabem num saco. Contentando-se os moradores com o que têm, e não peçam mais, que é ambição.” (Machado de Assis. Obras Completas. Rio de janeiro, W. M. JACKSON INC., 1955.)

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“Sou da beira do rio... Sei lá de onde é que sou?!... Mas, por me lembrar, mano velho, não leve a mal o que eu vou lhe pedir: sua janta está de primeira, está boa até de regalo... mas eu ando muito escandecido e meu estômago não presta p´ra mais... Se for coisa de pouco incômodo, o que eu queria era que o senhor mandasse aprontar para mim uma jucuba quente, com rapadura bem preta e a farinha bem fina, e com umas folhinhas de laranja-da-terra no meio... Será que pode?

- Já, já... Vou ver.” (1967:347.)

ROMARIA DA TRINDADE

“A romaria da Trindade, festa que não esmorece nunca no espírito dos habitantes do Desterro, lembra em seu aspecto de conjunto a romaria da Penha na capital Federal.” (Virgílio Várzea, Santa Catarina, A ILHA, Florianópolis: Lunardelli, 1985, p.63 a 68.)

“Em meados da década de 2000, a Festa da Santíssima Trindade – também conhecida como Festa da Laranja – ainda obtém participação de pessoas de vários lugares de Florianópolis, mas enfrenta sérios problemas de segurança e, por isso, muitas pessoas deixam de frequentar esta festa, que era um grande evento na Ilha de Santa Catarina.” (André Fabiano Voigt, Memória Do Bairro Trindade Em Florianópolis, texto onligne: brapci.inf.br)

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Bergamota “é uma planta labiada e aromática. Variedade de pera sumarenta. Variedade de limão que de que extrai uma essência muito aromática.”

LARANJA, s f. Fruto da laranjeira; pôr a pão e laranja, - fazer passar fome; s. m. (pop.) indivíduo sem expressão, abobalhado; adj. 2. Gên. da cor de laranja.

LARANJA-AMARGA, s. f. O mesmo que laranja-da-terra.

LARANJA APERU, s. f. Laranjeira silvestre do Paraná; fruto dessa laranjeira.

LARANJA-AZEDA, s. f. O mesmo que laranja-da-terra.

LARANJA-CARVO, s. f. Planta (Citrus nobilis Lour.) da família das auranciáceas; fruto dessa árvore, também chamada tangerina.

LARANJA-DA-BAHIA, s f. Planta (Citrus brasiliensis, Osb.), variedade de laranjeira; fruto dessa planta.

LARANJA-DA-TERRA, s. f. Árvore da família das rutáceas (Citrus aurantium, Lin.), também chamada laranja-amarga e laranja-azeda.

LARANJA-DE-UMBIGO, s. f. Planta (Citrus decumana) da família das rutáceas; fruto dessa planta.

LARANJA-MIMOSA, s. f. (bras. do sul) O mesmo que tangerina.

LARANJ-APERA, s. f. Variedade de laranjeira (Citrus sinensis, Osb.); fruto dessa laranjeira.

LARANJA-SELETA, s f. Fruto da laranjeira doce obtido por enxertia.

LARANJADA, s f. bebida que se prepara com o sumo da laranja; porção de laranjas.

LARANJAL, s. m. Pomar de laranjeiras.

LARANJEIRA, s. f. Árvore de folhagem persistente (Citrus senensis, Osb.) da família das rutáceas.

LARANJEIRO, s. m. (bras.) Vendedor de laranjas; plantador de laranjas.

LARANJO, adj. (bras.) Aplica-se ao gado vacum que tem cor de laranja.

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