Elsinore ensandecido pedaço corrigido

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A RATOEIRA Ou Elsinore ensandecido Ou Deu Black-Out em Elsinore OU QUASE-TODO SHAKESPEARE 1995*DIG© By Mickey Mausssss & Willian Shakespeare

In memoriam

†AC, o inventor dos B-O

NOTA QUE MUYTO IMPORTA LEER Nada do que se segue é obrigatório nem aconselhável. Odeio diretores e mais ainda autores. Sempre desejei textos e escrever textos que pudessem ser uma iluminação,uma illuminatio, que pudessem deixar o caminho livre para o ator. Pois ele é quem está em cima do palco e mais ninguém. Se A RATOEIRA abrir a cabeça de vocês e disserem: putz, olha o que nós dois poderemos fazer com isso!!!- eu cumpri minha tarefa de autor. Então, claro, eu também adoraria fazer A RATOEIRA e ai começo a imaginar a minha Ratoeira que não tem nada a ver com as outras possíveis A RATOEIRA . Só por isso esse texto está cheio de notas. Só por isso esse texto está cheio de texto. Mas ele deve ser em verdade, para ser bom, apenas um roteiro como se fazia na Commedia Del Arte. E muitas vezes até o roteiro se mudava! TUDO AI PORTANTO PODE E DEVE SER MUDADO. EU ESTAREI LÁ PARA BATER PALMAS, OK? Isso é uma declaração de SBAT- do qual sou membro- para vocês: De agora em diante A RATOEIRA [ou seja lá o nome que receber] é inteiramente de vocês. Pronto, estou feliz: fiz minha parte. Beijos.

MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA

01 Prólogo, 02 atos únicos, 01 intervalo, comercial ou para lanches com mimos e pantomimas & ∞ cenas & ∞ Black-outs Prólogo: ATO I CENA ATO I CENA ATO I CENA ATO I CENA ATO I CENA ATO I CENA

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HAMLET, PRINCIPE DA DINAMARCA E DIRETOR DE TEATRO DE ÉPOCA OSRIC, O COME QUIETO A A[L]TIVA RAINHA LAERTES , O SUSPEITOSO CAI O REI DE PAUS CASTA OPHELIA O REI FANTASMA, OU O HOMEM INVISÍVEL

INTERVALO PARA LANCHE COM

A TRUPE DOS HOMENS D´EL REY ENCENANDO

A RATOEIRA TEXTO: HAMLET DIREÇÃO: HAMLET

ATO II CENA 1 ATO II CENA 2 ATO II CENA 3 ATO II CENA 4 ATO II CENA 5

RICHARD THE THIRD HENRY THE FIFTH CAESAR OTHELO, O MOURÃO DE VENEZA MACBETH

PERSONAGENS

ATORES

DIGGER, OU COVEIRO- UM HEIDEGGER DE PERIFERIA HAMLET, O DIRETOR – UM SHAKESPEARE APAIXONADO OSRIC, O COME-QUIETO- NOBRE, DARK & BOBO QUEEN, A A[L]TIVA GERTRUDE- MULHER BEM MADURA & EM BRASAS SOB A MADUREZ LAERTES, O SUSPEITOSO- DOTADO PARA ENROLAÇÃO CAI O REI DE PAUS- REI FANTASMA, UM TANTO INVISÍVEL & MEIO LÚBRICO CASTA OPHELIAUM TANTO CÉTICA MICHELOTTO & WILLIAN s.

LEO BRUNA BRUNA BRUNA BRUNA BRUNA BRUNA


A RATOEIRA & MUYTO LOCA Y LÚBRICA intervalo TRUPE DOS HOMENS D´EL REY- CLOWNS DE SHAKESPEARE Fim do intervalo RICHARD iii- REI, PSICOPATA, CORCUNDA,GENTE RUIM HENRY iv- O PIOR PERSONAGEM E O PIOR ATOR QUE BÁRBARA HELIODORA ASSISTIU EM SUA JÁ LONGA VIDA... CAESAR- MEIO-CARECA.MORRE ÀTÔA OTHELO- CAGULE NEGRA NA CABEÇA.LUVAS NEGRAS. [VEJAM MINHA FOTO NO FACE: AQUILO É UMA CAGULE] E UM MOURÃO ENTRE AS PERNAS, MEU! MacBeth- BRUXAS: TODAS DE ROSA, FEIOSAS QUE SÓ. [INTERPRETE DE LIBRAS], PALITÓ E GRAVATA....

1.

intervalo LEO & BRUNA=CLOWNS Fim do intervalo BRUNA BRUNA BRUNA BRUNA

BRUNA BRUNA BRUNA

FIGURINO É UMA OPERA-SECA & BUFFA: TIRADO O COVEIRO,[PEUGA: ROUPA DE BAIXO USADA NOS INVERNOS EUROPEUS :CAMISOLÃO+CALÇAS COMPRIDAS E LARGAS DE ALGODÃO] TODOS OS PERSONAGENS SE CARACTERIZAM APENAS PELA MUDANÇA DE 1 OU 2 ELEMENTOS.

2.

[VIDE HAMLET: PEÚGA + UMA CAPA E UMA ESPADA ]

3.

[VIDE OSRIC , PEÚGA + SEU CHAPEU COLORIDO DE BOBO DA CÔRTE]

4.

[VIDE QUEEN, PEÚGA + COM ANELÃO NO DEDO E UM MONTE DE COLARES DE PÉROLA E DE IANSÃ ]

5.

[VIDE LAERTES, COM PEÚGA + UM CAMISOLÃO DE MANGAS FRUFRU]

6.

[VIDE O REI FANTASMA QUE SÓ VESTE APENAS COM UMA PEÚGA]

7.

[VIDE OPHELIA , IGUAL À QUEEN + VEÚ E GRINALDA ]

8.

[VIDE RICHARD, COM UM PUF ENFIADO NAS COSTAS POR DEBAIXO DA CAMISOLA, COMO UMA CORCUNDA QUE NÃO FAZ MAL FICAR AJEITANDO]

9.

[VIDE HENRIQUE IV- COMO HAMLET + COROA ]

10. [VIDE CAESAR- PEÚGA+ PEITORAL DE SOLDADO COM FACAS ENFIADAS PRA TODO LADO+ CARECA POSTIÇA] 11. [VIDE OTHELO, O NEGÁO QUE USA APENAS LUVAS PRETAS E UMA CAGULE PRETA NA CABEÇA E UM NEGÓCIO QUALQUER AVANTAJADO POR ENTRE AS PERNAS, DENTRO DA CALÇA] 12. [ VIDE 1A,2A,E 3A BRUXAS DE MACBETH- PEÚGA + MANTA DE COLORIDOS TRAPOS ROSAS[ VIDE FOTO POLLY] + NARIZ ADUNCO PRESO COM ELÁSTICO NA CABEÇA. DIFERENCIAM-SE PELOS NARIZES. ] 13. [VIDE INTÉRPRETE DE LIBRAS- PEÚGA + PALITÓ E GRAVATA MAL AJAMBRADA..] 14. [NADA MAIS A VER: isso é um padrão de facilidade e rapidez de troca...é só seguir sempre um padrão. Esse ou outro] MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA

OUTRAS COISAS: 2. A CENA DA SEDUÇÃO [“...O interruptor, Cocô...” ] REPETE-SE IGUAL EM TODOS OS CASOS, MESMO QUE OS AUTORES TENHAM ESCRITO DIFERENTE... 3. NA CENA FINAL A GAG É DA INTÉPRETE. OS GESTOS DEVEM SER DE SAFADEZA. ENTÃO O TEXTO É SÓ UMA BASE...DEVEM-SE ACRESCENTAR CACOS QUE PERMITAM DUPLO SENTIDO MAIS EXPLICITAMENTE AQUI E ALI [Pontuar e não ABUSAR, esse o segredo...]... ESSA É A PARTE + DIFÍCIL DE SE INTERPRETAR A MEU VER, MAS TAMBÉM A QUE DEVE SER A MAIS DELICADA E CRIATIVA E BUFFA.. TUDO NUMA SÓ SEQUÊNCIA PARA DEIXAR O PÚBLICO DIZENDO: “CARALHO, QUE ATRIZ!!!”... Vou ser chato e repetir: O GRAN-FINALE SE CENTRA NA CRIATIVIDADE & HABILIDADE DA ATRIZ E NÃO NO TEXTO. MAS PARA ISSO O COVEIRO TEM QUE SER UM GRANDE “ ESCADA TEXTUAL ”

& OUTRAS MAIS 1Nenhum dos personagens que contracenam com o Coveiro tem voz afetada ou coisas assim. Não há nenhum viado ou sapatão nesse elsinore.. São todos ou machões ou mulheres com a piriquita ensandecida por um afago machico... já que estamos em Elsinore & na podre Dinamarca. 2[B-O] é necessário e é bem melhor que não sejam feitos... 3em homenagem A um falecido diretor de teatro pernambucano-

Nenhum dos BlacK-outs eu os coloquei apenas

QUE ADORAVA COLOCá-LOS toda hora, como eu já disse em algum lugar 3há UMA VERSÃO DE A RATOEIRA EM QUE APARECEM “DUPLOS” 4ME EXPLICO: A existência de “Duplos” é uma maneira de se manter 2 personagens com um só ator em cena. 5em vez do usos de máscaras, EM VEZ DE MUITAS TROCAS DE ROUPA,MESMO QUE SIMPLES COMO PROPOMOS... 6AssistaM A Classe Morta, de Tadeuzs Kantor ..(POSSO FAZER CÓPIA E LHES MANDAR DEPOIS POIS É QUASE UMA AULA DE KANTOR).Foi de lá que tirei a imagem. 7Como um casaco que se veste, os “duplos” são presos no ator [da cintura para cima]. 8gostaria muito, se conseguissemos bolar algo assim,POIS ESTARÍAMOS TRABALAHNDO também com bufões e MARIONETES. 9PLEASE: contanto que seja algo prático. A marca da peça deve ser a praticidade e nada mais. 10Breve,exemplo: Laertes pode voltar com o Rei de Paus preso na cintura desse jeito. Seria um boneco, meio que arrastado e falado pro trás. [vide A CLASSE MORTA] .Adoro!

MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA 11.OTHELO MICHELOTTO /”Cagule” para Othelo

12 Polly/Bruxa de MacBeth/Manta de Trapos

Cenário: Cemitério de Elsinore Pequenas elevações aqui e ali. Podem não existir também. Nada é real em Elsinore Uma grande- que dê para esconder 2 atores- no centro do palco bem no proscênio Ou Um montículo bem à frente do alçapão do palco- caso haja um. A Ratoeira é uma peça pretensamente musical e nojentamente medieval- quase um Auto de Ariano. E por isso é carregada de Black-outs e didascalias tipo:”canta” etc

PRÓLOGO [Tudo escuro] Ouve-se uma voz sepulcral, atormentada, aos berros saindo de um túmulo

Não me esqueçam!..... Não me esqueçam!.... Uma farra de clarins. Luzes iluminam um cemitério. Uma cova meio-cavada. Ao fundo, as muralhas de Elsinore. No mais fundo da cova, no proscênio, o Coveiro cava uma cova nova. Jovem, mas nem tanto que lhe falte experiência. MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA O que acontece a seu redor nunca lhe surpreende; contudo, de quando em vez ele se mostra preocupado. Cava lentamente, na maioria das vezes apenas raspando o chão, Esperando como Godot pelos acontecimentos. Que, aqui, finalmente acontecem, pois entre uma brumosíssima rajada de brumas entra Bruna, no papel de Hamlet! O Coveiro cava olhando de vez em quando atônito para Hamlet. É difícil saber sua idade ou seus traços pois as brumas invadem tudo e não deixam ver, a bem dizer, coisa nenhuna senão uma pá se levantando como que cheia de terra e se abaixando na borda. Por sobre o murundu da outra cova uma figura fascinantemente dark em sua única aparição em toda essa peça, que leva portanto seu nome, o jovem e tresloucado príncipe Hamlet. HAMLET [com a caveira na mão]Eu pedi que recitassem o discurso como lhes ensinei, isso é corretamente. E não o mastigassem- como é costume em Elsinore. E não ficassem a usar vozes sepulcrais como essa que ouvimos para se pedir simplesmente: “ Não me esqueçam”. Afinal é meu pai. E um pai e um rei não ficam choramingando...somos machos na Dinamarca, caralho! Se fosse para declamar isso aos berros, eu preferiria entregar meus versos ao pregoeiro da cidade.Eu também lhes adverti a ter cuidado em não se parecer com uma ceifadeira em palco, cortando demais o ar com os braços, desta forma assim ó [faz o gesto espanando o ar].Eu adoraria fazer o mesmo com eles e ceifá-los definitivamente desta vida. Portem-se com moderação, disse eu também. Mesmo no meio da torrente de uma tempestade- e se assim posso me exprimir, no meio do turbilhão de vossas paixões, fazendo apenas um papel secundário de Fantasma de meu pai- deveis guardar a cadência e a moderação. Como me fere ouvir um ator tonitroando, empostado como uma caverna, esfrangalhando meus textos, despedaçando os ouvidos da plateia, com Oh´s e roncar de peitos.[imitando a voz da abertura]”Não me esqueçam! Não me esqueçam!”...claro que será esquecido... e com ele, meu pai! Essa barulheira faz delirar a plateia, pois as platéias topam qualquer negócio, qualquer pantomima ininteligível e adora ator chorando de verdade suas dores em palco. E essa é a razão pela qual não se deve confiar em plateias: porque elas são burras! Oh Yorick se não tivesses sido apenas meu Bobo, eu certamente teria te odiado. Tua vida foi muito mais digna me carregando nas costas como cavalinho quando eu era criança que se tivesses ousado interpretar um Bobo em palco... É...eles chamam isso de “interpretação”. E na PUC ainda existe a interpretação 1 e 2! Leem corridamente meu texto, o introjetam- seja lá o que isso possa significar- e depois o desguelam, pronunciando estupidamente os RR´s como se as pessoas não falassem sem esses tais erres simples, duplos e sibilados. Como se todomundo fosse meio mouco como a Mary professora de ERRes... Veja, Yorick, eu estou falando normal com você como sempre falei...você não está me entendendo bem? Arrastar capas e fazer piruetas com elas é também uma falta grave de nosso tempo. Eu sou nobre e tenho capa e você, meu bom Yorick, já me viu por aí balançando-a como se estivesse toureando o texto? Agora imagina se um idiota de um bardo resolve fazer uma peça com minha história – que evidentemente não dá para uma peça- e, pior, um desses atores bastardos gloriosos fosse me representar..Deus!..me “introjetaria” e depois sairia pelo palco abanando a capa com um rabo de pavão e daria pulinhos à esquerda e à direita pensando estar toda hora com um florete na mão. Franguinho! Ora, meu bom Yorick, você me viu alguma vez empunhar um florete se não fosse para enfiá-lo numa dessas carcaças traidoras que nos cercam no palácio? Será que quando como pão, empunho ao mesmo tempo minha espada? Ou a empunho quando bebo vinho?! Ou quando amo Ophelia?... bem nesse caso, metaforicamente sim. Yorick, não ria, seu bobo!... eu te ensinei latim- afinal eras meu Bobo- e a bainha da espada em latim se chama vagina...então essa outra coisa passou a se chamar espada... E porque esses atoreszinhos não “extrojetam” seu pau quando fazem cena de amor- e alguns até nus hoje em dia!!! Nús, com desesperada e gritada tesão de pregoeiro... e o pau mole! Deussss! Quem não pode ficar duro, não atue! Eu só não vivo completamente duro porque afinal tenho Auxílio Nobreza e a mesada de meu falecido, de meu assassinado, pai. Ser Bobo do rei como tu, vá lá, é até tranquilo: tinhas uma mesada garantida pelas Lei de Incentivo à Bobagem, de meu falecido, de meu assassinado pai. Tá bom, morreste de morte violenta, mas quem é que morre de outra maneira em Elsinore?!!! A Lei de Incentivo à Bobagem te garantiu ficar a vida inteira fazendo bobagens, sem ter que te preocupares com filhos, nem com a podridão da Dinamarca, nem com a insolência da Noruega e nem se vais manter teu cargo após a próxima eleição, porque aqui é a Dinamarca. E na Dinamarca ninguém tem poder na moleza, na lábia, na mentira ou na roubalheira. A Dinamarca- graças a deus- ainda é presidida por quem matar o anterior. Como no caso de meu próprio pai e de meu atual padrasto. E no meu quando chegar a minha vez. Acho que um dia o mundo inteiro adotará nosso conceito de Democracia Relativa e Poder Perpetuável. MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA Veja Titio Claudio: reina por causa da impunidade. E por causa dela vai tentar me mandar para junto de ti o mais rápido possível. Bem, já tentou com aqueles dois bostas palhaços, o Gulderstein e o Rozenkrantz, me levando para a Inglaterra.... Desculpe-me, foi sem querer...eu não quis falar mal dos palhaços...afinal nem todo palhaço é um assassino...E, porra, como você quer que se seja politicamente correto com os palhaços, num país em que tudo é politicamente incorreto? Isso aqui é a Dinamarca, saca meu Yorick!!! E na Dinamarca, quando se liga o interruptor do poder... COVEIRO: [Lá de dentro de sua cova, botando a cabeça para fora como se fosse com ele] O quê mesmo, Sir? HAMLET [Continua falando para a caveira] Oh, um coveiro ali!... E porque fiquei eu falando para ti, Yorick, sobre interpretação, se temos um coveiro nesse palco? Vão acabar me chamando de louco... Imagina, eu nem tinha reparado nessa pá vigorosa, nesses braços sadios, ái! Diga Yorick, você me viu tacando a mão na espada ou girando minha capa como um pirú doido quando dei sem querer aquele suspiro? Ora, atores!!!! [Para o Coveiro]Quero dizer, Coveiro, você há de concordar que não dá para a gente largar tudo de repente, como que girando um interruptor, não é mesmo? COVEIRO: O quê mesmo, Sir? O interruptor do Poder, Sir??? - disseste-o e ouso repeti-lo. HAMLET: O do desejo,Cocô! COVEIRO: (automáticamente) sei....a coisa se liga como um interruptor... e.[caindo em si]...nã, nã,na... e nã, Sir!E aqui no Cemitério estamos com a luz cortada por falta de tempo para pagar as contas...não tem interruptor nenhum por aqui, Sir! ... e se ouso dizê-lo, desejar não é poder! HAMLET: ... Mas o Poder pode desejar!...E é feia e insultante essa idéia de gente de sua classe de que gente da minha classe não tenha desejos! Ele o estuda agora dos pés à cabeça, cuidadosamente. Voce por exemplo, Cocô, por causa de viver enfiado nessa terra molhadinha da Dinamarca, a quentura de seu sangue, por acaso anda resfriada?? O Coveiro está nervoso. Não diz nada. Tenta gentilmente retirar sua mão presa entre as de Hamlet. ...E não esconde aí uma lança pujante, cetro vigoroso, lábaro estrelado, impávido colosso... nadinha mesmo? COVEIRO: ...Isso é só um hino, Sir! HAMLET: Da Dinamarca, Cocô! E quando o ouço viro patriota e o desejo me obriga a fazer um esforço supremo de vontade,para manter minhas mãos longe da espada de um forte.. apaixonadamente, enquanto escorrega lentamente entre suas mãos para dentro da cova... e gostoso... arrastando o Coveiro junto com ele...coveiro... Antes de sumir lá ele ainda levanta pela [ultima vez a cabeça, olha deseperadamente ao redor, mas já está perdido. Inexoravelmente lê vai sendo puxado para baixo, para fora das vistas, com seus olhos vazios de medo...mas misturados, a bem da verdade, com um certo interesse, ou talvez mais do que isso. Pois estamos na Dinamarca. O Coveiro levanta dentro da tumba, se limpa, dá dois suspiros lânguidos - de macho!como se dizendo “que rabo!” COVEIRO: [canta imitando voz cavernosa] [canta essa ou qualquer canção romântica conhecida que fale de covas, mortos ou coisas assim] “Mistérios da meia-noite, que sei lá o quê do homem Que sei lá o quê dum lobisomem Ávôrrái!!! Divertindo-se com o acontecido e com essa citação de Zé Ramalho.... COVEIRO: [como Hamlet] ái! ...[pra platéia] Digam, vocês me viram tacando a mão na espada ou girando capa como um pirú doido quando dei sem querer aquele suspiro? Ora, direis, o público!!! Vão à merda! Poderiam pelo menos apreciar a pura beleza dessa quadra,carregada ,é verdade, de um MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA certo tom simplório, digamos até... naive! È mais que evidente porém que quem o escreveu nunca esteve aqui em meu lugar...lobisomens,já estamos em pleno século III e ainda tem quem acredite nisso....Como eu disse: naive! Vai cavando. COVEIRO: Se soubesse o que anda acontecendo por aqui, o autor da Biografia do nosso Principe encantado, desculpem, amalucado... mas forte, ái... não sei não... Balança a cabeça dando a entender que a coisa tá uma merdeira. COVEIRO: Isso Mesmo: não sei não!! E é isso que ainda tá me mantendo, saca? O interesse. Você nem pode imaginar o que mais pode ainda acontecer num Cemitério.cara! É incrível! Não, não é nada demais como trabalho, me entende?! Essa coisa toda de cavar buraco, meter gente dentro e tapar com cara compungida se o falecido for parente do Rei, não é exatamente nenhum grande desafio intelectual. Bem, quanto a isso Heidegger discorreria bastante sobre o Tempo, é verdade , e essa coisa tão fácil nos dias atuais que é morrer!. Basta haver uma porrada mais forte, uma espada mais afiada e um certo senso de humor ao escolher onde cair morto, uma vez que o chão está já sempre meio ocupado com outros corpos. Visto pelo ângulo de um Coveiro,o meu, morrer é ainda bem mais simples, pois não há muita variedade de buracos. O modelo básico é sempre o mesmo (mostrando) assim de largura, assim de altura e mais ou menos assim de fundura, dependendo um pouco da importância que se dá hoje em dia ao estômago, claro. ( indica as proporções de um estômago gigantesco) voces conheceram aquele grandalhão do Arquiducado do Recife,pois não?...que dificuldade de se enterrar 2 metros de altura por 2 de largura... Você cava um buraco para cada um deles. Até aí você foi coadjuvado pelo destino. Depois vc enche tudo. E depois começa tudo outra vez.

[ mudando de tom, agora satchmamente shakespereano] Oh, eu tive um sonho!...Tive ambições. Vi as cores do arco-iris, rosas vermelhas também, eu as ví tristes “and I think to myself, it´s a Gravedigger wooooorld, I think to myself, it´s a gravedigger. World!”.... ( e segue cantando:duas batidas de pá fortes no chão para marcar o ritmo da nova música que se inicia:singing in the rain- na versão coveiro de elsinoe. Vai cavando, marcando o ritmo com as pasadas aqui e ali ) ...Mas nesses tempos de luas incertas...a coisa...ainda funciona. Você é sempre coadjuvado pelo destino,intermitentemente...mas lhes garanto que se você olhar a mais longo prazo essa coisa do destino coisa funciona... Ah como funciona! Entra, o mais furtivamente que for possível a um ator, Osric, um bobo. Ele é um florescente, um promissor magro, dos bem chupados. Gente fina nesses períodos, os gordos. O Coveiro o avista e sai de vista. Osric perscruta minuciosamente todos horizontes. E enfia-o no crânio. Checa mais uma vez os arredores com o olhar suspeitoso, DESCOBRE O COVEIRO. Pela primeira vez ela bota os olhinhos adocicados por riba dele, como pela borda de uma cortina. OSRIC:

OH!.... você entenderia bem essas coisas de bilhetinhos às escondidas, não? Você não sabe nada disso?... MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA COVEIRO:

O que foi mesmo que eu disse,Sir? O nobre Osric o observa por um tempo. Coça o saco lubricamente Você não é um de nós, não é mesmo? COVEIRO: (uLtrajado) Não! Certamente que não somos como vocês! OSRIC: Então, há uma boa chance para etcetera etcetera etcetera...? COVEIRO: (desconfiadíssimo) Não vivemos para isso, Sir!... OSRIC: (como saboreando a sacanagem da profissão) Mais que uma chance, é um fato!Afinal...um cavador de buracos, (confidente)hein, hein? Alarmado pela direção dos eventos,o Coveiro dá umas duas voltas ou mais em torno do túmulo. COVEIRO: (falando para si mesmo)vai acabar sendo o meu que vai ser cavado.... OSRIC: (continua imediatamente sem ouvir o que o coveiro diz)..Quero dizer, Coveiro, voce há de concordar que não dá para a gente largar tudo de repente como que girando um interruptor, não é mesmo? COVEIRO: O quê mesmo, Sir? OSRIC: O desejo,Cocô! COVEIRO: (automáticamente) sei....a coisa se liga como um interruptor [caindo em si]... mas assim, de repente, na tampa e na lata??!!!... e. nã, nã,na... e nã, Sir! E aqui no Cemitério estamos com a luz cortada por falta de tempo para pagar as contas... eu já, disse uma vez e nem deu certo- diabos, quem está escrevendo esse texto?- mas não custa tentar de novo: não tem interruptor nenhum por aqui, Sir! ... e se ouso dizê-lo, desejar não é poder! OSRIC: ... Mas o Poder pode desejar!...E como é feia e insultante essa idéia de gente de sua classe de que gente da minha classe não tenha desejos! Ele o estuda agora dos pés à cabeça, cuidadosamente. Voce por exemplo, Cocô, por causa de viver enfiado nessa terra molhadinha da Dinamarca, a quentura de seu sangue, por acaso anda resfriada?? O Coveiro está nervoso. Não diz nada. Tenta gentilmente retirar sua mão presa entre as de Osric. E não esconde aí uma lança pujante, cetro vigoroso, lábaro estrelado, impávido colosso... nadinha mesmo? COVEIRO: Mas isso é só um hino,ou não Sir?!!!! OSRIC: Da Dinamarca, Cocô! E quando o ouço viro patriota e o desejo me obriga a fazer um esforço supremo de vontade para não desembainhar a espada, para manter minhas mãos longe de um forte... apaixonadamente, enquanto escorrega lentamente entre suas mãos para dentro da cova... e gostoso... arrastando o Coveiro junto com ele...coveiro... Antes de sumir lá ele ainda levanta pela [ultima vez a cabeça, olha deseperadamente ao redor, mas já está perdido. Inexoravelmente lê vai sendo puxado para baixo, para fora das vistas, com seus olhos vazios de medo...mas misturados, a bem da verdade, com um certo interesse, ou talvez mais do que isso. Pois estamos na Dinamarca.

BLACK-OUT CENA 02 A a(l)tiva Rainha Osric finalmente cai fora à francesa, assobiando ou cantando baixinho: "gigante pele própria natureza, és forte, impávido, coloosso MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA ...se em teu furico espelhas essa grandeszaa" e emenda cantando "grevedigger,gravedigger” como o início de “Moon River”.... [SE AINDA NÃO PERCEBERAM, ISSO É UM MUSICAL!] ...Osric vai saindo pois como quem não quer nada nem viu nada nem fez nada, puro e imaculado passante.Farsante um cantor de musical. O Coveiro levanta dentro da tumba, se limpa, dá dois suspiros lânguidos - de macho!como se dizendo “que rabo!” e verificando que Osric já se mandou, pega da caveira. Tira fora o papel.Tira as tiras que o amarram, desenrola. E lê-lo! [Que português magnífico pude usar aqui!] COVEIRO: . .u'a morte por afogamento… u’a morte por armas...u´a por espadas envenenadas?' Ele segura o papel pela ponta dos dedos como se temesse sua explosão COVEIRO: Não acho nada legal ficar sabendo dessas coisas!!!! Soca o papel de volta na caveira. O texto que segue é dividido em 3 belos blocos de interpretação. a idéia a se passar é de que o texto NÃO TEM A MEN0R IMPORTÂNCIA. ESTANDO AÍ SÓ PARA ENCHER LINGUIÇA. Isso não significa que eu te dou direito de cortá-lo, sacas?!! COVEIRO: (1-veemente como se dizendo um shakespeare) Elsinore, teu próprio ar, além de sexo inseguro, anda carregado de intrigas!...Que esquemas, complôs e golpes insuspeitáveis? Eu saberei com certeza o dia em que a Dinamarca irá entrar em colapso. Que discursos engenhosos não são falados aqui! Que dramas altamente mortais não são encapuçados por detrás dessas muralhas de basilisco? Eu não darei ouvidos a nenhum deles. Ninguém nunca me conta nada. Eu para saber algo, dependo sempre de ocasiões sociais especiais...como um funeral! Ao lado da tumba eu percebo pedaços de murmúrios, um ou outro comentário de algum amante amargurado, a face chapada inexpressiva de algum cortesão. Depois junto os pedaços, meu pensamento faz inferências, acrescenta mais uma ou duas, extrapola, faz inspiradas conexões no meio da escuridão, pula direto para as conclusões, segue uma ou outra dica, avança por cegas aléias do raciocínio,

tentando descobrir algum bom senso em tudo isso. Mas no final, sempre o mesmo. A mesma falta de substância, as mesmas sombras no final. (2- voz suave,bem baixa-o que não quer dizer lenta-leve tremular de lábios, como recomendam Stanislavski (Interpretação do Ator, pág.30) & JDênis: Minha Própria Interpretação do Ator, pág.30)Todo meu negócio são apenas os “resultados”, os “finais”, as “saídas”.Mas (mais cuidadoso) ...o ponto forte dos resultados é sua dependência. Pois invariavelmente acontecem. Não há caso algum conhecido de ação alguma que não tenha tido um resultado qualquer.Assim, aqui em Elsinore - apesar dos “resultados” serem sempre fatais para alguém- tira-se sempre proveito deles! Eu deveria plantar…”resultados”. Veja, nesse exato momento, estou perfeitamente preparado para isso. Hoje mesmo eu cavei e há mais buracos esperançoso, nesse sagrado solo, do que em qualquer queijo suíço. Entra a RAINHA. Passeia por ali vagarosamente, distraida com seus pensamentos. Coveiro ( não a percebendo, apesar dela estar visível)(3- voz suave,leve tremular de lábios,diminuindo rapidamente para o totalmente inaudível. Como recomendam Stanislavski (Interpretação do Ator, pág.31) & JDênis: Minha Própria Interpretação do Ator, pág.31) Não quero falar nas falas que eu gostaria de falar. No melhor dos casos eu sou apenas um cara que importa pouco em tudo isso. Se esse ( dando passadas pelo cemitério)é meu estágio, então todas intrigas pessoais, determinações políticas& conspirações sexuais todos e todas acontecem “lá fora”! É como se eu estivesse ancorado num porto fora do mundo que rola, longe dos acontecimentos, não afetado nem um pouquinho por nada do que realmente esteja acontecendo. O Coveiro (como que acordando, voltando a ser ator normal)vê a Rainha. Mostrando a cova rasa para o público. COVEIRO: Essa é para ela!. Como eu sei? Bem, tento antecipar os acontecimentos, não é mesmo?! Nossos personagens, na vida real, eles se esparramam por todo esse campo. Com o tempo e a experiência você desenvolve um tipo de ...sensibilidade...é, sensibilidade ecológica. Vc fica sensível ao meio ambiente, saca? Agora mesmo...Sinais e portentos....Estrelas puxando listas de fogo...galos cantando fora de hora e bem na hora em que passa o lobo...e lá onde bravos capitães vigiam essas noites gélidas de Elsinore do alto de enormes torres, lá, procurando pelo jovem Fortimbrás, eles não estão vendo as costumeiras gangues de noruegueses, mas espíritos... MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA Espíritos passeando por aí,imagina! mas só nos faltava essa1 E depois dizem que bêbados somos nós os coveiros & claro, os noruegueses! Tapa o nariz como sentindo fedor. COVEIRO:

Estamos entrando num período de grande demanda em, meu negócio...Anote o que eu digo!

Ele pula fora da tumba. A Rainha chega mais perto mas nem se dá conta que há mais alguém lá RAINHA: (ultrajada) Não vai para a cama? Como NÂO vai? COVEIRO: (confidencialmente para a platéia) Ela pensa um bocado de coisas sobre leitos!... Os nobres dizem sempre que a profissão deles é um pesadelo, mas vivem na cama. É o que o povo diz. (para a Rainha) 'nhora!. [E ELA NEM AÌ] RAINHA: Ir pra cama...Eis a questão. Mas como poderia eu meter-me por entre esses lençóis deliciosamente incestuosos, como ele carinhosamente os chama? Deus seja louvado, mas esse moleque Hamlet não consegue entender nada direito! COVEIRO: Oh a quase-virtuosa Rainha! O que se diz por aí é que poucos escaparam de ser sua sobremesa... e os que escaparam ainda estão deitados, mas aqui comigo... A Rainha percebe o Coveiro pela primeira vez. RAINHA: De quem é esse túmulo? COVEIRO: O seu, milady! Ela ouve mas não percebe o que ele disse. RAINHA: Você tem filhos, Cocô? COVEIRO: (Confidente para o público:ah meu Odin, vai começar tudo de novo!) Nenhum que eu saiba,madame. QUEEN: Nem os tenha!

COVEIRO: Não, madam! Isso é, sim, madam. QUEEN: Ingratos, parasitas impertinentes. Judiciosamente, o Coveiro não acrescenta nada... RAINHA: Acabam como ele, rondando por entre as muralhas, no meio da noite, atormentado por seu pai. E ele ainda o chama de 'Hyperion'! Ela dá uma risada de descrédito. Delicadamente histérica: RAINHA: ÒH DEUS, SE AO MENOS ELE SOUBESSE!! COVEIRO: Soubesse o quê, milady? RAINHA: Que seu pai, francamente, era um puta incompetente! Porque pensa que ele teve apenas um filho? COVEIRO: Eu não penso nada, milady, não mesmo! RAINHA: Apenas uma vez! Só uminha, entende cocô? COVEIRO: (espantado)Só… a senhora está pedindo para eu pensar exatamente só uma vez, milady?? RAINHA: Não Cocô... COVEIRO: [já desconfiado do tratamento familiar]...Milady.... RAINHA: Uminhazinha. Ele só deu umazinha!!!! E ainda fez a batalha com uma arma das mais inexpessivas, sacas? COVEIRO: E como saco! RAINHA: Nada de lança pujante, cetro vigoroso, lábaro estrelado, impávido colosso... ...nadinha mesmo dessas coisas cantadas em nosso hino de guerra da fuderosa Dinamarca. COVEIRO: Esse hino é nossa glória, ma´m! Quer dizer que ele enganou todo mundo então, milady... Ele parecia um belo homem... Bem, na verdade eu só o ví quando estava já completamente incompetente mesmo e o trouxeram para ser cremado...Tá bem ali ó...(aponta o túmulo)... Bem, ele fica muito bem deitado, sabia? MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA RAINHA:

Tenho que admitir que a maquiagem e o figurino do funeral estavam lindésimos... Os olhos como Marte, Os cabelos encaracolados como Hipérion. Dá para imaginar como o filho cresceu querendo-o como herói? Se ao menos conhecesse como o pappy era fraquinho! COVEIRO: A pá dele era tão pequenininha assim? Nós, do povo, somos sempre levados a crer invariavelmente que as proporções nos nobres são lendárias, sobretudo as das pás reais! RAINHA: É uma propaganda necessária, acredite-me! COVEIRO: Contudo, milady, não me pareceu quando o pus lá dentro que era … miudinha! RAINHA: Bem menor que miudinha, de fato. O que você entende de tamanho, Cocô?! Coça as partes pudendas com paixão. Nada parecida com a enormidade de seu irmão Cláudius. Ela chupa o ar ao respirar como se o chupando. Esse sim você vai achar um verdadeiro homem quando vier para cá! Nada de Hipérion mole e fininho, mas um verdadeiro sátiro, um bode, um monstro sagrado em profundidade E largura, me entendes, Cocô?! COVEIRO: Um performático, Ma`m!!!! RAINHA: Em uma só palavra! Pela primeira vez ela bota os olhinhos adocicados por riba dele, como pela borda de uma cortina. RAINHA: COVEIRO: RAINHA: COVEIRO: RAINHA:

Você não sabe nada disso?...Você disse…. O que foi mesmo que eu disse,Milady? Desse negócio de se ter filhos. (desconfortável) Ah... Nadinha? (O Coveiro tosse.) Mas você tem tudo para ter filhos, ou não?! (O Coveiro não responde. A Rainha o observa por um tempo. Ela indica sua vaga vagina Você não é um de nós, não é mesmo? Ela apalpa os seios, lúbrica. COVEIRO: (uLtrajado) Não! Certamente que não somos como vocês! RAINHA: Então, há uma boa chance, etcetera etcetera etcetera...de se ter filhos? COVEIRO: (Sem falsa modéstia agora) Ihhh..Nós pobres vivemos para isso, Milady... RAINHA: (como saborando a sacanagem do )Um cavador de buracos, hein?Ai que calor!!!! Alarmado pela direção dos eventos, o Coveiro dá umas duas voltas ou mais em torno do túmulo.

COVEIRO: Se eu não for cuidadoso, essa...(indica o buraco) acabará sendo a minha! RAINHA: É a impertinência que conduz até aí, meu bom Coveiro! Você lhes ensina boas maneiras, como se comportar sem envergonhar todo mundo. Você não espera que eles venham pular sobre sua cama falando merda sobre sua moralidade, dando lições ... ...Para sua própria mãe, cacêta! “Não vá nunca para a cama com meu tio!”- isso são lá maneiras de se falar com sua Mãe?!!! COVEIRO: (À parte) A “cama do tio” certamente não acarreta nenhuma conseqüência moral, claro... RAINHA: É fácil para ele dar tais sugestões..Quero dizer, Coveiro, você é um homem...você entenderia bem essas coisas, não? (observando-o com bastante interesse) (à parte para o público)...e nem é um espécimem de homem tão ruim assim, uáu! O Coveiro fica completamente sem jeito dessa vêz) Voce há de concordar que não dá para a gente largar tudo de repente como que girando um interruptor, não é mesmo? COVEIRO: O quê mesmo, ma´am? RAINHA: O desejo,Cocô! COVEIRO: (automáticamente) como um interruptor....Essa eu conheço! Não o desejo. RAINHA: E como é feia e insultante essa idéia que ele tem de que gente da minha idade já passou disso! “Você não pode chamar a isso “amor”- diz ele o tempo todo- pois em sua idade a fervura do sangue já está curtida...Na minha idade?!! CURTIDA?!!! E porque,só com um leve toque,os bicos aqui se ouriçam e todos meus poros transpiram êxtases de amor?! COVEIRO: ...poros, é?!.. RAINHA: Diz, Cocô! (Pega em suas mãos) E que idéia pode ele ter de como seu tio “avançado em idade” se MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA avança sobre mim (prendendo a respiração)...e se embola nesses lençóis... COVEIRO: Incestuosos lençois, 'Ma'am. RAINHA: Eu garanto para você, ah como são incestuosos!!!...O que acrescenta um certo... COVEIRO: Je ne sais quois, Ma'am? Ela o olha com uma certa suprêsa. RAINHA:

Exatamente isso!....(À parte, para o público) Um coveiro...e fala francês!!!? (para o Coveiro) Um não sei o que de mel, de sirôp de mel...Ah aquilo é bem adocicado eu te conjuro a crer-me!! COVEIRO: (sempre desconfiado) Adocicado, Ma'am? ..eu nunca experimentei, não Ma`m... RAINHA: Ay ay ay, não há palavra melhor para a coisa! O homem é deliciosamente insaciável e- eu posso falar disso com conhecimento de causa- monta como um verdadeiro garanhão. A quentura de seu sangue não está nada curtido, eu posso lhe garantir isso com palavra de quem estava por debaixo... Ela o estuda agora dos pés à cabeça, cuidadosamente. Aliás, nada mal em estar debaixo... Voce por exemplo, que fica muito tempo embaixo, cavando,Cocô...voce tem quantos anos há mais que o Príncipe? COVEIRO: ...anos, Ma'am?! QUEEN: E a quentura de seu sangue, por acaso anda resfriada?? Coveiro visivelmente nervoso. Não diz nada. Tenta gentilmente retirar sua mão presa entre as da Rainha. Você já está passado? Com data vencida, Cocô? COVEIRO: Agora, agorinha? Assim na lata?... atualmente... bem agora... ajustando a frente de suas calças com a mão livre para disfarçar... Cacêta, como estamos nos movendo agora em terreno prá lá de pantanoso e cheio de covas! RAINHA: (pegando-lhe agora ambas as mãos, fazendo com que sua pá suba )Diga em meus olhos, Coveiro, voce já não dá mais no couro? O Coveiro olha ao redor, desamparado. COVEIRO: Dadas as circunstâncias certas, Ma'am - não. Um pouco mais de idade,talvez, mas para fazer justiça ao momento... Num lugar mais apropriado... (quase mostrando a platéia) de preferência A Rainha passa carinhosamente um dedo pelo rosto dele.

RAINHA: De uma certa maneira voce me lembra meu filho, o Príncipe. COVEIRO: (profundamente alarmado) Certamente não o príncipe, milady.. QUEEN: É...a idade ele.... Passeando sua mão por sobre seu corpo...indo abaixando. (á parte)...por entre esse corredor... o mesmo volume ...a mesma graça sensual... (ao Coveiro) oh quantas vezes observei meu filho amado... querendo ...querendo tanto que as coisas fossem diferentes...que eu não fosse sua mãe, arrasada com isso, andando dia e noite pelo palácio... COVEIRO: De um lado para o outro? RAINHA: Para o outro. Não há um só quarto nesse castelo que eu não tenha entrado com receio de encontrar Ophélia com meu pobre, inseguro e notívago filho...(com ultraje & ciumes)... fudendo!!!... COVEIRO: Fudendo, Milady? QUEEN: Ay,si,fudendo como um coelho. COVEIRO: (jogando conversa fora)...Não há nenhum quarto, milady disse?!! RAINHA: Nenhum. Nem um biombo, nem um canto dentro desses quartos, nem um cantinho escondido, nem por debaixo das camas, eu juro por minha honra, que eu não a tenha encontrado com meu pobre filho, agarrados como uns cães...(com nojo e ciúme) enrabada... COVEIRO: Enrabada...tem certeza, Milady, que disse “enrabada”?( RAINHA: (como advertindo contra a obra) Ay,si,enrabada! COVEIRO: (pulando para dentro da cova) Em todo lugar, mesmo? RAINHA: Todos. Não há um só buraco, uma abóboda, um nicho, um armário de comida, uma privada, um tapete, uma cortina em que eles coubessem e que eu não a achasse lá enrolada com meu doce principezinho, mandando ver... MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA COVEIRO: RAINHA: COVEIRO: RAINHA: COVEIRO: RAINHA: COVEIRO: RAINHA:

(como que informando)Baús, Ma'am? Baús?!!! Ay,si, Ma'am. Milady não olhou nos baús? Mas claro que olhei dentro dos baús! E...? Lá estavam eles... Copulando,Ma'am? Ay, o quê mais sabem fazer os jovens? ...Copulando como cães, meu jovem! Ela agarra a cabeça do Coveiro... RAINHA: Ela e meu filho! Meu lindo filho! Houve épocas, Cocô, em que apenas por um esforço supremo de vontade, eu mantinha minhas mãos longe de seu forte... Coveiro: Ihhh!.... RAINHA: Cala essa boca,Cocô! Não: cale-se, mas abra-a! beija-o apaixonadamente enquanto escorrega lentamente entre suas mãos para dentro da cova...ó forte... e gostoso...arrastando o Coveiro junto com ela...corpo...Antes de sumir lá ele ainda olha deseperadamente ao redor, mas já está perdido. Inexoravelmente lê vai sendo puxado para baixo, para fora das vistas, com seus olhos vazios de medo... mas misturados a bem da verdade, com um certo interesse bem antropológico.

SEGUNDO BLACK-OUT

Ato 1. Cena 3: Laertes, o suspeitoso Cemitério deserto. Da tumba vai saindo o Coveiro, terminando de vestir uma horrível peúgas. Olha ao redor nervoso. Veste sua camisa.. COVEIRO: (fala feliz e orgulhoso de sua atuação) Tá começando a ficar claro… Luxúria é o principal problema aqui em Elsinore!... Mas acho até que me saí muito bem, dadas as circunstâncias... Não tive pena nenhuma da realeza. Ela fez tudo com devoção. E respirava ansiosa e forte, balançando a cabeça,toda aloprada por sua nova experiência fúnebre! ... [Caindo em si] ...Tou ferrado...fui comer a Rainha-Mãe! Mas que mulherão, ô meu...putz, que gata! (Pega em sua pá como num falo)Mas preste bem atenção, olha bem o que tou dizendo: seja lá o que estiver para acontecer, eu garanto, é tudo por causa da luxúria. O problema com esses parasitas reais é que como não usam muito a pá, acabam no tédio, já que não têm outra coisa para fazer...A velha briguinha com os Noruega, conversações MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA diplomáticas com os estados vizinhos. Mas à partte isso, nada. Nadinha de inteligente.à este e à oeste é tudo o mesmo: bebida, traição e sacanagem.Agora mesmo, olhaí o Fortimbrás, pois tá todo mundo de olho nele e em sua ambição por territórios. tá só esperando a chance dele para botar as mãozinhas doces na Dinamarca...e diz que só quer uma passagem para ir visitar o Polo Norte..Todomundo futrica que ele só tá querendo uma chance para botar a mão nas terras que seu falecido pai perdeu...E essa coisa toda tá tão carregada de luxúria que acabaram acreditando nele...(rindo)e deixaram meter os pés na Dinamarca...Vai meter é tudo...( como que descobrindo uma coisa) pô só espero que não venha passear no cemitério pra me ver cavar um pouco também! Será que há algum proveito, para os Coveiros, nessa política ? (Entra LAERTES angustiado) LAERTES: Oh infiel Gertrudes! COVEIRO: ( em pânico)Laertes, voce por aqui? LAERTES:Prometeu ser fiel, mas eu sei que me trai! COVEIRO:Tou passado!Ser paquerado e beijado pela Rainha é realmente inesquecível! LAERTES:Pois duvido que haja um homem dentro desses muros que não tenha obtido seus favores COVEIRO:Sexuais, dizes? LAERTES:Claro! COVEIRO:mas suspeitas de só dentro ou de fora também? LAERTES:(com suspeitas)que é que voce quer dizer com isso? COVEIRO: Eu disse: como é belo estar fora e dentro num dia desses tão belamente cinzas... LAERTES:Quero dizer, não ligo para seu prato oficial- o novo rei coroado- mas jardineiros, pessoal do estábulo, estalajadeiros,afiadores de facas,atores de passagem e os mais variados camponêses!!! COVEIRO:Nenhuma menção a coveiros, viste! O que não desmerece a categoria... LAERTES:O problema com Elsinore é... COVEIRO:(imediatamente) A LUXÚRIA! LAERTES:( IMPRESSIONADO POR ESSA INTUIÇÃO)Um coveiro filósofo! (aponta para a cova) De quem é essa aí? COVEIRO: Sua, Sir LAERTES: (não lhe presta atenção) Minha irmã está correndo perigo.... COVEIRO: ...de Luxúria, Sir LAERTES: Luxúria do Príncipe! COVEIRO: Um tipo bem perigoso de luxúria, sem dúvida. LAERTES: Exatamente.Ele fica se melando por lado dela cheio de ternuras, mas estou convencido que tudo o que quer é se apossar de seu casto tesouro... COVEIRO:(como que sem entender)Como é mesmo?! LAERTES: Voce sabe...( gesto indicativo do casto tesouro) COVEIRO:Ah claro! "casto tesouro", maneira bem delicada de chamar a coisa.

LAERTES:Voce acha? COVEIRO:no melhor dos sentidos LAERTES:( feliz com a bajulação) COVEIRO:E vós, Sir,como um pastor bondoso, tenta mostrar-lhe os caminhos árduos que levam aos céus LAERTES:Exatamente! Conheço Hamlet muito bem, sabe?!(extremamente satisfeito consigo mesmo)Em nossa recente e ardente juventude ensinamos a muitas e belas flores o caminho a se desfrutar para se desdabrochar plenamente... COVEIRO:Tem um ditado popular até na Dinamarca que dentro das fronteiras da Noruega nem uma moça, rapaz ou mesmo cabrita está segura em relação ao príncipe... LAERTES:Em relação à minha irmã, eu não confio nada nele... COVEIRO:Luxúria é claramente o problema dos senhores aqui dentro desss muros de Elsinore, Sir!Mais exatamente, o seu controle... LAERTES: (Para na frente dele. EMBEVECIDO.Logo volta a rodar em círculos ao redor da tumba.:) Ó Deslealdade! Ó Gertrudes!( volta)Coveiro, nada de bom pode vir desse casamento dessa tão quente Rainha. Por quê? Por que ela o fez? Ela tinha tudo. Deveria ter ficado contente com seu falecido rei. Ele não endurecia é verdade, mas ele lhe deu posição social, privilégios, status... e ela ainda tinha a mim...para seu lanchinho....(Totalmente feliz por sua causa) CoVEIRO: Vós, Sir?! Lanche...pequenino o dissestes?! LAERTES:aye , eu mesmo...pois sou conhecido pela excelência de minha arma, ( se animando) minha espada, adaga... COVEIRO: OH! mas isso são duas armas, sir! LAERTES:[Para em frente dele. Um momento.] Eu lhe oferecia o calor de meu sangue jovem e viril para apagar-lhe a fogueira de desejos. Mas de repente, nada. Ninguém consegue desligar aquele interruptor, caralho!Não tem jeito para se satisfazer aquela mulher!! COVEIRO:Uma mulher admirável, é verdade, Sir! MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA Laertes: (PARA, REPENTINAMENTE SENTINDO ALGO NO AR, nessa declaração do Coveiro...) COVEIRO:eu queria dizer, Sir,eu pensava aqui comigo que como vós contais deve ser maravilhoso mesmo...como vos dissestes:admirável!... tirou daqui ó... LAERTES:Ela o é.Oh Coveiro, nem imaginas o que pode ser transar com uma Rainha COVEIRO: transar, Sir?! LAERTES: é a única palavra que me vem... COVEIRO:não eu não poderia mesmo LAERTES:(cheio de suspeitas)não poderia o quê? COVEIRO:imagine,alguém como eu transitar com uma rainha. Ela parece a própria inocência e pureza! LAERTES:Não se parece com nada...(ENTUSIASMADO) Com um mar encapelado talvez! COVEIRO: (SUSPIRA FUNDO condescendente) LAERTES:Um tremendo vulcão! COVEIRO:( SUSPIRA FUNDO condescendente) LAERTES:Um furacão avassalando tudo COVEIRO:(animado e distraído, num crescendo) Concordo!... CONCORDO PLENAMENTE!!! LAERTES: (cortando e mudando de tom)Baseado em quê voce concorda? COVEIRO: (nervoso)Com vosso testemunho, excelência. Vossa eminência foi tão veemente! A enorme riqueza, textura e colorido forte de sua descrição me persuadiu tano como se eu mesmo tivesse...tivesse... LAERTES:...pensado em transar com ela COVEIRO:..(aliviado)uf...(mostrando a boca)tirou daqui, ó!.. LAERTES:...(profundamente desconfiado)...Cara, tu é um coveiro!!! COVEIRO:não um coveiro, Sir...coveiros só cavam covas...nem num feriadão dá para se pensar nisso, sir..somos os de baixo...a gente não sobe nunca e em nada, nem com uma Rainha querendo... LAERTES: Eu temo a cólera do Claudius, nosso temporário Rei... O Fortimbrás - que tem razão nos odiar pois Hamlet ferrou o pai dele- já caiu fora daqui e anda farejando, esperando que a coisa aqui fique fora de controle, fique um pouco mais podre só. Eu acho que vou é me mandar para Paris amanhã mesmo... COVEIRO: Para estudar,Sir? LAERTES: Preciso estudar mais a lingua francêsa...ôu melhor: melhor usar as línguas francêsas...( cai na risada de sua própria piada, o Coveiro nâo rí) Mas eu tenho também uma grande preocupáção, voce sabe Coveiro! .... O jardim florido de minha irmã, terá sua flor colhida?!!! COVEIRO: (Faz cara ou gesto que “SIM sem dúvida!”)) LAERTES:...A doce Rainha me será fiel? COVEIRO: (Empalidece. Postura de: “Obviamente NÂO!”) LAERTES:E o seu novo marido e nosso Rei, irá preparar-nos uma cilada e meter-nos todos juntos dentro dessa nova cova fresquinha? COVEIRO:(concorda enfaticamente)São 3 preocupações, Sir! [O TEXTO QUE SE SEGUE É COMO UM O INTERRUPTOR:LIGOU, ELE SEGUE SEMPRE IGUAL. VAI SE REPETIR INDEFINIDAMENTE COM CADA PERSONAGEM DESSA TRAGÉDIA Por isso está todo em azul itálico] LAERTES: (continua imediatamente sem ouvir o que o coveiro diz)..Quero dizer, Coveiro,voce há de concordar que não dá para a gente largar tudo de repente como que girando um interruptor, não é mesmo? COVEIRO: O quê mesmo, Sir? LAERTES: O desejo,Cocô! COVEIRO: (automaticamente) ..ô mamãe...lá vem o interruptor!...Aqui tá sem luz, Sir, e a conta... ah deixa pra lá!!! LAERTES: E como é feia e insultante essa idéia de gente de sua classe que gente da minha classe não tenha desejos! COVEIRO: ...mas quem foi que inventou essa história de luta de classes, meu deusss!!! LAERTES: Ele o estuda agora dos pés à cabeça, cuidadosamente. Voce por exemplo, Cocô, a quentura de seu sangue, por acaso anda resfriada?? O Coveiro está nervoso. Não diz nada. Tenta gentilmente retirar sua mão presa entre as de lAERTES. E não esconde aí uma lança pujante, cetro vigoroso, lábaro estrelado, impávido colosso...nadinha mesmo? COVEIRO: Putz, isso é lá um hino, Sir LAERTES: Da Dinamarca, Cocô! E na Dinamarca quem não comeu a Rainha tem que dar cheque com pião mesmo, Coveiro. Esse hino me deixa todo patriota e o desejo me obriga a fazer um esforço supremo de vontade, para manter minhas mãos longe de um forte... apaixonadamente, enquanto escorrega lentamente entre suas mãos para dentro da cova... e gostoso...arrastando o Coveiro junto com ele...coveiro... Antes de sumir lá ele ainda levanta pela última vez a cabeça, MICHELOTTO & WILLIAN s.


A RATOEIRA olha deseperadamente ao redor, mas já está perdido. Inexoravelmente lê vai sendo puxado para baixo, para fora das vistas, com seus olhos vazios de medo...mas misturados, a bem da verdade, com um certo interesse, ou talvez mais do que isso. Pois estamos na Dinamarca. COVEIRO: [Ouve-se a voz do Coveiro falando igual ao Laertes:] “Oh Gertrudes!!Oh furacão!!!” Suposto – e terrivelmente desnecessário- Black-out

Ato 1. Cena 4: Cai o Rei de Paus... Cemitério deserto. Da tumba vai saindo o Coveiro, terminando de vestir uma horrível peúgas. Olha ao redor nervoso. Veste sua camisa.. COVEIRO: Tudo por tudo, sé é para se falar eufemismos, o "CASTO TESOURO" até que é muito bom.... Entra o Rei Ator [em revisão!!!]

MICHELOTTO & WILLIAN s.


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